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Demência refere-se a um processo de doença marcado pelo declínio cognitivo, mas com clareza de consciência. A demência não se refere a um baixo funcionamento intelectual, nem retardo mental, porque estas são condições de desenvolvimento e estáticas, e os déficits cognitivos na demência representam um declínio de níveis anteriores de funcionamento. A demência envolve múltiplos domínios cognitivos, e déficits cognitivos causam prejuízo significativo no funcionamento social e profissional. Existem vários tipos de demência com base na etiologia: doença de Alzheimer, demência com corpos de Lewy, demência vascular, demência frontotemporal, lesão cerebral traumática (LCT), HIV, doença do príon, doença de Parkinson e doença de Huntington. A demência também pode ser causada por outras condições médicas ou neurológicas ou produzida por várias substâncias. Os pontos clínicos críticos da demência são a identificação da síndrome e o exame clínico de sua causa. O transtorno pode ser progressivo ou estático; permanente ou reversível. Presume-se sempre uma causa subjacente, embora, em casos raros, seja impossível determinar uma causa específica. O potencial de reversão da demência está relacionado à condição patológica subjacente e à disponibilidade e aplicação de um tratamento eficaz. Aproximadamente 15% das pessoas com demência apresentam doenças reversíveis, se o tratamento for iniciado antes que ocorram danos irreparáveis. Comumente, a demência ocorre como uma doença do cérebro sem qualquer outra causa (o que é chamado de doença cerebral primária), mas pode ser provocada por diversos problemas. Mais comumente, a demência é causada pela Doença de Alzheimer, uma doença cerebral primária Cerca de 60 a 80% dos idosos com demência têm a doença de Alzheimer. Outros tipos comuns de demência incluem • Demência vascular • Demência por corpos de Lewy • Demência frontotemporal (como doença de Pick) • Demência relacionada ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) Muitas pessoas sofrem de mais do que uma dessas demências (um transtorno denominado demência mista). As doenças que podem provocar a demência incluem as seguintes: • Doença de Parkinson (uma causa comum, mas a demência ocorre tardiamente na evolução da doença) • A lesão cerebral devido a um ferimento na cabeça ou certos tumores • Doença de Huntington • Doenças causadas por príons, como doença de Creutzfeldt-Jakob (que causa uma demência rapidamente progressiva) • Paralisia supranuclear progressiva • Sífilis que afeta o cérebro (neurossífilis) A maior parte dos quadros clínicos que causam demência não pode ser revertida, mas alguns podem ser tratados e podem ser chamados de demência reversível. (Alguns especialistas utilizam o termo demência apenas para os quadros clínicos que progridem e que não podem ser revertidos e utilizam termos como encefalopatia ou perda cognitiva quando a demência pode ser parcialmente reversível.) O tratamento muitas vezes pode curar essas demências se o cérebro não foi muito danificado. Se o dano cerebral for muito extenso, muitas vezes o tratamento não reverte a lesão, mas pode evitar novas lesões. Os quadros clínicos que podem provocar a demência incluem os seguintes: • Hidrocefalia de pressão normal • Hematoma subdural • Deficiência de tiamina, niacina ou vitamina B12 • Glândula tireoide com baixa atividade (hipotireoidismo) • Tumores cerebrais que podem ser removidos • Uso prolongado e excessivo de drogas ou álcool • Toxinas (como chumbo, mercúrio ou outros metais pesados) • Neurossífilis se tratada precocemente • Outras infecções (como a doença de Lyme, encefalite viral e a infecção fúngica criptococose) • Doenças autoimunes • Esclerose múltipla Um hematoma subdural (acúmulo de sangue entre as camadas externa e média do tecido que cobrem o cérebro) ocorre quando um ou mais vasos sanguíneos se rompem, geralmente por causa de um ferimento na cabeça. Essas lesões podem ser leves e não podem ser reconhecidas. Os hematomas subdurais podem causar um declínio lento na função mental que pode ser revertido com tratamento. Muitas doenças podem piorar os sintomas de demência. Elas incluem doenças autoimunes, diabetes, bronquite crônica, enfisema, infecções, uma doença renal crônica, doenças do fígado e insuficiência cardíaca. Vários medicamentos podem causar ou piorar, temporariamente, os sintomas da demência. Alguns são de venda livre, sem prescrição médica. São exemplos comuns os soníferos (que são sedativos), os medicamentos para resfriado, os medicamentos contra a ansiedade e alguns antidepressivos. Beber álcool, mesmo em quantidades moderadas, também pode piorar a demência, e a maioria dos especialistas recomenda que as pessoas que sofrem de demência interrompam o consumo de álcool. A função mental das pessoas com demência deteriora-se num prazo de 2 a 10 anos. No entanto, a demência progride a um ritmo diferente, dependendo da sua causa: Nas pessoas com demência vascular (as quais geralmente são causadas por acidente vascular cerebral), os sintomas tendem a se agravar em fases súbitas com cada novo acidente vascular cerebral, e melhoram um pouco nos intervalos. Naqueles que sofrem da doença de Alzheimer ou de demência por corpos de Lewy, os sintomas tendem a se agravar de forma contínua. Na doença de Creutzfeldt-Jakob, a demência progride de forma rápida e contínua. A taxa de progressão varia de um indivíduo para outro. Analisar a forma como a doença se agravou no ano anterior pode dar um indicativo do curso que seguirá no ano seguinte. Os sintomas pioram quando as pessoas com demência são levadas para clínicas de repouso ou outro tipo de instituição, uma vez que têm dificuldade em aprender e recordar as regras e as rotinas que devem seguir. Problemas como dor, falta de oxigênio, retenção urinária e constipação podem causar delirium que piora com rapidez nas pessoas com demência. Uma vez corrigidos esses problemas, os pacientes geralmente regressam ao nível de funcionamento mental anterior. Os sintomas da maioria das formas de demência são semelhantes. Geralmente a demência provoca o seguinte: • Perda de memória • Problemas em usar a linguagem • Mudanças na personalidade • Desorientação • Problemas ao fazer tarefas diárias habituais • Comportamento perturbador ou inapropriado Embora exista uma variação de quando os sintomas ocorrem, categorizá-los como sintomas precoces, intermediários ou tardios ajuda as pessoas afetadas, os familiares e outros cuidadores a terem uma ideia do que esperar. As mudanças de personalidade e o comportamento disruptivo (transtornos de comportamento) podem se desenvolver no início ou posteriormente. Algumas pessoas que sofrem de demência têm convulsões, que também podem ocorrer em qualquer ponto da doença. Os primeiros sintomas de demência tendem a ser leves. Como a demência se inicia de forma lenta e piora com o tempo, nem sempre se consegue identificar a perturbação desde o início. Uma das primeiras funções mentais cuja deterioração é evidente é a memória, especialmente para eventos recentes . Além disso, as pessoas com demência normalmente têm cada vez mais dificuldade em fazer o seguinte: • Encontrar e utilizar a palavra certa • Entender a linguagem • Pensar de forma abstrata, como quando se trabalha com números • Fazer muitas tarefas diárias, como encontrar o seu caminho e lembrar onde foram colocados os objetos • Utilizar o bom senso As emoções são instáveis e imprevisíveis, passando rapidamente da alegria para a tristeza. As mudanças de personalidade também são frequentes. Os familiares podem perceber um comportamento incomum. Algumas pessoas com demência conseguem dissimular as suas deficiências muito bem. Evitam atividades complexas, como controlar as suascontas bancárias, ler ou trabalhar. Os que não modificam o seu estilo de vida podem sentir-se muito frustrados perante a incapacidade de realizar as suas tarefas diárias. Podem esquecer de fazer tarefas importantes ou podem fazê-las de forma incorreta. Por exemplo, podem esquecer de pagar as contas ou desligar as luzes ou o fogão. No início da demência, as pessoas podem ser capazes de continuar a dirigir, mas podem ficar confusas no trânsito congestionado e se perderem com mais facilidade. Conforme a demência piora, os problemas existentes pioram e se expandem, fazendo com que fique difícil ou impossível realizar as seguintes tarefas: • Aprender e lembrar novas informações • Por vezes, lembrar de eventos do passado • Executar tarefas diárias de autocuidado, como tomar banho, comer, se vestir e ir ao banheiro • Reconhecer as pessoas e os objetos • Manter o controle do tempo e saber onde estão • Entender o que veem e ouvem (levando a confusão) • Controlar o seu comportamento As pessoas muitas vezes se perdem. Podem não ser capazes de encontrar o seu próprio quarto ou banheiro. Podem andar, mas estão mais propensas a cair. Em cerca de 10% das pessoas, essa confusão leva a sintomas de psicose, como alucinações, delírios (falsas crenças, devido a uma má interpretação das percepções ou das experiências) ou paranoia (sentimentos de perseguição injustificados). Conforme a demência progride, dirigir torna-se cada vez mais difícil, pois requer a tomada de decisões rápidas e a coordenação de muitas habilidades manuais. As pessoas podem não se lembrar aonde estão indo. Os traços da personalidade podem se tornar mais exagerados. As pessoas que estavam sempre preocupadas com o dinheiro ficam obcecadas com isso. As pessoas que costumavam ser preocupadas ficam preocupadas constantemente. Algumas pessoas ficam irritadas, ansiosas, egocêntricas, inflexíveis ou se irritam mais facilmente. Outras se tornam mais passivas, sem expressão, deprimidas, indecisas ou ausentes. As pessoas com demência podem ficar hostis ou agitadas se forem mencionadas as mudanças em sua personalidade ou função mental. Os padrões do sono podem ser anômalos. A maioria das pessoas com demência dorme uma quantidade adequada de horas, mas passam menos tempo em sono profundo. Como resultado, podem tornar-se inquietas durante a noite. Também podem ter problemas para adormecer ou manter o sono. Se as pessoas não se exercitam o suficiente ou não participam de muitas atividades, podem dormir muito durante o dia. Então não dormem bem durante a noite. Devido ao fato de as pessoas serem menos capazes de controlar o seu comportamento, por vezes agem de forma inadequada ou disruptiva (por exemplo, gritando, se jogando, se debatendo ou errantes). Essas ações são chamadas de transtornos comportamentais. Vários efeitos da demência contribuem para essa maneira de agir: Como pessoas com demência esqueceram as regras comportamentais adequadas, podem agir de forma socialmente inadequada. Quando está calor, podem se despir em público. Quando têm impulsos sexuais, podem se masturbar em público, usar linguagem vulgar ou obscena ou fazer exigências sexuais. Como elas têm dificuldade em compreender o que ouvem e o que veem, podem interpretar uma oferta de ajuda como uma ameaça, podendo ser violentas. Por exemplo, quando alguém tenta ajudá-las a se despir, podem interpretar essa ajuda como um ataque e tentar se proteger, por vezes, batendo na pessoa. Levando-se em conta que a sua memória a curto prazo é deficiente, não se lembram do que lhes foi dito, nem do que fizeram. Repetem as perguntas e as conversas, solicitam atenção constante ou pedem coisas (como comida) que já receberam. Podem ficar agitadas e chateadas quando não recebem o que pedem. Por não conseguirem expressar as suas necessidades com clareza ou de maneira alguma, podem gritar de dor ou perambular, quando se sentem sozinhas ou assustadas. Elas podem vagar, gritar ou chamar quando não conseguem dormir. Se um determinado comportamento é considerado perturbador depende de muitos fatores, incluindo quanto o prestador de cuidados é tolerante e qual o tipo de situação que a pessoa com demência está passando. Se a pessoa vive em um ambiente seguro (com trancas e alarmes em todas as portas e portões), a perambulação pode ser tolerável. No entanto, se a pessoa vive em uma casa de repouso ou hospital, a perambulação pode ser inadmissível, pois perturba outros residentes ou interfere no funcionamento da instituição. Os cuidadores podem tolerar o comportamento disruptivo melhor durante o dia do que à noite. Com o tempo, as pessoas com demência perdem a habilidade de seguir uma conversa e ficam incapazes de falar. A memória para eventos recentes e passados é perdida de forma completa. Podem não reconhecer os familiares próximos ou até mesmo seu próprio rosto num espelho. Quando a demência é avançada, a capacidade de trabalho do cérebro fica destruída quase que de forma total. A demência avançada interfere no controle dos músculos. As pessoas não conseguem andar, se alimentar ou realizar qualquer outra tarefa diária. Tornam-se totalmente dependentes dos outros e acabam ficando incapazes de sair da cama. Também podem apresentar dificuldade em engolir alimentos sem engasgarem. Esses problemas aumentam o risco de desnutrição, pneumonia (muitas vezes devido a inalação de secreções ou partículas da boca) e lesão por pressão (pois não podem se mover). A morte costuma ocorrer como resultado de uma infecção, como a pneumonia. Tendo em vista que o TCM é caracterizado por perda da função cognitiva + prejuízo na funcionalidade, como avaliar corretamente esse paciente? Em primeiro lugar, é necessário coletar a história minuciosa, entendendo a queixa do paciente e a queixa do acompanhante. A avaliação clínica quantificada envolve o rastreio cognitivo e a avaliação neuropsicológica. : Para atendimento em serviços de atenção primária, utilizam-se instrumentos que não necessitem de treinamento extensivo e que possam ser aplicados por diversos profissionais de saúde de maneira breve. Com isso, o rastreio cognitivo é feito através de pequenos testes aplicados no consultório, que conseguem avaliar a existência comprometimentos cognitivos. Esses testes apresentam alta sensibilidade e baixa especificidade, mas têm a vantagem de serem práticos para a aplicação rápida. O maior e mais utilizado teste é o Mini Exame do Estado Mental, ou MiniMental (Imagem 01), que é um teste muito bem estruturado e validado no Brasil. Apresenta boa capacidade de rastreio, com análise dos diversos domínios cognitivos. Porém, apresenta limitações para uso com pacientes analfabetos e pacientes cegos. Além do MiniMental, existem outros testes, como o da fluência verbal, o teste do desenho do relógio e o MoCA (Montreal Cognitive Assesment), que é um teste com validade para o Brasil, mais elaborado e que pode ser utilizado para pacientes com alta cognição. Existem também baterias que aprofundam a avaliação cognitiva sem trazer grande incremento no tempo de avaliação, como a Bateria Breve de Rastreio Cognitivo (BBRC) e o Exame Cognitivo de Addenbrooke-Revisado (Addenbrooke’s Cognitive). O padrão ouro para o diagnóstico de declínio na função cognitiva é a avaliação neuropsicológica, que é feita por psicólogos especializados em neuropsicologia. Esses profissionais realizam testes para determinar o QI do paciente, além de avaliar a atenção, a memória, a capacidade de aprendizado, entre outros domínios cognitivos. Avaliação funcional O declínio funcional se dá quando o paciente apresenta perda na capacidade de realizar certas atividades da vida diária que antes conseguia realizar. Ou seja, existe uma queda no nível prévio de funcionamento. “O paciente sabia, mas agora não sabemais”. As atividades de vida diária podem ser divididas em básicas (ABVD) e instrumentais (AIVD). As primeiras são importantes para o autocuidado e incluem a capacidade de realizar a higiene pessoal, o controle esfincteriano e a alimentação. As AIVD são mais complexas e incluem a capacidade de preparar uma refeição, realizar trabalhos domésticos, cuidados com finanças e correspondência, administração da própria medicação, entre outras. Algumas escalas são utilizadas para avaliar a perda de função do paciente, como a ESCALA DE LAWTON, que avalia as AIVDS e a ESCALA DE KATZ, que avalia as ABVDS. Após a constatação de déficit cognitivo e prejuízo funcional nas atividades da vida diária, o profissional de saúde deve solicitar exames complementares apenas para investigar causas reversíveis. Os exames complementares comumente solicitados são os laboratoriais e os de imagem. • Exames de sangue com painel bioquímico abrangente, incluindo função hepática e renal; • Hemograma; • Função tireoidiana; • Nível de vitamina B12 e ácido fólico; • Sorologias (HIV e VDRL especialmente). Geralmente a tomografia computadorizada é suficiente para screening, possibilitando a exclusão de diagnósticos diferenciais de demência, como acidente vascular cerebral (AVC), hemorragia, tumor cerebral, entre outros. Classicamente, a demência vascular se distingue de demência do tipo Alzheimer pela deterioração gradual que pode acompanhar doença cerebrovascular ao longo do tempo. Embora a deterioração progressiva e insidiosa possa não ser aparente em todos os casos, sintomas neurológicos focais são mais comuns em demência vascular do que na do tipo Alzheimer, assim como os fatores-padrão de risco de doença cerebrovascular. Ataques isquêmicos transitórios (AITs) são episódios breves de disfunção neurológica focal que duram menos de 24 horas (em geral de 5 a 15 minutos). Embora vários mecanismos possam ser responsáveis, os episódios com frequência são o resultado de microembolização de lesão arterial intracraniana proximal que produz isquemia cerebral transitória, e os episódios normalmente se resolvem sem alteração patológica relevante do tecido parenquimatoso. Em torno de um terço dos indivíduos com AITs sem tratamento experimenta um infarto cerebral mais tarde; portanto, a identificação de AITs é uma estratégia clínica importante para prevenir infarto cerebral. O clínico deve distinguir episódios envolvendo o sistema vertebrobasilar dos que envolvem o sistema arterial carotídeo. De modo geral, sintomas de doença vertebrobasilar refletem uma perturbação funcional transitória tanto no tronco encefálico quanto no lobo occipital; os sintomas de distribuição carotídea refletem anormalidade unilateral retiniana ou hemisférica. Terapia anticoagulante, fármacos aglutinantes antiplaquetários, como aspirina, e cirurgia vascular reconstrutiva extracraniana e intracraniana são eficazes para reduzir o risco de infarto em pacientes com AITs. De modo geral, distingue-se delirium por seu início rápido, curta duração, oscilação do prejuízo cognitivo no decorrer do dia; exacerbação noturna dos sintomas; perturbação acentuada do ciclo de sono-vigília; e perturbações proeminentes na atenção e na percepção. Alguns pacientes com depressão têm sintomas de prejuízo cognitivo difíceis de serem distinguidos dos sintomas de demência. O quadro clínico às vezes é chamado de pseudodemência, embora o termo disfunção cognitiva relacionada a depressão seja preferível e mais descritivo. Pacientes com essa disfunção em geral apresentam sintomas depressivos proeminentes e com frequência uma história de episódios depressivos. Indivíduos que tentam simular perda de memória, como no transtorno factício, o fazem de modo errático e inconsistente. Na demência verdadeira, a memória de tempo e lugar é perdida antes da memória para pessoa, e a memória recente se perde antes da memória remota. Embora esquizofrenia possa ser associada a um prejuízo intelectual adquirido, seus sintomas são muito menos graves do que os sintomas relacionados de psicose e de transtorno do pensamento observados na demência. O envelhecimento não está necessariamente associado a um declínio cognitivo significativo, mas problemas menores de memória podem ocorrer como parte normal do processo. Essas ocorrências normais às vezes são chamadas de esquecimento senescente benigno, prejuízo de memória associado à idade ou senescência benigna normal relacionada à idade. Elas se diferenciam da demência por sua gravidade menor e porque não interferem de forma significativa no comportamento social ou ocupacional do indivíduo. O curso clássico de demência é um início na faixa dos 50 ou 60 anos, com deterioração gradual ao longo de 5 a 10 anos, levando, por fim, à morte. A idade de início e a rapidez da deterioração variam conforme o tipo de demência e as características das categorias diagnósticas individuais. A expectativa de sobrevivência média para pacientes com demência do tipo Alzheimer fica em torno de oito anos, com alcance de 1 a 20 anos. Depois do diagnóstico de demência, o paciente deve passar por uma bateria completa de exames médicos e neurológicos, porque de 10 a 15% deles apresentam uma condição potencialmente reversível se o tratamento for iniciado antes que ocorra dano cerebral permanente. O curso mais comum de demência se inicia com uma série de sinais sutis que pode, à primeira vista, ser ignorada tanto pelo paciente como pelas pessoas próximas. Um início gradual de sintomas costuma estar associado com mais frequência a demência do tipo Alzheimer, demência vascular, endocrinopatias, tumores cerebrais e transtornos metabólicos. De maneira alternativa, o início de demência em decorrência de lesão cerebral traumática, parada cardíaca com hipoxia cerebral ou encefalite pode ser repentino. Embora sejam sutis, os sintomas da fase inicial de demência se tornam mais evidentes com o avanço do processo, e os familiares podem, então, levar o indivíduo ao médico. Pessoas com demência podem ser sensíveis ao uso de benzodiazepínicos ou álcool, os quais podem precipitar comportamento agitado, agressivo ou psicótico. Nos estágios terminais de demência, o paciente torna-se uma sombra do que costumava ser – profundamente desorientado, incoerente, amnésico e com incontinência urinária e fecal. Com tratamento psicossocial e farmacológico, e talvez devido às propriedades autocurativas do cérebro, os sintomas de demência podem ter um progresso lento durante um período ou até mesmo recuar um pouco. A regressão dos sintomas, sem dúvida, é uma possibilidade em demências reversíveis (demências causadas por hipotireoidismo, HPN e tumores cerebrais) depois que o trata- mento é iniciado. O curso da demência varia desde um avanço constante (observado com frequência na demência do tipo Alzheimer) a uma demência que se agrava aceleradamente (observada em geral na demência vascular) até uma demência estável. A gravidade e o curso de demência podem ser afetados por fatores psicossociais. Quanto maior a inteligência e a escolaridade pré- mórbidas do indivíduo, melhor sua capacidade de compensar déficits intelectuais. Pessoas que apresentam um início rápido usam menos defesas do que as que experimentam um início insidioso. Ansiedade e depressão podem intensificar e agravar os sintomas. Pseudodemência ocorre em pessoas deprimidas que se queixam de prejuízo na memória, mas que, na realidade, têm um transtorno depressivo. Quando a depressão é tratada, as deficiências cognitivas desaparecem. O primeiro passo no tratamento de demência é a verificação do diagnóstico. O diagnóstico preciso é imperativo porque a progressão pode ser interrompida e mesmo revertida se a terapia apropriada for proporcionada. Medidas preventivas são importantes, especialmente nocaso de demência vascular. Essas medidas podem incluir mudanças na dieta, na rotina de exercícios e no controle de diabetes e hipertensão. Agentes farmacológicos podem incluir anti-hipertensivos, anticoagulantes ou antiplaquetários. O controle da pressão arterial deve ter como objetivo se manter na parte superior da faixa de normalidade, porque foi demonstrado que isso melhora a função cognitiva em pacientes com demência vascular. Demonstrou-se que a pressão arterial abaixo da faixa de normalidade prejudica ainda mais a função cognitiva em pacientes demenciados. A escolha do agente anti-hipertensivo pode ser relevante, uma vez que antagonistas dos receptores β-adrenérgicos foram associados a aumento do prejuízo cognitivo. Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) e diuréticos não foram correlacionados a aumento do prejuízo cognitivo, e acredita-se que reduzam a pressão arterial sem afetar o fluxo sanguíneo cerebral, o qual se supõe estar correlacionado à função cognitiva. A remoção cirúrgica de placas carotídeas pode prevenir eventos vasculares subsequentes em pacientes criteriosamente selecionados. A abordagem de tratamento geral a pacientes com demência é fornecer cuidados médicos de apoio, apoio emocional para o indivíduo e sua família e o tratamento farmacológico para os sintomas específicos, incluindo comportamento disruptivo. A experiência da sensação de continuidade ao longo do tempo depende da memória. A memória recente é perdida antes da memória remota na maioria dos casos de demência, e muitas pessoas sentem muita angústia ao se lembrarem com clareza de como costumavam funcionar, ao mesmo tempo que observam sua deterioração evidente. No nível mais fundamental, o self é um produto de funcionamento cerebral. A identidade do indivíduo começa a desaparecer com o avanço da doença, e ele consegue se lembrar cada vez menos de seu passado. Reações emocionais que vão desde depressão até ansiedade grave e terror catastrófico podem derivar da tomada de consciência de que o senso de self está desaparecendo. O indivíduo costuma se beneficiar de uma psicoterapia de apoio e de esclarecimento na qual a natureza e o curso de sua doença são explicados de forma clara. Ele também pode ter o benefício da assistência em seu pesar e da aceitação da extensão de sua deficiência, assim como da atenção voltada para questões de autoestima. Uma avaliação psicodinâmica de funções deficientes do ego e de limitações cognitivas também pode ser útil. O clínico pode ajudar o paciente a encontrar meios de lidar com as funções deficientes do ego, como manter calendários para problemas com orientação, fazer tabelas com horários para ajudar a estruturar atividades e fazer anotações para lidar com problemas de memória. Intervenções psicodinâmicas com familiares de pacientes com demência podem ser de grande valia. As pessoas que tomam conta de um paciente precisam lidar com sentimentos de culpa, pesar, raiva e exaustão ao testemunharem a deterioração gradativa de um membro da família. Um problema comum entre os cuidadores envolve seu autossacrifício para cuidar do paciente. O ressentimento que se desenvolve paulatinamente desse autossacrifício costuma ser reprimido devido aos sentimentos de culpa que produz. O clínico pode prescrever benzodiazepínicos para insônia e ansiedade, antidepressivos para depressão e antipsicóticos para delírios e alucinações, mas deve estar ciente dos possíveis efeitos idiossincráticos do fármaco em idosos (p. ex., excitação paradoxal, confusão e aumento da sedação). De modo geral, devem-se evitar fármacos com atividade anticolinérgica elevada. Donepezila, rivastigmina, galantamina e tacrina são inibidores da colinesterase usados para tratar prejuízos cognitivos de leve a moderados na doença de Alzheimer. Eles reduzem a inativação do neurotransmissor acetilcolina e, assim, potencializam o neurotransmissor colinérgico, que, por sua vez, produz uma melhora modesta na memória e no pensamento direcionado a objetivos. Esses fármacos são mais úteis para indivíduos com perda de memória de leve a moderada com suficiente preservação de seus neurônios colinérgicos do prosencéfalo basal, a fim de que possam tirar proveito do aumento da neurotransmissão colinérgica. A donepezila é bem tolerada, e seu uso é disseminado. A tacrina é raramente usada, devido a seu potencial hepatotóxico. Há menos dados clínicos disponíveis sobre rivastigmina e galantamina, as quais parecem ser mais propensas a causar efeitos adversos gastrintestinais (GI) e neuropsiquiátricos do que a donepezila. Nenhum desses medicamentos impede a degeneração neuronal progressiva do transtorno. A memantina protege neurônios de quantidades excessivas de glutamato, as quais podem ser neurotóxicas. O fármaco, às vezes, é combinado com donepezila, e existiram casos em que houve melhora da demência com seu uso. Outros fármacos que estão sendo testados para intensificação da atividade cognitiva incluem intensificadores metabólicos cerebrais gerais, inibidores do canal de cálcio e agentes serotonérgicos. Alguns estudos demonstraram que a selegilina, um inibidor seletivo da monoaminoxidase tipo B (MAOB), pode retardar o avanço dessa doença. A andansetrona, um antagonista do receptor 5-HT3, está sendo pesquisada. A terapia de reposição de estrogênio pode reduzir o risco de declínio cognitivo em mulheres após a menopausa; no entanto, mais estudos são necessários para confirmar esse efeito. Estudos sobre medicamentos complementares e alternativos com ginkgo e outros fitoterápicos são necessários para determinar se eles têm um efeito positivo sobre a cognição. Surgiram relatos de pacientes que usaram agentes antiinflamatórios não esteroides e apresentaram menor risco de desenvolvimento de doença de Alzheimer. Não foi comprovado se a vitamina E ajuda a prevenir a doença. a) Sadock, Benjamin J. Compendio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11ªed. Porto Alegre: Artmed, 2017. b) https://www.msdmanuals.com/pt-br c) https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia d) https://www.nia.nih.gov/health/what-is-dementia e) https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/j.1468- 1331.2012.03784.x f) MARTINS JR, C. R.; MARTINEZ, A. R. M. Semiologia neurológica. Rio de Janeiro: Revinter, 2017. g) NOGUEIRA, M. J. Exame das funções mentais: um guia. 3ªed. São Paulo: Atheneu, 2017 h) SuperMaterial SanarFlix – Demência i) Resumos da Med. https://www.msdmanuals.com/pt-br https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia https://www.nia.nih.gov/health/what-is-dementia https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/j.1468-1331.2012.03784.x https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/j.1468-1331.2012.03784.x
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