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Welma Maia • Livres Rocha • Ernani Pimentel • Márcio Wesley • Luzia Pimenta Edgard Antônio Lemos Alves • Gustavo Alves • Wagner Miranda • Marcus Palomo Fabrício Sarmanho • Eduardo Muniz Machado Cavalcanti • Saulo Fontana • Raquel Mendes de Sá Ferreira • Marcelo Andrade • Samantha Pozzer Kühleis 2018 Direitos Humanos • Língua Portuguesa • Noções de Criminologia • Noções de Direito Administrativo • Noções de Direito Civil • Noções de Direito Constitucional • Noções de Direito Penal • Noções de Direito Processual Penal • Noções de Informática Noções de Medicina Legal . © 2018 Vestcon Editora Ltda. Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/2/1998. Proibida a reprodução de qualquer parte deste material, sem autorização prévia expressa por escrito do autor e da editora, por quaisquer meios empregados, sejam eletrônicos, mecânicos, videográficos, fonográficos, reprográficos, microfílmicos, fotográficos, gráficos ou outros. Essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas características gráficas. Título da obra: Polícia Civil de Minas Gerais - PC-MG Escrivão de Polícia I – Nível Superior Atualizada até 6-2018 (AP589) (De acordo com o Edital nº 02/2018, de 05 de julho de 2018 – Fumarc) Direitos Humanos • Língua Portuguesa • Noções de Criminologia • Noções de Direito Administrativo Noções de Direito Civil • Noções de Direito Constitucional • Noções de Direito Penal Noções de Direito Processual Penal • Noções de Informática • Noções de Medicina Legal Autores: Welma Maia • Livres Rocha • Ernani Pimentel • Márcio Wesley Luzia Pimenta • Edgard Antônio Lemos Alves • Gustavo Alves • Wagner Miranda Marcus Palomo • Fabrício Sarmanho • Eduardo Muniz Machado Cavalcanti • Saulo Fontana Raquel Mendes de Sá Ferreira • Marcelo Andrade • Samantha Pozzer Kühleis GESTÃO DE CONTEÚDOS Tatiani Carvalho PRODUÇÃO EDITORIAL Érida Cassiano REVISÃO Tamires Campos Ylka Ramos EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Adenilton da Silva Cabral Marcos Aurélio Pereira www.vestcon.com.br . PARABÉNS. VOCÊ ACABA DE ADQUIRIR UM PRODUTO QUE SERÁ DECISIVO NA SUA APROVAÇÃO. Com as apostilas da Vestcon Editora, você tem acesso ao conteúdo mais atual e à metodologia mais eficiente. Entenda por que nossas apostilas são líderes de preferência entre os consumidores: • Todos os nossos conteúdos são preparados de acordo com o edital de cada concurso, ou seja, você recebe um conteúdo customizado, direcionado para os seus estudos. • Na folha de rosto, você pode conferir os nomes dos nossos autores. Dessa forma, comprovamos que os textos usados em nossas apostilas são escritos exclusivamente para nós. Qualquer reprodução não autorizada desses textos é considerada cópia ilegal. • O projeto gráfico foi elaborado tendo como objetivo a leitura confortável e a rápida localização dos temas tratados. 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A Constituição Brasileira de 1988 ........................................................................................................................................ 45 Noções gerais sobre direitos humanos ................................................................................................................................. 3 Gerações de direitos humanos .............................................................................................................................................. 8 A Constituição Brasileira de 1988 e os Tratados Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos ...............................38 O Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos ............................................................................................. 11 O Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos e a Redefinição da Cidadania no Brasil ..............................26 A Constituição Brasileira de 1988: Dos princípios fundamentais. A Constituição Brasileira de 1988: Dos Direitos e Garantias Fundamentais. Dos direitos e deveres individuais e coletivos. Dos direitos sociais. Da nacionalidade. Dos direitos políticos. Dos partidos políticos ..............................................................................................................................................................* Direitos humanos das minorias e grupos vulneráveis ........................................................................................................ 86 Política nacional de direitos humanos ................................................................................................................................ 46 * Este conteúdo encontra-se na matéria Noções de Direito Constitucional, nesta apostila. SUMÁRIO Direitos Humanos PC-MG . . 3 D IR eI TO S H U M A N O S Direitos Humanos Welma Maia / Livres Rocha Welma Maia TeORIA GeRAL DOS DIReITOS HUMANOS Conceito Atualmente, a definição consagrada na doutrina é a de Antônio Peres Luño1, que compatibilizando a evolução his‑ tórica dos direitos humanos com a necessidade de definição de seu conteúdo, considera direitos humanos. o conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências de dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos orde‑ namentos jurídicos em nível nacional e internacional. Para o autor, há três tipos de definições sobre o que são os direitos humanos. O primeiro tipo seria a definição dita tautológica, ou seja, a que não aporta nenhum elemento novo que permite caracterizar tais direitos. Assim, seria um exemplo desse tipo de definição a conceituação dos direitos humanos como sendo aqueles que correspondem ao homem pelo fato de ser homem.2 Todavia, como se sabe, todos os direitos são titularizados pelo homem ou por suas emanações (as pessoas jurídicas), de modo que a definição acima citada encerra uma certa petição de princípio. Um segundo tipo de definição seria aquela dita formal, que, ao não especificar o conteúdo dos direitos humanos, limita-se a alguma indicação sobre o seu regime jurídico especial. Esse tipo de definição consiste em estabelecer que os direitos humanos são aqueles que pertencem ou devem pertencer a todos os homens e que não podem ser deles privados, em virtude de seu regime indisponível e sui generis. Por fim, há ainda a definição finalística ou teleológica, na qual se utiliza objetivo ou fim para definir o conjunto de direitos humanos, como, por exemplo, na definição que estabelece que os direitos humanos são aqueles essenciais para o desenvolvimento digno da pessoa humana. Para Dallari 3 os direitos humanos representam “uma forma abreviada de mencionar os direitos fundamentais da pessoa humana. Esses direitos são considerados fundamentais por‑ que sem eles a pessoa humana não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida”. Tambémé relevante a definição já tradicional de Peces‑ -Barba4, para quem os direitos humanos são faculdades que o Direito atribui a pessoas e aos grupos sociais, expressão de suas necessidades relativas à vida, liberdade, igualdade, participação política, ou social ou a qualquer outro aspecto fundamental que afete o desenvolvimento integral das pessoas em uma comunidade de homens livres, exigindo o respeito ou a atuação dos demais homens, dos grupos sociais e do Estado, e com garantia dos poderes públicos para restabelecer seu exercício em caso de violação ou para realizar sua prestação. 1 PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, Estado de derecho y Constitución. 5. ed. Madrid: Tecnos, 1995, p. 48. 2 TRUYOL Y SERRA, Antônio. Los derechos humanos. Madrid: Tecnos, 1994, p. 11. 3 DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. 4 PECES-BARBA MARTÍNEZ, Gregorio et al. Derecho positivo de los derechos humanos. Madrid: Debate, 1987, p. 14-15. Terminologia Quanto à terminologia, vários são as expressões uti‑ lizadas: “direitos naturais”, “direitos humanos”, “direitos fundamentais”, “liberdades públicas”, “direitos do cidadão”, “direitos da pessoa humana”, “direitos do homem”, “direitos civis”, “direitos individuais”, “direitos fundamentais”, “direitos públicos subjetivos”. A que mais se disseminou, todavia, é Direitos Humanos”. Canotilho5 envidou esforços para distinguir várias dessas expressões, examinando-as aos pares e chegando, entre outras, às seguintes conclusões: • Direitos do homem e Direitos do Cidadão – distinção presente na ‘Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão’ de 1789, editada como corolário da Revolução Francesa, segundo a qual os Direitos do Homem são direitos individuais, pertencendo-lhe “enquanto tal”, ou seja, são inerentes à condição humana, ao passo que os Direitos do Cidadão são direitos políticos, que pertencem ao homem “enquanto ser social, isto é, como indivíduo vivendo em sociedade” e perante o Estado; • Direitos Naturais e Direitos Civis – distinção próxima da anterior, encontrada no Título I da Constituição France‑ sa de 1791, consoante a qual os Direitos Naturais são inerentes ao indivíduo e os Direitos Civis são os que lhe cabem enquanto cidadão, encontrando- se proclamados nas constituições e leis infraconstitucionais; • Direitos Políticos e Direitos Individuais – entre os Direitos Civis destacam-se de um lado, os Direitos Polí‑ ticos, correspondentes a uma parcela atribuída apenas a determinados grupos de indivíduos, dotando-os de aptidão para “tomar parte ativa na formação dos po‑ deres públicos”; o que remanesce, naquela categoria, depois de apartados dela os Direitos Políticos, são os Direitos Individuais; • Direitos e Liberdades Públicas – os Direitos Civis admi‑ tem, ainda, um outro tipo de categorização, que coloca, de um lado, as Liberdades Públicas, consistentes em direitos dos indivíduos contra a intervenção do Estado (e são conhecidos como ‘direitos negativos ou direitos de negação), e de outro, simplesmente os Direitos (ou “direitos positivos’), que conferem ao indivíduo status ativo frente ao Estado, quer porque tenha a prerrogativa de participar ativamente na vida política (direito de votar e a ser votado), que porque goze da possibilidade de exigir as ‘prestações ao desenvolvimento pleno da exis‑ tência individual (denominados ‘direitos à prestação’). Seguindo a tendência das provas de concurso, nesse estudo adota-se a designação Direitos Humanos (em sentido lato), ao direitos inerentes à condição humana e, que por este motivo, independem de norma positiva; direitos internacio‑ nais, ou direitos humanos em sentido estrito, os direitos hu‑ manos contemplados em tratados internacionais; e direitos humanos fundamentais, ou direitos fundamentais, àqueles assegurados, dentro do ordenamento jurídico interno, pelas autoridades político-legislativas de cada Estado-nação. 5 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. Ed. Coimbra: Almeidina, 2003. p. 393-398. . 4 D IR eI TO S H U M A N O S Para memorizar: Direitos Humanos (em Sentido Lato) Direitos Humanos Internacionais ou Direitos Humanos em sentido estrito Direitos Humanos Fundamentais ou Direitos Fundamentais A estrutura das Normas de Direitos Humanos Os direitos humanos apresentam uma característica peculiar: têm, frequentemente, uma formulação normativa aberta. De fato, as normas com textura aberta de direitos humanos são comuns, sendo raras as formulações estritas.6 Segundo Alexy7, em construção já muito conhecida, a estrutura do ordenamento jurídico é dividida entre regras e princípios. As regras correspondem a enunciados jurídicos tradicionais, nos quais consta um pressuposto de fato e uma consequência jurídica. “Aquele que matar outrem deve ser preso” é um exemplo básico de regra. Os princípios são, por seu turno, mandamentos de otimização de um determinado valor ou bem jurídico, ordenando que esse valor ou bem jurídico seja realizado na maior medida do possível. Assim, a norma “todos têm direito a processo com dura‑ ção razoável e a um juízo imparcial, sujeito ao duplo grau de jurisdição” possui uma estrutura de princípio. Não há aqui um pressuposto de fato, pois não há uma definição suficien‑ temente precisa de um tipo de situação na qual podem se achar pessoas ou coisas e tampouco há uma consequência jurídica clara. Além das diferenças de enunciados, as regras distinguem‑ -se dos princípios também no momento da aplicação. Com efeito, as regras são aplicadas a partir da técnica da subsun‑ ção, que consiste em determinar se o caso concreto ajusta-se ou não ao pressuposto fático do enunciado jurídico. Caso a resposta seja positiva (não que tal operação seja simples, podem existir dúvidas quanto à autoria do homicídio do exemplo visto acima etc.), aplica-se à consequência jurídica. Por outro lado, os princípios são aplicados mediante a técnica da ponderação, que não acata a lógica do “tudo ou nada” das regras (ou o caso concreto se subsume ou não), mas sim responde à lógica do “mais ou menos”, que consiste na busca da maior otimização do valor ou bem jurídico nele contido, na medida das possibilidades do caso concreto. As vaguezas e a indeterminabilidade dos enunciados contidos nos princípios também excluem a possibilidade de uso da técnica de subsunção. Também cabe lembrar que a estrutura dos direitos humanos é majoritariamente formada por princípios, mas há regras de direitos humanos, como, por exemplo, a regra de exigência de ordem judicial ou flagrante delito para que alguém seja preso. A diferenciação das normas de direitos humanos em princípios e regras, como ensina Alexy, é essencial para a compreensão do papel dos direitos humanos em um orde‑ 6 DIEZ-PICAZO, Luis Maria. Sistema de derechos fundamentales. Madrid: Thomson-Civitas, 2003, p. 39. 7 RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem inter‑ nacional. 2. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012, p. 29 apud ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Centro de Estudios Constitucionales, Madrid, 1997, e também, em especial, a análise complementar do próprio Alexy à sua teoria em ALEXY, Robert. “Epílogo a la Teoría de los Derechos Fundamentales”, 66 Revista Española de Derecho Constitucional (2002), p. 43-6. namento, bem como é peça chave na análise da limitação e na colisão dos direitos humanos. A estrutura principiológica das normas de direitos humanos exige o estudo da concre‑ tização judicial e de seus instrumentos (como o princípio da proporcionalidade e a ponderação de interesses), para auxiliar o intérprete na solução dos casos concretos.8 Fundamentação dos Direitos Humanos A despeito da diversidade terminológica, os diferentes pontos de vista convergemem apresentar, como eixo central dos direitos humanos, a dignidade da pessoa humana. Para a doutrina este tema é complexo e abstrato, envol‑ vendo conceitos históricos e discussões filosóficas. Bobbio sustenta ser impossível a fundamentação (justi‑ ficativa) absoluta dos direitos humanos por diversas razões. Para o citado jurista italiano, o problema básico em relação aos direitos do homem não é sua fundamentação, mas sim sua efetivação. O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político.9 Bobbio afirma que os direitos humanos constituem uma classe de direitos variável, conforme nos mostra a evolução de seu rol. O rol de direitos humanos modificou-se e é lícito afirmar que alguns direitos que sequer são defendidos hoje podem, amanhã, ser considerados como integrantes da ca‑ tegoria de “direitos humanos”, ou mesmo que haja exclusões dessa categoria. Logo, seria impossível fundamentar de modo unívoco os direitos humanos, pois cada contexto histórico possuiria sua própria “fundamentação”. Os direitos humanos constituem-se também em uma categoria heterogênea, contendo pretensões muitas vezes conflitantes, a exigir a ponderação de interesses no caso concreto. Diante de tais conflitos, identificar um fundamento único, absoluto, poderia, na visão de Bobbio, até servir de pretexto para impedir a evolução do rol dos direitos humanos. Em breve síntese, veremos as principais correntes que buscam fundamentar os direitos humanos. Os Jusnaturalistas Visão Jusnaturalista Religiosa Com antecedentes na Idade Antiga, mas desenvolvida na Idade Média por São Tomás de Aquino, a visão jusnaturalista 8 RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional. 2. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012, p. 29. 9 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos (trad. Carlos Nelson Coutinho) São Paulo: Campus, 1992, p. 24), apud, Ramos, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional - 2. ed. -São Paulo: Saraiva, 2012. . 5 D IR eI TO S H U M A N O S de cunho religioso prega que a lei humana só detém validade se conforme a lei divina, a qual salvaguarda interesses básicos ligados à existência humana, os quais por sua vez, vigoram e prevalecem sobre eventuais normas positivadas pelo homem e consigo desconformes. Visão Jusnaturalista Racional ou Contratualista Adotada já na Idade Moderna, com Hugo Grotius, precursor do Direto Internacional, e nos séculos seguintes, desenvolvida de pelos iluministas contratualistas (tais como Locke e Rousseau), a visão jusnaturalista racional apresenta uma versão laica do fundamento dos direitos humanos, desatrelando-o das leis divinas e vinculando-o à razão huma‑ nam entendida como o traço da natureza do Homem (não mais como dom de Deus) que o distingue dos demais seres vivos; assim, é inerente à condição humana a vigência de direitos apreensíveis pela razão, decorrentes do pressuposto Contrato Social (pactuação coletiva que dá poderes limitados de organização ao Estado, em nome do em comum) e tidos por naturais porque independem da positivação pelos ho‑ mens, cuja validade se perquire em face do direito natural. Os Positivistas Ao contrário das concepções jusnaturalistas, a visão positivista nega a ideia de pré-existentes ao direito positivo, fazendo prevalecer a compreensão segundo a qual direito válido é aquele reconhecido pelo Estado como tal. Para a Escola positivista, o fundamento dos direitos humanos consiste na existência da lei positiva (também conhecida como direto posto), cujo pressuposto de valida‑ de está em sua edição conforme as regras estabelecidas na Constituição. Assim, os direitos humanos justificam-se graças a sua validade formal. O problema é quando a lei for omissa ou mesmo contrária à dignidade da pessoa humana, caso em que a proteção dos direitos humanos restará prejudicada. Para Fábio Konder Comparato, “é justamente aí que se põe, de forma aguda, a questão do fundamento dos direitos humanos, pois a sua validade deve assentar-se em algo mais profundo e permanente que a ordenação estatal, ainda que esta se baseie numa Constituição”.10 Hart, com concisão, assinala que a divergência entre os jusnaturalistas e os positivistas não reside no reconheci‑ mento ou não da existência de certos princípios de moral e justiça passíveis de revelação pela razão humana (mesmo que tenham origem divina). A divergência entre as duas Escolas jurídicas reside, sim, na defesa, pela Escola Jusnaturalista, da superioridade dos princípios de moral e justiça em face de leis incompatíveis. Para os positivistas, esses princípios de justiça não pertencem ao ordenamento jurídico, inexistindo qualquer choque ou antagonismo entre a lei posta e a Moral. Para Hart, a Moral pode sim influenciar a formação do Direito no momento da produção legislativa e também no momento do desempenho da atividade judicial.11 10 COMPARATO, Fábio Konder. “Fundamentos dos direitos humanos”, Revista Consulex, v. 48, dez. 2000, p. 43 11 Hart denomina essas regras de determinação do direito de regras de reco‑ nhecimento, de acordo com as quais o ordenamento jurídico é formado por normas primárias e por normas secundárias, sendo as primeiras as que contêm direitos e obrigações, e as segundas aquelas que contêm os procedimentos para produzir ou concretizar as normas primárias, o que inclui as normas procedimentais pelas quais os julgadores determinam o direito aplicável ao caso concreto (HART, Herbert L. A. O conceito de direito. 2. ed. (trad. A. Ribeiro Mendes). Lisboa: Fundação C. Gulbenkian, 1994, p. 104 e 142). A Fundamentação Moral O conceito de direitos morais, aprofundado por Dworkin12, consiste no conjunto de direitos subjetivos ori‑ ginados diretamente de valores (contidos em princípios), independentemente da existência de prévias regras postas. Utilizando tal conceito, podemos ver que os direitos humanos podem ser considerados direitos morais que, por definição, não aferem sua validade por normas positivadas, mas diretamente de valores morais da coletividade humana. Para o citado autor, a moralidade integra o ordenamento jurídico por meio de princípios mesmo que não positivados. Princípios são, segundo esse autor, exigências de justiça, de equidade ou de qualquer outra dimensão da moral. Dworkin demonstra que, nos chamados casos-limite ou hard cases, quando os intérpretes debatem e decidem em termos de direitos e obrigações jurídicas, são utilizados padrões que não funcionam como regras, mas trabalham com princípios. Quando se afirma que os intérpretes empregam princí‑ pios e não regras, está a se admitir que são duas as espécies de normas, cuja diferença é de caráter lógico. Um princípio não determina as condições que tornam sua aplicação ne‑ cessária. Ao revés, estabelece uma razão (fundamento) que impele o intérprete numa direção, mas que não reclama uma decisão específica, única. Daí acontecer que um princípio, numa determinada situação, e frente a outro princípio, pode não prevalecer – o que não quer significar que ele perca a sua condição de princípio. Assim, as normas de condutas são originadas de reflexões morais contidas nos princípios de qualquer ordenamento jurídico. Os direitos morais são mais do que exigências éti‑ cas oriundas do jusnaturalismo. São títulos, na acepção de pretensão, que permitem exercer direitos. Nino13, por sua vez, sustenta que é na aplicação do direito que os princípios de justiça e moralidade são invocados pelo julgador. A diferença entre o jusnaturalismo clássico e esse novo positivismo é que se determina o Direito não somente pelas fontes formais, mas também em sua aplicação.Com isso, os direitos humanosdefinem-se como direitos morais, ou seja, como exigências éticas, que compõem os princípios do ordenamento.14 Há assim uma fundamentação ética dos direitos hu‑ manos, que consiste no reconhecimento de condições im‑ prescindíveis para uma vida digna e que se entroniza como princípio vetor do ordenamento jurídico. Assim, as necessidades humanas são razões justificatórias e argumentativas para que se possa incidir o regramento jurídico especial do conjunto de direitos humanos. Ou, no dizer de Añon Roig, são argumentos que apoiam uma res‑ posta jurídico-normativa às demandas que exigem algo, que pode ser tanto o estabelecimento de um direito positivado ou uma nova técnica positiva de proteção.15 Assim, a fundamentação dos direitos humanos como direitos morais busca a conciliação entre os direitos humanos entendidos como exigências éticas ou valores e os direitos humanos entendidos como direitos positivados. 12 DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípio. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 90. 13 RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional. 2. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012, p. 35 apud Carlos Santiago Nino (NINO, Carlos Santiago. Ética y derechos humanos: un ensayo de funda‑ mentación. Barcelona: Ariel, 1989, p. 16-21). 14 RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem inter‑ nacional. 2. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012, apud, Carlos Santiago Nino (NINO, Carlos Santiago. Ética y derechos humanos: un ensayo de fundamentación. Barcelona: Ariel, 1989, p. 16-21. 15 ANÕN ROIG, Maria José. “Fundamentación de los Derechos Humanos y Nece‑ sidades Básicas”, in BALLESTEROS, Jesús. Derechos humanos. Madrid: Tecnos, 1992, p. 100-115, em especial p. 113. . 6 D IR eI TO S H U M A N O S Os Negacionistas Há ainda quem negue a possibilidade de se identificar, com exatidão, qual seria ou quais seriam os fundamentos dos direitos humanos. Baseados na assertiva que tais direitos são consagrados a partir de juízos de valor, ou seja, de opções morais as quais, por definição, não podem ser comprovadas ou justi‑ ficadas, mas aceitas por convicção pessoal, há aquelesque negam a existência de fundamentação racional dos direitos humanos.16 Devemos ainda citar, como mais um exemplo de corrente “negacionista”, aqueles que defendem a ideia de que os direitos humanos são apreendidos pelos sentimentos mo‑ rais. Assim, o juízo valorativo da superioridade dos direitos humanos sobre todo ordenamento jurídico não pode ser justificado ou fundamentado, pois é juízo de persuasão, tradução de emoção daquele que defende tal posição.17 Contudo, a busca do fundamento para o reconhecimento dos direitos humanos é de importância capital quando é motivada pela existência de dúvidas ou contestações. É o que ocorre com os direitos humanos. De fato, a proteção dos direitos humanos foi conquista histórica, que, como tal, necessitou de fundamentação teórica para sua afirmação frente ao absolutismo e outras formas de governo autoritárias. Mas a necessidade de fundamentação não perdeu a razão de ser nos dias atuais, em especial quando a violação de di‑ reitos humanos é patrocinada pelo Estado, por seus agentes ou por suas leis. Como expõe Jorge Miranda, renunciar à fundamentação dos direitos humanos pode consistir, para muitos, na resignação perante as leis positivas vigentes ou perante as contingências de sua aplicação.18 Os exemplos históricos mostram os riscos desse positi‑ vismo exacerbado. Assim, a fundamentação dos direitos humanos é im‑ portante na chamada relação “direitos humanos – direito posto”. Se os direitos humanos são aqueles declarados e reconhecidos pelo Estado, o que fazer quando não existe esse prévio reconhecimento pelo Estado? Como protegê-los com efetividade, então? A resposta está no referencial ético que justifica terem os direitos humanos posição superior no ordenamento jurí‑ dico, capaz inclusive de se sobrepor a eventual ausência de reconhecimento explícito por parte do Estado. Assim, urge o estudo da fundamentação dos direitos humanos. Universalismo e Relativismo Ainda com relação aos fundamentos dos direitos huma‑ nos é importante conhecer dois pensamentos (divergentes também) acerca do assunto: o Universalismo e o Relati- vismo. Irrompe essa diferença na possibilidade de implantação generalizada ou não de tais direitos, levando-se em conta os fatores socioculturais de cada Estado. A corrente relativista alega que os meios culturais e mo‑ rais de uma sociedade devem ser respeitados, ainda que em 16 Peres Luño denomina tal corrente de pensamento jurídico de “não cognitivista”. Entre eles, Felix Oppenheim (OPPENHEIM, F. Ética y filosofia política. Cidade do México: Fondo de Cultura Economica, 1976; e em PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, estado de derecho y Constitución. 5. ed. Madrid: Tecnos, 1995. 17 RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional. 2. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012, apud, Alf Ross (ROSS, Alf. On law and justice. Londres: Stevens & Sons, 1976. 18 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. v. IV, 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1993, p. 43. prejuízo dos direitos humanos dessa mesma comunidade. O relativismo pode ser forte (vê a cultura como fonte princi‑ pal de validade das normas morais ou jurídicas) ou fraco (vê a cultura como forma auxiliar de validade das normas morais ou jurídicas). Destaque importante para o relativismo se dá no sentido de se entender que o universalismo acarreta uma ocidentalização de costumes, destruindo as diferenças cultu‑ rais e, propiciando, inclusive e lamentavelmente, a eclosão de atentados terroristas. A corrente universalista defende a implantação global dos direitos humanos. Afirma Valério de Oliveira Mazzuoli que “após um quarto de século da realização da primeira Conferência Mundial de Direitos Humanos, ocorrida em Teerã, a segunda Conferência realizada em Viena em 1993 consagrou os direitos humanos como global, reafirmando sua universalidade, e consagrando sua indivisibilidade, in‑ terdependência, e inter-relacionalidade”. Prevaleceu o entendimento da tese universalista quando da Declaração Universal da ONU (1948), pois o relativismo cultural não pode ser invocado para justificar violações de direitos humanos. A Conferência de Viena (1993) endossou o conteúdo da Declaração Universal da ONU de 1948, reafirmando o universalismo dos direitos humanos e introduzindo novos princípios, quais sejam: a indivisibilidade19, a interdepen‑ dência20 e a inter-relacionalidade21. Características dos Direitos Humanos Objetivando destacar o papel central dos direitos huma‑ nos no ordenamento jurídico vigente, a doutrina costuma apontar certas características desses direitos, não o fazendo, todavia, de maneira uniforme. O estudo dessas características é importante por duas razões básicas: em primeiro lugar, permite a compreensão do atual estágio de desenvolvimento da proteção dos direitos humanos na esfera internacional. Em segundo lugar, permite ao operador do Direito brasi‑ leiro o uso dessas características no âmbito interno, uma vez que o Brasil, além de ser signatário de dezenas de tratados de direitos humanos, já reconheceu a jurisdição obrigatória da Corte Interamericana de Direito Humanos, cujas decisões serviram para formar o quadro das principais características dos direitos humanos na esfera internacional. Historicidade Os direitos humanos apresentam natureza histórica, advindo do Cristianismo, superando diversas revoluções até a chegada aos dias atuais. Universalidade Os direitos humanos são universais na medida em que abrangem todo e qualquer ser humano, sem distinção. Claro que determinados direitos humanos incidem sobre comu‑ nidadeespecífica, como os direitos trabalhistas, os direitos dos migrantes e os direitos das pessoas com deficiência, entre outros. A universalidade é característica que decorre da proteção da igualdade (formal e material) como dimensão essencial da dignidade da pessoa humana. Não obstante, ser universal não significa ser absoluto. 19 Os direitos humanos não se sucedem em gerações, mas se acumulam em dimensões. 20 Os direitos políticos e sociais devem reforçar-se mutuamente. 21 Interatividade entre direitos humanos e os sistemas internacionais de proteção. . 7 D IR eI TO S H U M A N O S Irrenunciabilidade Não cabe ao titular do direito humano renunciá-lo. Fundamenta-se esta característica na impossibilidade de o homem despir-se de sua dignidade. Essa característica é alvo de intensas críticas, na perspectiva do campo fático, haja vista não serem poucas as circunstâncias em que se admite que o titular de gozar parte ou mesmo a integralidade de determinado direito humano. Inalienabilidade e Indisponibilidade Outrossim, os direitos humanos são inalienáveis e ina‑ fastáveis, não podem ser transferidos para outrem, ainda que com a anuência de seu titular. Não é permitida a sua transmissão, disponibilização ou transigência, tanto a título gratuito quanto oneroso. Indivisibilidade Os direitos humanos são indivisíveis, ou seja, pela sua natureza não podem ser decompostos. Como possuem uma composição uniforme, que não permite distinguir seus componentes, formando um todo homogêneo, sua eventual dissociação acabaria por desconfigurá-los. Não obstante as disposições sejam autônomas, o conjunto de normas é uno, incindível. efetividade Os direitos humanos são efetivos. Não basta o singelo reconhecimento abstrato de sua existência pelos Estados. O Poder Público deve responsabilizar-se pela sua aplicação de maneira incontestável, não podendo tais direitos existirem apenas no âmbito da subjetividade humana. essencialidade Os direitos humanos são essenciais, na medida de cons‑ tituir preceitos excepcionais e inerentes ao homem, que protegem interesses fundamentais e indispensáveis para a sua sobrevivência. São direitos revestidos de imprescindibilidade, cuja tutela é vital para a própria existência da pessoa humana Relatividade Admite-se a relatividade dos direitos humanos como saída teórica para uma insustentável (do ponto de vista prático) concepção intransigente acerca das características da universalidade e da irrenunciabilidade. Nesta linha, não se nega que diretos humanos colidem entre si e podem sofre restrições por ato estatal ou do próprio titular, O pró‑ prio Poder Constituinte Originário tratou, na Constituição Federal brasileira de promover de saída, algumas restrições a direitos fundamentais, do que são exemplos a vedação da associação par fins paramilitares, a pena de morte em caso de guerra, a prisão em flagrante delito (dispensada a autorização judicial), a garantia do direito de propriedade condicionado à observância de sua função social e o não cabimento de habeas corpus em relação a punições disci‑ plinares de natureza militar. Imprescritibilidade Enquanto instituto aplicável, na essência, a direitos patrimoniais, a prescrição não se aplica aos direitos hu‑ manos, ante sua natureza personalíssima e seu escopo de salvaguarda da dignidade da pessoa humana. Sendo assim, a prevenção, a repressão ou a reparação de violação a qual‑ quer direito humano jamais poderá deixar de ser levada a efeito por decurso de prazo. Concorrência, Complementariedade ou Interdependência Os direitos humanos são passiveis de exercício conco‑ mitante, como ocorre com a liberdade de expressão e a liberdade de religião, quando dos discursos proferidos em ce‑ rimonias e cultos, e com a liberdade de reunião e o direito de greve, no caso das assembleias grevistas. Esta característica, inclusive intrínseca a certos direitos humanos, nos casos em que deriva do outro ou nele encontra suporte (complemen‑ tariedade ou interdependência), como por exemplo, direito à vida/direito à saúde; direito à educação/direito à cultura; liberdade de ir e vir/habeas corpus; direito à privacidade/ sigilo das comunicações; liberdade de associação/direito à representação por sindicato, etc. Constitucionalização No plano doméstico sob a ótica da consolidação da sua qualificada força normativa, os direitos humanos são pre‑ vistos nas Constituições com vistas a obter proteção e cen‑ tralidade, auferidas por estarem enunciados no documento que direciona e vincula as demais normas do ordenamento jurídico, assim como pela experimentação dos efeitos da rigidez constitucional, sobretudo verificados a partir dos institutos da clausula pétrea e do controle de constitucio‑ nalidade (no Brasil, vigentes os sistemas concentrados e difuso desse controle). Supremacia Decorrência da sua constitucionalização, os direitos humanos alcançam força normativa destacada, dentro do ordenamento jurídico, a ponto de direcionar, vincular, limitar os poderes públicos constituídos. Subordinam-se aos direitos fundamentais os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário (incluindo aqueles que agem por sua delegação), os quais devem zelar, cada qual em seu campo de atuação, pelo res‑ peito, proteção e promoção desses direitos. A supremacia dos direitos fundamentais é material e formal. Material, na medida em que nenhum ato ou norma dos poderes consti‑ tuídos pode, em seu conteúdo, afrontar os direitos funda‑ mentais; e formal, porquanto o ordenamento jurídico não autoriza a supressão de direitos fundamentais por ato dos constituído, incluindo o legislador ordinário. Como conse‑ quência prática desta supremacia material e formal, tem-se: a inconstitucionalidade de normas incompatíveis com os direitos fundamentais; a não-recepção de normas anterio‑ res e não-conformes à Constituição; e por fim, a exigência de aplicação das normas jurídicas infraconstitucionais com adoção de sentido compatível com os direitos fundamentais e que melhor os otimize. Aplicabilidade Imediata Esta característica está inserta no §1º do art. 5º da Cons‑ tituição Federal, que estabelece que as ‘normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tem aplicação imedia- ta’. Tal disposição na perspectiva do ordenamento jurídico nacional tem por finalidade marcar posição no sentido de que as normas de direitos humanos não são meramente programáticas ou simplesmente matrizes de outras normas, . 8 D IR eI TO S H U M A N O S mas têm aptidão para regular ações estatais e particulares (força normativa), de modo direito, ou seja, sem demandar a intermediação de outra norma que a regulamente. A apli‑ cabilidade imediata é característica que serve, sobretudo à proteção dos direitos humanos frente ao Poder Judiciário, que neles encontra aptidão para a solução de casos concretos e não simples diretrizes ou inspiração. As arroladas características dos direitos humanos eleva-os à condição de normas nucleares do ordenamento jurídico brasileiro, de modo que sua supressão significa a implosão do próprio ordenamento. Não foi por outro moti‑ vo que o Poder Constituinte Originário tratou de colocar os direitos fundamentais sob o manto das cláusulas pétreas. Congenialidade Os direitos humanos são congênitos, pois pertencem ao indivíduo antes mesmo de seu nascimento, manifestam‑se espontaneamente e têm origem na própria condição hu‑ mana. São qualidades particulares ao homem, indepen‑ dentemente da existência do Estado. Assim sendo, não se condensam ao ordenamento jurídico interno, apesar da relevância do seu conteúdo. Inexauribilidade Os direitos humanos nunca se esgotam, pois são inexaurí‑ veis. Como estão conexos a valores, a todo momento podem ser somados novos direitos,sem que estes mais recentes desconfigurem os anteriores, mas ao contrário: o acréscimo reforça a concretização deles. Proibição do Retrocesso Os Estados estão expressamente proibidos de diminuir sua proteção aos direitos humanos em relação ao estágio em que se encontram. Tanto a norma interna quanto os Tratados Internacionais estão impossibilitados de estabelecer quaisquer condicionantes que reduzam ou eliminem direitos pregressamente determinados. Teoria das Gerações ou Dimensões de Direitos Humanos Sem maiores pretensões, a partir de uma relação mera‑ mente didática entre as etapas de reconhecimento dos direi‑ tos humanos e as cores da bandeira da França, associadas ao lema da Revolução Francesa, “liberdade, Igualdade, Fraterni‑ dade” atribuída ao jurista tcheco, naturalizado francês, Karel Vasak, surgiu a Teoria das Gerações de Direitos Humanos. A primeira geração: os direitos individuais A primeira das gerações compreende os chamados di‑ reitos individuais. Foi a partir dos direitos individuais que os direitos humanos se expandiram. Os direitos individuais podem ser vistos como direitos subjetivos oponíveis ao Estado. A titularidade desses diretos é do indivíduo (singular) enquanto que no polo passivo estão todos os demais e, principalmente, o Estado. Alguns direitos individuais, todavia, podem ser exercidos de forma coletiva, como é o caso da liberdade de associação. A segunda geração: os direitos econômicos, sociais e culturais Após a Primeira Guerra Mundial, veio com a Constituição Alemã de 1919 (Constituição de Weimar) uma nova gama de direitos humanos, contidos na Parte II da Carta Maior do País. Além dos direitos individuais, a Carta Maior trouxe em seu corpo seções dedicadas à vida social, à religião, à instrução e aos estabelecimentos de ensino, e por último à vida econômica. A Segunda Geração teve forte ligação com a igualdade e com os anseios da classe operária que começaram a se manifestar contra o sistema capitalista vigente. Percebe-se que o conteúdo dos direitos humanos cresce à medida em que as pessoas tem seus direitos declarados e, mais ainda quando eles são satisfeitos, o que faz surgir abertura para o surgimento de novas necessidades e, por conta disso, para a descoberta de novos direitos. A terceira geração: os direitos de solidariedade Como as necessidades humanas aumentam com o desen‑ volvimento da sociedade e, principalmente, com a satisfação das necessidades anteriores, a evolução dos direitos huma‑ nos, ou melhor, o implemento do conteúdo do objeto de estudo dos direitos humanos não cessou com o surgimento dos direitos sociais. Essa nova etapa na evolução dos direitos humanos ficou conhecida como direitos de solidariedade ou de fraternidade. Os direitos de solidariedade contemplam o direito à paz, ao desenvolvimento, ao meio ambiente sadio e ao patrimô‑ nio comum da humanidade. Esses direitos têm titularidade coletiva e o sujeito passivo, é em regra o Estado. Podem ser colocados também como titulares desses direitos os Estados que tiveram a sua paz turbada por atitudes de outros sujeitos de direito interna‑ cional público. Há doutrinadores que já entendem existentes a quarta e a quinta geração de direitos. A quarta geração seriam os direitos à democracia, à informação e o direito ao pluralismo. 22 Já a quinta geração de direitos fundamentais seria o direito à paz. A teoria das gerações vem sendo criticada por suposta‑ mente atentar contra a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência, características dos direitos humanos, essenciais para a sua efetividade, como explicitado na Decla‑ ração e Programa de Ação de Viena de 1993 (ONU). Por este motivo, há uma predileção atual em substituir-se o termo “gerações ”pelo termo “dimensões”. AFIRMAÇÃO HISTÓRICA DOS DIReITOS HUMANOS Imagina-se que os direitos humanos foram fruto da Se‑ gunda Guerra Mundial, no entanto, a evolução desse ramo do Direito começou muito tempo antes do massacre étnico que se deu sob os domínios da Alemanha Nazista. Antiguidade Já na Antiguidade, é possível encontrar instrumentos que podem ser equiparados às normas de proteção aos direitos humanos, como é o caso do Código de Hamurábi e da Lei de Talião. O Código de Hamurábi foi criado no Século XVIII a.C. e se constitui como um antiquíssimo conjunto de normas da Mesopotâmia, elaborado pelo Rei Hamurábi, filho de Sinmuballit. Ele foi o sexto rei da primeira dinastia babilônica, denominada amoritas. 22 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 7ª Ed. São Paulo: Malheiros; 1998, p.525. . 9 D IR eI TO S H U M A N O S O Código de Hamurábi é um monumento de estrutura geológica, constituído por única e maciça rocha magmática de diorito, na qual o rei é retratado recebendo a insígnia do reinado e sobre o qual se dispõem 21 colunas de escrita cuneiforme assírio-babilônia desenvolvida pelos sumérios (afro-asiáticos), com 282 dispositivos em 3.600 linhas, que regulavam a conduta das pessoas na sociedade. Havia regra para três classes diferentes: 1) Awelum: homens livres e de classe mais alta, que era merecedora de maiores compensações por injúrias, mas que arcava com multas maiores em face da prá‑ tica de ofensas; 2) Mushkenum: cidadão livre, mas de classe inferior e com obrigações mais suaves; e 3) Wardum: escravo marcado que, apesar disso, poderia possuir propriedade. Aplicavam-se penas de morte (afogamento, fogueira, forca, empalação) mutilações corporais (cortar a língua, seio, orelha, arrancar olhos, dentes) e outras penas infamantes. O Código de Hamurábi tinha por objetivo a implantação da justiça na Terra, com a destruição do mal e a prevenção da opressão do fraco pelo forte, propiciando o bem-estar do povo e a iluminação do mundo. Seus dispositivos não diferenciavam prescrições civis, religiosas e morais. Já a Lei das XII Tábuas, também denominada Lex Duo – Decim Tabularum ou simplesmente Duodecim Tabulae, em latim, constituía uma antiga legislação que se encontra na formação do direito romano. A Lei das XII Tábuas foi promulgada entre os anos de 451 e 450 a.C., tendo sido escrita em 12 tabletes de madeira, que foram afixados no fórum romano de forma que todas as pessoas pudessem lê-los e conhecer o seu conteúdo. Originou-se para estabelecer a igualdade de direitos entre as diversas classes sociais, sendo vedada a beligerância privada. Idade Média A Idade Média (476 a 1453) teve como marco inicial a tomada do Império Romano do Ocidente pelos povos bárbaros e como termo a tomada de Constantinopla pelos turco-otomanos, e por mais incrível que possa parecer, trouxe maior proteção ao ser humano. Na Alta Idade Média, também chamada Idade Média Antiga ou Antiguidade Tardia (Séculos V ao X), não houve evento que se destacasse a proteção dos direitos humanos. Já na Baixa Idade Média (Séculos XI ao XV), houve a elabora‑ ção do mais importante diploma sobre o tema até então: a Magna Carta, do Rei João Sem Terra (Lackland), como assim ficou conhecido. Isso porque não recebeu terras em herança, ao contrário de seu irmão mais velho. A Magna Carta foi um instrumento elaborado em 15 de junho de 1215 que restringiu o poder do Rei João da Inglater‑ ra, que a assinou, bem como de seus sucessores, obstando o exercício de um poder pleno. A Magna Carta foi criada em face de desinteligências entre o Rei João, o Papa Inocêncio e os barões ingleses sobre as prerrogativas do distinto monarca. Em consonância com os termos da Magna Carta, João deveria abjurar determinados direitos, obedecer a certos procedimentos legais e admitir como verdade que a vontade do imperador estaria submissa à lei. Idade Moderna A Idade Moderna (1453 a 1789), que se iniciou com a tomada de Constantinopla pelosturco-otomanos e terminou com a Revolução Francesa, caracterizou-se pela conquista da proteção aos direitos humanos. Face a estes acontecimentos, decorrentes do processo de maturação da sociedade e do desenvolvimento social e histórico surgiram várias declarações de direitos. Tratado de Westfália (Alemanha, 1648) Com o advento da Idade Moderna, mais precisamente no século XVII, no ano de 1648, foram assinados os Tratados de Westfália, que levaram a termo a penosa e grave Guerra dos Trinta Anos (1618 a 1648) entre os católicos e protes‑ tantes. Os países protestantes foram reconhecidos (Tratado de Osnabruck) e os católicos obtiveram sua independência da Igreja (Tratado de Munster). Conforme ensina Malheiro, estes Tratados foram os pri‑ meiros documentos a trazer uma configuração dos “Estados” bastante similar à que conhecemos hoje e a estabelecer entre eles uma concepção de equilíbrio, conhecida como “Princípio da igualdade formal”. Os Estados, então, renunciaram sua consideração a uma hesitante hierarquia internacional fundamentada na religião e não mais conceberam nenhum outro poder superior por si sós, o que foi denominado soberania. Bill Of Rights (Inglaterra, 1689) O Bill of Rights foi criado na Inglaterra, em 13 de fevereiro de 1689, reprisou as normas da Magna Carta e destacou a independência do Parlamento, sendo considerado a gênese do princípio da separação dos poderes. Com ele, a população teria as liberdades de expressão e política, além da tolerân‑ cia – e não liberdade – religiosa. Declaração de Direitos da Virgínia (eUA, 1776) A Declaração de Direitos da Virgínia, de concepção ilumi‑ nista, foi elaborada em Willinasburg (EUA), em 12 de junho de 1776, insere-se no contexto da Alfétena pela insubmissão americana e precede a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América. Declaração de Independência dos estados Unidos da América A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, foi ratificada em 4 de julho de 1776 e representou o ato inaugural da democracia moderna. Estabeleceu a separação entre as 13 colônias da América do Norte e o Reino Unido. Em seu texto, determinou a repre‑ sentação do povo com a restrição dos poderes do governo e a inalienabilidade dos direitos humanos. Constituição dos estados Unidos da América Entre 25 de maio e 17 de setembro de 1787, foram reali‑ zadas as discussões e houve a aprovação da primeira e única Constituição dos Estados Unidos da América, pela Convenção Constitucional da Filadélfia, na Pensilvânia. Os autores da Constituição americana foram influenciados pelo pacifismo e contrários ao uso político-econômico das guerras. Cuida-se da segunda Constituição mais antiga do mundo, que ainda está em vigor, pois a primeira é a de San Marino, . 10 D IR eI TO S H U M A N O S que vigora desde 1600. A Constituição americana prega uma autonomia política para os Estados integrantes da federação e um poder central forte. O diploma prevê um sistema de modificações, mediante emendas que, atualmente, são 27. As dez primeiras emendas são designadas por Carta de Direitos dos Estados Unidos (Bill of Rights – 1791), pois contém os direitos do cidadão perante o poder do Estado. Não houve consenso para a sua inserção no texto original da Constituição. Idade Contemporânea Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789) A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão foi inspirada na Revolução Estadunidense, ocorrida em 1776, e nos ideais filosóficos iluministas. No dia 26 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte da França apro‑ vou-a, tendo sido votada definitivamente em 2 de outubro do mesmo ano. Com 17 artigos e um preâmbulo de ideais libertários e liberais, proclamou as liberdades e dos direitos fundamentais do homem. O seu objetivo foi universalizar os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade; prega um Estado laico, o direito de associação política, o princípio da reserva legal, da anterioridade e do estado de inocência, além da livre manifestação do pensamento. Igualmente, prevê em seu texto, que a finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. De acordo com o diploma, ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por ela prescritas. Aqueles que solicitarem, expedirem, executarem ou mandarem executar ordens arbitrárias deverão ser punidos; mas qualquer cida‑ dão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, sob pena de ser culpado de resistência. Em conformidade com a Declaração, a sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração. Constituição Mexicana (México, 1917) A atual Constituição Mexicana remonta o ano de 1917 e foi promulgada em 5 de fevereiro daquele ano, tendo sofrido diversas alterações desde então. A repercussão mundial e mesmo na América Latina foi mínima. No entanto, as regras relacionadas ao trabalho e à proteção social foram bastante revolucionárias para a época. A Carta Suprema do México caracteriza-se pelo anticlerica‑ lismo, agrarismo, sensibilidade social e nacionalismo. Ela traz um elenco de direitos do trabalhador e demostra certa hostilidade em relação ao poder econômico. Constituição Alemã (de Weimar, Alemanha 1919) Tendo assinado o Tratado de Versalhes, em 28 de junho de 1919, a Alemanha precisava elaborar uma nova Cons‑ tituição, principalmente para romper com o seu passado e também para o estabelecimento de novos direitos que colocassem em destaque a proteção do ser humano. O Tratado produziu um choque e grande humilhação à população, já que a Alemanha foi obrigada a reconhecer a independência da Áustria, além de perder todas as suas colônias arquipelágicas, assim como aquelas localizadas no continente africano. Teve também que admitir uma restrição ao tamanho de seus exércitos e se obrigar a ressarcir todos os Estados vencedores da Primeira Guerra Mundial. Nesse contexto, nasceu a Constituição Alemã, assinada em 11 de agosto de 1919. A estrutura da Constituição de Weimar é claramente dualista: a primeira parte teve por objetivo a organização do Estado, enquanto a segunda parte apresentava a decla‑ ração dos direitos e deveres fundamentais, acrescentando às clássicas liberdades individuais os novos direitos de conteúdo social. Direitos Humanos e a Segunda Guerra Mundial A Segunda Guerra Mundial teve início com a invasão da Polônia, em 1º de setembro de 1939, e findou em 2 de setembro de 1945, com a assinatura da rendição formal do Japão, a bordo do encouraçado Missouri, na baía de Tóquio. Na verdade, a Segunda Guerra Mundial começou muito antes, pois menos de um mês, após a promulgação da Constituição Alemã, fundou-se, em setembro do mesmo ano, numa cervejaria em Munique, o Partido Operário Alemão. Encontrava‑se entre os indivíduos que se reuniram para a sua criação um jovem cabo austríaco chamado Adolf Hitler. O Partido transformou-se, em 1920, no Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães e sob essa denomina‑ ção foi mal preparado um golpe de Estado, em 1923. Tendo fracassado na Baviera, Adolf Hitler foi condenado à prisão, cumprindo apenas oito meses da pena de cinco anos que tinha sido aplicada. Uma vez em liberdade, Hitler reorganizou seu partido, determinou o seu programa de ação e criou uma força armada para apoiar as reivindicações políticas. Em 1930, o seu partido já possuía 107 Deputados no Poder, e em 30 de janeiro de 1933, ele foi nomeado chan‑ celer pelo então Presidente alemão, Paul von Hindenburg. Com a morte do Presidente, em 2 de agosto de 1934, Hitler ascendeao Poder. Vale destacar, que em 14 de outubro de 1933, a Ale‑ manha se retirou da Conferência Geral do Desarmamento, em Genebra. Uma semana depois, recolheu-se da Liga das Nações. O serviço militar foi restabelecido em março de 1935 e um exército de mais de 500 mil homens foi criado. Em 12 de março de 1938, as tropas alemãs penetraram na Áustria, e em 10 de abril do mesmo ano, realiza-se um plebiscito em que 99,7% dos austríacos aprovam a união com a Alemanha. Os que se opuseram foram encaminhados ao cárcere. Na madrugada de 1º de setembro de 1939, a Alemanha atravessou a fronteira polonesa sem aviso prévio e, sem que se desse conta, Adolf Hitler desencadeou a Segunda Guerra Mundial. Inúmeros acontecimentos entre 1º de setembro de 1939 e 2 de setembro de 1945 (fim da Segunda grande Guerra) destroçaram a proteção aos direitos humanos no cenário das relações exteriores. É inegável que com o advento da conflagração global e dos massacres perpetrados, os direitos humanos entraram em colapso severo. No entanto, com o término dos conflitos, houve um desenvolvimento sem precedentes em sua histó‑ ria com o surgimento de inúmeros tratados internacionais cuidando do tema. Tanto a Primeira Guerra Mundial (agosto de 1914 a novembro de 1918), cujo triste epílogo trouxe consigo o legado da perda de mais de oito milhões de pessoas, quanto a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), com todos os seus atos cruéis, desumanos, atrozes e mais de 45 milhões de mortos, serviram para apresentar ao mundo a necessidade inquietante e imediata de proteção dos direitos humanos na dimensão internacional. A primeira manifestação dessa proteção, mostrou a sua face com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, que foi a base de outros diplomas internacionais, . 11 D IR eI TO S H U M A N O S como o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos em 1966. Na verdade, o que se buscou foi a reconstrução da dou‑ trina de direitos humanos. Nesse aspecto, cumpre ressaltar a diferença doutrinária entre as proficientes expressões direi- tos do homem, direitos humanos e direitos fundamentais. Direito do homem é a expressão que se refere aos di‑ reitos naturais ainda não positivados, capazes de proteger o ser humano na esfera mundial. Direitos humanos são aqueles consignados em tratados e convenções internacionais. Já os direitos fundamentais estão relacionados àqueles que visam à proteção do homem e que estão registrados nas Constituições dos Estados. O SISTeMA INTeRNACIONAL De PROTeÇÃO e PROMOÇÃO DOS DIReITOS HUMANOS: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕeS UNIDAS (ONU) A preocupação com a questão dos direitos humanos é antiga, embora sua positivação internacional seja fenômeno recente, fruto de um processo que se inicia no pós-Segunda Guerra Mundial. Os principais instrumentos internacionais de proteção desses direitos surgem inicialmente como uma tentativa de se evitar a repetição das violações cometidas por sistemas totalitários, como o fascismo e o nazismo. A partir daí o tema dos direitos humanos passou a possuir status obrigatório na agenda internacional. Em virtude desse processo, proliferam-se convenções de âmbito internacional estabelecendo garantias mínimas ao bem-estar da pessoa humana, cujo instrumento mais conhecido é a Declaração Universal dos Direitos do Homem, assinada em 10 de dezembro de 1948 no âmbito da Assem‑ bleia-Geral das Nações Unidas. A partir da assinatura dessa Declaração, a proteção dos direitos humanos passaria a ser considerada não mais como assunto interno de cada Estado, mas como foco do interesse comum de toda a humanidade. Esse processo de universalização dos direitos humanos, por sua vez, acarretou a formação de sistemas de proteção vol‑ tados à garantia desses direitos como o Sistema Global ou Universal de Proteção, que se formou nas Nações Unidas, e os Sistemas de Regionais de Proteção: Europeu, Americano e Africano. Desenvolve-se, assim, o que se denominou Direito Internacional dos Direitos Humanos. Sistema Global ou Universal O Sistema Global ou Universal de proteção é comandado pela Organização das Nações Unidas – ONU. A Organização das Nações Unidas, também conhecida pela sigla ONU, é uma organização internacional formada por países que se reuniram voluntariamente para trabalhar pela paz e o desenvolvimento mundial. O preâmbulo da Carta das Nações Unidas – documento de fundação da Organização – expressa os ideais e os pro‑ pósitos dos povos cujos governos se uniram para constituir as Nações Unidas. História da ONU Depois da II Guerra Mundial, que devastou dezenas de países e tomou a vida de milhões de seres humanos, existia na comunidade internacional um sentimento generalizado de que era necessário encontrar uma forma de manter a paz entre os países. Porém, a ideia de criar a ONU não surgiu de uma hora para outra. Foram necessários anos de planejamento e dezenas de horas de discussões antes do surgimento da Organização. O nome “Nações Unidas” foi concebido pelo presidente norte-americano Franklin Roosevelt e utilizado pela primeira vez na Declaração das Nações Unidas, de 1º de janeiro de 1942, quando os representantes de 26 países assumiram o compromisso de que seus governos continuariam lutando contra as potências do Eixo. A Carta das Nações Unidas foi elaborada pelos represen‑ tantes de 50 países presentes à Conferência sobre Organiza‑ ção Internacional, que se reuniu em São Francisco de 25 de abril a 26 de junho de 1945. As Nações Unidas, entretanto, começaram a existir ofi‑ cialmente em 24 de outubro de 1945, após a ratificação da Carta por China, Estados Unidos, França, Reino Unido e a ex-União Soviética, bem como pela maioria dos signatários. O dia 24 de outubro é comemorado em todo o mundo como o “Dia das Nações Unidas”. O Brasil ratificou a Carta em 22 de outubro de 1945 (Decreto nº 19.841). O Estatuto da Corte Internacional de Justiça faz parte integrante da Carta. Sede da ONU Durante a primeira reunião da Assembleia Geral, que aconteceu na capital do Reino Unido, Londres, em 1946, ficou decidido que a sede permanente da Organização seria nos Estados Unidos. Em dezembro de 1946, John D. Rockefeller Jr. ofereceu cerca de oito milhões de dólares para a compra de parte dos terrenos na margem do East River, na ilha de Manhattan, em Nova York. A cidade de NY ofereceu o restante dos terrenos para possibilitar a construção da sede da Organização. Hoje em dia, a estrutura central da ONU fica em Nova York, com sedes também em Genebra (Suíça), Viena (Áustria), Nairóbi (Quênia), Addis Abeba (Etiópia), Bangkok (Tailândia), Beirute (Líbano) e Santiago (Chile), além de escritórios espa‑ lhados em grande parte do mundo. Propósitos da ONU • Manter a paz e a segurança internacionais. • Desenvolver relações amistosas entre as nações. • Realizar a cooperação internacional para resolver os problemas mundiais de caráter econômico, social, cultural e humanitário, promovendo o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais. • Ser um centro destinado a harmonizar a ação dos povos para a consecução desses objetivos comuns. Princípios da ONU As Nações Unidas agem de acordo com os seguintes princípios: • todos os membros se obrigam a cumprir de boa-fé os compromissos da Carta; • todos deverão resolver suas controvérsias internacio‑ nais por meios pacíficos, de modo que não sejam ame‑ açadas a paz, a segurança e a justiça internacionais; • todos deverão abster-se em suas relações internacio‑ nais de recorrer à ameaça ou ao emprego da força contra outros Estados; • Todos deverão dar assistência às Nações Unidas em qualquer medida que a Organização tomar em con‑ formidadecom os preceitos da Carta, abstendo-se de prestar auxílio a qualquer Estado contra o qual as Na‑ ções Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo; . 12 D IR eI TO S H U M A N O S • cabe às Nações Unidas fazer com que os Estado, que não são membros da Organização, ajam de acordo com esses princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais; • nenhum preceito da Carta autoriza as Nações Unidas a intervir em assuntos que são essencialmente da alçada nacional de cada país. estrutura da ONU De acordo com a Carta, a ONU, para que pudesse aten‑ der seus múltiplos mandatos, teria seis órgãos principais, a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho econômico e Social, o Conselho de Tutela, a Corte Interna- cional de Justiça e o Secretariado. A Assembleia Geral A Assembleia Geral da ONU é o principal órgão delibera‑ tivo da ONU. É lá que todos os Estados-Membros da Orga‑ nização (193 países23) se reúnem para discutir os assuntos que afetam a vida de todos os habitantes do planeta. Na Assembleia Geral, todos os países têm direito a um voto, ou seja, existe total igualdade entre todos seus membros. Atenção! O Brasil participa dos processos de tomada de decisão e do trabalho das Nações Unidas principalmente por meio de quatro representações permanentes – nas cidades de Nova York (Estados Unidos), Genebra (Suíça), Roma (Itália) e Paris (França). A função das representações é acompanhar de perto a agenda da ONU, ter informações mais específicas sobre os trabalhos e ampliar a participação do País no Sistema. As des‑ pesas destas representações são inteiramente custeadas pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Assuntos em pauta na Assembleia Geral: paz e seguran‑ ça, aprovação de novos membros, questões de orçamento, desarmamento, cooperação internacional em todas as áreas, direitos humanos etc. As resoluções – votadas e aprovadas – da Assembleia Geral funcionam como recomendações e não são obrigatórias. Principais Funções da Assembleia Geral da ONU • Discutir e fazer recomendações sobre todos os assun‑ tos em pauta na ONU. • Discutir questões ligadas a conflitos militares – com exceção daqueles na pauta do Conselho de Segurança. • Discutir formas e meios para melhorar as condições de vida das crianças, dos jovens e das mulheres. • Discutir assuntos ligados ao desenvolvimento susten‑ tável, meio ambiente e direitos humanos. • Decidir as contribuições dos Estados-Membros e como estas contribuições devem ser gastas. • Eleger os novos Secretários-Gerais da Organização. 23 A ONU possui hoje 193 Países-membros, dos quais 51 são membros fundadores, e o Brasil é um deles. Chamam-se Membros-Fundadores das Nações Unidas os países que assinaram a Declaração das Nações Unidas de 1º de janeiro de 1942 ou que tomaram parte da Conferência de São Francisco, tendo assinado e ratificado a Carta. Outros países podem ingressar nas Nações Unidas por deci‑ são da Assembleia-Geral mediante recomendação do Conselho de Segurança. Por outro lado, também é possível a suspensão ou expulsão de um membro. A suspensão pode ocorrer quando o Conselho de Segurança tomar medidas preventivas ou coercitivas contra um Estado-Membro, cabendo a expulsão sempre que houver uma violação persistente dos preceitos da Carta. Conselho de Segurança O Conselho de Segurança é o órgão da ONU responsá‑ vel pela paz e segurança internacionais. Ele é formado por 15 membros: cinco permanentes, que possuem o direito a veto – Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China – e dez membros não-permanentes, eleitos pela Assembleia-Geral por dois anos. Vale destacar, que o Conselho de Segurança é o único órgão da ONU que tem poder decisório, isto é, todos os membros das Nações Unidas devem aceitar e cumprir as decisões do Conselho. Principais Funções • Manter a paz e a segurança internacional. • Determinar a criação, continuação e encerramento das Missões de Paz, de acordo com os Capítulos VI, VII e VIII da Carta. • Investigar toda situação que possa vir a se transformar em um conflito internacional. • Recomendar métodos de diálogo entre os países. • Elaborar planos de regulamentação de armamentos. • Determinar se existe uma ameaça para a paz. • Solicitar aos países que apliquem sanções econômicas e outras medidas para impedir ou deter alguma agres‑ são. • Recomendar o ingresso de novos membros na ONU. • Recomendar para a Assembleia Geral a eleição de um novo Secretário-Geral. Conselho econômico e Social O Conselho Econômico e Social (ECOSOC), composto por 54 (cinquenta e quatro) membros é o órgão coordenador do trabalho econômico e social da ONU, das Agências Especia‑ lizadas e das demais instituições integrantes do Sistema das Nações Unidas. O Conselho formula recomendações e inicia atividades relacionadas com o desenvolvimento, comércio internacio‑ nal, industrialização, recursos naturais, direitos humanos, condição da mulher, população, ciência e tecnologia, pre‑ venção do crime, bem-estar social e muitas outras questões econômicas e sociais. Principais Funções • Coordenar o trabalho econômico e social da ONU e das instituições e organismos especializados do Sistema. • Colaborar com os programas da ONU. • Desenvolver pesquisas e relatórios sobre questões econômicas e sociais. • Promover o respeito aos direitos humanos e as liber‑ dades fundamentais. Conselho de Tutela Segundo a Carta, cabia ao Conselho de Tutela a su‑ pervisão da administração dos territórios sob regime de tutela internacional. As principais metas desse regime de tutela consistiam em promover o progresso dos habitantes dos territórios e desenvolver condições para a progressiva independência e estabelecimento de um governo próprio. Os objetivos do Conselho de Tutela foram tão ampla‑ mente atingidos que os territórios, inicialmente sob esse regime – em sua maioria países da África – alcançaram, ao longo dos últimos anos, sua independência. Tanto assim, . 13 D IR eI TO S H U M A N O S que em 19 de novembro de 1994, o Conselho de Tutela sus‑ pendeu suas atividades, após quase meio século de luta em favor da autodeterminação dos povos. A decisão foi tomada após o encerramento do acordo de tutela sobre o território de Palau, no Pacífico. Palau, último território do mundo que ainda era tutelado pela ONU, tornou-se então um Estado soberano, membro das Nações Unidas. Corte Internacional de Justiça A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia (Holanda), é o principal órgão judiciário das Nações Unidas. Todos os países que fazem parte do Estatuto da Corte – que é parte da Carta das Nações Unidas – podem recorrer a ela. Somente países, nunca indivíduos, podem pedir pareceres à Corte Internacional de Justiça. Além disso, a Assembleia Geral e o Conselho de Segu‑ rança podem solicitar à Corte pareceres sobre quaisquer questões jurídicas, assim como os outros órgãos das Nações Unidas. A Corte Internacional de Justiça se compõe de quinze juízes chamados “membros” da Corte. São eleitos pela As‑ sembleia Geral e pelo Conselho de Segurança em escrutínios separados. Secretariado O Secretariado presta serviço a outros órgãos das Nações Unidas e administra os programas e políticas que elabo‑ ram. Seu chefe é o secretário-geral, que é nomeado pela Assembleia Geral, seguindo recomendação do Conselho de Segurança. Principais Funções • Administrar as forças de paz. • Analisar problemas econômicos e sociais. • Preparar relatórios sobre meio ambiente ou direitos humanos. • Sensibilizar a opinião pública internacional sobre o trabalho da ONU. • Organizar conferências internacionais. • Traduzir todos os documentos oficiais da ONU nas seis línguas oficiais da Organização.DeCReTO Nº 19.841, De 22 De OUTUBRO De 1945 Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte inte- grante o anexo Estatuto da Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização Internacional das Nações Unidas. O PReSIDeNTe DA RePÚBLICA, tendo em vista que foi aprovada a 4 de setembro e ratifica a 12 de setembro de 1945. Pelo governo brasileiro a Carta das nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte In‑ ternacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferencia de Organização Internacional da Nações Unidas; e Havendo sido o referido instrumento de ratificação depositado nos arquivos do Governo do Estados Unidos da América a 21 de setembro de 1945 e usando da atribuição que lhe confere o atr. 74, letra a da Constituição, DeCReTA: Art. 1º fica promulgada a Carta da Nações Unidas apensa por cópia ao presente decreto, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945. Art. 2º Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação. Rio de Janeiro, 22 de outubro de 1945, 124º da Indepen‑ dência e 57º da República. GETÚLIO VARGAS P. Leão Velloso Faço saber, aos que a presente Carta de ratificação vie‑ rem, que, entre a República dos Estados Unidos e os países representados na Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, foi concluída e assinada, pelos respectivos Plenipotenciários, em São Francisco, a 26 de junho de 1945, a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte Internacional de Justiça, tudo do teor seguinte: CARTA DAS NAÇÕeS UNIDAS NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe so‑ frimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla. E para tais fins praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos. Resolvemos conjugar nossos esforços para a consecução desses objetivos. Em vista disso, nossos respectivos Governos, por intermé‑ dio de representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma or‑ ganização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas. CAPÍTULO I Propósitos e Princípios Artigo 1º Os propósitos das Nações unidas são: 1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ame‑ aças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformi‑ dade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; . 14 D IR eI TO S H U M A N O S 2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. Artigo 2º A Organização e seus Membros, para a reali‑ zação dos propósitos mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios: 1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros. 2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta. 3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais. 4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integrida‑ de territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas. 5. Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo. 6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais. 7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capitulo VII. CAPÍTULO II Dos Membros Artigo 3º Os Membros originais das Nações Unidas serão os Estados que, tendo participado da Conferência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional, realizada em São Francisco, ou, tendo assinado previamente a Declaração das Nações Unidas, de 1 de janeiro de 1942, assinarem a presente Carta, e a ratificarem, de acordo com o Artigo 110. Artigo 4º 1. A admissão como Membro das Nações Unidas fica aberta a todos os Estados amantes da paz que aceitarem as obrigações contidas na presente Carta e que, a juízo da Organização, estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações. 2. A admissão de qualquer desses Estados como Mem‑ bros das Nações Unidas será efetuada por decisão da As‑ sembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. Artigo 5º O Membro das Nações Unidas, contra o qual for levada a efeito ação preventiva ou coercitiva por parte do Conselho de Segurança, poderá ser suspenso do exercício dos direitos e privilégios de Membro pela Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. O exer‑ cício desses direitos e privilégios poderá ser restabelecido pelo conselho de Segurança. Artigo 6º O Membro das Nações Unidas que houver violado persistentemente os Princípios contidos na presente Carta, poderá ser expulso da Organização pela Assembleia Geral mediante recomendação do Conselho de Segurança. CAPÍTULO III Órgãos Artigo 7º 1. Ficam estabelecidos como órgãos principais das Nações Unidas: uma Assembleia Geral, um Conselho de Segurança, um Conselho Econômico e Social, um conselho de Tutela, uma Corte Internacional de Justiça e um Secretariado. 2. Serão estabelecidos, de acordo com a presente Carta, os órgãos subsidiários
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