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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Redação Publicitária Comunicação e Persuasão Aula 4 Prof. Ana Heck CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Olá, prontos para a nossa quarta viagem? Esta jornada será um pouco diferente, vamos fazer um passeio para degustar os melhores sabores da linguagem publicitária. Este será um passeio gastronômico. Delícia, não?! Prepare o seu paladar, você vai conhecer novos sabores e aromas para aplicar nas suas receitas textuais. Nossa primeira parada será em um restaurante que oferece um prato típico brasileiro: a feijoada da rede semântica. Você vai apreciar a combinação de diferentes ingredientes que podem formar um texto publicitário e descobrir como associar elementos diversos em um texto. Em seguida, faremos uma mini oficina de cozinha na qual vamos conhecer a “Receita AIDA” para aprender o passo-a-passo para cozinhar pratos textuais mais persuasivos. A parada seguinte será em um viveiro onde vamos entender um pouco mais sobre diferentes temperos e condimentos – as figuras de linguagem – que darão mais sabor aos nossos textos. Por fim, vamos visitar um rodízio de carnes e massas e degustar diferentes cortes e combinações de repertório e intertextualidade. Eu já estou com água na boca, e você? Para saber mais sobre o que será estudado nesta aula, assista ao vídeo que está disponível no material on-line. Contextualização Escrever significa combinar palavras para transmitir ideias. Cozinhar também é assim: nós selecionamos ingredientes para criar pratos apetitosos. Mas, para isso, é necessário entender algumas particularidades de cada um dos ingredientes, bem como suas proporções. Nesta aula, você vai conhecer algumas ferramentas úteis para criar textos apetitosos para o seu público. Depois de entender o esquema AIDA, a aplicação das figuras de linguagem e a importância do repertório e da intertextualidade na redação publicitária, você vai conseguir criar textos dignos de um chef. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Para saber o que a professora Ana tem a dizer sobre o assunto, assista ao vídeo que está disponível no material on-line. “Feijoada” da rede semântica Uma feijoada é feita da mistura de feijões pretos e vários tipos de carne de porco e de boi, somados a alguns condimentos. Ela é servida, normalmente, acompanhada de arroz branco, farofa, couve refogada e laranja fatiada. A pessoa que descobriu essa combinação foi muito feliz e esses pratos servidos em conjunto fazem um sucesso enorme. A origem da feijoada não importa nesta aula, o que nos interessa é a combinação de elementos que, por vezes, podem ser percebidos como tão diversos, mas que juntos formam uma explosão de sabores. Da mesma forma, isso acontece nos textos. Selecionamos e combinamos palavras para redigir. Algumas vezes podemos usar palavras de origens diferentes, como na feijoada elencaram a laranja e o feijão, uma fruta e um cereal. Contudo, em algum momento, uma pessoa teve a ideia de associar esses dois ingredientes e o resultado foi muito apetitoso. O que importa aqui é: de onde veio essa ideia de combinação? Nossa mente opera de maneira singular, mas isso acontece em função de determinadas convenções que requerem algum tipo de arbítrio social, coletivo. A ligação entre um e outro ingrediente, ou entre uma e outra palavra, depende de um arbítrio social. Quem pensou nisso? Não, não foi a pessoa que inventou a feijoada, foi o teórico suíço Saussure. Por isso, para falar sobre a rede semântica, que consiste na associação de ideias (MARTINS, 2008), vamos tomar emprestados alguns conceitos da semiótica e semiologia. Vocês devem estar aprendendo um pouco mais sobre isso na disciplina de Comunicação, Linguagem e Semiótica, certo? Contudo, aqui em redação, nosso foco será somente a semiologia e sua contribuição para a composição de redes semânticas e textos: “vamos descobrir que a semiótica não é uma só, mas são, principalmente, duas entre tantas outras: a semiótica CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 propriamente dita e a semiologia, espécie de irmã gêmea não idêntica ou irmã siamesa da primeira” (PUPPI, 2009, p. 65). Esses são os dois modelos gerais do estudo dos signos que foram desenvolvidas de forma independente que partem de concepções diversas e próprias dos signos. De acordo com Puppi (2009, p. 66), “a linguagem em seu todo é constituída por uma infinidade de sistemas de signos que precisam ser estudados para que ela possa ser mais bem compreendida e praticada”. De acordo com Saussure, a linguística é uma ciência que se constitui em torno dos “fatos da língua” (apud PUPPI, 2009, p. 72). Sua tarefa consiste em procurar elementos permanentes e universais (estruturais) em todas as línguas que já existiram e que vão existir, estabelecendo leis gerais. Para Saussure o signo linguístico é uma “coisa dupla”, não consiste em uma simples nomenclatura, mas a união de uma coisa física e uma palavra que lhe dá nome, um conceito e sua imagem acústica (sua impressão psíquica sobre o som da palavra), um significado e um significante. Por exemplo, “casa” é um signo linguístico que resulta da associação do significado “local para morar”, um conceito ou ideia geral – que pode ser uma casa convencional, uma oca de índios ou um iglu –, com um significante, a imagem acústica, o som da palavra casa. Fonte: Puppi (2009, p. 814). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Você deve estar se perguntando: mas o que é que faz com que determinado significante seja associado a um significado? A resposta saussuriana é que “o laço que une o significante com o significado é arbitrário” (apud PUPPI, 2009, p. 83). Existe a necessidade de um arbítrio social para normatizar seu uso pelos membros de uma determinada sociedade que usam determinada língua, “ambos são unidos no uso cotidiano da língua por força de uma convenção social” (PUPPI, 2009, p. 83), uma espécie de “cola” social que os une. Dessa forma, a palavra árvore, por exemplo, é constituída por seu aspecto concreto, seu conjunto sonoro (significante) e seu aspecto conceitual, abstrato, a imagem mental (significado). A partir disso, Saussure começa a estudar relações sintagmáticas e associativas do signo linguístico: As relações e diferenças entre termos linguísticos se desenvolvem em duas esferas distintas, cada uma das quais é geradora de certa ordem de valores; a oposição entre as duas ordens faz compreender melhor a natureza de cada uma. Correspondem a duas formas de nossa atividade mental, indispensáveis para a vida da língua (SAUSSURE, 1995, p. 142). Dessa forma, em um texto, uma palavra só tem valor porque está em um encadeamento, ou seja, alinhado antes ou após o outro. Essas associações, de acordo com Saussure (1995, p. 142), podem ser chamadas de sintagmas. Contudo, para colocar palavras em um texto, é necessário associá-las antes, mentalmente. Essas relações entre termos se dão porque existe algo em comum entre duas palavras na nossa memória que as ligam. Vamos pegar o exemplo que Saussure dá em seu livro: a palavra ensinamento, por exemplo, quando você a lê aqui nesta rota pensará em uma porção de outras palavras relacionadas a ela. Ela será como o centro de uma rede a partir da qual outros termos serão ligados. Mas, como acontecem essas ligações? Carroscoza (2007, p. 51) dá um bom exemplo também: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 ■ O elemento em comum entre estes termos pode ser o radical: ensinamento → ensinar → ensinemos etc. ■ Pode ser o sufixo: ensinamento → aumento → pensamento. ■ Pode ser a imagem acústica: ensinamento → elemento → lento. ■ Ou a analogia dos significados: ensinamento →educação → aprendizagem. Em suma: são relações sintagmáticas que se estabelecem em dois ou mais termos. São relações associativas. A partir de uma palavra-estímulo “essas ideias são inter-relacionadas e têm origem na evocação de imagens ou fatos provenientes da percepção sensória e armazenados na mente. Exemplo: a palavra mar evoca logo peixes, ondas, barcos” (MARTINS, 2008, p. 99). De acordo com Carrascoza (2007, p. 52), “a transposição dessas palavras do plano mental para o plano do discurso resulta num método construtivo a que se costuma chamar de rede semântica ou palavra-puxa-palavra”. Sendo um método bastante eficaz e simples para associação de termos, a Publicidade utiliza essa técnica de relações associativas na construção de textos, as famosas redes semânticas. Consiste em um mapa mental de associações linguísticas no qual a partir de um termo (um paradigma) o nosso cérebro “puxa” palavras do mesmo “universo linguístico”. Isso facilita a compreensão do texto e torna a persuasão um processo mais ágil (CARRASCOZA, 2007). A maioria dos textos publicitários são construídos por meio de relações associativas, sobretudo aquelas por analogia dos significados. De acordo com Martins (2008, p. 99), além das ligações entre palavras citadas por Saussure, as associações podem acontecer por continuidade, semelhança, contraste ou afinidade. A organização de associações em estruturas linguísticas constituindo textos destina-se não somente a traduzir ideias, mas ainda a transmitir significações que estão além das palavras e que terão alguma conexão com o tema. São as construções conotativas, muito usadas em publicidades por serem polissêmicas (MARTINS, 2008, p. 99). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 De acordo com Martins (2008), o briefing normalmente propõe uma temática ou contém indícios para despertar a ideia inicial que representa o desejo do anunciante e orienta as estratégias para chegar ao objetivo final. Essa é uma técnica simples, mas que exige paciência e dedicação. Para isso, você precisa encontrar um elemento motivador, um paradigma, e deixar a imaginação e a memória fluírem. E aí, o que acharam dessa “feijoada” de palavras? Logo mais vamos partir para uma nova receita: o esquema AIDA. Para mais informações, assista ao vídeo que está disponível no material on-line. Receita AIDA Bem-vindos à oficina de cozinha “AIDA"! Aqui você vai aprender uma receita super prática para a criação de pratos textuais persuasivos. Tudo isso, através de uma receita que envolve apenas quatro ingredientes: Atenção, Interesse, Desejo e Ação. Na última aula, nós vimos que o objetivo do texto publicitário é ser um fator “agilizador” de consumo. Para isso, precisamos atrair o consumidor através de bons argumentos e fazer com que ele opte por um determinado produto, serviço ou marca. Nela aprendemos também que os textos podem ser construídos utilizando dois condimentos: razão, visando a motivação via informações e argumentos lógicos, e emoção, buscando respostas afetivas. Mas, para que a “mistura” aconteça de maneira eficaz, precisamos entender como ocorre o envolvimento do leitor/consumidor com o anúncio. Em 1911, Elias Elmo Lewis observou que esse processo se desenvolve em momentos distintos e, pensando nisso, criou o modelo AIDA (SANTOS, 2005): ATENÇÃO INTERESSE DESEJO AÇÃO CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Atenção Atualmente, com a globalização, a internet e as novas dinâmicas de comunicação, as pessoas são bombardeadas diariamente por milhões de mensagens. São impulsos que sobrecarregam os órgãos sensoriais dos clientes e, por isso, o anunciante precisa ser rápido e direto para chamar a atenção do target. A atenção pode ser captada a partir de textos ou imagens pelas quais o nosso público tenha interesse. Esses elementos vão compor a mensagem publicitária e servir de estímulo para que a pessoa dedique sua atenção a determinada peça. Contudo, tenha sempre em mente um fato muito importante: ninguém liga a TV para assistir aos comercias, nem compra revistas e jornais para ler anúncios, muito menos acessa a internet para conferir links patrocinados. Por isso, entenda bem o seu público e investigue qual a melhor maneira de conquistar sua atenção. Ao mesmo tempo em que as pessoas estão expostas a muitos estímulos, a atenção é seletiva. Se surgir algo que realmente “conquiste” essa pessoa, ela consegue filtrar e ignorar os outros milhões de estímulos – não só os da mídia, mas do mundo ao redor dela. As formas de atrair a atenção podem ser as mais variadas. Na mídia impressa, as imagens geralmente se encarregam dessa empreitada. Elas podem conter situações inusitadas, objetos que estimulam os outros sentidos através da visão, modelos ou celebridades, referências afetivas ou apelos sensuais. O objetivo deste estágio é aproximar a mensagem do receptor (SANTOS, 2005, p.168). Mas, o objetivo da mensagem publicitária não se resume em atrair a atenção, é necessário mantê-la, daí surge o segundo ingrediente desta receita. Interesse Esta pode ser considerada a etapa mais desafiadora. Atrair a atenção não basta, é preciso fazer com que o público se envolva de alguma maneira com a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 peça. Isso deve ser feito de um jeito com que ele pare tudo que está fazendo para olhar a mensagem. “O interesse decorre da percepção de alguma necessidade do receptor que a mensagem o ajuda a reconhecer” (SANTOS, 2005, p.169). Logo, precisamos estimular o público fazendo com que ele perceba o produto como um objeto que vai servir para deixar sua vida melhor em algum aspecto. Nesta etapa, é possível se dirigir à imaginação ou focar em alguma característica do produto, suas vantagens e benefícios. O interesse é uma forma de engajamento, mas, isto não é o suficiente para persuadir alguém a uma compra. Desejo De nada adianta chamar a atenção e despertar o interesse. É necessário provocar o desejo do target. Precisamos, então, convencer o cliente de que eles querem e desejam o produto ou serviço. Para isso, precisamos fazer com que as pessoas entendam as propostas do anúncio e se sintam seduzidas. O desejo é uma tensão que o consumidor descobriu na etapa anterior, e nós precisamos fazer com que ele se sinta motivado a comprar o produto oferecendo algum tipo de recompensa, uma fonte de satisfação. Mas... ainda não é o suficiente. Ação Não basta chamar a atenção, despertar o interesse, provocar o desejo se não convidamos o público a realizar uma ação: a compra. Desta forma, convide o cliente a comprar seu produto, contratar seu serviço ou se engajar de alguma forma com a sua marca. Ofereça informações através das quais ele possa realizar uma ação de compra: seja indicando um site para compra, o endereço da loja etc. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Para entender como o processo funciona, veja o vídeo abaixo, um comercial do Fusca de 2013, criado pela agência AlmapBBDO: Comercial Céticos – Fusca 2013 https://www.youtube.com/watch?v=UUsGLbyLVR4 Agora vamos analisar esses quatro ingredientes, agindo na receita deste comercial e suas proporções: O que chama a atenção? A coloração do filme, remetendo a um tempo antigo; As imagens antigas de arquivo de uma cidade que aparentam ser da década de 1970. O que desperta o interesse? O apresentador informando que está nos anos 1970 tentando entender o que as pessoas acharam do fusca de 2013; O contraste do novo fusca em um cenário ambientado na década de 1970; A presença de personagens como Mussum e Rivelino, celebridades da época elogiando o fusca. O que provoca o desejo? As informações sobre os itens de série como câmbio, faróis e potência do motor. Como o comercialconvida à ação? Perfeito para o Brasil de 2013; O carro voltou. O resultado desta receita ficou mais fácil de entender agora? Gostou do sabor? Vem muito mais por aí! Mas, antes de continuar a leitura, assista ao vídeo que está disponível no material on-line com as explicações da professora Ana! https://www.youtube.com/watch?v=UUsGLbyLVR4 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Temperos e condimentos: as figuras de linguagem aplicadas aos textos publicitários – Parte I Toda receita indica uma série de ingredientes, entre eles estão sempre presentes alguns tipos de condimentos como alho, cebola, sal e pimenta. Afinal, comida insossa é muito sem graça, não concorda? Nada melhor do que apreciar uma boa combinação de especiarias que formam um tempero saboroso! Por isso, agora vamos adentrar o viveiro dos condimentos e entender um pouco mais sobre elementos que dão sabor aos nossos textos: as figuras de linguagem. As figuras de linguagem cumprem a função de redefinir um determinado campo de informação, criando efeitos novos e que sejam capazes de atrair a atenção do receptor. São expressões figurativas que conseguem quebrar a significação própria e esperada daquele campo de palavras (GONZALES, 2003, p. 104). A expressividade pode ser transmitida em três níveis: fônico, gramatical e semântico da linguagem: FIGURAS DE LINGUAGEM NÍVEL SEMÂNTICO CONOTAÇÃO Metáfora Metonímia Antítese Prosopopeia Hipérbole Sinestesia Ironia Eufemismo NÍVEL FÔNICO Ritmo Rima Aliteração Onomatopeia NÍVEL GRAMATICAL Gradação Paralelismo sintático Repetição Paronomásia ou trocadilho Enumeração caótica Quiasmo Fonte: Gonzales, 2003, p. 104. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Neste tema, vamos ver os temperos nível semântico. Prepare-se: será uma aventura de aromas e sabores! Vamos entender as figuras de linguagem através de grandes slogans da publicidade brasileira. Metáfora Figura de linguagem que utiliza uma palavra, expressão ou imagem em um sentido que não é o seu comum. Constitui uma relação de semelhança entre dois termos. Veja um exemplo: Não é assim uma Brastemp (slogan Brastemp). O slogan utiliza o nome da marca como base para análise de eletrodomésticos, associando a marca à excelência. Metonímia Consiste na substituição de uma palavra por outra, estabelecendo entre ambas uma relação de proximidade de sentidos que permite essa troca. Serve para dar ênfase ao texto. Frascos de natureza (antigo slogan de O Boticário). Aqui se privilegia o continente pelo conteúdo, fazendo menção de que os produtos de O Boticário são naturais. Antítese Caracterizada pela utilização de palavras em sentidos opostos. Guerra é paz na estrada (slogan Guerra Implementos Rodoviários). O slogan sugere duas situações contrárias e coloca o produto como polo positivo da antítese. Paradoxo Dá-se através do agrupamento de significados contrários em uma unidade de sentido. A diferença da antítese é que aqui os termos não estão em uma relação de oposição, mas de união para significado transcendente aos limites da expressão oral. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 É fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho? (slogan Biscoitos Tostines). Aqui as frases possuem as mesmas palavras, mas a relação de união faz o sentido do slogan, um enigma que o consumidor deve desvendar. Prosopopeia Consiste em atribuir a seres inanimados características de seres vivos. O brinquedo que brinca com vocês (slogan brinquedos Robobrink). Esse exemplo de slogan usa palavras que simulam que o brinquedo tem vida. Hipérbole Exagero em uma ideia ou característica com finalidade expressiva. Refresca até pensamento (slogan Cerveja Brahma). A cerveja Brahma, quando gelada, pode refrescar uma pessoa, mas não é possível refrescar pensamentos. Sinestesia Consiste em reunir duas sensações diferentes através de um único estímulo. Mate a sede de sua pele (slogan Sundown Gel). Quando utiliza a expressão “matar a sede”, refere-se ao paladar. Quando colocado em conjunto com “sua pele”, refere-se ao tato. Ironia Dá-se quando se utilizam palavras que expressam o sentido oposto ao seu significado literal. Liderança absoluta em segundo lugar (slogan SBT TV). Nesse slogan do SBT, a ironia é utilizada para se referir à emissora campeã de audiência, ironizando a colocação do SBT, bem como também ironiza as demais emissoras que estão abaixo da segunda colocação. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Eufemismo O eufemismo tem como objetivo “suavizar” uma palavra. Desta forma, substitui um termo, ou uma expressão rude, por outro mais suave e agradável, para que a pessoa não se ofenda. Roupa para não dormir (slogan Valisère). Nesse exemplo, o slogan se refere à sensualidade das lingeries de maneira mais branda. Ao invés de explicitar, suaviza o ato sexual. Diferentes temperos causam diferentes sensações e emoções. Compreendendo um pouco mais dessas figuras de linguagem, é possível não só perceber o benefício de sua aplicação, bem como perceber um pouco mais da criatividade aplicada aos slogans brasileiros. Muito interessante, não é? Para continuar aprofundando seus conhecimentos, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Temperos e condimentos: as figuras de linguagem aplicadas aos textos publicitários – Parte II Você já conheceu muitos novos sabores, não é mesmo? Mas ainda existem muitos aromas e gostos diferentes para impressionar seu olfato e paladar. Agora vamos tratar das figuras de linguagem de nível fônico e gramatical. Nível fônico Ritmo É concebido através da alternância regular de sílabas tônicas e átonas (fortes e fracas, respectivamente). Pense forte. Pense Ford (slogan Ford). As sílabas átonas “pen-se” se contrapõem às sílabas tônicas “for”. Rima Consiste na repetição de sons similares em uma ou mais sílabas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Tomou Doril, a dor sumiu (slogan Doril). Aliteração Repetição da mesma sonoridade em uma série de sílabas ou termos. O slogan indicado na figura de linguagem ritmo é assim: além de ter ritmo, contém aliteração. Contudo, vamos a outro exemplo: Refresco de fruta é frisco (slogan Frisco). Neste slogan temos a repetição do som “fr-” em três das quatro palavras da frase. Onomatopeia Representa a reprodução de sons ou ruídos naturais. Ah! (slogan Kolynos). O slogan do Kolynos se refere à expressão de refrescância do creme dental. Nível gramatical Gradação Disposição de uma série de elementos em progressão crescente, do menos para o mais enfático. O melhor plano de saúde é viver. O segundo melhor é Unimed (slogan Unimed). A Unimed apresenta a gradação apontando que o primeiro fator que contribui para a manutenção da saúde é viver bem, o segundo é ter um plano de saúde Unimed. Paronomásia Consiste na aproximação de termos parecidos pela sonoridade, mas não pelo sentido. Se é Bayer, é bom (slogan Bayer). O nome da marca tem sua sonoridade parecida com o adjetivo que lhe qualifica. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Enumeração caótica Inserção de palavras aparentemente díspares, sem nenhum conceito classificatório e uma enumeração. Mon bijou não é o único. Mas é bom. É da Bombril (slogan Mon Bijou). Existem três informações encadeadas neste slogan que não têm, necessariamente, uma relação direta. Quiasmo Estrutura em que as partes de uma frase têm duas ou três das suas palavras repetidas em ordem inversa, e de tal modo que o final do primeiro segmento é a inicial do segundo. Vou repetir um exemplo: É fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?(slogan Biscoitos Tostines). Neste exemplo, as frases são apresentadas de maneiras diferenciadas; a troca da ordem das palavras evidencia o produto anunciado. Para tirar as dúvidas, assista às explicações da professora Ana no vídeo que está disponível no material on-line. O rodízio do repertório e da intertextualidade Chegou a hora de você se deliciar com muitos sabores e texturas diferentes. O rodízio de carnes e massas do repertório e da intertextualidade já vai começar. Prepare o seu paladar! Você já ouviu falar sobre repertório na disciplina de Criatividade, certo? Percebeu que o alimento da criatividade é a informação. Conhecimento faz parte do repertório, mas não se refere somente ao conhecimento específico da Publicidade e Propaganda. Enquanto redator, você vai escrever para diferentes públicos, produtos e serviços, marcas, ocasiões, mídias e contextos (lembra-se do esquema de comunicação?). Por isso, é sempre muito importante estar atento a tudo a nossa volta, desde uma “peripécia desimportante” (na época do Orkut, existia uma CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 comunidade com esse título na qual as pessoas comentavam fatos sem importância, mas que, por vezes, eram sentimentos ou situações vividas por várias pessoas), até uma inovação revolucionária em qualquer área. O publicitário deve ser um curioso nato. Esteja atento sempre a tudo que está à sua volta. Predebon (2013, p. 62) diz que nós temos que sintonizar nossa “antena” dos sentidos aos mais variados tipos de informação, ou, no caso do contexto gastronômico desta aula, estimular o nosso paladar. Mas, para isso, são necessários alguns cuidados; três fatores podem interferir na sintonia dos seus sentidos (PREDEBON, 2013, p. 62): 1. Se o “banco de dados” da sua mente não é mais carente, você não busca conhecer coisas novas, desde uma nova banda até experimentar um novo prato, por exemplo; 2. Se você permite que certos tipos de interferências sociais bloqueiem o alcance da sua antena e não busca transgredir algumas “normas” que lhe são impostas (ei, atenção! Não estou falando que as normas sociais devem ser quebradas, mas entendidas em seu contexto e utilizadas quando plausíveis. Por exemplo, existem algumas normas, algumas questões de gênero, que eu prefiro deixar de lado, como acreditar que “rosa é cor de menina e azul de menino”); 3. Se você é preguiçoso, a recepção dos sinais pela sua antena necessita de estímulos. Não se acomode! Caso você deixe esses fatores interferirem na sua antena, no seu paladar, o seu repertório será limitado. Às vezes, a nossa “antena de adulto” fica pouco operante, como se estivesse oxidadada. Recebendo menos informações novas e/ou de valor, nosso banco de dados passa a ter menos elementos para processar e fazer novas relações – perdendo uma base para o exercício de nosso potencial criativo. Ao contrário, se conseguirmos manter um contínuo fluxo de recepção, teremos disponível um grande número de informações que comporão variáveis a serem usadas nos processos de criação de novas realidades, novos “arranjos” (PREDEBON, 2013, p. 63). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 O trabalho de estimulação do nosso paladar, ou desoxidação da nossa antena, depende de comportamentos e atitudes que se baseiam na exploração, na curiosidade. O repertório dentro da publicidade diz respeito ao conhecimento dos mais variados sabores, de incontáveis receitas, para isso você deve estar sempre atento às novas tendências. O repertório pode ter duas bases: a científica, de teorias, e a sociocultural, com base em experiências. Assim, se você se limita a experimentar somente os pratos que contêm ingredientes que você já conhece, não terá repertório suficiente para fugir do tradicional, do comum. Sem repertório, você vai criar receitas textuais sem um apelo diferenciado, sem um aroma sedutor ou uma composição inspiradora e diferenciada. Todos os pratos, os temperos, as formas de assar, cozinhar, flambar, têm algo novo a nos apresentar. É preciso estar disposto a aprender: “O criador precisa ser alguém antenado no mundo, plugado nas diversas realidades, que transite sem preconceitos (mas com bom gosto) nas principais formas de expressão” (SANT’ANNA, 2009, p. 144). Mas, como eu disse anteriormente, você vai escrever para diferentes públicos, produtos e serviços, marcas, ocasiões, mídias e contextos. Logo também é necessário: ■ Estar atento ao repertório do público-alvo também. Se for usar humor, por exemplo, analise se o conteúdo será realmente cômico para aquelas pessoas; ■ Conhecer o produto, serviço ou marca muito bem, entender suas dinâmicas, características e forma de utilização; ■ Compreender as ocasiões de uso do produto/serviço, como, quando, onde acontecem; ■ Entender as características das mídias (meios e veículos) em que você vai anunciar. Escrever para rádio, por exemplo, é diferente de criar um anúncio para jornal. Além disso, pesquise sobre o que está sendo criado para essas mídias, as tendências publicitárias CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 (consulte sites de clubes de criação, anuários de publicidade ou portais voltados à área). Entenda o contexto histórico da propaganda: grandes nomes, campanhas, agências e personagens; ■ O contexto envolve o público-alvo e a ocasião de consumo do produto ou serviço. Entenda também sobre as configurações da sociedade no momento da campanha, o que está em alta (tipos de imagens, diagramação, fontes, modo de escrever etc.). Tudo isso vai ajudar você a compor um rico background cultural. Este é o ponto chave para criar. A partir disto, só assim você vai conseguir criar “receitas” que envolvem diferentes discursos, o que chamamos de intertextualidade. É necessário que você entenda o discurso do target visando criar textos que sejam facilmente reconhecidos e assimilados por ele. Todos os materiais culturais ligados ao público, eruditos ou populares, são utilizados como pontos de partida para a criação de forma direta ou indireta. Isso foi estudado por Bakhtin (1997), que estabeleceu o conceito de dialogismo, que se refere ao fato de que um texto sempre dialoga com outros, sendo esse o princípio constitutivo da linguagem. Desta forma, todo texto traz consigo elementos de outros textos. São construídos de maneira “costurada” por meio da citação, alusão ou estilização. Vamos a um exemplo de cada uma das formas de intertextualidade. Paródia O melhor amigo do carro é o dono do carro (slogan COFAP). O slogan da Cofap faz alusão à frase “o melhor amigo do homem é o cão” substituindo o ser humano pelo carro e tratando do conceito de amizade. O comercial da marca usava dois cachorros, um da raça cofap, correndo por uma casa. Enquanto o pequeno cofap lidera a corrida com o outro cão, pode-se ouvir um locutor falando o seguinte texto: “Turbogás COFAP, conforto nas retas, segurança nas curvas. Os outros são um desastre. Turbogás COFAP, o melhor amigo do carro é o dono do carro”. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Paráfrase A primeira impressão é a que fica (slogan Axe). O slogan usa um bordão e reafirma a ideia de que a primeira impressão é a que fica. Neste caso, é melhor estar cheiroso, não acha? Bom, deu para perceber a importância do repertório, certo? Só a partir de uma vasta bagagem que o redator terá a capacidade de trabalhar com a intertextualidade para enriquecer seus textos. Assim como um cozinheiro deve entender de vários temperos, um publicitário deve entender os mais variados contextos para fazer peças saborosas. Quem sabe assim você consiga criar slogans dignos de virarem bordões da nação brasileira, como é o caso do slogan da marca 51: uma boa ideia. Para finalizar os estudos deste tema, acesse o material on-line eassista ao vídeo que está disponível para você! Trocando ideias Chegou o momento de você compartilhar seus conhecimentos com seus colegas de turma no fórum desta disciplina! Que tal procurar mais exemplos de slogans para as figuras de linguagem aprendidas? Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem! Na prática Escolha um anúncio de revista e analise o que chama a atenção, o que desperta o interesse, o que provoca o desejo e como ele convida o público a uma ação. Para os comentários da professora Ana sobre a atividade prática desta aula, assista ao vídeo que está disponível no material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Síntese Nesta aula, você apurou o seu paladar conhecendo diversos temperos que podem ser aplicados nos textos publicitários. Os diferentes modelos e recursos expressivos estudados proporcionam caminhos diferenciados para alcançar o doce sabor da persuasão. Vimos que a rede semântica pode enriquecer um texto. Entendemos como funciona o processo de persuasão na mente dos consumidores ao tratar do modelo AIDA. Ainda conhecemos alguns recursos expressivos e entendemos a importância de construir um repertório rico para combinar diferentes ingredientes em nossos textos. Agora, vamos partir para nosso penúltimo roteiro. Traga sua câmera fotográfica, vamos conhecer muitos lugares dignos de um registro, patrimônios da cultura. Acesse o material on-line e assista ao vídeo com as considerações finais da professora Ana. Referências MARTINS, J.S. Redação publicitária. 2. ed. 7. reimpressão. São Paulo: Atlas, 2008. BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoievski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. CARRASCOZA, J. A. A evolução do texto publicitário: associação de palavras como elemento de sedução na publicidade. São Paulo: Futura, 2007. _________. O apolíneo e o dionisíaco no texto publicitário. Cadernos da Escola de Comunicação UNIBRASIL. Número 2, jan-dez 2004. Disponível em: http://revistas.facbrasil.edu.br/cadernoscomunicacao/index.php/comunicacao/ar ticle/download/14/14 MARTINS, J. S. Redação Publicitária: Teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2008. http://revistas.facbrasil.edu.br/cadernoscomunicacao/index.php/comunicacao/article/download/14/14 http://revistas.facbrasil.edu.br/cadernoscomunicacao/index.php/comunicacao/article/download/14/14 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 SANT'ANNA, A. et al. Propaganda: teoria, técnica e prática. 8. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009. SANTOS, G. Princípios da Publicidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
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