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06 1 - Bem de Família

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BEM DE FAMÍLIA
1. Aspectos introdutórios
Bem de família é o imóvel utilizado como residência da entidade familiar que goza de proteção legal.
No Brasil, há interpretação extensiva, para tutelar o imóvel da pessoa solteira, separada ou viúva.
Súmula 364 do STJ:
O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
Visão dualista:
a) Bem de família convencional: arts. 1711 a 1722 do CC
b) Bem de família legal: Lei 8009/1990
2. Bem de família convencional ou voluntário
	Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.
Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.
Art. 1.714. O bem de família, quer instituído pelos cônjuges ou por terceiro, constitui-se pelo registro de seu título no Registro de Imóveis.
Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.
Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz.
Independentemente, são mantidas as regras sobre o bem de família legal.
a) Quem pode instituir?
· Cônjuges ou entidade familiar (lembrar da interpretação extensiva)
· Terceiro? Sim, por testamento ou doação. Nesse caso, é necessária a aceitação pela entidade familiar ou ambos os cônjuges.
b) Qual instrumento?Somente se constitui a partir do REGISTRO
· Escritura pública
· Testamento
c) Limite:
· 1/3 do patrimônio líquido.
d) Características:
· Inalienabilidade: não pode ser vendido, salvo consentimento dos interessados, ouvido o Ministério Público. Portanto, depende de autorização JUDICIAL.
· Impenhorável: não pode ser alvo de execução, salvo no caso de tributos do imóvel ou condomínio.
· Nesse caso, o saldo será empenhado em outro imóvel (bem de família), títulos da dívida pública (para sustento da entidade) ou outra solução, por razão relevante, a critério do JUIZ.
e) O que engloba?
	Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.
Art. 1.713. Os valores mobiliários, destinados aos fins previstos no artigo antecedente, não poderão exceder o valor do prédio instituído em bem de família, à época de sua instituição.
§ 1º Deverão os valores mobiliários ser devidamente individualizados no instrumento de instituição do bem de família.
§ 2º Se se tratar de títulos nominativos, a sua instituição como bem de família deverá constar dos respectivos livros de registro.
§ 3º O instituidor poderá determinar que a administração dos valores mobiliários seja confiada a instituição financeira, bem como disciplinar a forma de pagamento da respectiva renda aos beneficiários, caso em que a responsabilidade dos administradores obedecerá às regras do contrato de depósito.
Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.
Art. 1.718. Qualquer forma de liquidação da entidade administradora, a que se refere o § 3 o do art. 1.713, não atingirá os valores a ela confiados, ordenando o juiz a sua transferência para outra instituição semelhante, obedecendo-se, no caso de falência, ao disposto sobre pedido de restituição.
· Bem imóvel, rural ou urbano, destinados ao domicílio familiar
· Acessórios e pertenças dos imóveis
· Pode abranger valores mobiliários, cuja renda seja aplicada na conservação do imóvel OU no sustento da família.
· Nesse caso, não podem ultrapassar o valor do bem de família À ÉPOCA DA INSTITUIÇÃO
· Os valores mobiliários devem ser individualizados no instrumento de instituição do bem de família.
· Se for título nominativo, tem que constar dos livros de registro.
· O instituidor poderá:
· Determinar a administração dos valores por instituição financeira. Se a administradora for liquidada, os valores confiados não serão atingidos e o JUIZ determinará a transferência a instituição semelhante. No caso de falência: deve observar o disposto no pedido de restituição.
· Disciplinar a forma de pagamento da renda aos beneficiários.
· COMO REGULA A ADMINISTRAÇÃO? Contrato de depósito.
· Os imóveis e os valores mobiliários NÃO PODEM ter finalidade diversa da moradia, manutenção ou sustento
f) Duração da impenhorabilidade
	Art. 1.716. A isenção de que trata o artigo antecedente durará enquanto viver um dos cônjuges, ou, na falta destes, até que os filhos completem a maioridade.
A isenção dura enquanto viver um dos entes que instituíram ou, quando for o caso, a maioridade dos filhos.
g) Administração do bem de família:
	Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência.
Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.
Cabe a ambos os cônjuges e eventual divergência é decidida pelo juiz.
Em caso de falecimento, a administração caberá ao filho mais velho, se maior, ou ao seu tutor.
h) Extinção do bem de família
· A dissolução da sociedade conjugal, por qualquer motivo, não extingue o bem de família. 
· O bem de família se extingue:
CUIDADO! A extinção do bem de família convencional NUNCA extingue o bem de família legal.
· Morte de ambos os cônjuges + Maioridade dos filhos
· Na impossibilidade de manter o bem de família nas condições em que instituído
· É possível que o juiz autorize a sub-rogação dos bens, ouvidos o instituidor e o Ministério Público.
· Se a causa da dissolução for morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir extinção do bem de família, desde que seja o único bem do casal.
3. Bem de família legal (Lei 8.009/1990)
É norma de ordem pública que protege a família e a pessoa humana, razão pela qual:
a) Pode ser conhecida de ofício (Súmula 205 do STJ).
b) Tem eficácia retroativa, atingindo penhoras anteriores à entrada em vigor da lei (retroatividade justificada ou motivada) (Súmula 205 do STJ).
Antes da arrematação do bem, a impenhorabilidade pode ser alegada por simples petição, não sendo o caso de preclusão.
O bem de família é irrenunciável. Se colocado para penhora, não se torna objeto de constrição (STJ).
Regra: impenhorabilidade recai sobre imóvel próprio da entidade familiar (interpretação extensiva) e não responde por qualquer dívida. Abrange também construção, plantações, benfeitorias, equipamentos e móveis que guarneçam a casa, ainda que o bem imóvel seja LOCADO, desde que quitados os bens. 
Exceções à impenhorabilidade (STJ considera exemplificativo):
a) Veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos
b) Vagas de garagem com matrícula própria (Súmula 449 do STJ)
c) Movida pelo titular de crédito decorrente de financiamento destinado à construção ou aquisição do imóvel. Para o STJ, engloba: (i) dívidas para construção de condomínio; (ii) dívidas para construção parcial.
d) Movida pelo credor de pensão alimentícia (convencional, legal ou indenizatória), resguardados os bens de coproprietário que possua união estável ou conjugal, mas que não sejatitular da dívida. A indenizatória não é pacífica, mas existem julgados do STJ. 
> Não são incluídos honorários advocatícios como verba alimentar, para esses fins.
e) Tributos e cotas condominiais e despesas comuns do condomínio ligados ao imóvel. As cotas se enquadram em “contribuições” (STF, para quem a interpretação é declarativa e não extensiva, com a qual não se poderia sacrificar bem jurídico fundamental como a moradia. Tanto é que dívidas de associações de moradores não são englobadas, segundo o STJ). Se estende à responsabilidade civil do condomínio, quando este não houver bens suficientes para quitação.
f) Hipoteca sobre imóvel oferecido pela entidade familiar como garantia. CUIDADO! A hipoteca deve ser em favor de toda entidade familiar. Se for dada por apenas um dos cônjuges e não reverter, não se aplica. Ônus da prova do benefício é do credor. Não é necessário registro da hipoteca, que é mero requisito para eficácia erga omnes e não premissa de existência/validade.
STJ: se a hipoteca é dada em benefício de pessoa jurídica que tenha ambos os cônjuges como únicos sócios, então se presume o benefício. Ônus da prova do NÃO benefício pela entidade é do devedor.
g) Fruto de crime OU quando necessário para execução penal de ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
Existe divergência no STJ:
> 1ª corrente: mesmo no fruto de crime, é necessário trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
> 2ª corrente: no fruto de crime, é dispensado o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Como comprova o crime?
h) Obrigação decorrente de fiança em contrato de locação de imóvel urbano (STF e STJ consideram a norma válida e constitucional, mas não se aplicaria para imóvel comercial ou fora da lei de locações). 
STF (Info 1046) e STJ (Info 740):
“É válida a penhora do bem de família de fiador apontado em contrato de locação de imóvel, seja residencial, seja comercial, nos termos do inciso VII, do art. 3º da Lei nº 8.009/90.”
Lei de Locações:
“Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação (sem distinção).”
Súmula 549 do STJ:
“É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação.” 
A penhorabilidade de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação também se aplica no caso de locação de imóvel comercial.
A penhorabilidade de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação também se aplica no caso de locação de imóvel comercial
i) Má-fé, com alienação de todos os bens e manutenção de apenas um, que se tornaria bem de família (STJ) (não pode se valer da própria torpeza).
j) O bem de família seja objeto de alienação fiduciária em garantia, hipótese em que não se admite a alegação da impenhorabilidade, novamente com base no argumento da má-fé. [ESTUDAR MELHOR]
Regra: a impenhorabilidade é reconhecida quando o imóvel é utilizado para residência ou moradia, não bastando ser mero domicílio. A prova se faz por qualquer meio eficaz.
Exceção: locação de bem a terceiro, cuja renda seja utilizada para subsistência ou moradia da entidade familiar (Súmula 486 do STJ)
Exceção 2: o STJ reconheceu a impenhorabilidade de único imóvel do devedor em usufruto, para destino de moradia da mãe, pessoa idosa (aqui, se protegeu a moradia, a dignidade, mas também a tutela do idoso, conforme Estatuto).
	Estatuto do Idoso
Art. 37. A pessoa idosa tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhada de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou privada.
Exceção 3: único imóvel do devedor em que resida seu familiar, ainda que o devedor não resida. (STJ)
	CRFB
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
[...]
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
Exceção 4 (bem de família vazio): terreno desocupado ou não edificado não descaracteriza o bem de família POR SI SÓ, devendo ocorrer análise caso a caso. CUIDADO! O caso envolvia um imóvel que foi desocupado por alagamento e a desocupação foi imposta.
Exceção 5: imóvel financiado que vem sendo pago pelo devedor (alienação fiduciária).

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