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Bens (Parte Geral - Co_digo Civil)


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DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
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BENS 
 
 
CC/16 - Bens x coisas 
 
CC/02 - Bens 
 
Caio Mário 
Bem, tudo que nos agrada (gênero) 
Coisa, bem corpóreo (espécie) 
 
Sílvio Rodrigues (Adotada pelo CC/02) 
Coisa, tudo aquilo que não é humano (coisa) 
Bem, coisa com interesse econômico ou jurídico (espécie) 
 
Parte especial - Direito das Coisas (deveria adotar direitos bens) 
 
Bem são coisa com interesse jurídico 
 
Bens corpóreos (bens materiais) e incorpóreos (direitos em geral) 
 
compra e venda (bens) x cessão (direitos) 
 
Teoria do Patrimônio Mínimo 
Bem de família 
art. 928, parágrafo único 
 
Classificação quanto à mobilidade 
(art. 79 a 84 CC/02) 
• móveis 
• imóveis 
 
Imóveis 
• naturais (incorporados por força natural) 
• por acessão (física) artificial ou industrial (incorporados por força humana concreta 
e efetiva) - construções e plantações 
• por acessão intelectual (incorporados pela vontade intelectual do proprietário) - 
I Jornada de Direito Civil - Enunciado n. 11 - ar-condicionado (art. 93 e 94, CC/02 
- pertenças - utilidade ou embelezamento) - deve ser verificada a essencialidade 
da pertença 
• por determinação legal (a lei diz que é imóvel) - art. 80, CC/02 (hipoteca e 
direito à sucessão aberta) 
 
Móveis 
• por natureza (decorre da sua essência) - bem semovente ou movimento mecânico 
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• por antecipação (bens imóveis que foram mobilizados por ação humana - colheita 
de plantação) 
• por determinação legal (art. 83 CC/02) - energias com valor econômico, direitos 
reais sobre bens móveis (penhor) e direitos pessoais de caráter patrimonial 
(direitos autorais, Lei n. 9.610/98) 
 
Navios e aeronaves têm registro especial e são objetos de hipoteca (bens móveis 
especiais) 
 
Classificação quanto à fungibilidade 
(85 CC/02) 
• fungíveis (bens móveis) 
• infungíveis (todos os bens imóveis, móveis insubstituíveis) 
 
Classificação quanto à consultibilidade 
(86 CC/02) 
• Consumíveis 
• Inconsumíveis 
 
Consultibilidade fática (utilizável após o consumo ou destruição imediata) 
Condutibilidade jurídica (alienável ou alienável) 
 
Classificação quanto à relação entre bens 
Bens reciprocamente considerados 
(92 a 97 CC/02) 
 
• Principais (bem que existe sobre si) 
• Acessórios (pressupõe a existência do bem principal) 
Frutos (bens acessórios que saem do bem principal sem diminuir a sua quantidade) 
Produtos (bens acessórios que saem do bem principal, diminuindo sua quantidade) 
Pertenças (bens incorporados pelo proprietário para melhora a utilidade) 
Partes integrantes (não existe autonomia do bem (lente da câmera; lâmpada do lustre) 
Benfeitorias (incorporadas por que não é proprietário) 
 
 
Bem de família 
Alvaro Villaça Azevedo (mentor da Lei n. 8.009/90 e mentor dos temas relacionados à 
união estável) 
 
• Voluntário (Art. 1.711 a 1.722) - impenhorável e inalienável (1/3 do patrimônio 
do instituidor) - somente pode ser vendido por autorização judicial, ouvido o 
MP. Ver art. 1.715, CC/02 (dívidas anteriores a sua instituição, dívidas 
posteriores de condomínio e dívidas posteriores de tributos). 
 
• Legal 
• Lei n. 8009/90 
DIREITO CIVIL I 
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Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é 
impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, 
fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos 
pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses 
previstas nesta lei. 
 
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se 
assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e 
todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que 
guarnecem a casa, desde que quitados. 
 
Súmula 364 - Bem de família (pessoa solteira, divorciada ou viva). 
AgRg 385.692-RJ (Bem de Família Indireto) 
 
Lei n. 8.009/90 - norma de ordem pública (não se admite renúncia) 
Súmula 205 STJ - “A Lei n. 8.009/1990 aplica-se a penhora realizada antes de sua 
vigência”. 
 
Bens móveis, essenciais a família, também são impenhoráraveis: 
 
Art. 1º 
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se 
assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e 
todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que 
guarnecem a casa, desde que quitados. 
Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de 
arte e adornos suntuosos. 
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução 
civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se 
movido: 
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das 
respectivas contribuições previdenciárias; (Revogado pela Lei 
Complementar nº 150, de 2015) 
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção 
ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em 
função do respectivo contrato; 
III -- pelo credor de pensão alimentícia; 
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, 
do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, 
observadas as hipóteses em que ambos responderão pela 
dívida; (Redação dada pela Lei nº 13.144 de 2015) 
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições 
devidas em função do imóvel familiar (obrigações propter rem) - a 
jurisprudência inclui as dívida de condomínio - Informativo 455 STF; 
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real 
pelo casal ou pela entidade familiar; 
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença 
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens. 
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de 
locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991) 
 
Art. 948 (alimentos indenizatórios) 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp150.htm#art46
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp150.htm#art46
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13144.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8245.htm#art3vii
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Bem de Família: Despesas Condominiais e Penhorabilidade 
A Turma negou provimento a recurso extraordinário em que se sustentava ofensa aos 
artigos 5º, XXVI, e 6º, ambos da CF, sob a alegação de que a penhorabilidade do bem 
de família prevista no art. 3º, IV, da Lei 8.009/90 não compreenderia as despesas 
condominiais ("Art. 3º: A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de 
execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:... 
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em 
função do imóvel familiar;"). Entendeu-se que, no caso, não haveria que se falar em 
impenhorabilidade do imóvel, uma vez que o pagamento de contribuição condominial 
(obrigação propter rem) é essencial à conservação da propriedade, isto é, à garantia da 
subsistência individual e familiar - dignidade da pessoa humana. Asseverou-se que a 
relação condominial tem natureza tipicamente de uma relação de comunhão de escopo, 
na qual os interesses dos contratantes são paralelos e existe identidade de objetivos, em 
contraposição à de intercâmbio, em que cada parte tem por fim seus próprios interesses, 
caracterizando-se pelo vínculo sinalagmático. RE 439003/SP, rel. Eros Grau, 6.2.2007. 
(RE-439003). 
 
Fiança - inconstitucionalidade ou contitucionalidade 
Bem de família de fiador pode ser penhorado, entende o plenário 
O único imóvel (bem de família) de uma pessoa que assume a condição de fiador em 
contrato de aluguel pode ser penhorado, em caso de inadimplência do locatário. Adecisão foi tomada por maioria pelo plenário do Supremo Tribunal Federal que rejeitou 
um Recurso Extraordinário (RE 407688), no qual a questão era discutida. 
No recurso, o fiador M.J.P. contestou decisão do Segundo Tribunal de Alçada Civil de São 
Paulo, que havia determinado a penhora de seu único imóvel para o pagamento de 
dívidas decorrentes de contrato de locação. O tribunal paulista entendeu que a Lei 
8.009/90 protege o bem de família, mas faz uma ressalva, no entanto, para os casos em 
que o imóvel é dado como garantia pelo fiador, em contrato de aluguel (artigo 3º, inciso 
VII). 
A questão chegou ao Supremo porque o fiador, inconformado com a decisão do tribunal 
paulista, recorreu alegando que o dispositivo da Lei 8.009/90 ofende o artigo 6º da 
Constituição Federal, alterado pela Emenda Constitucional 26/2000, que incluiu a 
moradia no rol dos direitos sociais amparados pelo texto constitucional. 
 
O julgamento 
Durante o julgamento pelo plenário do STF, os ministros debateram duas questões: se 
deve prevalecer a liberdade individual e constitucional de alguém ser ou não fiador, e 
arcar com essa respectiva responsabilidade, ou se o direito social à moradia, previsto na 
Constituição, deve ter prevalência. 
Isso implicaria dizer se o artigo 3º, inciso VII da Lei 8.009/90 estaria ou não em confronto 
com o texto constitucional, ao permitir a penhora do bem de família do fiador, para o 
pagamento de dívidas decorrentes de aluguel. 
O relator da matéria, ministro Cezar Peluso, entendeu que a Lei 8.009/90 é clara ao 
tratar como exceção à impenhorabilidade o bem de família de fiador. Segundo o ministro 
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Peluso, o cidadão tem a liberdade de escolher se deve ou não avalizar um contrato de 
aluguel e, nessa situação, o de arcar com os riscos que a condição de fiador implica. 
O ministro Peluso não vê incompatibilidade entre o dispositivo da lei e a Emenda 
Constitucional 26/2000 que trata do direito social à moradia, ao alterar o artigo 6º da 
Constituição Federal. O voto do ministro Peluso foi acompanhado pelos ministros Joaquim 
Barbosa, Gilmar Mendes, Ellen Gracie, Marco Aurélio, Sepúlveda Pertence e Nelson 
Jobim. 
 
A divergência 
O ministro Eros Grau divergiu do relator, no sentido de afastar a possibilidade de 
penhora do bem de família do fiador. O ministro citou como precedentes dois Recursos 
Extraordinários (RE 352940 e 449657) relatados pelo ministro Carlos Velloso 
(aposentado) e decididos no sentido de impedir a penhora do único imóvel do fiador. 
Nesses dois recursos entendeu que o dispositivo da lei ao excluir o fiador da proteção 
contra a penhora de seu imóvel feriu o princípio constitucional da isonomia. 
Esse entendimento também foi citado pelos ministros Carlos Ayres Britto e Celso de Mello, 
que acompanharam a divergência aberta pelo ministro Eros Grau. Os três votos 
divergentes no julgamento foram no sentido de que a Constituição ampara a família e a 
sua moradia e que essa proteção consta do artigo 6º da Carta Magna, de forma que o 
direito à moradia seria um direito fundamental de 2ª geração, que tornaria indisponível 
o bem de família para a penhora. 
Mas prevaleceu o entendimento do relator. Por 7 votos a 3, o plenário acompanhou o 
voto do ministro Cezar Peluso e negou provimento ao Recurso Extraordinário, mantendo, 
desta forma, a decisão proferida pelo Tribunal de Alçada de São Paulo, que determinou 
a penhora do bem de família do fiador. 
 
 
Processo 
AgRg no REsp 1377768 / RJ 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2013/0099236-9 
Relator(a) 
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147) 
Órgão Julgador 
T3 - TERCEIRA TURMA 
Data do Julgamento 
16/06/2016 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 27/06/2016 
Ementa 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. LOCAÇÃO. FIANÇA. PRORROGAÇÃO. 
ENTREGA DAS CHAVES. EXECUÇÃO. IMÓVEL. BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR. PENHORA. 
POSSIBILIDADE. 
1. Diante da existência de cláusula expressa no contrato de aluguel 
prevendo que a responsabilidade dos fiadores perdurará até a efetiva entrega das 
chaves do imóvel objeto da locação, não há falar em desobrigação destes, ainda que o 
contrato tenha se prorrogado por prazo indeterminado. Precedentes. 
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2. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento firmado no sentido da legitimidade 
da penhora sobre bem de família pertencente ao fiador de contrato de locação. 
3. Agravo regimental não provido. 
 
 
Bem de Família ofertado 
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) consentiu a penhora de bem de família que foi 
oferecido pelo devedor como garantia em renegociação de dívida. Os ministros da 
Terceira Turma do STJ entenderam que o devedor agiu de má-fé na execução do contrato 
que livremente ajustou, de forma que o caso foi tratado como exceção frente à 
jurisprudência consolidada no Tribunal. 
O recurso julgado trata de uma ação de execução de título extrajudicial com base em 
cédula rural pignoratícia emitida pelo marido e avalizada pela esposa em favor do 
banco, ou seja, a ação foi difundida no foro de domicílio do réu com a firmação de um 
contrato no local de pagamento da dívida (títulos de crédito) e a peça conteve a 
indicação, por parte do credor, dos bens do devedor que serão penhorados, e a partir 
do seu recebimento o juiz ordenou a expedição de mandado de citação, a fim de que o 
devedor pague a dívida no prazo de 3 dias, contados do dia da citação. 
Caso o devedor não cumpra a obrigação no referido prazo, ocorre a penhora, visto que 
os embargos não mais suspendem a execução. Julgada improcedente a ação de 
embargos, ou não sendo opostos, haverá a arrematação de uma quantidade de bens do 
devedor que podem satisfazer o direito do credor. 
A cédula de crédito rural ou Cédula Rural Pignoratícia (CRP) é extraída com base no 
penhor rural e passa a valer como título de crédito autônomo e negociável. É título de 
ampla utilização na concessão do crédito rural, especialmente pelas instituições 
financeiras oficiais (bancos), e sua emissão, atualmente, sob essa modalidade, dá-se de 
próprio punho pelo devedor ou representante com poderes especiais, podendo o 
produtor rural delimitar a sua renda. A CRP é um tipo de promessa de pagamento em 
dinheiro, com ou sem garantia real cedularmente constituída, cujas modalidades estão 
previstas no artigo 9º do Decreto-Lei 167/67 e são as seguintes: cédula rural pignoratícia, 
cédula rural hipotecária, cédula rural pignoratícia e hipotecária e nota de crédito rural. 
O advogado e professor Christiano Cassettari, diretor do IBDFAM/SP, esclarece que o 
caso trata de uma decisão que condena uma pessoa por ter oferecido seu único bem 
destinado à moradia em garantia de uma determinada obrigação. “A interpretação 
dada é que tal conduta geraria uma espécie de renúncia ao bem de família. Ocorre, 
porém, que a jurisprudência de alguns tribunais estaduais, como o de São Paulo, por 
exemplo, já havia firmado entendimento de que o bem de família é irrenunciável, motivo 
pelo qual a conduta reprovável seria a do credor de ter aceitado esse tipo de bem em 
garantia”, disse. 
Cassettari explica que, no caso de ação de execução de título extrajudicial, com base em 
cédula rural pignoratícia, trata-se de uma ação judicial que acarreta uma forma 
coercitiva de cobrar o crédito de uma obrigação, com base numa relação negocial. Por 
exemplo: um contrato, permitindo que se avance no patrimônio do devedor por meio da 
penhora de bens, em caso de não pagamento. 
O acordo – Antes de tudo, houve um processo de execução, no curso do qual os devedores 
propuseram o pagamento da dívida em valor inferior ao cobrado, e concordaram em 
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colocar como garantia o imóvel em que residiam. Descumprido o acordo, o credor 
requereu a avaliação do bem para penhora, ocasião em que os devedores invocaram a 
proteção do bem de família. 
Os devedoresrecorreram ao STJ com o argumento de que a penhora do bem ofenderia 
os artigos 1º e 3º, inciso V, da Lei 8.009/90. O artigo 1º impede a penhora por dívida 
civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza contraída pelos cônjuges ou 
pelos pais ou filhos que sejam proprietários do imóvel e nele residam, salvo as hipóteses 
previstas na lei. 
O inciso V do parágrafo 3º, por sua vez, aponta que a impenhorabilidade é oponível em 
processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, 
exceto, entre outros, se movido para a execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido 
como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar. 
 
Boa fé - A Terceira Turma do STJ concluiu que os devedores renunciaram à 
impenhorabilidade do bem no momento em que assinaram a petição do acordo. Segundo 
o relator e ministro João Otávio de Noronha, a jurisprudência do STJ considera que os 
imóveis que servem de residência constituem bem de família e são, por isso, 
impenhoráveis, mesmo quando feita a penhora por indicação dos próprios devedores. 
O ministro observou que a dívida foi constituída presumivelmente em benefício da família. 
Depois, foi concluído acordo, homologado pelo juízo da execução, no qual as partes 
entraram em consenso quanto ao valor da dívida. 
A Turma concluiu que o credor somente se interessou pelo acordo em razão da 
possibilidade de agregar nova garantia à dívida. Não se pode permitir, segundo 
Noronha, em razão da boa-fé, a desconstituição da penhora, sob pena de desrespeito 
ao Poder Judiciário. 
Cassettari também esclarece que a execução de título extrajudicial sobre um bem de 
família ocorre somente em casos excepcionais previstos em lei, tais como: em razão dos 
créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições 
previdenciárias; pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à 
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em 
função do respectivo contrato; pelo credor de pensão alimentícia; para cobrança de 
impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel 
familiar; para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo 
casal ou pela entidade familiar; por ter sido adquirido com produto de crime ou para 
execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento 
de bens; por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação; ou 
mesmo por dívida de condomínio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO CIVIL I 
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REsp 1632842 
Relator(a) 
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO 
Data da Publicação 
31/03/2017 
Decisão 
RECURSO ESPECIAL Nº 1.632.842 - RS (2013/0145178-2) 
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO 
RECORRENTE : PAMPA TELECOMUNICACOES E ELETRICIDADE SA 
ADVOGADO : RUY FERNANDO ZOCH RODRIGUES E OUTRO(S) - RS017317 
ADVOGADA : CAROLINA SOARES DE LUCA - RS057030 
RECORRIDO : BRASIL TELECOM S/A E OUTRO 
ADVOGADOS : SÉRGIO MACHADO TERRA - RJ080468 
MICHEL AVELINE DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - RS037797 
PAULO CÉZAR PINHEIRO CARNEIRO - RJ020200 
DANIEL EDUARDO S. RIBEIRO E OUTRO(S) - RJ136623 
HUMBERTO SANTAROSA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - RJ182232 
AGRAVANTE : BRASIL TELECOM S/A E OUTRO 
ADVOGADO : MICHEL AVELINE DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - RS037797 
AGRAVADO : PAMPA TELECOMUNICACOES E ELETRICIDADE SA 
ADVOGADO : RUY FERNANDO ZOCH RODRIGUES E OUTRO(S) - RS017317 
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL (CPC/73). AÇÃO ORDINÁRIA. 
TELEFONIA. CONTRATOS DE MANUTENÇÃO, REPAROS E OPERAÇÕES. ALEGAÇÃO DE 
VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC/73. INEXISTÊNCIA. RESPONSABILIDADE 
CONTRATUAL. PRAZO PRESCRICIONAL. DECENAL. QUITAÇÃO DOS DÉBITOS. 
PRETENSÃO DE REVISÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DOS 
ENUNCIADOS N.º 5 E 7/STJ. NATUREZA ADESIVA DO CONTRATO. AUSÊNCIA DE 
PREQUESTIONAMENTO DOS DISPOSITIVOS LEGAIS. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO 
N.º 211/STJ. SERVIÇOS DE ADSL. NÃO PRESTADOS. PRETENSÃO DE REVISÃO 
DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N.º 7/STJ. 
DANOS CAUSADOS POR TERCEIROS. PERÍODO ABARCADO PELA QUITAÇÃO 
OUTORGADA NOS AUTOS. PEDIDO IMPROCEDENTE. BÔNUS. CUMPRIMENTO DAS 
METAS. NÃO COMPROVAÇÃO. FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO RECORRIDO NÃO 
ATACADO. 
INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N.º 283/STF. PARALISAÇÃO DOS SERVIÇOS DE 
MANUTENÇÃO. PREVISÃO CONTRATUAL. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N.º 5/STJ. 
ONEROSIDADE EXCESSIVA. ROUBO DE CABOS. TEORIA DA IMPREVISÃO. 
INAPLICABILIDADE. VALORES RETRIBUÍDOS. INCIDÊNCIA DOS ÓBICES 
SUMULARES 5 E 7/STJ. INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. PREQUESTIONAMENTO 
DE DISPOSITIVOS LEGAIS. AUSÊNCIA. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N.º 
211/STJ. 
1. Inexistência de ofensa ao art. 535, do CPC/73, quando o acórdão 
recorrido, ainda que de forma sucinta, aprecia com clareza as 
questões essenciais ao julgamento da lide. 
2. O artigo 206, § 3º, V, do Código Civil, regula o prazo 
prescricional relativo às ações de reparação de danos na 
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 9 
responsabilidade civil contratual e extracontratual. 
3. "O termo "reparação civil", constante do art. 206, § 3º, V, do 
CC/2002, deve ser interpretado de maneira ampla, alcançando tanto a 
responsabilidade contratual (arts. 389 a 405) como a extracontratual 
(arts. 927 a 954), ainda que decorrente de dano exclusivamente moral 
(art. 186, parte final), e o abuso de direito (art. 187). Assim, a 
prescrição das pretensões dessa natureza originadas sob a égide do 
novo paradigma do Código Civil de 2002 deve observar o prazo comum 
de três anos. Ficam ressalvadas as pretensões cujos prazos 
prescricionais estão estabelecidos em disposições legais especiais." 
(REsp 1281594/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA 
TURMA, julgado em 22/11/2016, DJe 28/11/2016). 
4. A discussão quanto à quitação dos débitos contratuais foi 
dirimida no acórdão recorrido mediante a interpretação de cláusulas 
contratuais e análise do material fático-probatórios dos autos, não 
podendo a questão ser revista em âmbito de Recurso Especial, ante os 
óbices dos Enunciados n.º 5 e 7/STJ. 
5. No que tange à natureza de adesão do contrato, a matéria não 
restou debatida pelo Tribunal de origem, ainda que opostos embargos 
de declaração. Incidência do Enunciado n.º 211 do Superior Tribunal 
de Justiça. 
6. Não há como analisar o dissídio jurisprudencial quanto ao ponto 
que não fora devidamente prequestionado na origem. Incidência do 
Enunciado n.º 211 do Superior Tribunal de Justiça. 
7. Em relação aos serviços de ADSL, é inadmissível, na estreita via 
do recurso especial, a alteração das conclusões das instâncias de 
cognição plena que demandem a interpretação do conteúdo de cláusula 
contratual e o reexame do acervo fático-probatório dos autos, a teor 
dos Enunciados n.º 5 e 7/STJ. 
8. A incidência do Enunciado n.º 7/STJ, impede o exame de dissídio 
jurisprudencial, porquanto falta identidade entre os paradigmas 
apresentados e os fundamentos do acórdão, tendo em vista a situação 
fática do caso concreto, com base na qual a Corte de origem deu 
solução a causa. 
9. Não merece ser acolhida a pretensão de ressarcimento dos 
prejuízos causados por terceiros, visto que os danos efetivamente 
comprovados nos autos dizem respeito a evento ocorrido em 15 de 
setembro de 2002, na cidade de Estância Velha/RS, período abarcado 
pela quitação outorgada. 
10. Em relação pagamento dos bônus, a não impugnação de fundamento 
do acórdão recorrido suficiente para a sua manutenção acarreta o não 
conhecimento do recurso especial. Incidência, por analogia, do 
Enunciado n.º 283 do STF. 
11. A reforma do julgado quanto à possibilidade de paralisação do 
serviço de manutenção demandaria a interpretação de cláusulas 
contratuais, procedimento vedado na estreita via do recurso 
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especial, a teor do Enunciado n.º 5/STJ. 
12. Em relação à onerosidade excessiva alegada,verifica-se que a 
teoria da imprevisão autoriza a revisão das obrigações contratuais 
apenas quando há onerosidade excessiva decorrente da superveniência 
de um evento imprevisível, alterador da base econômica objetiva do 
contrato. No entanto, no presente caso, a alteração afetou ambos os 
contratantes, razão pela qual inaplicável a teoria na hipótese. 
13. A revisão do julgado quanto à retribuição de valores demandaria 
a interpretação de cláusulas contratuais e o reexame do material 
fático-probatório dos autos, procedimento vedado na estreita via do 
recurso especial, a teor dos Enunciados n.º 5 e 7/STJ. 
14. No que tange à inépcia da petição inicial, aplica-se o óbice 
previsto na Súmula n. 211/STJ quando a questão suscitada no recurso 
especial, não obstante a oposição de embargos declaratórios, não foi 
apreciada pela Corte a quo. 
15. Modificar a conclusão a que chegou a Corte de origem, de modo a 
acolher a tese do recorrente, demandaria reexame do acervo 
fático-probatório dos autos, o que é inviável em recurso especial, 
sob pena de violação do Enunciado n.º 7 do STJ. 
16. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 
DECISÃO 
Vistos etc. 
Trata-se de recurso especial interposto por PAMPA TELECOMUNICAÇÕES E 
ELETRICIDADE S.A com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas "a" 
e "c", da Constituição da República contra acórdão proferido pelo 
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (fl. 1.759): 
AÇÃO ORDINÁRIA. TELEFONIA. CONTRATOS DE MANUTENÇÃO REPARO E 
OPERAÇÕES. PRESCRIÇÃO CORRETAMENTE APLICADA, NOS TERMOS DO ART. 206, 
§ 3º, V, DO CCB DE 2002. ENTENDIMENTO ACERCA DO RECONHECIMENTO DAS 
QUITAÇÕES DOS CONTRATOS QUE É DE SER MANTIDA, SOB PENA DE INFRINGIR 
O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE DAS PARTES E FERIR O ATO 
JURÍDICO PERFEITO (ART. 5º, XXXVI DA CF). PLEITO DE CONDENAÇÃO NO 
PAGAMENTO DOS VALORES REFERENTES ÀS MANUTENÇÕES PREVENTIVAS DE ROTAS 
DE CABOS DE FIBRAS ÓTICAS DESACOLHIDO. CORREÇÃO MONETÁRIA REFERENTE 
ÀS NOTAS PAGAS EM ATRASO QUE SE FAZ DEVIDA. VALORES DE SERVIÇOS DE 
MANUTENÇÃO PRESTADOS EM REDES ADSL. PREVISÃO DE PAGAMENTO GLOBAL, 
COM EXCLUSÃO, EM DETERMINADOS PERÍODOS, DE MANUTENÇÃO DE MODENS. 
DANOS CAUSADOS POR TERCEIROS: ÔNUS DA AUTORA EM BUSCAR O 
RESSARCIMENTO, O QUE NÃO FEZ. QUEBRA CONTRATUAL E TEORIA DA 
IMPREVISÃO: NÃO APLICAÇÃO NO CASO TELADO. CORREÇÃO NO PAGAMENTO DA 
REMUNERAÇÃO NO ÚLTIMO MÊS VIGENTE DA CONTRATUALIDADE. VALORES 
REFERENTES ÀS 'DEMAIS ATIVIDADES' QUE NÃO MERECE PROSPERAR. ÔNUS 
SUCUMBENCIAIS REDIMENSIONADOS. APELOS PARCIALMENTE PROVIDOS. 
Consta dos autos que PAMPA TELECOMUNICAÇÕES E ELETRICIDADE S.A. 
ajuizou a presente ação de rito ordinário em desfavor de BRASIL 
TELECOM S.A. e 14 BRASIL TELECOM CELULAR S.A., objetivando o 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 11 
recebimento dos valores decorrentes da manutenção dos serviços de 
telefonia fixa, móvel e internet. 
O juízo de primeiro grau julgou parcialmente procedente a demanda 
para: a) acolher a prescrição trienal, em relação aos contratos n° 
DMS-M01/076 e 01/077; b) acolher a preliminar de inépcia em relação 
ao pedido vertido no item 'b. 78'da petição inicial; c) afastar a 
hipossuficiência e a vulnerabilidade da parte autora frente às 
demandadas; d) declarar a validade da quitação outorgada pela 
demandante, em relação aos contratos n° DMS-M 02/037, 02/038, 
02/039, 02/244, 02/245 e 02/526; e) possibilitar o reajuste dos 
valores alusivos a alteração da alíquota do PIS/COFINS; f) condenar 
as rés ao ressarcimento dos valores alusivos a realização de 
manutenção preventiva nos cabos de fibra ótica; g) possibilitar o 
ressarcimento dos valores descontados sob a rubrica de ICMS, acaso 
constatada a ocorrência em perícia contábil; h) condenar as 
demandadas ao pagamento do montante correspondente a retirada dos 
telefones públicos; i) condenar as rés ao pagamento dos valores 
relativos a prestação de serviços em terminais telefônicos 
pertencentes a cliente inadimplentes; j) condenar as requeridas ao 
ressarcimento dos valores descontados sob a rubrica de multas e/ou 
penalidades contratuais. Por fim, em razão da sucumbência parcial e 
recíproca, fixou os honorários em 15% (quinze por cento) sobre o 
valor da condenação, competindo a autora o pagamento de 40% de dita 
verba ao procurador da parte demandada, sendo as rés responsáveis 
pelo adimplemento dos valores restantes ao patronos da parte autora, 
nos termos do artigo 20, § 3º, do Código de Processo Civil/73, além 
de determinar que as custas processuais deverão ser suportadas por 
ambas as partes, na mesma proporção acima, admitida a compensação. 
Irresignada, ambas as partes interpuseram recurso de apelação. 
O Tribunal de Justiça de origem deu parcial provimento aos reclamos 
tão somente no que diz respeito aos ônus sucumbenciais conforme a 
ementa acima transcrita. 
Os embargos de declaração opostos por BRASIL TELECOM S/A E OUTRO, 
restaram rejeitados (e-STJ fls. 1.875/1.881). 
Os embargos de declaração opostos por PAMPA TELECOMUNICAÇÕES E 
ELETRICIDADE S/A, foram desacolhidos nos seguintes termos (e-STJ fl. 
1.882): 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU 
OBSCURIDADE. AMBOS OS EMBARGOS DESACOLHIDOS. 
Novos embargos foram opostos por BRASIL TELECOM S/A E OUTRO, os 
quais foram parcialmente acolhidos para as sanar omissões apontadas, 
mantendo-se, contudo, a solução veiculada na decisão embargada 
(e-STJ fl. 1.899) 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÕES PARCIALMENTE RECONHECIDAS. SANAÇÃO, 
COM ENFRENTAMENTO DOS TEMAS. MANUTENÇÃO DO DECIDIDO NA SENTENÇA. 
EMBARGOS PARCIALMENTE ACOLHIDOS. 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 12 
Os terceiros embargos aclaratórios opostos por BRASIL TELECOM S/A E 
OUTRO foram rejeitados (e-STJ fls. 2.015/2.018). 
Em suas razões de recurso especial, PAMPA TELECOMUNICAÇÕES E 
ELETRICIDADE S/A, apontou violação ao art. 535, incisos I e II, do 
Código de Processo Civil/73, sob os seguintes fundamentos: a) 
omissão acerca da incidência do princípio da exercibilidade da 
pretensão, bem como quanto ao fato de que "as pretensões 
judicializadas não são meramente reparatórias, mas, também, de 
cobrança por serviços prestados, mas não retribuídos, e de 
declaração de nulidade das cláusulas abusivas, o que, no mínimo, 
modifica os respectivos prazos prescricionais" (e-STJ fl. 2.068); b) 
omissão a respeito da alegação de inépcia da inicial; c) omissão no 
que pertine às teses de que "as quitações não possuem a natureza de 
transações e de que foram assinadas por pessoa sem poderes para 
tanto" (e-STJ fl. 2.069); d) contradição e obscuridade na medida em 
que o acórdão combatido reconheceu a adesividade do contrato, porém, 
daí, não decorreram os efeitos correlatos; e) contradição haja 
vista que, se a Pampa prestou os serviços de manutenção preventiva, 
deve ser também reconhecido que a Brasil Telecom deveria ter pago 
por esses serviços de acordo com a fórmula contratual específica do 
item; f) omissão a respeito do fato de que houve pagamento 
insuficiente pelo serviço de instalação de telefones públicos entre 
2003 e 2005; g) omissão acerca da alegada má-fé praticada pela 
Brasil Telecom, bem como quanto à existência de cláusula qua impunha 
à Pampa a prestação gratuita do serviço de ADSL; h) omissão ao 
declarar a não existência de provas dos danos suportados pela 
recorrente; i) omissão no que tange ao argumento de que há cláusula 
que deixava abertura para as arbitrariedades da Brasil Telecom; j) 
omissão a respeito da previsão contratual que permitia a suspensão 
do contrato ao arbítrio da Brasil Telecom e: l) omissão acerca da 
correta distribuição do ônus da sucumbência. Aduziu pela existência 
de contrariedade aos arts. 202; 205; 206, § 3º, inciso V; e 2.028, 
todos do Código Civil, ao argumento de que inexistente a prescrição 
trienal reconhecida pelas instâncias de origem, em razão da 
impossibilidade do exercício da pretensão reparatória na vigênciado 
contrato, bem como ante a existência de responsabilidade contratual 
a afastar a incidência do prazo de prescrição trienal. Sustentou 
contrariedade aos arts. 46, inciso III; 47; 320 e 843, do Código 
Civil, ao fundamento de que não houve qualquer quitação dos débitos 
contratuais. Assinalou ofensa aos arts. 421, 422, 423 e 424 do 
Código Civil, uma vez que o aresto combatido reconheceu a natureza 
adesiva do contrato entabulado entre as partes, porém não aplicou as 
regras de interpretação a ela atinentes, asseverando, ainda, que 
houve quebra da boa-fé contratual. Indicou descumprimento dos arts. 
131 e 302, do Código de Processo Civil/73, posto que a Corte local 
não reconheceu o seu direito de reparação em relação ao dispêndio 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 13 
que teve para reconstituir os danos ocorridos na rede da Brasil 
Telecom. Consignou a existência de malferimento aos arts. 112, do 
Código Civil e arts. 131; 334, incisos II e III e 348, do Código de 
Processo Civil/73, porquanto houve rejeição ao pleito de pagamento 
dos bônus previstos no contrato. Apontou lesão ao art. 473 do Código 
Civil, uma vez que há cláusula abusiva no contrato a permitir a 
paralisação arbitrária do serviço de manutenção dos telefones 
públicos determinada pela Brasil Telecon entre novembro e dezembro 
de 2002. Destacou desrespeito aos arts. 317; 478; 479 e 480, do 
Código Civil, em razão da excessiva onerosidade superveniente 
decorrente do aumento imprevisto da incidência de furto de cabos e 
da necessidade de reforço mecânico dos postes da concessionária de 
energia que suportam a rede de telefonia da recorrida. Alegou 
violação aos artigos 157; 171, inciso II; 317; 478; 479; 480; e 844 
do Código Civil, sob o argumento de que houve abusiva aplicação de 
redutores nas fórmulas que calculavam os valores que deveriam ser 
retribuídos mensalmente. Assinalou afronta aos arts. 267, I; 295, 
parágrafo único, I a IV; e 515 do Código de Processo Civil, ao 
fundamento de que a petição inicial não é inepta. Indicou, ainda, a 
existência de dissídio jurisprudencial acerca dos artigos 112; 202; 
205; 206, § 3.º, V; 421; 422; 423; 424; e 2.028 do Código Civil; bem 
como 131; 334, II e III; e 348 do Código de Processo Civil/73. Por 
fim, requereu o provimento do recurso especial. 
Houve apresentação de contrarrazões ao recurso especial às e-STJ 
fls. 2.351/2.382. 
Por decisão monocrática de fls. 2.590/2.605, conheceu-se dos agravos 
para negar seguimento ao recurso especial. 
Interpostos agravos regimentais, estes restaram desprovidos conforme 
o acórdão de e-STJ fls. 2.679/2.680. 
Opostos embargos declaratórios e, diante da relevância das questões 
suscitadas, deu-se provimento aos aclaratórios para melhor análise 
da insurgência recursal de PAMPA TELECOMUNICAÇÕES E ELETRICIDADE 
S/A, determinando-se a conversão do agravo em recurso especial. 
É o relatório. 
Passo a decidir. 
Inicialmente, esclareço que o juízo de admissibilidade do presente 
recurso será realizado com base nas normas do CPC/1973 e com as 
interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior 
Tribunal de Justiça (cf. Enunciado Administrativo n.º 2/STJ). 
No que tange à alegada violação ao art. 535, incisos II e III, do 
Código de Processo Civil, o recurso especial não merece provimento. 
Com efeito, verifica-se que as questões submetidas ao Tribunal a quo 
foram suficiente e adequadamente apreciadas, com abordagem integral 
dos temas e fundamentação compatível. Destarte, não se configura 
qualquer ofensa ao art. 535, inciso II, do Código de Processo 
Civil/73. 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 14 
A propósito: 
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO 
DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 
535 DO CPC/1973. PRETENSÃO DE REDIRECIONAR EXECUÇÃO A EMPRESA QUE 
SERIA SUCESSORA DAQUELA EFETIVAMENTE EXECUTADA. CARACTERIZAÇÃO DA 
ALEGADA SUCESSÃO. REEXAME DE PROVA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL PREJUDICADO. AGRAVO IMPROVIDO. 
1. Não há ofensa ao art. 535 do CPC/1973, porquanto o Tribunal de 
origem decidiu a matéria de forma fundamentada. O julgador não está 
obrigado a rebater, um a um, os argumentos invocados pelas partes, 
quando tenha encontrado motivação satisfatória para dirimir o 
litígio. 
2. É vedado em recurso especial o reexame das circunstâncias fáticas 
da causa, ante o disposto no enunciado n. 7 da Súmula do STJ: "A 
pretensão de simples reexame de provas não enseja recurso especial." 
3. A análise do dissídio jurisprudencial fica prejudicada em razão 
da aplicação do enunciado da Súmula n. 7/STJ, porquanto não é 
possível encontrar similitude fática entre o aresto combatido e os 
arestos paradigmas, uma vez que as suas conclusões díspares 
ocorreram, não em razão de entendimentos diversos sobre uma mesma 
questão legal, mas, sim, em razão de fundamentações baseadas em 
fatos, provas e circunstâncias específicas de cada processo. 
4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 
973.516/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, 
julgado em 06/12/2016, DJe 19/12/2016) 
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO 
DOS ARTS. 458 E 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INEXISTÊNCIA. 
NULIDADE DO LAUDO PERICIAL. PRECLUSÃO. 
1. O acórdão recorrido analisou todas as questões necessárias ao 
deslinde da controvérsia, não se configurando omissão, contradição 
ou negativa de prestação jurisdicional. 
2. O julgado estadual encontra-se em consonância com a 
jurisprudência desta Corte, a qual já se pronunciou acerca da 
existência de preclusão consumativa quando a questão tiver sido 
objeto de decisão anterior proferida pelo Poder Judiciário, em face 
da qual não se interpôs recurso. 
3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 
614.868/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, 
julgado em 17/12/2015, DJe 01/02/2016) 
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO 
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO. 
INEXISTÊNCIA. PRETENSÃO DE REJULGAMENTO DA CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. 
1. Inexistentes as hipóteses do art. 535 do CPC, não merecem 
acolhida os embargos de declaração que têm nítido caráter 
infringente. 
2. Os aclaratórios não se prestam à manifestação de inconformismo ou 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 15 
à rediscussão do julgado que negou provimento ao agravo regimental 
em razão do princípio da unirrecorribilidade e da incidência da 
Súmula n° 182 do STJ. 
3. Embargos de declaração rejeitados. (EDcl no AgRg no AREsp 
561.153/RO, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 
16/02/2016, DJe 19/02/2016) 
No que concerne à prescrição, o juízo de primeiro grau asseverou o 
seguinte (e-STJ fls. 1.415/1.417): 
(...) 
Inicialmente, entendo que deva ser acolhida em parte a preliminar de 
prescrição arguida pelas demandadas quando do oferecimento de 
contestação. Isso porque, compulsando atentamente os pedidos 
vertidos na exordial, verifica-se que a pretensão da parte autora 
guarda relação direta com a intenção de ver reparados os danos que 
teriam sido causados pelas demandadas quando da execução dos 
contratos celebrados entre as partes. 
E nesse passo, tenho que o prazo prescricional aplicável à espécie é 
aquele previsto pelo artigo 206, § 3º, inciso V, do Código Civil de 
2002, que estabelece o prazo de três anos para o ajuizamento de ação 
que vise à reparação civil, sendo o marco inicial da contagem do 
prazo a data de rescisão dos pactos. Destarte, considerando que os 
primeiros contratos firmados entre as partes datam de janeiro de 
2001, e ainda, que a nova legislação entrou em vigor na data de 13 
de janeiro de 2003, entendo que deva ser aplicado o prazo previsto 
no artigo mencionado alhures, em cumprimento à regra de transição 
estabelecida no artigo 2.028, in verbis: 
Art.2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por 
este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver 
transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. 
Com efeito, no caso dos contratos rescindidos antes da entrada em 
vigor do novo Código Civil, entendo que se afiguram prescritos 
àqueles de número DMS-M 01/076 e DMS-M 01/077, porquanto encerrado o 
prazo para discussão desses pactos em 13 de janeiro de 2006, tendo a 
presente demanda sido ajuizada em 18 de dezembro de 2006. 
No que pertine aos demais contratos, tenho que tendo sido encerrados 
a contar de janeiro de 2005, não se afiguram prescritos, na medida 
em que ajuizada a presente demanda ainda no ano de 2006, ou seja, 
transcorrido menos da metade do prazo prescricional trienal. 
(grifei) 
O Tribunal de Justiça de origem manteve a sentença de primeiro grau 
sob os seguintes fundamentos (e-STJ fls. 164/165): 
(...) 
PRESCRIÇÃO 
Mostra-se bem ajustado o entendimento da ilustre magistrada no 
tocante ao reconhecimento da prescrição trienal, com aplicação do 
art. 206, § 3º, V, do Código Civil Brasileiro. Aliás, as hipóteses 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 16 
aventadas de interrupção da prescrição estão taxativamente previstas 
no art. 202 do aludido regramento. Assim sendo, a sentença analisou 
os pedidos e expressamente assinalou, verbis: 
[...] verifica-se que a pretensão da parte autora guarda relação 
direta com a intenção de ver reparados os danos que teriam sido 
causados pelas demandadas quando da execução dos contratos 
celebrados entre as partes. 
E nesse passo, tenho que o prazo prescricional aplicável à espécie é 
aquele previsto pelo artigo 206, § 3º, inciso V, do Código Civil de 
2002, que estabelece o prazo de três anos para o ajuizamento de ação 
que vise à reparação civil, sendo o marco inicial da contagem do 
prazo a data de rescisão dos pactos. 
Deve-se declarar a sentença, contudo, quando reconhece a prescrição 
dos contratos, quando na verdade se deve atentar para a prescrição 
das obrigações decorrentes dos mesmos, restando desprovido o apelo 
no ponto. 
Em suas razões a recorrente apontou contrariedade aos arts. 202; 
205; 206, § 3º, inciso V; e 2.028, todos do Código Civil, ao 
argumento de que inexistente a prescrição trienal reconhecida pelas 
instâncias de origem em razão da impossibilidade do exercício da 
pretensão reparatória na vigência do contrato, bem como em razão da 
existência de responsabilidade contratual a afastar a incidência do 
prazo de prescrição trienal. Aduziu pela ocorrência de dissídio 
jurisprudencial. 
No entanto, não assiste razão à parte recorrente. 
Em recente julgado da Terceira Turma doeste Superior Tribunal de 
Justiça, relatoria do Min. Marco Aurélio Bellizze, firmou-se a 
orientação no sentido de que tanto na hipótese de responsabilidade 
contratual como extracontratual aplica-se o prazo prescrional de 
três anos previsto no art. 206, § 3º, inciso V, do Código Civil. 
A propósito: 
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO 
ART. 535 DO CPC/1973. PRESCRIÇÃO. PRETENSÃO FUNDADA EM 
RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL. PRAZO TRIENAL. UNIFICAÇÃO DO 
PRAZO PRESCRICIONAL PARA A REPARAÇÃO CIVIL ADVINDA DE 
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL. TERMO INICIAL. 
PRETENSÕES INDENIZATÓRIAS DECORRENTES DO MESMO FATO GERADOR: 
RESCISÃO UNILATERAL DO CONTRATO. DATA CONSIDERADA PARA FINS DE 
CONTAGEM DO LAPSO PRESCRICIONAL TRIENAL. RECURSO IMPROVIDO. 
1. Decidida integralmente a lide posta em juízo, com expressa e 
coerente indicação dos fundamentos em que se firmou a formação do 
livre convencimento motivado, não se cogita violação do art. 535 do 
CPC/1973, ainda que rejeitados os embargos de declaração opostos. 
2. O termo "reparação civil", constante do art. 206, § 3º, V, do 
CC/2002, deve ser interpretado de maneira ampla, alcançando tanto a 
responsabilidade contratual (arts. 389 a 405) como a extracontratual 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 17 
(arts. 927 a 954), ainda que decorrente de dano exclusivamente moral 
(art. 186, parte final), e o abuso de direito (art. 187). Assim, a 
prescrição das pretensões dessa natureza originadas sob a égide do 
novo paradigma do Código Civil de 2002 deve observar o prazo comum 
de três anos. Ficam ressalvadas as pretensões cujos prazos 
prescricionais estão estabelecidos em disposições legais especiais. 
3. Na V Jornada de Direito Civil, do Conselho da Justiça Federal e 
do Superior Tribunal de Justiça, realizada em novembro de 2011, foi 
editado o Enunciado n. 419, segundo o qual "o prazo prescricional de 
três anos para a pretensão de reparação civil aplica-se tanto à 
responsabilidade contratual quanto à responsabilidade 
extracontratual". 
4. Decorrendo todos os pedidos indenizatórios formulados na petição 
inicial da rescisão unilateral do contrato celebrado entre as 
partes, é da data desta rescisão que deve ser iniciada a contagem do 
prazo prescricional trienal. 
5. Recurso especial improvido. (REsp 1281594/SP, Rel. Ministro MARCO 
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/11/2016, DJe 
28/11/2016) 
Dessa forma, mantém-se o reconhecimento da prescrição da pretensão 
autoral quanto ao recebimento de valores relativos aos contratos de 
n.º DMS-M 01/076 e DMS-M 01/077. 
Em relação à quitação dos débitos contratuais, a sentença proferida 
pelo juízo de primeiro grau assentou (e-STJ fls. 1.420/1.422): 
(...) 
Outra questão que merece especial atenção antes de se analisar o 
mérito, guarda relação direta com a quitação alegada pelas 
demandadas, o que obstaria o manejo da presente demanda. 
Pois bem, em relação a dita problemática, mais uma vez entendo que 
merece parcial guarida a irresignação das rés, na medida em que 
quando da rescisão dos contratos DMS-M 02/037, DMD-S 02/038, DMS-M 
02/039, DMS-M 02/244, DMS-M 02/245 e DMS-M 02/526, constou de forma 
expressa e clara nos termos de rescisão de ditos pactos, que a parte 
autora dava, naquele ato, plena quitação às demandadas em relação 
aos contratos naquele ato encerrados. 
(...) 
Como se vê, quando da rescisão dos contratos DMS-M 02/037, DMS-M 
02/038, DMS-M 02/039, DMS-M 02/244, DMS-M 02/245 e DMS-M 02/526, a 
demandante outorgou plena quitação às demandadas em relação a ditos 
pactos, não podendo agora, pretender rever valores alusivos a estes, 
sob pena de flagrante infringência ao ato jurídico perfeito. 
Outrossim, entendo que a alegação trazida pela autora em sede de 
réplica, de que o representante legal da Pampa não teria poderes 
para firmar ditas rescisões, porquanto o poder de representação 
deveria ser exercido em conjunto por dois sócios, conforme preceitua 
o estatuto social da autora não merece prosperar. 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 18 
De fato, compulsando o estatuto social da demandante, verifico que 
dito instrumento prevê de forma expressa, que os atos de 
administração serão exercidos por dois diretores, de forma conjunta. 
Todavia, não se afigura aceitável a postura da autora, ao designar 
apenas um de seus representantes para firmar as rescisões de 
contrato operadas, enquanto que para a celebração dos pactos, 
cumpria com a forma determinada em seu estatuto social, no que 
pertine a representação. 
Destarte, considero válidas as quitações outorgadas em relação aos 
contratos DMS-M 02/037, DMS-M 02/038, DMS-M 02/039, DMS-M 02/244, 
DMS-M 02/245 E DMS-M 02/526, sendo possível a discussão das 
cláusulas contratuais firmadas nos contratos subsequentes. (grifei) 
Por sua vez, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, 
ao julgar o recurso de apelação, destacou o seguinte: (e-STJ fls. 
1.764/1.765): 
(...) 
QUITAÇÃO 
Analisando-se as cláusulas contratuais que estipulam a quitação 
discutida nos autos, observa-se que efetivamente ocorreu 
relativamente a qualquer débito quando da assinatura da novel 
contratação. Nessesentido o que consta nas respectivas cláusulas 
previstas em todos os termos de rescisão mencionados nas fls. 
165/178, verbis: 
2. As partes estão cientes e de acordo, que os serviços solicitados 
na vigência do Contrato ainda pendentes de conclusão e/ou pagamento, 
são exclusivamente os relacionados no Anexo I deste instrumento, não 
existindo para a CONTRATANTE, além das obrigações do pagamento 
desses serviços, quaisquer outras obrigações contratuais assumidas 
no Contrato ou dele decorrentes direta ou 
indiretamente. 
[...] 
4. Após o efetivo pagamento dos valores referentes aos serviços 
mencionados no item 2 supra, as partes outorgam- se plena, 
irrevogável e irretratável quitação de todas as obrigações 
contratuais assumidas no Contrato ou dele decorrentes direta ou 
indiretamente, para nada mais reclamarem em relação ao mesmo, 
indenizações e/ou compensações, contratuais e/ou legais, seja a que 
tempo e a que título for, em juízo ou fora dele. 
O que se depreende da análise de tais cláusulas quando da rescisão 
dos contratos DMS-M 02/037, DMS-M 02/038, DMS-M 02/039, e DMS-M 
02/526 é que a autora outorgou plena quitação às rés em relação aos 
pactos, não podendo agora, pretender rever valores alusivos a estes. 
De conformidade com o principio da autonomia da vontade, o homem é 
livre para contratar ou não contratar, bastando que o objeto da 
convenção seja lícito. E o contrato tem força de lei entre os 
contratantes. Somente a vontade faz nascer uma obrigação e o 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 19 
princípio que ora se trata exige que se encontre, à base de toda 
obrigação, uma vontade livre, já que esta é soberana e sem ela não 
há vínculo de qualquer natureza. 
Também o artigo 5o inciso XXXVI, da Constituição da República, 
alberga a garantia de segurança na estabilidade das relações 
jurídicas, na qual está inserido o ato jurídico perfeito. 
O título ou fundamento que faz nascer o direito subjetivo é todo ato 
lícito que tenha a finalidade imediata de adquirir, resguardar, 
transferir, modificar ou extinguir direitos, denomina-se ato 
jurídico perfeito, sendo um ato fundado na lei. É um instituto que 
foi concebido pelo constituinte, sob o aspecto formal. É aquele ato 
que nasce e se forma sob a égide de uma determinada lei, tendo todos 
os requisitos necessários exigidos pela norma vigente. Protege-se 
indiretamente o direito adquirido, consagrando o princípio da 
segurança jurídica justamente para preservar as situações 
devidamente constituídas na vigência do contrato, sendo um 
fundamento constitucional que marca a segurança e a certeza das 
relações jurídicas na sociedade.1 É uma garantia aos cidadãos como 
fator da própria convivência social. Não é à toa que se encontram 
inseridos no capítulo "Dos Direitos e Garantias Fundamentais" da 
Carta Magna. 
Nesse diapasão, certo é que cada ato deve ser regido de acordo com o 
regime jurídico que lhe é peculiar, mas numa interação com a 
totalidade do sistema, pois o direito há de ser sempre interpretado 
num todo, especialmente com a Constituição Federal que é a norma 
fundamental para a validade de todo o sistema. 
Assim, qualquer tentativa de mudança desse ato torna-se impossível, 
pois, seria uma violação da situação então consolidada, o que iria 
contra a garantia da estabilidade jurídica. 
Retornando ao caso concreto, os termos de quitação foram concedidos 
de forma ampla, geral e irrestrita, não havendo como negar sua 
aplicabilidade, tampouco restringir seus efeitos, sob pena de 
infringir o princípio da autonomia da vontade das partes e ferir o 
ato jurídico perfeito. 
Assim, não restam maiores questionamentos quanto à quitação 
concedida, sendo inviável qualquer discussão sobre matéria já 
transigida, também aqui não merecendo reparo a sentença. 
Apenas se constata que efetivamente duas avenças referidas na 
sentença não fazem parte do pedido - contratos DMS-M 02/244 e DMS-M 
02/245 -, não havendo razão para serem abarcadas pela decisão ora 
recorrida, devendo da mesma serem decotadas, no que se declara o 
Decisum. (grifei) 
A recorrente, por seu turno, sustentou contrariedade aos arts. 46, 
inciso III; 47; 320 e 843, do Código Civil, ao fundamento de que não 
houve qualquer quitação dos débitos contratuais. 
No entanto, o recurso especial não merece guarida. 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 20 
A conclusão do Tribunal a quo acerca da quitação dos débitos é 
incontrastável no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, em razão 
dos óbices contidos nos Enunciados n.º 5 e 7/STJ. 
A propósito: 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO TRANSITADA EM JULGADO. QUITAÇÃO DO SALDO 
DEVEDOR PELO FINANCIADO. APRECIAÇÃO DE TODAS AS QUESTÕES RELEVANTES 
DA LIDE PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. AUSÊNCIA DE AFRONTA AO ART. 535 DO 
CPC. ART. 475, A, B, D, I, J, N, DO CPC. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. 
SÚMULAS N. 282 E 356 DO STF. CORREÇÃO DOS CÁLCULOS ELABORADOS POR 
PERITO JUDICIAL. SÚMULA N. 7/STJ. DECISÃO MANTIDA. 
1. Inexiste afronta ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido 
analisou todas as questões pertinentes para a solução da lide, 
pronunciando-se, de forma clara e suficiente, sobre a controvérsia 
estabelecida nos autos. 
2. A simples indicação dos dispositivos legais tidos por violados, 
sem que o tema tenha sido enfrentado pelo acórdão recorrido, obsta o 
conhecimento do recurso especial, por falta de prequestionamento, a 
teor das Súmulas n. 282 e 356 do STF. Matéria que não foi arguida 
nos embargos de declaração opostos na origem. 
3. O recurso especial não comporta o exame de questões que demandem 
o revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, em razão da 
incidência da Súmula n. 7 do STJ. 
4. No caso concreto, o Tribunal de origem examinou a prova dos 
autos, mormente a perícia realizada, para concluir que o débito 
estava quitado. Dessa forma, o exame da pretensão recursal, no 
sentido de verificar suposta incorreção nos cálculos elaborados pelo 
perito judicial, demandaria o reexame da matéria fática, o que é 
vedado em recurso especial. 
5. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 456.377/RS, Rel. 
Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 
10/02/2015, DJe 19/02/2015) 
No que concerne à natureza de adesão do contrato, a recorrente 
assinalou ofensa aos arts. 423 e 424, ambos do Código Civil, posto 
que uma vez reconhecida a natureza adesiva do contrato, caberia ao 
Tribunal de Justiça aplicar as interpretações previstas nos aludidos 
dispositivos legais. Acenou pela ocorrência de divergência 
jurisprudencial. 
Entretanto, o recurso especial não merece conhecimento. 
Efetivamente, constata-se que o conteúdo normativo dos dispositivos 
supostamente violados, não foi objeto de debate nas instâncias de 
origem, carecendo, portanto, do necessário prequestionamento 
viabilizador do recurso especial. Incide, na espécie, o óbice do 
Enunciado n.º 211/STJ. 
A propósito: 
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MEDIDA CAUTELAR. 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 21 
EFEITO SUSPENSIVO. APELAÇÃO. JULGAMENTO PREJUDICIALIDADE. 
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA Nº 211/STJ. LEGISLAÇÃO LOCAL. 
INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 280/STF. 
1. A ausência de prequestionamento da matéria suscitada no recurso 
especial, a despeito da oposição de embargos de declaração, impede o 
conhecimento do recurso especial (Súmula n.º 211/STJ). 
2. Decidida a questão à luz da legislação local, a pretendida 
inversão do julgado mostra-se inviável nesta instância especial 
diante do óbice da Súmula n.º 280 do Supremo Tribunal Federal, 
empregada por analogia. 
3. Realizado o julgamento do recurso ao qual se pretendia atribuir 
efeito suspensivo, verifica-se a perda superveniente do objeto da 
medida cautelar. 
4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 725.458/GO, Rel. 
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgadoem 
16/02/2016, DJe 25/02/2016) 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECURSO REPETITIVO. 
SOBRESTAMENTO. RECURSO QUE SEQUER FOI CONHECIDO. INAPLICABILIDADE. 
PREVIDÊNCIA PRIVADA. REAJUSTE. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SUMULA 
N. 211/STJ. REGULAMENTAÇÃO PRÓPRIA. SÚMULAS N. 5 E 7/STJ. 
1. Aplica-se o óbice previsto na Súmula n. 211/STJ quando a questão 
suscitada no recurso especial, não obstante a oposição de embargos 
declaratórios, não foi apreciada pela Corte a quo. 
2. O acesso à via excepcional, nos casos em que o Tribunal a quo, a 
despeito da oposição de embargos de declaração, não regulariza a 
omissão apontada, depende da veiculação, nas razões do recurso 
especial, de ofensa ao art. 535 do CPC. 
3. A alteração das conclusões adotadas pela Corte de origem, 
consideradas as peculiaridades do caso concreto, em especial o 
próprio estatuto da fundação, demandaria a incursão na seara 
probatória dos autos. Súmulas n. 5 e 7/STJ. 4. Agravo regimental 
desprovido. (AgRg no AREsp 399.552/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE 
NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/02/2016, DJe 18/02/2016) 
Some-se a isso, que a ausência de prequestionamento dos dispositivos 
legais também inviabiliza o conhecimento do recurso especial também 
quanto ao dissídio jurisprudencial. 
A propósito: 
PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC/73. INOVAÇÃO RECURSAL. 
NÃO CONHECIMENTO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. 
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO E DEFICIÊNCIA 
RECURSAL. SÚMULAS 211/STJ E 284/STF. (...) 
5. Divergência jurisprudencial prejudicada em razão da falta de 
prequestionamento do comando legal tido por violado. 
Agravo interno improvido. (AgInt no AREsp 862.188/SP, Rel. Ministro 
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/04/2016, DJe 
15/04/2016) 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 22 
Em relação ao pagamento pelos serviços de manutenção das redes de 
ADSL, o recorrente alegou violação aos arts. 423 e 424, do CC, além 
da ocorrência de dissídio jurisprudencial. No entanto, verifica-se 
que o Tribunal de Justiça a quo ao rejeitar o pedido destacou (e-STJ 
fls. 1.770/1.771): 
(...) 
MANUTENÇÃO DA ADSL 
Quanto aos valores pretendidos pela autora, em razão dos serviços de 
manutenção prestados nas redes de ADSL, sorte melhor não lhe 
assiste. 
Ocorre que, analisados os instrumentos contratuais firmados pelas 
partes, denota-se com facilidade a previsão expressa no que pertine 
à ausência de pagamento dos serviços de manutenção em modens de 
ADSL, visto que conforme se depreende do depoimento da testemunha 
advertida e compromissada Luiz Augusto Faccini, a remuneração por 
prestação de tal serviço era onerado de forma global, por acesso, 
assim como a manutenção dos mesmos, fl. 872-v. 
Assim prevê a cláusula 2.1.1.1.1 do anexo VI do contrato DMS M 
330003644, fl.1207 dos autos suplementares: 
2.1.1.1.1. Não serão remunerados os serviços de manutenção do Kit 
ADSL (Item 1 da tabela de Serviços de Manutenção e Operação de 
Serviços ADSL supra, quando o modem do serviço ADSL for de 
propriedade do Cliente). 
Daí depreende-se que a demandante recebia um valor global para 
atender às solicitações de reparo e efetuar a manutenção adequada, 
não cabendo a cobrança individualmente por cada serviço prestado. Na 
verdade, a remuneração ora pretendida pela demandante já estava 
englobada pela remuneração global que lhe era repassada. 
Dito isso, a relação contratual travada pela autora há de ser 
analisada,, antes de tudo, sob o prisma do princípio da boa-fé 
objetiva que passou a ser requisito de validade a todo e qualquer 
contrato celebrado, sejam quais forem às partes. Não estando 
presente a boa-fé, o contrato pode ser revisto, e, inclusive, 
rescindido, dando ensejo à reparação civil. 
Portanto, tendo sido a autora contratada nos moldes descritos no 
contrato, não se afigura razoável que após a rescisão deste 
pretenda-se a modificação de cláusulas contratuais com as quais 
pactuou desde longa data. (grifei) 
Verifica-se, assim, que a conclusão do Tribunal a quo acerca dos 
serviços contratados não pode ser superada no âmbito do Superior 
Tribunal de Justiça, em razão dos óbices contidos nos Enunciados n.º 
5 e 7/STJ. 
A propósito: 
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO. EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL 
CIVIL. DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. VIOLAÇÃO. INADEQUAÇÃO DA VIA 
ELEITA. ART. 535 DO CPC/1973. OFENSA. NÃO CONFIGURAÇÃO. EMBARGOS À 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 23 
EXECUÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS. PLANO DE DEMISSÃO 
VOLUNTÁRIA. ADESÃO. NÃO INCIDÊNCIA DA VERBA. REEXAME DE PROVAS E 
INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS NºS 
5 E 7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO E 
COMPROVAÇÃO. 
(...) 
3. É inadmissível, na estreita via do recurso especial, a alteração 
das conclusões das instâncias de cognição plena que demandem a 
interpretação do conteúdo de cláusula contratual e o reexame do 
acervo fático-probatório dos autos, a teor das Súmulas n.ºs 5 e 
7/STJ. 
(...) 
5. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp 391.395/DF, Rel. 
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 
22/11/2016, DJe 29/11/2016) 
Ademais, a análise do dissídio jurisprudencial se configura inviável 
dado que as conclusões díspares entre o acórdão paradigma e o 
recorrido ocorreram em virtude da análise dos fatos, provas e 
circunstâncias de cada caso concreto, não em razão de divergência 
sobre teses ou questões jurídicas. 
A propósito: 
AGRAVO INTERNO EM AGRAVO (ART. 544 DO CPC/73) - AÇÃO DECLARATÓRIA DE 
INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - 
INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO - DECISÃO 
MONOCRÁTICA NEGANDO PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA DA 
DEMANDADA. 
1. A indenização por danos morais, fixada em quantum em conformidade 
com o princípio da razoabilidade, não enseja a possibilidade de 
modificação em sede de recurso especial, ante o óbice da Súmula n. 
7/STJ. 
2. Este Tribunal Superior tem prelecionado ser razoável a condenação 
no equivalente a até 50 (cinquenta) salários mínimos por indenização 
decorrente de inscrição indevida em órgãos de proteção ao crédito. 
Precedentes 
3. A incidência da Súmula 7 desta Corte impede o exame de dissídio 
jurisprudencial, porquanto falta identidade entre os paradigmas 
apresentados e os fundamentos do acórdão, tendo em vista a situação 
fática do caso concreto, com base na qual a Corte de origem deu 
solução a causa. 
4. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp 886.022/PR, Rel. 
Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 01/12/2016, DJe 
07/12/2016) 
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ATROPELAMENTO POR 
COMPOSIÇÃO FÉRREA. DANOS MORAIS DEVIDOS AOS FAMILIARES DE VÍTIMA 
FATAL. CAUSALIDADE CONCORRENTE. VALOR INDENIZATÓRIO. FIXAÇÃO COM 
RAZOABILIDADE. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA. AGRAVO 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 24 
INTERNO IMPROVIDO. 
(...) 
2. Ademais, tendo o Tribunal local concluído com base no conjunto 
fático-probatório dos autos, impossível se torna o confronto entre o 
paradigma e o acórdão recorrido, uma vez que a comprovação do 
alegado dissídio jurisprudencial reclama consideração sobre a 
situação fática própria de cada julgamento, o que não é possível de 
ser feito nesta via excepcional, por força do enunciado n. 7/STJ. 
3. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 
967.258/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, 
julgado em 22/11/2016, DJe 29/11/2016) 
Em relação à ocorrência de danos efetivados por terceiros e não 
ressarcidos, a recorrente sustentou violação aos arts. 131 e 302, do 
CPC/73, em razão da ausência de apreciação das provas carreadas aos 
autos. Todavia, destaca-se o seguinte trecho do acórdão proferido 
pelo Tribunal de Justiça de origem (e-STJ fls. 1.771/1.774): 
(...) 
DANOSCAUSADOS POR TERCEIROS 
Quanto ao pedido de condenação da ré no pagamento dos valores 
decorrentes dos danos causados por terceiros suportados pela autora 
e não ressarcidos, deve-se passar por primeiro, no que previu o 
contrato DMS M 3300010905, em seu Anexo III, fls. 1037/1038: 
3.6 Os serviços e materiais para manutenção corretiva, preventiva e 
operação da Rede de Acesso, excluídos os materiais de 
responsabilidade da CONTRATANTE conforme item 7.2, motivados por 
defeito, desgaste, irrecuperáveis, vandalismo, furtados, intempéries 
ou fim de vida útil, serão de responsabilidade da CONTRATADA. 
3.6.1 Os ônus adicionais decorrentes de acidentes provocados por 
terceiros, quando a CONTRATANTE for ressarcida dos mesmos, não devem 
ser de obrigação da CONTRATADA. Nestes casos deverão ser repassados 
a ela os custos referentes aos serviços prestados. O custo de 
instalação deverá ser calculado e pago com base na TSRA limitado ao 
valor ressarcido à CONTRATANTE. 
3.6.2 Caberá à CONTRATADA realizar orçamentos dos danos de 
acidentes, registrar boletins de ocorrência, efetuar as ações 
judiciais ou não de cobrança dos custos envolvidos, ressarcindo-se 
dos prejuízos causados por terceiros. 
Observando ditas cláusulas, conclui-se que as demandadas garantiram 
o repasse dos valores recebidos a título de ressarcimento por danos 
causados por terceiros à demandante, mas, simultaneamente, delegam a 
esta o dever de efetivar as medidas cabíveis, judiciais ou não, em 
face dos responsáveis por danos na rede de telefonia/ internet. 
Ora, tal previsão contratual efetivamente se afigura equivocada, na 
medida em que não poderia a requerente pleitear em nome próprio, 
direito alheio, conforme preceitua o artigo 6o do Código de Processo 
Civil. Portanto a autora estaria pleiteando direitos de terceiro em 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 25 
nome próprio, o que é vedado pelo ordenamento jurídico. É ela parte 
ilegítima. 
(....) 
E, tocante à sub-rogação, está regulamentada nos artigos 346 a 351 
do Código Civil de 2002, sendo uma forma de pagamento, o qual também 
extingue uma obrigação. Ocorre quando um terceiro interessado paga a 
dívida do devedor, colocando-se no lugar de credor. 
Assim sendo, a autora estaria sub-rogada nos direitos das rés, 
porquanto não existiu no pacto qualquer previsão a respeito da 
sub-rogação convencional, prevista pelo artigo 347 do Código Civil 
de 2002, in verbis: 
Art. 347. A sub-rogação é convencional: 
I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente 
lhe transfere todos os seus direitos; 
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa 
para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante 
sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. 
No caso concreto, a sub-rogação foi convencionada (art. 347, inciso 
I, do CC/2002). Ainda que o art. 348 do Código Civil estabeleça que, 
para a hipótese de sub-rogação convencionada (em que o credor recebe 
o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus 
direitos), vigora o disposto quanto à cessão de crédito, não há 
falar em ineficácia da sub-rogação em relação ao devedor por 
ausência de notificação. 
(...) 
Nesse caso, a obrigação só se extingue em relação ao credor 
satisfeito, mas continua existindo em relação àquele que pagou a 
dívida, portanto não cabia à autora buscar de terceiros responsáveis 
por danos nas redes de telefonia, o ressarcimento dos prejuízos 
causados, diante da sua flagrante ilegitimidade para tanto, mas sim, 
apenas e tão somente às rés. 
Dessa forma, afirma-se que o direito de agir em juízo é conferido 
para que a parte tutele seus próprios direitos e interesses 
legítimos, constituindo, dessa maneira, condição da ação, a saber: 
possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade 
das partes. 
Mesmo sendo legítimo o pleito efetivado, não merece ser acolhida a 
pretensão, visto que os danos efetivamente comprovados nos autos 
dizem respeito a evento ocorrido em 15 de setembro de 2002, na 
cidade de Estância Velha/RS, conforme se infere do boletim de 
ocorrência e relatório de custos apresentados no doe. 28, fls. 
2968/2977, período já abarcado pela prescrição operada e pela 
quitação outorgada. Sendo o único fato apresentado pela parte 
autora, como tendo sido provocado por terceiros. (grifei) 
Dessa forma, verifica-se que não procedem os argumentos utilizados 
pela recorrente. Consoante destacado pelo Tribunal de Justiça a quo, 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 26 
a existência de quitação ampla e irrestrita impede o provimento do 
pedido. 
No que tange ao pagamento dos bônus, a recorrente reputou violados 
os arts. 131; 334, incisos II e II e 348, todos do CPC/73, bem como 
acenou pela ocorrência de divergência pretoriana, ao argumento de 
que as disposições contratuais são abusivas. 
O Tribunal de Justiça rejeitou o pedido de pagamento dos bônus com 
arrimo nos seguintes argumentos (e-STJ fls. 1.774/1.775): 
(...) 
BÔNUS NÃO PAGOS 
Insurge-se também a autora contra o Decisum visando a que se declare 
a abusividade das cláusulas referentes ao pagamento dos bônus, de 
modo a impedir a sua cobrança, condenando a ré no pagamento dos 
respectivos valores suprimidos. 
Data venia, nada há de ilegal ou abusivo na redação das citadas 
disposições contratuais, na medida em que realizadas de acordo com a 
livre manifestação de vontades das partes. 
Segundo afirma Hélio Zagheto Gama: As cláusulas abusivas são aquelas 
que, inseridas num contrato, possam contaminar o necessário 
equilíbrio ou possam, se utilizadas, causar uma lesão contratual à 
parte a quem desfavoreçam. 
Conforme disposto, tais cláusulas são nulas de pleno direito, e não 
operam efeitos, sendo que a nulidade de qualquer delas não invalida 
o contrato, exceto quando sua ausência acarretar ônus excessivo a 
qualquer das partes. Assim, somente a cláusula abusiva é nula; as 
demais cláusulas permanecem válidas, e subsiste o contrato, desde 
que se averigue o justo equilíbrio entre as partes. 
Assim, seja em razão da livre pactuação, ausente direito adquirido 
ao recebimento dos bônus, ou ainda, pela ausência de comprovação 
fidedigna de alcance das metas estabelecidas pelas demandadas para 
recebimento dos valores pretendidos a título de bonificação, não 
servindo para tanto os documentos indicados e refutados pela 
sentença ora vergastada (fls. 2778/2901), devendo ser julgado 
improcedente o pleito. (grifei) 
Da leitura do trecho transcrito do acórdão recorrido, extrai-se que 
a negativa do pedido pelo Tribunal de Justiça decorreu da existência 
de dois fundamentos, quais sejam, a validade das cláusulas 
contratuais e a ausência de comprovação das metas estipuladas. 
No entanto, da análise do presente recurso especial, verifica-se que 
contra o segundo argumento utilizado para indeferir o pedido, 
fundamento, por si só suficiente à manutenção do julgado, não se 
insurgiu a recorrente, circunstância que atrai o óbice previsto no 
Enunciado n.º 283, da Súmula de Jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal. 
A propósito: 
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 27 
VIOLAÇÃO DOS ARTS. 458 E 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. NÃO IMPUGNAÇÃO 
ESPECÍFICA DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO RECORRIDA. SÚMULA N. 283/STF. 
PENHORA. ÚNICO IMÓVEL RESIDENCIAL DA FAMÍLIA. COMPROVAÇÃO. REEXAME 
DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA N. 7/STJ. DISSÍDIO 
JURISPRUDENCIAL. BEM DE FAMÍLIA OFERTADO EM GARANTIA. FRAUDE DE 
EXECUÇÃO. IMPENHORABILIDADE AFASTADA. SÚMULA N. 83/STJ. 
1. Afasta-se a alegada violação dos arts. 458 e 535 do CPC quando o 
acórdão recorrido, integrado pelo julgado proferido nos embargos de 
declaração, dirime, de forma expressa, congruente e motivada, as 
questões suscitadas nas razões recursais. 
2. A não impugnação específica dos fundamentos da decisão recorrida 
suficientespara mantê-la enseja o não conhecimento do recurso. 
Incidência da Súmula n. 283 do STF. 
3. A conclusão de que a penhora recaiu sobre o único imóvel que 
serve de residência à família da parte recorrente demanda o reexame 
do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado em recurso 
especial, nos termos da Súmula n.7/STJ 4. Afasta-se a 
impenhorabilidade do bem de família ofertado em garantia pela parte 
em evidente fraude de execução. 
5. "Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a 
orientação do tribunal de firmou no mesmo sentido da decisão 
recorrida" (Súmula n. 83/STJ). 
6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 689.609/PR, Rel. 
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 
09/06/2015, DJe 12/06/2015) 
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. 
ENTREGA DE MERCADORIAS. ATRASO. AUSÊNCIA DE DANOS. DEFICIÊNCIA NA 
FUNDAMENTAÇÃO. ENUNCIADO 284 DA SÚMULA DO STF. DEVER DE INDENIZAR E 
REVISÃO DO VALOR. REEXAME DE MATÉRIA DE FATO. ARTS. 14 DO CDC E 734 
DO CC. FUNDAMENTOS NÃO ATACADOS. DECISÃO AGRAVADA. FUNDAMENTO NÃO 
COMBATIDO. ENUNCIADO 182 DA SÚMULA DO STJ. 
1. Não se revela admissível o recurso especial, quando a deficiência 
na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da 
controvérsia. Incidência do enunciado 284 da Súmula do STF. 
2. A tese defendida no recurso especial demanda o reexame do 
conjunto fático e probatório dos autos, vedado pelo enunciado 7 da 
Súmula do STJ. 
3. É inadmissível o recurso especial que não impugna fundamento do 
acórdão recorrido apto, por si só, a manter a conclusão a que chegou 
a Corte Estadual (enunciado 283 da Súmula do STF). 
4. "É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar 
especificamente os fundamentos da decisão agravada" (Enunciado 182 
da Súmula do STJ). 
5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 
681.559/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, 
julgado em 02/06/2015, DJe 08/06/2015) 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 28 
No que concerne à indenização pela paralisação da manutenção dos 
telefones públicos, a recorrente apontou contrariedade ao art. 473 
do CC. 
O Tribunal de origem repudiou o pleito por dois motivos, primeiro, 
por estarem supostamente abarcados pela prescrição e pelas quitações 
e; segundo, porque havia cláusula contratual prevendo a 
possibilidade de paralisação conforme o trecho a seguir transcrito 
(e-STJ fls. 1.775/1.776): 
PARALISAÇÃO DO PAGAMENTO DE MANUTENÇÃO DOS TERMINAIS PÚBLICOS 
O pagamento dos valores resultantes dos prejuízos da paralisação de 
serviços em telefones públicos e da retomada dos mesmos está 
incontestavelmente abarcado pela prescrição e pela quitação 
concedida pela própria autora. 
Tanto é que sempre houve a previsão expressa nos pactos celebrados, 
a respeito da possibilidade das demandadas em excluir, suspender ou 
interromper o pacto em relação a algum de seus objetos. 
Assim prevê a cláusula 8.1.2 do contrato DMS M 330003647 fls. 
776/876 dos autos suplementares: 
8.12. Fica facultado à CONTRATANTE, a qualquer momento e a seu 
exclusivo critério, alterar, suspender, interromper e/ou cancelar, 
total ou parcialmente, qualquer serviço e/ou fornecimento objeto do 
presente instrumento, inclusive as localidades e/ou estações 
pertencentes a Macro-Área, sem que caiba à CONTRATADA qualquer 
direito a indenização ou compensação, seja a que título e de que 
natureza for, ressalvados os pagamentos dos serviços e fornecimentos 
até então executados e aprovados pela CONTRATANTE. 
Aliás, a mesma previsão contratual consta de forma inequívoca no 
contrato DMSM 3300010905, em sua cláusula 3.4.1, fl. 999, pois ainda 
que não tivessem sido ditos valores alcançados pela prescrição e 
pela quitação outorgada pela autora, ainda assim não seriam devidos, 
diante da previsão expressa a respeito da possibilidade de suspensão 
dos serviços avençados. (grifei) 
Desse modo, a análise das razões recursais e a reforma do aresto 
hostilizado, com a desconstituição de suas premissas, impõem reexame 
da relação contratual estabelecida, o que esbarra no Enunciado n.º 
5/STJ. 
A propósito: 
AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. SESSÕES 
DE OXIGENOTERAPIA EM CÂMARA HIPERBÁRICA. CLÁUSULA CONTRATUAL DE 
EXCLUSÃO DE COBERTURA. AUSÊNCIA. REEXAME CONTRATUAL E 
FÁTICO-PROBATÓRIO. ENUNCIADOS 5 E 7 DA SÚMULA DO STJ. NÃO 
PROVIMENTO. 
1. Não cabe, em recurso especial, reexaminar conteúdo contratual 
(Súmula 5/STJ), bem como matéria fático-probatória (Súmula n. 
7/STJ). 
2. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 29 
634.285/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, 
julgado em 01/12/2016, DJe 07/12/2016) 
No que pertine à ocorrência de onerosidade excessiva superveniente, 
a recorrente alegou violação aos arts. 317; 478; 479 e 480, todos do 
CC, em razão do aumento excessivo e imprevisto da incidência de 
furto de cabos de telefonia. 
Com tudo, o Tribunal de Justiça rejeitou o pedido nos seguintes 
moldes (e-STJ fls. 1.776/1.778): 
(...) 
ROUBO E FURTO DE CABOS 
Ao compulsar os autos, nenhum dos requisitos indispensáveis à teoria 
da imprevisão se encontra presentes. 
No Código Civil de 2002 a matéria veio regulada pelos artigos 478 a 
480, onde são traçadas as regras especificas para que possam ser 
revistos os contratos firmados pelas partes. 
Sílvio Rodrigues7 ensina que: 
A idéia é evitar que nos contratos comutativos em que, por 
definição, há uma presumível equivalência de prestações, o tempo 
desequilibre a antiga igualdade, tornando a prestação de uma das 
partes excessivamente onerosa em relação à da outra. 
Todavia, não é qualquer alteração na situação fática dos 
contratantes que autoriza a intervenção judicial no contrato, pois, 
conforme preleciona Sílvio De Salvo Venosa", 
O princípio da obrigatoriedade dos contratos não pode ser violado 
perante dificuldades comezinhas de cumprimento, por fatores externos 
perfeitamente previsíveis. (...) A imprevisão que pode autorizar uma 
intervenção judicial na vontade contratual é somente a que refoge 
totalmente às possibilidades de previsibilidade. 
Como visto, não se pode negar que ainda prevalece como regra o 
principio pacta sunt servanda, ou seja, de que a obrigação 
conscientemente assumida deve ser observada pelos contratantes, de 
modo a manter-se a segurança nas relações negociais. 
Cáio Mário Da Silva Pereira pondera que: 
Admitindo-se que os contratantes, ao celebrarem a avença, tiveram em 
vista o ambiente econômico contemporâneo, e previram razoavelmente 
para o futuro, o contrato tem de ser cumprido, ainda que não 
proporcione às partes o benefício esperado. 
Dito isso, os pactos firmados entre as partes previram de forma 
expressa o rateio das despesas decorrentes do furto de cabos, 
conforme se infere das cláusulas 3.6 e 3.6.4 do contrato 
DMSM330010905, fls. 1037/1038: 
3.6 Os serviços e materiais para manutenção corretiva, preventiva e 
operação da Rede de Acesso, excluídos os materiais de 
responsabilidade da CONTRATANTE conforme item 7.2, motivados por 
defeito, desgaste, irrecuperáveis, vandalismo, furtados, intempéries 
ou fim da vida útil, serão de responsabilidade da CONTRATADA. [...] 
DIREITO CIVIL I 
Marcelo Santos 
 30 
3.6.4 Para os eventos de furtos de cabos caberá à CONTRATANTE 
somente fornecer o cabo telefônico cabendo à CONTRATADA fornecer os 
demais insumos, materiais, miscelãneos e mão de obra para a 
reposição da planta nas condições originais do projeto. 
Vale repisar o depoimento prestado pela testemunha Cláudia , 
Gonçalves Dias, fls. 801 e seguintes: 
Testemunha: Cláudia Gonçalves Dias, brasileira, 34 anos, solteira, 
engenheira de produção, residente na rua Pereira Nunes, 148, casa 
10, bairro da Tijuca, Rio de Janeiro,RJ. 
PA: Entre dois mil e dois, dois mil e três e dois mil e quatro,