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SISTEMAS ESTRUTURAIS II SISTEMAS ESTRUTURAIS II Sistem as Estruturais II Felipe Corres Melachos Felipe Corres Melachos GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro A cadeira da tecnologia da construção engloba a viabilização construtiva das idea- ções projetuais do arquiteto e urbanista, de modo a integrar as disciplinas dos siste- mas estruturais e prediais em uma edi� cação funcional, confortável, sustentável e acessível. Essa integração de todos os componentes de uma edi� cação, entretanto, compreende um processo iterativo, de tentativa e erro, diretamente proporcional à experiência projetual e conhecimento técnico do pro� ssional em cada uma das disci- plinas construtivas. Entre essas disciplinas, os sistemas estruturais envolvem justamente a concepção formal-estrutural das edi� cações: o arranjo e ajuste contínuo de seus elementos geo- métricos constituintes durante o processo de projeto. A associação dessas formas geométricas em estruturas tem como objetivo principal atingir o equilíbrio estático interno e externo da edi� cação proposta – e são denominadas tipologias estruturais. Essas tipologias estruturais apresentam características, semelhanças e diferenças, especialmente no que diz respeito ao encaminhamento de esforços, materiais passí- veis de serem utilizados na execução, natureza de suas vinculações e vãos livres que podem vencer. Aproveite essa jornada e preste atenção às novas tecnologias de fabricação digital e ferramentas de design digital, bem como no desenvolvimento de novos materiais construtivos! Estudar sistemas estruturais hoje signi� ca testemunhar a quebra de paradigmas estabelecidos há décadas! SER_ARQURB_SEII_CAPA.indd 1,3 24/11/2020 12:49:07 © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Felipe Corres Melachos DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 2 24/11/2020 10:44:21 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 3 24/11/2020 10:44:21 Unidade 1 - A estrutura: cargas atuantes nas estruturas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 As estruturas na arquitetura............................................................................................... 13 Conceituação aplicada à arquitetura .......................................................................... 13 Concepção formal-estrutural na arquitetura .............................................................. 17 Tipologias estruturais ..................................................................................................... 22 Cargas atuantes nas estruturas ......................................................................................... 26 Tipos de cargas ................................................................................................................ 26 Características das cargas ............................................................................................ 30 Sintetizando ........................................................................................................................... 35 Referências bibliográficas ................................................................................................. 38 Sumário SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 4 24/11/2020 10:44:21 Sumário Unidade 2 - Concepção e fundamentação – estruturas em pórtico e cascas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 40 Estruturas em pórtico........................................................................................................... 41 Concepção e fundamentação ....................................................................................... 41 Materiais e pré-dimensionamento .............................................................................. 47 Estruturas em arco ............................................................................................................... 53 Concepção e fundamentação ....................................................................................... 53 Materiais e pré-dimensionamento .............................................................................. 59 Sintetizando ........................................................................................................................... 65 Referências bibliográficas ................................................................................................. 67 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 5 24/11/2020 10:44:21 Sumário Unidade 3 - Concepção e fundamentação: estruturas em placas e cascas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 69 Estruturas em placas ........................................................................................................... 70 Materiais e pré-dimensionamento ............................................................................... 77 Estruturas em cascas........................................................................................................... 82 Materiais e pré-dimensionamento ............................................................................... 86 Sintetizando ........................................................................................................................... 91 Referências bibliográficas ................................................................................................. 93 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 6 24/11/2020 10:44:21 Sumário Unidade 4 - Concepção e fundamentação de estruturas em membranas, estaiadas e pênseis Objetivos da unidade ........................................................................................................... 96 Estruturas estaiadas e pênseis .......................................................................................... 97 Concepção e fundamentação ....................................................................................... 97 Materiais e pré-dimensionamento ............................................................................. 106 Membranas tensionadas................................................................................................... 109 Concepçãoe fundamentação ..................................................................................... 110 Materiais e pré-dimensionamento ............................................................................. 116 Sintetizando ......................................................................................................................... 120 Referências bibliográficas ............................................................................................... 121 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 7 24/11/2020 10:44:21 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 8 24/11/2020 10:44:21 A cadeira da tecnologia da construção engloba a viabilização construtiva das ideações projetuais do arquiteto e urbanista, de modo a integrar as discipli- nas dos sistemas estruturais e prediais em uma edifi cação funcional, confortá- vel, sustentável e acessível. Essa integração de todos os componentes de uma edifi cação, entretanto, compreende um processo iterativo, de tentativa e erro, diretamente proporcional à experiência projetual e conhecimento técnico do profi ssional em cada uma das disciplinas construtivas. Entre essas disciplinas, os sistemas estruturais envolvem justamente a con- cepção formal-estrutural das edifi cações: o arranjo e ajuste contínuo de seus elementos geométricos constituintes durante o processo de projeto. A asso- ciação dessas formas geométricas em estruturas tem como objetivo principal atingir o equilíbrio estático interno e externo da edifi cação proposta – e são denominadas tipologias estruturais. Essas tipologias estruturais apresentam características, semelhanças e diferenças, especialmente no que diz respeito ao encaminhamento de esforços, materiais passíveis de serem utilizados na execução, natureza de suas vinculações e vãos livres que podem vencer. Aproveite essa jornada e preste atenção às novas tecnologias de fabricação digital e ferramentas de design digital, bem como no desenvolvimento de no- vos materiais construtivos! Estudar sistemas estruturais hoje signifi ca testemu- nhar a quebra de paradigmas estabelecidos há décadas! Apresentação SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 9 24/11/2020 10:44:22 Dedico este trabalho a minha família, a todos os docentes e pesquisadores de arquitetura e urbanismo e a todos os operários da construção civil de nosso país. Dedico, também, aos familiares e às vítimas da Covid-19 neste desafi ador ano de 2020. O professor Felipe Corres Melachos é Doutor em Arquitetura e Urbanismo (2020) com dupla titulação, pela Univer- sidade Presbiteriana Mackenzie e pela Università degli Studi di Ferrara (Uni- fe). Tem mestrado (2014) e graduação (2011) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Sua prática profi ssional é enriquecida pela docência, pesquisas acadêmicas e publicações no âmbito dos sistemas estruturais e projetos de Arquitetura e Urbanismo. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9240325806927160 SISTEMAS ESTRUTURAIS II 10 O autor SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 10 24/11/2020 10:44:22 A ESTRUTURA: CARGAS ATUANTES NAS ESTRUTURAS 1 UNIDADE SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 11 24/11/2020 10:44:41 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender o conceito de estrutura no âmbito da arquitetura; Conhecer e analisar os tipos e características de cargas atuantes nos sistemas estruturais das edificações. As estruturas na arquitetura Conceituação aplicada à arquitetura Concepção formal-estrutural na arquitetura Tipologias estruturais Cargas atuantes nas estruturas Tipos de cargas Características das cargas SISTEMAS ESTRUTURAIS II 12 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 12 24/11/2020 10:44:41 As estruturas na arquitetura O tópico inicial desta unidade debruça-se sobre a essência da cadeira dos sistemas estruturais: o conceito de estruturas. Para melhor explorar os predi- camentos intrínsecos ao conceito de estruturas na construção civil, este item foi dividido em três subtópicos: “Conceituação aplicada à arquitetura”, “Con- cepção formal-estrutural na arquitetura” e “Tipologias estruturais”. No primeiro subtópico, fi cam estabelecidas defi nições consagradas para o conceito de estruturas a partir de uma percepção holística até, fi nalmente, che- garmos ao âmbito de nosso interesse: os sistemas estruturais na arquitetura e urbanismo. No segundo item (“Concepção formal-estrutural na arquitetura”), procede-se a uma análise sobre o surgimento da estrutura no projeto arquite- tônico propriamente dito, sob o ponto de vista de seus elementos constituintes e atores envolvidos no processo. No terceiro, por fi m (“Tipologias estruturais”), faz-se um apanha- do dos agrupamentos de sistemas estruturais de maior dissemi- nação na construção civil. Antes do estabelecimento de taxonomias estruturais arbitrárias, esse tópico é importante exatamente por apresentar tais tipolo- gias estruturais, levando em conta os elementos construtivos responsáveis pelo encaminhamento de cargas e sua forma geométrica. Conceituação aplicada à arquitetura O conceito de estruturas está imbuído em virtualmente todas as áreas de co- nhecimento do mundo. Uma simples consulta ao dicionário revela a multiplicidade de facetas que a defi nição pode assumir conforme a óptica de sua interpretação. O Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (2020), por exemplo, apresen- ta 20 acepções para o termo “estrutura”, sendo sete delas interdisciplinares: 1. Organização e disposição das partes ou dos elementos essen- ciais que formam um corpo. 2. Arranjo de partículas ou componentes de uma substância ou corpo; textura. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 13 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 13 24/11/2020 10:44:41 3. Modo de construção de algo; formação [...] 5. Parte de algo que determina sua disposição de espaço e lhe dá sustentação; armação [...] 7. Organização das partes de algo de caráter genérico. 8. Parte essencial de algo (ideia, pensamento, teoria etc.) [...] 20. V esquema, acepção 1 (ESTRUTURA, 2020). Nota-se, portanto, que essa definição inicial trata o conceito como um eixo de organização de um corpo e seus componentes. Mesmo nessas acepções ge- néricas, entretanto, a lógica de estrutura como sistema de construção ou cons- tituição já aparece no terceiro sentido apresentado. A questão da sustentação, certamente presente nas associações suscitadas pelo conceito de estruturas no senso comum, aponta na quinta acepção. Dessa forma, não é de surpreender-se que as acepções específicas do verbete “estrutura” nos domínios da construção civil e da arquitetura agluti- nem os conceitos de sistema organizacional dos elementos que constituem a sustentação das edificações: “4 CONSTR Esqueleto ou armação de uma edifi- cação [...] 17 ARQUIT Maneira como as diversas partes de uma edificações são organizadas entre si”. Nessa mesma linha de raciocínio, Almeida (2015) define estrutura como um arranjo de elementos conectados entre si e que resultam em um sistema em equi- líbrio estático e dinâmico. Ao aplicarmos tal definição ao nosso redor, torna-se possível verificarmos que existe uma série de elementos que podem ser classifi- cados como estruturas, como por exemplo: os navios, para os engenheiros navais, na Figura 1 (a); os carros, para os engenheiros mecânicos, na Figura 1 (b); o mobi- liário, para os arquitetos e designers de interiores, na Figura 1 (c); e as edificações, para os arquitetos e engenheiros civis, na Figura 1 (d). EXPLICANDO Na física, entende-se que um corpo está em equilíbrio quando a soma de todas as forças que atuam sobre este corpo é nula. Um corpo está em equilíbrio estático quando, além de estar em equilíbrio, está parado: por exemplo, uma fruteira na mesa de jantar. O mesmo ocorre em relação ao equilíbrio dinâmico, com uma diferença que, ao invés de estar parado, o corpo está em equilíbrio e movimento uniforme, como um corredor de marcha atlética nas olimpíadas. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 14SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 14 24/11/2020 10:44:41 Figura 1. Existem estruturas construídas em diversas áreas do conhecimento: fragatas como as da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), retratadas na imagem (a), são estruturas de alta complexidade concebidas na en- genharia naval. Ao passo que essa mesma complexidade pode estar igualmente presente em escalas menores e quase artesanais, como nos automóveis esportivos, a exemplo da Lamborghini Gallardo LP 560-4 (b), e na cadeira Barcelona (c). Na arquitetura, há edifícios que explicitam seus elementos estruturais: o Centro Empresarial das Nações Unidas (CENU), na capital de São Paulo, é um exemplo (d). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A C B D No âmbito da arquitetura e construção civil, a estrutura pode ser entendida como o agrupamento de elementos geométricos constituintes que sustentam uma edificação. Esses elementos geométricos constituintes, por sua vez, têm como função primordial o encaminhamento das cargas, que acometem a edi- ficação rumo ao solo. Sabe-se que, pela força da gravidade, o encaminhamento mais direto das forças ao solo dá-se pela vertical. Assim, quanto mais direto manifestar-se esse encaminhamento de cargas, menor será o volume de elementos geométricos responsáveis pela sustentação da edificação. O Palazzo Ducale, em Veneza , mostrado na Figura 2 (a), apresenta colunas mais esbeltas no primeiro pavimento do que no pavimento térreo, pois o enca- minhamento vertical de forças foi diluído de três colunas no primeiro pavimen- to para duas colunas no pavimento térreo. Nesse caso, diz-se que houve uma transição estrutural feita pelos arcos situados entre os dois pavimentos que recebem as forças das colunas do primeiro pavimento e as transferem para colunas mais robustas no pavimento térreo. Da mesma maneira, quando existem mais elementos estruturais para rea- lizar o encaminhamento de esforços, suas dimensões tornam-se menores. O SISTEMAS ESTRUTURAIS II 15 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 15 24/11/2020 10:44:42 Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), visto na Figura 2 (b) e proje- tado por Oscar Niemeyer em 1991, consequentemente, exprime um pilar rela- tivamente robusto, já que esse elemento constitui a única alternativa para as cargas atuantes na edificação chegarem até ao solo. No caso do Museu de Arte de São Paulo (MASP), apresentado na Figura 2 (c) e projetado por Lina Bo Bardi em 1958, o vão livre de 70 metros culmina em um encaminhamento de forças não lineares, que, somado aos poucos apoios, tam- bém suscita pilares robustos. No Eden Project (Figura 2-d), de Cornwall (Reino Unido), projetado por Nicholas Grimshaw em 2001, observa-se a utilização de domos geodésicos de geometria amigável ao encaminhamento das cargas por elementos e materiais incrivelmente leves. ASSISTA O processo de execução do Eden Project foi repleto de desafios. Ao mesmo tempo que a escolha de seu sistema estrutural e suas fundações foram vitais para lidar com um terreno muito desgastado, a instalação de todos os módu- los estruturais só foi possível graças à sua leveza. Confira mais sobre este incrível projeto no vídeo The Eden Project, produzido por Nicholas Grimshaw, autor da obra. Figura 2. Encaminhamento de forças e linearidade. O encaminhamento de forças linear é bastante distribuído no Palazzo Ducale (a), em Veneza, e produz elementos estruturais mais esbeltos, ao passo que a presença de um único apoio no MAC de Niterói (b) suscita um apoio relativamente robusto. Se no MASP (c), em São Paulo, o vão de 70 metros e os poucos pila- res para receberem as cargas culminam em enormes apoios em suas laterais, a utilização de geometria otimizada e mui- tos módulos estruturais no Eden Project culminam em apoios esbeltos (d). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B C D SISTEMAS ESTRUTURAIS II 16 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 16 24/11/2020 10:44:44 Diante da pluralidade de elementos geométricos passíveis de serem utili- zados como elementos estruturais na arquitetura, é importante observar que seu arranjo mais usual ocorre no encaminhamento de forças por meio do sis- tema laje – viga – pilar. Nesse sistema, o encaminhamento da carga “q” (Figura 3) vai de lâminas horizontais (lajes) para barras horizontais (vigas), que, por sua vez, encaminham para barras verticais (pilares). Antes de chegarem ao solo, tais cargas são encaminhadas para as fundações. A conformação geométrica e construtiva dessas fundações varia, entre outros aspectos, conforme a natureza do solo, ocorrência e nível de lençóis freáticos subjacentes e a magnitude das cargas das edifi cações. No exemplo da Figura 3, as fundações ilustradas são as sapatas isoladas: lâminas posicionadas direta- mente abaixo dos pilares e utilizadas como alternativas para fundações rasas. Figura 3. Diagrama de sistema estrutural laje – viga – pilar, este constitui um dos elementos estruturais mais utilizados: as lâminas horizontais (lajes), barras horizontais (vigas) e barras verticais (pilares). Fonte: Fadesp, 2015, p. 13. Viga Viga Pilar Pilar Pilar Pilar Sapata Sapata Laje Sapata Sapata Concepção formal-estrutural na arquitetura Perante as variações estruturais apresentadas, é natural indagar-se acerca de qual seria a melhor solução estrutural; o célebre engenheiro civil Yopanan Rebello (2000, p. 25) responde a essa pergunta de maneira brilhante: SISTEMAS ESTRUTURAIS II 17 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 17 24/11/2020 10:44:44 Então, qual a melhor solução estrutural? Para responder à pergunta, é necessária a formulação de uma outra melhor: melhor em relação a quê? A mais fácil de construir? A mais bonita? A mais econômica? A melhor estrutura na verdade não existe. As múltiplas soluções estruturais expostas na Figura 2 têm, de fato, pontos positivos e negativos. O MASP, visto na Figura 2 (c), não é, seguramente, a estru- tura mais barata dessa relação, mas equaciona um dos principais objetivos pro- jetuais de sua arquiteta, Lina Bo Bardi, que é o de promover uma área de convi- vência sob o edifício capaz de receber manifestações culturais das mais variadas naturezas. Se a prioridade projetual de Lina Bo Bardi fosse a questão orçamentá- ria, haveria uma chance considerável de seu vão livre ser repartido em módulos estruturais menores, delimitados por pilares também menores que os originais. O sistema laje – viga – pilar (Figura 3) para estruturas de concreto armado, atinge um excelente custo-benefício para vãos livres até a ordem de oito metros de distância, culminando em sua ampla disseminação no globo para edificações produzidas em massa. No caso do Eden Project, visto na Figura 2 (d), todavia, a presença de pilares e o pé-direito possível dentro do espectro do sistema laje – viga – pilar não seriam condizentes com os objetivos do projeto: a criação de biomas de diversas partes do globo em cada redoma com condições climáticas mais próximas possíveis às originais de cada um. Existe, ainda, uma substancial confusão em nossa sociedade em relação às atribuições profissionais de arquitetos e urbanistas e engenheiros civis, assim como ocorre em relação a arquitetos e urbanistas e designers de interiores. Tudo isso dá-se, em partes, graças à variação das atribuições de cada um des- ses três profissionais no globo, mas é fundamental separar os conceitos de criação de estruturas e dimensionamento de estruturas. Rebello enriquece tal noção apontando a forma como a inter-relação des- ses elementos construtivos vai além do mero encaminhamento das cargas que acometem a edificação rumo ao solo e culminam em espaços onde ocorrem as atividades, isto é, pode-se afirmar que a estrutura dá forma ao espaço, bem como as aspirações de forma do arquiteto moldam a estrutura idealizada em um processo de retroalimentação e refinamento contínuo até o encerramento do projeto arquitetônico. Tendo em vista que forma e estrutura são indissociá-SISTEMAS ESTRUTURAIS II 18 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 18 24/11/2020 10:44:44 veis, é possível denominar a criação das estruturas na arquitetura como um processo de concepção formal-estrutural. O célebre engenheiro espanhol Eduardo Torroja (1960) ainda estabelece que a intenção ou conceito do arquiteto ou engenheiro por detrás da solução estrutural é o que realmente molda forma e estrutura. De maneira análoga, pode-se inferir que a criação das estruturas não necessariamente impacta sua materialização, e está calcada em preceitos qualitativos diretamente relaciona- dos à razão de ser do projeto em mãos. O dimensionamento estrutural é capaz de ser compreendido como um processo que gera a forma e dimensões exatas da estrutura previamente con- cebida. A ferramenta de cálculo utilizada para o dimensionamento, técnicas construtivas e materiais utilizados na materialização do sistema estrutural de- pendem, variam e partem de sua concepção formal-estrutural. Caso a concepção formal-estrutural inicial não leve em consideração as pro- priedades dos materiais mais apropriados para sua geometria, todo o trabalho de sua materialização deverá ser refeito, e vice-versa. O arquiteto alemão Frei Otto concebeu a cobertura do Estádio Olímpico de Munique, visto na Figura 4 (a), na Alemanha, em 1972, tendo em vista as potencialidades estáticas e geométri- cas das membranas tensionadas que experimentava havia anos. Ao trabalhar com membranas tensionadas na cobertura, Otto não podia usar esse sistema estrutural nos pilares, como mostrado na Figura 4 (b), do estádio, pois o tecido das membranas encaminha os esforços de tração da co- bertura com grande capacidade, porém sucumbe aos esforços de compressão de maneira quase inversamente proporcional. A tração que acomete os tiran- tes da cobertura em membrana tensionada é tamanha que, ao chegar ao solo, estes necessitam ser recebidos por elementos de concreto alinhados ao cami- nhamento de esforços da cobertura, como vistos na Figura 4 (c). CURIOSIDADE As explorações do arquiteto Frei Otto com o sistema estrutural das membranas tensionadas renderam-lhe o prêmio Pritzker de 2015, pouco antes de seu falecimento. Suas contribuições resultaram no Institute of Lightweight Structures and Conceptual Design (ILEK), pertencente à Universidade de Stuttgart (Alemanha). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 19 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 19 24/11/2020 10:44:44 Figura 4. Detalhe da cobertura do Estádio Olímpico de Munique. A utilização das membranas tensionadas na cobertura (a) con- cebida por Frei Otto revela uma consonância entre a geometria e as propriedades mecânicas do material utilizado no sistema es- trutural. Os sistemas estruturais, entretanto, demandam algumas propriedades de materiais específicas, de modo que os pilares que sustentam a cobertura são metálicos (b). O empuxo acometendo os tirantes da cobertura é tamanho que estes precisam ser recebidos no solo com afloramentos das fundações em concreto armado (c). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B C O rearranjo geométrico dos materiais que compõem os elementos estrutu- rais, contudo, deve implicar consideráveis incrementos de sua resistência e rigi- dez. Uma simples folha de papel dificilmente poderia absorver os esforços de compressão oriundos de um telefone celular sem sucumbir, mas seu rearranjo em rolos seria capaz de absorver esforços vindos de cargas muito maiores, exem- plificado na Figura 5 (a). O arquiteto japonês Shigeru Ban levou esse conceito ao extremo, “engenheirando” materiais derivados do papelão ao longo de mais de 30 anos de experimentação e produzindo estruturas e espaços incríveis deriva- dos desse composto: como a Catedral de Papelão em Christchurch, Nova Zelân- dia, exibida na Figura 5 (b). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 20 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 20 24/11/2020 10:44:46 Figura 5. Estruturas derivadas do papel. O rearranjo geométrico consegue transformar materiais aparentemente frá- geis em estruturas resistentes, como os depósitos industriais de papel (a) e até em obras de arquitetura consagradas, como a Catedral de Papelão (b), projetada pelo arquiteto Shigeru Ban (2012) na cidade de Christchurch, Nova Zelândia. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B Arquitetos e engenheiros conseguem criar estruturas indissociáveis, além de revestir essa ossatura em invólucros meramente superficiais, de acor- do com suas premissas projetuais. O engenheiro uruguaio Eladio Dieste, por exemplo, projetou e construiu a Igreja de Cristo Obrero entre 1956 e 1958 no balneário de Atlántida (Uruguai). Nesse projeto, as ondulações das cobertura e laterais, exibidas nas Figuras 6 (a) e (b), são essenciais para conter os esforços de flambagem e compressão, respectivamente, sem a presença de pilares para obstruir a fruição do espaço religioso proposto. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 21 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 21 24/11/2020 10:44:47 No caso do Museu Guggenheim de Bilbao, projetado por Frank Gehry em 1992, a estrutura interna do edifício, mostrada na Figura 6 (c) nem sempre segue a pele exterior de titânio, como visto na Figura 6 (d). Como o invólucro desse edifício nem sempre segue sua estrutura interna, a estruturação dessa pele demandou a execu- ção de um sistema estrutural metálico dedicado à sustentação. Seu projeto e construção exigiram um software de última geração, bem como esforços de produção e logística hercúleos para sua viabilização. Figura 6. Estruturas indissociadas e dissociadas da forma. As ondulações da cobertura (a) e laterais (b) da Igreja de Cris- to Obrero, projetada e construída por Eladio Dieste entre 1956 e 1958, compreendem um exemplo claro de concepção formal-estrutural indissociada. O Museu Guggenheim de Bilbao (c), projetado por Frank Gehry em 1992, apresenta uma pele de titânio que transcende a forma gerada por sua ossatura original, gerando a necessidade da concepção de uma estrutura auxiliar para sua sustentação (d). Fonte: (a-b): Adobestock; (c-d): Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B C D Tipologias estruturais Existem diversos sistemas de classifi cação dos sistemas estruturais. Antes de tudo, é importante estabelecer que, ao referirem-se ao termo “tipologias estruturais”, estes escritos remetem aos arranjos de elementos geométricos, no qual o comportamento estático já é consagrado e testado em larga escala. OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 22 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 22 24/11/2020 10:44:49 O engenheiro Yopanan Rebello, nos livros A concepção estrutural e a ar- quitetura (2000) e Bases para projetos estruturais (2007), parte de tipologias e elementos estruturais básicos, conhecidos como pilares, vigas, lajes, cabos e arcos. Essas tipologias elementares depois são associadas entre si para gerar estruturas de maior complexidade. Arcos romanos sobrepostos e ladeados, por exemplo, deram vazão aos seus famosos aquedutos, como o de Segóvia, na Espanha, visto na Figura 7 (a). A associação concêntrica de arcos romanos sobrepostos e ladeados, por sua vez, resultou em famosas arenas esportivas, como de El Jem, na Tunísia, mos- trada na Figura 7 (b). Se múltiplos arcos maiores forem rotacionados em torno de seus eixos centrais, no entanto, o resultado serão cúpulas grandiosas, como o Panteão de Roma, exposto na Figura 7 (c). Tais associações de arcos na forma de cúpulas foram bastante utilizadas na arquitetura moderna nacional. Exemplos de sua aplicação incluem a Oca do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, projeto de Oscar Niemeyer em 1951, visto na Figura 8 (a); o Auditório Celso Furtado, do Pavilhão de Convenções do Parque Anhembi, também em São Paulo, projetado pelo arquiteto Jorge Wilheim e pelo engenheiro Mario Franco entre os anos 1960 e 1970, mostrado na Figura 8 (b). Figura 7. Associações estruturais resultantes dos arcos. Os arcos são a matriz geométrica de muitas tipologias estruturaisimportantes na história da arquitetura. Sua disposição lado a lado e sobreposição linear deram vazão aos aquedutos ro- manos, como este de Segóvia, na Espanha (a). A disposição concêntrica e sobreposição desses arcos geraram os coliseus e arenas romanas, como a de El Jem, na Tunísia (b). Por fim, a rotação de múltiplos arcos de maior escala motivou cúpulas romanas de espacialidade impactante, como o Panteão de Roma (c). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 23 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 23 24/11/2020 10:44:50 Figura 8. Cúpulas na arquitetura moderna brasileira. Cúpula do Pavilhão Nogueira Garcez, também conhecido como Oca, projeto de Oscar Niemeyer, em São Paulo (a); Cúpula corrugada do Auditório Celso Furtado, no Parque Anhembi, também em São Paulo, projeto do arquiteto Jorge Wilheim e do engenheiro Mario Franco (b). A base das cúpulas necessita absor- ver muito empuxo derivado dos arcos que compõem sua superfície, de modo que hoje são utilizados robustos anéis de compressão. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B Além de partir de tipologias elementares para definir tipologias estruturais mais complexas, Rebello (2000, 2007) utilizava-se dos materiais concreto arma- do, madeira e aço para classificar sua tipologias estruturais. Heino Engel (2003), outro importante autor desta disciplina, contudo, classifica as estruturas em seu seminal livro Sistemas estruturais de acordo com o elemento responsável pelo en- caminhamento de esforços até o solo; por exemplo, estruturas constituídas por arcos, como os aquedutos e arenas romanas das Figuras 7 (a) e 7 (b), denominadas por Engel como tipologias de forma ativa. O mesmo pode ser dito para estruturas estaiadas e pênseis, compostas sobretudo pela forma de seus cabos constituintes. As cascas do Panteão, na Figura 7 (c), da Oca, na Figura 8 (a) e do Auditório do Parque Anhembi, na Figura 8 (b) são classificadas como tipologias de super- fície ativa. Nessas tipologias estruturais, a carga encaminha-se das leves cristas de suas cúpulas até os seus robustos embasamentos, responsáveis pela absor- ção do empuxo pela sua superfície. As membranas tensionadas de Frei Otto no Estádio Olímpico de Munique (Figura 4) também podem ser consideradas como estruturas de superfície ativa por encaminharem os esforços de tração pela densa trama de cabos que constituem sua membrana de cobertura. Estruturas treliçadas, no caso da cobertura do Estádio de Baseball de Seatt- le Safeco Field (Figura 9) são classificadas por Engel (2003) como tipologias de vetor ativo, pois seu encaminhamento de esforços ocorre por “decomposição vetorial, ou seja, através de uma subdivisão em forças unidirecionais (de com- pressão e tração)” (p. 41, tradução nossa). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 24 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 24 24/11/2020 10:44:51 Figura 9. Estruturas de vetor ativo. As estruturas treliçadas enquadram-se na tipologia de Engel como vetores ativos; a transmissão de cargas ocorre mediante a decomposição de vetores das diagonais das treliças. As estruturas treli- çadas atingem vãos consideráveis, e a complexidade de suas articulações permite inclusive a execução de coberturas retráteis, como a do Estádio Safeco Field acima, projeto de NBBJ e 360 Architects, em 1996, em Seattle (EUA). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. Figura 10. Estruturas de seções ativas. Os pórticos do MAM, do Rio de Janeiro, constituem um dos exemplos mais notáveis de estruturas de seção ativa do planeta. A inclinação de seus apoios laterais e suas lajes internas atirantadas estabelecem elementos de alta qualidade de concepção formal-estrutural. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. Seguindo esse raciocínio, é natural concluir que as estruturas conformadas pelo sistema laje – viga – pilar sejam classificadas como tipologias de seção ativa, pois a essência do encaminhamento de esforços nessas estruturas dá-se pelas dimen- sões nominais das seções dos pilares, vigas e lajes, isto é, quanto maior a seção do pilar, maior será o vão que sua área de influência poderá suportar. Os sistemas estruturais em pórtico também são classificados como pertencentes às seções ati- vas, mas a natureza de suas vinculações possibilita vãos maiores que o sistema laje – viga – pilar, como pode ser observado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) (Figura 10), projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy em 1953. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 25 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 25 24/11/2020 10:44:52 Por fim, edifícios altos classificam-se como estruturas de altura ativa, pois seu encaminhamento de esforços é ideali- zado para suportar ventos e cargas de muitos andares sobrepostos por meio de sua altura. A projetação de estruturas de altura ativa é um desafio também no âmbito das fundações, e impõe a necessidade de monitoramento via satélite das mo- vimentações dos edifícios graças ao vento em casos mais extremos. Cargas atuantes nas estruturas O segundo tópico desta unidade aborda alguns dos principais elementos qualitativos necessários à avaliação das ideações de concepção formal-estru- tural geradas ao longo do processo de projeto: as cargas. Para melhor abordar tais conceitos, esta parte foi dividida em dois subtópicos: “Tipos de cargas” e “Características das cargas”. No primeiro item, “Tipos de cargas”, tal qual explicita seu título, são delinea- dos os tipos de carga que podem acometer os sistemas estruturais na arqui- tetura e urbanismo. No segundo subtópico, “Características das cargas”, fi cam estabelecidas as propriedades de cada segmento taxonômico de cargas, bem como sua inter-relação com as vinculações, materialidade e geometria do siste- ma estrutural em questão. Tipos de cargas O conceito de carga nas estruturas é normatizado em território nacional pela defi nição presente na NBR 6120:2019 versão corrigida: 2019 – ações para o cálculo de estruturas de edifi cações. Nessa norma técnica, o conceito de car- ga é defi nido como “ação externa em virtude da gravidade” (ABNT, 2019, p. 4). A essas ações, também é possível dar o nome de forças, de modo a sincronizar essa defi nição com a linha de raciocínio destes escritos: de que as estruturas podem, por certo, ser entendidas como veículos de encaminhamento de forças atuantes nas construções. OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 26 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 26 24/11/2020 10:44:52 DICA As normas técnicas estão em constante revisão e atuali- zação, portanto, é preciso estar atento para não embasar seu trabalho em documentos defasados. Uma boa prática de verificar se alguma norma está vigente ou não é por meio do catálogo da própria ABNT. A NBR 6120:2019 versão corrigida: 2019 delineia, classifica e define as car- gas atuantes nas estruturas, mas é fundamental mencionar a NBR 6123:1988 versão corrigida 2:2013 – forças devido ao vento em edificações –, que des- creve e especifica as particularidades das forças derivadas dos ventos nas construções. A NBR 6120:2019 versão corrigida: 2019 define essencialmente as cargas das edificações como permanentes ou variáveis. Como é possível deduzir, as cargas permanentes acometem a edificação ao longo de toda a sua vida útil, ao passo que as cargas variáveis ocorrem apenas ocasionalmente. No- ta-se que a literatura correlata, como no caso de Rebello (2000, 2007), men- ciona cargas variáveis costumeiramente como carga acidentais. Entre as cargas permanentes, figuram-se: 1 - Peso próprio da estrutura; 2 - Peso específico dos materiais de construção; 3 - Peso dos componentes construtivos. O primeiro item (peso próprio da estrutura) consegue ser calculado utili- zando as dimensões nominais de cada elemento estrutural, bem como o peso específico do material usado em sua execução. No item seguinte (peso espe- cífico dos materiais de construção), diz respeito majoritariamente ao peso dosrevestimentos em geral e também é calculado mediante o peso específico apa- rente de cada material conforme a tabulação na NBR 6120:2019 versão corrigi- da: 2019 (Tabela 1). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 27 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 27 24/11/2020 10:44:53 Material Peso específi co aparente (γap) Blocos artifi ciais e pisos Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) 14 Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) 12 Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) 14 Blocos cerâmicos maciços 18 Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) 5.5 Blocos de vidro 9 Blocos sílico-calcáreos 20 Lajotas cerâmicas 18 Porcelanato 23 Terracota 21 TABELA 1 – PESOS ESPECÍFICOS DOS BLOCOS ARTIFICIAIS E PISOS CONFORME A ABNT NBR 6120:2019 VERSÃO CORRIGIDA: 2019. Blocos artifi ciais (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas Blocos artifi ciais e pisos Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas Blocos artifi ciais e pisos Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças Blocos artifi ciais e pisos Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos de concreto celular autoclavado Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos de vidro Blocos sílico-calcáreos Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos de vidro Blocos sílico-calcáreos Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos de vidro Blocos sílico-calcáreos Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos de vidro Blocos sílico-calcáreos Lajotas cerâmicas 14 Blocos de concreto celular autoclavado Blocos sílico-calcáreos Lajotas cerâmicas 12 Blocos sílico-calcáreos Lajotas cerâmicas Porcelanato Blocos sílico-calcáreos Lajotas cerâmicas Porcelanato 14 Lajotas cerâmicas Porcelanato TerracotaTerracota 18 Terracota 5.55.5 9 20 18 23 Fonte: ABNT, 2019, p. 15. (Adaptado). A NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 estipula uma série de pesos específi - cos para os mais diversos materiais e componentes construtivos. Para os mate- riais omissos nas extensas relações de dados dessa normativa, recomenda-se a consulta das tabelas originais da norma como norte, e a verifi cação de dados com o próprio fabricante do material, bem como normativas estrangeiras indi- cadas no próprio texto da norma. No que tange ao terceiro item (peso próprio dos componentes constru- tivos), a NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 designa que são aferidos os pesos de alvenarias (peso da espessura do revestimento por face em kN/ m2); divisórias e caixilhos (kN/m2); revestimentos de pisos e impermeabiliza- ções (kN/m2); telhas (peso na superfície inclinada em kN/m2); telhados (peso na superfície horizontal em kN/m2); enchimentos (peso específi co aparente γap em kN/m3); forros, dutos e sprinkler (kN/m2); tubos de aço cheios d’água (N/m). A norma menciona a possibilidade de cargas permanentes derivadas SISTEMAS ESTRUTURAIS II 28 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 28 24/11/2020 10:44:53 de materiais e armazenagem e empuxos e pressões hidrossanitários, mas não tabula seus valores como nos casos anteriores, fazendo sugestões para sua contemplação na forma de normativas estrangeiras e outras normati- vas nacionais correlatas. Em relação às cargas variáveis, a NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 as separa como: cargas decorrentes do uso da edificação; forças horizontais va- riáveis; cargas variáveis em coberturas; ações de construção; ações de veículos; helipontos; cargas em fábricas e armazéns; cargas diversas, como neve e gra- nizo. Não obstante, a carga da chuva já é considerada como carga permanente e incluída nos pesos específicos médios dos materiais de construção e com- ponentes construtivos. Por fim, é importante ressaltar que a NBR 6123:1988 versão corrigida 2:2013 delineia e especifica as particularidades das forças de- rivadas dos ventos nas construções como cargas variáveis. A previsão média da ocupação das construções é uma tarefa tanto quanto traiçoeira quando verificamos a maneira pela qual a ausência de terrenos va- gos nas centralidades das grandes cidade implica o reaproveitamento de edifi- cações existentes e sua conversão a usos muitas vezes distintos do original: o chamado retrofit das edificações. EXEMPLIFICANDO Um exemplo marcante do conceito de retrofit de edifica- ções em solo nacional é o Hotel Jaraguá. Inaugurado em 1954 como um dos hotéis mais luxuosos da cidade para as festividades do IV Centenário, esse edifício já abrigou diversos usos. Seus sistemas estruturais sofreram grandes alterações no retrofit conduzido por Miguel Juliano em 2004, quando pilares foram retirados para fazer uma rua interna em seu pavimento térreo; o processo foi retratado em sua dissertação de mestrado “Jaraguá: um retrofit” (2006). A NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 também estipula valores de cargas acidentais para diversos elementos associados a vários usos, tabulados em extensas listagens. A Tabela 2 ilustra, de maneira simplificada, os valores da normativa referentes ao uso residencial. Recomenda-sea todos os acadêmicos de arquitetura que façam uso constante das informações da tabela que deu SISTEMAS ESTRUTURAIS II 29 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 29 24/11/2020 10:44:53 origem a essa compilação ilustrativa: a “Tabela 10 – Valores característicos no- minais das cargas variáveis”, localizada nas páginas 17 a 27 da NBR 6120:2019 versão corrigida:2019. Local Carga uniformemente distribuida (kN/m2) Edifícios Residenciais Dormitórios 1,5 Sala, copa, cozinha 1,5 Sanitários 1,5 Despensa, área de serviço e lavanderia 2 Quadras esportivas 5 Salão de festas, salão de jogos 3 Áreas de uso comum 3 Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais 0,1 Sótão 2 Corredores dentro de unidades autônomas 2,5 Corredores de uso comum 3 Depósitos 3 TABELA 2. VALORES CARACTERÍSTICOS NOMINAIS DE CARGAS VARIÁVEIS PARA EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS CONFORME A NBR 6120:2019 VERSÃO CORRIGIDA: 2019 Edifícios Residenciais Edifícios ResidenciaisResidenciais Dormitórios Sala, copa, cozinha Despensa, área de serviço e lavanderia Dormitórios Sala, copa, cozinha Despensa, área de serviço e lavanderia Dormitórios Sala, copa, cozinha Sanitários Despensa, área de serviço e lavanderia Sala, copa, cozinha Sanitários Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Forros acessíveis para manutenção e sem es- Sala, copa, cozinha Sanitários Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Forros acessíveis para manutenção e sem es- Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- Corredores dentro de unidades autônomas Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais Corredores dentro de unidades autônomas Despensa, área de serviço e lavanderia Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais Corredores dentro de unidades autônomas Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais Sótão Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum 1,5 Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais Sótão Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum 1,5 Forros acessíveis para manutenção e sem es- Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum Depósitos 1,5 Forros acessíveis para manutenção e sem es- Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum Depósitos 2 Forros acessíveis para manutenção e sem es- Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum Depósitos 5 Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum 3 Corredores dentro de unidades autônomas 3 0,1 2,5 Fonte: ABNT, 2019, p. 15. (Adaptado). A NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 estipula cargas distribuídas e con- centradas para variados componentes dos mais diversos usos das edifi cações. Alguns usos mais específi cos demandam a consulta de notas técnicas e tabelas adicionais para sua aferição adequada. Características das cargas Algo importante a considerar-se nessa análise é que existem várias manei- ras para classifi car as cargas na construção civil, mas independentemente do viés taxonômico adotado, há certas características que precisam ser levadas em conta em sua análise. Talvez uma dessas principais características faça refe- rência ao conceito de distribuição de carga nos componentes estruturais, uma SISTEMAS ESTRUTURAIS II 30 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 30 24/11/2020 10:44:54 característica diretamente relacionada à geometria desses componentes. As cargas atuantes nas estruturas, assim, podem ter o atributo de serem distri- buídas sobre uma superfície, disseminadas sobre uma linha ou eixo, ou serem cargas concentradas ou pontuais. Tal como é possível verificar na Figura 11 (a), as cargas distribuídas normal- mente são representadas na literatura por setas distribuídas ao longo da su- perfície acometida pelas cargas. Cargas com essas características são referidas também como cargas superficiais e, entre os exemplos mais comuns de cargas distribuídas, configuram-se o peso próprio de uma laje e o peso dos revesti- mentos dos pisos dos ambiente, como na Figura 11 (b). Figura 11. Exemplos de cargas distribuídas sobre superfícies. Representação gráfica usual de cargas distribuídas sobre superfícies (a). Revestimento de piso e seus materiais construtivos correspondentes também são considerados cargas distribuídas sobre uma superfície (b). Fonte: (b): Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B SISTEMAS ESTRUTURAIS II 31 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 31 24/11/2020 10:44:55 As cargas distribuídas sobre um eixo são usualmente representadas por setas alinhadas de modo unifilar no eixo de interesse , como visto na Figura 12 (a), sendo também denominadas como cargas lineares. Entre as carga lineares mais usuais, há o peso próprio de vigas, de parede e vedações sobre vigas e lajes, exemplificado na Figura 12 (b) e estantes de livros. Figura 12. Exemplos de cargas distribuídas sobre eixos. Representação gráfica usual de cargas distribuídas sobre eixos (a). Vigas de concreto pré-moldado são um exemplo de carga linear, de modo que seu içamento e locação dependem da fixação dos equipamentos no eixo central da peça (b). Fonte: (b): Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. Por fim, as cargas também são capazes de apresentar características de se- rem concentradas em determinados pontos da geometria acometida. Tais cargas são normalmente representadas com uma única seta no ponto em que a carga BA Figura 13. Exemplos de cargas concentradas. Representação gráfica usual de cargas pontuais (a). Exemplos de vigas apoia- das em vigas como cargas pontuais e vigas apoiadas em pilares (b). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/09/2020. A B SISTEMAS ESTRUTURAIS II 32 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 32 24/11/2020 10:44:56 está solicitando a peça, como na Figura 13 (a). Dentre os exemplos mais usuais de cargas com essa característica, estão pilares aterrissando em vigas, como os da Figura 13 (b), vigas apoiadas sobre outras vigas, luminárias, vasilhames ou equipa- mentos particulares ao uso da edificação como bigornas e ferramentas em geral. As cargas nas edificações ainda podem ter diferentes características quanto à sua posição, sendo consideradas fixas, como na maior parte dos casos dos elementos estruturais, materiais de construção e componentes construtivos ou móveis. As cargas móveis são aquelas que mudam de posição na edificação, como no caso de automóveis no estacionamento ou os pêndulos de estabiliza- ção utilizados em estruturas de altura ativa, suscetíveis a ventos e vibrações. Tais pêndulos são chamados amortecedores de massa sintonizado (AMS) (Figura 14). As cargas das edificações ainda conseguem incorporar diferentes caracte- rísticas em relação à sua variação no tempo. O peso próprio das estruturas é uma carga considerada estática, exatamente por não variar ao longo do tempo. As cargas dos ventos, por exemplo, por apresentarem ação variada ao longo da vida útil do edifício, são consideradas cargas dinâmicas. No entanto, tal como apontado por Almeida (2015), ressalte-se que algumas das cargas dinâmicas podem ser calculadas como estáticas de modo a simplificar seu cálculo estru- tural e, assim, adquirem a característica de serem cargas pseudoestáticas. Figura 14. Edifício Taipei 101. Tomada geral do edifício Taipei 101, projetado pelos arquitetos C. Y. Lee e C. P. Wang, em Taipei, Taiwan, em 1999 (a). Pênduloque estabiliza as ações dos ventos na estrutura (b): trata-se do segundo maior pêndulo passivo do mundo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/09/2020. A B Em conclusão, pelo fato de as cargas serem efetivamente forças, é ne- cessário ter, em mente, que todas as cargas atuantes nas estruturas terão direção, sentido, intensidade e pontos de aplicação. O conceito de direção SISTEMAS ESTRUTURAIS II 33 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 33 24/11/2020 10:44:57 e sentido está introduzido em nosso vocabulário cotidiano com conotações diferentes daquelas da física. Ambas as forças (azul e vermelha) na Figura 15 têm a mesma dire- ção, sentidos opostos e intensidades diferentes. As forças, contu- do, estão aplicadas em pontos diferentes em cada um dos casos. Todos as cargas permanentes e variáveis que atingem os edifícios têm direção, sentido, in- tensidade e pontos de aplicação que precisam ser considerados na concepção formal-estrutural e di- mensionamento final de suas dimensões nominais. Figura 15. Propriedades das forças. Exemplos de direção, sentido, intensidade e ponto de aplicação. Fonte: Almeida, 2015, p. 21. (Adaptado). 3 N 8 N OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 34 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 34 24/11/2020 10:44:57 Sintetizando Esta unidade foi dividida em dois grandes tópicos: “As estruturas na arqui- tetura” e “Cargas atuantes nas estruturas”. No primeiro tópico, abordou-se a essência da cadeira dos sistemas estruturais: o conceito de estrutura aplica- do à arquitetura. Nesse primeiro tópico, também falamos sobre o processo de gerar estruturas dentro do projeto arquitetônico, bem como as formas e combinações geométricas mais usuais assumidas pelos sistemas estruturais. O segundo tópico versou especificamente sobre os tipos de cargas atuantes nos sistemas estruturais e as propriedades e características dessas cargas. O item “As estruturas na arquitetura” foi subdividido em três subtópicos: “Con- ceituação aplicada à arquitetura”, “Concepção formal-estrutural na arquitetura” e “Tipologias estruturais”. No primeiro, fica estabelecido o conceito de estruturas aplicado à arquitetura mantendo algumas semelhanças com sua acepção genéri- ca e constituindo um agrupamento de elementos geométricos responsáveis pela sustentação de uma edificação por meio da manutenção de seu equilíbrio. Da mesma maneira, ressalte-se que as estruturas nas construções po- dem ser encaradas como mecanismos de encaminhamento de cargas ao solo. Quanto mais direto for o encaminhamento e mais opções de chegada ao solo, menores serão as dimensões nominais de seus elementos constituintes. No próximo subtópico – “Concepção formal-estrutural na arquitetura” –, discutiu-se que não há uma solução estrutural ideal para um projeto arqui- tetônico, pois cada solução responde bem a alguns aspectos e não tão bem a outros. Presume-se, portanto, que o ideal é hierarquizar os elementos ar- quitetônicos a serem priorizados na solução projetual resultante, para, assim, encontrar o sistema construtivo que melhor atende a tais prerrogativas. Depois, houve um questionamento quanto à diferença que existe entre a con- cepção da estrutura e o seu cálculo; e que sua criação não implica sua materializa- ção. Criar uma estrutura é, dessa forma, muito mais que criar meios de sustenta- ção para uma construção, ou seja, é desenvolver formas e espaços. A criação das estruturas na arquitetura, logo, foi chamada de concepção formal-estrutural. As concepções formais-estruturais de arquitetos e engenheiros mundo afo- ra são dependentes dos materiais utilizados e de seu arranjo geométrico. Tal argumento parte do princípio de que alterações na forma de materiais aparen- SISTEMAS ESTRUTURAIS II 35 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 35 24/11/2020 10:44:57 temente leves podem produzir estruturas surpreendentemente rígidas. Verifi- cou-se ainda que há obras arquitetônicas em que os sistemas estruturais são amplamente evidenciados e indissociados dos espaços resultantes finais; ao passo que existem outras obras arquitetônicas icônicas em que a estrutura está ocultada por elementos estéticos de fachada ou decoração de interiores. Finalmente, no item “Tipologias estruturais”, foram apresentadas diversas estratégias de classificação de sistemas estruturais em tipologias estruturais; a definição ficou estabelecida como arranjos geométricos no qual o comporta- mento estático é atestado e disseminado. Nessa etapa da unidade, apresen- tou-se a maneira como os célebres engenheiros e autores Yopanan Rebello (2000, 2007) e Heino Engel (2003) classificam as tipologias estruturais. Yopanan Rebello optou por organizar as estruturas a partir de suas tipolo- gias elementares e derivar estruturas mais complexas conforme associações entre si. A tipologia dos arcos, por exemplo, ao ser rotacionada em seu eixo central em diversas unidades, dá origem à tipologia das cúpulas. Heino Engel ordenou as tipologias estruturais em função de sua natureza de encaminhamento de esforços. Ficaram situadas, pois, as tipologias estruturais das formas ativas, seções ativas, vetores ativos, superfícies ativas e alturas ativas. Nes- sas tipologias, forma, seções, vetores, superfícies e altura são os protagonistas no encaminhamento das cargas que acometem suas estruturas até o solo. O tópico “Cargas atuantes nas estruturas” foi dividido em dois subtópicos: “Tipos de cargas” e “Características das cargas”. No primeiro item, as cargas atuantes nas edificações foram classificadas conforme a NBR 6120:2019 ver- são corrigida: 2019 –ações para o cálculo de estruturas de edificações. Nessa normativa, as cargas são essencialmente discriminadas como cargas permanentes ou variáveis. Como é possível deduzir pelos respectivos nomes, as cargas permanentes são constantes; ao passo que as cargas variáveis ou acidentais oscilam durante a vida útil da edificação. Dentre as cargas permanentes, estão incluídos o peso próprio das estruturas, o peso específico dos materiais de construção e o peso dos componentes construtivos. Esses valores são tabulados e devem ser con- sultados no processo de concepção-formal de estruturas na arquitetura. As cargas variáveis são mais difíceis de prever por conta da crescente im- previsibilidade no uso dos edifícios atualmente. Da mesma maneira que ocorre SISTEMAS ESTRUTURAIS II 36 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 36 24/11/2020 10:44:57 com as cargas permanentes, as normas incluem tabulações para os valores dos elementos variáveis correspondentes a muitos usos arquitetônicos. Certas cargas classificadas como variáveis – o vento, por exemplo – exigem a consulta de normativas adicionais, como a NBR 6123:1988 versão corrigida 2:2013 – forças devido ao vento em edificações. Em outros itens específicos, como cargas derivadas de armazenamento e tanques, é possível demandar a consulta de normativas técnicas estrangeiras indicadas nas normas nacionais. Finalmente, o item “Características das cargas” estabelece propriedades passíveis de serem incorporadas por ambas – cargas permanentes e variáveis. Nesse momento, abordou-se a distribuição geométricas das cargas, entre cargas distribuídas em superfícies (como o peso das lajes) e distribuídas lineares (como o peso das vigas), assim como cargas pontuais (como pilares apoiados em vigas). Também foi apresentada a possibilidade de as cargas serem fixas (como os pilares das construções) ou móveis (como automóveis em estacionamentos). O subtópico encerrou-se apresentando a probabilidade de as cargas serem está- ticas (como o peso próprio da estrutura da construção), isto é, sem variação ao longo do tempo, ou dinâmicas, como o vento. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 37 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 37 24/11/2020 10:44:57 Referências bibliográficas ALMEIDA, M. C. F. A. Estruturas isostáticas. São Paulo: Oficina de Textos, 2015. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMASTÉCNICAS. NBR 6120:2019 Ver- são Corrigida:2019: ações para o cálculo de estruturas em edificações. Rio de Janeiro, 2019. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123:1988 Versão Corrigida 2:2013: forças devido ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 2013. ENGEL, H. Sistemas estruturais. Barcelona: Gustavo Gili, 2003. ESTRUTURA. In: MELHORAMENTOS. Michaelis Dicionário Brasileiro da Lín- gua Portuguesa. [s.l.]: Melhoramentos, 2020. Disponível em: <https://michae- lis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/estrutura/>. Acesso em: 17 ago. 2020. FUNDAÇÃO DE AMPARO E DESENVOLVIMENTO À PESQUISA (FADESP). Prefei- tura Municipal de Parauapebas – Concurso Público: Prova Objetiva. [s.l.]: Fa- desp, 2015. REBELLO, Y. C. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000. REBELLO, Y. C. Bases para projeto estrutural na arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2007. SILVA, M., J. Jaraguá: um retrofit. 2006. 95 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Dispo- nível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-16052007- 161134/publico/Dissertacao.pdf>. Acesso em: 20 set. 2020. THE EDEN Project. Postado por Grimshaw Architects. (8min. 29s.). son. color. eng. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wuOjoU27wx4>. Acesso em: 17 ago. 2020. TORROJA, E. Razón y ser de los tipos estructurales. Madrid: Artes Gráficas MAG, S. L., 1960. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 38 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 38 24/11/2020 10:44:57 CONCEPÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO – ESTRUTURAS EM PÓRTICO E CASCAS 2 UNIDADE SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 39 24/11/2020 11:04:15 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender a concepção e fundamentação de estruturas em pórtico; Compreender a concepção e fundamentação de estruturas em arco.; Estruturas em pórtico Concepção e fundamentação Materiais e pré-dimensionamento Estruturas em arco Concepção e fundamentação Materiais e pré-dimensionamento SISTEMAS ESTRUTURAIS II 40 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 40 24/11/2020 11:04:15 Estruturas em pórtico Inicialmente, esta unidade se debruça sobre os parâmetros necessários para a projetação e geometrização das estruturas em pórtico. Esta se tra- ta de uma tipologia estrutural presente em obras icônicas da arquitetura moderna brasileira, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, pro- jetado pelo arquiteto Aff onso Eduardo Reidy, em 1952, porém de dissemi- nação cada vez mais rarefeita na construção civil contemporânea. Isto se dá, majoritariamente, em função da natureza das vinculações entre seus componentes estruturais. Também é importante ressaltar que a nomenclatura desta tipologia ocasionalmente acaba sendo usada de forma errada, como para descrever estruturas convencionais em pilar–viga–laje. Assim, este tópico visa tanto retifi car certos vícios de interpretação estrutural, quanto demonstrar as po- tencialidades de sua aplicação na construção civil dos dias de hoje. Desta maneira, no que diz respeito à sua concepção e fundamentação, fi cam estabelecidas as prerrogativas conceituais acerca do equilíbrio estáti- co, além de propriedades geométricas das estruturas em pórtico. Já em relação a materiais e pré-dimensionamento, são lançadas possi- bilidades de materialidades para esta tipologia estrutural, além de serem discriminadas estratégias para seu pré-dimensionamento a nível de estudo preliminar e anteprojeto. Esta seção, tem como objetivo, ensinar estudantes de arquitetura e jovens profi ssionais com estratégias consolidadas de deter- minação da geometria dos componentes estruturais e, assim, dinamizar e dar mais confi ança a suas investidas projetuais iniciais. Concepção e fundamentação As estruturas em pórtico são derivadas do arranjo de barras verticais e horizontais, denominadas pilares e vigas, respectivamente, em uma geo- metria em formato de trave de gol, conhecidas na construção civil como ar- quitraves. Entretanto, a natureza da vinculação entre estes pilares e vigas diferencia estas geometrias do sistema estrutural convencional de pilar-vi- ga-laje (Figura 1a) das estruturas em pórtico (Figura 1b). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 41 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 41 24/11/2020 11:04:15 EXPLICANDO De acordo com o Dicionário Brasileiro de Arquitetura de Eduardo Corona e Carlos Lemos, o termo “arquitrave” pode ser definido como uma “[...] viga [...] que se apoia, em suas extremidades, em colunas ou pilares. Carac- teriza o sistema arquitravado de envasaduras cujas vergas são planas e horizontais” (1972, p. 54-55). Portanto, é relativamente comum encontrar o termo “arquitravado” como sinônimo de uma estrutura em pórtico. Também é importante ressaltar que Corona e Lemos se utilizam do termo “envasadura” para alcunhar o vão resultante da arquitrave, isto é: o vão entre os pilares e a viga. É importante ressaltar que as vigas biapoiadas (a) e os pórticos (b) derivam da arquitrave, variando justamente na vinculação entre pilares e vigas. Assim, mediante cargas equivalentes (q), as deformações e volume dos componentes estruturais presentes variam em cada um destes sistemas estruturais. Figura 1. Exemplos de viga biapoiada e pórtico. (Adaptado). Pilares e vigas contendo vinculações articuladas, isto é, com possibilidade de giro, constituem estruturas denominadas vigas biapoiadas. Já vigas conecta- das aos pilares de maneira rígida, isto é, sem permitir a ocorrência de giro, cons- tituem estruturas em pórtico. Assim sendo, Yopanan Rebello define o pórtico como “toda estatura em que a ligação entre vigas e pilares é rígida” (2000, p. 169). A Figura 1 indica que, para cargas equivalentes q, a deformação a > b. Isto significa que a rigidez dos vínculos em pórticos faz com que a deformação em vigas biapoiadas resultante da carga q, simbolizada na Figura 1a como a, seja maior que a mesma deformação em estruturas em pórtico, simbolizada na Fi- gura 1b como b. q q Viga biapoiada Pórtico a b A B SISTEMAS ESTRUTURAIS II 42 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 42 24/11/2020 11:04:15 EXEMPLIFICANDO Vinculações articuladas são aquelas que permitem o giro e podem adquirir duas conformações: os apoios articulados moveis e os apoios articula- dos fixos. Estruturas de vigas biapoiadas como o MUBE, projeto de Paulo Mendes da Rocha de 1987, possuem apoios articulados fixos em um lado e moveis no outro. Apoios articulados moveis travam apenas a movimentação vertical, permitindo o translado na horizontal. Já apoios articulados travam a movimentação vertical e horizontal, permitindo o giro. Por fim, apoios rígidos ou engastados travam a movimentação horizontal e vertical, além do giro. Figura 2. Exemplo de vínculos rígidos ou engastes em escada fixada na parede. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/10/2020. Consequentemente, por sofrerem deformações menores, as vigas de siste- mas estruturais em pórtico tendem a ser menores que suas equivalentes nas estruturas de vigas biapoiadas. Entretanto, estruturas em pórtico encaminham não apenas esforços de compressão para seus pilares, como também esforços de momento fletor. À vista disso, os pilares das estruturas em pórtico tendem a ser mais volumosos que os pilares de estruturas biapoiadas, independente- mente do sistema estrutural adotado. Logo, quanto mais rígida for a natureza das vinculações entre pilar e viga, mais volumosos serão os apoios, e vice-versa. Tal como evidenciado na Figura 3, existem diversas configurações de pórti- co. Estes últimos podem conter vários pilares (Figura 3a), ser sobrepostos em vários andares (Figura 2b) ou mesmo conter pilares e vigas anguladas (Figura 3c). Todavia, dentre as configurações de estruturas em pórtico ilustradas na Fi- gura 3, a variação de pórticos contendo múltiplos apoios é a mais antiga, datan- do da antiguidade clássica e manifestando-se até a virada do século XIX para o século XX em diferentes roupagense estilos arquitetônicos. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 43 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 43 24/11/2020 11:04:17 Figura 3. Diferentes configurações de pórticos: contendo vários apoios (a), empilhados (b) e angulados (c). (Adaptado). A teoria da resistência dos mate- riais se consolidou entre os séculos XVIII e XIX, ao passo que a elabora- ção de vínculos articulados capazes de resistir a esforços de grandes edi- ficações se deu apenas nas décadas finais do século XIX e primeiras do sé- culo XX. Assim, neste período, houve um aumento de estruturas em vigas biapoiadas em detrimento de estru- turas em pórtico. Todavia, algumas edificações icô- nicas foram e continuam sendo er- guidas em pórtico. Um bom exemplo é o Museu de Arte de Moderna do Rio de Janeiro (Figura 4c), projeto de Af- fonso Eduardo Reidy construído em 1948, que é estruturado por pórticos angulados. Outro exemplo marcante é a fa- chada do edifício Acal (Figura 4d), construído em 1974, em São Paulo, e projetado por Pedro Paulo de Melo Saraiva, Sergio Fischer e Henrique Cam- biaghi Filho. A fachada do edifício Acal constitui uma estrutura em pórticos empilhados e, devido à sua altura, estes pórticos da fachada tiveram que receber contraventamentos em sua diagonal para lidar com os momentos fletores resultantes. A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 44 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 44 24/11/2020 11:04:18 Figura 4. Pórticos ao longo da história da arquitetura. Fonte: (a-c) Shutterstock. Acesso em: 27/10/2020. Figura 4 (d). Fachada do edifício Acal. Fonte: VITRUVIUS, 2011, n.p. A B C D SISTEMAS ESTRUTURAIS II 45 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 45 24/11/2020 11:04:22 Dada a incidência das forças dos ventos em matizes horizontais, não é de se espantar que os pórticos sejam também utilizados em estruturas de grandes al- turas, tal como demonstrou-se na fachada do edifício Acal. A absorção eficiente de cargas horizontais também faz com que estruturas em pórtico sejam adotadas em garagens verticais devido à natureza dos esforços de frenagem dos veículos. Outro ponto importante a ser salientado é que a absorção dos esforços nestas estruturas de pórtico se dá justamente através da área e altura das seções de vigas e pilares que a constituem. Assim sendo, dentro dos parâmetros taxonômicos de Engel (2003), as estruturas em pórtico podem ser classificadas como estruturas de seção ativa. O pórtico do templo de Erecteion, próximo à Acrópole de Atenas (Grécia), data do sec. V a. C. (a) e é famoso por conter pilares na forma de Cariátides, que susten- tam o peso do templo com a aparente fragilidade das divindades gregas femininas. Já o pórtico de San Luca (b), em Bologna, foi erguido entre os séculos XVII e XVIII e contém 666 arcos e mais de 3,5 km de extensão. Ambos possuem vários apoios, ao passo que o pórtico do MAM (c) exemplifica um pórtico inclinado. Por fim, a estrutura do edifício ACAL (d), em São Paulo, exemplifica pórticos empilhados. Entretanto, independentemente de sua configuração, as estruturas em pórtico tendem a ser mais eficientes que as estruturas de vigas biapoiadas, ao menos no que diz respeito à absorção de esforços horizontais. Isto se dá, mais uma vez, pela diferença das vinculações entre pórticos e vigas biapoiadas. Como pode ser verificado na Figura 5, dados parâmetros de vão, cargas horizon- tais q e materiais construtivos equivalentes, as cargas horizontais nas vigas biapoiadas são absorvidas apenas pelos pilares, tendo em vista a desvinculação relativa entre pilares e vigas (Figura 5a). Já no caso das estruturas em pórtico, o que ocorre é uma assimilação conjunta entre pilares e vigas destes esforços horizontais (Figura 5b). 9 9 Figura 5. Absorção dos esforços horizontais em estruturas de vigas biapoiadas e pórticos. (Adaptado). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 46 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 46 24/11/2020 11:04:22 Materiais e pré-dimensionamento O templo de Erecteion ilustra a maneira com que estruturas em pórticos são passiveis de ser executadas em pedra desde a antiguidade. De fato, a pedra, em suas mais variadas formas de manipulação, constituiu a variação predominante de estruturação de pórticos por quase dois mil anos. Existem exemplares extremamente extensos concebidos em pedra, como é o caso do Pórtico de San Luca em Bologna, que percorre mais de 3,5 km de extensão. Todavia, sistemas estruturais em pórtico contemporâneos são usual- mente executados em concreto armado, aço ou madeira. Deve-se ressaltar entretanto que, independentemente do material utilizado, sistemas estru- turais em pórtico demandam um volume maior de seus componentes estru- turais, de modo a suportar a internalização dos giros de suas vigas. Devido ao maior volume de seus componentes estruturais, é natural ve- rifi car questões de logísticas associadas à sua especifi cação enquanto tipo- logia estrutural. Estas questões logísticas, por sua vez, podem incorrer na difi culdade de obter espaço para a concretagem de elementos tão grandes em concreto armado moldado in loco. Afi nal, a execução de estruturas em concreto armado in loco implica em sua moldagem e concretagem no pró- prio local do canteiro de obras, suscitando uma área maior deste último. Da mesma maneira, o transporte de peças volumosas de pórticos, seja em concreto armado pré-moldado, madeira ou aço, pode demandar tratati- vas especiais com as autoridades de trânsito para sua chegada ao canteiro, envolvendo horários e rotas alternativas. Isso posto, pode-se afi rmar, en- tretanto, que a principal difi culdade na determinação dos materiais cons- trutivos a serem utilizados consiste na execução das ligações rígidas em estruturas de pórtico. No caso do concreto armado, esta ligação rígida ocorre natu- ralmente durante a concretagem das peças, ao passo que, no caso da madeira e do metal, são necessá- rias ligações cuidadosamente projetadas (Figura 6). No caso da madeira laminada, também existe a possibilidade de realizar esta ligação por meio do processo de laminação. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 47 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 47 24/11/2020 11:04:23 Figura 6. Ligações rígidas em metal e madeira. Pórticos em metal costumam ser equacionados por meio de soldas (a), e tanto o metal (b) quando a madeira (c) podem ser rebitados ou enrijecidos através de cantoneiras. Fonte: Shuttersto- ck. Acesso em: 27/10/2020. ASSISTA A execução de estruturas em madeira laminada no Brasil está em processo incipiente, ao passo que sua utilização no exte- rior abrange inclusive edificações de grandes alturas. Todavia, existem alguns pioneiros, como o engenheiro Hélio Olga. As- sim, o vídeo disponibilizado discorre sobre a trajetória de Hélio, além de suas experiencias com laminação de madeira. A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 48 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 48 24/11/2020 11:04:26 Já no âmbito do pré-dimensionamento dos pórticos, é importante nos aten- tarmos aos ábacos já consolidados de Engel (2003) e Rebello (2000). Na Figura 6, ocorre uma sistematização dos ábacos de pré-dimensionamento de Engel, em que os vãos passíveis de serem atingidos pelos pórticos ficam discriminados en- tre vãos possíveis e ótimos. Na coluna dos vãos possíveis, ficam estabelecidos os parâmetros dimensionais máximos e mínimos para os limites estáticos de cada um dos materiais pré-elencados (concreto armado, aço e madeira). Já o Quadro 1 indica que, independentemente do material elencado, os pór- ticos em aço alcançam os maiores vãos possíveis e otimizados, em comparação ao concreto armado e à madeira. Para pórticos estruturados em aço, pórticos únicos, com múltiplos apoios e empilhados atingem respectivamente vãos pos- síveis máximos de 80, 85 e 90 metros. Já para os vãos otimizados, os pórticos estruturados em aço chegam a 60, 65 e 70 metros para pórticos únicos, com múltiplos apoios e empilhados. Consequentemente, constata-se que a tipologia dos pórticos empilhadossão as que apresentam a maior possibilidade de vão a serem vencidos. Ainda de acordo com a figura supra- citada, destaca-se que os vãos mínimos possíveis para todas as tipologias de pórticos e materiais relacionados cos- tumam figurar por volta de 10 metros. No entanto, há exceções neste sentido, como no caso de vão mínimo possível de 7 e 8 metros, respectivamente, para pórticos únicos e com múltiplos apoios de concreto armado. No que diz respeito aos vãos otimizados, o Quadro 1 sugere vãos mínimos de 15 a 20 metros para madeira laminada e aço. Já os pórticos de concreto armado possuem vão mínimo da ordem de 10 metros para pórticos únicos e com múlti- plos apoios e 15 metros para vãos mínimos de pórticos empilhados. O Quadro 2 traz outro parâmetro de pré-dimensionamento para pórticos bastante difundido na comunidade cientifica: os ábacos do engenheiro Yopanan Conrado Rebello (2000). Diferentemente de Engel, que apenas trabalha com pa- râmetros derivados do vão livre, este valioso conjunto de ábacos procura pré-di- mensionar os parâmetros de espessura (D), altura livre (H) e vão livre (L). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 49 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 49 24/11/2020 11:04:27 Tipologia de pórtico Material construtivo Vão possível (m) Vão ótimo (m) Madeira laminada 10 a 50 15 a 40 Metal (aço) 10 a 80 15 a 60 Concreto armado 7 a 30 10 a 25 Madeira laminada 10 a 55 15 a 45 Metal (aço) 10 a 85 15 a 65 Concreto armado 8 a 55 10 a 25 Madeira laminada 15 a 60 20 a 50 Metal (aço) 15 a 90 20 a 70 Concreto armado 10 a 40 15 a 30 Pórticos empilhados Madeira Madeira laminada Madeira laminadalaminada Metal (aço)Metal (aço)Metal (aço) Concreto 10 a 50 Concreto armado 10 a 50 Concreto armado 10 a 80 armado Madeira laminada 10 a 80 Madeira laminada 15 a 40 10 a 80 Madeira laminada Metal (aço) 15 a 40 7 a 30 laminada Metal (aço) 15 a 40 7 a 30 Metal (aço) 15 a 60 10 a 55 Metal (aço) 15 a 60 10 a 5510 a 55 10 a 25 10 a 85 10 a 25 10 a 85 15 a 4515 a 4515 a 45 15 a 6515 a 65 Pórticos empilhadosPórticos empilhadosPórticos empilhadosPórticos empilhadosPórticos empilhadosPórticos empilhados Concreto Concreto armado Concreto armadoarmado Madeira laminada Madeira laminada 8 a 55 laminada Metal (aço) 8 a 55 Metal (aço)Metal (aço) 15 a 60 Metal (aço) Concreto armado 15 a 60 Concreto armado 10 a 25 Concreto armado 10 a 25 15 a 90 10 a 25 15 a 90 20 a 50 10 a 40 20 a 50 10 a 40 20 a 70 10 a 40 20 a 7020 a 70 15 a 3015 a 30 QUADRO 1. VÃOS MÁXIMOS E VÃOS OTIMIZADOS PARA PÓRTICOS ÚNICOS, COM MÚLTIPLOS APOIOS E EMPILHADOS, DEVIDAMENTE DISCRIMINADOS EM CONCRETO ARMADO, MADEIRA E AÇO Fonte: ENGEL, 2003, p. 176. (Adaptado). Assim como nos preceitos de Engel, os ábacos de Rebello são discrimina- dos por três principais materiais: concreto armado, aço e madeira laminada. Entretanto, diferentemente do primeiro, Rebello não diferencia em seus ábacos as possíveis tipologias de pórticos. Considera-se estaticamente viável as com- binações de altura livre (H), vão livre (L) e espessura (D) destacadas em cinza. Da mesma maneira que em Engel, os pórticos estruturados em aço atingem maiores vãos no Qua- Pórtico com múltiplos apoios Pórtico único SISTEMAS ESTRUTURAIS II 50 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 50 24/11/2020 11:04:28 dro 2. Entretanto, os ábacos de Rebello não empregam a distinção entre vãos possíveis e vãos ótimos, se atentando apenas a combinações dos parâme- tros já mencionados e que seriam es- taticamente viáveis. Como os escritos de Engel são uma publicação de um livro mais antigo, é natural que estes vãos de aço sejam maiores em Rebello, chegando a atingir 90 m ao invés dos 70 m para pórticos empilhados estipulados anteriormen- te. Estes vãos maiores, entretanto, cul- minam em espessuras de até 2,40 m para pórticos em aço. O Quadro 2 também indica que pórticos de concreto armado e de ma- deira laminada apresentam vãos livres muito semelhantes, da mesma manei- ra que em Engel, chegando à ordem de 36 m. Estes vãos são acompanhados por alturas semelhantes, que variam de 0,45 m (para ambos os materiais) até 1,50 m para o concreto armado e 1,20 m para a madeira. Algo importante de se estabelecer para ambos os parâmetros de dimensio- namento é que, embora mais novos, os ábacos de Yopanan Rebello refletem a realidade construtiva nacional. A verdade é que temos um grande caminho a percorrer no âmbito das estruturas em madeira, apesar de enormes reservas florestais e técnicas estabelecidas de en- genharia florestal e manejo sustentável à disposição. As- sim sendo, os ábacos de Engel apresentam vãos maiores para a madeira laminada, uma vez que apresentam pano- ramas internacionais de pré-dimensionamento. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 51 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 51 24/11/2020 11:04:30 QUADRO 2. ÁBACOS RESULTANTES QUE INDICAM PARÂMETROS DIMENSIONAIS PARA PÓRTICOS ESTRUTURADOS EM CONCRETO ARMADO, AÇO E MADEIRA Pórticos de Madeira Espessura (D) em metros 0,45 0,60 0,90 1,20 15 12 9 6 3 0 4,5 9 13,5 18 22,5 27 31,5 36 40,5 45 Vão (L) em metro 15 12 9 0,45 6 3 0,600,60 4,5 9 0,90 13,5 0,90 13,5 18 1,20 22,522,5 2727 31,5 36 40,540,5 45 Fonte: REBELLO, 2000, p. 174-175. (Adaptado). Pórticos de Concreto Espessura (D) em metros 0,45 0,60 0,90 1,50 15,0 12,0 9,0 6,0 3,0 0 4,5 9 13,5 18 22,5 27 31,5 36 50,5 Vão (L) em metro 15,015,0 12,012,0 9,0 0,45 6,0 3,0 0,60 3,0 0,60 0 4,5 0,900,90 9 13,513,5 1,50 18 22,522,5 27 31,531,5 36 50,5 A lt ur a (H ) e m m et ro s Pórticos de Aço Espessura (D) em metros 0,60 0,90 1,20 1,50 2,1 2,40 30,0 24,0 18,0 12,0 6,0 0 9 18 27 36 45 54 63 72 81 90 Vão (L) em metro 30,0 0,60 30,0 24,024,0 18,0 0,90 18,0 0,90 12,0 6,0 0 1,201,20 18 1,50 27 36 2,1 45 54 2,402,40 63 7272 81 90 A lt ur a (H ) e m m et ro s A lt ur a (H ) e m m et ro s SISTEMAS ESTRUTURAIS II 52 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 52 24/11/2020 11:04:31 Estruturas em arco A segunda parte desta unidade explora os preceitos necessários para a projeta- ção e geometrização das estruturas em arco. As estruturas em arco, assim como as estruturas em pórtico, estão presentes desde a antiguidade clássica, e deram origem a edifícios e marcos urbanos icônicos como o Gateway Arch, de Saint Louis, projetado pelo arquiteto fi nlandês Eero Saarinem, em 1947. Entretanto, ao contrário das estrutu- ras em pórtico, as estruturas em arco apresentam maior disseminação na arquitetura do século XX e XXI. O elemento geométrico do arco constitui um grande gerador de formas na arqui- tetura, podendo dar vazão a estruturas mais complexas, como abóbadas e cúpulas. Todavia, as possibilidades desta matriz geométrica se expandiram consideravelmente com a consolidação do concreto armado enquanto sistema construtivo. É importante ressaltar que avanços na laminação de madeiras engenheiradas e na usinagem de li- gas metálicas também corroboraram para estruturas em arcos grandiosas e esbeltas. Assim, em relação à sua concepção e fundamentação, fi cam estabelecidas as pre- missas conceituais sobre o equilíbrio estático e as propriedades geométricas das es- truturas em arco. Já em relação a materiais e pré-dimensionamento, fi cam delineadas as diferentes aplicações de materiais para a tipologia estrutural dos arcos, assim como parâmetros consagrados em seu pré-dimensionamento para anteprojetos e estudos preliminares de arquitetura. Concepção e fundamentação A plena compreensão das estruturas em arco parte de uma análise mais apro- fundada de estruturas derivadas de cabos. Estes últimos, quando submetidos a um carregamento, assumem uma forma de equilíbrio condizente com o posicionamen- to, quantidade e magnitude deste carregamento. Assim, a forma que o cabo adquire após deformar-se mediante carregamento e rumo ao equilíbrio é denominadafunicular. Isso posto, a Figura 7a indica a funicular de um cabo para um único carregamento, a Figura 7b indica a funicular de um cabo para dois carregamentos simétricos e a Figura 7c indica um tipo especial de funicu- lar. Esta última é denominada catenária e caracteriza-se pela distribuição uniforme de carregamentos ao longo de seu comprimento. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 53 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 53 24/11/2020 11:04:31 Figura 7. Comportamento de cabos mediante carregamentos. (Adaptado). Figura 8. Comportamento de arcos mediante carregamentos. (Adaptado). A literatura determina que estruturas em cabo apenas respondam a esfor- ços de tração simples. Isto é relativamente fácil de se constatar com um sim- ples barbante, que se torna rígido quando esticado e disforme ao ser compri- mido em nossas mãos. Assim sendo, se invertermos as funiculares dos cabos da Figura 7, obteremos estruturas submetidas a compressão simples, como na Figura 8. A estas formas, resultantes do rebatimento das funiculares dos cabos correspondentes, damos o nome de arcos. ASSISTA Em 2017, o Instituo Tomie Ohtake hospedou uma exposição sobre a obra do arquiteto catalão Antoni Gaudí, cujas es- truturas são, em grande parte, derivadas de arcos de cate- nária. Isso posto, o documentário disponibilizado Gaudí 1900, do Instituto Brasiliana, ilustra o processo de projeto de Gaudí através deste rebatimento de funiculares. Levando em consideração o conceito proposto, pode-se afirmar que a catenária de um cabo corresponde à deformação oriunda de seu peso próprio (Figura 7c). Da mesma maneira, o rebatimento da catenária de um cabo configura a forma de um arco submetido a esforços de compressão simples oriundos de seu peso próprio. A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 54 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 54 24/11/2020 11:04:31 Projetar levando em conta o conceito de arcos de catenária promove es- truturas de arcos eficientes, uma vez que sua estrutura estará submetida a esforços de compressão simples. Assim, a minimização de esforços de tração suscita uma demanda reduzida de material construtivo. No caso de arcos em concreto armado, por exemplo, a predominância de esforços de compressão suscita menos dispêndio de aço na armação. Nestes ca- sos, o custo da obra cai consideravelmente. Comparativamente, arcos cujas for- mas fogem da funicular correspondente a seus carregamentos suscitam estrutu- ras mais volumosas. Em casos mais extremos, estes arcos mais robustos podem até atender o vão solicitado, mas cedem devido ao peso próprio da estrutura. Outro conceito muito importante relacionado às estruturas em arco são os esforços horizontais que surgem em suas bases, de dentro para fora, o que sugere seu colapso. A estes esforços horizontais, dá-se o nome de empuxo. A Figura 9a explicita estes esforços de empuxo a partir das setas horizontais saindo de cada base do arco. Desta maneira, a concepção de estruturas em arco deve controlar estes empuxos através da manipulação das relações entre flecha (grandeza simbolizada por f na Figura 9a) e vão (grandeza simbolizada por L na Figura 9a). Rebello (2000) estabelece que a relação entre flecha e vão de estruturas em arco deve respeitar a seguinte relação para evitar o colapso do arco devido ao empuxo: 1/10 < f/L < 1/5, em que f = flecha e L = vão. Outro parâmetro importante de controle do empuxo atuante nos arcos se dá através da conformação de seus apoios. Se a estrutura em arco for respon- sabilizada por responder pelos esforços de empuxo que a acometem por conta própria, sua estabilização demandará apoios robustos. Esta situação é ilustrada na Figura 9b, que evidencia como estes apoios de- vem ser alinhados com o encaminhamento das forças oriundas de seu peso próprio. As fundações de estruturas em arcos nesta configuração demandam fundações igualmente volumosas, sugerindo um cuidado para não interferir em elementos de infraestrutura urbana existentes no subsolo próximo à edificação. O consumo de material em pilares como os ilustrados na Figura 9b é co- lossal, de modo que muitas estruturas em arco visam estratégias projetuais alternativas para neutralizar os esforços de empuxo. A Figura 9c ilustra uma possível saída para esta celeuma, em que o empuxo oriundo dos arcos é neu- tralizado através de tirantes. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 55 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 55 24/11/2020 11:04:31 Os pilares certamente ficam mais esbeltos nesta alternativa, mas estes ca- bos podem interferir com o pé direito e a visibilidade do espaço resultante. Isto pode ser um impeditivo para a adoção desta estratégia em projetos como os de ginásios esportivos, os quais possuem arquibancadas que seriam atraves- sadas e inviabilizadas por cabos como os da Figura 9c. Outro fator importante a ser considerado na estruturação de arcos é a flambagem, algo natural de se esperar devido ao comprimento e à esbeltez de estruturas em arco. Tendo em vista que o conceito de flambagem está ligado à perda de estabilidade de peças esbeltas mediante esforços de compressão, uma alternativa projetual para a resolução deste problema é o contraventa- mento de arcos paralelos com barras verticais e diagonais (Figura 10a). Assim, evita-se que o arco flambe para fora de seu plano geométrico, mantendo sua forma condizente com suas funiculares. CITANDO O Prof. Dr. Nilson Tadeu de Mascia concebeu em 2001 a apostila Flam- bagem de Barras, uma referência ao conceito de flambagem em es- truturas. Assim, neste material, o autor estabelece que “[...] uma peça pode ser tão delgada que submetida a uma ação compressiva atingirá o colapso por perda de estabilidade (flambagem), isto é, um Estado Limite Último.” (2017, p. 3). Quando se trata da flambagem dentro do plano do arco, Rebello (2000) su- gere aumentar a rigidez do arco a partir da dimensão vertical de sua seção transversal. Afinal, maiores seções têm maiores momentos de inércia ou mes- mo maior resistência ao serem colocadas em movimento. Figura 9. Modificação da forma de equilíbrio dos arcos mediante a presença de um carregamento no centro da estrutu- ra (a), mediante a presença de dois carregamentos simétricos (b) e com cargas uniformemente distribuídas ao longo de seu comprimento (c). (Adaptado). ƒ Pilares Pilares Tirantes A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 56 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 56 24/11/2020 11:04:31 Figura 10. Estratégias para combater a flambagem em estruturas de arcos. Fonte (b): Shutterstock. Acesso em: 28/10/2020. Todavia, sabe-se que arcos derivados do rebatimento das funiculares de suas catenárias possuem diferentes índices de compressão ao longo de seu comprimento. Por exemplo: no topo do arco, o esforço costuma ser mínimo. Já junto aos apoios os esforços costumam ser máximos, o que demanda grandes pilares para a absorção do empuxo, assim como ilustrado na Figura 9b. Hábeis arquitetos, como o finlandês Eero Saarinen, tiram partido destas problemáticas estáticas e as transformam em elementos de seu partido arqui- tetônico. Saarinen projetou o Gateway Arch de Saint Louis (Figura 10b) em 1947, mas a obra ficou pronta somente em 1965. Para economizar dinheiro e mate- rial construtivo e lidar com a questão da flambagem e do empuxo oriundos da grande altura da estrutura, assim como dar mais personalidade à solução arquitetônica, Saarinen optou justamente por alterar a seção transversal ao longo da obra. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 57 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 57 24/11/2020 11:04:33 O travamento com barras laterais e o contraventamento com barras diago- nais constituem uma importante estratégia de travamento de estruturas em arco (a) quando lidando com a flambagem fora de seu plano. Quando a flam- bagem ocorre dentro do plano do próprio arco, uma estratégia interessante é aumentar a seção transversal do arco (b). Entretanto, os níveis de compressão variam ao longo do arco, de modo que estes incrementos de seção não preci-sam ser constantes ao longo da estrutura, tal como no caso do Gateway Arch de Saint Louis. Conciliando a concepção de estruturas em arco e sua viabilidade constru- tiva, é importante evidenciar a existência de três categorias construtivas de arcos. A Figura 11 ilustra a possibilidade de arcos triarticulados (Figura 11a), biarticulados (Figura 11b) e engastados (Figura 11c). Figura 11. Estratégias para combater a flambagem em estruturas de arcos. (Adaptado). Ao analisar-se as articulações dos arcos, é importante constatar que seu núme- ro máximo deve ser três, a fim de que a estrutura não se torne hipostática. Arcos triarticulados (Figura 11a e Figura 12a) oferecem facilidades em sua logística de transporte e execução, tendo em vista que podem ser desmontados em compo- nentes menores. Assim, a presença de um maior número de articulações permite uma melhor adaptação a mudanças de forma oriundas de carregamentos excên- tricos e, sobretudo, do vento. Entretanto, tamanha mobilidade se traduz em maior vulnerabilidade relativa à flambagem. Arcos biarticulados (Figura 11b e Figura 12b), por sua vez, possuem menos mo- bilidade, e assim lidam melhor com a flambagem. Entretanto, uma maior rigidez certamente se traduz em estruturas mais volumosas se comparadas às anterio- res. Já os arcos engastados (Figura 11c e Figura 12c), também conhecidos como arcos biengastados, se utilizam de uma quantidade muito maior de material, e normalmente são alocados em situações de cargas extremas, como represas. A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 58 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 58 24/11/2020 11:04:33 Figura 12. Exemplos de arcos a partir de suas articulações: (a) Mercado de Santa Caterina, um exemplo de arcos triarticulados, (b) viaduto Santa Efi gênia, um exemplo de arcos biarticulados e (c) Hoover Dam, um exemplo de arcos engastados. Fonte: (a) Shutterstock. Acesso em: 28/10/2020; Fonte (b-c): Adobe Stock. Acesso em: 28/10/2020. Materiais e pré-dimensionamento Tanto arcos biarticulados como aqueles triarticulados costumam ser exe- cutados em metal ou madeira. Assim, o concreto armado surge como uma op- ção tanto para arcos biarticulados como para arcos biengastados. Isso posto, A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 59 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 59 24/11/2020 11:04:36 a adoção predominante de arcos triar- ticulados ou biarticulados se dá pela possibilidade de movimentação de peças prontas para o canteiro de obra. Obras de arco costumam ter grandes vãos e, se a organização do canteiro de obras já representa um desafio, sua concretagem in loco muitas vezes se mostra inviabilizada. Ao passo que o concreto armado permite seções transversais molda- das em virtualmente qualquer forma, seções circulares de aço e de madeira são mais difíceis de serem obtidas. As- sim, independentemente do material construtivo empregado, costuma-se adotar seções retangulares para es- truturas em arco. A título de pré-dimensionamento de estruturas em arco, os ábacos de Engel (2003) são menos prestativos do que para estruturas em pórtico, posto que apresentam espectros máximos e mínimos para vãos possíveis e vãos ótimos idênticos para os três materiais usualmente adotados nesta tipologia estrutural: concreto armado, aço, e ma- deira laminada. O autor ainda determina que os vãos máximos para arcos fi- guram entre 15 e 100 metros, e os vãos ótimos ficariam entre 25 a 70 metros. Já Yopanan Rebello (2000) apresenta o pré-dimensionamento de estruturas em arco a partir da altura de sua flecha (H), es- pessura da seção (D) e vão livre (H) (Figura 13). En- tretanto, além de apresentar ábacos para concreto armado e madeira laminada, o autor também evi- dencia parâmetros de dimensionamento para arcos de metal de alma cheia (maciços) e arcos de aço treliçado. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 60 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 60 24/11/2020 11:04:39 Os ábacos de pré-dimensionamen- to de Rebello não ultrapassam a marca dos 100 metros de Engel, com exceção dos arcos de aço de alma cheia, que atingem vãos livres na marca dos 150 metros, com flechas de 18 metros e es- pessuras de 1,20 metros. Os arcos treliçados de aço e os arcos de madeira laminada não ultrapassam a marca dos 81 metros de vão. Todavia, ao passo que os arcos treliçados che- gam a esta marca com 18 metros de altura livre, os arcos de madeira laminada atingem a mesma marca com 30 metros de altura livre. Em contrapartida, à medida que os arcos treliçados atingem a espessura de 1,50 metros com ape- nas 81 metros de vão livre, os arcos de madeira laminada já contam com a espessura de 1,50 metros com apenas 63 metros de vão livre. Já os arcos de concreto armado atingem vãos da ordem de 96 metros, mas contam com a maior espessura dentre todos os materiais analisados: 1,50 me- tros. A espessura máxima dos arcos de aço de alma cheia, 1,20 metros, é atin- gida em concreto armado a partir de vãos de 72 metros. A título de flechas, os arcos em concreto armado mostram-se mais altos que os arcos de aço, mas levemente menores que os arcos de madeira laminada. Arcos de concreto armado com 96 metros de vão chegam a 24 metros de altu- ra, ao passo que arcos de madeira batem a marca dos 30 metros de flecha com apenas 81 metros de vão livre. H L D Figura 13. Altura de flecha (H), espessura da seção (D) e vão livre (H). (Adaptado). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 61 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 61 24/11/2020 11:04:40 QUADRO 3. REINTERPRETAÇÃO DOS ÁBACOS GERADOS POR REBELLO PARA ESTRUTURAS EM ARCO QUE LEVA EM CONSIDERAÇÃO OS PARÂMETROS DE FLECHA (H), ESPESSURA (D) E VÃO LIVRE (L) Arco de Alma Cheia – Aço Espessura (D) em metros 0,30 0,60 0,90 1,20 30,0 24,0 18,0 12,0 6,0 0 15,0 30,0 45,0 60,0 75,0 75,0 90,0 105,0 120,0 150,0 B Vão (L) em metro Arco Treliçado – Aço Espessura (D) em metros 0,30 0,60 0,90 1,20 1,50 15,0 12,0 9,0 6,0 3,0 0 9,0 18,0 27,0 36,0 45,0 54,0 63,0 72,0 81,0 90,0 C Vão (L) em metro Arco de Madeira Espessura (D) em metros 0,30 0,60 0,90 1,20 1,50 30,0 24,0 18,0 12,0 6,0 0 9,0 18,0 27,0 36,0 45,0 54,0 63,0 72,0 81,0 90,0 D Vão (L) em metro 30,0 0,30 24,024,0 18,018,0 12,012,0 0,60 6,0 0,60 0 9,09,0 0,90 18,0 0,90 18,0 1,20 27,0 1,50 36,0 1,50 36,0 45,045,0 54,0 63,063,0 72,072,0 81,081,0 90,090,0 15,0 12,012,0 9,0 0,30 9,0 6,0 0,30 6,0 0,60 3,0 0,60 0 9,09,0 0,90 18,0 0,90 18,0 27,0 1,20 36,0 1,20 36,0 45,045,0 1,50 54,054,0 63,063,0 72,072,0 81,081,0 90,090,0 30,030,0 24,024,0 18,018,0 0,30 12,0 6,0 0,60 15,0 0,60 15,0 30,030,0 0,90 45,0 0,90 45,0 60,0 75,075,0 1,20 75,0 1,20 75,0 90,0 105,0105,0 120,0120,0 150,0150,0 A lt ur a (H ) e m m et ro s A lt ur a (H ) e m m et ro s A lt ur a (H ) e m m et ro s SISTEMAS ESTRUTURAIS II 62 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 62 24/11/2020 11:04:41 Arco de Concreto Espessura (D) em metros 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 30,0 24,0 18,0 12,0 6,0 0 12,0 24,0 36,0 48,0 60,0 72,0 84,0 96,0 108,0 120,0 E Vão (L) em metro 30,030,0 24,0 18,0 0,6 18,0 12,0 6,0 0,9 0 0,9 12,0 24,0 1,2 24,0 36,0 1,5 36,0 1,5 48,0 1,8 48,0 60,060,0 72,072,0 84,084,0 96,096,0 108,0108,0 120,0120,0 Arco de Alma Cheia – Aço Espessura (D) em metros 0,30 0,60 0,90 1,20 30,0 24,0 18,0 12,0 6,0 0 15,0 30,0 45,0 60,0 75,0 75,0 90,0 105,0 120,0 150,0 B Vão (L) em metro 30,030,0 24,024,0 0,30 18,0 0,30 18,0 12,012,0 6,0 0,60 0 0,60 15,0 30,0 0,90 30,0 45,045,0 60,0 75,0 1,20 75,0 75,075,0 90,0 105,0105,0 120,0120,0 150,0150,0 Arco Treliçado – Aço Espessura (D) em metros 0,30 0,60 0,90 1,20 1,50 15,0 12,0 9,0 6,0 3,0 0 9,0 18,0 27,0 36,0 45,0 54,0 63,0 72,0 81,0 90,0 C Vão (L) em metro 15,015,0 12,0 0,30 9,0 0,30 6,0 0,60 3,0 0 0,90 9,0 0,90 18,018,0 27,0 1,20 27,0 1,20 36,0 45,0 1,50 45,0 54,054,0 63,0 72,072,0 81,081,0 90,090,0 A lt ur a (H ) e m m et ro s A lt ur a(H ) e m m et ro s A lt ur a (H ) e m m et ro s SISTEMAS ESTRUTURAIS II 63 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 63 24/11/2020 11:04:42 Arco de Madeira Espessura (D) em metros 0,30 0,60 0,90 1,20 1,50 30,0 24,0 18,0 12,0 6,0 0 9,0 18,0 27,0 36,0 45,0 54,0 63,0 96,0 81,0 90,0 D Vão (L) em metro Arco de Concreto Espessura (D) em metros 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 30,0 24,0 18,0 12,0 6,0 0 12,0 24,0 36,0 48,0 60,0 72,0 84,0 96,0 108,0 120,0 E Vão (L) em metro 30,0 0,30 30,0 0,30 24,0 18,018,0 12,012,0 0,60 6,0 0 0,90 9,0 0,90 18,0 1,20 18,0 27,0 1,50 27,0 1,50 36,0 45,045,0 54,054,0 63,063,0 96,096,0 81,0 90,090,0 30,030,0 24,0 18,0 0,6 18,0 12,0 6,0 0,9 0 0,9 12,0 24,0 1,2 24,0 36,0 1,5 36,0 1,5 48,0 1,8 60,060,0 72,072,0 84,084,0 96,096,0 108,0108,0 120,0120,0 Fonte: REBELLO, 2000, p. 96-97. (Adaptado). A lt ur a (H ) e m m et ro s A lt ur a (H ) e m m et ro s SISTEMAS ESTRUTURAIS II 64 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 64 24/11/2020 11:04:43 Sintetizando Esta unidade foi dividida em dois grandes tópicos: estruturas em pórtico e estruturas em arco. Cada um destes tópicos abordou a concepção projetual e fundamentação teórica referente a cada uma destas tipologias estruturais, fo- mentando importantes parâmetros de materialidade e pré-dimensionamento para auxiliar as investidas projetuais de acadêmicos de arquitetura. Primeiramente, vimos uma diferenciação entre sistemas estruturais de vigas biapoiadas e sistemas estruturais em pórticos. Constatamos que es- truturas em pórticos possuem ligações rígidas entre vigas e pilares, ao pas- so que estruturas em vigas biapoiadas possuem ligações articuladas entre vigas e pilares. Também foram abordadas as três principais configurações de estruturas em pórtico: os pórticos com múltiplos apoios ou sequenciados, os pórticos empilhados e os pórticos angulados. Por fim, esta seção também procurou evidenciar a maneira com a qual estruturas em pórtico absorvem esforços horizontais de maneira solidarizada entre vigas e pilares, ao passo que es- truturas de vigas biapoiadas absorvem estes esforços predominantemente com os pilares. Em seguida, constatamos que estruturas em pórtico costumam ser execu- tadas em concreto armado, madeira laminada e aço. Entretanto, foram feitas ressalvas com relação à dificuldade de executar ligações rígidas em estruturas de madeira laminada e de aço, ao passo que em estruturas de concreto arma- do isto ocorre de maneira mais corriqueira durante a própria concretagem. Também foram estabelecidos os parâmetros de pré-dimensionamento para pórticos em concreto armado, madeira laminada e aço de acordo com os preceitos de Engel e Rebello. Destacou-se que os parâmetros dimen- sionais de Engel são globais, ao passo que os ábacos de Rebello refletem a realidade construtiva nacional, o que gera divergências, como no caso do dimensionamento de estruturas de pórtico em madeira laminada. Evidenciamos a importância de se trabalhar com o rebatimento de uma modalidade espe- cial de funiculares, as catenárias, que culminam SISTEMAS ESTRUTURAIS II 65 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 65 24/11/2020 11:04:43 em arcos com formas que suportam o peso próprio mediante compressão pura. A seguir, foram apresentados desafios usuais de estruturas em arco: o empuxo e a flambagem. Os esforços horizontais que tendem a abrir as bases do arco são denominados de empuxo, e pode-se combatê-los atra- vés de pilares mais robustos ou de tirantes nas bases do arco. Já a questão da flambagem pode ser controlada mediante travamentos ho- rizontais e contraventamentos na diagonal entre arcos paralelos, assim como na variação da seção transversal sem arcos isolados. Aqui foram apresentadas também relações de geometrização entre flecha e vão livre, de modo a minimi- zar estes esforços de empuxo, assim como variações de arcos mediante suas vinculações: os arcos triarticulados, biarticulados e biengastados. Por fim, constatamos que há a possibilidade de construir estruturas em ar- cos em concreto armado, madeira laminada e aço. Também foi apontado que a seção usual costuma ser a retangular, independente do material construtivo adotado. Nesta seção, vimos como os ábacos de Rebello subdividiram as estru- turas em arco em “alma-cheia” e “treliçado”, demonstrando que este material consegue atingir vãos maiores e com menos material do que estruturas seme- lhantes edificadas em madeira laminada e concreto armado. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 66 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 66 24/11/2020 11:04:43 Referências bibliográficas ARQUITRAVE. In: CORONA, E.; LEMOS, C. A. C. Dicionário da arquitetura bra- sileira. São Paulo: Edart, 1972. Documentário Gaudí Barcelona 1900. Postado por Museubrasil.org. (27min. 12s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tM- 5dUG7aJ4E>. Acesso em 17 out. 2020: ENGEL, H. Sistemas estruturais. Barcelona: Gustavo Gili, 2003. Engenharia em Madeira – Soluções para o presente. Postado por MS Flo- restal Online Reflore. (1h. 13min. 48s.) son. color. port. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=dfaARk0uic8>. Acesso em: 17 out. 2020. ENVASADURA. In: CORONA, E.; LEMOS, C. A. C. Dicionário da arquitetura bra- sileira. São Paulo: Edart, 1972. MASCIA, N. T. Flambagem de barras. Campinas: Unicamp, 2017. REBELLO, Y. C. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000. REBELLO, Y. C. Bases para projeto estrutural. São Paulo: Zigurate, 2007. TORROJA, E. Razón y ser de los tipos estructurales. Madrid: Artes Gráficas MAG, S. L., 1960. VITRUVIUS. Edifício Acal. 2011. Disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/projetos/11.129/4062>. Acesso em 19 out. 2020. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 67 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 67 24/11/2020 11:04:43 CONCEPÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO: ESTRUTURAS EM PLACAS E CASCAS 3 UNIDADE SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 68 24/11/2020 11:41:44 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender a concepção e fundamentação de estruturas em placas; Compreender a concepção e fundamentação de estruturas em cascas. Estruturas em placas Materiais e pré-dimensionamento Estruturas em cascas Materiais e pré-dimensionamento SISTEMAS ESTRUTURAIS II 69 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 69 24/11/2020 11:41:44 Estruturas em placas As estruturas em placas são constituídas por lâminas cuja largura l e com- primento L excedem consideravelmente a sua altura h, sendo usualmente de- nominadas lajes no universo da construção civil. Algo importante de ser sa- lientado sobre as placas é que seu peso próprio as solicita na forma de cargas normais a seu plano, tal como fi ca evidenciado na Figura 1. L h l Laje Viga Viga VigasViga Laje b) a) c) Figura 1. Distribuição do peso próprio em lajes, a principal conformação de estruturas em placa (a); laje em uma dire- ção amparada por vigas nos vãos menores (b); laje de duas direções amparada viga nas quatro arestas (c). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 70 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 70 24/11/2020 11:41:44 As estruturas em placas constituem um dos sistemas estruturais mais simples na construção civil contemporânea, sendo que a cobertura plana mais elementar que existe pode ser estruturada mediante o apoio de duas vigas paralelas em suas extremidades (Figura 1b). A esta solução, dá-se o nome de laje em uma direção, pois seu comprimento L é duas vezes maior que sua largura l. Em lajes em uma direção, o momento fletor na largura l (vão menor) é me- nor do que no comprimento L (maior vão). Assim sendo, este arranjo geométri- co dispõe as vigas ao longo do menor vão para que sejam submetidas ao menor momento fletor. Por exemplo, no caso de estruturas em concreto armado, a armadura certamente percorreria apenas o caminho do vão menor. Quando o comprimento L (vão maior) não supera o dobro da largura l (vão menor), dá-se o nome à laje resultante de laje de duasdireções (Figura 1c). Caso esta laje fosse estruturada em concreto armado, suas armaduras estariam dis- postas em ambas as direções. Tais lajes em concreto armado são muito mais difíceis de perfurar para executar rasgos de escadas, ao contrário do que ocor- re com lajes em uma direção. No caso de lajes apoiadas por duas vigas, é importante mencionar que, por questões arquitetônicas, estes apoios podem estar presentes no maior vão também. Neste caso, observa-se um esforço de compatibilização entre a arqui- tetura e as demais disciplinas construtivas, visando à concretização da ideação arquitetônica original. (A) (B) Figura 2. Deformação abaulada de lajes apoiadas em duas vigas (a) e deformação cilíndrica de laje apoiada em quatro vigas (b). Fonte: SALVADORI, 2015, p. 204. (Adaptado). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 71 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 71 24/11/2020 11:41:44 Algo importante de se relatar é que as estruturas em placas suportadas por duas vigas paralelas tendem a se deformar como arcos invertidos com bases nas vigas (Figura 2a). Já as estruturas em placa suportadas por quatro vigas tendem a se deformar como cúpulas invertidas. O esticar das placas acaba por enrijecê-las, fazendo sua espessura final relativamente esbelta – em compara- ção a outros elementos estruturais, como as vigas, por exemplo. Estas placas podem ser associadas de maneira contínua, dando origem a grelhas compostas por panos de laje, como no caso da Figura 3. Estas sequên- cias de panos de lajes constituem um dos sistemas estruturais mais vistos na construção civil mundial, tendo em vista que sua face inferior plana permite a fixação de uma série de elementos de infraestrutura predial, como dutos e módulos de forro. Figura 3. Sistema de vigas paralelas e perpendiculares permitem a associação contínua de múltiplas lajes e constituem exemplos recorrentes de edificações na contemporaneidade. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 06/11/2020. As estruturas em placas são sistemas estruturais que absorvem os esforços pela altura de sua seção, sendo incorporados à taxonomia das estruturas de seção ativa. Entretanto, o aumento da seção da placa pode até fazer o sistema lidar com as cargas oriundas do vão livre almejado, mas a faria sucumbir pelo seu peso próprio. Existem, todavia, alternativas de se manter à altura de sua seção, porém, reduzindo o peso próprio da laje como um todo. Isto se dá por meio de lajes nervuradas como as presentes no edifício da FAU-USP, projeto de Vilanova Ar- tigas e Carlos Cascaldi, projetado e construído entre 1961 e 1969. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 72 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 72 24/11/2020 11:41:45 O conceito de laje nervurada reside no fato de que a flexão atuante nas placas comprime sua face superior e traciona sua face inferior. Assim sendo, as placas estruturadas enquanto lajes nervuradas concentram os elementos tracionados em aletas ou nervuras, e isto faz com que as nervuras da placa assegurem sua altura de seção, tornando-as mais leves. Área comprimida Área tracionada A B C D Figura 4. Exemplo icônico de laje nervurada na cobertura da FAU-USP (a); modelo de lajes nervuradas como sequências de vigas “T” (b) e lajes nervuradas em uma direção (c) e duas direções (d). Fonte: (a) Shutterstock. Acesso em: 06/11/2020; (b), (c) e (d) REBELLO, 2007, p. 162. (Adaptado). Estas lajes nervuradas são usualmente estruturadas em concreto armado, e no caso da FAU-USP, são constituídas por lajes de duas direções de 11 m por 11 m, formando uma modulação de dez lajes de comprimento por seis lajes de largura na cobertura do edifício. Lajes nervuradas como as da FAU-USP, armadas em duas direções, possuem nervuras em ambos os sentidos, sendo denominadas também como grelhas. Já lajes nervuradas de uma única direção costumam ter as nervu- ras direcionadas em seu menor vão, justamente para absorver menores esforços de momento fletor. Todavia, existem casos em que a concepção espacial do proje- to suscita o posicionamento destas vigas nos vãos maiores. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 73 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 73 24/11/2020 11:41:46 Existe também a possibilidade de elaborar estas placas nervuradas com elementos pré-fabricados. Neste caso, as nervuras são estruturadas ou em concreto armado ou em vigas treliçadas. O espaço entre estas nervuras pode ser preenchido por blocos cerâmicos ou por blocos de EPS (poliestireno ex- pandido), popularmente conhecido como isopor, ou até mesmo por blocos cimentícios de forma semelhante às lajotas cerâmicas. Os painéis de EPS são muito mais leves que os blocos cerâmicos, mas custam mais caro. Essa leveza incorre em maior velocidade e facilidade de execução. Ambos os elementos podem ser utilizados para controlar a inércia térmica e o conforto acústico dos ambientes sob e sobre as placas. Estas lajes pré-fabricadas recebem um capeamento de concreto armado em suas faces superiores, de modo a reforçar sua resistência à compressão. Por fim, quando o objetivo são os vãos maiores, existe a possibilidade de substituir nervuras e blocos intersticiais por painéis de concreto alveo- lar. Dentro do princípio de redução de peso próprio da estrutura, estes painéis alveolares mantêm a altura da seção da laje, mas possuem alvéo- los que rasgam seu eixo longitudinal. Este alvéolos, verdadeiros buracos circulares na laje, viabilizam a passagem de elementos de instalações pre- diais e estratégias para o conforto acústico dos pavimentos adjacentes ao pano de laje. Lajes em duas direções podem ser pareadas para formar uma grande es- trutura reticulada, tal qual demonstrado na Figura 3 ou na grelha da FAU-USP da Figura 4a. Estas estruturas são classificadas como sistemas estruturais “democráticos” por Salvadori (2015), justamente por absorverem a carga, afli- gindo uma viga em conjunto com as adjacentes. Existe a possibilidade, ainda, de aproximar estas vigas que sustentam as redes de lajes a ponto de formarem uma única placa, a laje plana ou laje co- gumelo. Naturalmente mais espessas que as placas convencionais, as lajes planas compreendem vãos menores. Todavia as lajes planas compreendem duas vantagens com relação às placas convencionais: • Podem dispor seus pilares em qualquer localização, desde que respei- tando uma distância média parecida entre seus apoios; • Permitem uma configuração mais livre, às vezes até sinuosa, de dese- nho de laje. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 74 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 74 24/11/2020 11:41:46 a) b) c) d) e) Figura 5. (a) Absorção de esforços em placas reticuladas; (b) aproximação de vigas até a formação de placa contínua; (c) exemplo do caminhamento de forças em um laje cogumelo; (d) distribuição ideal de armadura e (e) corte esquemáti- co indicando a presença do capitel nas lajes planas para contornar a punção. Fonte: (a) (b) SALVADORI, 2015, p. 200. (Adaptado); (c) Shutterstock. Acesso em: 06/11/2020. (d) REBELLO, 2000, p. 173. (Adaptado). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 75 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 75 24/11/2020 11:41:48 Porém, é importante ressaltar que esta liberdade de posicionamento de pi- lares deve respeitar o encaminhamento vertical de forças, no caso de edifícios com múltiplos pavimentos. Ainda, as placas estruturadas como lajes planas ne- cessitam superar o desafio da punção, pois existe “[o esforço] provocado pela possibilidade [do pilar] perfurá-la, como um agulha” (REBELLO, 2007, p. 173). Este fenômeno da punção se assemelha muito a um guarda-chuva dobra- do, sendo que o bastão central faz o tecido impermeável se dobrar radialmente ao redor de si mesmo. Isso revela que o caminhamento de forças nestas situa- ções ocorre de maneira concêntrica, logo, deveria ser emulado pelas vigas e/ou nervuras que compõem a placa. Uma alternativa de projeto para estas placas, de modo a contornar o fenô- meno da punção, se dá por meio da inserção de capiteis na porção superior dos pilares junto às lajes.O uso desta solução projetual promove também uma capacidade de lidar com vãos livres maiores. Dispor nervuras e armaduras nesta configuração geométrica radial, presu- mida ideal, se apresenta muito caro e de difícil execução no canteiro de obras. Contudo, os resultados projetuais são impressionantes, e foram eternizados na produção do engenheiro italiano Pier Luigi Nervi (1891-1979), como no caso do Palazzo del Lavoro, em Turim (Itália), em 1961. A título de lajes planas com capiteis, talvez um de seus exemplares mais icô- nicos seja o Johnson Wax Building, projetado entre 1936 e 1939 pelo arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright, em Racine (Estados Unidos). Este projeto é marcante pelo fato de os fiscais de obra determinarem que Wright realizasse um teste de carga com este conjunto de coluna, capitel e laje cogumelo propos- to – diante do ineditismo para o repertório popular. Dentre outros pontos im- portantes deste projeto, destacam-se o layout fluido dos espaços de trabalho, agrupando todos os níveis hierárquicos de funcionários no mesmo salão, assim como as vedações translúcidas entre as lajes cogumelo circulares. ASSISTA O arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright possui uma das maiores trajetórias projetuais da história da arquitetura moderna, sendo considerado a matriz de tendências racionalistas organicistas que influenciaram arquitetos mundo afora. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 76 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 76 24/11/2020 11:41:48 A B Figura 6. Lajes cogumelo radiais de Pier Luigi Nervi no Palazzo del Lavoro (a) e lajes cogumelo com capitel de Frank Lloyd Wright no Johnson Wax Building (b). Fonte: (a) Shutterstock. Acesso em: 06/11/2020. (b) Wikimedia Commons. Acesso em: 06/11/2020. Por fi m, é importante ressaltar que também existe a possibilidade de as- sociações entre lajes cogumelos e nervuradas, dando origem ao que conhe- cemos como lajes planas. Nas lajes planas, os capiteis são achatados junto às nervuras, preenchendo-as também com concreto armado, e fazendo com que os esforços de punção sejam controlados. Ainda há mais uma possibilidade de associação estrutural, sendo que as vigas também são achatadas junto às nervuras, viabilizando uma redução de altura e manutenção de área da seção. Estas vigas são usualmente construídas com concreto armado protendido e são denominadas vigas-chatas. A título de contextualização teórica, é importante mencionar que Salomão e Marques (2017) se usam dos escritos de Pfeil (1980) para defi nir a protensão do concreto como “[...] um artífi cio que consiste em introduzir numa estrutura um estado prévio de tensões capaz de melhorar sua resistência mecânica ou seu com- portamento, sob diversas condições de carga” (p. 1). Os elementos estruturais de concreto armado, submetidos à protensão, apresentam aproximadamente meta- de da altura dos elementos que se utilizam de concreto armado tradicional. Materiais e pré-dimensionamento As explorações conduzidas acerca da concepção e fundamentação das es- truturas em placa demonstram que o principal material construtivo para sua execução média é o concreto armado. Para lajes comuns maciças em concreto armado, a NBR 6118 (2014) estabe- lece que devemos respeitar os valores mínimos de seção: SISTEMAS ESTRUTURAIS II 77 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 77 24/11/2020 11:41:51 • 7 cm para lajes de cobertura (sem balanço); • 8 cm para lajes de piso ou lajes de cobertura (com balanço); • 10 cm para lajes em balanço; • 10 cm para lajes que suportem veículos de peso inferior ou igual a 30 kN; • 12 cm para lajes que suportem veículos de peso maior que 30 kN; • 16 cm para lajes cogumelo. Para lajes maciças de concreto armado de uma direção, considera-se o vão menor para o cálculo da espessura da laje. Já para lajes maciças de concreto armado, considera-se como vão de cálculo a soma dos dois vãos da laje dividi- dos por dois. Vão para cálculo = (1) (vão maior + vão menor) 2 A título de pré-dimensionamento, foram elencados os ábacos correspon- dentes de Yopanan Rebello (2000) devido à rapidez e caráter visual de sua con- sulta. A Tabela 1 indica que lajes maciças de concreto armado podem possuir conjuntos de espessura e vão que variam de 5 cm de espessura para 1,5 m de vão livre até 15 cm de espessura para 15 m de vão. Independentemente do conjunto de espessuras e vãos livres indicados, é sempre importante se aten- tar aos parâmetros mínimos de espessura estabelecidos na NBR 6118 (2014). Laje maciça de concreto armado Es pe ss ur a (T ) e m c m 20,0 15,0 10,0 5,0 0 0,75 1,5 2,25 3,0 3,75 4,5 5,25 6,0 6,75 A Vão (L) em metros TABELA 1. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURA EM PLACAS DE CONCRETO ARMADO – PARTE 1 Fonte: REBELLO, 2000, p. 167. (Adaptado). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 78 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 78 24/11/2020 11:41:51 As lajes cogumelo ou planas em concreto armado se dividem em seu pré- -dimensionamento entre a presença de capiteis ou não para controlar a punção. As lajes cogumelo ou planas sem capiteis admitem combinações de espessuras e vãos livres indo de 15 cm para 3,0 m de vão livre, até 25 cm para 7,5 m de vão livre. Laje cogumelo sem capitel Es pe ss ur a (T ) e m C M 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0 1,5 3,0 6,0 7,5 9,0 10,5 12,0 13,5 15,0 C Vão (L) em metros Laje cogumelo com capitel Espessura (T) em centímetros A lt ur a (D ) e m m et ro s 10,0 12,5 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 1,50 1,20 0,90 0,60 0,30 0 1,5 3,0 4,5 6,0 7,5 9,0 10,5 12,0 13,5 D Vão (L) em metros TABELA 2. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURA EM PLACAS DE CONCRETO ARMADO – LAJE COGUMELO Fonte: REBELLO, 2000, p. 167. (Adaptado). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 79 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 79 24/11/2020 11:41:51 Laje nervurada – concreto armado A lt ur a (D ) e m c m 75,0 60,0 45,0 30,0 15,0 0 3,0 6,0 12,0 15,0 18,0 21,0 24,0 27,0 30,0 F Vão (L) em metros Laje nervurada – concreto armado – caixão perdido A lt ur a (D ) e m c m 75,0 60,0 45,0 30,0 15,0 0 3,0 6,0 12,0 15,0 18,0 21,0 24,0 27,0 30,0 G Vão (L) em metros TABELA 3. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURA EM PLACAS DE CONCRETO ARMADO – PARTE 2 Fonte: REBELLO, 2000, p. 166. (Adaptado). Já as lajes cogumelo com capitel admitem combinações mínimas de espes- sura de laje, altura de capitel e vão livre da ordem de 12,5 cm de espessura, 30 cm de capitel e 4,5 m de vão livre. A capacidade máxima deste sistema estrutu- ral em placas reside na combinação de 35 cm, altura de capital de 1,5 m e vão livre de 12,0 m. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 80 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 80 24/11/2020 11:41:51 As lajes nervuradas de concreto armado se dividem em seu pré-dimensio- namento com relação à presença ou não de uma mesa, ou placa, em sua faca inferior. Quando existe esta mesa inferior, recebem o nome de lajes nervura- das com caixão perdido, e costumam ser admitidas em casos de isolamento acústico ou para preservar um teto plano por questões estéticas. Na Tabela 3 vemos que o espectro de combinações de altura e vão para lajes nervuradas vai de alturas de 15 cm e vãos livres de 3 m até alturas de 60 cm e vãos de 18 m. Ela também indica que o espectro de combinações de altura e vãos para lajes nervuradas de caixão perdido vai de alturas de 15 cm e vãos livres de 3 m até vãos de 18 metros com alturas de 45 cm. Nota-se que o capeamento inferior das lajes com caixão perdido permite uma altura de seção menor ao conjunto, ao solidarizar melhor esforços de tração. É importante ressaltar que existem possibilidades de configurações de lajes derivadas da madeira e do metal, mas que seu pré-dimensionamento também está condicionado a ábacos de cargas e vãos livres de seus forne- cedores. As lajes de madeira se utilizam de vigas secundárias dispostas ao longo do menor vão, que fazem as vezes das nervuras nas lajes nervuradas. Recomenda-se que o espaçamento destas vigas não ultrapasse os 60 cm paraevitar seu abaulamento. Sugere-se também vãos máximos de 4 m para vigas de madeira maciça e 9 m para vigas de madeira laminada, pois a laminada não possui falhas em suas fibras, o que pode comprometer a resistência aos esforços que acometem a laje. Da mesma maneira, existe a possibilidade de alocar painéis de laje como placas revestidas por um capeamento de concreto armado e suportadas por contraventamentos diagonais e vigas secundárias também metálicas. Da mes- ma forma que as lajes pré-fabricadas, as lajes em steel deck derivam seu pré- -dimensionamento de ábacos de seus fornecedores, correlacionando vão livre e sobrecarga. Seu espectro de espessura e vãos livres varia consideravelmen- te de acordo com a liga metálica utilizada, assim como com o traço e a carga incidentes na laje. Entretanto, graças à resistência das vigas metálicas, tanto a tração quanto a compressão com leveza superior ao concreto armado consegue atingir modulações superiores às das lajes maciças de concreto armado. OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 81 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 81 24/11/2020 11:41:51 Estruturas em cascas As geometrias que resistem aos seus carregamentos pela superfície, isto é, as estruturas que Engel (2007) denomina como superfícies ativas, são usualmente referidas como cas- cas ou membranas na literatura cor- relata. Utiliza-se o termo casca para superfícies ativas rígidas, que traba- lham, sobretudo, à compressão, ao passo que se utiliza o termo mem- brana para superfícies ativas não rígidas, que trabalham, sobretudo, à tração. Bechthold (2008) e Schodek (2014), importantes autores nesta área de estudo, usam os termos su- perfícies estruturais rígidas, para as cascas, e superfícies estruturais não rígidas, para as membranas. CONTEXTUALIZANDO As estruturas em casca foram sumariamente associadas ao concreto armado até o início do século XXI, quando novas ferramentas de dese- nho digital, fabricação digital e engenharia dos materiais suscitaram novas possibilidades. No decorrer do século XX, as cascas eram construídas a partir de formas geométricas de comportamento estrutural já conhe- cido. Como pode ser visto na Figura 7a, o transla- do horizontal de um arco gera uma abóboda de aresta, ao passo que uma única rotação de um arco, perpendicularmente a partir de seu eixo central, gera abóbadas de berço. Já a rotação contínua gera cúpulas. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 82 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 82 24/11/2020 11:41:53 (a) (d) (b) (e) Parábola HipérboleHipérbole Parábola (f) (c) Figura 7. Geração de abóbodas de aresta (a), abóbadas de berço (b) e cúpulas (c) a partir de arcos; geração de parabo- loides hiperbólicas a partir de parábolas (e) e hipérboles (f). Fonte: REBELLO, 2000, p. 146. (Adaptado). Ainda na Figura 7, fi ca demonstrada a possibilidade de geração de cascas a partir das seções cônicas. Por exemplo, o paraboloide hiperbólico, quando seccionado por planos verticais perpendiculares, gera parábolas. Quando esta geometria é seccionada por planos horizontais, são geradas hipérboles, que constituem algumas das principais cascas na arquitetura. As cascas podem ser consideradas estruturas anacrônicas. Existem cúpu- las icônicas na antiguidade clássica, como o Pantheon e edifi cações tombadas da arquitetura moderna brasileira, como a Oca, no Parque do Ibirapuera, proje- to de Oscar Niemeyer. Com relação às abóbadas, existem exemplos românicos, como as medievais abóbadas de aresta, da Universidade de Glasgow (Escócia), e obras racionalistas, como o Palazzo della Civiltà Romana, projetado e cons- truído em Roma (Itália) por Giovanni Guerrini, Ernesto Bruno Lapadula e Mario Romano entre 1938 e 1943. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 83 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 83 24/11/2020 11:41:54 Exemplos marcantes de paraboloides hiperbólicas foram produzidos pelo arquiteto hispano-mexicano Felix Candela (1910-1997). Candela explo- rou variações de paraboloides hiperbólicos a partir de intersecções com ou- tras seções cônicas e segmentos de reta. Dentre suas obras mais famosas, figuram o Restaurante Los Manantiales, projetado em 1958 na Cidade do México, o Pavilhão de Raios Cósmicos, proje- tado em 1951 no campus da Universidade Autônoma do México, e o El Oceanográfico, projetado juntamente com Alberto Domingo e Carlos Lazaro. Este último projeto foi construído em Valência, Espanha. ASSISTA A trajetória do arquiteto Felix Candela merece ser acom- panhada de perto quando examinamos estruturas em casca. Sua trajetória foi marcada pela busca da forma ideal: um misto de eficiência estática, economia financei- ra e elegância especial. Justamente por derivarem de arcos, muitas destas cascas apresentam desafios estruturais semelhantes. No caso das abóbodas de aresta, prefere- -se que sua geometria geradora seja de arcos de catenária, e que as abóbo- das possam se apoiar diretamente no solo ou em fundações, maximizando, assim, a atuação de esforços de compressão em sua superfície. Existe também a possibilidade das abóbodas de aresta se apoiarem em quatro apoios, mas, nesse caso, sua estabilidade depende muito de seu comprimento. Abóbadas demasiadamente longas tendem a ser afligidas pela compressão na parte superior e tração na parte inferior, comportando-se como vigas no eixo longitudinal. Estes fenômenos podem ser corrigidos pelo travamento dos arcos exteriores da abóbada com paredes sólidas, denominadas tímpanos. Em ca- sos menos graves, Rebello (2000) ainda indica a possibilidade de instituir uma viga na base de cada arco externo da abóbada para estabilizar o sistema, eliminando deformações de borda e a ocorrência de flambagem. OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 84 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 84 24/11/2020 11:41:54 Tímpano a b c Figura 8. Abóbadas de aresta apoiadas em suas bases (a) e em pilares nos vértices dos arcos externos (b) e compli- cações resultantes desta última confi guração geométrica (c). Estes efeitos podem ser sanados com o travamento das faces externas das abóbadas com tímpanos. Fonte: REBELLO, 2000, p. 139-140. (Adaptado). No caso das cúpulas, também existe a preferência de se trabalhar com arcos de catenária para se obter uma superfície estrutural que trabalhe o peso próprio por meio da compressão. Esta geometria pode ser obtida por meio da secção ilustrada na Figura 9a, em que a cúpula forma um ângu- lo de 104º a partir da intersecção das semirretas que constituem o ângulo (que parte do centro da circunferên- cia, gerando a cúpula) com as bases dos arcos da cúpula no solo. Esta geometria parte do princípio de que, ao cortarmos uma cúpula por planos horizontais e verticais, extrai- remos círculos denominados para- lelos e arcos denominados meridia- nos, respectivamente (Figura 14b). A geometria gerada pela angulação de 104º na Figura 14a assegura que os meridianos trabalhem exclusivamente sob compressão. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 85 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 85 24/11/2020 11:41:57 104° V H Figura 9. Confi guração geométrica ideal para manter os arcos meridianos (a) sob regime de compressão (b). Os círculos paralelos (b) derivados da secção horizontal das cúpulas auxiliam em sua absorção do empuxo, mas, muitas vezes, são necessários anéis de compressão volumosos, como no caso da Oca de São Paulo (c). Fonte: (a – b) REBELLO, 2000, p. 139-143. (Adaptado); (c) MMBB. Acesso em: 06/11/2020. (Adaptado). Os paralelos na Figura 14b são cruciais para o comportamento estrutu- ral da cúpula, justamente por assegurarem que os arcos rotacionados não se abram devido ao empuxo. Entretanto, este empuxo é tanto que, muitas vezes, as cúpulas demandam apoios laterais enormes, como no caso do Pantheon, de Roma, ou soluções de fundação volumosas como os anéis de com- pressão na Oca do Parque do Ibirapuera. Assim sendo, pode-se concluir quea execução de cascas em cúpulas demanda certa atenção para a presença de elementos de infraestrutura urba- na no subsolo, pois eles podem ser afetados por suas fundações. Materiais e pré-dimensionamento Como verifi camos nas discussões deste tópico, a principal manifestação de materialidade em estruturas de cascas é o concreto armado, tanto no século XX quanto no século XXI. Alguns dos chamados artistas estruturais (BILLINGTON, 1985), como Eladio Dieste e Eduardo Torroja, chegaram a experimentar em cas- cas com cerâmica armada, mas são exceções. (a) (b) (c) OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 86 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 86 24/11/2020 11:42:00 O advento do século XXI também observou a chegada de novos materiais e ferramentas de design digital. Todavia, estes recursos foram muito mais apro- veitados nas superfícies estruturais não rígidas, onde predominam os esforços de tração, como as membranas tensionadas e estruturas pneumáticas. Assim sendo, as prerrogativas de pré-dimensionamento de cascas deste subtópico partem das célebres explorações acadêmicas de Yopanan Rebello em A concepção estrutural e a arquitetura (2000). No âmbito das abóbadas múl- tiplas de concreto armado, como no caso do Palazzo della Civiltà Romana, as combinações de espessura de casca, altura máxima de flecha e vão livre par- tem de 6,25 cm de espessura, 1,5 m de altura e 12 m de vão livre. Os limites máximos destes parâmetros dimensionais para esta tipologia ficaram em 10 cm de espessura, 4,5 m de flecha e incríveis 54 m de vão livre. A mesma análise feita para abóbadas de berço estruturadas em alvenaria indicam combinações mínimas de espessura, altura de flecha e vão livre da or- dem de 20 cm de espessura, 3 m de flecha e 6 m de vão livre. Já os parâmetros máximos desta tipologia atingem 40 cm de espessura, 12 m de altura e apenas 21 m de vão livre. Este comparativo deixa evidente a maneira na qual a armação do concreto consegue atingir maiores vãos livres sem necessitar subir sua flecha dramaticamente para conter os empuxos suscitados nesta tipologia estrutural. Abóbadas múltiplas – concreto armado Espessura (T) em cm A lt ur a (D ) e m m et ro s 6,25 7,50 10,0 7,5 6,0 4,5 3,0 1,5 0 6,0 12,0 18,0 24,0 30,0 36,0 42,0 48,0 54,0 A Vão (L) em metros TABELA 4. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE CASCAS – PARTE 1 SISTEMAS ESTRUTURAIS II 87 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 87 24/11/2020 11:42:00 Fonte: REBELLO, 2000, p. 148. (Adaptado). Abóbadas de alvenaria Espessura (T) em cm A lt ur a (D ) e m m et ro s 20,0 30,0 40,0 15,0 12,0 9,0 6,0 3,0 0 3,0 6,0 9,0 12,0 15,0 18,0 21,0 24,0 27,0 B Vão (L) em metros O mesmo comparativo pode ser feito com relação a cúpulas estruturadas em concreto armado e em alvenaria. Cúpulas estruturadas em concreto arma- do partem de combinações de espessura, flecha e vão livre de 5 cm, 3 m e 18 m, respectivamente. Seus limites má- ximos são 12,6 cm de espessura, 12 m de altura e 63 m de vão livre. Pode-se, todavia, alcançar 72 m de vão livre com um decréscimo de flecha para 9 m. As cúpulas em alvenaria mantêm sempre espessura média de 60 cm. Suas flechas partem de 6 m e chegam a 30 m. Já seus espectros de vão livre partem dos 12 m e chegam a 42 m. Mais uma vez, fica constatado o poder da armação do concreto para assegu- rar um melhor desempenho e menor dispêndio de materiais para cascas em concreto armado. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 88 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 88 24/11/2020 11:42:01 Cúpula – concreto armado Espessura (T) em cm A lt ur a (D ) e m m et ro s 5,0 7,5 10,0 12,6 18,0 12,0 9,0 6,0 3,0 0 9,0 18,0 27,0 36,0 45,0 54,0 63,0 72,0 81,0 C Vão (L) em metros Cúpula - alvenaria Espessura (T) em cm A lt ur a (D ) e m m et ro s ≈ 60,0 30,0 24,0 18,0 12,0 6,0 0 6,0 12,0 18,0 24,0 30,0 36,0 42,0 48,0 54,0 D Vão (L) em metros TABELA 5. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE CASCAS – PARTE 2 Fonte: REBELLO, 2000, p. 148-149. (Adaptado). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 89 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 89 24/11/2020 11:42:01 O pré-dimensionamento de cascas de forma mais complexa, como as para- boloides hiperbólicas, demanda ferramentas de cálculo mais elaboradas. O di- mensionamento nominal de sua geometria se dá, sobretudo, pelo método dos elementos finitos, entretanto, Rebello (2000) também disponibiliza ábacos sim- plificados para sua geometrização. Assim sendo, de acordo com a Tabela 6, as paraboloides hiperbólicas em concreto armado po- dem partir de espessuras de 7,5 cm, alturas de 1,5 m e vãos li- vres de 6 m. Seus limites dimensionais máximos compreendem espessuras de 10 cm, alturas de 7,5 m e vãos livres de 48 m. Paraboloide hiperbólico – concreto armado Espessura (T) em cm A lt ur a (D ) e m m et ro s 7,5 10,0 7,5 6,0 4,5 3,0 1,5 0 6,0 12,0 18,0 24,0 30,0 36,0 42,0 48,0 54,0 F Vão (L) em metros TABELA 6. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE CASCAS – PARTE 3 Fonte: REBELLO, 2000, p. 149. (Adaptado). OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 90 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 90 24/11/2020 11:42:01 Sintetizando Nesta unidade, foram analisadas possíveis conformações de distribuição de cargas e estruturação de placas por vigas laterais. Estas configurações estruturais foram desmembradas nas tipologias de lajes maciças, lajes ner- vuradas, lajes em grelha e lajes pré-moldadas com diferentes possibilidades de elementos intermediários e vigotas, assim como lajes cogumelo com e sem capiteis. A seguir, ficou constatado que as estruturas em placas são majoritaria- mente estruturadas em concreto armado. Inicialmente foram delineadas as prerrogativas de dimensionamento mínimo para lajes maciças de concreto armado e, posteriormente, fizemos uma reinterpretação gráfica referente às possíveis combinações de parâmetros dimensionais de espessura para vão livre de lajes maciças de concreto armado, lajes cogumelo com e sem capitel e lajes nervuradas com e sem caixão perdido. Também ficou estabelecido que existem possibilidades para desenvol- ver panos de laje com madeira maciça e laminada, assim como com o aço, por meio do steel deck. Entretanto seus parâmetros de dimensionamento ficam relegados aos ábacos de cada fornecedor. Usualmente, estes ábacos reúnem dados de sobrecarga e os associam a vãos livres para determinar as dimensões nominais de cada componente estrutural. Na sequência, vimos como as estruturas em cascas são usualmente de- rivadas das estruturas em arco, assim como das seções cônicas. Também se estabeleceu a definição de estruturas em casca como superfícies estru- turais rígidas que trabalham, sobretudo, à compressão. Ainda observamos como arcos e seções cônicas podem ser associados geometricamente para formar abóbadas de aresta, abóbadas de berço, cúpulas e paraboloides hiperbólicos. Elas constituem as tipologias estruturais de cascas de maior disseminação. Foi analisado o comportamento destas principais tipologias em casca, ressaltando como sua derivação de geometrias de arcos suscita problemas em comum com os arcos. Isto é, prefere-se que abóbadas de arestas sejam apoiadas em suas bases laterais e que os arcos que as constituem sejam de- rivados de arcos de catenária. Também se verificou como as cúpulas podem SISTEMAS ESTRUTURAIS II 91 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 91 24/11/2020 11:42:01 maximizar a compressão atuante em suas superfícies por meio de relações de ângulos especiais. Estudamos como estas estruturas em cúpulas deman- dam grandes apoios e fundações para conter seus esforços de empuxo, tal como ocorre com os arcos. Por fim, constatamos que existe a possibilidade de construir estruturas em cascas predominantemente em concreto armado, mas seus parâmetros de pré-dimensionamento foram comparados com equivalentes em alvena- ria. Com a análise de ábacos, verificamos combinações de parâmetros di- mensionais deespessura de casca, altura de flecha e vão livre, o que nos le- vou a concluir que as cascas de concreto armado possuem um desempenho superior aos seus equivalentes em alvenaria, vencendo vãos maiores com espessuras muito menores. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 92 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 92 24/11/2020 11:42:01 Referências bibliográficas ABÓBADA. 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Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC’2017. Belém, 8 a 11 ago. 2017. Disponível em: <https://www.confea. org.br/sites/default/files/antigos/contecc2017/civil/27_adlpapdddc.pdf>. Aces- so em: 06 nov. 2020. TORROJA, E. Razón y ser de los tipos estructurales. Madri: Artes Gráficas MAG, S. L., 1960. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 94 SER_ARQURB_SEII_UNID3.indd 94 24/11/2020 11:42:01 CONCEPÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DE ESTRUTURAS EM MEMBRANAS, ESTAIADAS E PÊNSEIS 4 UNIDADE SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 95 24/11/2020 11:53:42 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender a concepção e fundamentação de estruturas em membranas; Compreender a concepção e fundamentação de estruturas estaiadas; Compreender a concepção e fundamentação de estruturas pênseis. Estruturas estaiadas e pênseis Concepção e fundamentação Materiais e pré-dimensionamento Membranas tensionadas Concepção e fundamentação Materiais e pré-dimensionamento SISTEMAS ESTRUTURAIS II 96 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 96 24/11/2020 11:53:42 Estruturas estaiadas e pênseis O tópico inicial desta unidade abor- da as estruturas estaiadas e pênseis. Duas tipologias estruturais diferentes, porém, semelhantes, justamente por derivarem de associações discretas de cabos (REBELLO, 2000). Sabe-se que as estruturas derivadas dos cabos alcan- çam os maiores vãos dentre as tipolo- gias estruturais conhecidas, por meio da tração. Entretanto, estes sistemas necessitam de apoios rígidos em con- creto armado, metal ou madeira para consolidarem sua sustentação. De modo a melhor compreender esses sistemas estruturais, o presente tópico foi subdividido em dois: concepção e fundamentação e materiais e pré-dimensionamento. O subtópico concepção e fundamentação visa conceituar e diferenciar as tipologias estruturais estaiadas e pênseis, apontando os principais elementos que caracterizam sua fundamentação estática. Já o subtópico materiais e pré- -dimensionamento versa sobre as prerrogativas de materialização e pré-di- mensionamento vigentes para essas tipologias. Concepção e fundamentação O entendimento das estruturas estaiadas e pênseis, partem da estrutura- ção dos cabos. Os cabos se deformam mediante a posição e quantidade dos carregamentos que os acometem, tal qual pode ser verifi cado na Figura 1 (EN- GEL, 2003). O cabo apresenta resistência, apenas, à tração, e, mediante fi xação em uma barra rígida (através de anéis, como mostra a Figura 1a). Um carrega- mento em seu ponto médio faria os anéis deslizarem rumo ao centro da barra (Figura 1b). Logo, constata-se que existe uma certa relação entre movimenta- ção horizontal e fl echa, ou altura entre o cabo e a barra. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 97 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 97 24/11/2020 11:53:44 A C B D E T F T T Flecha Figura 1. As funiculares dos cabos. Fonte: REBELLO, 2000, p. 86-87. (Adaptado). Explicando a Figura 1, temos os cabos fixados por anéis em barras (Figura 1a), que deslizam rumo ao centro da barra, mediante carregamento (Figura 1b). Essas deformações de cabos, causadas por carregamentos, se chamam funicu- lares. Temos funiculares com um carregamento (Figura 1c), com dois carrega- mentos (Figura 1d) e com cargas uniformemente distribuídas ao longo do cabo (Figura 1e). Seguindo a mesma lógica, um cabo com suas duas extremidades fixadas de maneira rígida em uma barra adquire uma deformação denominada funicular (Figura 1c), correspondente a seu tracionamento por seu único carregamento centralizado. A funicular de dois carregamentos simétricos pode ser contem- plada na Figura 1d, ao passo que a Figura 1e representa uma modalidade espe- cial de funicular: a catenária. As catenárias (Figura 1e) são especiais, pois representam a funicular de um cabo, mediante seu carregamento por cargas uniformemente distribuídas. Isto é, a funicular representa o carregamento de um cabo tracionado pelo seu peso próprio, da mesma maneira que ocorre na Figura 1a. T F F T T SISTEMAS ESTRUTURAIS II 98 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 98 24/11/2020 11:53:44 A C B D Hz Hz f2 F Pilar Pilar Pilar Pilar Hi Hi f1 F Figura 2. O empuxo nos cabos. Fonte: REBELLO, 2000, p. 86-87. (Adaptado). Explicando a Figura 2, temos que quanto maior a flecha, menor o empu- xo (Figura 2a), e vice-versa (Figura 2b). Logo, enquanto a relação de flechas se manter em f1 > f2 (1), a relação de esforços horizontais (empuxos) se manterá em H1 < H2 (2). Dentre as estratégias mais consolidadas para combater o em- puxo, se encontram a utilização de pilares robustos (Figura 2c) e tirantes asso- ciados a pilares esbeltos (Figura 2d). Da mesma maneira, é importante ressaltar que existe uma relação inversa entre a flecha e o empuxo. Quanto maior a flecha, menor o empuxo (Figura 2a). Logo, quanto menor a flecha, maior o empuxo (Figura 2b). Sugere-se que a re- lação ideal de flecha e vão, para estruturas derivadas dos cabos, siga a relação mostrada na equação (3), a fim de controlar o empuxo (REBELLO, 2000). Em que: • f é flecha do cabo; • L é o vão livre do cabo. Para contrapor essa questão, as estruturas derivadas dos cabos podem se utilizar de apoios robustos (Figura 2 (c)), que absorvem esforços de compres- são simples e flexão, sendo soluções onerosas e de difícil logística construtiva. 1 10 f L 1 5 < < (3) SISTEMAS ESTRUTURAIS II 99 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 99 24/11/2020 11:53:44 Outra opção implica em pilares mais esbeltos (Figura 2d), que encaminham o empuxo para outro cabo, denominado tirante, que, por sua vez, encaminha os esforços rumo à fundação da estrutura. Não obstante,em ambos os casos, as fundações precisam ser volumosas, o que demanda bastante cuidado com as fundações de edifícios vizinhos e elementos de infraestrutura urbana. CITANDO O termo tirante está muito presente na literatura acerca de estruturas pênseis e estaiadas, sendo definido por Corona e Lemos (1972, p. 452) como uma “comprida barra de ferro com as extremidades ancoradas em paredes fronteiras, que absorve os empuxos laterais [...] impedindo o desmoronamento da construção”. Esta lógica de absorção de empuxos nos dá pistas sobre a conceituação e entendimento de estruturas estaiadas e estruturas pênseis. Estruturas pênseis são, usualmente, sustentadas por pendurais apoiados em cabos de aço curva- dos, apoiados em torres ou apoios robustos (OLIVEIRA, 2012). Esse é o caso apresentado na Figura 2c, ou da ponte Golden Gate (Figura 3), construída em 1937, em São Francisco, EUA. A ponte possui um vão livre má- ximo de 1280,2 metros. Também, existem exemplos nacionais icônicos desse tipo de ponte, como a Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. Ela foi inaugurada em 1926 e reaberta, após múltiplas interdições, em 2019. O vão livre máximo na Ponte Hercílio Luz é da ordem de 339 metros. Figura 3. Ponte Golden Gate, em São Francisco, um exemplo de estrutura pênsil. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 12/11/2020. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 100 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 100 24/11/2020 11:53:46 Figura 4. Exemplo de distribuição de forças de pontes pênseis. A Figura 4 mostra um exemplo de distribuição de forças de pontes pên- seis, em que a carga do tabuleiro é transmitida para os cabos curvados e, em seguida, para os pilares. Esses pilares podem absorver, em conjunto, a carga dos módulos estruturais subsequentes, ou encaminhar os esforços de empuxo para as fundações. Como pode ser visto na Figura 4, nessas estruturas pênseis, a carga das lajes ou tabuleiro das pontes é transmitida para os cabos curvados principais a partir de cabos secundários. Estes cabos curvados principais, com a forma das funiculares de suas forças, encaminham sua carga e empuxos para apoios volumosos ou torres. Estas torres absorvem os esforços de compressão e empuxo referentes aos módulos estruturais adjacentes, no caso de estruturas com múltiplos módulos, como a ponte Golden Gate. Os cabos curvados dos módulos der- radeiros encaminham os esforços para as fundações da estrutura, também significantemente grandes. No caso das estruturas pênseis, os cabos curvados são denominados cabos de crista, ao passo que os cabos que transmitem as cargas do tabuleiro para os cabos de crista, são chamados de cabos estabilizantes (REBELLO, 2000). Já as estruturas estaiadas são sustentadas por cabos retos, usual- mente inclinados, apoiados em arcos ou pilares retos e/ ou angulados. Exemplos notáveis dessas estruturas incluem a ponte estaiada de São Paulo (Ponte Octavio Frias de Oliveira), construída em 2008, e a ponte Sundial, em Re- dding, EUA, projetada por Santiago Calatrava, em 2004. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 101 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 101 24/11/2020 11:53:46 A B Figura 5. Ponte Sundial (a) e ponte Octavio Frias de Oliveira (b). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 12/11/2020. (Adaptado). ASSISTA Santiago Calatrava é um arquiteto, engenheiro e doutor, formado pelo prestigioso ETH de Zurique. É um dos atores mais importantes da cena da concepção estrutural contemporânea. Seus projetos permeiam inú- meras tipologias estruturais, mas é no âmbito das estruturas estaiadas e da biomimética (a incorporação de elementos das estruturas animais na construção civil) que seu legado se impõe. Saiba um pouco mais sobre o arquiteto, assistindo a uma entrevista dada por ele (em inglês) ao portal de arquitetura ArchDaily. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 102 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 102 24/11/2020 11:53:49 Da mesma maneira que ocorre com as estruturas pênseis, os esforços da laje (ou tabuleiro, no caso das pontes) é transmitido para apoios verticais. Entre- tanto, a análise da Figura 6 indica que, ao contrário do que ocorre nas estrutu- ras pênseis, os cabos curvos são suprimidos por cabos retos, porém inclinados. Posteriormente, estes esforços são encaminhados dos apoios verticais para as fundações volumosas, na mesma proporção que no caso das estruturas pênseis. Figura 6. Exemplo de distribuição de forças de pontes estaiadas. A Figura 6 mostra um exemplo de distribuição de forças de pontes estaia- das, em que a carga do tabuleiro é transmitida para os cabos retos inclinados, e, em seguida, para os apoios. Estes apoios encaminham seus esforços de em- puxo e flexão para as fundações. Existem possibilidades da derivação de estruturas estaiadas a partir de as- sociações entre cabos e arcos. O estádio Moses Mabhida, projetado em 2009, em Durban, África do Sul, para a copa do mundo de futebol de 2010, é um exemplo claro destas possibilidades. Nesse projeto, não existe um tabuleiro de ponte a ser suspenso, mas sim uma grande cobertura tensionada. Os tirantes submetem os dois arcos da cobertura do estádio a tamanho esforço que eles se inclinam para dentro, se aterrando em robustas fundações para resistir ao empuxo. Dada a extensão e flecha dos arcos, eles se a apoiam entre si através de travamentos horizontais, que também combatem os esfor- ços de flambagem, que naturalmente acometem estruturas deste porte. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 103 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 103 24/11/2020 11:53:49 No caso do pavilhão Quadracci, do Museu de Artes de Milwaukee, EUA, construído entre 1994 e 2001, e projetado por Santiago Calatrava, observa-se a utilização do tirante com outras geometrias. Se trata de um projeto emblemá- tico, pois serve de entrada e anexo para o museu de artes, projeto do grande arquiteto finlandês Eero Saarinem em 1957. ASSISTA O arquiteto finlandês Eero Saarinem (1910 – 1961) vem de uma renomada geração de arquitetos finlandeses, estando no patamar de nomes como Alvar Aalto (1898 – 1976). Ele trabalhou com coberturas atirantadas em pórtico e grandes cascas de concreto armado. Dentre seus projetos mais notáveis, está o Dulles Airport, em Washington DC, EUA, cuja cobertura é solidarizada por cabos de aço. Para saber mais sobre a trajetória deste notável arquiteto, assista o vídeo Eero Saarinem: shaping the future, postado pelo canal Newfields. Algo fantástico sobre a estrutura deste pavilhão, de Calatrava, é que a cobertura atirantada é móvel. Suas abas laterais, cujo comprimento varia de oito a 32 metros, se abrem e fecham como asas de pássaros, quando a veloci- dade dos ventos do lago de Michigan supera 65 Km/h. A estrutura também pode ser manipulada mecanicamente, sendo que a envergadura de 66 metros de suas asas se abre durante o dia, quando o museu está aberto, e se fecha a noite. As estruturas estaiadas também podem ser utilizadas para supor- tar grandes cargas, inclusive cargas dinâmicas, como no caso da estação Santo Amaro da CPTM, em São Paulo. O projeto da plataforma da linha desta esta- ção foi feito pelo arquiteto João Toscano, e sua inauguração se deu em 1986. Sua vedação entremeia elementos metálicos que visam o conforto acústico e térmico dos ocupantes da estação, e o desembarque dos estais no centro da plataforma revela a dimensão das fixações necessárias para sustentar uma es- trutura deste porte. Outra dimensão de implementação de estruturas estaiadas se dá como apoio a outros sistemas estruturais principais. Isto pode ser evidenciado em uma so- lução de acesso relativamente popularizada no Brasil: as marquises estaiadas. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 104 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 104 24/11/2020 11:53:49 Figura 7. Derivações de estruturas estaiadas: estádio Moses Mabhida (a), pavilhão Quadracci do Museu de Artes de Milwaukee (b), estação Santo Amaro da CPTM (c) e marquise atirantada comum (d). Fonte: Adobe Stock; Shutterstock; DUM Engenharia. Acesso em: 12/11/2020. (Adaptado).A B C D SISTEMAS ESTRUTURAIS II 105 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 105 24/11/2020 11:53:53 Materiais e pré-dimensionamento Estruturas derivadas de cabos costumam ser destinadas a vãos livres consi- deráveis. O mesmo pode ser dito de estruturas estaiadas, só que, nesse caso, existem exceções como as marquises. Nessas exceções, o que ocorre é que a estrutura, em si, pertence a outra tipologia. É o que ocorre nos pórticos em concreto armado do MAM do Rio de Janeiro, projeto de Aff onso Eduardo Reidy. Figura 8. Tirantes como apoios em outros sistemas estruturais: MAM. Fonte: MIGLIANI, 2018; VASCONCELLOS, 2004, p. 256. (Adaptado). A B Os cabos que constituem os tirantes do MAM são de aço. Eles trabalham a tração na transmissão de cargas do mezanino para a viga do pórtico. Estes tirantes podem ser contemplados tanto no interior do projeto, quanto em seus cortes técnicos, vistos na Figura 8a e Figura 8b, respectivamente. Tendo em vista que os cabos de estruturas estaiadas e pênseis trabalham exclusivamente a tração, é natural que sua composição seja dedicada, exclu- sivamente, ao aço. Entretanto, a fl exão imposta aos elementos verticais das estruturas pênseis, ou nos elementos verticais e/ ou inclinados das estruturas estaiadas, costuma demandar elementos robustos de concreto armado ou pe- ças mais esbeltas de aço. A diferença na composição destes elementos que recebem os ca- bos em ambas estas tipologias estruturais, se justifi ca pelo fato de que o aço lida com esforços equivalentes aos do concreto armado com maior facilidade. O aço resiste a tração e compressão se utilizando de um único mate- rial, resultando em peças mais leves e mais esbeltas. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 106 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 106 24/11/2020 11:53:54 No caso das estruturas pênseis, existe maior movimento no tabuleiro ou laje a ser sustenta- da, de modo que são necessários contraven- tamentos horizontais para sua estabilização. A materialidade destas vigas de travamento, varia de acordo com o partido e solução proje- tual do tabuleiro. Entretanto, faz-se a ressalva de que o pesado tráfego rodo- viário e/ ou ferroviário em tais estruturas, pode deteriorar mais rapidamente vigas de travamento executadas em madeira. A mesma preocu- pação se dá com relação ao aço, no caso de regiões costeiras (embora sejam, justamente, as treliças metálicas os elementos que melhor asseguram o tra- vamento dos tabuleiros destas estruturas). Consequentemente, as estruturas pênseis demandam uma manutenção considerável em suas ligações, e pode- -se argumentar que isto induz a utilização do concreto armado em seus com- ponentes estruturais não-tracionados. Já as estruturas estaiadas possuem maior rigidez, dispensando estas vigas de travamento. A ponte da estação Santo Amaro foi a primeira estrutura es- taiada construída no Brasil, em 1998 (OLIVEIRA, 2012). Já as pontes pênseis, existem no Brasil há quase 100 anos, e isto acentua consideravelmente a de- manda por sua manutenção. Todavia, um elemento de manutenção bastan- te recorrente nas pontes estaiadas são suas ligações, que podem demandar apertos periódicos. Não existem parâmetros de consulta imediata para o pré-dimensionamen- to de estruturas pênseis, mas os ábacos de Rebello nos indicam importantes prerrogativas sobre o potencial de sustentação dos cabos de crista, elemento central na sustentação das estruturas pênseis. Algo importante de se ressaltar é que estes ábacos de Rebello levam sempre em conta a realidade construtiva brasileira (REBELLO, 2000). Levando em conta os indicadores da Figura 9, pode-se concluir que as es- truturas pênseis contemporâneas possuem combinações de flecha e vão livre, que se iniciam com alturas de três metros e comprimentos de 15 metros, res- pectivamente. Os limites máximos para estes cabos ficam em alturas de 12 metros para vãos livres de 120 metros de extensão. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 107 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 107 24/11/2020 11:53:55 Entretanto, sabe-se que estes cabos de aço podem chegar a vãos livres de qua- se dois quilômetros, como ocorre na ponte japonesa Akashi Kaikyo, localizada em Kioto. Esta estrutura possui uma extensão total de 3,911 metros, e um vão livre má- ximo de 1,991 metros de comprimento. No Brasil, a maior ponte pênsil é a já men- cionada Ponte Hercílio Luz, com 339 metros de vão livre. Há, ainda, a possibilidade de vãos da ordem de 5,5 quilômetros, para linhas de transmissão (REBELLO, 2000). Cabos de aço Fl ec ha e m m et ro (D ) 15,0 12,0 9,0 6,0 3,0 0 15,0 30,0 45,0 60,0 75,0 75,0 90,0 106,0 120,0 B Vão (L) em metros O diâmetro do cabo é da ordem do milésimo do vão. L D Figura 9. Ábaco de pré-dimensionamento para estruturas derivadas dos cabos. Fonte: REBELLO, 2000, p. 91. (Adaptado). QUADRO 1. DIAGRAMA PARA A INTERPRETAÇÃO DO ÁBACO PARA PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE CABOS DE AÇO Fonte: REBELLO, 2000, p. 91. (Adaptado). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 108 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 108 24/11/2020 11:53:55 Algo importante de se mencionar, é que as pontes penseis são as de maior disseminação na construção civil mundial, em função de seus parâ- metros de segurança projetuais e custos de construção. Além disso, seus li- mites materiais ainda não foram plenamente esgotados (SALVADORI, 2011). A cada ano que passa, surgem novas pontes dessa tipologia estrutural, com vãos cada vez maiores. Curiosamente, isso ocorre cada vez mais na China. Heino Engel (2003, s. p.) apresenta parâmetros de pré-dimensionamento para estruturas derivadas dos cabos mais apropriados aos tirantes, sugerin- do que seu vão mínimo limítrofe fi ca na casa dos 50 metros. Já para o espec- tro de vãos ótimos para estruturas atirantadas, ele estipula uma variação de 80,0 a 500,0 metros, mas sem estipular uma altura precisa. A maior estrutura estaiada presente no mundo é a ponte Russky, locali- zada em Vladivostok, Rússia, com um vão livre de 1,104 metros e um total de 3100 metros de extensão. No Brasil, dentre as maiores destas estruturas, fi gura a ponte Newton Navarro, em Natal, que possui um vão livre estaiado de 500 metros e uma extensão total de 2713 metros. Constata-se que, dados os grandes vãos e complexidade de cargas que as afl igem, o dimensionamento de estruturas es- taiadas e penseis se dá por ferramental de cálcu- lo mais robusto, como o método dos elementos fi nitos. Estas análises computacionais visam neutralizar o principal inimigo das estru- turas em cabo, o vento, pois correntes de vento mais acentuadas podem retirar o cabo de sua funicular. Membranas tensionadas O presente tópico aborda as associações contínuas de cabos, isto é, cabos dispostos tão proximamente uns dos outros que formam uma superfície úni- ca (REBELLO, 2000). Se trata de um assunto especial no âmbito dos sistemas estruturais, pois é justamente das membranas tensionadas que derivam as principais inovações em termos de materiais estruturais e software de design digital na concepção estrutural das primeiras décadas do século XXI. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 109 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 109 24/11/2020 11:53:55 Para melhor analisar este assunto, este tópico foi subdivido em dois subtópi- cos iniciais: concepção e fundamentação e materiais e pré-dimensionamento. Neste primeiro subtópico são abordados parâmetros de estruturação e a com- posição da tipologia estrutural das membranas tensionadas. Já no segundo sub- tópico, são abordadas possibilidades de materiais construtivos e estratégias de pré-dimensionamento vigentes para estas estruturas tão peculiares. Concepção e fundamentação As membranas tensionadas nada mais são do que a disposição con- tínua de cabos, entremeados ortogonalmente entre si. O resultado são as superfícies estruturais não-rígidas, ou associação contínua de cabos (BECHTHOLD, 2008; REBELLO, 2000). Tendo em vista que essas estruturas são derivadas dos cabos, elas pa- decemdas mesmas dificuldades e se beneficiam das mesmas questões que eles: alcançam vãos livres consideráveis e com leveza, mas somente me- diante a absorção da tração e correndo o risco de perder sua estabilidade em função do vento. Logo, para manter a sua forma ideal, derivada das funiculares de seus es- forços, o importante nesta tipologia estrutural é zelar pelo seu enrijecimento, por meio de uma malha secundária de cabos. Dentre os arranjos mais usuais destas malhas de cabos secundários, fi guram o que vemos na Figura 10. Na Figura 10a, observa-se um arranjo que se utiliza de um cabo de crista, que muito se assemelha à confi guração de pontes pênseis. A diferença desse arranjo para as estruturas pênseis é que os cabos estabilizantes não estão suportando um tabuleiro, mas estabilizando a funicular do cabo de crista. Já a Figura 10b indica uma distribuição radial de cabos tracionados, que ficam ancorados em suas extremidades e estabilizados e mantidos em suas funiculares por anéis, também constituídos por cabos. A Figura 10c sugere uma configuração parecida com a anterior, com a diferença de que a chegada dos cabos radiais ao solo é interrompida por cabos de vale. Esta conformação viabiliza o recobrimento de áreas retangu- lares (REBELLO, 2000). Todas as soluções da Figura 10 podem ser recober- tas por membranas tensionadas. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 110 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 110 24/11/2020 11:53:55 A B C Cabo de crista Cabos estabilizantes Cabo de vale Cabo de vale Cabo de vale Figura 10. Arranjos de cabos secundários para estruturas de membranas tensionadas. Fonte: REBELLO, 2000, p. 120-121. (Adaptado). Na Figura 10a temos as configurações de arranjos de cabos secundários, se utilizando de cabos de crista, cabos de vale e cabos estabilizantes. Na Figura 10b temos o ancoramento radial dos cabos. Na Figura 10c temos a distribuição radial de cabos, se utilizando de cabos de vale em uma base retangular. É impossível analisar essas estruturas sem remeter às tendas de nômades beduínos (Figura 11a). Nessas estruturas estão presentes as mesmas prerro- gativas das estruturas derivadas de cabos e das membranas tensionadas de hoje: a dependência de apoios rígidos nos quais atar os cabos e a deformação excessiva que vem com ventos mais fortes. Embora estas tendas demonstrem o uso da tração por parte de constru- tores em todo o mundo, foi em meados do século XX que o arquiteto alemão Frei Otto revolucionou a maneira de projetação e construção de estruturas de membranas tensionadas. Dentre suas edificações mais emblemáticas se en- contram a cobertura para o Estádio Olímpico de Munique, concluído em 1972 (Figura 11b). O arquiteto alemão Frei Otto (1925 - 2015) teve uma trajetória construtiva incrível, sendo laureado com o prêmio Pritzker, em 2015, a condecoração má- xima no mundo da arquitetura. Sua produção implicou em experimentações com modelos e materiais construtivos diferentes, estabelecendo as membra- nas tensionadas como uma tipologia estrutural legitima para grandes vãos. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 111 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 111 24/11/2020 11:53:55 Figura 11. Exemplos de membranas tensionadas: tenda nômade no deserto (a) e cobertura para o Estádio Olímpico de Munique (b). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 12/11/2020. (Adaptado). Durante esta trajetória, Otto fundou o que hoje é denominado ILEK (Insti- tute for lightweight structures and conceptual design). Dentre as experimen- tações mais consagradas de Otto, figura sua análise de modelos de sabão (Figu- ra 12a), em que ele buscava a superfície mínima (a menor área necessária para recobrir uma determinada superfície). DICA O ILEK realiza pesquisas acadêmicas sobre diversas tipologias estruturais. Exemplos de suas pesquisas envolvem tecidos e materiais alternativos, o uso do concreto armado em fibra de plástico e finas cúpulas de vidro feitas para resistir à neve. Para saber mais, recomenda-se o acesso ao portal do ILEK e leitura de algumas de suas publicações (em inglês). A B SISTEMAS ESTRUTURAIS II 112 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 112 24/11/2020 11:53:57 Nesse experimento de Otto, as estruturas tinham sua forma obtida por meio de modelos de sabão, conhecidos na comunidade acadêmica internacio- nal como soap films, e modelos mais intricados (Figura 12b), em que existiam sensores de movimentação mediante aos carregamentos aos quais eram sub- metidos. Se trata de um processo iterativo de obtenção de formas, em que, a partir da tentativa e erro, se reduzia o número de tentativas necessárias para se chegar à solução construtiva. Esta solução construtiva, por sua vez, era testada em modelos cada vez maiores até atingir a escala 1:1. Antes do estádio de Munique, foram testadas coberturas menores como o pavilhão alemão para a Expo 67 de Montreal. A solução de cobertura final foi recoberta com uma lona de polyester revestida por PVC, de modo a assegurar um certo grau de transparência (Figura 12c). Mesmo diante de tamanha experimentação, nota-se a presença de enormes cabeçotes de fundação brotando do solo, justamente para arrefecer os esforços de empuxo oriundos dos tirantes (Figura 12c). É importante se atentar às intenções projetuais no subsolo, em função do volume destes componentes construtivos. Figura 12. Processo de projeto do Estádio Olímpico de Munique. Fonte: ZEXIN; MEI, 2017, p. 2; WENDLAND, 2003, p. 7; Shutterstock. Acesso em: 12/11/2020. (Adaptado). A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 113 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 113 24/11/2020 11:54:00 Ao longo do século XX, surgiram outras possibilidades de tramas de cabos tracionados, como as estruturas pneumáticas. A palavra pneumática quer dizer “ramo da Física que trata das propriedades físicas (peso, pressão, elasticidade etc.) do ar e dos outros gases” (PNEUMÁTICA, 2020). Já o termo pneumático fica definido como sendo um adjetivo relativo ao ar, à pneumática ou definindo algo que é movido ou acionado por ar comprimido (PNEUMÁTICO, 2020). Uma análise mais aprofundada das definições desses termos revela que o conceito ainda não se difundiu plenamente no imaginário popular no que diz respeito à construção civil. Entretanto, fica claro que se trata de estruturas que são estruturadas (tracionadas) pela ação do ar. Existem duas variações tipoló- gicas principais no que diz respeito às estruturas pneumáticas: • As estruturas que são infladas por dentro, sob uma lona, tecido ou mem- brana, tal qual mostrado na Figura 13a. Nesta variação tipológica, todo o espa- ço interno gerado pela estrutura é pressurizado; • As estruturas em que existe uma camada de ar entre as membranas que as compõem, tal qual mostrado na Figura 13b. Nesta variação tipológica, ape- nas o espaço intersticial entre as membranas se encontra pressurizado. Figura 13. Variações de estruturas pneumáticas. Fonte: SCHODEK; BECHTHOLD, 2014, p. 386. (Adaptado). A C B D E SISTEMAS ESTRUTURAIS II 114 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 114 24/11/2020 11:54:00 Figura 15. Exemplos das variações de estruturas pneumáticas (parte 2). Fonte: Adobe Stock; Shutterstock. Acesso em: 12/11/2020. (Adaptado). Figura 14. Exemplos das variações de estruturas pneumáticas (parte 1). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 12/11/2020. (Adaptado). Nas Figuras 13a e 13c podemos ver estruturas pneumáticas infladas por dentro, por ar comprimido. Nas Figuras 13b e 13d vemos estruturas infladas por meio de uma camada de ar-comprimido entre a face interna e a externa da membrana que as recobre. Dentre as estruturas pneumáticas com camada de ar, existe a possibilidade da construção em paredes duplas (vista na Figura 13d) ou em costelas (vista na Figura 13e). Exemplos de estruturas pressurizadas em todo o seu interior incluem qua- dras esportivas de tênis indoor, muito populares no mundo todo (Figura 14a). Outro exemplo icônico dessa tipologia inclui o estádio Tokyo Dome (Figura 14b), projetode Takenaka Corporation e Nikken Sekkei, em 1988. Seu interior é levemente pressurizado, e abriga uma capacidade de 44 mil pessoas. A A B B SISTEMAS ESTRUTURAIS II 115 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 115 24/11/2020 11:54:04 As estruturas pneumáticas podem ser pressurizadas nas camadas de pa- redes internas, como no caso da Allianz Arena de Munique (Figura 15a). Este projeto dos arquitetos Herzog Meuron, de 2005, possui uma capacidade para 75.000 expectadores, e sua fachada é composta por painéis costurados a cada 0,2 mm, que se acendem independentemente. Existe, também, a possibilidade de estruturas pneumáticas compostas por costelas infl áveis, muito utilizados em estruturas efêmeras e hangares milita- res (Figura 15b). A arquitetura efêmera é uma constante para ambas as mo- dalidades de membranas tensionadas: as tensoestruturas convencionais e as estruturas pneumáticas. Por fi m, existe a possibilidade de se trabalhar com estruturas pressurizadas internamente, a fi m de se compor lajes e vigas pneumáticas. Este é o caso dos produtos da Tensairity (Figura 16), fornecedor italiano de soluções para pontes, coberturas e áreas para eventos temporários. Figura 16. Solução de ponte temporária da Tensairity. Fonte: Tensairity Solutions. Acesso em: 12/11/2020. Materiais e pré-dimensionamento Rebello (2000, s. p.) não dispõem de ábacos para estruturas de membra- nas tensionadas, dado o ferramental de cálculo necessário para o compu- to de sua geometria, determinada por métodos computacionais derivados dos elementos finitos. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 116 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 116 24/11/2020 11:54:06 Já Engel (2003, s. p.) se aventura a estipular espectros de vãos estaticamente viáveis e vãos ótimos para variações de estruturas em membranas tensionadas convencionais, também conhecidas como tensoestruturas e membranas pneu- máticas (Quadro 2). Tipologia estrutural Diagrama da tipologia Espectro de vãos estaticamente possíveis Espectro de vãos ótimos Membrana tensionada convencional (tensoestruturas) Cabos de crista e de vale 20 a 100 metros 50 a 70 metros Distribuição radial 20 a 150 metros 30 a 80 metros Estruturas pneumáticas Pressurização interna 10 a 300 metros 10 a 40 metros e 90 a 200 metros Pressurização intra-camadas 10 a 70 metros 10 a 50 metros Membrana tensionada Membrana tensionada convencional (tensoestruturas) Membrana tensionada convencional (tensoestruturas) tensionada convencional (tensoestruturas) convencional (tensoestruturas)(tensoestruturas) Cabos de crista e de valeCabos de crista e de valeCabos de crista e de valeCabos de crista e de valeCabos de crista e de valeCabos de crista e de valeCabos de crista e de valeCabos de crista e de vale 20 a 100 metros Distribuição radial 20 a 100 metros Distribuição radial 20 a 100 metros Distribuição radial 20 a 100 metros Distribuição radial 20 a 100 metros Distribuição radial Distribuição radial 20 a 150 metros 50 a 70 metros 20 a 150 metros 50 a 70 metros 20 a 150 metros 50 a 70 metros 20 a 150 metros 50 a 70 metros 20 a 150 metros 50 a 70 metros 30 a 80 metros30 a 80 metros30 a 80 metros30 a 80 metros Estruturas pneumáticas Estruturas pneumáticas Estruturas pneumáticaspneumáticaspneumáticas Pressurização internaPressurização internaPressurização internaPressurização internaPressurização internaPressurização internaPressurização interna 10 a 300 metros Pressurização intra-camadas 10 a 300 metros Pressurização intra-camadas 10 a 300 metros Pressurização intra-camadas 10 a 300 metros Pressurização intra-camadas 10 a 300 metros intra-camadas 10 a 40 metros e 90 a 200 metros 10 a 70 metros 10 a 40 metros e 90 a 200 metros 10 a 70 metros 10 a 40 metros e 90 a 200 metros 10 a 70 metros 10 a 40 metros e 90 a 200 metros 10 a 70 metros 10 a 40 metros e 90 a 200 metros 90 a 200 metros 10 a 50 metros 10 a 50 metros 10 a 50 metros 10 a 50 metros 10 a 50 metros QUADRO 2. PRERROGATIVAS DE PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS EM MEMBRANAS TENSIONADAS Fonte: ENGEL, 2003, p. 62. (Adaptado). O Quadro 2 mostra os vãos estaticamente viáveis e ótimos para variações de membranas tensionadas convencionais e estruturas pneumáticas. A análise cuida- dosa do Quadro 2 revela que tensoestruturas possuem vãos estaticamente viáveis de 20 a 100 metros e de 10 a 150 metros, para tensoestruturas derivadas de cabos de vale e de crista e tensoestruturas radialmente dispostas, respectivamente. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 117 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 117 24/11/2020 11:54:06 Quando o assunto são os vãos ótimos, as tensoestruturas com cabos de vale e de crista ficam entre 50 a 70 metros, ao passo que tensoestruturas de distribuição radial ficam entre 30 e 80 metros. Já com relação às estruturas pneumáticas, as estruturas pressurizadas in- ternamente apresentam vãos estaticamente viáveis de 10 a 50 metros, e apre- sentam dois espectros de vãos ótimos: 10 a 40 metros e 90 a 200 metros de vão livre. Já as estruturas pressurizadas entre camadas de sua fachada apresentam vãos estaticamente possíveis entre 10 e 70 metros, com vãos ótimos ficando entre 10 a 50 metros. Com relação à materialidade destas estruturas em membrana, evoluímos consideravelmente desde o naylon revestido de PVC, utilizado no estádio de Munique. Este ponto, aliás, foi um dos mais criticados pela comunidade arqui- tetônica, pois as vedações se amarelaram rapidamente com o tempo. Não possuímos fornecedores brasileiros para estruturas de membranas tensionadas de grande porte, sendo que cada projeto, muitas vezes, traz con- sigo uma variação de tecidos engenheirados para seu caso em especial, sendo muitas vezes tratados como segredos industriais. Todavia, hoje, as soluções mais uti- lizadas em tensoestruturas incluem o polyester revestido por PVC, a fibra de vidro revestida por Teflon ou a fi- bra de vidro revestida por silicone. Os revestimentos de PVC são baratos, resistentes ao fogo e facilmente costu- rados. Entretanto, suas superfícies se descolorem rapidamente e acumulam bastante sujeira, apresentando vida útil limitada a um espectro de dez a 20 anos. Já revestimentos de Teflon são mais resistentes à degradação, porém se desgastam mais facilmente (SCHODEK; BECHTHOLD, 2014). No âmbito das pneumáticas, os mesmos materiais podem ser utilizados, mas Bechthold (2008, s. p.) indica que se destacam, também, as membranas de ETFE (etileno tetrafluoroetileno), um plástico a base de flúor, e as membranas de THV (tetrafluoretileno), mais conhecido como Teflon. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 118 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 118 24/11/2020 11:54:08 Os colchões de ar em ETFE apresentam maior disseminação em função de suas propriedades, como maior translucidez e resistência mecânica em relação a alternativas como o PVC. As membranas de ETFE também podem ser recicla- das e desenvolvidas com propriedades autolimpantes. Hoje, a engenharia dos materiais contribui ativamente com a arquitetura e a engenharia civil na geração de, cada vez mais, variações de ETFE, THV e PVC para serem utilizados em membranas tensionadas e estruturas pneumáticas, todos derivados de polímeros (os plásticos da construção civil). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 119 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 119 24/11/2020 11:54:08 Sintetizando Esta unidade foi dividida em dois grandes tópicos: Estruturas estaiadas e pênseis e Membranas tensionadas. Cada um destes tópicos explorou a concepção estrutural e a fundamentação teórica referente a cada uma des- tas tipologias estruturais, refletindo acerca de possíveis materiais a serem adotados e os parâmetros de pré-dimensionamento utilizados. Ao longo da unidade foram diferenciados os conceitos de estruturas es- taiadas e estruturas pênseis, no que diz respeito à sua configuração geomé- trica e rigidez, e ficou estabelecida a maneira como estas estruturas deri- vam doscabos. Foi explorada a natureza do encaminhamento de cargas em ambas as tipologias estruturais, assim como foram apontadas obras emble- máticas de ambas as estruturas. As estruturas estaiadas e pênseis são, primariamente, utilizadas para grandes vãos, sendo que o material predominante de seu cabeamento é o aço, justamente por sua resistência à tração. Ficou claro que não existem parâmetros tão bem definidos para seu pré-dimensionamento, dada a com- plexidade de seu comportamento estrutural. No tópico sobre membranas tensionadas ficou, mais uma vez, estabele- cida a maneira como estas estruturas se utilizam de elementos estaiados e de cabos em sua configuração. Também foram apresentadas duas variações tipológicas dentro desta categoria: as tensoestruturas e as estruturas pneu- máticas, derivadas do ar comprimido. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 120 SER_ARQURB_SEII_UNID4.indd 120 24/11/2020 11:54:08 Referências bibliográficas ARCHDAILY interviews: Santiago Calatrava. Postado por ArchDaily. (7 min. 15 s.). son. color. ingl. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kS9RT- qlOqVc>. Acesso em: 12 nov. 2020. BECHTHOLD, M. Innovative surface structures: technologies and applica- tions. 1. ed. Nova Iorque: Taylor & Francis, 2008. CORONA, E.; LEMOS, C. A. C. Dicionário da arquitetura brasileira. 1. ed. São Paulo: Edart, 1972. DUM ENGENHARIA. Marquise atirantada. Disponível em: <https://dumenge- nharia.com.br/portfolio-item/comercial-2/>. Acesso em: 12 nov. 2020. 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