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SISTEMAS ESTRUTURAIS II SISTEMAS ESTRUTURAIS II Sistem as Estruturais II Felipe Corres Melachos Felipe Corres Melachos GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro A cadeira da tecnologia da construção engloba a viabilização construtiva das idea- ções projetuais do arquiteto e urbanista, de modo a integrar as disciplinas dos siste- mas estruturais e prediais em uma edi� cação funcional, confortável, sustentável e acessível. Essa integração de todos os componentes de uma edi� cação, entretanto, compreende um processo iterativo, de tentativa e erro, diretamente proporcional à experiência projetual e conhecimento técnico do pro� ssional em cada uma das disci- plinas construtivas. Entre essas disciplinas, os sistemas estruturais envolvem justamente a concepção formal-estrutural das edi� cações: o arranjo e ajuste contínuo de seus elementos geo- métricos constituintes durante o processo de projeto. A associação dessas formas geométricas em estruturas tem como objetivo principal atingir o equilíbrio estático interno e externo da edi� cação proposta – e são denominadas tipologias estruturais. Essas tipologias estruturais apresentam características, semelhanças e diferenças, especialmente no que diz respeito ao encaminhamento de esforços, materiais passí- veis de serem utilizados na execução, natureza de suas vinculações e vãos livres que podem vencer. Aproveite essa jornada e preste atenção às novas tecnologias de fabricação digital e ferramentas de design digital, bem como no desenvolvimento de novos materiais construtivos! Estudar sistemas estruturais hoje signi� ca testemunhar a quebra de paradigmas estabelecidos há décadas! SER_ARQURB_SEII_CAPA.indd 1,3 24/11/2020 12:49:07 © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Felipe Corres Melachos DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 2 24/11/2020 10:44:21 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 3 24/11/2020 10:44:21 Unidade 1 - A estrutura: cargas atuantes nas estruturas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 As estruturas na arquitetura............................................................................................... 13 Conceituação aplicada à arquitetura .......................................................................... 13 Concepção formal-estrutural na arquitetura .............................................................. 17 Tipologias estruturais ..................................................................................................... 22 Cargas atuantes nas estruturas ......................................................................................... 26 Tipos de cargas ................................................................................................................ 26 Características das cargas ............................................................................................ 30 Sintetizando ........................................................................................................................... 35 Referências bibliográficas ................................................................................................. 38 Sumário SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 4 24/11/2020 10:44:21 Sumário Unidade 2 - Concepção e fundamentação – estruturas em pórtico e cascas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 40 Estruturas em pórtico........................................................................................................... 41 Concepção e fundamentação ....................................................................................... 41 Materiais e pré-dimensionamento .............................................................................. 47 Estruturas em arco ............................................................................................................... 53 Concepção e fundamentação ....................................................................................... 53 Materiais e pré-dimensionamento .............................................................................. 59 Sintetizando ........................................................................................................................... 65 Referências bibliográficas ................................................................................................. 67 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 5 24/11/2020 10:44:21 Sumário Unidade 3 - Concepção e fundamentação: estruturas em placas e cascas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 69 Estruturas em placas ........................................................................................................... 70 Materiais e pré-dimensionamento ............................................................................... 77 Estruturas em cascas........................................................................................................... 82 Materiais e pré-dimensionamento ............................................................................... 86 Sintetizando ........................................................................................................................... 91 Referências bibliográficas ................................................................................................. 93 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 6 24/11/2020 10:44:21 Sumário Unidade 4 - Concepção e fundamentação de estruturas em membranas, estaiadas e pênseis Objetivos da unidade ........................................................................................................... 96 Estruturas estaiadas e pênseis .......................................................................................... 97 Concepção e fundamentação ....................................................................................... 97 Materiais e pré-dimensionamento ............................................................................. 106 Membranas tensionadas................................................................................................... 109 Concepçãoe fundamentação ..................................................................................... 110 Materiais e pré-dimensionamento ............................................................................. 116 Sintetizando ......................................................................................................................... 120 Referências bibliográficas ............................................................................................... 121 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 7 24/11/2020 10:44:21 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 8 24/11/2020 10:44:21 A cadeira da tecnologia da construção engloba a viabilização construtiva das ideações projetuais do arquiteto e urbanista, de modo a integrar as discipli- nas dos sistemas estruturais e prediais em uma edifi cação funcional, confortá- vel, sustentável e acessível. Essa integração de todos os componentes de uma edifi cação, entretanto, compreende um processo iterativo, de tentativa e erro, diretamente proporcional à experiência projetual e conhecimento técnico do profi ssional em cada uma das disciplinas construtivas. Entre essas disciplinas, os sistemas estruturais envolvem justamente a con- cepção formal-estrutural das edifi cações: o arranjo e ajuste contínuo de seus elementos geométricos constituintes durante o processo de projeto. A asso- ciação dessas formas geométricas em estruturas tem como objetivo principal atingir o equilíbrio estático interno e externo da edifi cação proposta – e são denominadas tipologias estruturais. Essas tipologias estruturais apresentam características, semelhanças e diferenças, especialmente no que diz respeito ao encaminhamento de esforços, materiais passíveis de serem utilizados na execução, natureza de suas vinculações e vãos livres que podem vencer. Aproveite essa jornada e preste atenção às novas tecnologias de fabricação digital e ferramentas de design digital, bem como no desenvolvimento de no- vos materiais construtivos! Estudar sistemas estruturais hoje signifi ca testemu- nhar a quebra de paradigmas estabelecidos há décadas! Apresentação SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 9 24/11/2020 10:44:22 Dedico este trabalho a minha família, a todos os docentes e pesquisadores de arquitetura e urbanismo e a todos os operários da construção civil de nosso país. Dedico, também, aos familiares e às vítimas da Covid-19 neste desafi ador ano de 2020. O professor Felipe Corres Melachos é Doutor em Arquitetura e Urbanismo (2020) com dupla titulação, pela Univer- sidade Presbiteriana Mackenzie e pela Università degli Studi di Ferrara (Uni- fe). Tem mestrado (2014) e graduação (2011) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Sua prática profi ssional é enriquecida pela docência, pesquisas acadêmicas e publicações no âmbito dos sistemas estruturais e projetos de Arquitetura e Urbanismo. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9240325806927160 SISTEMAS ESTRUTURAIS II 10 O autor SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 10 24/11/2020 10:44:22 A ESTRUTURA: CARGAS ATUANTES NAS ESTRUTURAS 1 UNIDADE SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 11 24/11/2020 10:44:41 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender o conceito de estrutura no âmbito da arquitetura; Conhecer e analisar os tipos e características de cargas atuantes nos sistemas estruturais das edificações. As estruturas na arquitetura Conceituação aplicada à arquitetura Concepção formal-estrutural na arquitetura Tipologias estruturais Cargas atuantes nas estruturas Tipos de cargas Características das cargas SISTEMAS ESTRUTURAIS II 12 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 12 24/11/2020 10:44:41 As estruturas na arquitetura O tópico inicial desta unidade debruça-se sobre a essência da cadeira dos sistemas estruturais: o conceito de estruturas. Para melhor explorar os predi- camentos intrínsecos ao conceito de estruturas na construção civil, este item foi dividido em três subtópicos: “Conceituação aplicada à arquitetura”, “Con- cepção formal-estrutural na arquitetura” e “Tipologias estruturais”. No primeiro subtópico, fi cam estabelecidas defi nições consagradas para o conceito de estruturas a partir de uma percepção holística até, fi nalmente, che- garmos ao âmbito de nosso interesse: os sistemas estruturais na arquitetura e urbanismo. No segundo item (“Concepção formal-estrutural na arquitetura”), procede-se a uma análise sobre o surgimento da estrutura no projeto arquite- tônico propriamente dito, sob o ponto de vista de seus elementos constituintes e atores envolvidos no processo. No terceiro, por fi m (“Tipologias estruturais”), faz-se um apanha- do dos agrupamentos de sistemas estruturais de maior dissemi- nação na construção civil. Antes do estabelecimento de taxonomias estruturais arbitrárias, esse tópico é importante exatamente por apresentar tais tipolo- gias estruturais, levando em conta os elementos construtivos responsáveis pelo encaminhamento de cargas e sua forma geométrica. Conceituação aplicada à arquitetura O conceito de estruturas está imbuído em virtualmente todas as áreas de co- nhecimento do mundo. Uma simples consulta ao dicionário revela a multiplicidade de facetas que a defi nição pode assumir conforme a óptica de sua interpretação. O Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (2020), por exemplo, apresen- ta 20 acepções para o termo “estrutura”, sendo sete delas interdisciplinares: 1. Organização e disposição das partes ou dos elementos essen- ciais que formam um corpo. 2. Arranjo de partículas ou componentes de uma substância ou corpo; textura. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 13 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 13 24/11/2020 10:44:41 3. Modo de construção de algo; formação [...] 5. Parte de algo que determina sua disposição de espaço e lhe dá sustentação; armação [...] 7. Organização das partes de algo de caráter genérico. 8. Parte essencial de algo (ideia, pensamento, teoria etc.) [...] 20. V esquema, acepção 1 (ESTRUTURA, 2020). Nota-se, portanto, que essa definição inicial trata o conceito como um eixo de organização de um corpo e seus componentes. Mesmo nessas acepções ge- néricas, entretanto, a lógica de estrutura como sistema de construção ou cons- tituição já aparece no terceiro sentido apresentado. A questão da sustentação, certamente presente nas associações suscitadas pelo conceito de estruturas no senso comum, aponta na quinta acepção. Dessa forma, não é de surpreender-se que as acepções específicas do verbete “estrutura” nos domínios da construção civil e da arquitetura agluti- nem os conceitos de sistema organizacional dos elementos que constituem a sustentação das edificações: “4 CONSTR Esqueleto ou armação de uma edifi- cação [...] 17 ARQUIT Maneira como as diversas partes de uma edificações são organizadas entre si”. Nessa mesma linha de raciocínio, Almeida (2015) define estrutura como um arranjo de elementos conectados entre si e que resultam em um sistema em equi- líbrio estático e dinâmico. Ao aplicarmos tal definição ao nosso redor, torna-se possível verificarmos que existe uma série de elementos que podem ser classifi- cados como estruturas, como por exemplo: os navios, para os engenheiros navais, na Figura 1 (a); os carros, para os engenheiros mecânicos, na Figura 1 (b); o mobi- liário, para os arquitetos e designers de interiores, na Figura 1 (c); e as edificações, para os arquitetos e engenheiros civis, na Figura 1 (d). EXPLICANDO Na física, entende-se que um corpo está em equilíbrio quando a soma de todas as forças que atuam sobre este corpo é nula. Um corpo está em equilíbrio estático quando, além de estar em equilíbrio, está parado: por exemplo, uma fruteira na mesa de jantar. O mesmo ocorre em relação ao equilíbrio dinâmico, com uma diferença que, ao invés de estar parado, o corpo está em equilíbrio e movimento uniforme, como um corredor de marcha atlética nas olimpíadas. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 14SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 14 24/11/2020 10:44:41 Figura 1. Existem estruturas construídas em diversas áreas do conhecimento: fragatas como as da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), retratadas na imagem (a), são estruturas de alta complexidade concebidas na en- genharia naval. Ao passo que essa mesma complexidade pode estar igualmente presente em escalas menores e quase artesanais, como nos automóveis esportivos, a exemplo da Lamborghini Gallardo LP 560-4 (b), e na cadeira Barcelona (c). Na arquitetura, há edifícios que explicitam seus elementos estruturais: o Centro Empresarial das Nações Unidas (CENU), na capital de São Paulo, é um exemplo (d). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A C B D No âmbito da arquitetura e construção civil, a estrutura pode ser entendida como o agrupamento de elementos geométricos constituintes que sustentam uma edificação. Esses elementos geométricos constituintes, por sua vez, têm como função primordial o encaminhamento das cargas, que acometem a edi- ficação rumo ao solo. Sabe-se que, pela força da gravidade, o encaminhamento mais direto das forças ao solo dá-se pela vertical. Assim, quanto mais direto manifestar-se esse encaminhamento de cargas, menor será o volume de elementos geométricos responsáveis pela sustentação da edificação. O Palazzo Ducale, em Veneza , mostrado na Figura 2 (a), apresenta colunas mais esbeltas no primeiro pavimento do que no pavimento térreo, pois o enca- minhamento vertical de forças foi diluído de três colunas no primeiro pavimen- to para duas colunas no pavimento térreo. Nesse caso, diz-se que houve uma transição estrutural feita pelos arcos situados entre os dois pavimentos que recebem as forças das colunas do primeiro pavimento e as transferem para colunas mais robustas no pavimento térreo. Da mesma maneira, quando existem mais elementos estruturais para rea- lizar o encaminhamento de esforços, suas dimensões tornam-se menores. O SISTEMAS ESTRUTURAIS II 15 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 15 24/11/2020 10:44:42 Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), visto na Figura 2 (b) e proje- tado por Oscar Niemeyer em 1991, consequentemente, exprime um pilar rela- tivamente robusto, já que esse elemento constitui a única alternativa para as cargas atuantes na edificação chegarem até ao solo. No caso do Museu de Arte de São Paulo (MASP), apresentado na Figura 2 (c) e projetado por Lina Bo Bardi em 1958, o vão livre de 70 metros culmina em um encaminhamento de forças não lineares, que, somado aos poucos apoios, tam- bém suscita pilares robustos. No Eden Project (Figura 2-d), de Cornwall (Reino Unido), projetado por Nicholas Grimshaw em 2001, observa-se a utilização de domos geodésicos de geometria amigável ao encaminhamento das cargas por elementos e materiais incrivelmente leves. ASSISTA O processo de execução do Eden Project foi repleto de desafios. Ao mesmo tempo que a escolha de seu sistema estrutural e suas fundações foram vitais para lidar com um terreno muito desgastado, a instalação de todos os módu- los estruturais só foi possível graças à sua leveza. Confira mais sobre este incrível projeto no vídeo The Eden Project, produzido por Nicholas Grimshaw, autor da obra. Figura 2. Encaminhamento de forças e linearidade. O encaminhamento de forças linear é bastante distribuído no Palazzo Ducale (a), em Veneza, e produz elementos estruturais mais esbeltos, ao passo que a presença de um único apoio no MAC de Niterói (b) suscita um apoio relativamente robusto. Se no MASP (c), em São Paulo, o vão de 70 metros e os poucos pila- res para receberem as cargas culminam em enormes apoios em suas laterais, a utilização de geometria otimizada e mui- tos módulos estruturais no Eden Project culminam em apoios esbeltos (d). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B C D SISTEMAS ESTRUTURAIS II 16 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 16 24/11/2020 10:44:44 Diante da pluralidade de elementos geométricos passíveis de serem utili- zados como elementos estruturais na arquitetura, é importante observar que seu arranjo mais usual ocorre no encaminhamento de forças por meio do sis- tema laje – viga – pilar. Nesse sistema, o encaminhamento da carga “q” (Figura 3) vai de lâminas horizontais (lajes) para barras horizontais (vigas), que, por sua vez, encaminham para barras verticais (pilares). Antes de chegarem ao solo, tais cargas são encaminhadas para as fundações. A conformação geométrica e construtiva dessas fundações varia, entre outros aspectos, conforme a natureza do solo, ocorrência e nível de lençóis freáticos subjacentes e a magnitude das cargas das edifi cações. No exemplo da Figura 3, as fundações ilustradas são as sapatas isoladas: lâminas posicionadas direta- mente abaixo dos pilares e utilizadas como alternativas para fundações rasas. Figura 3. Diagrama de sistema estrutural laje – viga – pilar, este constitui um dos elementos estruturais mais utilizados: as lâminas horizontais (lajes), barras horizontais (vigas) e barras verticais (pilares). Fonte: Fadesp, 2015, p. 13. Viga Viga Pilar Pilar Pilar Pilar Sapata Sapata Laje Sapata Sapata Concepção formal-estrutural na arquitetura Perante as variações estruturais apresentadas, é natural indagar-se acerca de qual seria a melhor solução estrutural; o célebre engenheiro civil Yopanan Rebello (2000, p. 25) responde a essa pergunta de maneira brilhante: SISTEMAS ESTRUTURAIS II 17 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 17 24/11/2020 10:44:44 Então, qual a melhor solução estrutural? Para responder à pergunta, é necessária a formulação de uma outra melhor: melhor em relação a quê? A mais fácil de construir? A mais bonita? A mais econômica? A melhor estrutura na verdade não existe. As múltiplas soluções estruturais expostas na Figura 2 têm, de fato, pontos positivos e negativos. O MASP, visto na Figura 2 (c), não é, seguramente, a estru- tura mais barata dessa relação, mas equaciona um dos principais objetivos pro- jetuais de sua arquiteta, Lina Bo Bardi, que é o de promover uma área de convi- vência sob o edifício capaz de receber manifestações culturais das mais variadas naturezas. Se a prioridade projetual de Lina Bo Bardi fosse a questão orçamentá- ria, haveria uma chance considerável de seu vão livre ser repartido em módulos estruturais menores, delimitados por pilares também menores que os originais. O sistema laje – viga – pilar (Figura 3) para estruturas de concreto armado, atinge um excelente custo-benefício para vãos livres até a ordem de oito metros de distância, culminando em sua ampla disseminação no globo para edificações produzidas em massa. No caso do Eden Project, visto na Figura 2 (d), todavia, a presença de pilares e o pé-direito possível dentro do espectro do sistema laje – viga – pilar não seriam condizentes com os objetivos do projeto: a criação de biomas de diversas partes do globo em cada redoma com condições climáticas mais próximas possíveis às originais de cada um. Existe, ainda, uma substancial confusão em nossa sociedade em relação às atribuições profissionais de arquitetos e urbanistas e engenheiros civis, assim como ocorre em relação a arquitetos e urbanistas e designers de interiores. Tudo isso dá-se, em partes, graças à variação das atribuições de cada um des- ses três profissionais no globo, mas é fundamental separar os conceitos de criação de estruturas e dimensionamento de estruturas. Rebello enriquece tal noção apontando a forma como a inter-relação des- ses elementos construtivos vai além do mero encaminhamento das cargas que acometem a edificação rumo ao solo e culminam em espaços onde ocorrem as atividades, isto é, pode-se afirmar que a estrutura dá forma ao espaço, bem como as aspirações de forma do arquiteto moldam a estrutura idealizada em um processo de retroalimentação e refinamento contínuo até o encerramento do projeto arquitetônico. Tendo em vista que forma e estrutura são indissociá-SISTEMAS ESTRUTURAIS II 18 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 18 24/11/2020 10:44:44 veis, é possível denominar a criação das estruturas na arquitetura como um processo de concepção formal-estrutural. O célebre engenheiro espanhol Eduardo Torroja (1960) ainda estabelece que a intenção ou conceito do arquiteto ou engenheiro por detrás da solução estrutural é o que realmente molda forma e estrutura. De maneira análoga, pode-se inferir que a criação das estruturas não necessariamente impacta sua materialização, e está calcada em preceitos qualitativos diretamente relaciona- dos à razão de ser do projeto em mãos. O dimensionamento estrutural é capaz de ser compreendido como um processo que gera a forma e dimensões exatas da estrutura previamente con- cebida. A ferramenta de cálculo utilizada para o dimensionamento, técnicas construtivas e materiais utilizados na materialização do sistema estrutural de- pendem, variam e partem de sua concepção formal-estrutural. Caso a concepção formal-estrutural inicial não leve em consideração as pro- priedades dos materiais mais apropriados para sua geometria, todo o trabalho de sua materialização deverá ser refeito, e vice-versa. O arquiteto alemão Frei Otto concebeu a cobertura do Estádio Olímpico de Munique, visto na Figura 4 (a), na Alemanha, em 1972, tendo em vista as potencialidades estáticas e geométri- cas das membranas tensionadas que experimentava havia anos. Ao trabalhar com membranas tensionadas na cobertura, Otto não podia usar esse sistema estrutural nos pilares, como mostrado na Figura 4 (b), do estádio, pois o tecido das membranas encaminha os esforços de tração da co- bertura com grande capacidade, porém sucumbe aos esforços de compressão de maneira quase inversamente proporcional. A tração que acomete os tiran- tes da cobertura em membrana tensionada é tamanha que, ao chegar ao solo, estes necessitam ser recebidos por elementos de concreto alinhados ao cami- nhamento de esforços da cobertura, como vistos na Figura 4 (c). CURIOSIDADE As explorações do arquiteto Frei Otto com o sistema estrutural das membranas tensionadas renderam-lhe o prêmio Pritzker de 2015, pouco antes de seu falecimento. Suas contribuições resultaram no Institute of Lightweight Structures and Conceptual Design (ILEK), pertencente à Universidade de Stuttgart (Alemanha). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 19 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 19 24/11/2020 10:44:44 Figura 4. Detalhe da cobertura do Estádio Olímpico de Munique. A utilização das membranas tensionadas na cobertura (a) con- cebida por Frei Otto revela uma consonância entre a geometria e as propriedades mecânicas do material utilizado no sistema es- trutural. Os sistemas estruturais, entretanto, demandam algumas propriedades de materiais específicas, de modo que os pilares que sustentam a cobertura são metálicos (b). O empuxo acometendo os tirantes da cobertura é tamanho que estes precisam ser recebidos no solo com afloramentos das fundações em concreto armado (c). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B C O rearranjo geométrico dos materiais que compõem os elementos estrutu- rais, contudo, deve implicar consideráveis incrementos de sua resistência e rigi- dez. Uma simples folha de papel dificilmente poderia absorver os esforços de compressão oriundos de um telefone celular sem sucumbir, mas seu rearranjo em rolos seria capaz de absorver esforços vindos de cargas muito maiores, exem- plificado na Figura 5 (a). O arquiteto japonês Shigeru Ban levou esse conceito ao extremo, “engenheirando” materiais derivados do papelão ao longo de mais de 30 anos de experimentação e produzindo estruturas e espaços incríveis deriva- dos desse composto: como a Catedral de Papelão em Christchurch, Nova Zelân- dia, exibida na Figura 5 (b). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 20 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 20 24/11/2020 10:44:46 Figura 5. Estruturas derivadas do papel. O rearranjo geométrico consegue transformar materiais aparentemente frá- geis em estruturas resistentes, como os depósitos industriais de papel (a) e até em obras de arquitetura consagradas, como a Catedral de Papelão (b), projetada pelo arquiteto Shigeru Ban (2012) na cidade de Christchurch, Nova Zelândia. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B Arquitetos e engenheiros conseguem criar estruturas indissociáveis, além de revestir essa ossatura em invólucros meramente superficiais, de acor- do com suas premissas projetuais. O engenheiro uruguaio Eladio Dieste, por exemplo, projetou e construiu a Igreja de Cristo Obrero entre 1956 e 1958 no balneário de Atlántida (Uruguai). Nesse projeto, as ondulações das cobertura e laterais, exibidas nas Figuras 6 (a) e (b), são essenciais para conter os esforços de flambagem e compressão, respectivamente, sem a presença de pilares para obstruir a fruição do espaço religioso proposto. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 21 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 21 24/11/2020 10:44:47 No caso do Museu Guggenheim de Bilbao, projetado por Frank Gehry em 1992, a estrutura interna do edifício, mostrada na Figura 6 (c) nem sempre segue a pele exterior de titânio, como visto na Figura 6 (d). Como o invólucro desse edifício nem sempre segue sua estrutura interna, a estruturação dessa pele demandou a execu- ção de um sistema estrutural metálico dedicado à sustentação. Seu projeto e construção exigiram um software de última geração, bem como esforços de produção e logística hercúleos para sua viabilização. Figura 6. Estruturas indissociadas e dissociadas da forma. As ondulações da cobertura (a) e laterais (b) da Igreja de Cris- to Obrero, projetada e construída por Eladio Dieste entre 1956 e 1958, compreendem um exemplo claro de concepção formal-estrutural indissociada. O Museu Guggenheim de Bilbao (c), projetado por Frank Gehry em 1992, apresenta uma pele de titânio que transcende a forma gerada por sua ossatura original, gerando a necessidade da concepção de uma estrutura auxiliar para sua sustentação (d). Fonte: (a-b): Adobestock; (c-d): Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B C D Tipologias estruturais Existem diversos sistemas de classifi cação dos sistemas estruturais. Antes de tudo, é importante estabelecer que, ao referirem-se ao termo “tipologias estruturais”, estes escritos remetem aos arranjos de elementos geométricos, no qual o comportamento estático já é consagrado e testado em larga escala. OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 22 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 22 24/11/2020 10:44:49 O engenheiro Yopanan Rebello, nos livros A concepção estrutural e a ar- quitetura (2000) e Bases para projetos estruturais (2007), parte de tipologias e elementos estruturais básicos, conhecidos como pilares, vigas, lajes, cabos e arcos. Essas tipologias elementares depois são associadas entre si para gerar estruturas de maior complexidade. Arcos romanos sobrepostos e ladeados, por exemplo, deram vazão aos seus famosos aquedutos, como o de Segóvia, na Espanha, visto na Figura 7 (a). A associação concêntrica de arcos romanos sobrepostos e ladeados, por sua vez, resultou em famosas arenas esportivas, como de El Jem, na Tunísia, mos- trada na Figura 7 (b). Se múltiplos arcos maiores forem rotacionados em torno de seus eixos centrais, no entanto, o resultado serão cúpulas grandiosas, como o Panteão de Roma, exposto na Figura 7 (c). Tais associações de arcos na forma de cúpulas foram bastante utilizadas na arquitetura moderna nacional. Exemplos de sua aplicação incluem a Oca do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, projeto de Oscar Niemeyer em 1951, visto na Figura 8 (a); o Auditório Celso Furtado, do Pavilhão de Convenções do Parque Anhembi, também em São Paulo, projetado pelo arquiteto Jorge Wilheim e pelo engenheiro Mario Franco entre os anos 1960 e 1970, mostrado na Figura 8 (b). Figura 7. Associações estruturais resultantes dos arcos. Os arcos são a matriz geométrica de muitas tipologias estruturaisimportantes na história da arquitetura. Sua disposição lado a lado e sobreposição linear deram vazão aos aquedutos ro- manos, como este de Segóvia, na Espanha (a). A disposição concêntrica e sobreposição desses arcos geraram os coliseus e arenas romanas, como a de El Jem, na Tunísia (b). Por fim, a rotação de múltiplos arcos de maior escala motivou cúpulas romanas de espacialidade impactante, como o Panteão de Roma (c). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 23 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 23 24/11/2020 10:44:50 Figura 8. Cúpulas na arquitetura moderna brasileira. Cúpula do Pavilhão Nogueira Garcez, também conhecido como Oca, projeto de Oscar Niemeyer, em São Paulo (a); Cúpula corrugada do Auditório Celso Furtado, no Parque Anhembi, também em São Paulo, projeto do arquiteto Jorge Wilheim e do engenheiro Mario Franco (b). A base das cúpulas necessita absor- ver muito empuxo derivado dos arcos que compõem sua superfície, de modo que hoje são utilizados robustos anéis de compressão. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B Além de partir de tipologias elementares para definir tipologias estruturais mais complexas, Rebello (2000, 2007) utilizava-se dos materiais concreto arma- do, madeira e aço para classificar sua tipologias estruturais. Heino Engel (2003), outro importante autor desta disciplina, contudo, classifica as estruturas em seu seminal livro Sistemas estruturais de acordo com o elemento responsável pelo en- caminhamento de esforços até o solo; por exemplo, estruturas constituídas por arcos, como os aquedutos e arenas romanas das Figuras 7 (a) e 7 (b), denominadas por Engel como tipologias de forma ativa. O mesmo pode ser dito para estruturas estaiadas e pênseis, compostas sobretudo pela forma de seus cabos constituintes. As cascas do Panteão, na Figura 7 (c), da Oca, na Figura 8 (a) e do Auditório do Parque Anhembi, na Figura 8 (b) são classificadas como tipologias de super- fície ativa. Nessas tipologias estruturais, a carga encaminha-se das leves cristas de suas cúpulas até os seus robustos embasamentos, responsáveis pela absor- ção do empuxo pela sua superfície. As membranas tensionadas de Frei Otto no Estádio Olímpico de Munique (Figura 4) também podem ser consideradas como estruturas de superfície ativa por encaminharem os esforços de tração pela densa trama de cabos que constituem sua membrana de cobertura. Estruturas treliçadas, no caso da cobertura do Estádio de Baseball de Seatt- le Safeco Field (Figura 9) são classificadas por Engel (2003) como tipologias de vetor ativo, pois seu encaminhamento de esforços ocorre por “decomposição vetorial, ou seja, através de uma subdivisão em forças unidirecionais (de com- pressão e tração)” (p. 41, tradução nossa). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 24 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 24 24/11/2020 10:44:51 Figura 9. Estruturas de vetor ativo. As estruturas treliçadas enquadram-se na tipologia de Engel como vetores ativos; a transmissão de cargas ocorre mediante a decomposição de vetores das diagonais das treliças. As estruturas treli- çadas atingem vãos consideráveis, e a complexidade de suas articulações permite inclusive a execução de coberturas retráteis, como a do Estádio Safeco Field acima, projeto de NBBJ e 360 Architects, em 1996, em Seattle (EUA). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. Figura 10. Estruturas de seções ativas. Os pórticos do MAM, do Rio de Janeiro, constituem um dos exemplos mais notáveis de estruturas de seção ativa do planeta. A inclinação de seus apoios laterais e suas lajes internas atirantadas estabelecem elementos de alta qualidade de concepção formal-estrutural. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. Seguindo esse raciocínio, é natural concluir que as estruturas conformadas pelo sistema laje – viga – pilar sejam classificadas como tipologias de seção ativa, pois a essência do encaminhamento de esforços nessas estruturas dá-se pelas dimen- sões nominais das seções dos pilares, vigas e lajes, isto é, quanto maior a seção do pilar, maior será o vão que sua área de influência poderá suportar. Os sistemas estruturais em pórtico também são classificados como pertencentes às seções ati- vas, mas a natureza de suas vinculações possibilita vãos maiores que o sistema laje – viga – pilar, como pode ser observado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) (Figura 10), projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy em 1953. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 25 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 25 24/11/2020 10:44:52 Por fim, edifícios altos classificam-se como estruturas de altura ativa, pois seu encaminhamento de esforços é ideali- zado para suportar ventos e cargas de muitos andares sobrepostos por meio de sua altura. A projetação de estruturas de altura ativa é um desafio também no âmbito das fundações, e impõe a necessidade de monitoramento via satélite das mo- vimentações dos edifícios graças ao vento em casos mais extremos. Cargas atuantes nas estruturas O segundo tópico desta unidade aborda alguns dos principais elementos qualitativos necessários à avaliação das ideações de concepção formal-estru- tural geradas ao longo do processo de projeto: as cargas. Para melhor abordar tais conceitos, esta parte foi dividida em dois subtópicos: “Tipos de cargas” e “Características das cargas”. No primeiro item, “Tipos de cargas”, tal qual explicita seu título, são delinea- dos os tipos de carga que podem acometer os sistemas estruturais na arqui- tetura e urbanismo. No segundo subtópico, “Características das cargas”, fi cam estabelecidas as propriedades de cada segmento taxonômico de cargas, bem como sua inter-relação com as vinculações, materialidade e geometria do siste- ma estrutural em questão. Tipos de cargas O conceito de carga nas estruturas é normatizado em território nacional pela defi nição presente na NBR 6120:2019 versão corrigida: 2019 – ações para o cálculo de estruturas de edifi cações. Nessa norma técnica, o conceito de car- ga é defi nido como “ação externa em virtude da gravidade” (ABNT, 2019, p. 4). A essas ações, também é possível dar o nome de forças, de modo a sincronizar essa defi nição com a linha de raciocínio destes escritos: de que as estruturas podem, por certo, ser entendidas como veículos de encaminhamento de forças atuantes nas construções. OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 26 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 26 24/11/2020 10:44:52 DICA As normas técnicas estão em constante revisão e atuali- zação, portanto, é preciso estar atento para não embasar seu trabalho em documentos defasados. Uma boa prática de verificar se alguma norma está vigente ou não é por meio do catálogo da própria ABNT. A NBR 6120:2019 versão corrigida: 2019 delineia, classifica e define as car- gas atuantes nas estruturas, mas é fundamental mencionar a NBR 6123:1988 versão corrigida 2:2013 – forças devido ao vento em edificações –, que des- creve e especifica as particularidades das forças derivadas dos ventos nas construções. A NBR 6120:2019 versão corrigida: 2019 define essencialmente as cargas das edificações como permanentes ou variáveis. Como é possível deduzir, as cargas permanentes acometem a edificação ao longo de toda a sua vida útil, ao passo que as cargas variáveis ocorrem apenas ocasionalmente. No- ta-se que a literatura correlata, como no caso de Rebello (2000, 2007), men- ciona cargas variáveis costumeiramente como carga acidentais. Entre as cargas permanentes, figuram-se: 1 - Peso próprio da estrutura; 2 - Peso específico dos materiais de construção; 3 - Peso dos componentes construtivos. O primeiro item (peso próprio da estrutura) consegue ser calculado utili- zando as dimensões nominais de cada elemento estrutural, bem como o peso específico do material usado em sua execução. No item seguinte (peso espe- cífico dos materiais de construção), diz respeito majoritariamente ao peso dosrevestimentos em geral e também é calculado mediante o peso específico apa- rente de cada material conforme a tabulação na NBR 6120:2019 versão corrigi- da: 2019 (Tabela 1). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 27 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 27 24/11/2020 10:44:53 Material Peso específi co aparente (γap) Blocos artifi ciais e pisos Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) 14 Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) 12 Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) 14 Blocos cerâmicos maciços 18 Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) 5.5 Blocos de vidro 9 Blocos sílico-calcáreos 20 Lajotas cerâmicas 18 Porcelanato 23 Terracota 21 TABELA 1 – PESOS ESPECÍFICOS DOS BLOCOS ARTIFICIAIS E PISOS CONFORME A ABNT NBR 6120:2019 VERSÃO CORRIGIDA: 2019. Blocos artifi ciais (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas Blocos artifi ciais e pisos Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas Blocos artifi ciais e pisos Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças Blocos artifi ciais e pisos Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos de concreto celular autoclavado Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado Blocos de concreto vazados (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) (função estrutural, classes A e B, NBR 6136) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos cerâmicos vazados com paredes vazadas Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos de vidro Blocos sílico-calcáreos Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças (função estrutural, NBR 15270-1) Blocos cerâmicos maciços Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos de vidro Blocos sílico-calcáreos Blocos cerâmicos vazados com paredes maciças Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos de vidro Blocos sílico-calcáreos Blocos de concreto celular autoclavado (Classe C25 – NBR 13438) Blocos de vidro Blocos sílico-calcáreos Lajotas cerâmicas 14 Blocos de concreto celular autoclavado Blocos sílico-calcáreos Lajotas cerâmicas 12 Blocos sílico-calcáreos Lajotas cerâmicas Porcelanato Blocos sílico-calcáreos Lajotas cerâmicas Porcelanato 14 Lajotas cerâmicas Porcelanato TerracotaTerracota 18 Terracota 5.55.5 9 20 18 23 Fonte: ABNT, 2019, p. 15. (Adaptado). A NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 estipula uma série de pesos específi - cos para os mais diversos materiais e componentes construtivos. Para os mate- riais omissos nas extensas relações de dados dessa normativa, recomenda-se a consulta das tabelas originais da norma como norte, e a verifi cação de dados com o próprio fabricante do material, bem como normativas estrangeiras indi- cadas no próprio texto da norma. No que tange ao terceiro item (peso próprio dos componentes constru- tivos), a NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 designa que são aferidos os pesos de alvenarias (peso da espessura do revestimento por face em kN/ m2); divisórias e caixilhos (kN/m2); revestimentos de pisos e impermeabiliza- ções (kN/m2); telhas (peso na superfície inclinada em kN/m2); telhados (peso na superfície horizontal em kN/m2); enchimentos (peso específi co aparente γap em kN/m3); forros, dutos e sprinkler (kN/m2); tubos de aço cheios d’água (N/m). A norma menciona a possibilidade de cargas permanentes derivadas SISTEMAS ESTRUTURAIS II 28 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 28 24/11/2020 10:44:53 de materiais e armazenagem e empuxos e pressões hidrossanitários, mas não tabula seus valores como nos casos anteriores, fazendo sugestões para sua contemplação na forma de normativas estrangeiras e outras normati- vas nacionais correlatas. Em relação às cargas variáveis, a NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 as separa como: cargas decorrentes do uso da edificação; forças horizontais va- riáveis; cargas variáveis em coberturas; ações de construção; ações de veículos; helipontos; cargas em fábricas e armazéns; cargas diversas, como neve e gra- nizo. Não obstante, a carga da chuva já é considerada como carga permanente e incluída nos pesos específicos médios dos materiais de construção e com- ponentes construtivos. Por fim, é importante ressaltar que a NBR 6123:1988 versão corrigida 2:2013 delineia e especifica as particularidades das forças de- rivadas dos ventos nas construções como cargas variáveis. A previsão média da ocupação das construções é uma tarefa tanto quanto traiçoeira quando verificamos a maneira pela qual a ausência de terrenos va- gos nas centralidades das grandes cidade implica o reaproveitamento de edifi- cações existentes e sua conversão a usos muitas vezes distintos do original: o chamado retrofit das edificações. EXEMPLIFICANDO Um exemplo marcante do conceito de retrofit de edifica- ções em solo nacional é o Hotel Jaraguá. Inaugurado em 1954 como um dos hotéis mais luxuosos da cidade para as festividades do IV Centenário, esse edifício já abrigou diversos usos. Seus sistemas estruturais sofreram grandes alterações no retrofit conduzido por Miguel Juliano em 2004, quando pilares foram retirados para fazer uma rua interna em seu pavimento térreo; o processo foi retratado em sua dissertação de mestrado “Jaraguá: um retrofit” (2006). A NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 também estipula valores de cargas acidentais para diversos elementos associados a vários usos, tabulados em extensas listagens. A Tabela 2 ilustra, de maneira simplificada, os valores da normativa referentes ao uso residencial. Recomenda-sea todos os acadêmicos de arquitetura que façam uso constante das informações da tabela que deu SISTEMAS ESTRUTURAIS II 29 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 29 24/11/2020 10:44:53 origem a essa compilação ilustrativa: a “Tabela 10 – Valores característicos no- minais das cargas variáveis”, localizada nas páginas 17 a 27 da NBR 6120:2019 versão corrigida:2019. Local Carga uniformemente distribuida (kN/m2) Edifícios Residenciais Dormitórios 1,5 Sala, copa, cozinha 1,5 Sanitários 1,5 Despensa, área de serviço e lavanderia 2 Quadras esportivas 5 Salão de festas, salão de jogos 3 Áreas de uso comum 3 Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais 0,1 Sótão 2 Corredores dentro de unidades autônomas 2,5 Corredores de uso comum 3 Depósitos 3 TABELA 2. VALORES CARACTERÍSTICOS NOMINAIS DE CARGAS VARIÁVEIS PARA EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS CONFORME A NBR 6120:2019 VERSÃO CORRIGIDA: 2019 Edifícios Residenciais Edifícios ResidenciaisResidenciais Dormitórios Sala, copa, cozinha Despensa, área de serviço e lavanderia Dormitórios Sala, copa, cozinha Despensa, área de serviço e lavanderia Dormitórios Sala, copa, cozinha Sanitários Despensa, área de serviço e lavanderia Sala, copa, cozinha Sanitários Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Forros acessíveis para manutenção e sem es- Sala, copa, cozinha Sanitários Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Forros acessíveis para manutenção e sem es- Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- Corredores dentro de unidades autônomas Despensa, área de serviço e lavanderia Quadras esportivas Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais Corredores dentro de unidades autônomas Despensa, área de serviço e lavanderia Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais Corredores dentro de unidades autônomas Salão de festas, salão de jogos Áreas de uso comum Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais Sótão Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum 1,5 Forros acessíveis para manutenção e sem es- toque de materiais Sótão Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum 1,5 Forros acessíveis para manutenção e sem es- Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum Depósitos 1,5 Forros acessíveis para manutenção e sem es- Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum Depósitos 2 Forros acessíveis para manutenção e sem es- Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum Depósitos 5 Corredores dentro de unidades autônomas Corredores de uso comum 3 Corredores dentro de unidades autônomas 3 0,1 2,5 Fonte: ABNT, 2019, p. 15. (Adaptado). A NBR 6120:2019 versão corrigida:2019 estipula cargas distribuídas e con- centradas para variados componentes dos mais diversos usos das edifi cações. Alguns usos mais específi cos demandam a consulta de notas técnicas e tabelas adicionais para sua aferição adequada. Características das cargas Algo importante a considerar-se nessa análise é que existem várias manei- ras para classifi car as cargas na construção civil, mas independentemente do viés taxonômico adotado, há certas características que precisam ser levadas em conta em sua análise. Talvez uma dessas principais características faça refe- rência ao conceito de distribuição de carga nos componentes estruturais, uma SISTEMAS ESTRUTURAIS II 30 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 30 24/11/2020 10:44:54 característica diretamente relacionada à geometria desses componentes. As cargas atuantes nas estruturas, assim, podem ter o atributo de serem distri- buídas sobre uma superfície, disseminadas sobre uma linha ou eixo, ou serem cargas concentradas ou pontuais. Tal como é possível verificar na Figura 11 (a), as cargas distribuídas normal- mente são representadas na literatura por setas distribuídas ao longo da su- perfície acometida pelas cargas. Cargas com essas características são referidas também como cargas superficiais e, entre os exemplos mais comuns de cargas distribuídas, configuram-se o peso próprio de uma laje e o peso dos revesti- mentos dos pisos dos ambiente, como na Figura 11 (b). Figura 11. Exemplos de cargas distribuídas sobre superfícies. Representação gráfica usual de cargas distribuídas sobre superfícies (a). Revestimento de piso e seus materiais construtivos correspondentes também são considerados cargas distribuídas sobre uma superfície (b). Fonte: (b): Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. A B SISTEMAS ESTRUTURAIS II 31 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 31 24/11/2020 10:44:55 As cargas distribuídas sobre um eixo são usualmente representadas por setas alinhadas de modo unifilar no eixo de interesse , como visto na Figura 12 (a), sendo também denominadas como cargas lineares. Entre as carga lineares mais usuais, há o peso próprio de vigas, de parede e vedações sobre vigas e lajes, exemplificado na Figura 12 (b) e estantes de livros. Figura 12. Exemplos de cargas distribuídas sobre eixos. Representação gráfica usual de cargas distribuídas sobre eixos (a). Vigas de concreto pré-moldado são um exemplo de carga linear, de modo que seu içamento e locação dependem da fixação dos equipamentos no eixo central da peça (b). Fonte: (b): Shutterstock. Acesso em: 17/08/2020. Por fim, as cargas também são capazes de apresentar características de se- rem concentradas em determinados pontos da geometria acometida. Tais cargas são normalmente representadas com uma única seta no ponto em que a carga BA Figura 13. Exemplos de cargas concentradas. Representação gráfica usual de cargas pontuais (a). Exemplos de vigas apoia- das em vigas como cargas pontuais e vigas apoiadas em pilares (b). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/09/2020. A B SISTEMAS ESTRUTURAIS II 32 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 32 24/11/2020 10:44:56 está solicitando a peça, como na Figura 13 (a). Dentre os exemplos mais usuais de cargas com essa característica, estão pilares aterrissando em vigas, como os da Figura 13 (b), vigas apoiadas sobre outras vigas, luminárias, vasilhames ou equipa- mentos particulares ao uso da edificação como bigornas e ferramentas em geral. As cargas nas edificações ainda podem ter diferentes características quanto à sua posição, sendo consideradas fixas, como na maior parte dos casos dos elementos estruturais, materiais de construção e componentes construtivos ou móveis. As cargas móveis são aquelas que mudam de posição na edificação, como no caso de automóveis no estacionamento ou os pêndulos de estabiliza- ção utilizados em estruturas de altura ativa, suscetíveis a ventos e vibrações. Tais pêndulos são chamados amortecedores de massa sintonizado (AMS) (Figura 14). As cargas das edificações ainda conseguem incorporar diferentes caracte- rísticas em relação à sua variação no tempo. O peso próprio das estruturas é uma carga considerada estática, exatamente por não variar ao longo do tempo. As cargas dos ventos, por exemplo, por apresentarem ação variada ao longo da vida útil do edifício, são consideradas cargas dinâmicas. No entanto, tal como apontado por Almeida (2015), ressalte-se que algumas das cargas dinâmicas podem ser calculadas como estáticas de modo a simplificar seu cálculo estru- tural e, assim, adquirem a característica de serem cargas pseudoestáticas. Figura 14. Edifício Taipei 101. Tomada geral do edifício Taipei 101, projetado pelos arquitetos C. Y. Lee e C. P. Wang, em Taipei, Taiwan, em 1999 (a). Pênduloque estabiliza as ações dos ventos na estrutura (b): trata-se do segundo maior pêndulo passivo do mundo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/09/2020. A B Em conclusão, pelo fato de as cargas serem efetivamente forças, é ne- cessário ter, em mente, que todas as cargas atuantes nas estruturas terão direção, sentido, intensidade e pontos de aplicação. O conceito de direção SISTEMAS ESTRUTURAIS II 33 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 33 24/11/2020 10:44:57 e sentido está introduzido em nosso vocabulário cotidiano com conotações diferentes daquelas da física. Ambas as forças (azul e vermelha) na Figura 15 têm a mesma dire- ção, sentidos opostos e intensidades diferentes. As forças, contu- do, estão aplicadas em pontos diferentes em cada um dos casos. Todos as cargas permanentes e variáveis que atingem os edifícios têm direção, sentido, in- tensidade e pontos de aplicação que precisam ser considerados na concepção formal-estrutural e di- mensionamento final de suas dimensões nominais. Figura 15. Propriedades das forças. Exemplos de direção, sentido, intensidade e ponto de aplicação. Fonte: Almeida, 2015, p. 21. (Adaptado). 3 N 8 N OBJETOS DE APRENDIZAGEM Clique aqui SISTEMAS ESTRUTURAIS II 34 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 34 24/11/2020 10:44:57 Sintetizando Esta unidade foi dividida em dois grandes tópicos: “As estruturas na arqui- tetura” e “Cargas atuantes nas estruturas”. No primeiro tópico, abordou-se a essência da cadeira dos sistemas estruturais: o conceito de estrutura aplica- do à arquitetura. Nesse primeiro tópico, também falamos sobre o processo de gerar estruturas dentro do projeto arquitetônico, bem como as formas e combinações geométricas mais usuais assumidas pelos sistemas estruturais. O segundo tópico versou especificamente sobre os tipos de cargas atuantes nos sistemas estruturais e as propriedades e características dessas cargas. O item “As estruturas na arquitetura” foi subdividido em três subtópicos: “Con- ceituação aplicada à arquitetura”, “Concepção formal-estrutural na arquitetura” e “Tipologias estruturais”. No primeiro, fica estabelecido o conceito de estruturas aplicado à arquitetura mantendo algumas semelhanças com sua acepção genéri- ca e constituindo um agrupamento de elementos geométricos responsáveis pela sustentação de uma edificação por meio da manutenção de seu equilíbrio. Da mesma maneira, ressalte-se que as estruturas nas construções po- dem ser encaradas como mecanismos de encaminhamento de cargas ao solo. Quanto mais direto for o encaminhamento e mais opções de chegada ao solo, menores serão as dimensões nominais de seus elementos constituintes. No próximo subtópico – “Concepção formal-estrutural na arquitetura” –, discutiu-se que não há uma solução estrutural ideal para um projeto arqui- tetônico, pois cada solução responde bem a alguns aspectos e não tão bem a outros. Presume-se, portanto, que o ideal é hierarquizar os elementos ar- quitetônicos a serem priorizados na solução projetual resultante, para, assim, encontrar o sistema construtivo que melhor atende a tais prerrogativas. Depois, houve um questionamento quanto à diferença que existe entre a con- cepção da estrutura e o seu cálculo; e que sua criação não implica sua materializa- ção. Criar uma estrutura é, dessa forma, muito mais que criar meios de sustenta- ção para uma construção, ou seja, é desenvolver formas e espaços. A criação das estruturas na arquitetura, logo, foi chamada de concepção formal-estrutural. As concepções formais-estruturais de arquitetos e engenheiros mundo afo- ra são dependentes dos materiais utilizados e de seu arranjo geométrico. Tal argumento parte do princípio de que alterações na forma de materiais aparen- SISTEMAS ESTRUTURAIS II 35 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 35 24/11/2020 10:44:57 temente leves podem produzir estruturas surpreendentemente rígidas. Verifi- cou-se ainda que há obras arquitetônicas em que os sistemas estruturais são amplamente evidenciados e indissociados dos espaços resultantes finais; ao passo que existem outras obras arquitetônicas icônicas em que a estrutura está ocultada por elementos estéticos de fachada ou decoração de interiores. Finalmente, no item “Tipologias estruturais”, foram apresentadas diversas estratégias de classificação de sistemas estruturais em tipologias estruturais; a definição ficou estabelecida como arranjos geométricos no qual o comporta- mento estático é atestado e disseminado. Nessa etapa da unidade, apresen- tou-se a maneira como os célebres engenheiros e autores Yopanan Rebello (2000, 2007) e Heino Engel (2003) classificam as tipologias estruturais. Yopanan Rebello optou por organizar as estruturas a partir de suas tipolo- gias elementares e derivar estruturas mais complexas conforme associações entre si. A tipologia dos arcos, por exemplo, ao ser rotacionada em seu eixo central em diversas unidades, dá origem à tipologia das cúpulas. Heino Engel ordenou as tipologias estruturais em função de sua natureza de encaminhamento de esforços. Ficaram situadas, pois, as tipologias estruturais das formas ativas, seções ativas, vetores ativos, superfícies ativas e alturas ativas. Nes- sas tipologias, forma, seções, vetores, superfícies e altura são os protagonistas no encaminhamento das cargas que acometem suas estruturas até o solo. O tópico “Cargas atuantes nas estruturas” foi dividido em dois subtópicos: “Tipos de cargas” e “Características das cargas”. No primeiro item, as cargas atuantes nas edificações foram classificadas conforme a NBR 6120:2019 ver- são corrigida: 2019 –ações para o cálculo de estruturas de edificações. Nessa normativa, as cargas são essencialmente discriminadas como cargas permanentes ou variáveis. Como é possível deduzir pelos respectivos nomes, as cargas permanentes são constantes; ao passo que as cargas variáveis ou acidentais oscilam durante a vida útil da edificação. Dentre as cargas permanentes, estão incluídos o peso próprio das estruturas, o peso específico dos materiais de construção e o peso dos componentes construtivos. Esses valores são tabulados e devem ser con- sultados no processo de concepção-formal de estruturas na arquitetura. As cargas variáveis são mais difíceis de prever por conta da crescente im- previsibilidade no uso dos edifícios atualmente. Da mesma maneira que ocorre SISTEMAS ESTRUTURAIS II 36 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 36 24/11/2020 10:44:57 com as cargas permanentes, as normas incluem tabulações para os valores dos elementos variáveis correspondentes a muitos usos arquitetônicos. Certas cargas classificadas como variáveis – o vento, por exemplo – exigem a consulta de normativas adicionais, como a NBR 6123:1988 versão corrigida 2:2013 – forças devido ao vento em edificações. Em outros itens específicos, como cargas derivadas de armazenamento e tanques, é possível demandar a consulta de normativas técnicas estrangeiras indicadas nas normas nacionais. Finalmente, o item “Características das cargas” estabelece propriedades passíveis de serem incorporadas por ambas – cargas permanentes e variáveis. Nesse momento, abordou-se a distribuição geométricas das cargas, entre cargas distribuídas em superfícies (como o peso das lajes) e distribuídas lineares (como o peso das vigas), assim como cargas pontuais (como pilares apoiados em vigas). Também foi apresentada a possibilidade de as cargas serem fixas (como os pilares das construções) ou móveis (como automóveis em estacionamentos). O subtópico encerrou-se apresentando a probabilidade de as cargas serem está- ticas (como o peso próprio da estrutura da construção), isto é, sem variação ao longo do tempo, ou dinâmicas, como o vento. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 37 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 37 24/11/2020 10:44:57 Referências bibliográficas ALMEIDA, M. C. F. A. Estruturas isostáticas. São Paulo: Oficina de Textos, 2015. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMASTÉCNICAS. NBR 6120:2019 Ver- são Corrigida:2019: ações para o cálculo de estruturas em edificações. Rio de Janeiro, 2019. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123:1988 Versão Corrigida 2:2013: forças devido ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 2013. ENGEL, H. Sistemas estruturais. Barcelona: Gustavo Gili, 2003. ESTRUTURA. In: MELHORAMENTOS. Michaelis Dicionário Brasileiro da Lín- gua Portuguesa. [s.l.]: Melhoramentos, 2020. Disponível em: <https://michae- lis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/estrutura/>. Acesso em: 17 ago. 2020. FUNDAÇÃO DE AMPARO E DESENVOLVIMENTO À PESQUISA (FADESP). Prefei- tura Municipal de Parauapebas – Concurso Público: Prova Objetiva. [s.l.]: Fa- desp, 2015. REBELLO, Y. C. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000. REBELLO, Y. C. Bases para projeto estrutural na arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2007. SILVA, M., J. Jaraguá: um retrofit. 2006. 95 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Dispo- nível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-16052007- 161134/publico/Dissertacao.pdf>. Acesso em: 20 set. 2020. THE EDEN Project. Postado por Grimshaw Architects. (8min. 29s.). son. color. eng. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wuOjoU27wx4>. Acesso em: 17 ago. 2020. TORROJA, E. Razón y ser de los tipos estructurales. Madrid: Artes Gráficas MAG, S. L., 1960. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 38 SER_ARQURB_SEII_UNID1.indd 38 24/11/2020 10:44:57 CONCEPÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO – ESTRUTURAS EM PÓRTICO E CASCAS 2 UNIDADE SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 39 24/11/2020 11:04:15 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender a concepção e fundamentação de estruturas em pórtico; Compreender a concepção e fundamentação de estruturas em arco.; Estruturas em pórtico Concepção e fundamentação Materiais e pré-dimensionamento Estruturas em arco Concepção e fundamentação Materiais e pré-dimensionamento SISTEMAS ESTRUTURAIS II 40 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 40 24/11/2020 11:04:15 Estruturas em pórtico Inicialmente, esta unidade se debruça sobre os parâmetros necessários para a projetação e geometrização das estruturas em pórtico. Esta se tra- ta de uma tipologia estrutural presente em obras icônicas da arquitetura moderna brasileira, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, pro- jetado pelo arquiteto Aff onso Eduardo Reidy, em 1952, porém de dissemi- nação cada vez mais rarefeita na construção civil contemporânea. Isto se dá, majoritariamente, em função da natureza das vinculações entre seus componentes estruturais. Também é importante ressaltar que a nomenclatura desta tipologia ocasionalmente acaba sendo usada de forma errada, como para descrever estruturas convencionais em pilar–viga–laje. Assim, este tópico visa tanto retifi car certos vícios de interpretação estrutural, quanto demonstrar as po- tencialidades de sua aplicação na construção civil dos dias de hoje. Desta maneira, no que diz respeito à sua concepção e fundamentação, fi cam estabelecidas as prerrogativas conceituais acerca do equilíbrio estáti- co, além de propriedades geométricas das estruturas em pórtico. Já em relação a materiais e pré-dimensionamento, são lançadas possi- bilidades de materialidades para esta tipologia estrutural, além de serem discriminadas estratégias para seu pré-dimensionamento a nível de estudo preliminar e anteprojeto. Esta seção, tem como objetivo, ensinar estudantes de arquitetura e jovens profi ssionais com estratégias consolidadas de deter- minação da geometria dos componentes estruturais e, assim, dinamizar e dar mais confi ança a suas investidas projetuais iniciais. Concepção e fundamentação As estruturas em pórtico são derivadas do arranjo de barras verticais e horizontais, denominadas pilares e vigas, respectivamente, em uma geo- metria em formato de trave de gol, conhecidas na construção civil como ar- quitraves. Entretanto, a natureza da vinculação entre estes pilares e vigas diferencia estas geometrias do sistema estrutural convencional de pilar-vi- ga-laje (Figura 1a) das estruturas em pórtico (Figura 1b). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 41 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 41 24/11/2020 11:04:15 EXPLICANDO De acordo com o Dicionário Brasileiro de Arquitetura de Eduardo Corona e Carlos Lemos, o termo “arquitrave” pode ser definido como uma “[...] viga [...] que se apoia, em suas extremidades, em colunas ou pilares. Carac- teriza o sistema arquitravado de envasaduras cujas vergas são planas e horizontais” (1972, p. 54-55). Portanto, é relativamente comum encontrar o termo “arquitravado” como sinônimo de uma estrutura em pórtico. Também é importante ressaltar que Corona e Lemos se utilizam do termo “envasadura” para alcunhar o vão resultante da arquitrave, isto é: o vão entre os pilares e a viga. É importante ressaltar que as vigas biapoiadas (a) e os pórticos (b) derivam da arquitrave, variando justamente na vinculação entre pilares e vigas. Assim, mediante cargas equivalentes (q), as deformações e volume dos componentes estruturais presentes variam em cada um destes sistemas estruturais. Figura 1. Exemplos de viga biapoiada e pórtico. (Adaptado). Pilares e vigas contendo vinculações articuladas, isto é, com possibilidade de giro, constituem estruturas denominadas vigas biapoiadas. Já vigas conecta- das aos pilares de maneira rígida, isto é, sem permitir a ocorrência de giro, cons- tituem estruturas em pórtico. Assim sendo, Yopanan Rebello define o pórtico como “toda estatura em que a ligação entre vigas e pilares é rígida” (2000, p. 169). A Figura 1 indica que, para cargas equivalentes q, a deformação a > b. Isto significa que a rigidez dos vínculos em pórticos faz com que a deformação em vigas biapoiadas resultante da carga q, simbolizada na Figura 1a como a, seja maior que a mesma deformação em estruturas em pórtico, simbolizada na Fi- gura 1b como b. q q Viga biapoiada Pórtico a b A B SISTEMAS ESTRUTURAIS II 42 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 42 24/11/2020 11:04:15 EXEMPLIFICANDO Vinculações articuladas são aquelas que permitem o giro e podem adquirir duas conformações: os apoios articulados moveis e os apoios articula- dos fixos. Estruturas de vigas biapoiadas como o MUBE, projeto de Paulo Mendes da Rocha de 1987, possuem apoios articulados fixos em um lado e moveis no outro. Apoios articulados moveis travam apenas a movimentação vertical, permitindo o translado na horizontal. Já apoios articulados travam a movimentação vertical e horizontal, permitindo o giro. Por fim, apoios rígidos ou engastados travam a movimentação horizontal e vertical, além do giro. Figura 2. Exemplo de vínculos rígidos ou engastes em escada fixada na parede. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/10/2020. Consequentemente, por sofrerem deformações menores, as vigas de siste- mas estruturais em pórtico tendem a ser menores que suas equivalentes nas estruturas de vigas biapoiadas. Entretanto, estruturas em pórtico encaminham não apenas esforços de compressão para seus pilares, como também esforços de momento fletor. À vista disso, os pilares das estruturas em pórtico tendem a ser mais volumosos que os pilares de estruturas biapoiadas, independente- mente do sistema estrutural adotado. Logo, quanto mais rígida for a natureza das vinculações entre pilar e viga, mais volumosos serão os apoios, e vice-versa. Tal como evidenciado na Figura 3, existem diversas configurações de pórti- co. Estes últimos podem conter vários pilares (Figura 3a), ser sobrepostos em vários andares (Figura 2b) ou mesmo conter pilares e vigas anguladas (Figura 3c). Todavia, dentre as configurações de estruturas em pórtico ilustradas na Fi- gura 3, a variação de pórticos contendo múltiplos apoios é a mais antiga, datan- do da antiguidade clássica e manifestando-se até a virada do século XIX para o século XX em diferentes roupagense estilos arquitetônicos. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 43 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 43 24/11/2020 11:04:17 Figura 3. Diferentes configurações de pórticos: contendo vários apoios (a), empilhados (b) e angulados (c). (Adaptado). A teoria da resistência dos mate- riais se consolidou entre os séculos XVIII e XIX, ao passo que a elabora- ção de vínculos articulados capazes de resistir a esforços de grandes edi- ficações se deu apenas nas décadas finais do século XIX e primeiras do sé- culo XX. Assim, neste período, houve um aumento de estruturas em vigas biapoiadas em detrimento de estru- turas em pórtico. Todavia, algumas edificações icô- nicas foram e continuam sendo er- guidas em pórtico. Um bom exemplo é o Museu de Arte de Moderna do Rio de Janeiro (Figura 4c), projeto de Af- fonso Eduardo Reidy construído em 1948, que é estruturado por pórticos angulados. Outro exemplo marcante é a fa- chada do edifício Acal (Figura 4d), construído em 1974, em São Paulo, e projetado por Pedro Paulo de Melo Saraiva, Sergio Fischer e Henrique Cam- biaghi Filho. A fachada do edifício Acal constitui uma estrutura em pórticos empilhados e, devido à sua altura, estes pórticos da fachada tiveram que receber contraventamentos em sua diagonal para lidar com os momentos fletores resultantes. A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 44 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 44 24/11/2020 11:04:18 Figura 4. Pórticos ao longo da história da arquitetura. Fonte: (a-c) Shutterstock. Acesso em: 27/10/2020. Figura 4 (d). Fachada do edifício Acal. Fonte: VITRUVIUS, 2011, n.p. A B C D SISTEMAS ESTRUTURAIS II 45 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 45 24/11/2020 11:04:22 Dada a incidência das forças dos ventos em matizes horizontais, não é de se espantar que os pórticos sejam também utilizados em estruturas de grandes al- turas, tal como demonstrou-se na fachada do edifício Acal. A absorção eficiente de cargas horizontais também faz com que estruturas em pórtico sejam adotadas em garagens verticais devido à natureza dos esforços de frenagem dos veículos. Outro ponto importante a ser salientado é que a absorção dos esforços nestas estruturas de pórtico se dá justamente através da área e altura das seções de vigas e pilares que a constituem. Assim sendo, dentro dos parâmetros taxonômicos de Engel (2003), as estruturas em pórtico podem ser classificadas como estruturas de seção ativa. O pórtico do templo de Erecteion, próximo à Acrópole de Atenas (Grécia), data do sec. V a. C. (a) e é famoso por conter pilares na forma de Cariátides, que susten- tam o peso do templo com a aparente fragilidade das divindades gregas femininas. Já o pórtico de San Luca (b), em Bologna, foi erguido entre os séculos XVII e XVIII e contém 666 arcos e mais de 3,5 km de extensão. Ambos possuem vários apoios, ao passo que o pórtico do MAM (c) exemplifica um pórtico inclinado. Por fim, a estrutura do edifício ACAL (d), em São Paulo, exemplifica pórticos empilhados. Entretanto, independentemente de sua configuração, as estruturas em pórtico tendem a ser mais eficientes que as estruturas de vigas biapoiadas, ao menos no que diz respeito à absorção de esforços horizontais. Isto se dá, mais uma vez, pela diferença das vinculações entre pórticos e vigas biapoiadas. Como pode ser verificado na Figura 5, dados parâmetros de vão, cargas horizon- tais q e materiais construtivos equivalentes, as cargas horizontais nas vigas biapoiadas são absorvidas apenas pelos pilares, tendo em vista a desvinculação relativa entre pilares e vigas (Figura 5a). Já no caso das estruturas em pórtico, o que ocorre é uma assimilação conjunta entre pilares e vigas destes esforços horizontais (Figura 5b). 9 9 Figura 5. Absorção dos esforços horizontais em estruturas de vigas biapoiadas e pórticos. (Adaptado). SISTEMAS ESTRUTURAIS II 46 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 46 24/11/2020 11:04:22 Materiais e pré-dimensionamento O templo de Erecteion ilustra a maneira com que estruturas em pórticos são passiveis de ser executadas em pedra desde a antiguidade. De fato, a pedra, em suas mais variadas formas de manipulação, constituiu a variação predominante de estruturação de pórticos por quase dois mil anos. Existem exemplares extremamente extensos concebidos em pedra, como é o caso do Pórtico de San Luca em Bologna, que percorre mais de 3,5 km de extensão. Todavia, sistemas estruturais em pórtico contemporâneos são usual- mente executados em concreto armado, aço ou madeira. Deve-se ressaltar entretanto que, independentemente do material utilizado, sistemas estru- turais em pórtico demandam um volume maior de seus componentes estru- turais, de modo a suportar a internalização dos giros de suas vigas. Devido ao maior volume de seus componentes estruturais, é natural ve- rifi car questões de logísticas associadas à sua especifi cação enquanto tipo- logia estrutural. Estas questões logísticas, por sua vez, podem incorrer na difi culdade de obter espaço para a concretagem de elementos tão grandes em concreto armado moldado in loco. Afi nal, a execução de estruturas em concreto armado in loco implica em sua moldagem e concretagem no pró- prio local do canteiro de obras, suscitando uma área maior deste último. Da mesma maneira, o transporte de peças volumosas de pórticos, seja em concreto armado pré-moldado, madeira ou aço, pode demandar tratati- vas especiais com as autoridades de trânsito para sua chegada ao canteiro, envolvendo horários e rotas alternativas. Isso posto, pode-se afi rmar, en- tretanto, que a principal difi culdade na determinação dos materiais cons- trutivos a serem utilizados consiste na execução das ligações rígidas em estruturas de pórtico. No caso do concreto armado, esta ligação rígida ocorre natu- ralmente durante a concretagem das peças, ao passo que, no caso da madeira e do metal, são necessá- rias ligações cuidadosamente projetadas (Figura 6). No caso da madeira laminada, também existe a possibilidade de realizar esta ligação por meio do processo de laminação. SISTEMAS ESTRUTURAIS II 47 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 47 24/11/2020 11:04:23 Figura 6. Ligações rígidas em metal e madeira. Pórticos em metal costumam ser equacionados por meio de soldas (a), e tanto o metal (b) quando a madeira (c) podem ser rebitados ou enrijecidos através de cantoneiras. Fonte: Shuttersto- ck. Acesso em: 27/10/2020. ASSISTA A execução de estruturas em madeira laminada no Brasil está em processo incipiente, ao passo que sua utilização no exte- rior abrange inclusive edificações de grandes alturas. Todavia, existem alguns pioneiros, como o engenheiro Hélio Olga. As- sim, o vídeo disponibilizado discorre sobre a trajetória de Hélio, além de suas experiencias com laminação de madeira. A B C SISTEMAS ESTRUTURAIS II 48 SER_ARQURB_SEII_UNID2.indd 48 24/11/2020 11:04:26 Já no âmbito do pré-dimensionamento dos pórticos, é importante nos aten- tarmos aos ábacos já consolidados de Engel (2003) e Rebello (2000). Na Figura 6, ocorre uma sistematização dos ábacos de pré-dimensionamento de Engel, em que os vãos passíveis de serem atingidos pelos pórticos ficam discriminados en- tre vãos possíveis e ótimos. Na coluna dos vãos possíveis, ficam estabelecidos os parâmetros dimensionais máximos e mínimos para os limites estáticos de cada um dos materiais pré-elencados (concreto armado, aço e madeira). Já o Quadro 1 indica que, independentemente do material elencado, os pór- ticos em aço alcançam os maiores vãos possíveis e otimizados, em comparação ao concreto armado e à madeira. Para pórticos estruturados em aço, pórticos únicos, com múltiplos apoios e empilhados atingem respectivamente vãos pos- síveis máximos de 80, 85 e 90 metros. Já para os vãos otimizados, os pórticos estruturados em aço chegam a 60, 65 e 70 metros para pórticos únicos, com múltiplos apoios e empilhados. Consequentemente, constata-se que a tipologia dos pórticos empilhados
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