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ANTROPOLOGIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
UIA 4 | PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO – DA DÉCADA 
DE 1930 AOS TEMPOS ATUAIS JUNTOS COM A PERSPECTIVAS DE 
GÊNERO E ETNIA NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
! VERSÃO PARA IMPRESSÃO 
 ANTROPOLOGIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO | UIA 4 | 
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Este material é destinado exclusivamente aos alunos e professores do Centro Universitário IESB, contém 
informações e conteúdos protegidos e cuja divulgação é proibida por lei. O uso e/ou reprodução total ou 
parcial não autorizado deste conteúdo é proibido e está sujeito às penalidades cabíveis, civil e 
criminalmente. 
 ANTROPOLOGIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO | UIA 4 | 
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SUMÁRIO 
 
Aula 25 | Coexistência entre as Vertentes Religiosa e Leiga da Pedagogia Tradicional 
(1759-1932) – Parte 2 ................................................................................................................... 5!
25.1. Educação na Primeira República (1889-1930): Críticas à Educação Elitista ............................. 5!
25.1.1. A organização Escolar: Características e Indicadores ................................................................................. 6!
25.2. Discursos versus Realidade Educacional: a Educação na Encruzilhada .................................... 8!
25.3. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) ................................................................ 9!
25.3.1. Conteúdo e Repercussões do Manifesto sobre a Educação Nacional ................................................ 10!
25.3.2. Contribuições do Pensamento Pedagógico de Lourenço Filho e Fernando de Azevedo para a 
Construção de um Projeto Nacional pela Educação ............................................................................................... 11!
AULA 26 | Predominância da Pedagogia Nova (1932-1969) ................................................... 13!
26.1. A Política Educacional Pós-Revolução de 1930 e no Estado Novo (1937-1945) ..................... 13!
26.1.1. Propostas Pedagógicas em Confronto: Católicos versus Liberais ........................................................ 16!
26.1.2. As Leis Orgânicas do Ensino e Seus Reflexos sobre o Sistema Escolar ............................................... 16!
26.2. Os Movimentos de Educação Popular e a Luta pela Escola Pública ........................................ 17!
26.2.1. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 (Lei nº 4.024/61) .................................. 18!
26.2.2. Contribuições do Pensamento Pedagógico de Anísio Teixeira e Paulo Freire ............................... 18!
26.3. Educação no Regime Militar (1964-1984): o Governo Contra Professores e Estudantes ...... 21!
Aula 27 | Configuração da Concepção Pedagógica Produtivista (1969-2001) – Parte 1 ...... 23!
27.1. A Reforma do Ensino Superior (Lei nº 5.540/68): Princípios e Características ....................... 24!
27.2. Reforma no Ensino de 1º e 2º Graus (Lei nº 5.692/71): o Ideário Tecnicista .................................... 25!
27.3. Contribuições do Pensamento Pedagógico de Florestan Fernandes para a Transformação 
Social ..................................................................................................................................................... 28!
27.3.1. O Compromisso com uma Educação que Ajude na Emancipação dos Minorias ........................... 29!
Aula 28 | Configuração da Concepção Pedagógica Produtivista (1969-2001) – Parte 2 ...... 31!
28.1. Educação Brasileira nas Décadas de 1980 e 1990: Ventos de Mudanças ..................................... 31!
28.1.1. Redemocratização do País, Movimentos Sociais e Educação ............................................................... 32!
28.1.2. O Fórum da Educação na Constituinte e a Luta pela Escola Pública .................................................. 35!
28.1.3. Relação Cidadania e Educação na Constituição Federal de 1988 ........................................................ 36!
28.2. Educação Brasileira nas Décadas de 1990 e 2000 ..................................................................... 37!
28.2.1. Novas Mobilizações Socais e Velhos Problemas Educacionais ............................................................. 37!
28.2.2. A Criação dos Planos Nacionais de Educação: Novas Esperanças ....................................................... 38!
Aula 29 | Perspectivas de Gênero na História da Educação Brasileira ................................... 40!
29.1. Conceito de Gênero e Importância do Seu Estudo ................................................................... 41!
29.1.1. Explicações Teóricas Sobre as Diferenças Percebidas entre Homens e Mulheres ......................... 43!
29.1.2. O Processo Histórico da Feminização do Magistério ................................................................................ 46!
Aula 30 | A Condição Feminina na História da Educação Brasileira ....................................... 49!
30.1. A Mulher Brasileira e Sua Escolarização .................................................................................... 49!
30.1.1. Exclusão Feminina do Processo de Escolarização (1549-1759) ............................................................ 49!
30.1.2. A Inclusão Restrita das Mulheres na Escola (1759-1870) ......................................................................... 51!
30.1.3. Professora, Sim! Mas com Restrições Pessoais e Profissionais (1870-1910) ..................................... 52!
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30.1.4. Século XX: Novos Rumos de Mudança .......................................................................................................... 52!
30.1.5. A Presença Importante de Algumas Mulheres da História da Educação Brasileira ....................... 54!
30.1.6. Catarina Paraguassu: uma Mulher Educada na Colônia! ......................................................................... 54!
30.1.7. Nísia Floresta Brasileira Augusta: Feminismo e Educação no Século XIX ......................................... 55!
30.1.8. Júlia Lopes de Almeida: Literatura e Defesa da Formação Social da Mulher ................................... 55!
30.1.9. Bertha Lutz: a Luta pelo Direito ao Voto Feminino ................................................................................... 56!
30.1.10. Cecília Meireles: Reforma Educacional e Poesia ...................................................................................... 57!
Aula 31 | Perspectiva das Relações Étnico-Raciais na História da Educação Brasileira ........ 58!
31.1.1. As Diferenças Étnicas sob um Novo Olhar da História Educacional .................................................... 58!
31.1.2. Conceitos e Relações entre Preconceito, Racismo e Discriminação ................................................... 60!
31.1.3. Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar: Somos Muitos em Um! ................................................. 63!
31.1.4. Relações Étnico-Raciais, Legislação Educacional e Práticas Pedagógicas ........................................ 64!
Aula 32 | Relações Étnico-Culturais e História da Educação Brasileira .................................. 66!
32.1. Relações Étnico-Raciais como Tema Novo no Estudo da Educação Brasileira ....................... 66!
32.1.1. Educação e Escolarização das Minorias Étnicas no Brasil ........................................................................ 68!
32.1.2. A Exclusão das Minorias Cantada em Verso e Prosa! ................................................................................ 69!
32.1.3. Políticas Públicas para a Diversidade Étnica ................................................................................................70!
32.1.4. Alguns Indicadores de Escolarização das Minorias Étnicas na Atualidade ....................................... 72!
 
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Aula 25 |!COEXISTÊNCIA ENTRE AS VERTENTES RELIGIOSA E LEIGA DA 
PEDAGOGIA TRADICIONAL (1759-1932) – PARTE 2 
 
Olá, estudante, bem-vindo(a) à Unidade de Interação e Aprendizagem (UIA). Ao longo estudaremos a 
evolução das ideias pedagógicas brasileiras produzidas no último século. Assim, você terá a oportunidade de 
discutir questões educacionais que tratam de um tempo bem mais próximo do nosso. Por isso, é importante 
que busque articular teoria e prática nas leituras propostas, visando perceber como determinadas ideias 
pedagógicas vêm se materializando no trabalho realizado em nossas escolas! 
O pensamento pedagógico brasileiro expresso pela coexistência entre as vertentes religiosa e leiga da 
pedagogia tradicional cobre um período bastante longo de nossa história educacional, indo da expulsão dos 
jesuítas das terras brasileira, em 1759, até o início da década de 1930. Particularmente, abordaremos esse 
pensamento pedagógico a partir da instalação da Primeira República, no final do século XIX. Bons estudos! 
 
25.1.!EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930): CRÍTICAS À EDUCAÇÃO 
ELITISTA 
Ao longo do século XIX, nossa educação se mostrou elitizada por várias razões. Por exemplo: as 
permanentes disputas entre os grupos políticos, que defendiam os interesses das elites, contribuíam para 
que estas não revelassem compromisso com medidas que efetivamente garantissem a educação do povo. 
 
Figura 1: Charge na qual D. Pedro II aparece controlando “carrossel” político da época 
Fonte: http://tinyurl.com/zefkmrp 
Nesse cenário havia ainda divergências sociais entre as classes políticas dominantes, representadas pelos 
liberais, de um lado, e pelos conservadores, de outro. No meio desses grupos, o poder moderador – cujo 
uso pelo Imperador, no caso, D. Pedro II, já era previsto pela Constituição desde 1824 – assumia, muitas 
vezes, um caráter de conciliação e não de transformação da ordem social vigente. 
Além disso, sérias críticas eram feitas ao regime parlamentarista adotado durante quase todo o Segundo 
Reinado (1840-1889), visto que ele se mostra bastante distante do modelo inglês, por concentrar grandes 
poderes nas mãos do imperador. 
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Os liberais eram por maior autonomia provincial, pela Justiça eletiva, pela separação da 
polícia e da Justiça, pela redução das atribuições do poder moderador. Os conservadores 
defendiam fortalecimento do poder central, o controle centralizado da magistratura e 
da polícia, o fortalecimento do poder moderador. 
 (CARVALHO, 1997, p. 185-186) 
 
25.1.1.!A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR: CARACTERÍSTICAS E INDICADORES 
Caro(a) estudante, chegamos ao final do século XIX com propostas progressistas feitas por intelectuais, 
como, por exemplo, Rui Barbosa. Porém, o país não tinha condições de autonomia econômica que 
resultasse em ações concretas visando fortalecer a formação do nosso povo. Dessa forma, na transição 
para o século seguinte, continuamos a ter um quadro educacional bastante preocupante, como atestado 
pelos dados estatísticos apresentados a seguir. 
Índices de analfabetismo da população brasileira para pessoas de todas as idades 
Especificação 1890 1900 1920 
Total 14.333.915 17.388.434 30.635.605 
Sabem ler e escrever 2.120.559 4.448.681 7.493.357 
Não sabem ler e escrever 12.213.356 12.939.753 23.143.248 
% de analfabetos 85% 75% 75% 
Fonte: Ribeiro (2000, p. 80) 
 
Esses dados sobre o analfabetismo no Brasil, no período estudado, merecem uma análise mais cuidadosa. 
Assim, é preciso lembrar que, à época, o país ainda contava com um modelo agrícola dependente, 
embora em algumas de suas regiões também já se fizessem notar certa evolução do processo de 
industrialização. 
Entretanto, podemos estabelecer alguma relação entre a redução da taxa de 
analfabetismo relativa a cada um dos três períodos da tabela e as novas exigências 
feitas pelo processo produtivo? 
Vejamos: em geral, os dados indicam uma redução no percentual relativo ao analfabetismo do povo 
brasileiro, o que se mostra mais expressivo de 1890 para 1900, intervalo no qual a população total 
aumentou cerca de 3 milhões. Porém, em apenas duas décadas (1900 e 1920), essa população cresceu 
76,2%! Além disso, o número de pessoas que não sabiam ler nem escrever, no mesmo período, quase 
duplicou! Enquanto isso, em todo o intervalo (1890-1920), a população cresceu mais de 100%. 
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Ainda no final do século XIX, o Brasil contava apenas com cursos 
superiores ofertados em estabelecimentos isolados, visto que ainda não 
tínhamos universidades. Isto porque as elites brasileiras foram muito 
resistentes à ideia de criação de universidade em nosso país, durante o 
período colonial, imperial e até mesmo na Primeira República, apesar de 
várias propostas terem sido apresentadas. Você poderá conhecer em 
detalhes as várias tentativas de criação da universidade no país lendo o 
texto disponível no link a seguir e no acervo da disciplina. 
http://tinyurl.com/zccxowj 
Os dados analisados nos permitem concluir que o modelo de produção econômica do período retratado 
na tabela exigia mão de obra mais qualificada e, certamente, o domínio de conhecimentos básicos para 
atendê-lo. Entretanto, a massa da população brasileira – composta, em sua maioria, por indivíduos 
analfabetos – não atendia às solicitações de produção apresentadas no começo do século XX. 
 
Figura 2: Tela "Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927) 
Fonte: http://tinyurl.com/j9kbg2w 
No caso do ensino superior, até a Proclamação da República (1889), a situação pouco se alterou, ainda 
que o setor privado tenha sido autorizado a nele atuar. “A Constituição da República, de 1891, 
descentralizou o ensino superior, que era exclusivo do poder central, delegando-o também para os 
governos estaduais e permitiu a criação de instituições privadas” (SAMPAIO, 2000, p. 39). 
A literatura mostra que existem controvérsias sobre onde teria sido criada a primeira universidade brasileira, 
como mostrado no esquema a seguir: 
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1909 A Capital amazonense, Manaus, teria criado nossa primeira universidade, durante 
curto período de prosperidade do Estado com a exploração da borracha. 
! 
1911 Instalada a Universidade de São Paulo, de natureza privada, e que, por insuficiências 
de alunos que pudessem pagar pelos estudos e a oferta de outros cursos mantidos 
pelo governo, veio a ser desativada em 1917. 
! 
1912 Em Curitiba foi instalada a Universidade do Paraná, também de caráter privado, mas 
mantida pelo orçamento do governo estadual. 
 
 
Importante! 
A Universidade do Rio de Janeiro é considerada a primeira 
instituição dessa natureza criada no Brasil, em 1920. Entretanto, 
em termos administrativos, ela reunia as faculdades de Medicina, 
Engenharia e Direito que já existiam, não se revelando um modelo 
novo para o ensino superior. Orientada mais para o ensino que 
para a pesquisa, revelava-se elitista e preocupada em preservar a 
tendência profissional dos seus cursos, bem como a autonomia 
das faculdades que a compunha. Além disso, sua criação ocorreu 
“em função da outorga do título de Doutor Honoris Causa ao Rei 
Alberto I, da Bélgica, que veio nos visitar” (MORHY, 2003, p. 21). 
 
 
25.2.!DISCURSOS VERSUS REALIDADE EDUCACIONAL: A EDUCAÇÃO NA 
ENCRUZILHADA 
No Brasil, a década de 1920 representa um período no qual aeducação torna-se objeto de intensos 
debates sociais e culturais. À época, ganha força a ideia de que o país estava bastante atrasado em 
relação a vários outros, considerados desenvolvidos. “A história da educação no Brasil, e em particular, o 
movimento de idéias que se inicia por volta de 1920, é um dos capítulos mais importantes da história das 
idéias em nosso país.” (MARTINS, 1959, p. 2). 
Nesse período, além da fundação da Associação Brasileira de Educação (ABE), em 1924, que realiza 
diversas conferências nacionais de educação, várias reformas educacionais são promovidas, merecendo 
destaque aquelas realizadas por: 
Palácio Universitário, 
construído em 1842 no estilo 
neoclássico. Fonte: 
http://tinyurl.com/ha3m6wj 
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Essas reformas e outras medidas tomadas revelam um clima de entusiasmo pela educação e de 
otimismo pedagógico. A esperança geral era de democratização e transformação social pelo trabalho 
escolar, alimentada pelas ideias propostas por intelectuais e educadores, que visavam promover debates 
e reformas na educação. 
 
Entusiasmo pela educação: “crença de que, pela multiplicação das instituições 
escolares, pela disseminação da educação escolar, será possível incorporar 
grandes camadas da população na senda1 do progresso nacional e colocar o 
Brasil no caminho das grandes nações do mundo [...]” (NAGLE, 1974, p. 99-100). 
Otimismo pedagógico: “crença de que determinadas formulações doutrinárias 
sobre a escolarização indicam o caminho para a verdadeira formação do homem 
brasileiro.” (NAGLE, 1974, p. 99-100). 
Caro(a) estudante, nos anos de 1920 e 1930, o Brasil vivia uma séria crise educacional, que decorria de 
outra mais ampla e profunda, resultante da distância entre os ideais e os fatos, em relação ao 
desenvolvimento do próprio país. Por isso, muitos intelectuais da época elegem a questão educacional 
como um grande desafio, reconhecendo que nossa educação se encontrava em “uma encruzilhada”. 
É nesse contexto que chega ao Brasil a corrente pedagógica da Escola Nova em relação ao panorama 
mundial, tratando do contexto brasileiro. Porém, saiba, desde já, que, entre nós, o escolanovismo 
influenciou, entre outras ações, a construção do famoso documento que veremos a seguir e as propostas 
de vários dos nossos grandes pedagogos. 
 
25.3.!O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA (1932) 
A intensa discussão dos problemas educacionais brasileiros nas referidas décadas leva à produção do 
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: a reconstrução educacional no Brasil, lançado em 1932. 
Esse manifesto foi referência fundamental no redirecionamento da educação brasileira e na construção 
da escola pública (XAVIER, 1994). De grande valor para nossa história educacional, ele foi lançado por um 
grupo de 26 educadores considerados, à época, os mais influentes e atuantes nas reflexões a respeito dos 
rumos da educação do país. 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
25.1.1.!1 Caminho estreito; vereda. 
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Você sabia? 
Fernando de Azevedo redigiu o Manifesto dos Pioneiros da 
Educação Nova, que foi assinado também por mais 25 
educadores e/ou escritores: Afrânio Peixoto, A. de Sampaio 
Dória, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Roquete Pinto, Frota 
Pessoa, Júlio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mário Casassanta, 
C. Delgado de Carvalho, A. Ferreira de Almeida Júnior, J. P. 
Fontenelle, Roldão Lopes de Barros, Noemi M. da Silveira, 
Hermes Lima, Atílio Vivacqua, Francisco Venâncio Filho, Paulo 
Maranhão, Cecília Meireles, Edgar Sussekind de Mendonça, 
Amanda Álvaro Alberto, Garcia de Resende, C. Nobre da Cunha, 
Pascoal Leme e Raul Gomes. 
!
25.3.1.!CONTEÚDO E REPERCUSSÕES DO MANIFESTO SOBRE A EDUCAÇÃO NACIONAL 
Embora revelassem divergências sobre as medidas que deveriam ser tomadas para reformar a educação 
no Brasil, os educadores que produziram o manifesto eram conscientes da importância de definir 
princípios e rumos para ela. O documento foi dirigido ao povo e ao governo, visando reconstruir a nação 
através da reorganização do sistema educacional. Em síntese, ele denunciava a permanência dos velhos 
problemas educacionais ainda não resolvidos pelo governo republicano. Leia no texto a seguir como a 
situação educacional brasileira da época era descrita: 
 
 
 
Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva, em importância e gravidade, 
ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia 
nos planos de reconstrução nacional [...] todos os nossos esforços, sem unidade de plano 
e sem espírito de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de organização 
escolar, à altura das necessidades do país. Tudo fragmentário e desarticulado. A situação 
atual, criada pela sucessão periódica de reformas parciais e frequentemente arbitrárias, 
lançadas sem solidez econômica e sem uma visão global do problema, em todos os seus 
aspectos, nos deixa antes a impressão desoladora de construções isoladas, algumas já 
em ruína, outras abandonadas em seus alicerces, e as melhores, ainda não em termos de 
serem despojadas de seus andaimes. 
 (MANIFESTO..., 1984, p. 427) 
Com grande repercussão na sociedade e entre os intelectuais, o conteúdo do manifesto traduzia ideias 
que concorriam para definir a educação como: 
•! essencialmente pública, obrigatória e gratuita, leiga e sem qualquer discriminação, devendo ser 
realizada com a necessária integração com a comunidade; 
•! processo a ser desenvolvido articulando seus diversos graus, visando atender às várias fases do 
desenvolvimento humano; 
•! atividade funcional, sendo os currículos adaptáveis aos interesses naturais dos alunos, que 
assumem a centralidade do problema educacional; 
•! prática social na qual todos os educadores deveriam possuir formação universitária, inclusive 
aqueles que atuavam no ensino primário de então. 
Fonte: 
http://tinyurl.com/hwhrwlr 
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Para saber mais sobre o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, 
assista ao vídeo disponível no link a seguir. 
http://tinyurl.com/p554wwa 
 
25.3.2.!CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO DE LOURENÇO FILHO E FERNANDO DE 
AZEVEDO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO NACIONAL PELA EDUCAÇÃO 
No Brasil, o pensamento escolanovista teve como principais precursores e difusores Lourenço Filho, 
Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira. Todos eles produzem uma vasta obra e participam diretamente 
dos processos de formulação das políticas educacionais da época, contribuindo para consolidar o sistema 
de ensino do país. As contribuições de Anísio Teixeira para a construção do pensamento pedagógico 
nacional. 
 
Fotografia de Manuel Bergström Lourenço Filho. 
Fonte: http://tinyurl.com/o33gzhx 
 
Fonte: http://tinyurl.com/hcg2pev 
 
É ainda no início da década de 1930 que Lourenço Filho (1897-1970) se destaca como um dos mais 
influentes representantes da pedagogia da época. Nesse contexto, lança o livro Introdução ao Estudo 
da Escola Nova (1930), texto básico para se compreender a importância dessa pedagogia no Brasil. 
Manuel Bergstrom Lourenço Filho foi professor e exerceu diversas funções em órgãos educacionais, 
tendo sido o primeiro diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (1938-1958). Representou o 
Brasil em eventos educacionais internacionais sobre educação, além de ter produzido vasta obra sobre 
temas diversos relacionados à educação. 
Lourenço Filho (1998) vê a educação como um fenômeno cuja compreensão deve consideraros diversos 
fatores da vida coletiva e não como algo independente, por isso não pode ser resumida a uma questão 
meramente escolar ou pedagógica. Para ele, como problema nacional da época, a educação deve ser 
assim considerada: 
•! de forma mais ampla: entendida como “educação nacional”, com o significado de “educação da 
nação” ou “educação para a nação”; 
•! em seu sentido histórico na sociedade brasileira: na formação cultural de nosso país, a 
consciência do alcance da educação foi tardia, gerando relações de subserviência e dominação 
estabelecidas no contexto social; 
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•! nos termos políticos da época: entendida como “obra eminentemente nacional, em suas bases, 
em seus quadros e nas suas diretrizes. Está fundada na compreensão da unidade moral, política e 
econômica da Nação”. 
Para o autor, a organização da educação pode ser vista, à luz de três fatores básicos: 
1.! sintonia com a configuração político-social do país; 
2.! organização do trabalho; 
3.! transformações das formas e tipos de produção econômica. 
Também Fernando de Azevedo (1894-1974) apresentou significativas contribuições para as reformas 
educacionais brasileiras. Sua formação sociológica o leva a abordar a educação a partir da ideia de 
identidade nacional. Para ele, nosso projeto de nação deveria ser construído contando com a grande 
contribuição da educação. 
Fernando de Azevedo viveu 80 anos, dos quais dedicou quase 50 à questão educacional. Ao longo de sua 
vida, além da docência, ocupou diversos cargos públicos importantes, como diretor da Instrução Pública 
do Distrito Federal (1927), diretor-geral da Instrução Pública de São Paulo (1933), professor da 
Universidade de São Paulo (1933-1938) e secretário de Educação também em São Paulo, em 1961. 
Suas ideias pedagógicas revelam o desejo de promover “uma ‘revolução na educação’ [...] com a 
participação do povo, até então, em sua maioria, alijado do processo educativo. São as idéias que se 
refletirão no Manifesto da Escola Nova”. (MOREIRA, 1987, p. 118). Para tanto, defende que a reconstrução 
social por meio da reforma do sistema educacional da época deveria ter dois pilares básicos: 
I.! a urgência da mudança das mentalidades, visando à transformação educacional; 
II.! a certeza e clareza de que a investigação sobre a educação exige uma reflexão de suas finalidades 
políticas e filosóficas. 
Chamamos a atenção para outra questão sobre o pensamento educacional de Fernando de Azevedo. 
Suas ideias receberam críticas, por parte de vários intelectuais, que o consideravam conservador, diante 
de sua crença de que, pela reforma educacional, a reforma social do país seria realizada. 
 
Todavia, ao encarar a educação como uma possibilidade de transformação social e de mudança de 
mentalidades, ele contribuiu para a reflexão de outros temas essenciais, como, por exemplo, a educação 
das massas e a formação das elites. Enfim, suas ideias sobre a educação como fator de mudança social 
revelam preocupação com as reformas educacionais promovidas nas primeiras décadas do século XX, o 
que contribui para o reconhecimento de que, como intelectual, ele: 
 
 
 
[...] não pensou a educação como arte formal ou teoria abstrata apenas, mas sim como 
algo imanente à própria estrutura histórica e objetiva da vida espiritual de uma nação, 
manifestando-se de modo exemplar na literatura que é a expressão real de toda a cultura. 
 (MOREIRA, 1987, p. 107) 
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!
Aprofundaremos as contribuições de outros formuladores do pensamento pedagógico brasileiro, situando-os 
em um período no qual as ideias escolanovistas mostraram-se predominantes. Continue os estudos desta 
disciplina e até breve! 
 
AULA 26 |!PREDOMINÂNCIA DA PEDAGOGIA NOVA (1932-1969) 
 
Falaremos sobre a predominância da pedagogia nova em meados do século XX no Brasil. Iniciamos 
lembrando que a influência da Escola Nova sobre a educação brasileira foi bastante expressiva e de longa 
duração. Assim, fique atento e preste atenção aos conteúdos! Boa aula! 
 
Partindo dessa ideia, Saviani (2013) subdivide em três fases o período que analisaremos. 
Equilíbrio entre a pedagogia tradicional e a pedagogia nova (1932-1947).
a! Predomínio da influência da pedagogia nova (1947-1961). 
b! Crise da pedagogia nova e articulação da pedagogia tecnicista (1961-1969) 
 
26.1.!A POLÍTICA EDUCACIONAL PÓS-REVOLUÇÃO DE 1930 E NO ESTADO NOVO 
(1937-1945) 
No Brasil, até o final da Primeira República (1930), a educação ainda não era tratada como política 
pública2 propriamente dita. Antes disso, o que tínhamos eram ações fragmentadas, que revelavam duas 
insuficiências em relação à oferta do ensino: 
•! falta de organicidade entre os vários níveis: 
•! desintegração das instâncias responsáveis por isso (federal, estadual e municipal). 
Nesse cenário, um fato é bastante ilustrativo: apenas em 1930 é criado o Ministério dos Negócios da 
Educação e Saúde Pública. Veja que esse órgão não era dedicado apenas às questões educacionais, mas 
também àquelas da saúde do povo! 
Mais uma vez, vemos a importância de se compreender o contexto histórico da época, visando uma 
melhor apreensão do sentido da pedagogia nele construída. Afinal, é na década de 1930 que se 
encontram as explicações de como e por que o escolanovismo foi surgindo, para a influenciar a educação 
brasileira desde então. 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
25.1.2.!2 Políticas definidas pelo governo destinadas a atender as necessidades de todos os cidadãos, sem distinção de cor, raça, sexo, idade, 
classe social, religião ou de qualquer outra natureza. 
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Há uma tendência em voltar a 1930 para explicar 1964 e de passagem explicar 1945. E 
sobre o que falam esses estudos? Com poucas exceções, falam da organização escolar, da 
legislação do ensino e da “disparidade” entre uma e outra. Em relação à Colônia, abordam 
o caráter elitista da educação jesuítica e depois as modificações introduzidas na educação 
anterior. Quanto ao Império, falam da desconsideração pelo ensino elementar (e o Ato 
Adicional de 1834 aparece como a grande prova do descaso) e da lamentável inexistência 
de uma universidade nos moldes daquelas que as sociedades mais esclarecidas haviam 
criado. Chegando à etapa Republicana, dois períodos de maior interesse têm levado as 
considerações bastante comuns. Na Primeira República e nos anos entre 1930 e 1937, as 
grandes personagens que emergem na história são os renovadores do ensino e contra eles 
os católicos conservadores; na interlocução de ambos, o Estado. 
 (WARDE, 1984, p. 2) 
 
Getulio Vargas, com outros líderes da Revolução de 1930, em Itararé-SP, 
logo após a derrubada de Washington Luís. Fonte: http://tinyurl.com/gpxlzzb 
Nesse contexto, um dos mais significativos acontecimentos foi a Revolução de 1930, que marca o conflito 
entre o grupo dominante e outros grupos políticos que também desejam o poder. Tendo grande 
impacto na história do nosso país, 
 
 
 
[...] a Revolução de 1930 foi fruto da crise econômica do setor agroexportador de café, 
agravada pela crise da Bolsa de Nova York de 1929 e das pressões dos segmentos sociais 
que não se consideravam atendidos no processo político de implantação da Primeira 
República, marcado por sucessivas eleições pactuadas entre os setores agrários 
regionais. 
 (ANDREOTTI, 2010, p. 104-105) 
Também devido às repercussões sobre nossa educação, outro fato histórico que ocorreu na mesma 
década foi a instalação do Estado Novo, em 1937. Em decorrência dele, é imposta ao país uma nova 
Constituição, que traduzirá o controle ditatorial de Getulio Vargas sobre asociedade brasileira. Do ponto 
de vista histórico, 
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[...] o Estado Novo foi resultado de um golpe de Estado deflagrado em 1937, que instalou 
um regime ditatorial, comandado por Vargas, sob a justificativa de manter a ordem 
institucional, supostamente ameaçada por regionalismos, pelas divergências entre os 
grupos dominantes (setores agrários e burguesia3 industrial) e pelas manifestações das 
forças de oposição, especialmente do Partido Comunista [fundado em 1922]. 
 (ANDREOTTI, 2010, p. 105) 
 
 
 
Você sabia? 
A Constituição Federal de 1937 foi chamada pelos seus críticos de 
“Constituição Polaca”, numa referência feita àquela outorgada 
pelo Marechal de Jozsef Pilsudski (1867-1935), líder de um golpe 
militar que o colocou no poder na Polônia, em 1921. 
 
 
 
 
Entretanto, ao contrário do que fez a Carta Magna promulgada4 em 
1934, a de 1937 não deixou explícito o direito à educação, privilegiando 
as escolas privadas. Outro aspecto inusitado dela foi determinar que “o 
ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos 
favorecidas é, em matéria de educação, o primeiro dever do estado.” 
(Art. 129). Saiba mais sobre o caráter ditatorial dessa Constituição 
acessando o link a seguir. 
http://tinyurl.com/zb3oygc 
 
Já nos anos 1930, havia estímulo à expansão do setor privado de ensino superior. De acordo com Sampaio 
(2000, p. 45), em 1933, “quando foram elaboradas as primeiras estatísticas educacionais no País, o setor 
privado já respondia por 64,4% dos estabelecimentos e por 43,7% das matrículas de ensino superior”. 
A formação escolar imposta pelo Estado Novo defendia o nacionalismo, o patriotismo e a difusão do 
projeto político-ideológico do governo. Um exemplo disso foi a criação de uma coleção denominada 
“Biblioteca Pátria”, em 1940, composta por livros infantis em quadrinhos intitulados “Grande Figuras do 
Brasil”. A coleção trazia uma enfática apresentação feita pelo próprio presidente da República, à época, 
Getulio Vargas, na forma de ofício, reiterando a intenção do governo em difundir exemplos de 
patriotismo por meio dos “vultos nacionais”. Veja os termos dessa apresentação: 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
25.1.3.!3 Classe dominante das sociedades capitalistas que, detendo o capital e a propriedade e o controle dos meios de produção, explora a 
classe trabalhadora (operariado). 
25.1.4.!4 Constituição elaborada com a participação de segmentos sociais organizados, contando com pontos de vista diversos em sua 
formulação, ainda que a representação dos grupos. 
Fonte: http://tinyurl.com/z4uyfpg 
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“Cultivar nos jovens a admiração pelos heróis nacionais é obra patriótica e 
merecedora de louvores. O livro Grandes Figuras do Brasil constitui, nesse sentido, 
valiosa e oportuna iniciativa”, disse Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, em 3 de 
junho de 1940 (ANDREOTTI, 2010, p. 111). 
Vejamos, a seguir, dois desdobramentos da política educacional da época. 
 
26.1.1.!PROPOSTAS PEDAGÓGICAS EM CONFRONTO: CATÓLICOS VERSUS LIBERAIS 
Em um contexto conturbado e de grandes mudanças sociais, 
políticas e econômicas em nossa história, instalam-se 
também debates e embates em torno da educação. De um 
lado, estavam os liberais, intelectuais defensores da 
construção de um país urbano-industrial e democrático e, no 
plano educacional, da Escola Nova. Conhecidos como 
“profissionais da educação”, eles acabam endossando o manifesto dos pioneiros de 1932. De outro lado, 
posicionam-se os católicos, adeptos da pedagogia tradicional e que, no combate aos liberais, assumem 
posições ultraconservadoras, fazendo, inclusive, campanhas difamatórias contra aqueles. 
Nos anos 1950, as divergências entre os grupos católicos (defensores das escolas privadas) e os liberais 
(defensores da escola pública), novamente se acirram. Em 1959, essas divergências se intensificam em 
função, particularmente, da apresentação, pelo deputado Carlos Lacerda, do substitutivo que defendia 
incentivos à iniciativa privada, “considerando competência do Estado o suprimento de recursos técnicos 
e financeiros, a igualdade de condições das escolas oficiais e particulares e o veto ao monopólio do 
ensino estatal” (ARANHA, 1996, p. 250). 
 
26.1.2.!AS LEIS ORGÂNICAS DO ENSINO E SEUS REFLEXOS SOBRE O SISTEMA ESCOLAR 
 
Gustavo Capanema Filho foi o ministro que mais tempo ficou no cargo em 
toda a história do Brasil. Fonte: http://tinyurl.com/hanhqmq 
 
Caro(a) estudante, a legislação que orientou as reformas educacionais dos anos 1940 e 1950 ainda 
mantinha a organização dualista do sistema de ensino – povo versus elite. Em meio a esse persistente 
dualismo, ocorrem as reformas promovidas pelas famosas “Leis Orgânicas do Ensino”, decretadas por 
Gustavo Capanema (1900-1985), ministro da Educação entre 1934 e 1945. Decretadas entre 1943 e 1946, 
essas leis instituem as diretrizes da educação do país, tendo durado até a década de 1960. 
 
 
 
Em 1942, entrou em vigor Lei Orgânica do Ensino Industrial; em 1943, a Lei Orgânica do 
Ensino Comercial; em 1946, a Lei do Ensino Agrícola. A Lei Orgânica do Ensino Normal 
saiu em 1946, junto da Lei do Ensino Primário. 
 (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1994, p. 87) 
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Embora focalizem de maneira mais específica o ensino técnico-profissional, as leis orgânicas tratam ainda 
dos níveis primário e secundário. Assim, também em 1942, este último foi dividido em dois ciclos: curso 
ginasial, com duração de 4 anos, e curso colegial, que passou a ser subdivido em clássico e científico. No 
mesmo ano, foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). 
 
26.2.!OS MOVIMENTOS DE EDUCAÇÃO POPULAR E A LUTA PELA ESCOLA PÚBLICA 
Como vimos antes, nos anos 1930 e 1940, educadores católicos e liberais se opõem 
firmemente na defesa de suas respectivas ideias pedagógicas. Nessa luta, os 
católicos acusam a escola leiga (pública) de que ela somente instrui, mas não educa. 
Em função disso, defendem a “liberdade” das famílias em escolherem a “melhor” 
educação para seus filhos. De outro lado, fazem oposição a essa ideia os antigos 
“pioneiros da educação”, apoiados por estudantes, intelectuais e líderes sindicais. 
Tais divergências dão início à Campanha em Defesa da Escola Pública, que culminou 
com o Manifesto dos Educadores (1959), dessa vez assinado por Fernando de 
Azevedo e mais 189 pessoas ligadas a segmentos diversos da sociedade civil. Esse 
documento foi publicado pela primeira vez, em São Paulo, em 1º de julho de 1959, 
no jornal O Estado de S. Paulo e, ao mesmo tempo, no Diário do Congresso 
Nacional (ROMANELLI, 2002). 
No Brasil, o início da década de 1960, quando assume a Presidência da República, João Goulart (1961-
1964) revela grande efervescência política e cultural. Esse clima propiciou o surgimento e atuação de 
jovens intelectuais progressistas, geralmente associados à educação popular. “O movimento popular abriu 
espaço para o pensamento renovador em educação e absorveu alguns intelectuais com experiência em 
lutas políticas das classes subordinadas” (CUNHA; GÓES, 1987, p. 16). 
 
Fonte: http://tinyurl.com/hwr9ccw 
 
Vejamos alguns dos movimentos de educação popular, vários deles destinados à alfabetização de 
adultos, que proliferaram no período entre 1946 e 1964: 
•! Campanha de Alfabetização de Adultos, criada pelo Ministério da Educação, em 1947, e 
intensamente realizada entre 1950 e 1954, sob a gestão de Lourenço Filho. 
João Goulart. Fonte: 
http://tinyurl.com/hweuq5
h 
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•! Movimento de Educação de Base, realizado na parceria governo federal e Conferência Nacional 
dos Bispos do Brasil, previsto para ocorrer entre 1961 e 1965. 
•! Programa Nacional de Alfabetização, instituído em janeiro de 1964 e extinto em 1º de abril do 
mesmo ano, quando os militares tomaram o poder e acusaram os organizadores de subversão, o 
que implicou sua prisão e exílio. 
 
26.2.1.!A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL DE 1961 (LEI Nº 4.024/61) 
Outro importante fato do início da década de 1960 para a educação brasileira foi a promulgação de nossa 
primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a Lei nº 4.024/61 (BRASIL, 1961), cuja tramitação no 
legislativo durou longos 13 anos! Resultante de amplos debates com a sociedade civil, retratava uma visão 
humanista de educação, visto que sua elaboração ocorreu em um contexto pós-Segunda Guerra Mundial. 
Na evolução de nossa história educacional, essa lei é a primeira a englobar todos 
os graus e modalidades de ensino, tendo como principais características: 
•! objetivos: inspirados em princípios de liberdade e solidariedade humana; 
•! estrutura: pré-primário (até os 7 anos de idade), primário (com duração de 
4 a 6 anos), ensino médio: ginasial de 4 e colegial de 3 anos, ambos 
abrangendo várias modalidades (secundário, técnico – industrial, agrícola e 
comercial – e normal), superior (graduação e pós-graduação); 
•! conteúdos curriculares: diversificados, com disciplinas obrigatórias. 
 
26.2.2.!CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO DE ANÍSIO 
TEIXEIRA E PAULO FREIRE 
Caro(a) estudante, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo, cujas ideias 
pedagógicas e Anísio Teixeira (1900-1971), que veremos a seguir, são considerados 
os três "cardeais" da educação brasileira. 
Esse título lhes é atribuído pelas suas significativas contribuições para a mudança e consolidação do 
sistema educacional do país. 
Anísio Teixeira pensa o fenômeno educativo a partir de duas orientações básicas: 
1.! Não há educação sem uma teoria da educação. 
2.! Há a necessidade de diagnósticos precisos e abrangentes dos problemas que a educação é 
chamada a resolver. Essa forma de encarar a educação revela sua preocupação em defender 
vigorosamente sua democratização, ao longo das cinco décadas que atuou como intelectual e 
gestor em diversas instâncias do sistema educacional brasileiro. 
Outra grande marca do pensamento pedagógico desse autor é sua preocupação em afirmar e reafirmar que 
educação não é privilégio, expressão que, aliás, deu título a uma de suas mais significativas obras, publicada 
em 1957. A partir desta ideia mais geral, ele concebe a educação com base em cinco princípios fundamentais, 
sintetizados no quadro a seguir e ilustrados com trechos de algumas de suas obras. Leia-os com atenção! 
Busto de Anísio Teixeira. Fonte: 
http://tinyurl.com/h77qqhh 
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A educação é um 
direito 
A escola pública universal e gratuita não é doutrina especificamente socialista, 
como não é socialista a doutrina dos sindicatos e do direito organizacional dos 
trabalhadores; antes, são estes os pontos fundamentais por que se afirmou e 
possivelmente ainda se afirma a viabilidade do capitalismo ou o remédio e o 
freio para os desvios que o tornariam intolerável (TEIXEIRA, 1996, p. 55). 
A educação não é 
um privilégio 
O dever do governo – dever democrático, dever constitucional, dever 
imprescritível – é o de oferecer ao brasileiro uma escola primária capaz de lhe dar 
a formação fundamental indispensável ao seu trabalho comum, uma escola 
média capaz de atender à variedade de suas aptidões e das ocupações 
diversificadas de nível médio e uma escola superior capaz de lhe dar a mais alta 
cultura e, ao mesmo tempo, a mais delicada especialização (TEIXEIRA, 1977, p. 33). 
A educação deve 
estimular e 
contar com a 
participação dos 
grupos e 
movimentos 
sociais!
[...] a educação formal é parte do contexto cultural da sociedade, atuando como 
expressão de sua continuidade e desenvolvimento. Quando a sociedade, 
sempre de algum modo em mudança, ou evolução, sofre uma intensificação ou 
aceleramento desse processo, o fator de educação, refletindo a mudança, atua 
como força de resistência ou de renovação, concorrendo para dificultar ou 
facilitar o processo de readaptação social inerente à função característica da 
educação dentro do processo cultural (TEIXEIRA, 1976, p. 48). 
A escola pública é 
o instrumento 
que prepara a 
democracia 
Com o crescimento do sistema escolar e a expansão das demais obrigações 
do Estado, vem-se tornando cada vez mais difícil, ao Estado, administrar a sua 
escola. Ante o imediatismo de certas necessidades materiais do progresso 
geral de cada unidade, a escola vem sendo relegada no plano geral de 
governo e, por outro lado, o tipo de centralização administrativa 
excessivamente compacto estabelecido pelos governos estaduais impede a 
atenção individual às escolas, o que leva a administrá-las como se fossem 
unidades de um exército uniforme e homogêneo, espalhado por todo o 
território (TEIXEIRA, 1959, p. 290). 
O professor deve 
ser formado por 
meio de ações e 
processos 
democráticos 
O magistério constitui uma das profissões em que a formação nunca se encerra, 
devendo o professor, terminado o curso regular, continuar pela prática [...] o seu 
desenvolvimento [..] procura-se dar ao professor estágios, cursos e seminários 
destinados a apressar e sistematizar as conquistas que somente uma muito longa 
prática, e aos mais capazes, poderia dar (TEIXEIRA, 1958, p. 39). 
O outro grande pedagogo cujo pensamento destacamos é Paulo Freire (1921-1997). Saiba, desde já, que 
as ideias pedagógicas desse grande educador brasileiro vêm sendo estudadas em vários países, visto que 
revelam “uma direção para a autocompreensão dialética de toda teoria da educação” (SCHMIED-
KOWARZIK, 1988, p. 70). 
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20 
 
Paulo Freire. Fonte: http://tinyurl.com/ob2eozy 
 
 
Só um livro brasileiro entra no top 100 de universidades de língua 
inglesa, e este foi escrito por Paulo Freire. O livro Pedagogia do 
Oprimido aparece em 99° lugar. Acesse o link a seguir e saiba detalhes 
dessa história. 
http://tinyurl.com/zxp24l7 
A pedagogia de Paulo Freire vem sendo formulada desde o final da década de 1950 e, desde então, tem 
influenciado fortemente a educação brasileira. Devido à natureza crítica e emancipatória do seu 
pensamento, esse teórico foi perseguido pela ditadura militar instalada no Brasil em 1964, ficando no 
exílio por muitos anos. 
Na visão educacional desse autor, ensinar é, por excelência, uma forma de intervenção no mundo, uma 
tomada de posição frente à realidade social. A partir dessa premissa, ele baseia sua pedagogia na ética, 
no respeito à dignidade, à própria autonomia do educando e na valorização das experiências vividas por 
esse último. 
Paulo Freire (1976, p. 79) encara a aprendizagem como descoberta criadora: 
ensinando se aprende e aprendendo se ensina: "ninguém educa ninguém, como 
tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, 
mediatizados pelo mundo". 
Ainda de acordo com Freire, no ato educativo, deve-se valorizar o saber, a linguagem, a cultura e a 
história de vida dos educandos. Para tanto, é necessário que o educador busque promover a ponte entre 
a cultura dos estudantes e a vida escolar, por meio de uma prática dialogada. Sob esse ponto de vista, o 
diálogo tem como premissa o respeito às pessoas, em sua expressão individual e social. 
 
 
 
O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, 
não se esgotando, portanto, na relação eu-tu. Se é dizendo a palavra com que, 
“pronunciando” o mundo, os homens o transformam, o diálogo se impõe como 
caminho pelo qual os homensganham significação enquanto homens. 
 (FREIRE, 1976, p. 91) 
Por último, ressaltamos que o pensamento desse educador é influenciado, em grande parte, pelo seu 
envolvimento e atuação com os movimentos sociais e com a cultura popular, que ganharam força nos 
anos 1950 e 1960, como já vimos. 
 
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26.3.!EDUCAÇÃO NO REGIME MILITAR (1964-1984): O GOVERNO CONTRA 
PROFESSORES E ESTUDANTES 
 
Militares da Força Pública, atual Polícia Militar, protegendo o Palácio da Guanabara, no Rio de Janeiro, 
durante o Golpe Militar no Brasil em 31 de março de 1964. Fonte: http://tinyurl.com/hf7wcdd 
 
O percurso democrático que nossa educação vinha experimentando a partir da segunda metade da 
década de 1940 foi interrompido com o golpe militar de 1964. Desde então, os diversos dispositivos 
legais baixados no país acabam por fortalecer a ditatura instalada. Um deles – Ato Institucional nº 5, de 13 
de dezembro de 1968 – deu plenos poderes ao presidente da República para dissolver o Congresso 
Nacional, cassar mandatos, suspender direitos políticos etc. 
Nos campos social e educacional, os reflexos da repressão do regime político também são rápidos, intensos 
e violentos. Movimentos populares de trabalhadores, estudantes ou qualquer forma de manifestação são 
perseguidos e abafados. Em nome do interesse nacional, instala-se um governo totalitário e centralizador, 
proibindo qualquer expressão de insatisfação contra a ordem imposta pelos militares. 
 
Figura 3: Tanques em frente ao Congresso Nacional patrulham a Esplanada dos Ministérios, 
em 1964, após o golpe militar. Fonte: http://tinyurl.com/oqle8u6 
 
Nesse cenário de autoritarismo para a educação, é baixado um dispositivo legal-repressivo de caráter 
mais específico – o temido Decreto-Lei nº 477, editado em 26 de fevereiro de 1969. Com base nele, 
estudantes e professores que ousam criticar a ditadura são presos ou afastados das universidades, sem 
poder se defender das acusações. Em suma, o direito à liberdade de pensamento estava cassado pela 
ditatura militar. Veja o que enfatizava o seu artigo 1º: 
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Art. 1º Comete infração disciplinar o professor, aluno, funcionário ou empregado de 
estabelecimento de ensino público ou particular que: 
I - Alicie ou incite à deflagração de movimento que tenha por finalidade a paralisação de 
atividade escolar ou participe nesse movimento; 
II - Atente contra pessoas ou bens tanto em prédio ou instalações, de qualquer natureza, 
dentro de estabelecimentos de ensino, como fora dêle; 
III - Pratique atos destinados à organização de movimentos subversivos, passeatas, 
desfiles ou comícios não autorizados, ou dêle participe; 
IV - Conduza ou realize, confeccione, imprima, tenha em depósito, distribua material 
subversivo de qualquer natureza; 
V - Seqüestre ou mantenha em cárcere privado diretor, membro de corpo docente, 
funcionário ou empregado de estabelecimento de ensino, agente de autoridade ou aluno; 
VI - Use dependência ou recinto escolar para fins de subversão ou para praticar ato 
contrário à moral ou à ordem pública. 
 (BRASIL, 1969) 
Uma análise mais atenta desses incisos mostra que o conteúdo destes possui, na verdade, um elevado 
nível de subjetividade, o que facilitou sua intepretação pela vontade e interesses dos militares no poder. 
O resultado disso sobre a educação da época foram perseguições, autoritarismos e atos de violência física 
e ideológica sobre professores e estudantes. Nesse cenário, recebe especial atenção da ditadura o nível 
superior, o que vai contribuir para o governo promover uma reforma universitária em 1968. 
 
Conheça mais sobre este triste período da nossa história, também 
chamado “Anos de Chumbo”, assistindo um documentário, 
acompanhado de belas músicas da época, disponível no link a seguir. 
http://tinyurl.com/guxpddk 
Leia no quadro a seguir a síntese apresentada por Monlevade (1997) sobre a configuração social do 
período que estudamos. Observe como o autor considera tanto elementos da economia, da sociedade e 
do Estado, quanto outros relacionados à evolução do sistema educacional, no período estudado. 
Economia Modo de produção capitalista industrial. 
Sociedade Sociedade urbana letrada em arrancada desenvolvimentista. 
Estado Alternância entre regimes de Estado moderno democrático (1934-1937 e 1946-1964) e 
autoritário: Estado Novo (1937-1945) e ditadura militar (1946-1971). 
Sistema 
Educaciona
l 
Construção do sistema nacional de educação federativo – criação e expansão da universidade 
pública. Universalização do ensino primário público com perda de qualidade. 
 
Escolas 
Universidades federais e estaduais – multiplicação das escolas secundárias públicas primárias 
estaduais e municipais. Surgimento da educação infantil e do ensino supletivo. Campanhas 
públicas e comunitárias e empresariais. Criação do sistema de educação profissional patronal 
(SENAI, SENAC). 
 
Financiame
nto 
Escolas públicas: verbas vinculadas ou disputadas dos impostos federais, estaduais e 
municipais: criação do salário educação. Escolas particulares: mensalidades diferenciadas 
pelos segmentos da elite e assalariados do ensino profissional patronal: arrecadação 
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compulsória na folha de contribuição dos empregados. 
Gestão Pública: pendular entre proposta democrática progressista e autoritária tecnicista. Particular: 
cada vez mais empresarial. 
 
 
Atores 
Professores universitários recrutados das profissões liberais ou do sistema secundário. 
Professores públicos da educação básica: desvalorizados por arrocho salarial, multijornada e 
formação aligeirada. Funcionários das escolas públicas: subemprego clientelístico. 
Professores de escolas particulares: cada vez mais assalariados. Fundação de associações de 
professores públicos e sindicatos de professores particulares. 
Alunos: maior acesso da população urbana e rural de todas as idades e estratos sociais. 
Pais: começa a participação em Associações de Pais e Mestres. 
 
Currículo 
Afrouxamento da centralização curricular. Novo papel do livro didático: de subsídio do aluno 
para substituto do professor. Novo paradigma da avaliação: o programa dos vestibulares no 
ensino superior. O analfabeto funcional. 
 
Veremos novos rumos de mudança nas ideias pedagógicas do nosso país, no período de redemocratização 
nele vivido na década de 1980. Até lá! 
 
Aula 27 |!CONFIGURAÇÃO DA CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA PRODUTIVISTA 
(1969-2001) – PARTE 1 
 
Chegamos ao quarto e último grande período de construção das ideias pedagógicas brasileiras, considerando 
a periodização proposta por Saviani (2013) para nossa história educacional, e adotada no estudo desta 
disciplina. Começa aqui a primeira parte do nosso estudo relativo a esse assunto! Fique atento e boa aula! 
 
Observe que, do ponto de vista temporal, esse período é menor do que os demais apenas cerca de três 
décadas. Entretanto, durante esse período, a educação brasileira é influenciada por muitas tendências 
pedagógicas, razão pela qual o referido autor o subdivide nas seguintes fases: 
a! Predomínio da pedagogia tecnicista, manifestações da concepção analítica de filosofia da 
educação e concomitante desenvolvimento da visão crítico-reprodutivista (1969-1980). 
b! Ensaios contra-hegemônicos: pedagogias da “educação popular”, pedagogias da prática, 
pedagogias crítico-sociais dos conteúdos e pedagogia histórico-crítica (1980-1991). 
c! O neoprodutivismo e suas variantes: neoescolanovismo, neoconstrutuvismo e neotecnicismo 
(1991-2001). 
Por razões didáticas, as discussões feitas nesta aula se prendem mais ao contexto educacional 
correspondente à primeira fase indicada.Iniciaremos discutindo as duas grandes reformas educacionais ocorridas no período que estudaremos: 
uma no final da década de 1960 e a outra no início da década seguinte. Veremos que ambas já anunciam 
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elementos que ajudam a compreender a configuração da visão pedagógica produtivista na história da 
educação do nosso país. 
 
27.1.!A REFORMA DO ENSINO SUPERIOR (LEI Nº 5.540/68): PRINCÍPIOS E 
CARACTERÍSTICAS 
Como vimos o golpe de 1964 os militarem têm preocupação com os professores e estudantes. Por isso, 
recorrem à legislação e à força policial para reprimi-los, em um contexto histórico que revela, entre 
outros, fatos como esses: 
•! nas grandes cidades, as palavras de ordem das manifestações eram o fim da censura, da 
repressão e a redemocratização do país; 
•! adesão aos protestos não apenas de intelectuais e artistas, mas também religiosos; 
•! realização do XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), organizado 
clandestinamente (Ibiúna/SP), em 14 de outubro de 1968, quando de uma só vez mais de 900 
pessoas são presas, incluindo lideranças estudantis ainda livres. 
Nesse contexto, a ditadura perde a máscara e ingressa em sua fase mais agressiva e repressora. E, para 
conter a insatisfação dos estudantes, que reagem ao autoritarismo dos militares e pressionam para 
ingressar na universidade, o governo promove a Reforma Universitária de 1968, por meio da Lei nº 5.540/68 
(BRASIL, 1968). 
 
Figura 4: Líder do movimento civil, discursando durante a Passeata dos Cem Mil, em 1968 
Fonte: http://tinyurl.com/gun58wr 
 
Entretanto, embora aconteça no final da década de 1960, essa reforma já vinha sendo pensada e 
discutida pelo governo há muito tempo. Isso porque o ensino superior em nosso país manteve-se, 
historicamente, como privilégio das elites, e, na época, o modelo de universidade, implantado em 1934, 
com a criação da Universidade de São Paulo (USP), mostrava-se em crise e bastante distante das 
demandas da sociedade. 
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A concepção de universidade calcada nos moldes norte-americanos não foi imposta 
pela USAID, com a conivência da ditadura, mas antes de tudo, foi buscada, desde fins da 
década de 40 por administradores educacionais, professores e estudantes, 
principalmente aqueles com um imperativo de modernização e até mesmo de 
democratização do ensino superior em nosso país. Quando os assessores norte-
americanos aqui desembarcaram, encontraram um terreno fértil para adubar suas idéias. 
 (CUNHA, 2007, p. 24) 
 
Importante! 
A Reforma Universitária de 1968 não apenas traz as marcas da época – tempo de 
incertezas – mas representa um claro divisor de águas na história do ensino superior no 
Brasil. Além de inspirada no modelo norte-americano, para presidir uma comissão especial 
para tratar dos seus temas foi convocado um oficial de alta patente do Exército, o então 
coronel Carlos de Meira Matos (1913-2007), vice-chefe do gabinete militar do presidente 
Castelo Branco e interventor federal em Goiás. 
 
Entre as principais características da Reforma de 1968, merecem destaque: 
•! Instituição do vestibular classificatório para resolver a situação dos estudantes “excedentes” que, 
mesmo aprovados na seleção, não tinham vaga para estudar. 
•! Definição de um modelo empresarial para as universidades, visando captar recursos. 
•! Organização da universidade em unidades de natureza isolada: o departamento. 
•! Estímulo considerável à expansão das matrículas nas instituições privadas. 
 
27.2.!REFORMA NO ENSINO DE 1º E 2º GRAUS (LEI Nº 5.692/71): O IDEÁRIO 
TECNICISTA 
Caro(a) estudante, depois de promovida a reforma no ensino superior, o governo teve a preocupação de 
fazer o mesmo no antigo ensino de 1º e 2º graus – atualmente Ensino Fundamental e Ensino Médio, 
respectivamente –, por meio da Lei nº 5.692/71 (BRASIL, 1971). Esta última, ao contrário do que 
aconteceu com nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 4.024/61), que foi bastante discutida com a 
sociedade, foi promulgada sem nenhum veto do presidente da República, fato inusitado quando se trata 
da legislação educacional brasileira. Veja que isso já indica o grande interesse do governo militar em 
apressar o processo que resultaria na reforma em questão. 
De natureza tecnicista, essa segunda reforma também visou, entre outros objetivos, atender aos 
interesses do regime militar, conter possíveis insatisfações no sistema de ensino e obrigar a 
profissionalização dos adolescentes e jovens no antigo 2º grau. Na prática, a Lei nº 5.692/71 orienta uma 
reforma educacional tecnicista, que vincula aos seus objetivos o modelo de modernização econômica 
defendido na época. 
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Do ponto de vista pedagógico, o tecnicismo orienta-se pela concepção de que 
os meios prevaleçam no processo educacional, devendo os indivíduos garantir o 
sucesso de sua aprendizagem por meio de tecnologias de ensino. Entre outras, 
uma consequência dessa pedagogia é o grande destaque dado ao modelo 
empresarial que, segundo seus defensores, deveria ser também aplicado ao 
sistema educacional, de forma geral, e às instituições escolares, em particular. 
 
 
Aluno do SENAI participando da Olimpíada do Conhecimento, 
em 2012. Fonte: http://tinyurl.com/za224x9 
De fato, nas décadas de 1960 e 1970, o tecnicismo ganhou força no mundo e no Brasil, encontrando, no 
nosso caso, apoio no próprio modelo repressor do regime militar e na ideia de que a educação seria um 
forte ponto de apoio para desenvolver um modelo econômico. A ideia veiculada é a de que vivíamos 
uma época de “milagre econômico”5 que, no entanto, na prática, não se traduzia em uma eficiente 
política de distribuição de renda, nem de atendimento às necessidades básicas da população. 
No caso da história da educação brasileira, ao ser aplicada à reforma do ensino de 1º e 2º graus, a 
pedagogia tecnicista “procura inculcar no estudantes a imagem de que são membros de uma sociedade 
homogênea e harmônica, na qual as diferenças entre os cidadãos decorrem da natureza ou do acaso, e 
onde os conflitos são um mero acidente perfeitamente suprimível” (CHAUI, 1977, p. 6). 
Vejamos o alcance dessa reforma, considerando seus três principais eixos: 
•! objetivos: autorrealização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania; 
•! estrutura: 1º grau com 8 anos, dedicados à formação geral e o 2º grau, em três ou quatro anos, 
porém, obrigatoriamente profissionalizante, vigente até 1982; 
•! conteúdos: definição de dez conteúdos específicos obrigatórios, o que prejudicava a liberdade 
de incluir outras disciplinas. 
Implantada em um contexto no qual a educação assumia características autoritárias e domesticadoras, a 
reforma do ensino de 1º e 2º graus acabava por atrelar o nosso sistema educacional à ideologia do 
modelo de desenvolvimento econômico dependente que havia sido imposto aos diversos países da 
América Latina pela política definida pelos Estados Unidos (ARANHA, 1996). De acordo com esta autora, a 
reforma em questão estrutura-se em três pilares básicos: 
Educação e 
desenvolvimento 
Geração de profissionais para atender às necessidades urgentes do país, em 
termos de mão de obra especializada para um mercado em expansão. 
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
25.1.5.!5 Época de expressivo crescimento econômico durante a ditadura militar no Brasil, mais especificamente entre 1968 e 1973, mas 
quando, contraditoriamente, ocorreu o aumento da concentração de renda e, consequentemente, da desigualdade social. 
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Educação e 
segurança 
Formação de cidadãos conscientes pela introdução de disciplinas tratando 
de civismo e problemas brasileiros: Educação Moral e Cívica, Organização 
Social e Política do Brasil e Estudos de Problemas Brasileiros. 
Educação e 
comunidade 
Estabelecimento da relação entre escola e comunidade, propondo a criação 
de conselhos de empresários e mestres. 
Enfim, do ponto de vista de sua concepção, a pedagogia tecnicista que orientou as duas reformas antes 
analisadas privilegia, sobretudo, a racionalização dos meios e estruturas, em detrimento do elemento 
humano, como expõe Saviani (1991): 
 
 
 
A partir do pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de 
racionalidade, eficiência e produtividade, essa pedagogia advoga a reordenação do 
processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e operacional. Buscou-se planejar a 
educação de modo a dotá-la de uma organização racional capaz de minimizar as 
interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua eficiência. Como consequência 
do tecnicismo tivemos o parcelamento do trabalho pedagógico com a especialização de 
funções, postulando-se a introdução no sistema de ensino de técnicos dos mais 
diferentes matizes. Nesta perspectiva, a educação tecnicista tem como elemento 
principal a organização racional dos meios, ocupando professor e aluno posição 
secundária, relegados que são à condição de executores de um processo cuja 
concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de especialistas 
supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais. 
 (SAVIANI, 1991, p. 15-17) 
 
Sem dúvida, é estreita a relação entre as reformas educacionais de 1968 e de 1971 com a 
ideologia do regime militar e o autoritarismo desse período de nossa história. 
 
 
Aprofunde seus conhecimentos sobre essa relação das reformas 
educacionais de 1968 e de 1971 com a ideologia do regime militar e o 
autoritarismo, lendo o texto disponível no link a seguir. 
http://tinyurl.com/h7d99uw 
Todavia, como nenhum processo de dominação e repressão é total e absoluto, também durante o 
regime militar muitos intelectuais levantaram voz para contestá-lo e, ao mesmo tempo, defender a escola 
pública, como veremos a seguir. 
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27.3.!CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO DE FLORESTAN 
FERNANDES PARA A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL 
Caro(a) estudante, no contexto histórico das ideias pedagógicas, veremos a 
contribuição de outro grande pensador da educação brasileira, cujas 
reflexões são apoiadas em sua formação sociológica: Florestan Fernandes 
(1920-1995). Ele usou seu pensamento social para a criação de uma nova 
postura na forma de pensar a realidade social e também o nosso sistema 
educacional, visando sua democratização. 
Como vimos à luz das ideias escolanovistas, Fernando de Azevedo pensa 
educação de forma associada à construção de um projeto para o país. Esta é 
também uma das preocupações centrais de Florestan Fernandes, antes, 
durante e depois do regime militar, porém com base em uma matriz de 
pensamento bastante diferente daquele pioneiro da educação nova. 
Sua reflexão sobre a questão é crítica e engajada com a luta dos grupos excluídos 
da sociedade. Portanto, o ponto de partida de ambos é o mesmo, mas o caminho e 
a natureza da reflexão são bem diferentes! 
 
Você sabia? 
Da condição de ex-aluno da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de 
São Paulo, em 1944, Florestan Fernandes, tornou-se assistente de Fernando de Azevedo. 
Veja como isso ocorreu: “Ele nunca foi meu professor, mas, um dia, de repente, recebi um 
telefonema dele me convidando para conversar. Ele soube que eu era um estudante de 
talento, que tinha dificuldades, e por isso punha à minha disposição a biblioteca dele [...]. 
Quando eu fui convidado para ser assistente, eu tive sorte de três oportunidades de trabalho 
e me fixei na que era oferecida na cadeira de Sociologia. Eu cheguei a dizer: professor 
Fernando Azevedo, eu não sou responsável pelo que vai acontecer. Eu sou aluno, o senhor 
está convidando um aluno para ser assistente, e isso está errado.” (FERNANDES, 1995, p. 8-
9). Além de produzir vasta obra, Florestan Fernandes foi eleito de deputado federal para 
dois mandatos (1987-1991 e 1991-1995), pelo Partido dos Trabalhadores (PT). 
 
Florestan Fernandes estabelece uma estreita relação entre educação e sociedade. 
Ao fundamentar suas ideias pedagógicas em um plano mais geral, , torna-se um militante da discussão 
sobre a escola pública brasileira entre as décadas de 1950 a 1990! Particularmente, no período de 1954-
1964, participou de diversos projetos visando aprofundar as discussões sobre os dilemas do nosso sistema 
educacional, defendendo um papel mais engajado da universidade com a causa das minorias sociais. 
Defendendo que a educação seja tratada como um problema social, ele entende que não existe 
crescimento econômico, nem desenvolvimento social, sem uma estreita relação entre a escola e os 
processos de mudança social. A partir dessa tese, os pressupostos básicos do seu pensamento 
educacional são: 
Florestan Fernandes. Fonte: 
http://tinyurl.com/hnfgj7c 
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Princípios da defesa da escola pública por Florestan Fernandes: 
•! A transformação educacional depende de mudanças globais e profundas da 
realidade social. 
•! A escola pública deve ser de qualidade e de acesso a todos os cidadãos brasileiros. 
•! Só há Estado e sociedade democrática com uma educação também democrática. 
•! A escola pública é o instrumento capaz de promover a democracia, por isso deve 
ser engajada com os interesses e necessidades dos grupos sociais que atende. 
•! A democratização do ensino implica universalizar e distribuir equitativamente as 
oportunidades educacionais. 
Para esse teórico, à semelhança do que ocorre com outros países subdesenvolvidos, o Brasil possui um 
“dilema educacional” de natureza institucional. Segundo ele, isso se explica na medida em que o sistema 
educacional brasileiro “abrange instituições escolares que não se ajustam, nem qualitativa nem 
quantitativamente, a necessidades educacionais prementes que são compartilhadas em escala nacional 
ou que variam de uma região para outra do país.” (FERNANDES, 1985, p. 419). 
 
27.3.1.!O COMPROMISSO COM UMA EDUCAÇÃO QUE AJUDE NA EMANCIPAÇÃO DOS MINORIAS 
Florestan Fernandes se mostrou um intelectual extremamente engajado com a 
causa dos excluídos na sociedade, razão pela qual sua reflexão toma como 
ponto de partida a realidade social brasileira e a necessidade de sua 
transformação. Por isso, defende que a formação e atuação dos educadores 
assumam um real compromisso com a mudança social, a partir do trabalho que 
realizam na escola e na sala de aula. 
 
 
 
Pensar politicamente é alguma coisa que não se aprende fora da prática. Se o professor 
pensa que sua tarefa é ensinar o ABC e ignora a pessoa de seus estudantes e as 
condições em que vivem, obviamente não vai aprender a pensar politicamente ou talvez 
vá agir politicamente em termos conservadores, prendendo a sociedade aos laços do 
passado, ao subterrâneo da cultura e da economia. 
 (FERNANDES, 1986, p. 24) 
Sua análise sobre a educação brasileira toma como referência a realidade do mundo capitalista e o 
processo de extrema exploração que nela existe. Para ele, o “capitalismo selvagem” revela, de um lado, 
luxo, poder e riqueza, e, de outro, extrema miséria e opressão. Considerando isso, ao longo de sua vida, 
buscou a coerência de um intelectual e homem público engajado com a luta das minorias – negros, 
mulheres, índios, analfabetos, trabalhadores braçais etc. Em sua compreensão, a educação deve se 
constituir em uma ferramenta para a emancipação dos excluídos. 
Por último,é importante ressaltar que, ao analisar as contradições da realidade brasileira mais recente – 
anos 1980 e 1990 –, Florestan Fernandes alerta para um quadro em evolução há algum tempo: 
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[...] há uma revolução silenciosa em marcha, uma revolução ligada aos deslocamentos 
internos de milhões de miseráveis, que esfacelam pura e simplesmente a ordem 
existente (a qual não se move para absorvê-los – pois não tem como!), e ao clamor dos 
que se proletarizam (também aos milhões), vinculando entre si várias formas de 
população excedente, o exército ativo dos trabalhadores e o imenso, incontável, 
exército industrial de reserva. Uma história que parece sem bússola, mas que caminha 
rapidamente na direção de uma sociedade nova, como produção social dos oprimidos. 
 (FERNANDES, 1985) 
Apresentamos aqui um quanto-síntese proposto por Monlevade (1997), a respeito da configuração social 
entre 1971 e 1988. Observe que nele são ressaltados diversos elementos em relação à caracterização do 
período de consolidação da concepção pedagógica produtivista. 
Caro(a) estudante, é importante que, na leitura do referido quadro, você procure perceber a relação que 
existe entre os elementos gerais apresentados pelo autor – economia, sociedade e Estado – e aqueles 
relativos à dimensão histórica do sistema educacional brasileiro, no período que acabamos de estudar. 
CONTRADIÇÕES DA EDUCAÇÃO NA CRISE DO CAPITALISMO (1971-1988) 
Economia Modo de produção capitalista industrial monopolista internacionalizado. 
Sociedade Sociedade urbana terceirizada em processo de democratização via mercado. 
Estado Autoritário tecnocrático desenvolvimentista em transição para abertura. 
Sistema 
Educacional 
Organização para o desenvolvimento e segurança: hegemonia de consumismo 
industrial sobre a utopia e ameaça socialista. Construção da muralha escolar: 
profissionalização do ensino médio e privatização do ensino superior. Apogeu da 
seletividade: reprovação na educação básica e vestibular. 
Escolas Universalização do ensino do 1º grau, obrigatório e gratuito. Lenta ampliação da 
educação infantil e do ensino médio público. Descaracterização das licenciaturas. 
Arrefecimento dos movimentos de alfabetização. Programas de educação na TV. 
Fracasso da proposta de profissionalização do ensino médio. Nichos de oferta do 
ensino particular pré-escolas, ensino médio e pré-vestibulares, cursos “baratos” 
de 3º grau [superior] e supletivo. 
Financiamento Verbas insuficientes dos impostos face à explosão da demanda: luta por 
vinculação (Emenda Calmon) e de verbas públicas par as escolas públicas. 
Crescimento da oferta de ensino particular financiado por mensalidades ou 
bolsas de verbas públicas. 
Gestão Gestão autoritária da ditadura militar cada vez mais contestada. Experiências de 
eleição de diretores e reitores. Opção da educação popular pública, mas não estatal. 
Atores Professores desqualificados e mobilizados sindicalmente. Crescem 
multiemprego e evasão profissional. Funcionários se associam. Todos fazem 
greves diante do arrocho e atraso dos salários. Alunos e pais desmobilizados. 
Currículo Ebulição das teorias pedagógicas da academia agita as propostas curriculares 
dos sistemas, embora prática nas salas de aula pouco se modifique. Massificação 
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Antes de terminar os estudos desta aula, assista ao vídeo "Florestan 
Fernandes: o mestre”, disponível no link a seguir. 
http://tinyurl.com/zr83veg 
 
Analisaremos os principais acontecimentos educacionais em nosso país, considerando o período entre as 
décadas de 1980 e 2000. Vamos lá! 
 
Aula 28 |!CONFIGURAÇÃO DA CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA PRODUTIVISTA 
(1969-2001) – PARTE 2 
 
Caro(a) estudante, discutiremos a evolução da educação brasileira em uma fase mais recente: 1980 a 2000. 
Trataremos de temáticas cujo debate iniciou-se no começo da primeira década mencionada, como, por 
exemplo, os movimentos em prol da democratização da sociedade e, consequentemente, da educação. 
Entretanto, esses temas continuaram apresentando desdobramentos nas décadas seguintes e, inclusive, na 
atualidade. Vamos lá? Bons estudos! 
 
28.1.!EDUCAÇÃO BRASILEIRA NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990: VENTOS DE 
MUDANÇAS 
Temos ressaltado, ao longo desta disciplina, a importância de sempre analisar o 
fenômeno educativo de forma articulada à realidade social, que o condiciona e, ao 
mesmo tempo, é por ela condicionado. 
Nessa lógica, para entendermos os rumos mais recentes de nossa história educacional, é fundamental 
considerar o contexto social no qual são discutidas e formuladas as propostas para os vários níveis de 
ensino, pela sociedade civil e pelo poder público, a partir da década de 1980. 
Vejamos um exemplo para ilustrar o que estamos dizendo. O processo de 
redemocratização social, bem como do sistema educacional de qualquer 
povo possui um percurso histórico. No Brasil, ele tem início na referida 
década e continua em construção, pois se trata de um processo 
extremamente complexo, no qual intervêm diferentes forças. É certo que 
esse percurso não é construído de forma tranquila, mas em meio a embates, 
por envolver interesses e disputas políticas entre grupos distintos. 
da cultura: TV e a força da imagem. Chegada do computador à sala de aula das 
escolas ricas e à casa dos alunos de classe alta e média. Descarte da formação 
especial prática curricular das escolas e sistemas, restringindo-se à iniciação ao 
trabalho aos sistemas SENAI-SENAC-SENAR e às escolas técnicas. 
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Em qualquer país, a democratização do sistema educacional contribui, 
fundamentalmente, para ampliar os espaços do efetivo exercício da cidadania! 
Voltemos, então, um pouco no tempo para recuperarmos o “fio da meada” dos rumos mais atuais de 
nossa educação. 
 
28.1.1.!REDEMOCRATIZAÇÃO DO PAÍS, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO 
Mostrando distância dos objetivos que pretendia alcançar com o chamado “milagre econômico”, já no 
final dos anos de 1970, o governo militar revela sinais de enfraquecimento. Visivelmente, o Brasil vive uma 
época na qual lhe faltam as condições necessárias para fazer sua produção avançar, o que provoca forte 
descontentamento em vários grupos sociais, inclusive em uma parcela da burguesia nacional. 
Nesse mesmo contexto, muitos intelectuais, políticos e artistas exilados pelo regime militar retornam ao 
país, passando a ter a liberdade de expressar suas ideias e a fazer críticas à ditatura que chegara ao fim, 
embora os militares continuem no poder. Como falava o então presidente da República, general Ernesto 
Geisel (1974-1979), começava um processo “lento, gradual e seguro” de redemocratização do país. 
 
Geisel afirmou que a redemocratização seria um processo "lento, gradual e seguro" 
em seu discurso de posse. Fonte: http://tinyurl.com/jrl4q57 
 
 
No mesmo cenário, estudado anteriormente, Chico Buarque de 
Holanda, crítico da ditatura, cantava a esperança: “Amanhã há de ser 
outro dia”. Conheça a música por meio do link a seguir. 
http://tinyurl.com/jrwa8wl 
Também no campo educacional havia uma ânsia pela sua democratização, expressa pelo engajamento de 
muitos educadores e teóricos, como Paulo Freire, que retorna ao país, em 1980, após 16 anos no exílio. Na 
retomada da democracia, uma forte relação vai sendo construída entre os movimentos sociais e políticos 
surgidos nessa época e os atores, órgãos e entidades atuantes na condução das decisões educacionais. 
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Com a esposa Elza Freire (à esquerda) e sua irmã Stella, na volta ao Brasil, em

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