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1 Semântica e Pragmática Adilson do Nascimento Gomes 2 AULA 8 Percurso constitutivo da Pragmática De modo geral, os gregos viam a linguagem como uso, prática, efetivação discursiva, distante da ideia de teoria. A esse exemplo tem-se Homero, que deixou a herança mais antiga sobre os usos da língua. Ao se falar de pragmática, deve-se ter por princípio os atos de fala. 3 A pragmática, enquanto teoria semântica, nasce no interior da filosofia da linguagem e em um panorama mais recente da linguística. Pensar a pragmática é então pensar nos atos de fala que tiveram a atenção do inglês John Austin (1911-1960). Neste sentido a perspectiva recai sobre o que se diz e o que se faz e a linguagem está intimamente ligada à naturalidade das coisas. A pragmática linguística assim entendida começou a se firmar no início da década de 1970, embora propusesse, por volta de 1940, a divisão tricotômica nos estudos linguísticos, dividindo-se em sintaxe, semântica e pragmática. A partir do século XIX, nos Estados Unidos, estudos passam a vigorar como método para determinar o significado de termos linguísticos fundamentais. Formada pelo vocábulo grego pragma, estendeu-se à Inglaterra, a Itália e chegou a nós sob variadas formas. 4 “Grice esclareceu que a comunicação obedece a regras conversacionais que os interlocutores seguem mesmo quando têm opiniões diferentes sobre o assunto de que falam. Segundo essas regras, sempre se espera que os interlocutores deem informações completas, verdadeiras, relevantes e tanto quanto possível claras. Quando isso não acontece, o interlocutor avaliará o que foi dito e tentará ainda “salvar” a comunicação extraindo daquilo que foi dito um sentido relevante para a situação” (ILARI, 2020). “Essa explicação de Grice pôs em evidência um modo de construir sentidos até então pouco estudado e uma propriedade de enunciados que não tinha sido assunto dos estudiosos da significação até então – a de relevância. Mais amplamente, mostrou que, no intercâmbio linguístico, os falantes constroem interpretações até certo ponto imprevisíveis para as frases, num processo que envolve sempre os dois interlocutores” (ILARI, 2020). https://br.pinterest.com/pin/529595237412342605/ 5 Neste intercâmbio, Calvin interpretou o homem com a navalha como algo perigoso, por este motivo revolveu dizer quem sem dúvidas era o melhor corte para não contrariá-lo, já que ele estava armado. A interpretação de Calvin foi imprevisível visto que estava interagindo com o barbeiro. https://tiras-do-calvin.tumblr.com/image/26217608126 Essas observações permitiram recuperar uma concepção de pragmática mais antiga, devida a Charles Morris, um estudioso dos sistemas de significação. No início do século XX, Morris distinguiu três perspectivas possíveis para o estudo dos sistemas comunicativos: SINTÁTICO SEMÂNTICO PRAGMÁTICO 6 perspectiva SINTÁTICA Questiona-se como combinamos signos chegando a expressões bem construídas em língua materna. Considerando as palavras Como chegamos a Criança sozinha viaja pela Europa E não Sozinha pela criança Europa viaja Europa viaja criança pela sozinha perspectiva Semântica se estuda, além da sintática, a relação entre os signos linguísticos e o mundo. Observe: A gaivota é uma ave. na frase “a gaivota é uma ave” tem por assunto uma certa classe de animais, aos quais se atribuem propriedades que os distinguem dos outros animais. (ILARI, 2020) 7 Perspectiva PRAGMÁTICA Que, além da perspectiva SINTÁTICA e SEMÂNTICA, estuda como os interlocutores interagem ao usar a linguagem. “Numa perspectiva pragmática, torna-se evidente que as mensagens linguísticas são construídas e interpretadas como parte de estratégias interacionais complexas, em que têm peso as representações que os falantes fazem uns dos outros, e da comunicação em curso” (ILARI, 2020). De acordo com Ilari (2020) “O modo como representamos o interlocutor nos leva, por exemplo, a escolher, entre várias formas de começar um novo assunto, e nos permite gerenciar de maneira mais eficaz a carga informativa e emotiva das nossas mensagens, encontrar palavras que não geram problemas de interpretação, entre outras possibilidades. Essa mesma representação orienta-nos no sentido de decidir se aquilo que nos foi dito era uma brincadeira, uma ironia, ou, simplesmente um disparate. A perspectiva pragmática ajuda-nos também a perceber que, além de comunicar e informar, a linguagem é o instrumento de inúmeras outras ações, por exemplo, a de persuadir ou a de levar nossos interlocutores a certos tipos de ação”. 8 Referências Bibliográficas GRICE, Paul. Meaning. The Philosophical Review, v. 66, 1957. (Reimpresso em: GRICE, P. Studies in the ways of words. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1989. p. 213-223). ILARI, Rodolfo. Pragmática. In.: Clossário CEALE. Disponível em < http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/pragmática> Acesso em 23 jun. 2020. RAJAGOPALAN, Kanavilli. Os caminhos da pragmática no Brasil. DELTA, São Paulo, v. 15, número especial, p. 323-338, 1999. RUBEN, Maria Vitória. Argumentação e debates linguísticos no Brasil. DELTA, São Paulo, n. 11, v. 1, p. 133- 159, 1995. http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/pragmática
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