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Rosilene Siray Bicalho Lúcia Maria Pôrto de Paula LIVRO DO PROFESSOR Com viver com ciência Alinhado com a BNCC, Com viver com ciência busca orientar para uma formação continuada do professor do Ensino Médio. Todas as propostas aqui apresentadas valorizam o diálogo entre as partes en- volvidas no processo de aprendizagem. O projeto de vida do pro- fessor, o isolamento disciplinar, a interdisciplinaridade e os proces- sos de avaliação estruturam esta obra e são integrados ao longo dos capítulos, de modo a demonstrarem suas questões específicas, mas também a sua forte conexão na prática escolar cotidiana. Para me- diar as discussões sobre os objetos do conhecimento foram eleitos subtemas a partir de três Temas Contemporâneos Transversais: Saú- de, Ciência e Tecnologia, e Meio Ambiente, articulando-os às com- petências gerais do Ensino Básico e às competências específicas da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Esta obra é um convite à reflexão-ação, pois, ao se apropriar mais de si, o professor se torna mais capaz de viver o nós e modificá-lo. Afinal, o que é aprender, se não, o modificar ideias, e, consequente- mente as ações sobre elas? C om viver com ciên cia R o sile n e Siray B icalh o • Lú cia M aria P o rto d e P au la BIOLOGIA Ciências da Natureza e suas Tecnologias LIVRO DE FORMAÇÃO CONTINUADA ISBN: 978-65-88618-03-5 9 786588 618035 G U I A P N L D G U I A P N L D Rosilene Siray Bicalho Professora de Biologia. Mestre e doutora em Parasitologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Lúcia Maria Pôrto de Paula Professora de Biologia. Mestre em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais. Com viver com ciência LIVRO DO PROFESSOR Belo Horizonte – 1ª edição – 2021 BIOLOGIA – Ciências da Natureza e suas Tecnologias G U I A P N L D Copyright © 2021 by Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula COLABORADORES Ana Paula Lima Cerqueira Professora de Química. Especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos. Mestranda em Educação em Química. Marcos Antônio Nicácio Professor de Química. Especialista em Educação Ambiental. Luiz Carlos de Souza Professor de Filosofia e Português. Doutor em Literatura de Língua Portuguesa. EDITOR Rafael Borges de Andrade COORDENAÇÃO EDITORIAL, CAPA E PROJETO GRÁFICO Mário Vinícius Silva PRODUÇÃO EDITORIAL Alice Bicalho ASSISTENTE EDITORIAL Olívia Almeida DIAGRAMAÇÃO Elen Carvalho – Formata Alexandre Alves ILUSTRADOR Carlos Jorge Nunes PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS Débora de Castro Barros REVISÃO DE PROVAS Cida Ribeiro ASSISTENTE DE LICENCIAMENTO DE DIREITOS AUTORAIS Camila Parreiras Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD 1ª edição, janeiro de 2021 Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem o consentimento por escrito da editora. Todos os direitos reservados à: RHJ Livros Ltda. Rua Helium, 119 – Nova Floresta – Belo Horizonte/MG – CEP: 31140-280 Telefone: (31) 3334-1566 – editorarhj@rhjlivros.com.br – www.rhjlivros.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil B583c Bicalho, Rosilene Siray. Com viver com ciência / Rosilene Siray Bicalho, Lúcia Maria Pôrto de Paula. - Belo Horizonte, MG : RHJ, 2021. 140 p. : il. ; 20,5cm x 27,5cm. Inclui índice e bibliografia. ISBN: 978-65-88618-03-5 1. Formação continuada. 2. Professor. 3. BNCC. 4. Ensino Médio. I. Paula, Lúcia Maria Pôrto de. II. Título. 2020-3281 CDD 370 CDU 37 Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949 Índice para catálogo sistemático: 1. Educação 370 2. Educação 37 G U I A P N L D Carta ao professor Prezado colega, Nossa proposta com este livro é subsidiá-lo para os desafios intrínsecos ao Novo Ensino Médio, conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Esse Novo Ensino Médio continua a compor uma sequência histórica de importantes mudanças político-social-econômicas. Somente em 1942, com a Reforma Gustavo Capanema, o Ensino Médio estruturou-se definitivamente como um curso regular basilar para o Ensi- no Superior. A partir desse momento, tivemos importantes mudanças po- lítico-econômicas, e, em 1961, foi sancionada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), cujo artigo 33 do Título VII diz que “a educação de grau médio, em prosseguimento à ministração na escola primária, destina-se à formação de adolescente”. No período do regime militar, a Lei no 5.692/1971 fixou as diretrizes e bases para o ensino de 1o e 2o graus, indicando escolaridade obrigatória dos 7 aos 14 anos de idade e a generalização do Ensino Profissionalizante para o 2o grau. Com a pro- mulgação da nova Constituição, em 1988, a educação ganha destaque no artigo 205, “visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, sendo compreendida como um direito de todos e dever do Estado e da família. Em 1996, foi aprovada a segunda LDB, e a Educação Básica ficou dividida em Educação Infantil (desenvolvimento da criança até os seis anos), Ensino Fundamental (duração mínima de oito anos) e Ensino Médio (duração mí- nima de três anos), Profissionalizante e Superior. Houve também a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). A BNCC, homologada em 14 de dezembro de 20181, propõe uma profun- da transformação no Ensino Básico. Que transformação é essa? O que essa transformação exigirá de você, professor, e da equipe gestora? Os PCNs orientavam o professor para o desenvolvimento de trabalhos inter- disciplinares e já propunham uma organização por área de conhecimen- to, porém a organização do currículo ainda era majoritariamente pensada por disciplinas. A BNCC modifica essa estrutura, e o trabalho por área do conhecimento busca atender ao desenvolvimento de competências gerais e específicas. Com isso, modifica-se a relação entre ensino e objetos de conhecimento, exigindo-se que os professores repensem suas práticas a partir da formação das competências e das habilidades a serem desen- volvidas pelos estudantes, e não como nas antigas disciplinas. Haverá a 1 Para ver o histórico da estruturação da BNCC acesse: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/historico. G U I A P N L D necessidade da construção de novas relações de ensino-aprendizagem, estruturadas em áreas de conhecimento. Socializaremos com você um pouco de nossas experiências como pro- fessores do Ensino Médio. As vivências são sempre únicas, mas podemos mostrar, por meio delas, possíveis atuações que fazem diferença no coti- diano. Acreditamos, com base em nossa prática pedagógica, que o estudo das ciências biológicas não se limita a uma mera apresentação sistemática de conteúdos previstos nos currículos de Ensino Médio. As ciências biológicas, como um campo do saber, encantam facilmente as pessoas, independentemente de idade, sexo ou posição social. Nossa mis- são, como educadores, é produzir um pouco desse encantamento e trazer para a sala de aula, e para outros espaços, o mundo intricado, complexo e profundamente bonito da VIDA. Neste livro, vamos auxiliá-lo na construção e na condução de uma prática pedagógica com base na proposta da BNCC para a área das ciências da natureza. Não podemos dizer que seja uma prática fácil, isso porque nossa formação foi e é disciplinar, situação que está ainda muito longe de ser a ideal. Professores são geralmente levados a apresentar aos estudantes determinados conteúdos de biologia simplesmente porque fazem parte, tradicionalmente, doscurrículos dessa disciplina; os estudantes, por sua vez, não veem muito sentido nas aulas simplesmente porque a forma de apresentação dos conteúdos (objetos do conhecimento), em geral, não agrega nenhum significado a suas vidas. Os estudantes não devem assimilar conteúdos (os objetos do conheci- mento) somente como informações, mas atribuir-lhes novos significados, para construir conhecimentos. Assim, tanto para professores quanto para estudantes, em termos pedagógicos, o que se propõe é que a biologia seja parte integrante de suas vidas, dentro e, sobretudo, fora do espaço escolar. Viemos de escolas, do ensino fundamental ao superior, de concepção tra- dicional. O empacotamento disciplinar e a concepção que o segue são muito fortes e solidificam nossa forma de pensar e de enxergar o entorno. Vamos socializar com você um pouco de nossas vivências no que se refere aos incômodos, às decisões de mudança, à saída da acomodação, às frus- trações, aos acertos e aos erros, ao se trabalhar de forma interdisciplinar e por área do conhecimento. Como nos prepararmos para essa mudança? Você consegue enxergar a inserção do conhecimento de outras áreas em suas discussões? Você considera alguma área do conhecimento mais importante que outra? No momento de discutir a organização curricular de sua escola, você argu- mentou a favor do aumento do número de aulas de biologia? Você argu- mentou a favor de aumento da carga horária de outra área do conheci- mento? Você argumentou a favor da organização por área e da otimização G U I A P N L D das cargas horárias a partir da interação das áreas? Você já assistiu a uma aula de outra área, e vice-versa, e depois debateu com os outros profes- sores? Você já trabalhou em conjunto com professores de outras áreas? De que forma? Devo avaliar o estudante ou o produto entregue por ele? Você acredita que estaria “dando moleza” para seu aluno, caso devolvesse a prova para ele refazer e justificar as questões corrigidas como erradas? Essas perguntas serão apresentadas e discutidas ao longo do livro. Propu- semos trabalhar com alguns Temas Contemporâneos Transversais (TCTs), temas esses que buscam contextualizar o que é ensinado, trazendo aspec- tos de interesse dos estudantes. Os TCTs não pertencem a nenhuma área em particular e atravessam todas elas; permitem diferentes abordagens, principalmente a inter e a transdisciplinar. A proposta é que consigamos dialogar com as três áreas do conhecimento que compõem a área das ciências da natureza (biologia, física e química) e com outras áreas, de forma a proporcionar um maior entendimento do tema a ser discutido. Atualmente, estamos sentindo a necessidade de fazer a conexão entre di- versas áreas do conhecimento. Percebemos que, por mais especificida- des que tenha uma dessas áreas, ela sempre estará interligada com outras, compondo toda a dinâmica desse imenso ambiente no qual vivemos e criamos. Vale ressaltar o papel da linguagem como parte integrante de nossas vidas, dentro e, sobretudo, fora da escola, sendo instrumento indispensável tanto para a aquisição e a comunicação de conhecimentos em quaisquer áreas quanto para a participação nas mais diversas áreas sociais de interlocução. Portanto, esperamos que este livro o ajude a trilhar novos caminhos ou a reforçar os já trilhados por você na interdisciplinaridade, que é a coopera- ção e o diálogo entre as disciplinas em uma ação coordenada. Ou, quem sabe, o auxilie a expandir para a transdisciplinaridade, que, segundo Do- mingues (2003), procura aproximar campos de conhecimento, buscando unificá-los. Os autores e os colaboradoresG U I A P N L D Sumário CAPÍTULO 1 – RECURSOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ........................................................... 9 Abordagens teórico-metodológicas de cada dimensão ....................................................... 11 Dimensão I – Conhecimento de si, do outro e do nós (miniprojeto de vida para os professores) ....................................................................... 11 A autorreflexão ...........................................................................................................14 Discussão do projeto de vida para o professor ...................................................14 A percepção de sua prática pedagógica...............................................................15 Discussão dos modelos pedagógicos e epistemológicos ................................16 Dimensão II – O saber disciplinar em xeque (problematização do isolamento disciplinar) ................................................................ 20 Dimensão III – Área de conhecimento em foco (problematização da interdisciplinaridade) .................................................................... 22 Dimensão IV – Repensando a avaliação (mapeando novos processos de avaliação) ................................................................... 23 Organização da obra .....................................................................................................................25 Princípio norteador das discussões dos objetos do conhecimento da área e desenvolvimento das competências e habilidades ....................................25 Estratégias pedagógicas para trabalhar os TCTs e as quatro dimensões .......................... 28 Os TCTs e as quatro dimensões ....................................................................................... 28 Dimensão I – Conhecimento de si, do outro e do nós ................................... 28 Dimensão II – Problematização do isolamento disciplinar Dimensão III – Problematização da interdisciplinaridade ............................... 29 Dimensão IV – Repensando a avaliação ..............................................................31 CAPÍTULO 2 – SAÚDE – CORPO E SAÚDE AMBIENTAL ..............................................................33 Dimensão I – Conhecimento de si, do outro e do nós .........................................................33 Atividade: Conhecendo a si mesmo ............................................................................... 34 Atividade: Conhecendo o outro e o nós .........................................................................35 Vivência: Refletindo sobre sua prática pedagógica ..................................................... 36 Situação 1 ................................................................................................................... 36 Situação 2 ....................................................................................................................41 Situação 3 ....................................................................................................................41 Situação 4 ................................................................................................................... 42 Situação 5 ................................................................................................................... 43 Dimensão II – O saber disciplinar em xeque ........................................................................... 44 Dialogando com os reais interesses do estudante ...................................................... 46 Vivência: Anorexia – história ............................................................................................ 46 G U I A P N L D Vivência: Anorexia – conceito, causas e consequências ........................................... 49 Vivência: Estudando o conceito de anorexia .................................................................51 Vivência: Estudando as consequências da desnutrição causada pela anorexia nervosa em nosso organismo ................................................................. 54 Desdobramentos e atividades .......................................................................................... 58 Conteúdo a ser ensinado, sua natureza e as estratégias e hipóteses didáticas ...................................................................................................58 Dimensão III – Área de conhecimento em foco .................................................................... 59 Proposta interdisciplinar: Alimentos ................................................................................61 Atividade: O corpo – como o vejo e como ele é visto? ............................................. 63 Atividade: A boneca cresceu, e agora? (o padrão de beleza e suas consequências) .................................................................. 65 Atividade: Olhando para o próprio corpo ....................................................................... 71 Atividade: O alimento e a evolução humana .................................................................73 CAPÍTULO 3 – CIÊNCIA E TECNOLOGIA .......................................................................................83 Dimensão I – Conhecimento de si, do outro e do nós ........................................................ 83 Vivência: Conhecimento de si .......................................................................................... 83 Vivência: Conhecimento do eu, do outro e do nós no espaço escolar ............................................................................................................... 85 Vivência: Refletindo sobre a prática pedagógica: metodologia ou tecnologia? ............................................................................................87 Vivência: Ciência e tecnologia: é possível separá-las? ............................................... 90 Vivência: Somos apenas uma peça do quebra-cabeça .............................................. 94 Dimensões II e III – O saber disciplinar em xeque ................................................................. 96 Contextualização: transgênicos e agrotóxicos ............................................................ 96 Atividade: Breve introdução ao tema dos organismos transgênicos e dos agrotóxicos ................................................................................................................... 98 Vivência: A história da descoberta da molécula de DNA ........................................... 98 Vivência: Transgênicos ..................................................................................................... 102 Vivência: Relação entre organismos transgênicos e agrotóxicos .......................... 103 Vivência: Visita virtual a um museu de ciências e tecnologia ................................. 109 Atividade: Dialogando com as palavras ........................................................................ 109 CAPÍTULO 4 – MEIO AMBIENTE – EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO ..................................... 112 Atividade: Conhecimento de si ....................................................................................... 112 Atividade: Conhecimento do eu, do outro e do nós no espaço escolar ...............114 G U I A P N L D O eu, o outro e o nós na educação para o consumo ................................................ 115 Educação para o Consumo .............................................................................................116 Vivência: Consumo de alimentos orgânicos ................................................................ 117 Atividade: Experiências no ambiente do espaço escolar ..........................................118 Os objetos do conhecimento na Educação para o Consumo ............................... 130 Vivência: Compreendendo situações do dia a dia a partir das vivências no espaço escolar .............................................................................................................. 131 Vivência: Compreendendo situações do dia a dia a partir da Educação para o Consumo .......................................................................... 131 A importância das vivências para o entendimento e a mudança de comportamento e atitudes ..............................................................................................133 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................135 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................136 G U I A P N L D CAPÍTULO 1 Recursos teórico-metodológicos A BNCC propõe que as decisões pedagógicas sejam orientadas para o de- senvolvimento de competências e habilidades, devendo os estudantes “sa- ber” e “saber fazer”. Isso significa: • “saber” – ter os conhecimentos, desenvolver as habilidades, conhecer a existência e desenvolver atitudes e valores. Mas, sobretudo, • “saber fazer” – referindo-se a utilizar esses conhecimentos e essas ha- bilidades, vivenciando as atitudes e os valores desenvolvidos. […] a BNCC indica que as decisões pedagógicas devem estar orientadas para o desenvolvimento de competências. Por meio da indicação clara do que os alunos devem “saber” (considerando a constituição de conhecimentos, habi- lidades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem “saber fazer” (consi- derando a mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a explicitação das competências oferece referências para o fortalecimento de ações que assegurem as aprendizagens essenciais definidas na BNCC. (BRASIL, 2018, p. 13). Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocio- nais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. (BRASIL, 2018, p. 8). Para atender a essas orientações e exercer a real função do ato de educar, devemos, em nossa prática pedagógica, colocar nosso estudante na posi- ção de protagonista de seu aprendizado, enquanto assumimos o papel de mediadores. Para conduzir essa prática, é importante: contextualizar o ensino, valorizar os conhecimentos trazidos pelos estudantes e abrir um campo de investi- gação. Como fazer isso? Para que preciso aprender isso? Algum aluno seu já lhe fez essa pergunta? É importante parar e pensar nessa pergunta. Até que ponto as estratégias que utilizamos tornam os conteúdos dos componentes curriculares signi- ficativos para nossos estudantes? No documento da BNCC (BRASIL, 2018, p. 16), consta: “contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares, identificando estratégias para apresentá-los, representá-los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los 9Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D significativos, com base na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens estão situadas”. Vejamos mais de perto tais questões, a partir da análise de alguns verbetes. Contextualizar: significa observar a realidade local. Como essa realidade local se conecta com questões em escalas municipais, esta- duais, nacionais ou internacionais? Qual é o momento importante que a comunidade está vivenciando? Qual é a cultura local que ne- cessita ser resgatada, intensificada ou valori- zada? Qual é a situação que seus estudantes ou a escola estão colocando em evidência, seja positiva, seja negativamente? São várias as situações que deixamos passar, sem valo- rizarmos sua importância para o bem-estar pessoal, social e ambiental e a construção cognitiva dos estudantes. Precisamos estar atentos a questões que estejam provocando mudanças comportamentais em nossos es- tudantes e/ou na comunidade escolar, ques- tões culturais, situações presentes nas diver- sas comunidades, inclusive mundiais, que abalam o bem-estar social-político-econô- mico e ambiental. O contexto está intrinse- camente ligado ao conteúdo trabalhado, de forma que, se você não está conectado com o momento, vai propiciar uma aprendizagemmenos efetiva. Conhecimentos e vivências trazidos pelos estudantes: valorizar os conhecimentos pré- vios dos estudantes e as vivências que eles trazem é de fundamental importância, para que possamos partir para a discussão e a ela- boração de uma proposta contextualizada e motivadora para o aprendizado. Pesquisado- res apontam que, para aprender algo, todos nós utilizamos os conhecimentos que já fo- ram previamente ancorados (subsunçores). Indicamos adiante uma leitura que poderá auxiliá-lo no entendimento do que é conhe- cimento prévio, como diagnosticar esse co- nhecimento e como, a partir dele, desenvol- ver as propostas pedagógicas. No segundo capítulo, daremos exemplos de diagnóstico de alguns desses conhecimentos prévios. CONVITE À LEITURA MOREIRA, M. A; CABALLERO, M. C.; RODRI- GUEZ, M. L. (org.). Aprendizagem significati- va: um conceito subjacente. In: ENCUENTRO INTERNACIONAL SOBRE EL APRENDIZAJE SIGNIFICATIVO, 1997, Burgos. Actas. Burgos, Espanha, 1997. p. 19-44. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/~moreira/ apsigsubport.pdf. Acesso em: 1º dez. 2020 A aprendizagem significativa é um conceito sub- jacente a subsunçores, esquemas de assimilação, internalização de instrumentos e signos, cons- trutos pessoais e modelos mentais, significados compartilhados e integração construtiva de pen- samentos, sentimentos e ações. Segundo Vasconcelos, para que ocorra o pro- cesso de aprendizagem é preciso que o estu- dante tenha capacidade sensorial e motora, além da ca- pacidade de operar mentalmente; ter co- nhecimento prévio relativo ao objeto de conhecimento; ter acesso ao objeto de co- nhecimento; querer conhecer o objeto; agir sobre o objeto e expressar-se sobre o objeto. (VASCONCELOS, 2009, apud SAVARIS, 2016) Por outro lado, para a efetivação desse pro- cesso torna-se relevante que os educadores disponham de sensibilidade, diálogo e afe- tividade, além de proporcionar “ambientes, linguagens e metodologias que não violen- tem o universo psicossocial do aluno, de forma que ele se reconheça no contexto da aprendizagem”. (FURTADO, 2010 apud SAVARIS, 2016). Campo para investigação: ter um campo de pesquisa que possa ser estudado minuciosamente e que possa responder aos questionamentos e, ao mesmo tempo, gerar novos – essa é a proposta da BNCC. Ou seja, no lugar de pretender que jovens somente 10 Com viver com ciência G U I A P N L D ouçam ou aprendam o que sabemos, devemos apresentar-lhes o mundo como um campo aberto para a investigação. Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e res- ponsáveis, cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e pro- cessos que lhes garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da rea- lidade, o enfrentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fundamentadas. O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que se sintam estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais –, abrindo-se criativamente para o novo. (BRASIL, 2018, p. 465). A posteriori selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversi- ficadas, recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socializa- ção etc. (BRASIL, 2018, p. 17). Assim, este livro busca auxiliá-lo na condução de sua prática pedagógica segundo as orientações da BNCC. © C P A M e d ia P te L td / A la m y St o c k P h o to Figura 1 – O que vejo? Apropriando-se do princípio da teoria da Gestalt, que atesta não ser possível ter co- nhecimento do “todo” por meio de suas par- tes, pois o todo é maior que a soma de suas partes, e corroborando com Santos (2009, p. 14), para quem “a percepção visual é um fenômeno difícil de explicar, pois é o ponto de contato, ou melhor, a interface entre o mundo físico e o mundo mental, sensível e inteligível”, vamos olhar para a Figura 1. O QUE VOCÊ VÊ? SERÁ QUE TODOS VEEM A MESMA COISA? Abordagens teórico-metodológicas de cada dimensão Neste tópico, orientaremos você utilizando uma abordagem teórico-metodológica com base na concepção construtivista. Durante as reflexões que vamos propor, você atuará como pro- tagonista de seu conhecimento. Infelizmente, não estaremos interagindo frente a frente, mas vamos lhe propor que você faça algumas reflexões em relação a seu conhecimento e com- portamento como pessoa, um ser social e um profissional, e proporemos discussões relacio- nadas com as questões envolvendo os entraves disciplinares, a problematização da interdis- ciplinaridade e o processo avaliativo. Do segundo capítulo em diante, discutiremos com você alguns exemplos de atividade didática partindo dos TCTs. DIMENSÃO I – CONHECIMENTO DE SI, DO OUTRO E DO NÓS (MINIPROJETO DE VIDA PARA OS PROFESSORES) 11Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D Se mostrarmos essa figura para outras pes- soas, provavelmente algumas verão outra imagem, diferente da que você viu, o que é chamado de ilusão de ótica. Assim, da mes- ma forma, outras pessoas pensam, compor- tam-se e vivem de maneiras diferentes de você. Isso ocorre porque somos únicos, te- mos uma história, e mesmo que tenhamos vivenciado as mesmas coisas ou fatos, sua ação sobre cada um de nós é diferente. E a imagem abaixo? O que é isto? Essa res- posta está ligada especificamente a uma per- cepção visual ou depende de um conheci- mento específico? POR QUE ESSA DISCUSSÃO? Você possivelmente está se fazendo essa pergunta, afinal de contas está lendo este li- vro na condição de professor. Mas é possível separar a pessoa do professor? A forma de pensar, de enxergar seu entorno, de se sen- sibilizar com o outro, de compreender e se relacionar com o mundo tem a ver com essa pessoa que se formou para ser professor. Carl G. Jung dizia: “O inconsciente é o gran- de guia, o amigo e conselheiro do conscien- te” (JUNG, 1964, p. 12). Olhar para dentro faz despertar. Este é o convite que fazemos a você a par- tir de agora: olhar para dentro de si mesmo. Procure fazer isso em um momento de maior tranquilidade, sem estar preocupado com horário ou outra atividade. Reserve alguns minutos para você. Seria importante ter um caderno para anotar suas reflexões. Posteriormente, você poderá reler tudo o que escreveu, afinal de contas as coisas que acontecem conosco geram mu- danças em nossa forma de pensar, agir e en- xergar o outro e o mundo. Essas reflexões poderão auxiliá-lo a pensar ou a repensar seu projeto de vida, incluindo ser professor. E, para que possamos entender o que vem a ser um projeto de vida, convida- mos você à leitura a seguir. PROJETO DE VIDA A principal ferramenta de trabalho do professor é a sua pessoa, sua cultura, a relação que instaura com os alunos, individual ou coletivamente. Mesmo que a formação esteja centrada nos saberes, na didática, na avaliação, na gestão de classe e nas tecnologias, nunca deve esquecer a pessoa do professor. (PERRENOUD, 2002, p. 176) Mas o que é um PROJETO DE VIDA? Literalmente, a palavra “projeto” significa propósito de executar algo. Etimologicamente, a palavra “projeto” deriva do latim projectus, que significa lançar para frente. Segundo Machado, […] cada ser humano, ao nascer, é lançado no mundo, como um jato de vida. Paulatinamente, constitui-se como pessoa, na medida em que desenvolve a capacidade de antecipar ações, de eleger continuamente metas a partir de um quadro de valores historicamente situado, e de lançar-se em busca das mesmas, vivendo, assim, a própria vida como um projeto. (MACHADO, 2006, p.2). © A rq u iv o p e ss o al das a u to ra s Figura 2 – O que você vê? 12 Com viver com ciência G U I A P N L D Segundo Boutinet (2002 apud SOUSA; ALVES, 2019), a palavra “projeto” é si- nônimo de desígnio, intenção, finalidade, objetivo, alvo, planejamento e pro- grama. Projetar algo é comum à espécie humana, e a intenção de projetar vem acompanhada de metas a serem alcançadas. Muitas vezes, planejamos, mas não conseguimos atingir nossa(s) meta(s). Por que isso ocorre? Para Machado (2006), a ideia de “projeto” apresenta alguns ingredientes funda- mentais: • Referência ao futuro – o projeto consiste na antecipação de uma ação; não se trata de uma previsão do futuro, e, sim, de algo a ser feito nele. Barbie (1994 apud MACHADO, 2006. p. 6) afirma: “o projeto não é uma simples repre- sentação do futuro, do amanhã, do possível, de uma ideia; é o futuro a fazer, um amanhã a concretizar, um possível a transformar em real, uma ideia a transformar em acto [sic.]”. • Abertura para o novo – “não se faz projeto quando só se tem [sic.] certezas, ou quando se está imobilizado por dúvidas. […] a sabedoria do projetar con- siste na fixação de metas que podem ser atingidas independentemente dos agentes, ou tão imediatas que sejam suficientes para motivá-los[,] mas tam- bém não sejam tão inacessíveis que semeiem a sensação de impotência ou de desamparo”. (MACHADO, 2006 p. 7) • Caráter indelegável da ação projetada – o projeto deve ser feito pelo sujeito que o projetou. Podemos elaborar projetos com outros, mas não pelos outros. “Assim como não se pode viver pelo outro, não se pode ter projetos por ele. […] no mesmo sentido um professor não pode impacientar-se tanto com o insucesso de seu aluno, ou desejar ajudar com tanto entusiasmo que tente determinar as metas a serem atingidas pelo outro ou realizar as ações proje- tadas em seu lugar” (MACHADO, 2006, p. 19). Outros dois pontos importantes defendidos por Machado (2006) é a singulari- dade de um projeto e a ilusão, essa sendo associada à ideia de imaginação ou fantasia. Quanto à singularidade, por mais que os projetos sejam semelhantes, haverá uma identidade em cada um; já quanto à ilusão, é preciso acreditar, ter esperança. CONVITE À LEITURA MACHADO, N. J. Educação: projetos e valores. 6. ed. São Paulo: Escrituras, 2006. (Coleção En- saios Transversais). Os textos apresentados nessa coletânea oferecem subsídios para uma compreensão mais nítida da importância das ideias de projeto e de valor no universo educacional. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/ pluginfile.php/4122951/mod_resource/content/3/ Texto%20do%20Nilson%20Machado%20 %28livro%20completo%29.pdf. Acesso em: 1º dez. 2020. A pessoa precisa acreditar em si mesma e em sua projeção. “Um professor precisa de ilusão pelos alunos. Precisa acreditar na semeadu- ra, na fecundidade de um trabalho[,] que, sob muitos aspectos, assemelha-se ao de Sísifo, condenado a rolar eternamente morro acima uma pedra que, noite após noite, retorna à base do morro” (MACHADO, 2006, p. 19). 13Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D Agora, o convidamos a continuar as reflexões. São várias as perguntas que precisamos, queremos ou não queremos fazer, mas que são necessárias, quando temos por objetivo estruturar ou reestruturar nosso projeto de vida. Com as novas experiências e a aquisição de novos conhecimentos, você poderá mudar seus objetivos e metas. Por isso, seu projeto de vida precisa ser flexível, dando margem a acréscimos e retiradas, quando assim julgar necessário. A autorreflexão Eu pessoa A. Eu sou… B. Sempre quis… C. Desejo… D. Fico feliz quando… E. Minha vontade é… F. Neste momento, quero… G. Uma frase bonita sobre mim… Eu professor A. Sou um professor… B. Sempre quis ser um professor… C. Desejo ser um professor… D. Vejo um professor como… E. Minha vontade é ensinar… F. Neste momento, quero… G. Uma frase bonita sobre minha profissão… Eu aluno A. Fui… B. Gostava da aula de… C. Aprendi… D. Não gostava de… E. Gostaria que a aula fosse… F. Gostava quando o professor… G. As aulas que me lembro foram… Eu colega A. Sou um colega… B. Sempre quis ser e ter um colega… C. Desejo conviver com meu colega… D. Minha vontade é trabalhar com um… E. Neste momento, quero ser um colega… F. Meus colegas me fazem mais… G. Uma frase bonita sobre um colega… Discussão do projeto de vida para o professor Após esse autoconhecimento, é importante que você anote também como os outros o veem como pessoa, professor e colega. Ouvir as pessoas que nos cercam é muito importante, para que possamos ficar mais atentos a nossas atitudes. Muitas vezes, não percebemos os efeitos de determinadas atitudes ou comportamentos, e os incorporamos como algo normal. Nossos comportamentos, em geral, são formas de defesa, e podemos ter incorpo- rado o ataque, a ironia, a não resposta, com o intuito de nos defendermos. Segundo Mendes et al. (2012): Entendendo a autoimagem e a autoestima como, respectivamente, a percepção e a valoração que o sujeito faz de si e estando estes dois construtos relaciona- dos com o modo como os outros o veem e o avaliam, consideramos que estas influenciam na construção do autoconceito, sendo que todas as relações sociais são fundamentais para a elaboração da formação do self. (MENDES, 2012, p.11). 14 Com viver com ciência G U I A P N L D A percepção de sua prática pedagógica Indo além no desenvolvimento da Dimensão I, consideremos também suas escolhas pedagó- gicas. Em qual desses exemplos você se identifica na condução de sua prática? Exemplo 1 1o passo Preparação Você recorda a atividade anterior. 2o passo Apresentação Você coloca o aluno diante de um novo conhecimento que deve assimilar. 3o passo Assimilação, comparação Você percebe que a assimilação ocorrerá por comparação: o novo é assimilado a partir do velho. 4o passo Generalização Você percebe que o aluno deve ser capaz de identificar todos os fenômenos correspondentes ao conhecimento adquirido. 5o passo Aplicação Você verifica com exemplos novos se o aluno efetivamente assimilou o que lhe foi ensinado. Exemplo 2 1o passo Problema Você expõe um problema para os alunos. 2o passo Pesquisa Você busca as informações com o objetivo de que essas informações possam ajudar a resolver o problema. 3o passo Leitura Você faz a leitura do material e expõe as informações para o aluno. 4o passo Discussão Você, de posse do material pesquisado, prepara uma aula em que no material se encontra a discussão das diferentes informações e, assim, as transmite aos alunos. 5o passo Avaliação Você prepara questões objetivas e/ou abertas para validar se o aluno conseguiu assimilar o que foi falado em sala de aula. Exemplo 3 1o passo Problema Você expõe um problema para os estudantes. 2o passo Pesquisa Os estudantes terão de pesquisar as informações para a possível resolução do problema. 3o passo Leitura O estudante faz a leitura de todo o material e levanta os questionamentos que serão discutidos com os colegas. 4o passo Discussão De posse do material pesquisado, o estudante discutirá com os colegas de sala. Você é o ouvinte e faz poucas intervenções. 5o passo Avaliação Você elabora questões para validar se o aluno conseguiu assimilar o que foi falado em sala de aula. As avaliações poderão ser objetivas e/ou abertas e individuais, em dupla ou em grupo. 15Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D Exemplo 4 1o passo Diagnóstico Você diagnostica os conhecimentos prévios dos estudantes sobre o tema que será estudado. Esse tema já foi previamente selecionado pelos estudantes e por você. 1o passo Desenvolvimento da temática A partir dos conhecimentos prévios dos estudantes, vocês (estudantes e professor) selecionarão material de interesse para discussão do tema. 2o passo Discussão Você organiza uma discussão na sala de aula ou em outro ambiente que favoreça o desenvolvimento dessa atividade. Nessadiscussão, você e os estudantes trarão seus questionamentos, e você fará o papel de mediador da aprendizagem. 3o passo Avaliação Todos os resultados obtidos a cada atividade serão avaliados por você e pelos estudantes. Para que os objetivos quanto à aprendizagem possam ser alcançados, você utiliza diferentes instrumentos de caráter cognitivo, interacional e autoavaliativo. Discussão dos modelos pedagógicos e epistemológicos Toda proposta de ensino tem como base uma concepção de aprendiza- gem (POZZO, 2002). Muitas vezes, o professor segue uma proposta já uti- lizada na escola e não procura saber qual episteme e teoria embasam sua prática. Esse conhecimento nos ajuda a entender a concepção do aluno, do professor e da escola. Outro ponto importante é quando tentamos modificar algumas atividades de nossa prática pedagógica e acreditamos que estamos mudando a con- cepção pedagógica, mas, na maioria das vezes, estamos mantendo a mes- ma concepção de aprendizagem anterior. Por que isso ocorre? A mudança de concepção exige uma mudança de postura e um real in- cômodo com a prática pedagógica instalada. Vejamos as relações entre o modelo epistemológico, modelo pedagógico e as teorias de aprendizagem: 1. No modelo epistemológico Empirista, o conhecimento do sujeito vem da experiência com o objeto. Nele temos a relação (Objeto Sujeito). No processo educacional, esse modelo epistemológico cor- responde à Pedagogia diretiva, ou seja, o aprendizado do aluno está diretamente relacionado ao que o professor ensina (Professor Alu- no). Além disso, esse modelo pedagógico é orientado pela teoria da aprendizagem Comportamental/Behaviorista que propõe um estí- mulo que gera uma resposta (Estímulo Resposta). 2. No modelo Apriorista (Sujeito Objeto), o conhecimento é ine- rente ao sujeito. Nesse modelo, as contribuições do objeto são 16 Com viver com ciência G U I A P N L D desvalorizadas. No processo educacional esse modelo epis- temológico corresponde à Pedagogia não diretiva, ou seja, o aprendizado do aluno não está diretamente relacionado ao que o professor ensina, mas ao que traz da sua herança genética (Aluno Professor). O modelo Apriorista é orientado pela teoria da aprendizagem da Gestalt. 3. No modelo interacionista, o conhecimento é construído a partir da interação entre o sujeito e o objeto (Sujeito Objeto). No processo educacional esse modelo corresponde à Pedagogia Relacional, ou seja, à construção do conhecimento a partir da interação entre aluno e professor (Aluno Professor). Esse modelo pedagógico é orien- tado pela teoria da aprendizagem construtivista histórico-cultural, centrado na ação e na linguagem. No modelo epistemológico empirista, o ser humano é visto como uma tábula rasa (uma folha em branco), e o conhecimento é incorporado a partir das experiências adquiridas no meio físico, mediado pelos órgãos dos sentidos. O modelo pedagógico relacionado é o da pedagogia diretiva, em que o aluno aprende porque o professor ensina, e a teoria relaciona- da é a behaviorista, ou seja, a aprendizagem é compreendida como uma modificação no comportamento do sujeito provocada pelo “agente que ensina”, utilizando estímulos reforçadores adequados sobre o sujeito que “aprende”. Esse modelo epistemológico e a teoria behaviorista são a base da concep- ção da escola tradicional. O professor é o centro, repassa as informações, o aluno repete/reproduz e o professor reforça, para aumentar as chances de obtenção dos resultados esperados. Parte-se do pressuposto de que a inteligência é uma aquisição que torna o ser humano capaz de armazenar informações das mais simples às mais complexas. É preciso fragmentar a realidade a ser estudada com o objetivo de simplificar a complexidade dos conhecimentos, facilitando que o aluno armazene os resultados do processo. O papel do indivíduo no processo de aprendizagem é basicamente de passividade, como afirma Mizukami: […] atribui-se ao sujeito um papel irrelevante na elaboração e aquisição do co- nhecimento. Ao indivíduo que está adquirindo conhecimento compete memo- rizar definições, enunciados de leis, sínteses e resumos que lhe são oferecidos no processo de educação formal a partir de um esquema atomístico. (MIZUKA- MI, 1986, p. 11). O modelo epistemológico apriorista é o contrário do empirista. “Aprioris- mo” vem de a priori, isto é, aquilo que é posto antes (bagagem hereditária) como condição do que vem depois (BECKER, 2001). Considera-se que o indivíduo, ao nascer, já tenha as condições predeterminadas para a apren- dizagem. Segundo Facin (2017), na concepção apriorista, a partir da teoria da forma ou da Gestalt (conhecimento visto das partes para o todo), o 17Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D conhecimento é visto como algo inerente ao sujeito, necessitando ser despertado. O modelo pedagógico, nesse caso, é não di- retivo, sendo o professor um facilitador com uma pequena intervenção no processo de aprendizagem do aluno. O professor precisa estimular o aluno para que o conhecimento desperte e se efetive. Existe uma supervalori- zação da percepção, chegando-se a confun- dir percepção com cognição. Esse modelo está mais nas concepções pe- dagógicas e epistemológicas do que na prá- tica da sala de aula. Segundo Becker: O aluno já traz um saber que ele precisa, apenas, trazer à consciência, organizar, ou, ainda, rechear de conteúdo. O professor deve interferir o mínimo possível. Qualquer ação que o aluno decida fazer é, a priori, boa, instrutiva. É o regime do laissez-faire: “deixa fazer” que ele encontrará o seu caminho. O professor deve “policiar-se” para interferir o mínimo possível. Qualquer semelhança com a liberdade de mercado do neo-liberalismo [sic.] é mais do que coincidência. O professor não-diretivo acredita que o aluno aprende por si mesmo. Ele pode, no máximo, auxi- liar a aprendizagem do aluno, despertando o conhecimento que já existe nele. (BECKER, 2001, p. 4). Ainda segundo Becker, […] o resultado é um processo que caminha inevitavelmente para o fracasso, com preju- ízo imposto a ambos os pólos [sic.]. O pro- fessor é despojado de sua função, “sucate- ado”. O aluno guindado a um status que ele não tem e sua não-aprendizagem explicada como “déficit herdado”; impossível, portanto, de ser superado. (BECKER, 2001, p. 6). Já no modelo construtivista, a pedagogia é relacional, ou seja, professor e aluno traba- lham juntos, e ambos ensinam e aprendem. O professor, além de ser um aprendiz, tam- bém é um mediador. Ele trará para o grupo sua experiência de vida, sua vivência acadê- mica e seus questionamentos. Os estudan- tes também trarão suas experiências de vida, seus aprendizados escolares e seus questio- namentos. O professor ou a escola que tra- balham com essa concepção compreendem (teoria) que o aluno só aprenderá alguma coisa, isto é, construirá algo novo, se agir e problematizar sua ação (BECKER, 2001). Em outras palavras, ele sabe que há duas condições necessárias para que algum co- nhecimento novo seja construído: a) que o aluno aja (assimilação) sobre o material que o professor presume que tenha sido cognitiva- mente interessante, ou melhor, significativo para o aluno; b) que o aluno responda para si mesmo às perturbações (acomodação) pro- vocadas pela assimilação deste material, ou, que o aluno se aproprie, neste segundo mo- mento, não mais do material, mas dos me- canismos íntimos de suas ações sobre este material, este processo far-se-á por “refle- xionamento e reflexão”. (PIAGET, 1977, apud BECKER, 2001, p. 6-7). Agora, vamos discutir os exemplos apresen- tados na atividade anterior. Exemplo 1: Nesse exemplo, repare que o professor é o centro do processo. Ele recor- da a atividade anterior, o estudante responde e ele reforça o conteúdo, para que o estu- dante identifique todos os fenômenos cor- respondentes ao conhecimento adquirido. Esse exemplo corresponde à concepção tra-dicional. Exemplo 2: O professor continua sendo o centro. O docente, apesar de instigar o es- tudante com a apresentação de um proble- ma real, fez todas as buscas de informações, apresenta as discussões do material e faz a validação do que foi assimilado. O estudante continuou passivo no processo. Esse exem- plo também corresponde à concepção tra- dicional. Exemplo 3: O professor estimula os estudan- tes, trazendo um problema de interesse, e eles terão de pesquisar as informações, fazer as leituras dos textos, levantar os questiona- mentos, preparar o material para ser discu- 18 Com viver com ciência G U I A P N L D tido com os colegas. A participação do professor é a de um facilitador, porém, no final, a “avaliação” é dele. Foi o docente que elaborou questões para validar se seus estudantes conseguiram assimilar o que foi falado em sala de aula. Observe que, mesmo dando voz ao estudante, no final, o professor validou o que o estudante assimilou ou memorizou. Mas e o que aprendeu? E as outras questões, além do cognitivo? Apesar de usar o modelo pedagógico não diretivo, o professor ainda continua no centro, e sua participação nas atividades foi pouca, mas a avaliação final contou so- mente com a participação do professor. Apesar da tentativa, a concepção ainda é uma concepção tradicional. Exemplo 4: Nesse exemplo, o professor e os alunos estão ensinando e aprendendo. Há uma relação de construção do aprendizado de ambos os lados. Existe a preocupação de diagnosticar os conhecimentos já exis- tentes dos estudantes sobre o tema selecionado por ambos (professor e alunos), de buscar informações (professor e alunos) para discussão e en- tendimento do tema, de discutir em voz alta e com a escuta de todos e de avaliar o processo de aprendizado por parte do professor e dos estudan- tes. O professor utilizará diferentes instrumentos, cognitivos ou não. Esse exemplo segue a concepção construtivista. De acordo com Piaget (apud BECKER, 2001, p. 10), não se pode fazer in- terdisciplinaridade se as direções sujeito-objeto dos modelos epistemoló- gicos não estiverem sobrepostas à relação aluno-professor dos modelos pedagógicos. CONVITE À LEITURA BECKER, F. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos In: BECKER, F. Edu- cação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 15-32. O autor aborda as três diferentes formas de representar a relação entre ensino e aprendizagem escolar, ou, mais especificamente, entre o exercício da docência e as atividades de sala de aula. São discutidos os modelos pedagógicos: a) pedagogia diretiva; b) pedagogia não diretiva; e c) pedagogia relacional ou construtivista. É apresentado como tais modelos são sustentados, um a um, por concepções episte- mológicas. Disponível em: https://www.larpsi.com.br/media/mconnect_uploadfiles/c/a/ cap_01_95_.pdf. Acesso em: 1º dez. 2020. Segundo Perrenoud, é preciso reconhecer que os professores não possuem apenas saberes, mas também competências profissionais que não se reduzem ao domínio dos con- teúdos a serem ensinados, e aceitar a ideia de que a evolução exige que to- dos os professores possuam competências antes reservadas aos inovadores ou àqueles que precisavam lidar com públicos difíceis. (PERRENOUD, 2001) 19Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D A partir do que considera serem as cinquen- ta competências cruciais para a profissão de educador, este autor descreve 10 grandes “famílias”. São elas: 1. Organizar e estimular situações de aprendizagem. 2. Gerar a progressão das aprendizagens. 3. Conceber e fazer com que os dispositi- vos de diferenciação evoluam. 4. Envolver os alunos em suas aprendiza- gens e no trabalho. 5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da gestão da escola. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar as novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 10. Gerar sua própria formação contínua. Considerando essas 10 grandes famílias de competências a serem desenvolvidas, pode- mos vislumbrar algumas outras questões que o nortearão na construção do seu projeto de vida: • Qual o meu objetivo enquanto profes- sor? • Quais as características e demandas do público para quem eu irei lecionar? • Até que ponto as minhas condições pes- soais afetam minha atuação profissional, ou seja, minha prática docente? • Quais são as minhas necessidades para atingir os meus objetivos enquanto professor? • O que devo fazer para suprir essas ne- cessidades? • Quais etapas eu preciso cumprir de for- ma otimizada? • Quais demandas são exigidas para que eu possa cumprir cada etapa? • Qual o prazo que necessito para o cum- primento de cada etapa? • Esses prazos atenderão às demandas que terei durante a minha prática pedagógica? DIMENSÃO II – O SABER DISCIPLINAR EM XEQUE (PROBLEMATIZAÇÃO DO ISOLAMENTO DISCIPLINAR) Porque[,] num mundo em que ninguém mais parece entender ninguém, tor- na-se imprescindível que abandonemos a rotinização e as falsas seguranças de que ainda se vangloriam nossas disciplinas isoladas e nos entreguemos ao sonho da aventura transdisciplinar concertativa[,] apresentando-se como um meio de compensar as lacunas de um pensamento científico mutilado pela especialização e exigindo a restauração de um pensamento globalizante em busca de unidade, por mais utópica que possa parecer. (JAPIASSU, 2006, p. 17). Como dominar os objetos do conhecimento de nosso respectivo compo- nente curricular ou campo de saber no que se refere à BNCC para o Ensino Médio? 20 Com viver com ciência G U I A P N L D Dominar os objetos de conhecimento do campo de saber é algo que requer atualiza- ção constante e uma visão para além de nos- sa área. Corroborando Moreto: Conhecer os conteúdos significa conhecer não apenas conceitos, definições ou fórmu- las, mas também as relações que ligam esses conteúdos conceituais às experiências vividas pelos alunos em seu dia a dia. É preciso de- senvolver procedimentos que demonstrem aos alunos as relações existentes e permitam que eles adquiram atitudes pertinentes com o desenvolvimento pleno da cidadania (MO- RETO, 2003, p. 115). Não tem como dominar os objetos de conhe- cimento de sua área sem conhecer o que dos outros objetos de conhecimento das outras áreas influencia o entendimento do conteúdo em estudo. Por exemplo, para desenvolver a competência CNT101: Analisar e representar, com ou sem o uso de dispositivos e de aplicativos digitais específi- cos, as transformações e conservações em sistemas que envolvam quantidade de maté- ria, de energia e de movimento para realizar previsões sobre seus comportamentos em situações cotidianas e em processos pro- dutivos que priorizem o desenvolvimento sustentável, o uso consciente dos recursos naturais e a preservação da vida em todas as suas formas. (BRASIL, 2018, p. 557). Primeiramente precisamos dominar o con- ceito de matéria e energia. O que é matéria? Como pode se transformar? Quais são os componentes da matéria? Qual a relação en- tre matéria e energia? Reparem que os objetos de conhecimento das áreas de química e física estão comple- tamente intricados na compreensão des- se contexto. Além disso, precisamos definir o que são fenômenos, o que e quais são os processos tecnológicos e como analisar os impactos socioambientais destes. Como fa- zer isso sem conhecer e entender a dinâmica ambiental e as influências das ações huma- nas sobre esse ambiente? É importante perceber que trabalhar por com- petência não permite ficar preso a uma única área do conhecimento. No caso, os objetos de conhecimento da área da biologia exem- plificados, como interações entre os fatores abióticos e os seres vivos, interações entre os seres vivos, cadeias e teias alimentares, cadeia energética, produção primária e secundária, curvas de crescimento e sobrevivência, po- tencial biótico etc. revelam a intricada relação e dinâmica da matéria e da energia.Assim, os objetos de conhecimento da física e da quími- ca contribuem para a explicação da existência e das alterações dessa matéria e energia. Ou seja, não tem como desenvolver as compe- tências com os conhecimentos de uma única área. Como se estruturam, em uma hierarquia, es- ses objetos de conhecimento? Quanto à hie- rarquização dos objetos de conhecimento, ela estará muito relacionada com o modelo epistemológico e o modelo pedagógico uti- lizado. Se for o modelo diretivo, essa hierar- quia será determinada pelo professor. O que vem primeiro? Geralmente, os professores da escola que segue esse modelo afirmam que, se determinado conteúdo não for dado pri- meiro, o estudante não conseguirá entender o próximo, e a quantidade de conteúdo tam- bém é determinada por eles. Caso o modelo seja construtivista, a hierarquia dos objetos de conhecimento poderá ser determinada a partir do diálogo e do interesse de nossos estudantes. Pode-se partir do macro para o micro, ou seja, de algo palpável para algo que ele tenha de abstrair, ou vice-versa, de forma contextualizada. Muitas vezes, nós nos perguntamos: como posso representar, formular e expor esses objetos de conhecimento, de modo a torná- -los compreensíveis para os estudantes? Primeiramente, precisamos trazer esses ob- jetos para dentro de um contexto de inte- resse para os estudantes. Um exemplo seria entender o contexto de uma reportagem 21Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D sobre a possibilidade de alegação de paternidade: como ler e entender, se não souber a base da composição e da função da molécula de ácido desoxirribonucleico (DNA)? É importante ouvir nossos estudantes, bem como quais são seus interesses e questionamentos. Por que não começar por aí? Outro ponto importante é que, considerando a perspectiva histórica dos indivíduos, perceberemos a evolução de alguns conceitos, técnicas e com- portamentos sociais, como foram modificados ao longo do tempo e como essas mudanças interferiram no objeto de estudo. É importante resgatar a história como uma subsunção (uma âncora), para amparar o que hoje se sabe da realidade. Além disso, a história, conforme Morin (2011), não constitui uma evolução linear. Trata-se da sobreposição de devires, que se entrechocam com imprevistos, incertezas, que comportam evoluções, involuções, progressões, regressões e rupturas. É preciso que estejam certos que o mundo é da incerteza e que nós temos que preparar nossos estudantes para enfrentar as incertezas do momento. A perspectiva histórica a todo momento nos lembra dessa incerteza. O conhecimento pertinente é aquele que pede exames, verificações e convergência de indícios. (MORIN, 2011, p. 75). • Como estabelecer relações entre os ob- jetos do campo de saber com os demais objetos da área de conhecimento da bio- logia? • Como dialogar sobre as diferentes maneiras de representar, formular e expor esses ob- jetos que foram correlacionados, de modo a tornar o conjunto compreensível para os estudantes? • Como identificar diferentes estratégias de ensino e atividades adequadas a esse conjunto de objetos? • Como estruturar o conjunto de objetos em uma progressão adequada à realidade local? • Como mapear o que torna, para os estu- dantes, a relação entre ensino e apren- dizagem mais fácil ou mais difícil nesse novo contexto integrado por área? • Como trabalhar as habilidades propostas na BNCC se são interfaces entre duas ou mais disciplinas? Vamos ler, primeiramente, este pequeno tex- to de Hugo Assmann, que assim escreveu em seu livro Reencantar a educação: rumo à so- ciedade aprendente: Interdisciplinaridade. O enfoque científico e pedagógico que se caracteriza por buscar algo mais que do que mera justaposição das contribuições de diversas disciplinas sobre um mesmo assunto, e se esforça por estabelecer um diálogo enriquecedor entre especialistas de diversas áreas científicas sobre uma deter- minada temática. Aplica-se a problemas, ati- vidades e projetos que ultrapassam a capaci- dade de uma só área disciplinar. O conceito expressa a consciência dessa limitação das disciplinas específicas, mas não transforma isso necessariamente num questionamen- to epistemológico mais radical, como o faz a transdisciplinaridade. (ASSMANN, 2001, p. 162). DIMENSÃO III – ÁREA DE CONHECIMENTO EM FOCO (PROBLEMATIZAÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE) 22 Com viver com ciência G U I A P N L D As áreas se completam e dialogam. Parti- mos novamente dos princípios de Morin (2011), para quem o todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, e certas qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo (MORIN, 2011, p. 34). Sabemos, por vivências acumuladas nes- ses anos de efetivo exercício da docência, que, conforme afirma Morin (2011), muitas ideias não são apreendidas, porque se igno- ra a complexidade do conhecimento. A so- ciedade comporta as dimensões histórica, econômica, sociológica, religiosa… O co- nhecimento pertinente deve reconhecer o caráter multidimensional e nele inserir seus dados: não apenas se poderia isolar uma par- te do todo, mas as partes umas das outras; a dimensão econômica, por exemplo, está em inter-retroação permanente com todas as outras dimensões humanas; além disso, a economia carrega em si, de modo “holo- grâmico”, necessidades, desejos e paixões humanas que ultrapassam os meros interes- ses econômicos (MORIN, 2011, p. 35, 36). Daí decorre a importância de trabalhar em sala a ecologia do consumo, a história da humani- dade, o consumo de alimentos orgânicos ou não… No cotidiano de todos nós não existe a com- partimentação que visualizamos no espaço escolar. O estudante, para conseguir saber fazer algo, necessita buscar respostas que só serão possíveis com a utilização de ideias ge- radas utilizando o pensamento complexo. O aprendizado é construído considerando o aluno como um “tomador de decisão”, como um sujeito capaz de decidir, de modificar seu entorno, enfim, de saber fazer. Portanto, pensar em um ensino efetivo, capaz de cons- truir cidadania, é pensar em como explorar as particularidades e as potencialidades dos saberes. Nesse processo, a reflexão crítica é uma es- tratégia para o aluno perceber e tomar cons- ciência de sua realidade, visando à sua trans- formação e à de seu entorno. CONVITE À LEITURA JAPIASSU, H. O sonho transdisciplinar e as razões da filosofia. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Cada vez mais, as demandas da sociedade à ciên- cia exigem questionamentos e abordagens trans- disciplinares solicitando respostas encontradas por uma concertação de disciplinas. Neste contex- to, não só o interdisciplinar surge como exigência, a complexidade como cientificamente frequentá- vel e o transdisciplinar como abordagem legítima. (JIAPIASSU, 2006). O autor mostra como é impossível resolver os problemas da sociedade tendo uma visão disci- plinar. A forma como aborda o assunto prende o leitor do início ao fim do livro. DIMENSÃO IV – REPENSANDO A AVALIAÇÃO (MAPEANDO NOVOS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO) Por que, geralmente, nós, professores, apre- sentamos uma forte contradição entre o dis- curso e a prática no que diz respeito ao pro- cesso avaliativo? Segundo Hoffmann (1995), principalmente a ação classificatória e auto- ritária exercida pela maioria dos educadores encontra explicação na concepção de ava- liação do educador, reflexo de sua história de vida como aluno e professor. Nós viemos sofrendo a avaliação em nossa trajetória de alunos e professores. É neces- sária a tomada de consciência dessas influ- ências para que nossa prática avaliativa não reproduza, inconscientemente, a arbitra- riedade e o autoritarismo que contestamos pelo discurso. Temos de desvelar contra- dições e equívocos teóricos dessa prática, construindo um ressignificado para a avalia- çãoe desmitificando-a de fantasmas de um passado ainda muito em voga. (HOFFMANN, 1995 p. 12-13). 23Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D Estamos acostumados a nos preocupar com a distribuição de pontos para aprovação e re- provação dos alunos. “O nosso exercício pe- dagógico escolar é atravessado mais por uma pedagogia do exame que por uma pedagogia do ensino/aprendizagem”. (LUCKESI, 2003, p. 18). Precisamos criar oportunidades para que os estudantes possam mostrar seu entendimen- to do que está sendo estudado, permitindo, ao mesmo tempo, que reflitam sobre essa forma de compreensão e que possam mu- dar de opinião ou postura, se necessário. A utilização de diferentes instrumentos avalia- tivos nos auxilia a detectar o entendimento dos estudantes, bem como lhes possibilita a oportunidade de demonstrar melhor seu aprendizado: “Avaliar é dinamizar oportuni- dades de ação/reflexão, num acompanha- mento permanente do professor, que incitará o aluno a novas questões a partir de respos- tas formuladas” (HOFFMANN, 1995, p. 20). Como instrumentos avaliativos, podemos citar: provas escrita e oral; seminários; rela- tórios de diferentes atividades; grupos de dis- cussão; exercícios de assimilação; propostas de projetos; execução e discussão de proje- tos; participação e contribuição nas ativida- des em grupo; autoavaliação e avaliação dos colegas quanto à participação nas atividades em conjunto, etc. Outro ponto importante é a coerência da avaliação com o modelo epistemológico e pedagógico utilizado na escola. Caldeira, com muita clareza, afirma: A avaliação escolar é um meio e não um fim em si mesma; está delimitada por uma de- terminada teoria e por uma determinada prá- tica pedagógica. Ela não ocorre num vazio conceitual, mas está dimensionada por um modelo teórico de sociedade, de homem, de educação e, consequentemente, de en- sino e de aprendizagem, expresso na teoria e na prática pedagógica. (CALDEIRA, 2000, p. 122). Na concepção tradicional, a avaliação é feita partindo-se do princípio de que o professor fala e o aluno o escuta, assimila e reproduz no instrumento avaliativo. Alguns professores procuram mudar as atividades, ou seja, fazem uma aula de laboratório, levam a campo, fa- zem seminário… Porém, o princípio é o mes- mo: quem determina o que será pontuado é o professor, e o aluno não tem o direito de rever seu “erro”. Um exemplo que podemos citar é quando o professor dá uma aula so- bre fotossíntese no laboratório, mostrando: liberação do oxigênio, presença de pigmen- tos e amido nas folhas e influência da inten- sidade luminosa. No momento da avaliação, ele pergunta: o que é fotossíntese? A respos- ta que ele considerará correta será a contida no livro didático, ou seja, a resposta do aluno dependerá de sua capacidade de memoriza- ção, e não de sua capacidade de construção do conceito a partir do aprendizado com as atividades práticas e as leituras teóricas. Na concepção construtivista, avaliar é ofere- cer oportunidades de reflexão, tanto por par- te do professor quanto por parte do aluno. É um processo interativo e dialógico. A avalia- ção mostra ao professor o que foi aprendido pelo aluno, fazendo-o refletir sobre a eficá- cia de sua prática educativa e orientando-o para intervenções necessárias. Para o aluno, a avaliação o informa sobre seus avanços, di- ficuldades e possibilidades. Segundo Hoffmann, […] a ação avaliativa abrange justamente a compreensão do processo de cognição. Porque o que interessa fundamentalmente ao educador é dinamizar oportunidades de o aluno refletir sobre o mundo e de conduzi-lo à construção de um maior número de verda- des, numa espiral necessária de formulação e reformulação de hipóteses. (HOFFMANN, 1995, p. 23). Já segundo Soffner: (i) A aprendizagem é processo, e não produ- to; mas só podemos avaliá-la indiretamente, 24 Com viver com ciência G U I A P N L D por meio dos produtos gerados pelos apren- dentes e por seu desempenho; (ii) A aprendi- zagem gera mudança no conhecimento, nas crenças, nas atitudes e no comportamento dos alunos; mas é bastante difícil medi-la; (iii) A aprendizagem não é algo feito aos alunos, mas algo que eles mesmos fazem; e aqui existem fatores individuais a serem conside- rados, como defendem as teorias de apren- dizagem mais ativas; (iv) A aprendizagem não é guiada apenas por fatores pedagógicos, mas também por indicadores sociais, emo- cionais e motivacionais, o que dificulta sua medição (SOFFNER, 2018, p. 97). Segundo Ronca e Escobar (1986), no pro- cesso de aprendizagem é importante que o professor seja um bom observador e que es- tabeleça junto com o aluno os critérios para a avaliação do processo. Na avaliação do pro- duto, o professor deve ter sempre em mente quais foram as condições de aprendizagem, quem fala, de onde fala, como fala e quais são os problemas propostos. É importante também que o professor esteja durante todo o processo oferecendo uma devolutiva para o estudante. Ainda segundo Ronca e Escobar (1986, p. 78), é importante que o professor, no momento de dar retorno ao estudante, aponte: • a coerência entre os princípios teóricos explicitados e as alternativas de solução; • a capacidade de distinguir informações essenciais de acidentais para a solução de problemas; • o grau de elaboração e de transformação das informações recebidas; • a capacidade de utilizar o conhecimento em outras situações da vida. Organização da obra Para alcançarmos esses princípios e contribuirmos para a continuidade de sua formação, trabalharemos neste livro as interligações na área da Ciência da Natureza, conforme as seguintes estratégias metodológicas: PRINCÍPIO NORTEADOR DAS DISCUSSÕES DOS OBJETOS DO CONHECIMENTO DA ÁREA E DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A cada capítulo que se segue, estruturaremos exemplos de possíveis tra- balhos em sala de aula que nos guiarão para as propostas de atividades e vivências a serem realizadas por vocês, professores. Assim, os exemplos não devem ser entendidos como modelos a serem repetidos, mas apenas como pontos de partida para um trabalho direcionado aos professores, para que sejam capazes de elaborar suas propostas a partir de seus con- textos com autonomia. Nossa proposta é utilizarmos alguns TCTs norteadores dos exemplos de trabalhos em sala de aula. Parece interessante notar que os TCTs não são exclusivos de nenhuma área em particular e atravessam todas elas, permi- tindo, por isso, dialogar com a realidade e o interesse dos estudantes. Além disso, atendem às demandas da sociedade contemporânea, ou seja, trata- -se daqueles que são intensamente vividos pelas comunidades, pelas famí- 25Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D lias, pelos estudantes e pelos educadores no dia a dia, que influenciam e são influencia- dos pelo processo educacional (MEC, 2019). Esses temas são amplos (Saúde; Meio Am- biente; Ciência e Tecnologia; Cidadania e Ci- vismo; Multiculturalismo e Economia) e nos permitem uma grande flexibilidade, para que possamos trabalhar os objetos do conheci- mento dentro da realidade do momento, seja ela local, regional, nacional ou internacional. Um exemplo possível seria trabalhar o tema Saúde e focar a realidade do momento, que é a pandemia do coronavírus. Focado nesse contexto real, poder-se-ia discutir com nos- sos estudantes: como eles estão percebendo essa pandemia?; quais são seus questiona- mentos?; o que é a doença?; quais são as ca- racterísticas do vírus?; quais são as interações e a transmissão do vírus?; quais são as ações do vírus no organismo humano?; quais são as reações dos diferentes sistemas à presença do vírus?; qual é a imunidade do organismo ao vírus?; qual é a importância da vacina para a comunidade e o indivíduo?; como pode ser feita essa vacina? Já ocorreram outros momentos na história em que o isolamentosocial foi uma medida preventiva para conter o surto de uma doença? Quando? Onde? Já existiram outras enfermidades em que indiví- duos assintomáticos transmitiam a doença? Nossa proposta é trabalhar as quatro dimen- sões, utilizando os TCTs. Na BNCC, a pro- posta do ensino por competência é defini- da como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos). Os TCTs exi- gem a mobilização dos conhecimentos, ou seja, os objetos dos conhecimentos serão trabalhados conforme a demanda para o en- tendimento da temática a ser estudada e os esclarecimentos dos questionamentos que surgirão com os estudos. Haverá uma gran- de flexibilidade e recursividade dos objetos do conhecimento das diferentes áreas. Essa mobilização permitirá também o desenvolvi- mento das habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais) propostas para a área das Ciências da Natureza. Para nossa proposta, elegemos os temas Saúde (Corpo e Saúde Ambiental), Ciência e Tecnologia, e Meio Ambiente (Educação para o Consumo). A proposta é que cada um des- ses temas possa ser trabalhado em determi- nada série do Ensino Médio, durante todo o ano, considerando que as competências se desenvolvem de forma progressiva, à medi- da que o sujeito se depara com as situações apresentadas e vivenciadas. No que tange ao desenvolvimento das quatro dimensões propostas nesta obra para a for- mação do professor, o primeiro tema, Saú- de, pretende despertar a preocupação com o conhecimento da fisiologia do corpo e sua interdependência da saúde ambiental. É pre- ciso conhecer a fisiologia e os sinais de nosso corpo às mudanças internas e externas, bem como os sinais e as consequências para o ambiente externo quando ocorrem mudan- ças em nosso corpo e em nossa sociedade. O segundo tema, Ciência e Tecnologia, con- vida o professor a trabalhar sua concepção de ciências, a conhecer o que a mente humana produz e a questionar os impactos de novas descobertas. O conhecimento dos princípios básicos de cada tecnologia gerada nos ajuda- rá a opinar e a aderir, ou não, aprovar, ou não, propor alterações às novas tecnologias. Ou seja, contribuir de forma cidadã para o pro- gresso e a saúde de nosso ambiente. Na abordagem do terceiro tema, Meio Am- biente, propusemos trabalhar com Educação para o Consumo. Geralmente, ao consu- mirmos um produto, não nos preocupamos com a origem de sua matéria-prima, sua du- rabilidade, as consequências ambientais com o aumento da produção desse produto, o real grau da necessidade para a aquisição do produto, a possível substituição desse produ- to e outras questões que poderiam amenizar significativamente as condições do ambiente 26 Com viver com ciência G U I A P N L D em que vivemos. Muitas vezes, o conhecimento desconexo e fragmenta- do sobre a intrincada rede de inter-relações presente no ambiente nos faz optar pelo mais fácil e até pelo mais caro, dependendo do produto e de sua durabilidade. Esse tema nos permitirá trabalhar com nossos conhe- cimentos biológicos, dialogando com as outras áreas do conhecimento, as que compõem ou não a área das Ciências da Natureza, e ao mesmo tempo contextualizar o professor em um de seus comportamentos, que poderá ser alterado a partir das reflexões que serão realizadas. Partindo-se desse tema, vamos trabalhar matéria e energia. O quadro a seguir apresenta os objetos do conhecimento da área da Ciên- cia da Natureza que serão trabalhados nos TCTs propostos. Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) Objetos de conhecimento Competências e habilidades Saúde Corpo, Saúde Ambiental Biologia: metabolismo celular (morfologia e fisiologia celular); morfologia e fisiologia animal. Física: termodinâmica. Química: constituição química dos alimentos; reações químicas; oxidação, redução e antioxidantes; função orgânica. Todas as competências gerais Competência específica 2 EM13CNT203 EM13CNT205 EM13CNT207 EM13CNT208 Ciência e Tecnologia Biologia: genética molecular e hereditária; biotecnologia e evolução. Física: cinética, mecânica, ótica; termodinâmica. Química: propriedades da matéria (densidade, pontos de fusão e ebulição); fenômenos físicos e químicos; substâncias inorgânica e orgânica; a química no cotidiano. Competências específicas 1 e 3 EM13CNT104 EM13CNT105 EM13CNT301 EM 13CNT303 EM13CNT304 EM13CNT305 EM13CNT306 (continua) 27Rosilene Siray Bicalho & Lúcia Maria Pôrto de Paula G U I A P N L D Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) Objetos de conhecimento Competências e habilidades Meio Ambiente Educação para o Consumo Biologia: ecossistemas (conceito, dinâmica ambiental – cadeias, teias alimentares, pirâmides ecológicas, inter-relações, produtividade bruta e liquida); consumo: por quê, quando e como consumir. Biomas: impactos ambientais. Física: mecânica (movimentos dos corpos); termodinâmica; óptica; eletromagnetismo; física nuclear. Química: propriedades da matéria (densidade, pontos de fusão e ebulição); fenômenos físicos e químicos; substâncias inorgânica e orgânica; físico-química. Competência específica 1 EM13CNT101 EM13CNT105 Estratégias pedagógicas para trabalhar os TCTs e as quatro dimensões Os TCTs serão os norteadores e fornecerão a ponta para chegar a uma intricada rede de relações. O entendimento dessas redes auxiliará tanto alunos quanto professores na compreensão do funcionamento de seu en- torno. No momento em que a teia de saberes estiver sendo tecida, estará sendo pensado o conjunto dos conhecimentos, ao mesmo tempo que serão vivenciados. As quatro dimensões serão trabalhadas em cada TCT e em cada atividade. OS TCTS E AS QUATRO DIMENSÕES Dimensão I – Conhecimento de si, do outro e do nós Essa dimensão será trabalhada em todos os TCTs. O objetivo da proposta é levar o professor a uma autorreflexão sobre o pensar, o falar e o fazer. As atividades a serem desenvolvidas para essa dimensão poderão ser adap- tadas pelos professores, para que sejam utilizadas também pelos estudan- tes em sua autorreflexão e na relação com outras pessoas, inclusive seus colegas. (conclusão) 28 Com viver com ciência G U I A P N L D No entanto, as questões gerais relacionadas com essa dimensão serão apresentadas em destaque na abordagem dos TCTs Saúde e Ciência e Tec- nologia. Já no TCT Meio Ambiente – Educação para o Consumo não serão mais destacadas; porém, estarão presentes em todo o desenvolvimento do texto. O andamento das atividades em atendimento à Dimensão I, se analisadas por uma perspectiva pedagógica, capacitará o professor ao trabalho com as competências gerais 6 e 7 da BNCC, que são: 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de co- nhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e res- ponsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para for- mular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que res- peitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. (BRASIL, 2018, p. 11) As atividades propostas permitirão a você, professor, refletir sobre seu comportamento, diferente ou igual, em relação à sua proposta de ensi- no. Isso lhe proporcionará perceber que o comportamento de seu aluno poderá ser e/ou permanecer diferente do que é ensinado. Esse comporta- mento pode apresentar uma justificativa que, se ouvida e analisada, poderá fazer com que o discurso e as estratégias de ensino possam ser outros. Proporemos discussões que mostrarão a necessidade do desenvolvimento de uma capacidade de argumentação. Dimensão II – Problematização do isolamento disciplinar Dimensão
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