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Pesquisa Qualitativa e quantitativa

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Disciplina: Pesquisa I – introdução à pesquisa educacional 
 
ABORDAGENS DE PESQUISA: 
QUALITATIVA E QUANTITATIVA 
 
1 PESQUISA QUANTITATIVA 
 
Segundo Fonseca (2002, p. 20): 
 
Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa 
quantitativa podem ser quantificados. Como as amostras geralmente são 
grandes e consideradas representativas da população, os resultados são 
tomados como se constituíssem um retrato real de toda a população alvo 
da pesquisa. A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. 
Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser 
compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o 
auxílio de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa 
recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um 
fenômeno, as relações entre variáveis, etc. 
 
Essa abordagem se caracteriza pelo emprego da quantificação, enfatizando 
números ou informações conversíveis em números, tanto na “coleta” de informações, 
quanto no tratamento dessas através de técnicas estatísticas, utilizando a linguagem 
matemática, desde as mais simples até as mais complexas. Os/as pesquisadores/as que 
se concentram com mais fidelidade a essa abordagem supõem que ela é mais precisa, 
que conduziria a um resultando com poucas chances de distorções. Sendo assim, ela se 
centra na objetividade, considerando que a realidade somente pode ser compreendida 
pela análise de dados recolhidos com o uso de técnicas e instrumentos padronizados e 
“neutros”, ou seja, isentos de qualquer relação entre o/a pesquisador/a e seu “objeto” de 
pesquisa. A abordagem quantitativa é frequentemente aplicada em estudos descritivos, 
comparativos e experimentais, correlacionando variáveis estatísticas e testando 
hipóteses. Como argumentou Fonseca (2002), uma vez que as amostras das pesquisas 
são grandes e consideradas representativas da população, os resultados são tomados 
como se constituíssem o retrato “real” de toda a população. Portanto, há uma tendência a 
fazer generalizações com base nos resultados dos experimentos, o que limita e reduz a 
complexidade dos fenômenos sociais. A “coleta” de dados nessa perspectiva geralmente 
é realizada por questionários, surveys e entrevistas estruturadas. 
 
2 PESQUISA EM UMA ABORDAGEM QUALITATIVA 
 
A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, ou seja, 
não se preocupa em quantificar os valores e as trocas simbólicas, tampouco em se 
submeter à prova de fatos objetivos. Ela não emprega um instrumental estatístico como 
base na análise de um problema, não pretendendo medir ou numerar categorias. A 
pesquisa qualitativa preocupa-se com aspectos da realidade que ao serem quantificados 
perderiam seu caráter constitutivo ligado aos discursos, aos significados e representações 
culturais, às interações simbólicas. Assim, essa abordagem centra-se na compreensão e 
explicação da dinâmica das relações sociais e no aprofundamento da compressão dos 
fenômenos sociais (DALFOVO, LANA e SILVEIRA, 2008; GERHARDT e SILVEIRA, 
2009). Marli André (2009) argumenta que as pesquisas qualitativas se contrapõem aos 
esquemas quantitativistas de investigação “que dividem a realidade em unidades 
passíveis de mensuração, estudando-as isoladamente”, adotando uma “visão holística 
dos fenômenos”, que considera os componentes de uma situação em suas interações e 
influências recíprocas (p. 17). 
A pesquisa qualitativa é aquela que trabalha predominantemente com a informação 
produzida pelo/a pesquisador/a, ou seja, ela admite que existe uma relação direta entre 
os fenômenos estudados e quem faz a pesquisa. Em geral, ela não é expressa em 
números, ou então os números e as conclusões neles baseadas representam um papel 
menos significativo na análise. Dentro de tal conceito amplo, os dados qualitativos podem 
incluir informações não expressas em palavras, tais como pinturas, fotografias, desenhos, 
filmes, vídeos, músicas, etc. Os estudos qualitativos identificam-se com certas 
metodologias, como a observação participante, a entrevista aberta (ou em profundidade), 
a análise documental, estudos de caso, narrativas, histórias de vida, etc. (DALFOVO, 
LANA e SILVEIRA, 2008; GERHARDT e SILVEIRA, 2009). 
 Algumas características dessa abordagem, segundo Dalfovo, Lana e Silveira 
(2008): 
a) um foco na interpretação ao invés de na quantificação: geralmente, o/a 
pesquisador/a qualitativo/a está interessado/a na interpretação que os/as 
próprios/as participantes tem da situação sob estudo; 
b) ênfase na subjetividade ao invés de na objetividade: aceita-se que a busca de 
objetividade é um tanto quanto inadequada, já que o foco de interesse é 
justamente a perspectiva dos/as participantes; 
c) flexibilidade no processo de conduzir a pesquisa: o/a pesquisador/a trabalha com 
situações complexas que não permite a definição exata e a priori dos caminhos 
que a pesquisa irá seguir; 
d) orientação para o processo e não para o resultado: a ênfase está no entendimento 
e não num objetivo pré determinado, como na pesquisa quantitativa; 
e) preocupação com o contexto, no sentido de que o comportamento das pessoas e a 
situação ligam-se intimamente na formação da experiência; 
f) reconhecimento do impacto do processo de pesquisa sobre a situação de 
pesquisa: admite-se que o/a pesquisador/a exerce influência sobre a situação de 
pesquisa e é por ela também influenciado/a. 
 
3 OUTROS ARGUMENTOS 
O quadro abaixo compara os principais aspectos da pesquisa qualitativa e da 
pesquisa quantitativa. 
 
 
 
Em relação ao campo da educação, Elba Barreto (2009) comenta que a preferência 
pelas análises qualitativas ganhou corpo no início dos anos 1980, quando os cursos de 
pós-graduação se expandiam e consolidavam, tendo sido acompanhada por um forte 
rechaço em relação às orientações metodológicas de cunho tecnicista que prevaleceram 
na década 1970. A vinculação das pesquisas em educação às teorias críticas produziu a 
compreensão de que o emprego de técnicas quantitativas de pesquisa estava associado 
às perspectivas de análise que tendiam a ser coniventes com o status quo, fato que veio 
acompanhado de desconfiança em relação ao uso das estatísticas educacionais que 
haviam se disseminado nos estudos da época. Segundo Barreto (2009), os/as 
pesquisadores/as mantinham fortes suspeitas quanto à sua fidedignidade e validade, já 
que elas poderiam se constituir em informações mais suscetíveis à manipulação pelos 
interesses dos grupos dominantes. Desde então, iniciou-se uma utilização cada vez 
menos frequente de abordagens quantitativas ou sua combinação com as qualitativas. 
A integração de dados qualitativos com dados quantitativos não é negada por 
alguns/mas pesquisadores/as, que enfatizam a complementaridade desses dois modelos. 
Para Minayo (1994), citada por Dalfovo, Lana e Silveira (2008), as relações entre 
abordagens qualitativas e quantitativas demonstram que: 
a) as duas metodologias não são incompatíveis e podem ser integradas num mesmo 
projeto; 
b) que uma pesquisa quantitativa pode conduzir o investigador à escolha de um 
problema particular a ser analisado em toda sua complexidade, através de 
métodos e técnicas qualitativas e vice-versa; 
c) que a investigação qualitativa é a que melhor se coaduna ao reconhecimento de 
situações particulares, grupos específicos e universos simbólicos. 
 
Referências 
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. 16 ed. 
Campinas, SP: Papirus, 2009. 
 
BARRETTO, Elba Siqueira de Sá. Perspectivas teóricas e metodológicas da pesquisa em 
política educacional na atualidade. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 
20, n. 44, p. 493-507, 2009. Disponível em: 
http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/eae/article/view/2041/2000. Acesso: 03 ago. 
2016. 
 
DALFOVO, Michael Samir; LANA, Rogério Adilson; SILVEIRA, Amélia. Métodos 
quantitativos e qualitativos:um resgate teórico. Revista Interdisciplinar Científica 
Aplicada, Blumenau, v.2, n.4, p.01- 13, Sem II. 2008 
http://www.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/metodos_quantitativos_e_qualitativos_um_
resgate_teorico.pdf. Acesso: 03 ago. 2016. 
 
FONSECA, João José S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. 
Apostila. Disponível em: http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/conteudo-2012-
1/1SF/Sandra/apostilaMetodologia.pdf. Acesso: 10 mar. 2016. 
 
GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo (Orgs.). Métodos de pesquisa. 
Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. Disponível em: 
http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf. Acesso: 10 mar. 2016. 
 
 
http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/eae/article/view/2041/2000
http://www.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/metodos_quantitativos_e_qualitativos_um_resgate_teorico.pdf
http://www.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/metodos_quantitativos_e_qualitativos_um_resgate_teorico.pdf
http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/conteudo-2012-1/1SF/Sandra/apostilaMetodologia.pdf
http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/conteudo-2012-1/1SF/Sandra/apostilaMetodologia.pdf
http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf

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