Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Prof. Dr. Adilson Camacho UNIDADE II Ciência Política “Imersos nas formas-Estado, compreenderemos facilmente que as sociedades indígenas recorram a poderosos mecanismos para inibir o pleno desenvolvimento delas – que já estão lá e atuam, presentes na aparente ausência. Da mesma forma e inversamente, as sociedades indígenas nos concederão as grades de inteligibilidade para que compreendamos a atuação das forças antiEstado entre nós, inibidas e, contudo, presentes na aparente ausência. Tudo estará em tudo e reciprocamente [...]: Estado entre os indígenas; antiEstado entre nós; Clastres, nos dilemas da antropologia contemporânea e às avessas” (BARBOSA, 2004, p. 533-534). Seguimos pelos olhares disciplinares que miram os principais traços do Estado; traços radicais, como aqueles trazidos pelos antropólogos como Godelier e Clastres, geógrafos como Claval, sofisticados, como o da sociologia de Bourdieu. Pensamentos que abrem caminho para os politólogos e economistas como Heilbroner. 5. Estado, história e elementos essenciais É preciso que se diga, alinhando-nos com Atilio A. Boron (1994), que houve expansões e retrações históricas das estruturas estatais, o que é corroborado pelas afirmações que destacamos de Paul Claval. Atilio A. Boron acusa certa negação de sua realidade, principalmente no caso dos britânicos, advertindo que “a realidade social existe independentemente de nossas capacidades intelectuais para apreendê-la” (1994, p. 244). O autor menciona o positivismo reinante, que considera imprestáveis poder e Estado ao desenvolvimento da pesquisa política. Claro, posto que não são tangíveis, a não ser como expressão de relações: são tipos, emergem com as forças sociais. 5. Estado, história e elementos essenciais Boron (1994) fala de formações estatais tardias (Alemanha e Itália) em contraposição às anglo-saxãs (Estados Unidos da América e Reino Unido), nas quais a iniciativa burguesa inibiu o aparato estatal... O Estado, que desde os anos 1930 foi um meio ideal de lidar com a crise, foi convertido ideologicamente no “bode expiatório” e concebido como o fator que o originou. Antes, nos fatídicos anos 1930, isso fazia parte da solução. Agora se tornou – nas versões mais ululantes do neoliberalismo – a totalidade do problema (BORON, 1994, p. 187). Atílio A. Boron cita decorrências de processos sociais na América Latina, com sistema tributário pauperizador e não devolutivo (1994, p. 195). 5. Estado, história e elementos essenciais Norberto Bobbio (1988) traz as noções de público e privado, que assumem funções vitais na institucionalização das relações de poder, nas configurações políticas. Robert Heilbroner (1988), na obra “A Natureza e a Lógica do Capitalismo”, ao crivar detalhadamente o regime do capital (a composição e o movimento orgânico da acumulação capitalista), passa à exposição dos papéis das esferas política e econômica na distribuição do poder e na constituição do Estado nesse processo. Esse caminho também é trilhado por Atilio A. Boron (1994). O autor fala em “estadolatria” para evidenciar as posturas acríticas, naturalizantes, que tomam o Estado como inexorável, destacando uma fatalidade. 5. Estado, história e elementos essenciais Diante de nossa “perplexidade” diante das declarações sobre a agonia e a morte do Estado, pesquisadores sustentam o seguinte: “como resultado do declínio das políticas econômicas neoliberais e da crise que atravessam a maioria das economias latino-americanas, o papel econômico do Estado se verá fortalecido” (BORON, 1994, p. 203). Em sua versão moderna, o Estado contém um conjunto de organismos de decisão (Parlamento e governo) e de execução (Administração Pública). Porém, o Estado é mais amplo que o governo ou que a Administração Pública. 5. Estado, história e elementos essenciais Em uma outra classificação, o Estado é integrado por três Poderes, a que correspondem três funções básicas: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O primeiro estabelece as leis a serem seguidas por uma sociedade. Investido desses três Poderes, o Estado possui um caráter ambíguo: designa o comando da comunidade, como autoridade soberana que se exerce sobre um povo e um território determinados e, ao mesmo tempo, representa, por meio de uma pessoa que o encarna, a Nação. Essa pessoa é o chefe de Estado, correspondente, em um país como o nosso, ao presidente. 5. Estado, história e elementos essenciais Bresser-Pereira (2004, p. 4) estabelece uma distinção entre Estado-nação e Estado. Para ele, enquanto o Estado-nação é o “ente político soberano no concerto das demais nações, o Estado é a organização que, dentro desse país” tem o poder de legislar e tributar a sociedade. O autor associa ao Estado tanto uma dimensão de organização com “poder extroverso sobre a sociedade que lhe dá origem e legitimidade” quanto o sistema constitucional-legal, “dotado de coercibilidade sobre todos os membros do Estado nacional” (COSTIN, 2010, p. 8-15). 5. Estado, história e elementos essenciais O Estado brasileiro possui uma Administração Pública, fixada pelo Decreto-lei nº 200 de 1967. Uma definição operacional de Administração Pública: “decorre do que vimos anteriormente sobre o Estado. Inclui o conjunto de órgãos, funcionários e procedimentos utilizados pelos três poderes que integram o Estado, para realizar suas funções econômicas e os papéis que a sociedade lhe atribuiu no momento histórico em consideração. Assim, temos dois qualificativos para associar a esta afirmação: a Administração Pública não existe só no Executivo e ela muda constantemente, pois as expectativas da sociedade em relação a ela e às disputas que se fazem na esfera política para fazer valer propostas diferentes de atuação estatal também são cambiantes” (COSTIN, 2010, p. 27). 5. Estado, história e elementos essenciais Claudia Costin cita Bresser-Pereira para tipificar a Administração Pública em três formas históricas: Segundo Bresser-Pereira (1998, p. 20-22), há três formas de administrar o Estado: a administração patrimonialista, a administração pública burocrática e a administração pública gerencial, que outros autores chamam de pós-burocrática. O autor tira o qualificativo de pública da administração patrimonialista, pois ela não visaria ao interesse público (2010, p. 31). A autora também apresenta em seu livro os modos básicos de alimentação do aparelho estatal, pela via tributos, e de gastos públicos, via orçamento. 5. Estado, história e elementos essenciais 5.1 Teorias do Estado; melhor que Teoria Geral do Estado Todo esse processo – constituição de um campo; autonomização desse campo em relação a outras necessidades; constituição de uma necessidade específica em relação à necessidade econômica e doméstica; constituição de uma reprodução específica de tipo burocrática, específica em relação à reprodução doméstica, familiar (BOURDIEU, 2012). 5. Estado, história e elementos essenciais 5.1 Teorias do Estado; melhor que Teoria Geral do Estado Constituição de uma necessidade específica em relação à necessidade religiosa – é inseparável de um processo de concentração e de constituição de uma nova forma de recursos que são do universal, em todo caso, de um grau de universalização superior àqueles que existiam antes. Passa-se do pequeno mercado local ao mercado nacional, seja no nível econômico, seja no simbólico. A gênese do Estado é, no fundo, inseparável da constituição de um monopólio do universal, sendo a cultura o exemplo por excelência (BOURDIEU, 2012). 5. Estado, história e elementos essenciais Tradicionalmente se distinguem dois processos de formação do Estado: um exógeno contra a empresa e o outro endógeno. O processo exógeno remete a fenômenos de conquista de uma empresa por outra e à implantação de uma instituição dominante sobre as populações conquistadaspor parte da população conquistadora. O processo endógeno remete à constituição progressiva de formas de dominação exercida por uma parte da sociedade sobre os demais membros (GODELIER, 1980, p. 667). As reflexões de Claval, Bourdieu e Clastres levam-nos a considerar o Estado como alternativa organizacional de encaminhamento do poder. 5. Estado, história e elementos essenciais O que Gustavo Baptista Barbosa (2004) destaca e propõe discutir do trabalho de Pierre Clastres é a variedade histórica, raramente tratada (comumente ignorada), como possibilidade em Ciência Política e no Direito. Na verdade, o tratamento que ele reservará ao “Estado” permite-nos desterritorialização complementar de seu conceito de “sociedade”. O Estado, afirma Clastres, “não é o Eliseu, a Casa Branca, o Kremlin”, mas o “acionamento efetivo da relação de poder”: é o que nos faculta, por exemplo, afiançar que haverá Estado entre os primitivos, presente na aparente ausência (BARBOSA, 2004, p. 537). Isto é, o Estado não é coisa; não somente... 5. Estado, história e elementos essenciais A abordagem liberal “resolve” o problema do Estado mediante a admissão – sem prévia análise ou discussão – de uma série de pressupostos que afirmam a neutralidade de classe do Estado e a ausência de concentrações significativas de poder político nas mãos de alguns grupos privilegiados (BORON, 1994, p. 248-249). A interpretação predominante nas ciências sociais surgiu dentro da grande tradição teórico-política-liberal – que percebe o Estado como o “espelho da sociedade”, como a expressão de uma ordem social eminentemente consensual e representante de toda a nação, e como o mercado neutro em que indivíduos e grupos trocam poder e influência – foi radicalmente criticado por Karl Marx: para quem o Estado é a expressão midiatizada da dominação política nas sociedades de classes. 5. Estado, história e elementos essenciais O materialismo histórico sustenta que as leis do movimento de um modo de produção devem ser encontradas nas contradições estruturais entre as forças produtivas e as relações sociais de produção [...]. No pensamento liberal – e nem mesmo Max Weber escapou disso –, a sociedade é concebida como a justaposição de uma série de “partes” diferentes, ordens ou fatores institucionais, de acordo com o léxico usado por vários autores, que, em sua existência, concreto-histórica pode ser combinada de várias maneiras. Isso impede que uma hierarquia de determinantes e condicionamentos seja estabelecida, mesmo no nível mais abstrato: aqui e agora, o econômico pode ser a causa, mas amanhã pode ser simplesmente o efeito de qualquer variável (BORON, 1994, p. 254-255). 5. Estado, história e elementos essenciais A diferença entre as teorias liberais e as do chamado “marxismo vulgar” reside no seguinte: nas primeiras, a sociedade civil não é concebida como estruturalmente fraturada pela existência de classes sociais; enquanto, nas segundas, a relevância da diferenciação de classes ocupa um lugar fundamental e exclusivo. No entanto, o economicismo arraigado de ambas as perspectivas termina na anulação do Estado, completamente privado de iniciativa autônoma: construído a partir de uma competição desencadeada entre interesses individuais e grupais, no discurso liberal. Instrumento dócil da classe dominante, no caso do marxismo vulgar, o problema da independência relativa do Estado não pode sequer ser levantado, a menos que se rompa com os pressupostos compartilhados por essas duas perspectivas teóricas (BORON, 1994, p. 250-251). 5. Estado, história e elementos essenciais Assinale a alternativa correta sobre a institucionalização da política como aparato estatal: a) Há exclusividade da dimensão política na constituição do Estado. b) As perspectivas de análise funcionalistas tomam o Estado como agente regulador neutro. c) O Estado é uma solução política exclusiva, a mais avançada. d) A ciência política nada tem a ganhar com os estudos antropológicos sobre as organizações do poder. e) Não tem cabimento falar em universalização das relações sociais locais e regionais para designar o Estado. Interatividade Assinale a alternativa correta sobre a institucionalização da política como aparato estatal: a) Há exclusividade da dimensão política na constituição do Estado. b) As perspectivas de análise funcionalistas tomam o Estado como agente regulador neutro. c) O Estado é uma solução política exclusiva, a mais avançada. d) A ciência política nada tem a ganhar com os estudos antropológicos sobre as organizações do poder. e) Não tem cabimento falar em universalização das relações sociais locais e regionais para designar o Estado. Resposta 5.1.1 População e demografia Definida como um todo, a população é uma coleção de seres humanos. Ela é um conjunto finito e, portanto, em um dado momento, “recenseável”. Esse ponto é bastante significativo porque, se a população pode ser contada, implica que dela podemos ter uma imagem relativamente precisa. Ainda que essa imagem, um número, não possa ser (como não é) estável, pois se modifica o tempo todo. Contudo, é por esse número que a organização que realizou o recenseamento dispõe de uma representação da população. Sem dúvida é uma representação abstrata e resumida, mas já satisfatória para permitir uma intervenção que busca a eficácia. Soma-se o conhecimento da geografia da população, cuja distinção é o foco territorial. 5. Estado, história e elementos essenciais O recenseamento permite conhecer a extensão de um recurso (que implica também um custo), no caso, a população. Nessa relação que é o recenseamento, por meio da imagem do número, o Estado ou qualquer tipo de organização, procura aumentar sua informação sobre um grupo e, por consequência, seu domínio sobre ele. Mas a essa empresa do poder corresponde à resistência ao poder e talvez aí resida o caráter ambivalente da população. A população é concebida como um recurso, um trunfo, portanto, mas também como um elemento atuante. A população é mesmo o fundamento e a fonte de todos os atores sociais, de todas as organizações. Sem dúvida é um recurso, mas também um entrave no jogo relacional (RAFFESTIN, 1993, p. 67). 5. Estado, história e elementos essenciais As políticas populacionais no Brasil, no final do século XX, ficaram muito contaminadas por uma associação espúria entre política populacional, planejamento familiar e controle da natalidade. Entretanto, esses três conceitos não são sinônimos. Uma política populacional refere-se aos três componentes da dinâmica demográfica: mortalidade, natalidade e migração. Planejamento familiar, um termo ambíguo e que serve a vários propósitos, tem a ver com idade ao casar e do primeiro filho, espaçamento das gestações, “parturição por terminação”, e métodos de concepção e contracepção. O controle da natalidade torna-se uma forma coercitiva de planejamento familiar se for adotado como exigência do Estado. 5. Estado, história e elementos essenciais As políticas populacionais ocorrem por meio de ações voltadas para a dinâmica demográfica visando ao bem público e ao acesso da população às fontes de emprego, ao sistema de educação, aos programas de saúde e a outros direitos econômicos, sociais e culturais (ALVES, 2006, p. 9-10). 5. Estado, história e elementos essenciais A imagem a seguir “apresenta um esboço da abrangência, do caráter, dos meios e dos níveis das políticas populacionais”. Há problemas de clareza na legislação na comunicação dessas questões. Também há países que “não possuem uma política populacional explícita e intencional”. Destaca-se a impossível neutralidade, mesmo quando declarada em relação às metas traçadas para o comportamento demográfico, pois “dificilmente as políticas sociais de um país deixam de ter, em um sentido ou noutro, algumefeito sobre a dinâmica demográfica” (ALVES, 2006, p. 9-10). 5. Estado, história e elementos essenciais 5. Estado, história e elementos essenciais Sobre a dinâmica demográfica Sobre o ritmo de crescimento Sobre o nível de aplicação Sobre o caráter das políticas Sobre a transparência dos objetivos Mortalidade/esperança de vida Natalidade/fecundidade/fertilidade Migração nacional e internacional Nupcialidade Expansionista (natalista) Reducionista (controlista) Neutra (laissez-faire) Individual Familiar (casal) Institucional Pública Privada Implícita Explícita Foucault (2008, p. 103), em sua perspectiva genética da população, toma os conceitos, animando-os e lhes conferindo sentido histórico. Como é o caso do conceito população, que, após a problematização dos seres vivos nas áreas de história natural, da biologia, da linguística, da economia e da política, população passou de um a outro, enriquecendo-se no percurso que o autor denomina “jogo incessante entre as técnicas de poder e o objeto destas que foi pouco a pouco recortando no real, como campo da realidade, a população e seus fenômenos específicos”. 5. Estado, história e elementos essenciais É a partir da constituição da população como correlato, das técnicas de poder que podemos ver abrir toda uma série de domínios de objetos para saberes possíveis. E, em contrapartida, foi porque esses saberes recortavam sem cessar novos objetos que a população pôde se constituir, se continuar, se manter como correlativo privilegiado dos modernos mecanismos de poder (FOUCAULT, 2008, p. 103). 5. Estado, história e elementos essenciais Daí esta consequência: a temática do homem pelas ciências humanas que o analisam como ser vivo, indivíduo trabalhador, sujeito falante, deve ser compreendida a partir da emergência da população como correlato de poder e como objeto de saber. O homem, afinal de contas, tal como foi pensado, definido a partir das ciências ditas humanas do século XIX e, tal como foi refletido no humanismo do século XIX, esse homem nada mais é finalmente que uma figura da população. Ou, digamos ainda, se é verdade que, enquanto o problema do poder se formulava dentro da teoria da soberania, em face da soberania não podia existir o homem, mas apenas a noção jurídica de sujeito de direito. “A partir do momento em que, ao contrário, como vis-à-vis não da soberania, mas do governo, da arte de governar, teve-se a população, creio que podemos dizer que o homem foi para a população o que o sujeito de direito havia sido para o soberano [...]” (FOUCAULT, 2008, p. 103). 5. Estado, história e elementos essenciais Os deslocamentos de populações em contextos variados e envolvendo ao longo do tempo escalas espaciais diferenciadas conferiram complexidade crescente ao conceito de mobilidade como expressão de organizações sociais, situações conjunturais e relações de trabalho particulares. A cada nova ordem política mundial correspondeu uma nova ordem econômica com a emergência de novos fluxos demográficos. Entretanto, a ameaça de crescente flexibilização dos mercados de trabalho com o aumento da exclusão social, ao lado das já visíveis mudanças nas configurações étnico-culturais das áreas de destino, tem impelido a construção de novos “muros da vergonha”. “[...] esse é um movimento que se opõe aos fluxos migratórios e que aponta para a formação de um novo ‘muro’ separando ricos e pobres – os novos ‘blocos de poder’ – não mais ideológicos, mas essencialmente econômicos” (BECKER, 1997, p. 319-320). 5. Estado, história e elementos essenciais A migração de grupos significativos que a autora periodiza lança normalmente grandes contingentes populacionais em uma condição instável e de precariedade jurídica, econômica e cultural. A mobilidade de indivíduos por vontade própria, com vistas à melhoria de vida, não se configura como problema geográfico e psicossocial, portanto, não requer atenção emergencial e respostas urgentes de políticas públicas, são ações planejadas. A migração como objeto de análise das ciências sociais [...] pode ser definida como mobilidade espacial da população. Sendo um mecanismo de deslocamento populacional, reflete mudanças nas relações entre as pessoas (relações de produção) e entre essas e o seu ambiente físico. 5. Estado, história e elementos essenciais Assinale a alternativa correta acerca dos aspectos populacionais dos Estados: a) Estudos de população e sociológicos são idênticos. b) Geografia da população e demografia são similares. c) Os estudos das populações são importantes à realização de políticas, porém servem também à manipulação, estatística, por exemplo. d) Foucault faz alusões quantitativas sobre as implicações dos estudos populacionais. e) Todos os países esforçam-se sobre seus dados demográficos ou populacionais para elaboração de políticas públicas universais. Interatividade Assinale a alternativa correta acerca dos aspectos populacionais dos Estados: a) Estudos de população e sociológicos são idênticos. b) Geografia da população e demografia são similares. c) Os estudos das populações são importantes à realização de políticas, porém servem também à manipulação, estatística, por exemplo. d) Foucault faz alusões quantitativas sobre as implicações dos estudos populacionais. e) Todos os países esforçam-se sobre seus dados demográficos ou populacionais para elaboração de políticas públicas universais. Resposta 5.1.2 Território, aspectos físicos, biológicos e culturais Ratzel, no século XIX, investe no conceito de Estado uma série de elementos normalmente desconsiderados, sobretudo as condições ambientais (referidas por solo) e culturais (modos de trabalho e organização sociais mais amplas). Corrêa (1981, p. 104 apud RATZEL, 1983) destaca o seguinte: Mas, não só a sociedade e o Estado têm uma base territorial, mas com esta se relacionam. Por isso, diz Ratzel, “A sociedade é o intermediário pelo qual o Estado se une ao solo. Segue-se que as relações da sociedade com o solo afetam a natureza do Estado em qualquer fase do seu desenvolvimento que se considere”. 5. Estado, história e elementos essenciais Para Milton Santos: Por território entende-se, geralmente, a extensão apropriada e usada. Mas o sentido da palavra territorialidade como sinônimo de pertencer àquilo que nos pertence [...], esse sentimento de exclusividade e limite ultrapassa a raça humana e prescinde da existência de Estado. Assim, essa ideia de territorialidade se estende aos próprios animais, como sinônimo de área de vivência e de reprodução. Mas a territorialidade humana pressupõe também a preocupação com o destino, a construção do futuro, o que, entre os seres vivos, é privilégio do homem. Em um sentido mais restrito, o território é um nome político para o espaço de um país. Em outras palavras, a existência de um país supõe um território (SANTOS; SILVEIRA, 2006, p. 19-22). 5. Estado, história e elementos essenciais 5.1.3 Governo: soberania e autonomia Pouco a pouco foi-se estabelecendo, entre os séculos XVI e XVIII, a correspondência entre estruturas territoriais, políticas e econômicas em bases nacionais. “A soberania territorial tornou-se, no século XVII, e continua a ser, a base de um certo status de igualdade entre os Estados, como a que deve existir entre os soberanos” [...]. E esse processo foi acompanhado, de forma crescente, pela implementação das ideias e das práticas do mercantilismo (ARROYO, 2004, p. 49-57). 5. Estado, história e elementos essenciais O Tratado de Westfália de 1648 traz a primeira base legal do sistema interestatal moderno, já que reconhece a soberania de cada Estado no seu território e implica a obrigação de não interferir nos assuntos internos de outros Estados. A soberania territorial transforma-se, assim, em uma atribuição do Estado com relação ao controle exclusivode um âmbito geográfico definido. O território torna-se uma categoria do Direito Internacional (ARROYO, 2004, p. 49-57). 5. Estado, história e elementos essenciais Em um sentido mais restrito, o território é um nome político para o espaço de um país. Em outras palavras, a existência de um país supõe um território (MARTIN, 1998, p. 46-48). 5. Estado, história e elementos essenciais Conforme Lia Machado (1998, p. 41-49), os limites e fronteiras, normalmente, são tomados como sinônimos, embora existam diferenças fundamentais entre eles. O conceito fronteira significa “aquilo que está na frente”, cuja origem está ligada às dinâmicas das sociedades expandindo seu mundo vivido, suas atividades, até que se encontrem; formando-se, assim, espaços de comunicação e de política. Tal é o sentido de fronteira quando nos referimos aos casos das “fronteiras agrícolas”, “fronteiras migratórias”, entre outras. 5. Estado, história e elementos essenciais Já a acepção de limite indica mais o fim, “membranas” ou “películas” envoltórias de conjuntos (territórios das populações), daí seu uso político (soberania dos Estados-nação). O chamado “marco de fronteira” é, na verdade, um símbolo visível do limite. O limite pode ser traçado em escritórios, não requerendo, em suas localizações, vida social. É abstrato, generalizado nas formas de leis nacionais e internacionais. O limite pode estar distante dos desejos e aspirações dos habitantes da fronteira (MACHADO, 1998, p. 48). 5. Estado, história e elementos essenciais Quanto às transformações do Estado, acentuamos: Essa evolução perversa (da tirania financeira desde o fim de Bretton Woods) adquiriu novas dimensões a partir de 1985, com a aceleração exponencial do processo de “financeirização” acompanhado por sucessivas crises, cada vez mais frequentes e com efeitos cada vez mais devastadores sobre as economias da periferia capitalista mundial. De maneira tal que vários analistas e economistas do próprio mundo anglo-saxão vêm considerando, de forma cada vez mais séria, a hipótese de que o capitalismo global esteja perdendo sua aura de infalibilidade, e de que, portanto, a simples competição intercapitalista em mercados desregulados e globalizados não assegure o desenvolvimento, muito menos a convergência entre as economias nacionais do centro e da periferia do sistema capitalista mundial (FIORI, 1999, p. 14). 5. Estado, história e elementos essenciais Assinale a alternativa correta sobre o papel do território no Estado nacional: a) Estado territorial é antagônico ao Estado nacional. b) Território tem tanto um sentido ligado às práticas sociais quanto ligado ao plano institucional. c) Território, para Ratzel, é o solo de plantio, pois sua preocupação é com a produção agrária. d) Fronteiras e soberania são conceitos inconciliáveis. e) Limites e fronteiras são equivalentes. Interatividade Assinale a alternativa correta sobre o papel do território no Estado nacional: a) Estado territorial é antagônico ao Estado nacional. b) Território tem tanto um sentido ligado às práticas sociais quanto ligado ao plano institucional. c) Território, para Ratzel, é o solo de plantio, pois sua preocupação é com a produção agrária. d) Fronteiras e soberania são conceitos inconciliáveis. e) Limites e fronteiras são equivalentes. Resposta Se dissermos, seguindo Lefebvre, que só existe o poder político, isso significa, levando-se em consideração o que precedeu, que o fato político não está inteiramente refugiado no Estado. Com efeito, se o fato político atinge a sua forma mais acabada no Estado, isso não implica que não caracterize outras comunidades: “Estudando de forma comparativa o poder em todas as coletividades, pode-se descobrir as diferenças entre o poder no Estado e o poder nas outras comunidades” [Maurice Duverger]. Para uma discussão do fato político, remetemos a Balandier. Admitimos que há poder político desde o momento em que uma organização luta contra a entropia que a ameaça de desordem. Essa definição, inspirada em Balandier, nos faz descobrir que o poder político é congruente a toda forma de organização (RAFFESTIN, 1993, p. 17-18). 6. O Estado contemporâneo: população ou povos? Fracasso da autodeterminação 6.1 Povos: quem são o povo, a nação e os estrangeiros Qual é a questão fundamental da democracia? Constituições democráticas e os titulares de funções do seu respectivo sistema de dominação preferem falar – e falam mais frequentemente – do “povo”. A razão disso é simples: eles precisam justificar-se como todas as formas de poder. E aqui a invocação do povo fornece a legitimação mais plausível. Não obstante – e, se olharmos o problema mais de perto: justamente por essa razão –, a simples pergunta “Quem é esse povo?” nunca é formulada como uma pergunta analítica. Supõe-se tacitamente que, afinal de contas, todos saibam quem é esse povo. Eis um típico discurso de legitimação que tranquiliza em vez de criar transparência (MÜLLER, 2009, p. 93-94). 6. O Estado contemporâneo: população ou povos? Fracasso da autodeterminação Então, quem é o povo? Friedrich Müller (2009) afirma que essa pergunta está na base da democracia moderna, acentuando que o conceito povo tem inumeráveis atribuições. O termo “democracia” deriva etimologicamente da noção de povo – demo (povo), e cracia (poder) –, e significa poder do povo. Entretanto, são muitos os descaminhos, e há muita retórica nos discursos. Darcy Ribeiro (1995) faz brilhante aproximação do povo brasileiro considerando a mistura dos grupos negros, brancos e índios derivando novos grupos. Do ponto de vista sociológico, pode-se procurar os grupos sociais que se identificam por meio dos mesmos papéis e status. Também há o sentido político-cultural que adquire valor em meio às relações de poder das classificações dos membros da sociedade. 6. O Estado contemporâneo: população ou povos? Fracasso da autodeterminação 6.2 Estado-nação como solução e problema Segundo Mónica Arroyo, “a convergência de território, mercado e Estado é um processo histórico e, ao mesmo tempo, conceitual, perfeitamente datado” (ARROYO, 2004, p. 49). Ela questiona a forma pela qual essa convergência se desenvolveu no continente europeu para, por fim, chegar aos territórios coloniais e refletir, em particular, sobre a América Latina. 6. O Estado contemporâneo: população ou povos? Fracasso da autodeterminação Talvez seja a contiguidade (territorial), como atributo central do Estado territorial, uma das escolhas políticas de maior influência na história dos mercados. Longe de ser uma evolução espontânea, trata-se de um processo de caráter basicamente político, que acarreta oposições e confrontos: O mercado nacional, finalmente, é uma rede de malhas irregulares, frequentemente construída a despeito de tudo: a despeito das cidades demasiado poderosas que têm sua política própria, das províncias que recusam a centralização, das intervenções estrangeiras que acarretam rupturas e brechas, sem contar interesses divergentes da produção e das trocas, pensemos nos conflitos da França entre portos atlânticos e portos mediterrânicos, entre interior e frente marítima. A despeito também dos enclaves de autossuficiência que ninguém controla (BRAUDEL, 1986, p. 265). 6. O Estado contemporâneo: população ou povos? Fracasso da autodeterminação O Estado, que desde os anos 1930 foi um meio ideal de lidar com a crise, foi convertido ideologicamente no “bode expiatório” e concebido como o fator que o originou. Antes, isso fazia parte da solução, agora se tornou – nas versões mais ululantes do neoliberalismo – a totalidade do problema (BORON, 1994, p. 187). A suspeição do Estado é um caminho necessário, posto que a inércia, nesse caso, pode ser bastante incômoda; o que é mais alarmante junto a um Estado intensamente privatizado como obrasileiro. Cabe menção ao tratamento crítico de Robert Heilbroner, em “A natureza e a lógica do capitalismo”, no qual o autor especula e teoriza acerca das relações entre as esferas formadoras do Estado nacional, refletindo sobre a dominação ou redução à instância econômica (1988, C.4). 6. O Estado contemporâneo: população ou povos? Fracasso da autodeterminação Milton Santos, nesta entrevista (1994), dá-nos uma pista sobre a face problemática da institucionalização do poder via Estado. Margem – E a questão do Estado e da nação? Milton Santos – Há aí dois pontos. Uma coisa é dizer que Estado e nação acabaram. Outra é discutir o que é o Estado. Nós, ocidentais e brancos, admitimos a visão de Estado que vem da Europa, não temos a visão de um Estado de uma tribo africana. Será que hoje a dimensão do Estado industrial, que chamaríamos antes de supranacional, que tem o poder de impor regras a que não se pode desobedecer, estaria acima do próprio Estado? O que representam hoje o Banco Mundial, o FMI, a Unesco, o Grupo de Banqueiros de Paris etc.? Será que eles têm a função tática de impor normas que terão que ser aceitas de uma forma ou de outra? (SANTOS, 1994, p. 179-180). 6. O Estado contemporâneo: população ou povos? Fracasso da autodeterminação Milton Santos continua: Porque o mundo se tornou global, então se globalizaram as relações, se desmanchou aquela arquitetura política anterior, e se superimpõe uma estrutura de nível mais alto? O discurso então é que não se tem mais o Estado, não se precisa mais do Estado. Na verdade, precisa-se menos. Por quê? Pelo grau de racionalidade técnica que a nossa sociedade atingiu. Aí reaparece a geografia: o território também se tornou racional. 6. O Estado contemporâneo: população ou povos? Fracasso da autodeterminação No caso do Brasil, o território que está em torno de São Paulo – nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul – é organizado de forma extremamente racional, o que facilita o seu uso racional pelos vetores hegemónicos da política, da sociedade, da economia. Nesse contexto, realmente, o Estado não é tão necessário. É a “mão invisível”, que se realiza através do espaço obediente, das grandes empresas e das grandes organizações internacionais. É a volta da “mão invisível” do Smith, não é...? (SANTOS, 1994, p. 179-180). 6. O Estado contemporâneo: população ou povos? Fracasso da autodeterminação Assinale a alternativa correta quanto às bases do Estado-nação. a) O Estado é uma espécie de espelho da nação, principalmente para o marxismo. b) O Estado, para Robert Heilbroner e para Atílio A. Boron, é a única solução política para a organização do poder. c) Milton Santos acha que o Estado está em vias de acabar. d) A discussão nacional é antiquada. e) As relações entre nação e povos devem ser necessariamente tratadas em suas tensões culturais e políticas. Interatividade Assinale a alternativa correta quanto às bases do Estado-nação. a) O Estado é uma espécie de espelho da nação, principalmente para o marxismo. b) O Estado, para Robert Heilbroner e para Atílio A. Boron, é a única solução política para a organização do poder. c) Milton Santos acha que o Estado está em vias de acabar. d) A discussão nacional é antiquada. e) As relações entre nação e povos devem ser necessariamente tratadas em suas tensões culturais e políticas. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
Compartilhar