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Autoras: Profa. Andressa Andrade Teymeny Profa. Erika Gomes Alves Colaboradores: Prof. Cristiano Schiavinato Baldan Profa. Marília Tavares Coutinho da Costa Patrão Tópicos de Atuação Profissional – Fisioterapia Professoras conteudistas: Andressa Andrade Teymeny / Erika Gomes Alves Andressa Andrade Teymeny Graduada em Fisioterapia (2001) e pós-graduada em Fisioterapia Neurológica (2003) pelo Centro Universitário do Triângulo (Unitri-MG). Mestre em Ciências da Saúde (2011) pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atualmente é docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Icesp-Brasília e docente do curso de Fisioterapia da UNIP (campus Brasília). Supervisora do estágio em Fisioterapia Reumatológica e em Fisioterapia Neurofuncional da Clínica-Escola de Fisioterapia do Icesp-Brasília e membro do Comitê de Ética e Pesquisa da mesma instituição. Membro da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (Abrafin) e licenciada do programa Entendendo a Dor Crônica. Erika Gomes Alves Graduada em Fisioterapia (2011) pela Universidade Nilton Lins (Uninilton Lins-AM), pós-graduada em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia (2014) pelo Instituto Amazonense de Aprimoramento e Ensino em Saúde (Iapes) e em Geriatria e Gerontologia (2014) pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Mestre em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia (2016) pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atualmente é fisioterapeuta do projeto Sejusc Abraça e da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc-AM) e docente do curso de Fisioterapia da UNIP (campus Manaus). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) T356t Teymeny, Andressa Andrade. Tópicos de Atuação Profifissional – Fisioterapia / Andressa Andrade Teymeny, Erika Gomes Alves. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 156 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Fisiopatologia. 2. Artroplastia. 3. Neurologia. I. Teymeny, Andressa Andrade. II. Alves, Erika Gomes. III. Título. CDU 615.8 U515.81 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Caio Ramalho Talita Lo Ré Sumário Tópicos de Atuação Profissional – Fisioterapia APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 DISFUNÇÕES ORTOPÉDICAS EM ADULTOS E TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO APLICADO ........................................................................................................................ 11 1.1 Lesões musculares agudas e crônicas .......................................................................................... 11 1.1.1 Aspectos gerais .........................................................................................................................................11 1.1.2 Classificação e fisiopatologia ............................................................................................................. 12 1.1.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional ...................................................................... 14 1.1.4 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................... 18 2 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS E DEGENERATIVAS DO TENDÃO ........................................................ 20 2.1 Tendinopatias ......................................................................................................................................... 20 2.1.1 Aspectos gerais ........................................................................................................................................ 21 2.1.2 Classificação e fisiopatologia ............................................................................................................. 22 2.1.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional ...................................................................... 23 2.1.4 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................... 25 2.2 Síndrome do impacto do ombro .................................................................................................... 28 2.2.1 Aspectos gerais ........................................................................................................................................ 28 2.2.2 Classificação e fisiopatologia ............................................................................................................. 29 2.2.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional ...................................................................... 30 2.2.4 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................... 32 2.3 Epicondilite lateral e medial do úmero ....................................................................................... 35 2.3.1 Aspectos gerais ........................................................................................................................................ 36 2.3.2 Classificação e fisiopatologia ............................................................................................................. 36 2.3.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional ...................................................................... 36 2.3.4 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................... 39 3 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS E DEGENERATIVAS DE ARTICULAÇÕES ........................................... 42 3.1 Artrite reumatoide ............................................................................................................................... 42 3.1.1 Aspectos gerais ........................................................................................................................................ 44 3.1.2 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional ...................................................................... 45 3.1.3 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................... 47 3.2 Osteoartrose ........................................................................................................................................... 49 3.2.1 Aspectos gerais ........................................................................................................................................ 50 3.2.2 Classificação e fisiopatologia .............................................................................................................51 3.2.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional ...................................................................... 51 3.2.4 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................... 53 3.3 Capsulite .................................................................................................................................................. 57 3.3.1 Aspectos gerais ........................................................................................................................................ 58 3.3.2 Classificação e fisiopatologia ............................................................................................................. 58 3.3.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional ...................................................................... 59 3.3.4 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................... 61 4 ARTROPLASTIA .................................................................................................................................................. 66 4.1 Aspectos gerais ...................................................................................................................................... 66 4.2 Artroplastia de ombro ........................................................................................................................ 67 4.3 Artroplastia de cotovelo .................................................................................................................... 68 4.4 Artroplastia de punho e mão .......................................................................................................... 69 4.5 Artroplastia de quadril ....................................................................................................................... 69 4.6 Artroplastia de joelho ......................................................................................................................... 71 4.7 Artroplastia de tornozelo .................................................................................................................. 73 4.8 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................ 74 Unidade II 5 CARACTERIZAÇÃO DO PACIENTE NEUROLÓGICO E SINAIS CLÍNICOS ....................................... 87 5.1 Sinais e sintomas da fase aguda e crônica das afecções do sistema nervoso central (SNC) ................................................................................................................................ 87 5.1.1 Alteração da consciência ..................................................................................................................... 89 5.1.2 Sinal de Babinski positivo .................................................................................................................... 90 5.1.3 Reflexos profundos (tendinosos) ...................................................................................................... 91 5.1.4 Tônus muscular ........................................................................................................................................ 93 5.2 Reabilitação neurofuncional voltada ao aprendizado neuromotor ................................ 96 6 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) ................................................................................................. 97 6.1 Aspectos gerais ...................................................................................................................................... 99 6.2 Classificação e fisiopatologia ........................................................................................................100 6.3 Acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI) ..........................................................................101 6.4 Acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH) ..................................................................103 6.5 Quadro clínico de acordo com a localização do AVC ..........................................................103 6.6 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional .................................................................107 6.7 Recursos terapêuticos ......................................................................................................................111 7 PATOLOGIAS NEUROLÓGICAS TRAUMÁTICAS ...................................................................................112 7.1 Lesão medular ......................................................................................................................................112 7.1.1 Aspectos gerais ...................................................................................................................................... 113 7.1.2 Classificação e fisiopatologia ...........................................................................................................114 7.1.3 Quadro clínico ........................................................................................................................................ 116 7.1.4 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional ................................................................... 120 7.1.5 Abordagem fisioterapêutica ............................................................................................................ 122 7.2 Traumatismo cranioencefálico ......................................................................................................125 7.2.1 Aspectos gerais ..................................................................................................................................... 126 7.2.2 Classificação e diagnóstico .............................................................................................................. 127 7.2.3 Abordagem fisioterapêutica ............................................................................................................ 129 8 PATOLOGIAS NEUROLÓGICAS DA CRIANÇA .......................................................................................129 8.1 Paralisia cerebral (PC)........................................................................................................................129 8.1.1 Aspectos gerais ..................................................................................................................................... 130 8.1.2 Classificação ............................................................................................................................................131 8.1.3 Abordagem fisioterapêutica ............................................................................................................ 133 8.2 Síndrome de Down ............................................................................................................................136 8.2.1 Aspectos gerais ..................................................................................................................................... 136 8.2.2 Tipos de trissomia ................................................................................................................................ 137 8.2.3 Diagnóstico e características .......................................................................................................... 138 8.2.4 Abordagem fisioterapêutica .............................................................................................................141 9 APRESENTAÇÃO Caro aluno, esta disciplina aprofunda a abordagem fisioterapêutica nas disfunções musculoesqueléticas e neurológicas, estudando procedimentos de tratamento e reabilitação pertinentes a essas disfunções, em suas diferentes fases de evolução e manifestação. Nosso objetivo é oferecer conhecimento e capacidade de elaborar e questionar tratamentos fisioterapêuticosreferentes ao tema, reunindo métodos de avaliação e recursos terapêuticos de áreas já estudadas, direcionando o raciocínio fisioterapêutico relativo ao diagnóstico funcional, ao objetivo de tratamento e à evolução. Este livro-texto foi desenvolvido para discutir as bases fisiopatológicas e funcionais ao elaborar tratamentos fisioterapêuticos de doenças que envolvem os sistemas musculoesquelético e neurológico, assim como analisar métodos utilizados na rotina fisioterapêutica, sua validade e seus limites, atentando às diferentes estratégias de tratamento atuais. Para isso, o texto foi escrito de forma diferente da habitual, pois abordaremos casos clínicos para, através deles, demonstrar como desenvolver um raciocínio adequado e entender todo o processo, avaliar e elaborar o tratamento, analisando cada condição relatada e proporcionando uma vivência mais prática para o aluno. INTRODUÇÃO A unidade I aborda as principais disfunções ortopédicas nos adultos e o tratamento fisioterapêutico aplicado em cada uma delas. Para melhor descrevê-las, foi dividida em quatro seções, e cada uma comtempla uma disfunção, descrevendo suas características anatomopatológicas, sinais e sintomas, avaliação e reabilitação. São elas: • lesões musculares agudas e crônicas; • doenças inflamatórias e degenerativas do tendão; • doenças inflamatórias e degenerativas de articulações; • artroplastias. A unidade II aborda as características do paciente neurológico e as principais patologias neurológicas no adulto e na criança, dividindo-se também em quatro seções, cada uma com um tema da neurologia. A primeira trata dos sinais clínicos da fase aguda e crônica das afecções do sistema nervoso central, como a reabilitação por aprendizado motor. As seções seguintes abordam as principais lesões neurológicas do paciente adulto – acidente vascular cerebral, lesões traumáticas (lesão medular e traumatismo cranioencefálico) – e a última traz as principais disfunções neurológicas da infância (paralisia cerebral e síndrome de Down). 10 O objetivo é fornecer um material de fácil compreensão ao estudante de fisioterapia, por meio de um livro-texto que, de maneira clara e objetiva, forneça conhecimento anatômico e fisiopatológico básico para compreender as diversas lesões musculoesqueléticas e neurológicas, auxiliando-o a elaborar avaliações, diagnósticos cinético-funcionais e reabilitações fisioterapêuticas individualizadas. Bom estudo! 11 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Unidade I 1 DISFUNÇÕES ORTOPÉDICAS EM ADULTOS E TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO APLICADO 1.1 Lesões musculares agudas e crônicas Vamos estudar um caso clínico comum na prática fisioterapêutica. Para resolvê-lo, revisaremos alguns conceitos importantes sobre lesão muscular, como formas de classificação, fisiopatologia, medidas de avaliação e seus principais recursos terapêuticos. Caso clínico 1 Jogador de futebol profissional de 19 anos chegou à clínica ambulatorial de fisioterapia e relatou dor súbita na coxa direita, do tipo fisgada, durante um salto dois dias atrás, enquanto treinava. Informou sentir dor durante a marcha, principalmente nos movimentos de flexão de joelho e ao final da extensão. Sente fraqueza e cansaço na parte posterior da coxa direita durante saltos e corridas em campo. Além disso, não há histórico de lesão. O exame físico constatou dor e palpação do terço médio da coxa, limitação da extensão com quadril flexionado a 90° e de flexão contra resistência. O atleta refere ainda dor de intensidade moderada, nível 6, na escala visual analógica de dor (EVA) de 1 a 10. O exame por imagem de ressonância magnética revelou lesão parcial das fibras do músculo bíceps femoral, caracterizando lesão grau 2. Sua meta é retornar aos treinos para o torneio que se aproxima. De acordo com o possível diagnóstico do paciente, alguns pontos podem ser levantados: • Quais fatores contribuíram para a lesão? • Quais são as intervenções fisioterapêuticas mais apropriadas? • Elabore um plano de tratamento em cada estágio da lesão. Ao fim desta seção, discutiremos o caso e chegaremos às respostas. 1.1.1 Aspectos gerais O sistema muscular representa a maior massa do corpo humano, com 45% de seu peso total, e lesões musculares são frequentes em atletas de diferentes modalidades. Estima-se que de 30 a 50% de todas as lesões associadas ao esporte são causadas por lesões de tecidos moles. Sintomas típicos incluem fraqueza e dor muscular, e até incapacidade funcional, resultando principalmente em contusões, 12 Unidade I estiramentos, lacerações e contraturas. Os músculos mais afetados são os isquiostibiais, quadríceps e gastrocnêmios – músculos biarticulares mais sujeitos às forças de aceleração e desaceleração (MALLIAROPOULOS et al., 2010). Estiramentos musculares em geral acometem músculos biarticulares e superficiais durante a fase de contração excêntrica, e as distensões musculares ocorrem quando uma força de tração é aplicada no músculo, gerando um alongamento excessivo das suas fibras na junção miotendínea, no tendão ou ainda em sua inserção óssea. Já as contusões musculares são causadas por forças compressivas, como um golpe direto no músculo que o lesiona. Contraturas musculares envolvem a contração muscular involuntária, dor a palpação e durante alongamentos, rigidez muscular e em alguns casos equimose. São causadas pela contração rápida e incorreta, sobrecarregando o músculo ou o tendão, interferindo em seu retorno ao estado normal na fase de relaxamento muscular. A maioria das lesões é causada por esforços excessivos ou contusões, sendo prevalentes nos membros inferiores. Ainda assim, devemos considerar alguns fatores de risco, como idade, lesões anteriores, etnia, sobrecargas, força muscular e alterações de flexibilidade. Observação Lesões musculares podem ser divididas em traumáticas e atraumáticas. Uma cãibra, por exemplo, é considerada atraumática; já estiramento, contusão ou laceração são traumáticas e merecem maior atenção. 1.1.2 Classificação e fisiopatologia Podemos classificar lesões musculares de acordo com tempo, tipo, gravidade e local. As relacionadas ao tempo são aquelas que evoluem em menos de três semanas; se levarem mais tempo, são definidas como crônicas. Quanto ao tipo, podem se dividir em lesões por fatores extrínsecos ou intrínsecos: aqueles agrupam lesões por fator externo (contusões são o melhor exemplo); estes agrupam disfunções musculares, estiramentos e rupturas (FRIZELLE, 2007). Lesões musculares podem ser classificadas em três categorias: • Leve (grau 1): lesões de apenas algumas fibras musculares com pequeno edema e desconforto acompanhadas de nenhuma ou mínima perda de força e função. Não é possível palpar qualquer defeito muscular durante a contração. • Moderada (grau 2): dano maior ao músculo, com evidente perda de função (habilidade para contrair). É possível palpar um pequeno defeito muscular (ou gap) no sítio da lesão, formando um discreto hematoma local com eventual equimose dentro de dois ou três dias. A evolução para a 13 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA cicatrização costuma durar de duas a três semanas e, em até um mês, o paciente pode retornar à atividade física de forma lenta e gradual. • Grave (grau 3): lesões em toda a seção transversa do músculo, resultando em completa perda de função muscular e dor intensa. A falha na estrutura muscular é evidente, e a equimose costuma ser extensa, situando-se muitas vezes distante do local da ruptura, cujo tempo de cicatrização varia de quatro a seis semanas, necessitando de reabilitação intensa e por períodos longos, de até três a quatro meses. O paciente pode permanecer com algum grau de dor por meses após a ocorrência e o tratamento. Há outras formas de medir lesões musculares, como a classificação de Munique, baseada em quatro tipos: • Tipo 1: desordem muscular relacionada à sobrecarga. • Tipo 2: desordem muscular de origem neuromuscular. • Tipo 3:lesão muscular parcial. • Tipo 4: lesão muscular sub(total) com avulsão. Essa classificação determina se a lesão é funcional ou estrutural, facilitando o diagnóstico (SALES et al., 2019). Após a ocorrência, segue-se um processo de reparação dividido em três fases sucessivas – destruição, reparo e remodelação –, que se sobrepõem com o tempo e cuja sequência é similar na maior parte das lesões: • Fase 1 (destruição): ruptura e posterior necrose das miofibrilas pela formação do hematoma no espaço formado entre o músculo roto e pela proliferação de células inflamatórias. • Fase 2 (reparo e remodelação): fagocitose do tecido necrótico na regeneração das miofibrilas, com produção concomitante do tecido cicatricial conectivo, neoformação vascular e crescimento neural. • Fase 3 (remodelação): maturação das miofibrilas regeneradas, contração e reorganização do tecido cicatricial, além de recuperação da capacidade funcional muscular. Observação Um diagnóstico precoce pode ser feito por avaliação termográfica, pois o processo inflamatório aumenta o fluxo sanguíneo e eleva a temperatura local. Essas alterações possibilitam exames por termografia não apenas para diagnosticar, mas também reabilitar, monitorar e prevenir lesões musculares. 14 Unidade I 1.1.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional Como visto ao longo do curso, outro aspecto importante para tratar pacientes é uma boa avaliação, além de saber traçar um diagnóstico funcional. Para o correto diagnóstico de uma lesão muscular, deve-se estabelecer uma história clínica detalhada do trauma, assim como exame físico e testes de função. A avaliação fisioterapêutica se baseia no diagnóstico cinético-funcional, com o qual identificamos as limitações apresentadas pelo paciente. Além de uma história clínica detalhada, podemos utilizar exames de imagem para nos orientar quanto ao grau de lesão e estrutura lesionada. Em geral, o primeiro sinal apresentado pelo paciente é o quadro álgico, de maior intensidade na fase aguda da lesão, surgindo com a palpação da área lesionada, contração ou alongamento muscular. Para avaliar a intensidade da dor, pode-se usar a escala visual analógica (EVA), uma reta de 10 cm, graduada de 0 a 10, com palavras-chave nas extremidades – “sem dor” e “pior dor imaginável” –, de acordo com a percepção do paciente no momento da avaliação. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100 Sem dor Máximo de dor Figura 1 – EVA Fonte: Fortunato et al. (2013, p. 114). Ao utilizar a EVA, questione o paciente sobre o grau da dor: o nível 0 significa ausência total de dor, e o nível 10, a pior dor imaginável ou sentida pelo indivíduo. Outra vantagem da EVA é a possibilidade de acompanhar o quadro álgico e a avaliação periódica de melhora ou piora com o tempo, atividades realizadas ou medidas terapêuticas. A presença de edema ou hematoma também é avaliada durante a inspeção local da lesão, indicando (ou não) uma fase aguda do processo inflamatório. Também é importante se atentar à presença de parestesias ou alterações motoras, porque, devido à proximidade local, lesões musculares podem se relacionar com lesões neurológicas. Em lesões crônicas de músculos isquiostibiais, por exemplo, sintomas de dor ciática podem ser relatados. Fisioterapeutas podem utilizar diversos testes funcionais para avaliar indivíduos com lesão muscular e estabelecer medidas de tratamento, com critérios para alta e até mesmo estratégias de prevenção no desporto. A avaliação funcional favorece uma análise confiável dos padrões de movimento; no caso de atletas, testes funcionais que reproduzem o gesto esportivo permitem uma avaliação qualitativa e podem identificar assimetrias ou compensações que deixam o indivíduo mais suscetível a lesões. 15 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Podemos utilizar o teste de equilíbrio em excursão de estrela (SEBT), uma avaliação dinâmica que necessita de algumas exigências para sua execução, como força muscular, flexibilidade e propriocepção: AnteromedialPosteromedial Medial Lateral AnteriorPosterior AnterolateralPosterolateral Figura 2 – SEBT Fonte: Adigüzel (2020, p. 149). Além de prevenir lesões em membros inferiores, o SEBT auxilia a decidir se o atleta pode retornar ao esporte. Ele deve tentar alcançar o ponto mais distante em direções correspondentes na estrela – anterior, posteromedial e posterolateral –, equilibrando-se somente com o apoio de um dos pés. Para cada direção há 6 tentativas de treino, e as 3 tentativas seguintes contam para a avaliação. Para comparar o desempenho, dividimos o valor alcançado (em centímetros) pela média entre o tamanho dos membros inferiores (também em centímetros) e, posteriormente, multiplicamos por 100: [(máx. anterior + máx. posteromedial + máx. posterolateral) / (comp. perna × 3)] × 100 O teste compara o membro sadio com o membro comprometido. Para tanto, consideramos a soma das três direções de alcance, a assimetria entre as pernas na distância de alcance e a deficiência de equilíbrio e controle postural durante a execução. Também permite a implementação precoce de programas de retreinamento neuromuscular na tentativa de diminuir o risco geral de lesão. Se a lesão já estiver cicatrizada, é necessário avaliar sua flexibilidade. Para medidas lineares, podemos utilizar fitas métricas, réguas e trenas. Um exemplo clássico, utilizado até hoje, é o teste “sentar e alcançar”. Para tanto, o paciente deve sentar-se, estender as duas pernas e apoiá-las em um instrumento chamado banco de Wells. Em seguida, tenta flexionar tronco, joelhos, cotovelos e punhos três vezes, considerando-se o maior valor em centímetros para a flexibilidade de membros inferiores e coluna vertebral: 16 Unidade I Figura 3 – Teste de flexibilidade no banco de Wells Fonte: Bertolla et al. (2007, p. 223). Além da avaliação da flexibilidade, a força muscular também é afetada nas lesões musculares de grau 1 e 2. Assim, o dinamômetro manual é um importante aliado para mensurar o grau de força, sendo utilizado sempre que necessário, de preferência do início da lesão até a alta. Além do dinamômetro manual, há o isocinético, bastante utilizado para diagnosticar disfunções musculoesqueléticas. Avaliações isocinéticas geralmente são feitas na fase de alta, pois o aparelho identifica o pico de torque (TP) da musculatura, visando a maior capacidade de produzir força em determinado músculo ou grupo muscular (ENGELKE, 2019). O dinamômetro isocinético é considerado padrão-ouro na avaliação de articulações unilaterais, pois obtém valores fidedignos sobre a razão de torque entre a musculatura dos membros inferiores, fadiga e potência muscular: A) B) Figura 4 – Teste isocinético para rotador interno de ombro: A) vista frontal; B) vista lateral Fonte: Silva et al. (2014, p. 174). 17 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Exames de imagem – como ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética – fornecem informações úteis para verificar e determinar a lesão com maior precisão. A ressonância magnética e a ultrassonografia são os exames mais utilizados para determinar com precisão a graduação e a extensão das lesões musculares. A primeira é o principal exame de imagem no diagnóstico das lesões musculares, com a vantagem de não utilizar radiação ionizante e depender menos do operador se comparada a outros exames, como a ultrassonografia. Também possibilita uma avaliação mais completa das lesões musculares, uma vez que as imagens multiplanares facilitam o estudo da anatomia e a localização e definição da intensidade de sinal das lesões nas sequências em T1 e T2, promovendo uma caracterização tecidual que permite o perfeito diagnóstico e a graduação quanto à gravidade das diversas lesões, bem como das possíveis sequelas. Assim, a ressonância magnética vem se destacando no estudo das lesões musculares, sendo um excelente método para o diagnóstico e a graduação dessas lesões, observando-se a presença de edemas, proporção de hematomase desinserções musculares e/ou tendíneas (figura 5). A) B) Figura 5 – A e B) Incidências coronais e axiais, respectivamente, de ressonância magnética que apresenta hipersinal no local anatômico do músculo reto femoral Fonte: Shimba et al. (2017, p. 746). Já a ultrassonografia é um exame complementar que caracteriza lesões musculares muito utilizado para elaborar prognósticos, pois acompanha a formação do tecido cicatricial muscular durante o reparo tecidual e fornece a reabsorção completa da imagem da lesão formada detectada meses ou anos depois. A tomografia computadorizada é um método de produção de imagens por raios X que incidem sobre detectores que convertem fótons em cintilações. Difere da radiografia por produzir uma imagem em três dimensões, sendo mais sensível a modificações nos tecidos apresentados na imagem. Apresenta ótima resolução espacial – e, portanto, anatômica –, além de elevada especificidade e precisão na definição da lesão e alta sensibilidade para caracterizar lesões de difícil diagnóstico, como aquelas no ventre muscular. Tem como desvantagens a radiação ionizante, o custo elevado e o fornecimento de detalhes apenas anatômicos, impossibilitando a análise de alterações fisiológicas e metabólicas. 18 Unidade I 1.1.4 Recursos terapêuticos Ao tratar indivíduos com lesão muscular, devemos considerar as fases de sua cicatrização e severidade, favorecendo a recuperação tecidual. Inicialmente, teremos como objetivo de tratamento minimizar o dano, reduzir o quadro álgico e controlar o edema e a hemorragia. Deve-se enfatizar a redução álgica nos primeiros dias após a lesão, pois isso reduz a inibição neuromuscular associada à dor, e o repouso absoluto deve ser evitado, pois desencadeia a perda de massa e força muscular. Na fase aguda, podemos empregar o protocolo protection, rest, ice, compression, and elevation (Price) para controlar o hematoma e a inflamação local. A justificativa de usá-lo é sua praticidade, visto que as cinco medidas buscam minimizar o sangramento do sítio da lesão (FERNANDES; PEDRINELLI; HERNANDEZ, 2009). A compressão elástica auxilia no controle do hematoma, melhora a drenagem vascular e eleva o membro acima do nível do coração. Em caso de hematomas extensos, podem-se indicar punções aspirativas. O repouso deve ser moderado, com diminuição parcial da carga sobre o segmento afetado. No entanto, deve-se fomentar a mobilização precoce, uma vez que a imobilização é deletéria para o trofismo muscular, formando contraturas. A duração da descarga é variável, devendo ser ajustada às queixas álgicas do atleta e durar o menor tempo possível (MONSANTO et al., 2019). Com a mobilização precoce através de alongamentos e fortalecimentos, espera-se conseguir uma cicatrização estável e funcional (BRUKNER, 2015). Na fase de regeneração tecidual, o objetivo é evitar a formação de aderências e favorecer o processo cicatricial. O treinamento isométrico pode se iniciar sem carga e depois ser adicionada, sendo essencial fazer os exercícios sem sentir dor. É importante aumentar a intensidade dos exercícios gradativamente, com treinamento neuromuscular em maiores amplitudes e iniciar o treinamento de resistência excêntrica. Askling et al. (2013) demonstraram a importância do fortalecimento excêntrico nas lesões dos isquiotibiais ao comparar um protocolo com exercícios convencionais e de exercícios excêntricos com alongamento dinâmico máximo. No período de remodelação, há uma gradual recuperação das propriedades funcionais do músculo, incluindo a recuperação da força tênsil do componente tecidual conectivo. Seu objetivo é a recuperação completa das propriedades viscoelásticas, capacidade tênsil, recuperação da força muscular e retorno completo do indivíduo ao estado pré-lesão (JÄRVINEM et al., 2005). O treino sensório-motor também deve ser empregado com o objetivo de promover estímulos diferentes e, assim, treinar receptores articulares e musculares, informando o cérebro rapidamente para o corpo permanecer em equilíbrio (TAKAHASHI, 2009). Agora que vimos os principais recursos terapêuticos em lesões musculares, vamos analisar um caso clínico e estabelecer o plano de tratamento adequado. 19 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Sabemos que o atleta relatou sentir dor durante a marcha, principalmente nos movimentos de flexão de joelho e ao final da extensão. Sente fraqueza e cansaço na parte posterior da coxa direita durante saltos e corridas em campo. Além disso, não há histórico de lesão. O exame físico constatou dor e palpação do terço médio da coxa, limitação da extensão com quadril flexionado a 90° e de flexão contra resistência. O atleta refere ainda dor de intensidade moderada, nível 6, na escala visual analógica de dor (EVA) de 1 a 10. O exame por imagem de ressonância magnética revelou lesão parcial das fibras do músculo bíceps femoral, caracterizando lesão grau 2. O programa de intervenção terá como objetivos: • controlar dor, edema e espasmo; • aplicar o protocolo Price, com repouso, gelo, compressão e elevação, massagem suave, evitando posições que sobrecarreguem o exercício; • diminuir a inflamação tecidual com laser terapêutico, ultrassom e crioterapia; • manter a integridade e mobilidade conforme tolerado, com exercícios passivos dentro do limite de dor, isométricos intermitentes, estimulação elétrica e alongamentos específicos a tecidos retraídos; • desenvolver controle neuromuscular, resistência à fadiga e força nos músculos envolvidos e relacionados, com exercícios isométricos em múltiplos ângulos, amplitude de movimento (ADM) ativa e exercícios de estabilização, progredindo para isotônicos, de resistência submáxima a máxima, exercícios excêntricos e concêntricos; • manter a integridade e função das áreas associadas com exercícios ativo-assistidos, livres, resistidos e/ou aeróbicos modificados. O papel do fisioterapeuta é decisivo durante o estágio subagudo (segundo ao quarto dia após a lesão). Compreender o processo de regeneração tecidual e as respostas às sobrecargas é a base das decisões clínicas a tomar na intervenção. Durante essa fase o tecido conjunto é frágil e desorganizado, e a chave é iniciar exercícios e atividades não destrutivos, dentro da tolerância dos tecidos em regeneração. Se o paciente apresentar hematomas intramusculares, lesões, rupturas e/ou lesões parciais em que mais da metade do músculo esteja rompida, um tratamento cirúrgico será indicado. 20 Unidade I Saiba mais Vimos que lesões musculares são comuns, principalmente durante práticas esportivas, ocorrendo principalmente na junção miotendínea, durante a fase excêntrica da contração muscular e em membros inferiores. Assim, trouxemos uma sugestão para você aprofundar seu conhecimento sobre lesões musculares: um artigo que trata das principais evidências sobre as abordagens fisioterápicas usadas na reabilitação de isquiotibiais. RAMOS, G. A. et al. Reabilitação nas lesões musculares dos isquiotibiais: revisão da literatura. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 52, n. 1, p. 11-16, 2017. Disponível em: https://cutt.ly/DJxYemM. Acesso em: 2 jun. 2022. Enfim, a atuação fisioterapêutica no desporto envolve diversas medidas, mas principalmente um programa que previna lesões, buscando reduzir ou evitar distúrbios que afetem a performance dos atletas e, consequentemente, os afastem de treinos e jogos. Saiba mais Quer saber mais sobre programas de prevenção? Acesse o artigo científico a seguir: AFONSO, M. S. et al. Fisioterapia desportiva no programa de prevenção de lesão no futebol profissional. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento, v. 9, n. 3, p. 1-17, 2020. Disponível em: https://cutt.ly/eJSKyfT. Acesso em: 2 jun. 2022. 2 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS E DEGENERATIVAS DO TENDÃO 2.1 Tendinopatias Vamos abordar agora as diferentes afecções que envolvem os tendões. Vimos em anatomia que estes são estruturas especializadas que conectam os músculos ao osso, transmitindo forças e promovendoa mobilidade corporal. Lesões nessas estruturas são comuns, associadas ao uso excessivo por repetição ou sobrecarga mecânica, levando a microrrupturas de suas fibras. Estudos histológicos evidenciam a presença de lesões degenerativas, com ausência de (ou mínima) inflamação. A tendinite aguda, por exemplo, dura de três a seis semanas; de seis semanas a três meses, podem ocorrer degenerações que caracterizam uma tendinose. 21 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Tendinopatia é um termo genérico usado para descrever todas as formas de distúrbio do tendão na ausência de um diagnóstico anatomopatológico, e erros são comuns frente às inúmeras nomenclaturas que descrevem afecções tendíneas. Vamos esclarecê-las: • Tendinite: inflamação do tendão. • Tendinose: processo de degeneração e remodelação do tendão. • Tenossinovite (ou peritendinite): inflamação do tendão e da bainha sinovial. • Paratendinopatia: processo inflamatório ou degenerativo do paratendão. Esclarecidos os termos, vamos analisar suas implicações na prática clínica. Caso clínico 2 Paciente do sexo feminino, 37 anos, auxiliar administrativa, destra, foi encaminhada pelo ortopedista para atendimento no serviço ambulatorial de fisioterapia com queixa de dor e inchaço há aproximadamente seis meses em antebraço, punho e mão direitos de pinçamento do polegar – sensação que piora principalmente com movimento. No exame físico ela apresentou dor à palpação na região de processo estiloide do rádio de intensidade moderada (EVA=6), edema na região do punho, perda de força e de mobilidade do polegar. Testes de Finkelstein e Eichoff foram positivos. Ela usa anti-inflamatórios não esteroides, com melhora temporária apenas durante o uso do medicamento. A ressonância nuclear magnética revelou aumento da espessura do tendão dentro do primeiro compartimento extensor ao nível da extremidade distal do rádio e aumento de sinal no interior da bainha sinovial. Sinais e sintomas são condizentes com tenossinovite de De Quervain (TSQ). O objetivo da paciente é retornar ao trabalho o mais rápido possível. • Quais fatores contribuíram para essa condição? • No exame, quais sinais se associam a esse diagnóstico? • Quais são as intervenções de fisioterapia mais apropriadas? 2.1.1 Aspectos gerais Lesões de tendão estão entre as mais comuns por movimentos repetitivos, sendo definidas de acordo com as alterações histológicas e estruturas envolvidas em tendinite, tendinose e paratendinose. O uso excessivo do tendão por repetição ou sobrecarga mecânica, e consequente microrrupturas de suas fibras, é o fator inicial da tendinopatia. 22 Unidade I Atividades esportivas, treinamentos excessivos, fadiga, local de trabalho e uso de fármacos associados a outras patologias – como estatina e corticoide – compõem os fatores extrínsecos para tendinopatias. Entre os fatores intrínsecos podemos citar obesidade, hipertensão arterial sistêmica, flexibilidade e força do tendão. A tendinopatia pode envolver qualquer tendão do corpo, sendo mais comum em ombros, cotovelo, punho e mão, joelho, tornozelo e pé. O ponto de inserção muscular recebe elevada concentração de estresse, expondo o tendão a uma grande carga de repetição. A tendinopatia do primeiro compartimento extensor do punho é denominada tenossinovite de De Quervain (TSQ), que acomete tendões e bainhas sinoviais, envolvendo os tendões do adutor longo e extensor curto do polegar, responsáveis pela preensão deste. A inflamação local leva ao espessamento da bainha tendinosa e constringe o tendão durante seu deslizamento, agravando os sintomas da paciente. A TSQ se associa à sobrecarga de mãos e punho durante atividades repetitivas e a algum trauma crônico secundário. Também pode ser causada por fatores intrínsecos, como predisposição genética e variações anatômicas, septo vertical e presença de tendões acessórios do abdutor longo do polegar, mas em muitos casos não há uma causa bem definida. Acomete frequentemente mulheres na faixa etária de 30 a 50 anos. Agora que você já conhece as causas da TSQ, vamos retomar o caso clínico e analisar os possíveis fatores dos comprometimentos apresentados. Ela decorre, entre outras causas, do uso repetitivo dos músculos envolvidos ou ainda de uma sobrecarga forçada no músculo em contração. No caso clínico apresentado, podemos relacionar a atividade laboral relatada pela paciente – auxiliar administrativa de 37 anos e do sexo feminino – ao desenvolvimento da patologia. Observação A denominação tenossinovite na TSQ é inadequada, já que seu principal marcador histológico é o acúmulo de mucopolissacarídeos na bainha tendínea, indicando processo degenerativo em curso. Distensão líquida da bainha, sem espessamento parietal ou modificação tendínea associada, é descrita como sinovite. 2.1.2 Classificação e fisiopatologia A tendinite é comumente causada por esforço repetitivo. Pode haver mudanças patológicas consistentes, com inflamação crônica e, em alguns casos, depósitos de cálcio ao longo do tendão, denominada tendinite calcificada. A tendinose traz alterações degenerativas e crônicas do tendão acompanhadas de dor e espessamento. No caso da paratendinite (ou tenossinovite), a inflamação envolve os tecidos que circundam o tendão, como a bainha tendínea, causada por fricção repetitiva do tendão e sua bainha. Alterações mecânicas, vasculares e neurais podem explicar o comprometimento de afecções tendíneas. Na teoria mecânica, a carga repetitiva no tendão geraria fadiga e consequente falha 23 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA tecidual; na teoria vascular, a redução do suprimento sanguíneo causaria degeneração; na teoria neural, desequilíbrios da homeostase da inervação poderiam comprometer o tendão. Inflamações repetidas ou crônicas hipertrofiam o retináculo (ou polia), que se torna mais fibrocartilagíneo e comprime o tendão. Os locais mais comuns de tenossinovite são: • abdutor longo e extensor curto de polegar; • bainha do flexor superficial e profundo dos dedos; • extensores de punho e dedos no ligamento retinacular dorsal do punho; • flexores de punho; • segundo compartimento dorsal do punho entre os extensores radiais longo e curto do carpo. Lembrete Tendinites são predominantemente inflamatórias, enquanto tendinoses são degenerativas. É comum observar características de ambas no mesmo tendão; um quadro clínico inicial de tendinite pode evoluir para degeneração do tendão e passar para uma tendinose. Da mesma forma, processos crônicos podem se agudizar após um trauma ou esforço. 2.1.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional O diagnóstico de TSQ é essencialmente clínico, baseado no achado de dor puntiforme junto ao processo estiloide do rádio, que piora com a movimentação do punho ou do primeiro quirodáctilo. Alguns comprometimentos comuns são: • diminuição da ADM intra-articular; • aderências tendíneas; • força de preensão diminuída; • diminuição da flexibilidade; • pouca resistência à fadiga; • crepitação e engatilhamento (ocorrências mais raras). 24 Unidade I Uma radiografia simples pode revelar calcificações do tendão, e a ultrassonográfica, áreas hipoecoicas na mesma região. Na ressonância nuclear magnética, os tendões apresentam-se hipointensos, e sinais de tenossinovite incluem coleção líquida no interior da bainha tendínea e hipertrofia do tendão. Os testes provocativos clássicos utilizados na TSQ são os de Finkelstein e de Eichoff (quadro 1 e figura 6). Os resultados dos testes provocativos devem ser considerados com outros achados clínicos. Quadro 1 – Testes provocativos para TSQ Teste de Finkelstein Manter o polegar estável enquanto se faz desvio ulnar abrupto do carpo Teste de Eichoff Prender polegar em flexão associado ao desvio ulnar do carpo A) B) Figura 6 – A) Teste de Finkenstein; B) teste de Eichoff 25 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Diagnósticos diferenciais: • artrite ou artrose das articulações radiocarpalou carpometacarpal; • radiculopatia cervical de C6; • síndrome do túnel cárpico; • fratura do escafoide cárpico; • lesões líticas e/ou osteoporose radial; • osteonecrose do lunato; • quisto dorsal do punho; • síndrome da interseção e síndrome de Wartenberg. 2.1.4 Recursos terapêuticos O tratamento da TSQ é prioritariamente conservador e se divide em três fases – aguda, subaguda e crônica –, visando reduzir o quadro álgico e edema, manter a ADM das articulações envolvidas, estimular a cicatrização tecidual e restabelecer a funcionalidade. O repouso associado ao uso de órteses ou da tala de polegar controla o movimento repetitivo do polegar e do punho, reduzindo o impacto mecânico dos tendões contra o retináculo. O ultrassom pode ser empregado para aliviar a dor, acelerando a resolução do edema e impulsionando a fase proliferativa do reparo mais rapidamente. O uso de neuroestimulação elétrica transcutânea (Tens), massagem manual e compressas geladas alivia a dor, estimula a cicatrização tecidual e facilita o movimento articular. Com a remissão do quadro álgico agudo, as metas de tratamento são: • restabelecer a ADM articular e a flexibilidade muscular; • promover o retorno funcional. Termoterapia superficial, massagem manual, exercícios passivos e alongamento do tendão são indicados a pacientes com rigidez articular e encurtamento musculotendíneo. Exercícios de fortalecimento devem ser empregados gradativamente, iniciados pelos isométricos, seguidos por isotônicos resistidos através de pesos livres e exercitadores de dedos. O objetivo da fase final é retornar o paciente a suas atividades prévias, condicionando o membro superior com fortalecimento e atividades que simulem atividades diárias e/ou laborais. No caso de falha do tratamento conservador, o tratamento cirúrgico consiste na descompressão do primeiro compartimento dorsal do punho. Entretanto, a cirurgia exige mais tempo de recuperação e pode trazer complicações, como lesões nervosas. 26 Unidade I Retomando o caso clínico, a paciente apresenta dor e inchaço há aproximadamente seis meses em antebraço, punho e mão direitos de pinçamento do polegar – situação que piora principalmente com movimento. No exame físico ela apresentou dor à palpação na região de processo estiloide do rádio de intensidade moderada (EVA=6), edema na região do punho, perda de força e de mobilidade do polegar. A intervenção deve reduzir o processo inflamatório e prevenir a formação de aderências e a recorrência de tendinite através de modalidades eletroterapêuticas e térmicas, como ultrassom terapêutico, Tens e crioterapia, exercícios leves de ADM, exercícios ativo-assistidos, isométricos e progressivos de fortalecimento muscular, progredindo para o treino funcional com atividades simuladas. Observação Evite aplicar alongamentos excessivos que gerem estresse articular com sobrecarga ligamentar. Recomenda-se sustentar a posição de alongamento por 20 segundos e repetir 3 vezes cada exercício, evitando-se dor e edema no tendão após exercícios. Monitore constantemente o programa de reabilitação para não causar sobrecarga. Quadro 2 – Exemplo de recursos terapêuticos em TSQ Objetivos Recursos Reduzir inflamação e dor Laser de arseneto de gálio (As-Ga) Ultrassom pulsátil Fonoforese com ultrassom Tens Prescrição de órteses: talas para polegar Manter ADM e flexibilidade dos tecidos acometidos Mobilização passiva das articulações do punho e mediocarpal, metacarpofalângicas e interfalângicas Mobilização com movimento (MWM) Mobilização de tecidos moles assistida por instrumentos Alongamento principalmente dos músculos extensor curto do polegar e abdutor longo do polegar, além dos músculos flexores e extensores extrínsecos do polegar Exercícios ativos suaves de polegar e punho, preensão Restabelecer força muscular e função Exercícios assistidos e livres dos extensores e flexores do punho Exercícios excêntricos Força de preensão e pinça e treino da resistência, exercícios isométricos, seguidos pelos isotônicos de resistência progressiva Educação do paciente 27 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Figura 7 – Exercícios isotônicos para punho Figura 8 – Fortalecimento de flexores e extensores de punho e mão com resistência elástica 28 Unidade I 2.2 Síndrome do impacto do ombro O ombro é uma articulação complexa e a mais móvel do corpo humano, entretanto é considerada instável por sua anatomia articular, devido à frouxidão capsular associada ao formato da cabeça umeral e da fossa glenoide, necessitando equilibrar as estruturas estáticas e dinâmicas para manter uma biomecânica normal. Qualquer alteração que acometa sua estrutura e função o torna alvo de inúmeras afecções; lesões do manguito rotador, por exemplo, são bastante comuns na prática clínica, com prevalência entre 5 e 33%. Trata-se de uma síndrome dolorosa do ombro, normalmente acompanhada por microtraumatismos e degeneração, além do déficit de força muscular e tendinite do manguito rotador. A seguir, vejamos um caso clínico que envolve essa patologia. Caso clínico 3 Paciente de 51 anos, professora do Ensino Fundamental de uma escola pública, foi encaminhada ao ambulatório de fisioterapia para avaliação e tratamento duas semanas após procedimento cirúrgico devido a uma síndrome do impacto do ombro direito. Queixa-se de dor em forma de pontada (EVA=5) e dificuldade moderada para realizar atividades diárias. O exame físico apresentou postura antálgica em rotação interna, adução de ombro, cotovelo flexionado e antebraço em pronação, presença de edema e cicatriz cirúrgica na região superior e medial do ombro direito, pontos de tensão em trapézio, deltoide, bíceps braquial e peitoral maior e crepitação articular. Não usa órtese e abduz o ombro em bloco. Na avaliação de força muscular, apresentou grau 3 (Medical Research Council – MRC), e usa medicamento anti-inflamatório não esteroide. O objetivo da paciente é realizar atividades diárias sem auxílio e retornar ao trabalho. • Quais são os testes clínicos apropriados para o caso? • Quais são as intervenções fisioterapêuticas mais adequadas? • Que recursos podem ser utilizados na cicatriz cirúrgica? 2.2.1 Aspectos gerais O manguito rotador é formado por quatro músculos intrínsecos do ombro – supraespinal, infraespinal, redondo menor e subescapular –, que se originam na escápula e se inserem nos tubérculos maior e menor do úmero. Juntos, mantêm a tensão da cápsula articular, estabilizando a cabeça do úmero contra a cavidade glenoide. Além do mecanismo de estabilidade articular, o manguito rotador também participa da mobilidade do ombro, principalmente nas rotações de úmero. Dor no ombro é a segunda maior queixa relacionada ao sistema musculoesquelético (a maior é dor lombar), e mais da metade das afecções do ombro envolve 29 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA o manguito rotador e as estruturas que o compõem, sendo o tendão do supraespinal o mais acometido, caracterizando a síndrome do impacto subacromial (SIS). É frequente em quem realiza atividades laborais ou domésticas que envolvam o membro superior. Na população abaixo dos 40 anos, costuma se associar a uma tendinite/tendinose do manguito rotador; naqueles acima dos 40, rupturas tendíneas são mais comuns. 2.2.2 Classificação e fisiopatologia Trata-se de um distúrbio multifatorial que se divide nestes fatores: • Intrínsecos: envolvem envelhecimento tecidual, traumas agudos, microtraumas ou tendinite calcária. • Extrínsecos: envolvem o formato do acrômio, cifose torácica, retração ou frouxidão capsular, flexibilidade e força muscular. É causado pelo impacto do manguito rotador entre o arco coracoacromial e a cabeça umeral. Variações anatômicas – como formato do acrômio, ligamento coracoacromial e formação de esporão acromial – podem estreitar o espaço onde excursionam os tendões da região. Qualquer alteração que reduza o volume desse espaço – como calcificações ligamentarese osteófitos na porção anterior do acrômio – pode impactar as estruturas adjacentes. Outra causa de lesão do manguito rotador envolve a área crítica de Codman, próxima à inserção do músculo supraespinhoso, tida como ponto de início da degeneração e ruptura desse grupo muscular. A área apresenta um número menor de vasos sanguíneos e recebe constante compressão entre o acrômio e o tubérculo maior, o que resulta numa vascularização local menor. Lesões do manguito rotador podem ser classificadas por: • Duração: agudas ou crônicas. • Extensão: totais ou parciais. • Etiologia: traumáticas ou degenerativas. Já a evolução da síndrome do impacto subacromial foi dividida por Neer (1983) em três estágios: • Estágio I: sensibilidade na porção anterior de acrômio e inserção do músculo supraespinal, arco doloroso e fraqueza do manguito rotador decorrente de quadro álgico. • Estágio II: crepitação ou redução da ADM a 100° e ADM passiva menor. • Estágio III: redução da ADM ativa e passiva, atrofia muscular de supraespinal e infraespinal. Pode haver ruptura do manguito rotador. 30 Unidade I Saiba mais Assista à aula a seguir e confira o livro indicado para conhecer mais detalhes sobre o complexo articular do ombro e a síndrome do impacto: MANGUITO rotador e síndrome do impacto – Rogério Gozzi. 2019. 1 vídeo. (13min29s). Publicado pelo canal Anatomia Fácil. Disponível em: https://cutt.ly/JKLwcpx. Acesso em: 29 jun. 2022. BARBOSA, R. I.; SILVA, M. F. Fisioterapia traumato-ortopédica. Porto Alegre: Artmed, 2021. 2.2.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional O diagnóstico de distúrbios do manguito rotador envolve histórico detalhado e exame físico apropriado. A idade deve ser considerada, bem como atividades recreacionais, laborais e histórico de trauma. Costuma-se relatar presença de dor noturna na região lateral do deltoide, muitas vezes associada a atividades com o braço acima do ombro. Palpação dolorosa da área subacromial sugere lesão do manguito rotador, podendo ou não acompanhar crepitação. O quadro álgico é proporcional ao grau de inflamação muscular, com piora à noite, decorrente do estiramento das partes moles quando o braço é estendido ao longo do corpo. Em caso de ruptura completa, o quadro doloroso se reduz devido ao relaxamento das fibras do supraespinhoso. A fraqueza muscular envolve abdutores e rotadores externos no lado envolvido nas lesões totais. Em lesões parciais (ou totais de menor proporção), a força pode estar normal; além disso, pode haver presença de crepitações, contraturas da cápsula articular, tendinite ou ruptura da cabeça longa do bíceps. Quadro 3 – Testes provocativos para identificar tendinopatias do manguito rotador Teste do impacto de Hawkins-Kennedy Examinador flexiona ombro e cotovelo a 90° e então os roda medialmente Teste de Jobe lateral Examinador aplica força para baixo na região distal do braço em paciente com ombro abduzido a 90° e rodado internamente, com cotovelo fletido a 90°, com dedos apontados inferiormente e polegar para medial Teste do subescapular Paciente realiza rotação interna de ombro com flexão de cotovelo, posicionando a região dorsal da mão na região lombar. O examinador solicita que afaste as mãos das costas Teste do infraespinal Paciente mantém o membro superior ao lado do tórax com flexão de cotovelo (90°). Examinador deve aplicar resistência à rotação externa 31 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Figura 9 – Teste de Jobe lateral A) B) Figura 10 – A) Teste do infraespinal; B) teste do subescapular 32 Unidade I Os principais exames por imagem utilizados no diagnóstico de lesão do manguito rotador são a ultrassonografia e a ressonância magnética, que podem evidenciar degeneração tecidual, rupturas tendíneas e demais anormalidades estruturais. Radiografias simples são importantes para avaliar alterações anatômicas, como a curvatura do acrômio, espaço subacromial, presença de esporões, cistos subcondrais, escleroses e irregularidades do tubérculo maior do úmero, pontos de calcificação e osteoartrose acromioclavicular. Em caso de ruptura parcial ou total do manguito rotador, a artrografia é um método diagnóstico eficaz, mas com a desvantagem de ser invasivo e operador-dependente. 2.2.4 Recursos terapêuticos Tratamentos de tendinopatias do manguito rotador, em geral, devem ser do tipo conservador, porém, em caso de falha, o tratamento cirúrgico pode ser indicado. A escolha do tratamento envolve a idade do paciente, comorbidades, demanda funcional, presença e grau de rupturas tendíneas; repouso relativo e modificações das atividades são medidas iniciais. A intervenção fisioterapêutica busca controlar o quadro álgico e o processo inflamatório, restaurar a ADM e restabelecer a força muscular e propriocepção do membro superior e da cintura escapular. Técnicas de mobilização reduzem a resposta inflamatória, o edema e o quadro álgico, melhorando a circulação local e reduzindo a adesão tecidual. O equilíbrio muscular do manguito rotador é importante na estabilização dinâmica e no alinhamento do ombro. Para tanto, utiliza-se fortalecimento muscular de forma isométrica e isotônica do próprio manguito, mas também do trapézio, romboides, serrátil anterior e bíceps braquial. Exercícios excêntricos aumentam o metabolismo celular e a velocidade de reparação tendínea. Disfunção escapular é comum em afecções do ombro e se deve à inibição e à desorganização dos padrões de ativação da musculatura estabilizadora escapular. Os principais músculos estabilizadores da escápula são trapézio, serrátil anterior e romboide. Quadro 4 – Exemplo de recursos terapêuticos usados na síndrome do impacto subacromial Objetivos Recursos Reduzir dor, edema e processo inflamatório Crioterapia Massagem transversa e massagem por fricção Ultrassom terapêutico Mobilizações articulares Restaurar a mecânica articular normal Mobilização escapular nas direções laterolateral e craniocaudal Exercícios de alongamento Desenvolver a estabilidade articular dinâmica e retardar atrofia muscular Exercícios de fortalecimento muscular isométricos e isotônicos com halteres Exercícios de controle neuromuscular 33 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Figura 11 – Fortalecimento de rotadores de ombro Figura 12 – Fortalecimento do manguito rotador Figura 13 – Fortalecimento de supraespinal e deltoide 34 Unidade I Figura 14 – Abdução de ombro a 90°, fortalecendo deltoide e supraespinal Figura 15 – Fortalecimento de trapézio 35 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Figura 16 – Descarga de peso sobre bola 2.3 Epicondilite lateral e medial do úmero É a causa mais frequente de dor na região do cotovelo e decorre principalmente de esforço repetitivo. Pode envolver o compartimento lateral ou o medial do cotovelo, denominados, respectivamente, epicondilite lateral e epicondilite medial. A primeira é mais frequente que a segunda e costuma acometer indivíduos de 40 a 60 anos, com proporção semelhante entre homens e mulheres. É descrita como condição degenerativa com alterações vasculares, químicas e celulares. Ainda que o termo epicondilite seja o mais utilizado, exames histopatológicos têm demonstrado que com frequência essa condição não é inflamatória, sendo um processo degenerativo, caracterizando-se assim como tendinose. Veja a seguir um caso clínico com as principais alterações relacionadas a essa afecção. Caso clínico 4 Paciente de 37 anos, sexo masculino, marceneiro e com diagnóstico clínico de epicondilite foi encaminhando ao fisioterapeuta. A principal queixa é dor no cotovelo direito há cerca de quatro meses que piora com atividade e alivia com repouso. Apresentou limitação de movimento em extensão de punho, fraqueza para prender e elevar objetos, com presença de edema em braço e antebraço direito, dor à palpação no compartimento lateral do cotovelo direito e positividade no teste de Cozen e no de Mill. Radiografia na clínica demonstrou calcificaçãoem epicôndilo lateral, e ressonância magnética revelou lesão do tendão extensor comum com zona de rotura intradendínea. Foi solicitado exame de ressonância magnética, com início de tratamento medicamentoso com anti-inflamatórios. 36 Unidade I De acordo com o diagnóstico do paciente: • Quais fatores contribuíram para sua condição? • Quais sinais podem se associar a esse diagnóstico no exame por imagem? • Quais são as intervenções fisioterapêuticas mais adequadas? 2.3.1 Aspectos gerais Epicondilite é uma condição tendinosa, não inflamatória, que degenera fibras tendíneas. Os comprometimentos patológicos na junção miotendínea no ponto comum de inserção dos músculos extensores e dos flexores de antebraço são denominados, respectivamente, epicondilite lateral (cotovelo de tenista) e epicondilite medial (cotovelo de golfista), causados por movimentos repetitivos de tração, sendo a dor seu principal sintoma. 2.3.2 Classificação e fisiopatologia Tendinose do cotovelo é classificada de acordo com a área anatômica comprometida: • Lateral: acomete o tendão do extensor radial curdo do carpo (mas raramente a borda anteromedial do extensor curto dos dedos) e a superfície posterior do extensor radial longo do carpo. • Medial: compromete a origem da musculatura flexopronadora no epicôndilo medial. • Posterior: tipo raro de tendinose do tríceps em sua inserção no olécrano. Mais conhecida como cotovelo de tenista, a epicondilite lateral degenera tendões do músculo extensor radial curto do carpo e dos extensores dos dedos. A extensão de punho associada à preensão repetitiva sobrecarrega os músculos extensores, mantidos contraídos para estabilizar a região. Já a tendinopatia epicondilar medial (cotovelo de golfista) acomete o ponto de origem dos músculos na região medial do cotovelo e afeta os músculos flexor radial do carpo, pronador redondo e, eventualmente, o flexor superficial dos dedos e flexor ulnar do carpo. Deve-se ao movimento repetitivo de flexão ativa de punho e pronação de antebraço com distensão do tendão comum no compartimento medial de cotovelo. Neuropatia ulnar concomitante pode estar associada. 2.3.3 Avaliação e diagnóstico cinesiológico-funcional É importante conhecer as características individuais do paciente, a duração dos sintomas e o grau de comprometimento funcional. A principal queixa é de dor e sensibilidade no compartimento medial ou lateral de cotovelo, devendo constar no exame físico e na inspeção do membro a avaliação da dor à palpação na origem do grupo flexor pronador no epicôndilo medial e do grupo extensor no epicôndilo lateral, além de força-teste de preensão indolor através do dinamômetro e testes provocativos. 37 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Voltando ao caso clínico: o paciente tem 37 anos e é marceneiro. Sua idade e atividade laboral assemelham-se ao perfil de indivíduos com maior incidência de epicondilite lateral, e 95% dos casos envolvem indivíduos de 35 a 55 anos, de ambos os sexos, que exercem atividades de repetição ou esforços intensos isolados. Os demais casos correspondem a cerca de 5%, compostos por jovens e/ou atletas que praticam atividades intensas. Nos exames por imagem, o paciente apresentou calcificação em epicôndilo lateral e lesão do tendão extensor comum, com zona de rotura intradendínea, alterações características de epicondilopatias. A radiografia na maioria das vezes é normal, sendo útil para excluir outras anormalidades, como artrose, osteocondrite dissecante e corpos livres intra-articulares. Apesar de radiografias de rotina do cotovelo auxiliarem pouco o diagnóstico da epicondilite, cerca de 22% dos pacientes podem apresentar calcificação nos pontos de inserção dos extensores em epicôndilo lateral. Já a ressonância nuclear magnética tem maior sensibilidade, evidenciando com mais clareza alterações locais, como lacerações, microrrupturas tendíneas e redução da ecogenicidade, conforme a ressonância nuclear magnética do caso apresentado. Exemplo de aplicação Anatomia palpatória é um recurso indispensável para uma boa avaliação. A palpação deve ser minuciosa e permitir a extração de informações das estruturas ósseas, articulares e miofasciais. Com o auxílio de um colega, identifique as estruturas envolvidas na epicondilite umeral. Epicôndilo medial: com o cotovelo flexionado a 90°, deslize o dedo na região medial e distal do úmero. Epicôndilo lateral: com o cotovelo flexionado a 90°, deslize o dedo na região lateral e distal do úmero. Tendão comum dos músculos extensores do carpo e dedos: com o cotovelo do paciente flexionado a 90° e com pronação do antebraço, segure o dorso da mão dele. Solicite que estenda o punho e então resista ao movimento. Os tendões de origem tornam-se evidentes. Adaptado de: Nobeschi (2010). Quadro 5 – Descrição das manobras irritativas para diagnosticar tendinopatias epicondilares de úmero Teste de Cozen Paciente sentado com cotovelo ligeiramente fletido e pronado, punho cerrado. O examinador solicita dorsiflexão de punho contra a resistência do examinador Teste de Mill Paciente com cotovelo em extensão e punho cerrado em dorsiflexão. O examinador aplica força em flexão de punho e solicita que ele resista à hiperflexão de punho Teste de cotovelo de golfista Examinador mantém o cotovelo do paciente fletido com antebraço em supinação e punho em extensão. Em seguida, de forma lenta, estende seu cotovelo 38 Unidade I Figura 17 – Teste de Cozen para avaliar epicondilite lateral Figura 18 – Teste de Mill para avaliar epicondilite lateral Figura 19 – Teste de cotovelo de golfista 39 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Radiografias são pouco úteis para diagnosticar epicondilite, e a ultrassonografia pode demonstrar lacerações, microrrupturas tendíneas, diminuição de ecogenicidade e presença de fluido hipoecogênico, porém a ressonância nuclear magnética em T2 é mais sensível e apresenta alterações locais com mais clareza; já a eletroneuromiografia é útil para avaliar neuropatias compressivas. A compressão do nervo interósseo posterior se associa à epicondilite lateral, e a do nervo ulnar, à epicondilite medial. 2.3.4 Recursos terapêuticos A reabilitação da epicondilite pode se dividir em duas etapas: 1) Reduzir a sobrecarga e a dor, e estimular a cicatrização tendínea. 2) Condicionar o membro superior com orientações posturais e funcionalidade. Em ambos os casos, o tratamento conservador deve modificar atividades laborais e da vida diária, adotar medicamentos e uma intervenção fisioterapêutica. Anti-inflamatórios não esteroides parecem não ter benefício, uma vez que não há processo inflamatório envolvido. De acordo com o caso clínico, podemos estabelecer um plano de tratamento com técnicas para aliviar a dor, exercícios de estiramento passivo da musculatura extensora, exercícios ativos de punho sem carga e exercícios progressivos para fortalecer músculos extensores de punho. Também é necessário orientar o paciente quanto à necessidade de reduzir as atividades relacionadas ao comprometimento. A massagem de fricção transversa profunda (cyriax) pode ser aplicada no local da lesão, aumentando a vascularização local com incremento dos nutrientes e favorecendo a regeneração tecidual. Manobras de deslizamento nos músculos do antebraço e movimentos circulares sobre o epicôndilo aumentam o relaxamento e a vascularização, e reduzem a dor. A crioterapia pode ser empregada através de aplicação local, causando vasoconstrição periférica, reduzindo a temperatura do tecido-alvo e a condutividade nervosa com consequente redução do limiar de dor. O repouso relativo combinado com exercícios terapêuticos é necessário para afastar ou reduzir as atividades repetitivas que levaram à sobrecarga, devendo-se fazer exercícios ativos, livres de dor, para manter a flexibilidade e a ADM de cotovelo, antebraço, punhos e dedos. Pode-se indicar tala volar para imobilizar punho, mas é preciso cuidado ao prescrevê-la, limitando seu usoàs duas primeiras semanas de tratamento, devido aos efeitos deletérios da imobilização prolongada. Condicionamento do membro superior, orientações posturais e uso correto de ferramentas e equipamentos esportivos e de trabalho são essenciais para o paciente retornar às atividades anteriores e evitar recidivas. Pode-se fazer exercícios de fortalecimento submáximos, concêntricos e excêntricos com halteres e faixas elásticas assim que sinais e sintomas reduzirem. Para incrementar a força e resistência muscular ao estresse repetitivo, exercícios de baixa resistência e maior número de repetições são necessários. A intensidade do exercício deve ser regulada de acordo com a ausência de dor ao movimento e ao esforço empregado. 40 Unidade I Em geral, a intervenção conservadora apresenta elevados índices de melhora do quadro, e o tratamento cirúrgico é indicado no caso de falha do tratamento conservador ou recidivas após 6 ou 12 meses, alívio mínimo com injeção de corticosteroide e dor intensa no cotovelo lesionado, mesmo em repouso – método que consiste em ressecar a área patológica de tendinose que mais frequentemente inclui a origem do tendão extensor radial curto do carpo. Quadro 6 – Exemplo de recursos terapêuticos para epicondilite lateral e medial Objetivos Recursos Reduzir sobrecarga e quadro álgico Estimular cicatrização dos tendões acometidos Crioterapia Ultrassom de baixa intensidade Laser de baixa potência Massagem transversal profunda Alongamento de extensores, flexores, pronadores e supinadores Manipulação de Mill Restabelecer força e resistência muscular ao estresse repetitivo Condicionar o membro superior Retornar às atividades anteriores Exercícios isotônicos de membro superior distal Fortalecimento progressivo excêntrico e concêntrico do punho e exercícios ocupacionais Força de preensão Exercícios em cadeia cinética fechada Exercício de remada sentada Estabilização rítmica em quadrupedia Figura 20 – Alongamento de flexores e extensores de punho e mão 41 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA Figura 21 – Exercício com resistência mecânica para fortalecer supinadores e pronadores do antebraço Figura 22 – Exercícios isotônicos para punho 42 Unidade I Figura 23 – Exercício de manguito rotador para reabilitar lesões no cotovelo Figura 24 – Exercício para fortalecer serrátil anterior 3 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS E DEGENERATIVAS DE ARTICULAÇÕES 3.1 Artrite reumatoide Articulações sinoviais estão em constante estresse físico a depender do movimento executado. A membrana sinovial é um tecido conjuntivo especializado que alinha a superfície interna das cápsulas de articulações sinoviais com a bainha do tendão da bainha sinovial, e traumas ou doenças sistêmicas 43 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – FISIOTERAPIA – como artrite reumatoide, patologias articulares, infecções, gota ou pseudogota – podem resultar em sinovite, uma inflamação dessa membrana. Processos inflamatórios que envolvem uma ou mais articulações são denominados artrites. A perda de proteoglicanos caracteriza os estágios iniciais de algumas doenças artríticas; quando isso ocorre, a cartilagem perde a flexibilidade, e o amolecimento resultante degenera o agregado de proteoglicanos, além de alterar o osso subcondral. Diversos tipos de artrite afetam articulações e tecidos conjuntivos – os mais comuns são a artrite reumatoide e a osteoartrite. A osteoartrose, ou doença articular degenerativa (DAD), acomete a cartilagem das articulações sinoviais, resultando em degeneração e deformidade óssea. Embora ambas tenham em comum o comprometimento articular, artrite e osteoartrose são patologias diferentes. Observe essas diferenças no caso clínico a seguir. Caso clínico 5 Mulher de 61 anos com diagnóstico de artrite reumatoide há 12 anos procurou serviço ambulatorial de uma clínica-escola de fisioterapia. Sua queixa principal consiste em dores articulares nas mãos, rigidez que ocorre pela manhã e cansaço constante. Relata ainda formigamento na região dos metacarpos e falanges em ambas as mãos, principalmente quando realiza atividades manuais por longos períodos. Informa que passou a ter dor nos joelhos e tornozelos, e os sintomas de dor e inflamação intensificaram-se e parecem mais frequentes. O episódio de exacerbação dos sintomas mais recente ocorreu cinco dias antes da visita. Ela apresenta dor à palpação nas articulações das mãos, edema local, aumento do volume articular, deformidade óssea de punhos em desvio ulnar, pescoço de cisne e atrofia interóssea, joelhos e tornozelos valgos. A força de preensão palmar média, através da dinamometria manual, é 0,5 kgf (mão direita) e 0,4 kgf (mão esquerda). A paciente usa ibuprofeno diariamente e, nos exames laboratoriais, apresentou atividade inflamatória aumentada, proteína C reativa e fator reumatoide positivo. A radiografia em anteroposterior da região proximal de punho e mãos revelou osteoporose periarticular, redução do espaço articular, erosão óssea e deformidades articulares. Seus objetivos são reduzir a dor, sentir menos cansaço para atividades domésticas e voltar a se dedicar à pintura terapêutica, atividade que desenvolvia como hobby. • Relacione aspectos clínicos da artrite reumatoide ao quadro descrito. • Aponte fatores que contribuíram para essas condições. • Estabeleça intervenções adequadas ao quadro clínico apresentado. 44 Unidade I 3.1.1 Aspectos gerais Artrite reumatoide é uma doença autoimune sistêmica idiopática, caracterizada por uma sinovite inflamatória destrutiva para a cartilagem articular. Pode ocorrer em qualquer idade, mas sua incidência aumenta com o envelhecimento, iniciando-se durante a quarta ou quinta década de vida. A expressão artrite juvenil remete à doença ainda na infância, caracterizada por artrite, sem etiologia definida, por um período igual ou superior a 6 semanas, sendo o diagnóstico pediátrico mais comum entre crianças nos Estados Unidos. Sua incidência é desconhecida no Brasil, mas dados da América do Norte e Europa apontam que de 0,1 a 1 criança em cada 1.000 tenha essa patologia (FOSTER; RAPLEY, 2010). Inicia-se comumente nas articulações do braço e das mãos, associada a manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Pode ocorrer poliartrite aguda associada à sinovite persistente nas mãos e rigidez matinal prolongada, acometendo principalmente as articulações metacarpofalangianas e interfalangianas. Na artrite reumatoide a imunoglobulina IgG anormal e os anticorpos IgM desenvolvem-se em resposta aos fatores reumatoides, formando complexos imunes circulantes, que se fixam no tecido conjuntivo, principalmente na sinóvia, gerando uma resposta inflamatória. Mediadores inflamatórios ativam e atraem neutrófilos e demais células inflamatórias, e a sinóvia se espessa e acumula líquido no espaço articular, formando um pannus (tecido cicatricial) e desgastando cartilagem articular e osso, seguido de anquilose óssea, calcificação e redução da densidade mineral óssea. Pode aparecer em qualquer idade e acomete cerca de duas vezes mais mulheres do que homens, principalmente entre 40 e 50 anos, como é o caso da paciente do caso clínico, e a incidência aumenta com a idade. O sistema imunológico feminino mostra reatividade aumentada como resultado da produção de anticorpos, com resposta mais forte ao interferon tipo 1 (IFN-1), aumentando o número de antígenos pelos monócitos. Doenças autoimunes são altamente influenciadas por estímulos hormonais, e seu curso pode ser modificado pela gravidez ou pelo uso de contraceptivos orais. Genes codificados nos cromossomos X e Y são responsáveis pela diferença das gônadas e dos produtos hormonais, determinando o fenótipo do indivíduo. Na menopausa, a maior parte da produção ovariana de hormônios sexuais cessa, embora alguma produção de testosterona, androstenediona, DHEA, estrona e estradiol já tenha sido mostrada dez anos após a interrupção fisiológica. A ooforectomia
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