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cUNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE LETRAS Uma análise sintático-semântica dos verbos de editoração do inglês Gabriela Vilela Souza Martins Orientadoras: Prof.ª Dr.ª Márcia Cançado Prof.ª Dr.ª Luana Amaral Belo Horizonte 2022 UMA ANÁLISE SINTÁTICO-SEMÂNTICA DOS VERBOS DE EDITORAÇÃO DO INGLÊS Trabalho monográfico de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel em Letras (Inglês/Estudos Linguísticos). Belo Horizonte, 10 de janeiro de 2022. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Afiliações ________________________________________ Prof. (Nome do professor avaliador) Afiliações ________________________________________ Prof. (Nome do professor avaliador) Afiliações AGRADECIMENTOS Aos meus pais, por serem sempre a minha motivação e os melhores exemplos que eu poderia ter tido. Obrigada por acreditarem em mim sempre, por todos os sacrifícios e, principalmente, por me amarem sempre. Aos meus amigos, por todas as risadas, os conselhos, por suas palavras motivadoras e por me escutarem quando eu preciso. À minha avó, sinônimo de força e determinação. Obrigada por ter lutado tanto para que nossa família chegasse onde está hoje. À minha orientadora, Professora Luana Amaral. Obrigada por toda atenção, compreensão, paciência desde a coleta dos dados até a fase da escrita. Obrigada por cada comentário e por ficar tão empolgada quanto eu com o trabalho final. Sem você, nada disso teria sido possível. À UFMG, por proporcionar educação pública de melhor qualidade para todos e por ser resistência contra as tentativas de desmonte das universidades federais. E por último, mas não menos importante, eu agradeço ao SUS e aos cientistas: esta monografia nada tem a ver com a área da saúde, mas sem os esforços dos profissionais brasileiros que lutam pela saúde pública, eu e todos que amo não estaria aqui. RESUMO Este trabalho se propõe a analisar e a classificar os verbos de editoração do inglês, to edit ‘editar’, to copy edit ‘preparar’, to proofread ‘revisar’, to typeset ‘diagramar’ e to format ‘formatar’. Para isto, está inserido na área de Semântica de Frames e de Interface Sintaxe- Semântica Lexical. A primeira linha de pesquisa considera as palavras como pertencentes a um mesmo domínio que, através de uma estrutura e contexto prototípicos, são categorizadas como parte de frames, sendo evocadas pela memória do falante, possibilitando a inferência de seus significados ainda que este não tenha o conhecimento específico em relação à palavra usada. Sendo assim, assume-se a existência do frame PUBLISHING ‘EDITORAÇÃO’ em que os verbos aqui analisados estão inseridos. A linha de pesquisa Interface Sintaxe-Semântica Lexical considera que se um grupo de verbos se comporta de maneira semelhante no aspecto sintático, podem, a priori, compartilhar propriedades semânticas. Dessa forma, a análise sintática e semântica dos verbos de editoração se deu com o objetivo de classificá-los dentro de um aspecto lexical básico, além de pertencentes ao frame de PUBLISHING, uma vez que estudos a respeito desses verbos em ambas as áreas de pesquisa aqui seguidas são inexistentes. Para que a análise fosse realizada, ocorrências dos cinco verbos foram coletadas em sites de editoras, manuais online, páginas que oferecem os serviços de edição, preparação, revisão e formatação. Com os resultados obtidos, constata-se que os verbos de editoração pertencem ao mesmo frame e ao mesmo aspecto lexical básico de accomplishment. Por compartilharem tais propriedades, também se assume que compartilham as mesmas estruturas argumentais e sintáticas. No entanto, tais verbos podem apresentar também outras características, como o aspecto derivado de atividade e um tipo de intransitivização, quando inseridos em determinados contextos temporais. Conclui-se ao final que os verbos de editoração do inglês compartilham semelhanças semânticas e sintáticas, sendo, assim, da mesma classe aspectual e do mesmo frame. Uma comparação com os mesmos verbos em português demonstrou que estes também apresentam as mesmas características. PALAVRAS-CHAVE: verbos de editoração; semântica de frames; interface sintaxe- semântica lexical; semântica lexical. ABSTRACT This work proposes to analyze and classify the publishing verbs of English, to edit, to copy edit, to proofread, to typeset, and to format. For this reason, it is inserted in the Frame Semantics and Syntax-Lexical Semantics Interface fields. The first line of research considers words as belonging to the same domain that – through a prototypical structure and context – are categorized as part of frames, being evoked by the speakers’ memory, allowing the inference of its meanings even though they do not have specific knowledge relating to the word that was used. In this way, it is assumed the existence of the PUBLISHING frame in which the verbs here analyzed are inserted. The Syntax-Lexical Semantics Interface field considers that if a group of verbs behave in a similar manner in the syntactic context then they can share semantic proprieties. Therefore, the syntactic and semantic analyzes of the publishing verbs had the objective of classifying them inside one basic lexical aspect, apart from belonging to the PUBLISHING frame, once studies regarding these verbs in both fields followed here are nonexistent. In order for the analysis was accomplished, it was collected data from the five verbs in publishers websites, online manuals, pages that offer services of editing, copy editing, proofreading, and typesetting. With the obtained results, it was established that the publishing verbs belong to the same frame and to the same basic lexical aspect of accomplishment. For sharing such proprieties, it was assumed that they share the same argument and syntactic proprieties. However, such verbs may also present other characteristics such as the derived aspect of activity and one type of intransitivization when inserted in certain temporal contexts. It is concluded at the end that English publishing verbs share semantic and syntactic similarities, belonging so to the same aspectual class and frame. A comparison to the same verbs in Portuguese demonstrated that these also present the same characteristics. KEYWORDS: publishing verbs; frame semantics; syntax-lexical semantics interface; lexical semantics. Sumário 1 Introdução ........................................................................................................................... 1 1.1 Hipótese, objetivo e justificativa ................................................................................... 3 1.2 Metodologia ................................................................................................................. 4 2 Referencial teórico .............................................................................................................. 7 2.1 Semântica de Frames .................................................................................................... 7 2.2 A Interface Sintaxe-Semântica Lexical ......................................................................... 9 2.3 A Semântica de Frames e a Semântica Lexical ........................................................... 11 2.4 O aspecto lexical e as classes verbais .......................................................................... 12 2.5 Os papéis temáticos ....................................................................................................16 3 Análise dos verbos de editoração no inglês ........................................................................ 17 3.1 A estrutura sintático-semântica dos verbos de editoração no inglês ............................. 17 3.2 Uma breve análise dos verbos de editoração no português brasileiro ........................... 35 4 Conclusão ......................................................................................................................... 39 Referências .......................................................................................................................... 41 Apêndice A – Quadros com os dados e suas respectivas análises em inglês .......................... 43 Apêndice B – Quadros com os dados e suas respectivas análises em português .................... 55 Apêndice C – Testes ............................................................................................................ 68 1 1 Introdução No Português Brasileiro (daqui em diante PB), segundo Borba (1990), há cerca de 6.000 verbos. 1.500 deles estão classificados, de acordo com sua sintaxe e semântica, no banco de dados VerboWeb (Cançado; Amaral; Meirelles, 2017). No inglês, Levin (1993) classificou mais de 3.000 verbos com base nos significados e comportamentos que apresentam em comum. Ainda assim, não há nenhum trabalho de classificação que considere os verbos de editoração, nem no PB (editorar,1 editar, preparar, revisar, formatar, diagramar), nem em inglês (to edit, to copy edit, to proofread, to typeset e to format) na literatura em Semântica Lexical. Assim, este trabalho irá investigar os verbos de editoração do inglês, apresentando também uma comparação com o PB, buscando suprir essa lacuna nos estudos sobre as classes de verbos. Os “verbos de editoração” foram assim denominados, pois dizem respeito ao que acontece com o livro (ou outro tipo de material manuscrito, como artigos) dentro de uma editora, no setor de editoração. Poderíamos chamá-los de “verbos de editora”, no entanto, tal nomenclatura seria abrangente demais se pensarmos em quantos setores diferentes existem dentro de uma editora e que a editoração do livro, nosso foco, é algo específico, relacionado ao conteúdo e aparência deste, ao contrário, por exemplo, do setor de direitos autorais, de assessoria ou de assistência editorial. Assim, os verbos de editoração, tanto do português quanto do inglês, dizem respeito, segundo o guia do processo de publicação da Bloomsbury, a: i) o ato de polir a história; ii) melhorar a coerência e a coesão; iii) verificação de informações, corrigir erros gramaticais, esclarecer dúvidas com o autor; iv) padronização de destaques e nomes; v) organização de elementos gráficos e aplicação de estilos; e vi) verificação de erros despercebidos e da aplicação dos padrões de estilo. Tendo em vista que os cinco verbos pertencem aos procedimentos que acontecem no setor editorial, podemos afirmar que fazem parte do mesmo frame, ou domínio, sendo a Semântica de Frames uma perspectiva teórica também relevante para o presente trabalho. No Referencial Teórico, abordaremos com mais detalhe essa teoria, no entanto se torna importante mencioná-la aqui, pois os verbos de editoração não são classificados dentro de um mesmo frame na base de dados FrameNet, sendo o frame PUBLISHING ‘EDITORAÇÃO’, uma proposta original deste trabalho. 1 Torna-se importante salientar a falta de equivalência ao termo “editoração” em inglês, que não apresenta distinção do termo “edição”, como encontra-se no português. 2 O FrameNet, existente desde 1997, sediado no Instituto Internacional de Ciência da Computação, em Berkeley (Califórnia), é um projeto em construção do léxico em inglês baseado “em exemplos comentados de como as palavras são usadas em textos reais.” (RUPPENHOFER et al., 2016).2 Segundo o site, para o pesquisador em processamento de linguagem natural, as mais de 200 mil sentenças comentadas fornecem uma base de dados única para a classificação de papéis semânticos. Para o estudante, é um dicionário com mais de 13 mil palavras com os significados comentados e o uso. Para professores e estudantes, o FrameNet serve como dicionário de valência com evidências unicamente detalhadas e exclusivas para as propriedades combinatórias de um conjunto básico do léxico do inglês. Dessa maneira, o FrameNet apresenta diversas entradas lexicais e os seus frames, mas não encontramos entradas para to edit, to copy edit, to typeset, apenas para proofread e format estando classificados dentro do frame de inspecting e arranging, respectivamente. Segundo Fillmore (1976), uma palavra pode pertencer a mais de um frame, o que justificaria a inserção desses dois verbos nos frames mencionados acima, além do mais, “inspecionar” e “arranjar” fazem parte do significado de proofread e format. A revisão de provas “inspeciona” o que o editor, o preparador e o diagramador deixaram para trás, enquanto a formatação “arranja” os elementos textuais ou não na página. De qualquer forma, as classificações semânticas diferem nas duas entradas do FrameNet, ao contrário do que encontramos nos dados analisados neste trabalho monográfico. Na base de dados do FrameNet, uma unidade lexical (lexical unit) é uma palavra combinada com um significado. Uma palavra polissêmica, por exemplo, e seus significados pertencem a diferentes semânticas de frame, cuja representação se dá por meio de algo similar a um roteiro que descreve um cenário, um objeto junto ao participante. Sendo assim, considerando as definições dadas por RUPPENHOFER et al (2016, p. 7-8), o frame de PUBLISHING descreverá uma situação envolvendo um editor, preparador, revisor, diagramador e algum livro, sendo evocado por palavras como edição, manuscrito, original, publicação, diagramação, etc., que são denominadas como elementos do frame (frame element). Além de propor a existência do o frame PUBLISHING ‘EDITORAÇÃO’ em que os verbos de editoração se encaixam, este trabalho também se propõe a fazer uma análise das propriedades semânticas e sintáticas desses verbos, assumindo a proposta de análise da interrelação entre propriedades semânticas e sintáticas (Levin, 1993; Cançado e Amaral, 2 Do original: “on annotating examples of how words are used in actual texts” (tradução nossa). 3 2016), que também será detalhada no Referencial Teórico. Dessa forma, os verbos foram analisados em termos de sua grade temática, seu aspecto lexical e formas sintáticas em que ocorrem nas sentenças. Os dados foram coletados em sites de editoras, manuais online e páginas que oferecem os serviços de edição, preparação, revisão e formatação, o que será detalhado na seção de Metodologia. Todas as ocorrências coletadas dos cinco verbos apresentaram os papéis temáticos agente e paciente, sendo um ou outro nem sempre explicitados nas sentenças, assim como o sujeito e o objeto direto. Em relação aos testes de definição de classe aspectual, a princípio, obtivemos resultados que nos permitiriam classificá-los como verbos de accomplishment. No entanto, algumas de suas características demonstram que eles também podem ser classificados como atividades, o que será mais detalhadamente discutido em Análise dos verbos de editoração no inglês, o Capítulo 3. Este trabalho monográfico está dividido da seguinte maneira: no restante deste capítulo, a seguir, apresentaremos a estrutura da pesquisa: na seção 1.1, mostramos a hipótese, objetivo e justificativa; na subseção seguinte, explicaremos a metodologia usada. O Capítulo 2 contém o referencial teórico, sendo seguido pelo Capítulo 3, que traz a análise e discussão dos dados. E terminamos com a conclusão. 1.1 Hipótese, objetivo e justificativa Como hipótese para este trabalhomonográfico, consideramos os verbos de editoração como um grupo relevante de verbos para o estudo do léxico e da gramática do inglês a partir das propriedades semânticas e sintáticas que são compartilhadas entre eles. Por causa dessas semelhanças, acreditamos que os verbos de editoração não apenas fazem parte do mesmo frame, como também da mesma classe aspectual básica. Considerando a lacuna de estudos na literatura sobre os verbos de editoração como justificativa para este trabalho, o nosso objetivo é poder supri-la, o que será realizado, inicialmente, por meio da coleta dos verbos em textos específicos e pela análise do frame PUBLISHING. Logo em seguida, os dados terão as suas propriedades semânticas e sintáticas analisadas para a sua classificação aspectual, sob a óptica da perspectiva da Interface da Sintaxe-Semântica, e comparados com os verbos do PB de maneira breve, a fim de demonstrar que apresentam traços em comum. 4 1.2 Metodologia Este trabalho foi desenvolvido a partir da pesquisa inicial realizada para a disciplina de Estudos Temáticos de Semântica: VerboWeb: verbos, propriedades sintáticas e propriedades semânticas do PB, com a professora doutora Márcia Cançado, no primeiro semestre de 2020. Para essa disciplina, um grupo de verbos, pertencentes ao mesmo domínio semântico, foi selecionado a fim de que pudéssemos realizar a classificação aspectual, a classificação dos papéis temáticos e de outras propriedades classificatórias de acordo com as encontradas no site VerboWeb (Cançado; Amaral; Meirelles, 2017). Então, realizou-se diversos testes com dados construídos a partir de nossa intuição de falantes. Tais testes, relacionados à Semântica Lexical, foram testes aspectuais, como os propostos por Van Valin (2005), Dowty (1979), Cançado e Amaral (2016), e testes de papel temático, propostos por Jackendoff (1972) e Cançado e Amaral (2016). Por conseguinte, este trabalho monográfico foi desenvolvido com os verbos de editoração em inglês (to edit, to copy edit, to proofread, to typeset e to format), levando em consideração as descobertas feitas a partir dos testes com os verbos equivalentes no PB. Os dados foram retirados de sites específicos do mercado editorial, como posts de editoras, manuais online, páginas que oferecem os serviços de edição, preparação, revisão e formatação, levando-se em conta que estes domínios teriam mais propriedade intelectual para discorrer sobre o tema; além disso, a intenção era coletar dados com os significados relacionados à edição de livros ou textos uma vez que há edição de imagens, preparação de peças teatrais, revisão de automóveis, formatação de aparelhos eletrônicos e diagramação de histórias em quadrinhos. Os sites abaixo foram alguns dos que usamos para coletar os dados: Site da editora Bloomsbury: https://www.bloomsbury.com/us/academic/for- authors/a-guide-to-the-publishing-process/; Site da associação de editores de Nova Iorque: https://nybookeditors.com/2016/05/whats-the-difference-between-copyediting-and- proofreading/; Site de The Write Life, blog que oferece ajuda para autores: https://thewritelife.com/self-editing-basics/; Site da plataforma Scribbr que edita e revisa trabalhos acadêmicos: https://www.scribbr.com/language-rules/what-is-proofreading/; Site da Book Riot, blog sobre o mundo editorial: https://bookriot.com/how-to- find-the-editor-of-a-book/; https://www.bloomsbury.com/us/academic/for-authors/a-guide-to-the-publishing-process/ https://www.bloomsbury.com/us/academic/for-authors/a-guide-to-the-publishing-process/ https://nybookeditors.com/2016/05/whats-the-difference-between-copyediting-and-proofreading/ https://nybookeditors.com/2016/05/whats-the-difference-between-copyediting-and-proofreading/ https://thewritelife.com/self-editing-basics/ https://www.scribbr.com/language-rules/what-is-proofreading/ https://bookriot.com/how-to-find-the-editor-of-a-book/ https://bookriot.com/how-to-find-the-editor-of-a-book/ 5 Site Books by Women, destinado às autoras de todo o mundo: http://booksbywomen.org/how-i-kept-going-in-the-face-of-rejection-and-how-you-can-too/; Site da UK Book Publishing, destinado à publicação de manuscritos: https://ukbookpublishing.com/examples/page/3/. Após a coleta de dados, as ocorrências foram dispostas em quadros separados para cada verbo, contendo a análise sintática como segunda coluna e a análise semântica na terceira coluna (Apêndice 1). Em seguida, realizamos os testes de aspecto lexical (Apêndice 2) tendo como base os autores supracitados. A começar pelo que foi proposto por Van Valin (2005, p. 33), a pergunta what happened? ‘o que aconteceu?’ tem como objetivo demonstrar verbos que apresentam um acontecimento em oposição aos que codificam um “não- acontecimento” como os verbos de estado, cujas respostas seriam consideradas inadequadas por não serem dinâmicos. Prosseguindo, aplicamos o teste do paradoxo do imperfectivo, sugerido por Dowty (1979 apud Cançado; Amaral, 2016, p. 155), que evidencia a natureza atélica e dinâmica dos verbos de atividade por meio de uma sentença com o verbo no aspecto contínuo, com a perífrase do gerúndio, que acarretaria uma sentença equivalente no aspecto perfectivo, com o pretérito perfeito. Se o verbo for de atividade, o sentido se dará de evento acabado em qualquer uma das duas sentenças. Se o verbo não for de atividade, o sentido será de evento inacabado com o verbo no aspecto contínuo marcado pelo gerúndio e de acabado no aspecto perfectivo. O próximo teste realizado, também proposto por Dowty (1979 apud Cançado; Amaral, 2016, p. 158-159), baseado em Morgan (1969), é o da ambiguidade de escopo com o advérbio almost ‘quase’ acrescido às sentenças. Como os verbos de accomplishment se compõem de diferentes subeventos, o almost ‘quase’ agregado gera uma ambiguidade, pois pode incidir em qualquer um dos subeventos que pertencem ao evento maior. Verbos de atividade e de achievement não apresentam subeventos, portanto o advérbio não gera ambiguidade e os verbos de estado não codificam eventos. Posteriormente, aplicamos os testes for α time ‘por α tempo’ e in α time ‘em α tempo’, propostas por Dowty (1979 apud Cançado; Amaral, 2016, p. 160), que estabelecem um intervalo temporal sem estabelecer o momento da culminação do evento e um intervalo temporal com a culminação sendo determinada, respectivamente. Verbos de atividade aceitam a primeira expressão adverbial, pois são atélicos, enquanto os da classe accomplishment aceitam a segunda por serem télicos. Adjuntos também foram acrescentados após tais http://booksbywomen.org/how-i-kept-going-in-the-face-of-rejection-and-how-you-can-too/ https://ukbookpublishing.com/examples/page/3/ 6 expressões adverbiais temporais. Também sugerido por Dowty (1979 apud Cançado; Amaral, 2016, p. 164), utilizamos o teste com a expressão stopped ‘parar de’, que caracteriza a ausência de intervalos internos dos verbos de achievement, pois tais verbos em sentenças com essa expressão são agramaticais. Para a classificação dos papéis temáticos, os testes para agente e paciente, propostos por Jackendoff (1972, p. 32; 1983 apud Levin, 2009, p. 7), foram utilizados. Segundo o autor, quando a sentença apresenta um agente, ela aceita as expressões: what X did was ‘o que X fez foi’, deliberately ‘deliberadamente’, intentionally ‘intencionalmente’, in order to ‘a fim de que’, so that ‘para que’, on purpose ‘de propósito’. E quando tem um paciente, aceita: what happened to Y ‘o que aconteceu com Y’, what X did ‘o que X fez’, what happened was ‘o que aconteceu foi’. A seguir, passamos para o referencial teórico em que baseamos a pesquisa e depois para a análise. 7 2 Referencial teórico Para fundamentar a análise dos verbos de editoração, objeto deste trabalho monográfico, as teorias sobre a Semântica de Frames, a Interface sintaxe-semânticalexical, classes verbais e representações, aspecto lexical e papéis temáticos foram empregadas e serão explicitadas a seguir. 2.1 Semântica de Frames A noção de frames havia sido abordada nas áreas da psicologia e da inteligência artificial quando Charles Fillmore, em seu texto de 1976, propôs que durante o processo de categorização de um sistema linguístico deveria ser adicionado também uma descrição cognitiva e interacional de frames, considerando isso como algo que o falante usa para interpretar seu ambiente, formular suas próprias mensagens, compreender as dos outros enquanto acumula conhecimento interno de mundo, gerando assim seu próprio modelo. Os conceitos em que Fillmore se apoiou inicialmente são de contexto, protótipo, a noção de frame ou “esquema” e a noção de “memória semântica”. Primeiramente, para o autor, o significado das palavras pode depender de experiências contextuais. É importante, então, relacionar nossa base perceptual ou experiencial a contextos em que emoções, objetos e propriedades são experienciadas, já que o significado pode ser inseparável dessas experiências (FILLMORE, 1976). Quando interpretamos um enunciado, por exemplo, tendemos a levar em consideração o contexto, seja do que estamos ouvindo ou lendo, e a nossa memória de enunciados passados, ou parte deles, que ocorreram em contextos semelhantes. Em relação à segunda noção, para compreender algo ou um conceito é necessário ter armazenado na memória um repertório de protótipos relacionado ao assunto para que o objeto ou conceito seja visto como parte de algum dos protótipos. Por exemplo, uma criança vê um leão pela primeira vez e o chama de “gato”, pois conhece a espécie domesticada já que a outra se assemelha fisicamente a esta. Por fim, a noção de “esquema” ou de frame é que, basicamente, as pessoas “têm na memória um inventário de esquemas para estruturar, classificar e interpretar experiências, e eles têm várias maneiras de acessar esses esquemas e vários procedimentos para performar operações neles.” (FILLMORE, 1976, p. 25).3 Certas palavras ou frases são associadas a certos frames que são ativados quando o falante as percebe. Se alguém fala que X se divorciou de Y, interpretamos que X e Y foram 3 have in memory an inventory of schemata for structuring, classifying, and interpreting experiences, and they have various ways of accessing these schemata and various procedures for performing operations on them. 8 casados, pois “divórcio” faz parte do frame ou “esquema” de MATRIMÔNIO. Por conseguinte, foi ativado na mente do falante uma associação por meio da memória semântica onde o frame permite a interpretação correta da sentença, baseando na nossa experiência de mundo. Algumas palavras, no entanto, são polissêmicas e por isso podem pertencer a diferentes frames, como acontece com editing ou formatting que são relacionadas não apenas com textos, mas também com vídeos, fotos e aparelhos eletrônicos no último caso. Ainda assim, ao ter contato com tais palavras, o falante é capaz de contextualizar o uso com base na sua memória de experiências (FILLMORE, 1976) e interpretá-las corretamente, porque irá completar os detalhes com apoio do seu sistema de conhecimento ou perguntando ao interlocutor. Em seu texto de 1981, Fillmore define frames como “qualquer sistema de conceitos relacionados de tal maneira que para entender qualquer um deles, você precisa entender a estrutura inteira em que se encaixa [...]”4 (FILLMORE, 1981, p. 111) e quando uma das palavras nessa estrutura é introduzida em um texto, todas as outras pertencentes à mesma estrutura ficam disponíveis para compreensão. Então, as palavras representam categorizações de experiência que os falantes escolhem usar por causa de alguma situação motivadora relacionada ao contexto, e seus significados e a razão por trás de seu uso são o que a pesquisa da Semântica de Frames se esforça para saber, além de também tentar explicar o significado das palavras graças a essas razões. Se as palavras estão dentro de um mesmo contexto ou domínio, é possível afirmar que elas estão relacionadas e que os falantes, conhecendo o domínio por completo, são capazes de inferir o significado de uma palavra que não conhecem, mas pertence a determinado contexto (FILLMORE, 1985). Segundo o autor, um “frame é evocado pelo texto se alguma forma linguística ou algum padrão é convencionalmente associado ao frame em questão” (p. 232).5 Semântica de Frames é uma teoria de como “conceitos são organizados e representados na mente” (CROFT, 2009, p. 7),6 são conceitos interconectados como as palavras flesh e meat (ambas podem ser traduzidas como “carne” no português): falantes do inglês compreendem a primeira como “carne humana” ou “carne animal” que está inserida no frame BODY (CORPO), enquanto a última é interpretada dentro do domínio de FOOD 4 Do original: “any system of concepts related in such a way that to understand any one of them you have to understand the whole structure in which it fits [...].” (Tradução nossa). 5 Do original: “frame is evoked by the text if some linguistic form or pattern is conventionally associated with the frame in question.” (Tradução nossa). 6 Do original: “concepts are organized and represented in the mind.” (Tradução nossa). 9 (COMIDA). Assim como Fillmore (1982) – que defende que para entender a estrutura semântica do verbo é necessário entender as propriedades das cenas esquematizadas (os frames) –, Croft (2009, p. 8) afirma que nos casos desses substantivos, seus argumentos e seus adjuntos podem oferecer informações sobre a sua estrutura semântica de frames. Dancygier e Sweetser (2014) afirmam que existem relações e papéis dentro das estruturas de frames, tipicamente em casos de frames complexos, como o mencionado anteriormente: MARRIAGE (CASAMENTO), que envolve um Marido, Esposa, Sogro, Sogra cujos papéis e relações são diferentes. Sendo assim, a teoria de Semântica de Frames se torna relevante para o atual trabalho, pois, como veremos no próximo capítulo, existe uma relação entre os cinco verbos analisados, sendo PUBLISHING (EDITORA)7 o frame em comum evocado pelas ações de to edit, to copy edit, to proofread, to typeset e to format. Graças ao conhecimento de mundo compartilhado pelos falantes, essa relação se mostra incorporada quase que inerentemente no repertório lexical da língua. Apesar de os frames serem fundamentais na interpretação e na construção do enunciado, é amplamente assumido na literatura que a estrutura de eventos é responsável pela organização e expressão sintática dos verbos de uma língua. Croft e Vigus (2017, p. 148) esclarecem que “a estrutura de eventos não é igual a estrutura de frames (apesar de que em alguns casos pode haver apenas uma estrutura de eventos que é lexicalmente realizada para um frame particular)”.8 Na próxima seção, exploramos com mais detalhes a Interface Sintaxe-Semântica Lexical, as diferenças entre a Semântica de Frames e a Semântica Lexical, as propriedades da estrutura de eventos, ou seja, o aspecto lexical e a estrutura temática. 2.2 A Interface Sintaxe-Semântica Lexical A Interface Sintaxe-Semântica Lexical, também conhecida simplesmente como Semântica Lexical é uma abordagem da Semântica Representacional: é uma teoria que considera a relação da língua com as representações mentais e ocupa-se com os sentidos das palavras e suas relações com as propriedades linguísticas, assim como a Semântica de Frames. O foco deste campo de estudo da Semântica “é propor análises teóricas e descrições dos sentidos dos itens lexicais como representações mentais” (CANÇADO; AMARAL, 2016, 7 O frame introduzido aqui é uma proposta nossa, uma vez quenão foi encontrada nenhuma proposta semelhante à que estamos apresentando para os verbos de editoração. 8 Do original: “event structure is not equated to frame structure (though in some cases there may be only one event structure that is lexically realized for a particular frame). (Tradução nossa). 10 p. 16), tendo em vista a capacidade mental e interna dos falantes que os capacitam para produzir e compreender construções em suas línguas maternas. A Semântica Lexical, porém, difere da Semântica de Frames por considerar a interface com a sintaxe como principal ponto de partida no estudo do significado das palavras. E a parte do significado das palavras, especialmente dos verbos, que está sob análise é a estrutura de eventos. Mais especificamente para este trabalho, será considerada a abordagem sobre Semântica Lexical adotada por Cançado e Amaral (2016), que trazem uma visão projecionista a respeito do léxico. Dessa forma, o léxico pode ser pensado como “o componente da gramática que contém todas as informações sobre as propriedades estruturais dos itens lexicais” (p. 26) e que aceita generalizações e regras. Para esta linha de estudo, algumas propriedades lexicais dos verbos são irrelevantes para o estudo dos seus comportamentos gramaticais, como “apresentar uma ideia de cor” em verbos como to paint ‘pintar’ ou “denotar a emissão de sons altos ou baixos” como to whisper ‘sussurrar’ em comparação a to shout ‘gritar’. Por outro lado, “agir com intenção”, propriedade dos sujeitos de verbos como to write ‘escrever’ e to cook ‘cozinhar’, se mostra relevante em comparação aos verbos que não licenciam tal propriedade, como to believe ‘acreditar’. A passivização, por exemplo, é sensível a essa propriedade. (1) The book was written. ‘O livro foi escrito.’ (2) The lasagna was cooked. ‘A lasanha foi cozinhada.’ (3) *The mother was believed. ‘*A mãe foi acreditada.’ Tanto em (1) quanto em (2) temos sentenças na voz passiva com verbos cujos sujeitos agem com intenção, enquanto a sentença em (3), com um verbo cujo sujeito não possui essa propriedade, é simplesmente agramatical, não aceitando a passiva. Portanto, essa diferença de propriedades entre os verbos é considerada importante para a Semântica Lexical, uma vez que, para classificar os verbos (um dos principais objetivos da área), suas propriedades sintáticas também precisam ser consideradas, além das propriedades semânticas. Assim, se um grupo de verbos se comporta de maneira semelhante no aspecto sintático, podem, a priori, compartilhar também propriedades semânticas. Essas propriedades 11 relevantes são aquelas associadas à estrutura de eventos, as propriedades temáticas, como o exemplo acima “agir com intenção” e o aspecto lexical, que será explorado mais adiante. 2.3 A Semântica de Frames e a Semântica Lexical Como foi dito anteriormente, a Semântica de Frames assim como a Semântica Lexical, irá se preocupar com a representação da língua na mente dos falantes (CANÇADO; AMARAL, 2016). No entanto, a última tem como proposta análises teóricas e descrições dos sentidos de itens lexicais como representações mentais, enquanto a primeira propõe que para que haja a compreensão de uma palavra é necessário que o falante ative sua memória e experiências – selecionadas, filtradas e generalizadas – pelas quais eles aprenderam determinadas palavras por meio de suas definições e funções (FILLMORE, 1976, p. 27). Para a Semântica de Frames, uma maneira de examinar uma língua é providenciar um inventário dos frames que apresentam reflexos linguísticos, tendo como foco o número de frames, as áreas de elaboração especial, o nível em que frames complexos foram pré- armazenados em significados lexicais, a estrutura e a complexidade de tais frames (FILLMORE, 1976, p. 29). Para a Semântica Lexical, o foco é estabelecer a relação entre a semântica e a sintaxe dos verbos, além de encontrar a estruturação e as propriedades sintáticas das sentenças. Dessa forma, essa teoria irá determinar a sintaxe por meio das propriedades semânticas dos itens lexicais (CANÇADO; AMARAL, 2016, p. 36). A Semântica de Frames tem um jeito especial de olhar o significado das palavras assim como também caracterizar princípios para criar novas palavras e sintagmas, para adicionar novos significados e para agrupar os significados dos elementos em um significado geral de um texto (Fillmore, 1982). Para Fillmore (apud Nedelcheva; Krysteva, 2018), o verbo to buy ‘comprar’ está inserido no frame COMERCIAL TRANSACTION ‘TRANSAÇÃO COMERCIAL’ e requer um comprador, que seria o sujeito da sentença, o bem, classificado como objeto direto, o vendedor (introduzido por um sintagma preposicional) e o preço – esses dois últimos argumentos não são obrigatórios, uma vez que o foco do verbo é o sujeito, quem compra. O verbo to cost ‘custar’ está dentro do mesmo campo semântico do to buy, mas apresenta diferenças em sua ordem sintática: o bem ocupa a posição de sujeito, o valor aparece como objeto direto, o comprador como objeto indireto. Para a Semântica Lexical, os verbos são classificados aspectualmente, levando em consideração a estrutura semântica e sintática, e as propriedades que compartilham. O verbo to love ‘amar’, por exemplo, é classificado como estativo, uma vez que não apresenta dinamicidade, culminação e é durativo; tem como papel temático o experienciador, quem 12 sente, e o objeto estativo, ocupando a posição sintática de sujeito e objeto direto, respectivamente. O mesmo acontece com o verbo to live ‘viver’, também classificado como verbo estativo, compartilhando as mesmas estruturas semânticas e sintáticas: experienciador como sujeito e objeto estativo como objeto direto. Apesar desses diferentes pontos de vista, tanto a Semântica de Frames quanto a Semântica Lexical se ocupam do sentido das palavras e de seu impacto na organização da língua. As duas áreas compartilham também o princípio geral de que a semântica determina e organiza a sintaxe. Sendo assim, é possível dizer que as áreas se complementam. A Semântica de Frames se ocupa da análise mais geral do sentido das palavras, a partir de esquemas sobre a experiência dos falantes, enquanto a Semântica Lexical analisa as propriedades da estrutura de eventos que determinam a realização sintática dos argumentos. Assim, para a análise dos verbos de editoração, nos valeremos de recursos de ambos os campos. A Semântica de Frames une esses verbos a partir da ideia de que todos evocam o mesmo frame PUBLISHING; a Semântica Lexical aponta caminhos para a análise de sua estrutura de eventos, que determina as estruturas sintáticas em que se encaixam. 2.4 O aspecto lexical e as classes verbais O aspecto lexical (ou aktionsart) é uma propriedade semântica que expressa o tempo interno do verbo e como a situação descrita por ele se desenrola no tempo. Ele se difere do tempo, pois este é marcado deiticamente, através de morfemas que indicam o passado, o presente e o futuro a partir do que o enunciado emite. O aspecto lexical é inerente ao que o verbo significa, que não é marcado morfossintaticamente, pois já está na entrada lexical.9 Como dissemos anteriormente, se verbos compartilham características sintáticas entre si, também irão apresentar semelhanças semânticas, podendo então ser classificados nas mesmas classes verbais. Vender (1967 apud Cançado; Amaral, 2016, p. 147) agrupa os verbos em quatro classes aspectuais: verbos de estado, de atividade, de achievement e de accomplishment. Segundo o autor, há três pares básicos de características que diferem esses verbos, que foram esquematizadas por Comrie (1976) como: estatividade x dinamicidade; pontualidade x duratividade; telicidade x atelicidade. A primeira dupla de características, estatividade e dinamicidade, diz que um verbo estativo não apresenta fases que progridem temporalmente, pois descreveum estado que não se altera ao longo do tempo. Dessa maneira, se um verbo apresenta traços dinâmicos, ele também apresenta uma sucessão de intervalos ou fases em que há alteração do estado, por 9 O aspecto pode ser também expresso por estruturas gramaticais (flexões verbais e outros tipos de marcas morfológicas). É o chamado “aspecto gramatical” (ver Cançado e Amaral 2016). 13 exemplo to love ‘amar’ x to edit ‘editar’. No primeiro caso, o verbo indica um estado que não se altera, se mantém estável ao longo do tempo, enquanto que no segundo, o verbo tem fases que mudam em um determinado período temporal. O segundo par, pontualidade e duratividade, caracteriza se um verbo é pontual ou durativo. Um verbo pontual descreve uma eventualidade que ocorre instantaneamente, enquanto um verbo durativo descreve uma situação que se prolonga no decorrer do tempo. Um exemplo seria o verbo to pop ‘estourar’ em comparação a to proofread ‘revisar’: um acontece num instante, o outro não, suas fases se prolongam. Já o último par, telicidade e atelicidade, trata do ponto final, do resultado, que um verbo pode ou não atingir. Quando o verbo é télico, como to format ‘formatar’, ele apresenta um resultado final; se for atélico, não, como to dance ‘dançar’. Ainda sobre telicidade, Rappaport Hovav, Doron e Sichel (2010, p. 2-3) afirmam que a telicidade “também pode ser introduzida por elementos não selecionados pelo verbo”.10 Sendo assim, a telicidade pode ser marcada em elementos sentenciais, fora do sentido do verbo, como através do objeto direto, por exemplo, algo que será mais amplamente discutido na Análise desta monografia. A partir desses pares de propriedades, é possível definir as quatro classes aspectuais de Vendler (1967): estados, atividades, accomplishments e achievements. Um verbo estativo não é eventivo, de acordo com Smith (1997 apud Cançado; Amaral, 2016, p. 150), já que não descreve situações com dinâmica interna, sendo então estativo. Também é atélico, sem apresentar um ponto de culminação específico em que há um resultado final. Verbos estativos são durativos em contraposição aos pontuais: podem se estender por um longo período de tempo. Por exemplo, na sentença abaixo, o verbo to know ‘saber’ é classificado como estativo por apresentar tais características: (4) She knows math. ‘Ela sabe matemática.’ Os verbos de atividade, assim como os de estado, são também durativos, mas apresentam uma sucessão de eventos que requerem algum tipo de força, seja interna ou externa, para que os eventos que descrevem aconteçam, sendo dinâmicos. São verbos que são geralmente caracterizados por movimento. Além disso, os verbos de atividade são atélicos, pois o ponto final do evento não é delimitado. Na sentença em (5), o verbo to dance ‘dançar’ 10 Do original: “can also be introduced by elements not selected by the verb.” (Tradução nossa). 14 indica uma atividade, pois requer um tipo de força para ser iniciado, sendo durativo, dinâmico e atélico, sem haver culminação: (5) He dances ballet. ‘Ele dança balé.’ Os verbos de accomplishment, por outro lado, são télicos, tendo resultado final, são dinâmicos e durativos já que se estendem ao longo do tempo e apresentam início, desenvolvimento e fim, chamados de subeventos. A sentença abaixo é um exemplo de verbo de accomplishment, com o verbo to build indicando que a ação já foi finalizada, que precisou de uma força para ser iniciado e que se estendeu por um período de tempo (que não foi indicado): (6) George built that house. ‘George construiu aquela casa.’ Diferentemente, os verbos de achievement são dinâmicos, visto que apresentam mudança de estado e precisam de uma força, interna ou externa, para que o evento seja iniciado, porém seus eventos não são complexos como os de accomplishment, sendo simples e ininterruptos (Cançado; Amaral, 2016, p. 162), sem a presença de subeventos, mas são télicos, pois têm resultado final, e são pontuais com eventos que denotam o ponto final sendo atingido imediatamente. Por exemplo, o verbo to realize ‘perceber’ na sentença em (7) indica uma ação que aconteceu instantaneamente, contendo um ponto final, e é dinâmico, pois a situação é uma mudança, e não estática: (7) He realized at that moment that he loved her. ‘Ele percebeu naquele momento que a amava.’ Agora que as quatro classes aspectuais foram discutidas, daremos mais atenção aos verbos de accomplishment e atividade, pois uma melhor compreensão dessas classes é importante para a análise dos verbos de editoração do inglês. Além das propriedades elencadas acima, segundo Rothstein (2004, p. 21), “um accomplishment é uma atividade que se move na direção de um ponto final, ou “ponto final definido” ou “culminação” ou “ponto 15 télico””,11 ou seja, é uma situação que apresenta um ponto final, culminação, tendo o seu objeto afetado ao longo do processo. Essa culminação está ligada à extensão do objeto ligado ao verbo, pois só acontece quando este é “usado” completamente. Exemplificando a partir dos nossos dados, o verbo to edit pode ser classificado como accomplishment de acordo com a propriedade de não-cumulatividade. Rothstein (2004, p. 95) exemplifica o conceito de cumulatividade com o verbo to eat ‘comer’: “A soma de dois eventos não pode ser descrita por comeu um sanduíche, mas apenas por comeu dois sanduíches/comeu alguns sanduíches/comeu sanduíches”.12 Sendo assim, se alguém edita um livro, por exemplo, e passa para editar outro livro, a soma dessas duas situações então será a edição de dois livros. Ao contrário de um evento como o descrito por to dance, que é cumulativo. Se somarmos dois eventos de dançar (dançar uma vez e dançar outra vez), os dois eventos são do mesmo tipo, ou seja, podem ser vistos como partes de um evento maior do mesmo tipo. Entretanto, o objeto direto é crucial na hora de classificar os verbos aqui analisados. Rothstein (2004, p. 92) afirma que os predicados de accomplishment geralmente encabeçam um sintagma verbal télico, mas se comportam como predicados de atividade (atélicos) quando o objeto direto é um bare plural (sintagmas nominais sem determinantes explícitos) ou mass NP (sintagmas nominais que não podem ser contados). Nesse contexto, os objetos dos verbos de atividade também são importantes, uma vez que em determinados contextos podem ter outra leitura aspectual, com o aspecto derivado de accomplishment, através de um predicado télico. Essa relação entre verbo e objeto direto é relevante na classificação dos accomplishments devido à noção de incrementalidade, que deixa claro que os objetos diretos são “usados” aos poucos enquanto o evento expresso pelo verbo progride (ROTHSTEIN, 2004, p. 92). Sendo assim, o objeto direto pode determinar a progressão, ou até mesmo a duração, do evento. Retomando o nosso exemplo, temos para o verbo to edit um objeto incremental, pois um livro só pode ser editado até a sua última página escrita, que é quando a culminação ocorre. Para os verbos em questão, a culminação do evento também está relacionada à parte BECOME sendo, de acordo com Rothstein (2004, p. 106-107) “o evento final mínimo no processo incremental”.13 11 Do original: “an accomplishment is an activity which moves toward a finishing point, or “set terminal point,” or “culmination” or “telic point”.” (Tradução nossa). 12 Do original: “The sum of the two events cannot be described by eat a sandwich, but only by eat two sandwiches/eat some sandwiches/eat sandwiches.” (Tradução nossa). 13 Do original: “the final minimal event in the incremental process.” (Tradução nossa). 16 O argumento de BECOME, para Rothstein (2004), é o paciente, não-agentivo,que participa do processo (além de ser o que sofre a ação) que evolui aos poucos e no caso dos verbos de accomplishment são partes individuais, denotando cada uma, uma parte diferente que são conectadas entre si e que também seguem uma ordem natural determinada pelo conhecimento de mundo do falante que deduz o significado (ROTHSTEIN, 2004, p. 107). Se pensarmos no que significam os subeventos de to edit, to copy edit, to proof read, to typeset, to format, os três primeiros verbos denotam “leitura mais conserto do que está errado ou incoerente ou ruim”; enquanto os dois últimos são “o olhar e o ajuste dos detalhes para que estejam em um padrão”. São feitos de maneira repetitiva, similares ao que acontece em to build ‘construir’, como exposto por Rothstein (2004, p. 109), que chegam até o evento BECOME, onde há a mudança de estado de book ‘livro’ ou manuscript ‘manuscrito’ que se tornam livros ou manuscritos revisados, diagramados, etc. Concluindo, tomaremos como base teórica para a classificação aspectual dos verbos as noções descritas por Comrie (1976), Vendler (1967), Cançado e Amaral (2016); a respeito da telicidade, a proposta de Rappaport Hovav, Doron e Sichel (2010) e sobre os verbos de accomplishment e suas semelhanças aos verbos de atividade, a proposta de Rothstein (2004) e Cançado e Amaral (2016). Como apontamos anteriormente, o papel que cada participante executa no evento é também relevante para a análise dos verbos. Portanto, para finalizar a nossa exposição teórica, apresentamos a seguir a noção de papéis temáticos. 2.5 Os papéis temáticos Os papéis temáticos expressam a relação entre a estrutura semântica e a sintática nas sentenças, pois apenas a análise dos argumentos sintáticos não explicita a dependência existente entre eles, que se encontra no sentido entre o verbo e os seus argumentos. Uma vez que a relação de sentido é estabelecida, o verbo designa funções, um papel temático para cada um de seus argumentos. Para este trabalho monográfico, trataremos dos papéis de agente e paciente, como definidos por Cançado e Amaral (2016). O papel temático de agente, na maior parte das vezes, aparece na posição de argumento externo, como sujeito da sentença. É o ser responsável pelo desencadeamento da ação, agindo com controle (CANÇADO; AMARAL, 2016, p. 43): (8) Martha ate the sandwich. ‘Martha comeu o sanduíche.’ 17 Na sentença acima, o sujeito, destacado em itálico, é o agente responsável por comer o sanduíche. Martha tinha total controle na ação, desde pegar a comida até levá-la à boca para mastigá-la. Já o papel temático de paciente, que se encontra quase sempre na posição de argumento interno, como objeto direto, é aquele que sofre a ação, mudando de estado no processo (CANÇADO; AMARAL, 2016, p. 43). Como se vê na sentença abaixo, em que o sanduíche é a entidade que sofre a ação causada por Martha: (9) Martha ate the sandwich. ‘Martha comeu o sanduíche.’ No próximo capítulo, passaremos para a análise e a discussão dos dados coletados, que serão feitos à luz dos conceitos teóricos aqui explicados. 3 Análise dos verbos de editoração no inglês Neste capítulo, iremos discutir os resultados das análises sintática e semântica dos verbos de editoração do inglês, com exemplos retirados dos dados coletados. A primeira subseção traz uma descrição semântica dos verbos de editoração, junto a uma análise sobre o frame que evocam, os papéis temáticos designados por esses, seu aspecto lexical e as estruturas sintáticas dos verbos. A segunda subseção mostrará, de maneira sucinta, a comparação dos verbos de editoração em inglês com os do português, tendo em foco também a estrutura sintática e semântica, as classes aspectuais e os papéis temáticos. 3.1 A estrutura sintático-semântica dos verbos de editoração no inglês Os verbos to edit ‘editar’, to copy edit ‘preparar’, to proofread ‘revisar’, to typeset ‘diagramar’ e to format ‘formatar’, geralmente, aparecem precedidos por pronomes pessoais na primeira pessoa do singular ou do plural, como I ou we, sendo sucedidos por pronomes possessivos, como your ‘seu/ sua’, ou por artigo definido que determina o substantivo – na maioria das vezes, book ‘livro’ ou manuscript ‘manuscrito’, às vezes não são precedidos por nenhum determinante. Essas características são importantes quando pensamos em como os verbos de editoração são usados e em quais contextos: dentro de uma editora, alguém será o responsável por editar, preparar, revisar, diagramar e formatar o livro ou o manuscrito. 18 São também verbos transitivos diretos cuja estrutura argumental apresenta um sujeito que recebe o papel temático de agente, e um objeto direto como paciente. Dessa maneira, faz sentido que pronomes pessoais (I, we) apareçam logo na primeira posição da sentença, como sujeito, afinal são eles que realizam as ações, são os agentes. Assim como book ou manuscript aparecem na posição de objeto direto, também sofrem a ação do sujeito e têm o seu estado original modificado ao longo de cada etapa. Então, classificá-los como verbos de accomplishment, considerando a definição desse aspecto verbal, também se adequa aos dados que encontramos e analisamos neste trabalho. Os dados coletados do inglês foram retirados de sites e blogs a respeito do mundo editorial, desde posts de editoras sobre como funcionam internamente até artigos que têm o propósito de ajudar os autores a fazerem estas etapas por conta própria. A análise dos dados evidencia que os cinco verbos denotam processos realizados por alguém ao longo de um determinado período de tempo, com a culminação sendo o livro, ou manuscrito, ficando em X estado: (1) We edited the novel [...]. ‘Nós editamos o romance.’ (2) I fact checked and copy edited the text [...]. ‘Eu chequei os fatos e preparei o texto [...].’ (3) We proofread the book [...]. ‘Nós revisamos o livro [...].’ (4) We typeset the book, formatted the book, designed the cover and distributed the book in all formats globally. ‘Nós diagramamos o livro, formatamos o livro, desenhamos a capa e distribuímos o livro em todos os formatos globalmente.’ Nos exemplos acima, temos a mesma estrutura argumental para as cinco ocorrências dos verbos. Como dito, o sujeito aparece na forma de um pronome pessoal de primeira pessoa, plural e singular, sendo o agente, aquele que irá realizar determinado processo. Enquanto o objeto direto tem maior variação na sua forma: temos novel, text, manuscript e book, que aparece duas vezes, sendo sempre o paciente. A única distinção entre os cinco verbos é o significado específico de cada um. Devido à falta de categorização desses cinco verbos dentro da base de dados do FrameNet (como mencionado na Introdução) de maneira que os associe ao frame de 19 PUBLISHING ‘EDITORAÇÃO’, passaremos a conectá-los à este domínio, já que estamos falando de processos pelos quais o livro passa até a sua publicação. To edit é a primeira etapa pela qual o livro passa no setor de editoração de uma editora. O responsável pode ser o editor, o coordenador de textos, o coordenador do editorial, há vários títulos para quem realiza o mesmo trabalho: a edição do manuscrito. Editar significa adequar o livro, torná-lo coeso de modo com que a história faça sentido internamente, além de também trabalhar ao lado do autor a fim de que o resultado final seja o que este imaginou. Então, quando se diz We edited the novel, como em (1), também se está dizendo que o romance já passou por modificações textuais ainda que superficiais. Algo importante de salientar é que o editor é o responsável pelo andamento do livro dentro da editora, é ele, ou ela, quem tem a palavra final (desde que em acordo com o autor). E “editar” um livro abarca todo o processo editorial, desde a seleção do manuscrito até a criação da capa. Para quem conhece a produção de livros, a ediçãosó acaba no momento que a última prova é encaminhada para a gráfica – e isso acontece depois da liberação do editor que conta com o trabalho minucioso do revisor. To copy edit é o processo seguinte após o trabalho do editor. Aqui, realiza-se a leitura detalhada e cuidadosa do manuscrito, a procura de erros gramaticais e ortográficos, incoerências que o editor não encontrou, desorganização das ideias, até mesmo verificação dos fatos utilizados pelo autor, como acontece na sentença em (2). Uma boa preparação de texto leva, no mínimo, quatro semanas para ser realizada, a depender do tema, da quantidade de páginas, da qualidade textual, de como alguns itens serão padronizados (por exemplo, termos em língua estrangeira devem aparecer entre itálico ou entre aspas? Em quais casos o negrito deve ser utilizado? Na maioria dos casos, cada editora tem seu manual de padronização e é nele que o preparador se baseia) e de quantos precisarão de padronização. Após o fim da preparação textual, o manuscrito é enviado ao autor para conferência das sugestões e das dúvidas, e só chega ao diagramador após tudo estar resolvido. O processo que sucede a preparação de texto é a diagramação, no entanto, como o livro é finalizado pelo formatador, seguindo para a gráfica depois, decidimos deixar to typeset e to format por último. Sendo assim, falaremos mais detalhadamente agora de to proofread. A sentença em (3) não diz muito sobre o processo de revisar um livro, apenas acarreta o sentido de estar finalizado. Então, o que é to proofread ‘revisar’? Como os maiores problemas textuais são resolvidos pelo preparador, sobra para o revisor de provas encontrar o que passou despercebido, pequenos detalhes como conjugação errada, falta de itálico em partes que deveriam ter, pontuação, letra sobrando ou faltando, hifenização. A revisão é um processo menos demorado em comparação à preparação, justamente pelo fato de o texto estar “limpo” 20 e mais organizado. Outra diferença daquele em relação a este é ser feito no papel, na maioria das vezes, no que chamamos de primeira prova (o livro já preparado e diagramado), através de marcações nas margens com sinais convencionais do meio. Após a primeira leitura, o livro é encaminhado ao diagramador que realiza as emendas solicitadas, retorna ao revisor que confere as alterações e pode retornar ao diagramador caso algo tenha ficado para trás – esse vaivém pode demorar, a depender do que este esteja fazendo e das suas prioridades. Por último, se houver dúvidas, elas são enviadas para o autor, voltam para o revisor que, novamente, faz as emendas e manda para o diagramador que após realizá-las, mostra a provável última prova para verificação. O livro só é liberado para a gráfica quando não houver mais nenhuma emenda a ser realizada e outro revisor já tiver verificado se não falta nada no livro. To typeset significa organizar o manuscrito visualmente, é a etapa da produção em que o designer gráfico irá tornar um texto em um livro, de acordo com a coleção em que este foi colocado pelo editor. Cada coleção apresenta um design diferente, seja a fonte da capa, do miolo (a parte escrita do livro), até os subtítulos, a capa e a lombada (a parte lateral do livro). A preparação é feita pelo Word, geralmente, enquanto a diagramação é feita pelo InDesign. Nesta fase, o foco principal é a estética do livro que envolve a aplicação de estilos, a verificação do espaço entre as fontes, se tem apenas uma palavra na última linha da página ou na primeira linha, a hifenização (o programa utilizado faz esse processo por conta própria, por isso, os revisores verificam se está correto), as notas de rodapé, os recuos, os itálicos, as imagens se houver. É o diagramador quem irá dispor o texto nas páginas, controlar o tamanho das letras e a qualidade das imagens para que o resultado seja o melhor possível na hora da impressão. Na diagramação também acontece a formatação. É o diagramador quem irá formatar (to format) o texto seguindo as indicações do preparador textual e do manual da editora. Como mencionado anteriormente, o livro pode voltar para o diagramador quantas vezes forem necessárias até que todas as emendas estejam resolvidas. Tendo em vista a descrição semântica dos nossos dados, podemos afirmar que esses verbos evocam o frame de PUBLISHING. Segundo Fillmore (1976), frames são esquemas cognitivos estruturados armazenados na memória e baseados em experiências, classificadas em categorias prototípicas. Todas essas etapas do trabalho de uma editora são, portanto, partes desse frame. Podemos afirmar, assim, que esses verbos descrevem, então, as ações de diferentes profissionais, que são realizadas volitivamente, sobre um objeto textual que sofre uma determinada mudança, com um resultado final. 21 Aplicando aos verbos de editoração, percebemos que temos um papel para cada indivíduo, seja Editor ‘editor’, Copy Editor ‘preparador’, Proofreader ‘revisor’, Graphic Designer ‘designer gráfico’, que realiza uma ação e uma relação entre todos eles, além de certa dependência, pois todos pertencem ao mesmo frame. Para Dancygier e Sweetser (2014, p. 18), os frames demonstram vários níveis de “especificidade, complexidade e inserção cultural”.14 Assim, os verbos de editoração têm como papel temático o agente na posição de sujeito e o paciente na posição de objeto direto. Para comprovar a nossa proposta, utilizamos os testes propostos por Jackendoff (1972) para agente e paciente, que consistem em inserir os verbos analisados nas estruturas what X did was ‘o que X fez foi’, deliberately ‘deliberadamente’, intentionally ‘intencionalmente’, in order to ‘a fim de’, so that ‘para que’ (p. 32) e on purpose ‘de propósito’ (para o agente) e what happened to Y ‘o que aconteceu com Y’, what happened was ‘o que aconteceu foi’ (Jackendoff, 1983, apud Levin, 2009, p. 7) (para o paciente):15 (5) a. What we did was edit / copy edit / proofread / typeset / format the novel. ‘O que nós fizemos foi editar / preparar / revisar / formatar o romance.’ b. We edited / copy edited / proofread / typeset / formatted the novel poorly with the intention of getting fired. ‘Nós editamos / preparamos / revisamos / diagramamos / formatamos o romance pobremente com a intenção de sermos demitidos.’ c. We deliberately edited / copy edited / proofread / typeset / formatted the novel poorly so we could get fired. ‘Nós deliberadamente editamos / preparamos / revisamos / diagramamos / formatamos o romance pobremente para que fôssemos demitidos.’ d. We edited / copy edited / proofread / typeset / formatted the novel poorly so that we would get fired. ‘Nós editamos / preparamos / revisamos / diagramamos / formatamos o romance pobremente para que fôssemos demitidos.’ e. We edited / copy edited / proofread / typeset / formatted the novel poorly on purpose so we would get fired. ‘Nós editamos / preparamos / revisamos / diagramamos / formatamos o romance pobremente de propósito para que fôssemos demitidos.’ 14Do original: “specificity, complexity, and cultural embeddedness”. (Tradução nossa). 15 Os exemplos com as barras separando os verbos são baseados nos dados encontrados para a análise. 22 (6) a. What happened to the text was Polly Kummel copy edited / edited / proofread / typeset / formatted it. ‘O que aconteceu com o texto foi a Polly Kummel prepará-lo / editá-lo / revisá- lo / diagramá-lo / formatá-lo.’ b. What happened was that Polly Kummel copy edited / edited / proofread / typeset / formatted the text. ‘O que aconteceu foi a Polly Kummel preparar / editar / revisar / diagramar / formatar o texto.’ Também a partir da descrição semântica dos dados coletados, através das especificações dos processos descritos por cada um desses verbos, fica evidente que os verbos to edit, to copy edit, toproofread, to typeset e to format apresentam subeventos, já que há fases distintas para cada um deles, o que é uma característica típica de verbos de accomplishment. A sentença abaixo, por exemplo, denota o momento em que a ação é finalizada: (7) Vultee then copy-edited the articles to fix any mistakes in style, word usage, or grammar [...].(American Press Institute) ‘Vultee depois preparou os artigos para corrigir quaisquer erros em estilo, uso de palavras, ou gramática [...].’ Mas, por causa dos subeventos, a sentença acima também denota que para Vultee chegar ao final da preparação dos artigos, ele passou anteriormente por etapas distintas. Podemos, então, criar um esquema temporal (Cançado e Amaral, 2016, p. 157) que evidencia cada subevento dos verbos e também a diferença entre as etapas, a partir do esquema em (8): (8) e= o evento de Vultee preparar os artigos eti= o momento em que Vultee começa a preparar os artigos etd= o momento em que a preparação dos artigos está em andamento etf= o momento em que Vultee termina de preparar os artigos Em (8), nota-se que nenhum subevento é igual a outro, nem igual ao evento como um todo: o início é diferente do desenvolvimento que é diferente do momento final, da culminação. No frame de editoração, a preparação é iniciada a partir da primeira página do 23 livro que contém o título. O momento em que a preparação está em andamento indica o avanço da ação e o preparador preparou, pelo menos, quase metade do livro. E a culminação é quando o preparador leu todo o livro, fez as modificações e as sugestões para o autor, deixando o material preparado. Isso nos permite afirmar que os verbos de editoração são télicos, outra característica dos accomplishments, além de também evidenciarmos a duratividade de todos os cinco verbos analisados. O esquema temporal também pode ser feito com to edit que, por compartilha as mesmas propriedades semânticas e sintáticas que to copy edit, apresentando duratividade e telicidade: (9) I am editing a book that was shortlisted for a prize back in 2016 [...].(Books by Women) ‘Estou editando um livro que estava numa lista restrita para um prêmio lá em 2016.’ a. e= o evento de alguém editar um livro eti= o momento em que alguém começa a editar um livro etd= o momento em que a edição de um livro está em andamento etf= o momento em que alguém terminará de editar um livro A sentença em (9), no entanto, difere da sentença em (8), pois está flexionada no tempo presente, ou seja, o locutor ainda está realizando a edição, sendo a finalização do evento algo que, possivelmente, ocorrerá no futuro. Ainda assim, a (provável) telicidade e a duratividade do verbo são evidentes também em to edit, sendo compartilhadas por to proofread, to typeset e to format que são compostos por subeventos: apresentam início, meio e fim – quando o material de leitura está pronto para passar para a próxima etapa na editora, ou seja, para a próxima etapa do frame de editoração. Para comprovar essa classificação aspectual, aplicamos diferentes testes para o aspecto encontrados na literatura. Primeiramente, aplicamos o teste de Van Valin (2005). A pergunta What happened? ‘o que aconteceu?’ indica se os verbos são de atividade, de achievement, accomplishment ou estados, a única classe verbal que não aceita a interrogação, uma vez que verbos estativos não são dinâmicos: (10) A: What happened? B: *Emily was knowing math. A: ‘O que aconteceu?’ 24 B:’*A Emily estava sabendo matemática.’ (11) A: What happened? B: We edited the novel. (BBB) A: ‘O que aconteceu?’ B: ‘Nós editamos o romance.’ Para responder a pergunta, os verbos precisam apresentar o traço [+dinamicidade], pois, segundo Van Valin (2005, p. 33), codificam um “acontecimento”, diferentemente dos que codificam um “não-acontecimento”, sendo o caso dos verbos estativos. Tendo estabelecido que os verbos analisados são dinâmicos e não estativos, partimos para testes mais específicos, que possam diferenciar accomplishments de atividades e achievements. Ainda a respeito dos subeventos que compõem os verbos aqui analisados, o teste proposto por Dowty (1979), baseado em Morgan (1969), do advérbio almost ‘quase’ acrescentado às sentenças indica se o verbo denota eventos complexos (característica típica dos accomplishments) por gerar a ambiguidade de escopo. Essa ambiguidade pode recair em qualquer um dos subeventos significando que 1) o agente tinha a intenção de iniciar a ação, mas não o fez ou 2) o agente iniciou a ação, mas não a finalizou. Como os verbos de achievement e atividade não apresentam eventos complexos, o teste com o almost não gera ambiguidade em seus sentidos. Por exemplo: (12) a. They opened the restaurant today. ‘Eles abriram o restaurante hoje.’ b. They almost opened the restaurant today. ‘Eles quase abriram o restaurante hoje.’ (13) a. Marcos ran today. ‘Marcos correu hoje.’ b. Marcos almost ran today. ‘Marcos quase correu hoje.’ (14) a. I typeset the manuscript on the compositor of the ANU Students' Association [...]. (Documents Uow) ‘Eu diagramei o manuscrito no componedor da Associação dos Estudantes da ANU.’ b. I almost typeset the manuscript on the compositor of the ANU Students' Association [...]. 25 ‘Eu quase diagramei o manuscrito no componedor da Associação dos Estudantes da ANU.’ Em (12a) e em (13a), they e Marcos realizaram a ação de abrir o restaurante e correr, respectivamente. Por outro lado, em (12b) e em (13b), o sentido acarretado por causa do acréscimo do advérbio é de ação não feita, eles não abriram o restaurante e Marcos não correu. Com a sentença em (14b), o sentido é dúbio: o agente pode ter iniciado a diagramação do livro e não tê-la terminado ou nem ter começado a ação de diagramar, conforme as seguintes paráfrases: (15) a. What I almost did was typeset the manuscript […]. ‘O que eu quase fiz foi diagramar o manuscrito [...]’ b. What I did was almost typeset the manuscript [...]. ‘O que eu fiz foi quase diagramar o manuscrito [...].’ Uma comparação entre as sentenças em (12), (13) e em (10) permite, portanto, perceber a inexistência de eventos complexos nos verbos to open (no sentido inferido neste exemplo, pois é um verbo que pode ser classificado como accomplishment em outros casos) e to run em contraposição ao to typset, sendo o primeiro classificado como verbo de achievement, o segundo de atividade e o terceiro como de accomplishment. A ambiguidade gerada por almost acontece com todos os outros quatro verbos: (16) I know some writers who almost edit as they go [...]. (NY Book Editors) ‘Eu conheço alguns autores que quase editam enquanto escrevem [...].’ (17) The author would like to thank Katharina Hoppe, Franziska von Verschuer [...] who almost copyedited the text. (Taylor and Francis Online) ‘O autor gostaria de agradecer Katharina Hoppe, Franziska von Verschuer [...] que quase prepararam o texto.’ (18) We have almost proofread the manuscript again and made some modifications. (MDPI) ‘Nós quase revisamos o manuscrito de novo e fizemos algumas modificações.’ (19) [...] and you’ve almost formatted it to look the way you want. (Harvard) ‘[...] e você quase formatou o livro para ficar do jeito que você quer.’ 26 Portanto, fica evidente que os verbos de editoração apresentam eventos complexos de longa duração, tanto que aceitam a expressão modificadora in α time ‘em x tempo’, de acordo com Dowty (1979), indicando o resultado final da ação, levando em consideração a telicidade que o verbo denota: (20) Polly Kummel skillfully copyedited the text in four days [...]. (Amazin Phrasin) ‘Polly Kummel habilmente preparou o texto em quatro dias.’ (21) He has co-edited the book In Search of Stability, Security and Growth: BRICS and a new world order in twenty days. (Ipea) ‘Ele co-editouo livro In Search of Stability, Security and Growth: BRICS and a new world order em vinte dias.’ (22) Also, the guidelines below only relate to material that I have proofread in a month [...]. (Technicalix) ‘E também, as instruções abaixo se referem apenas ao material que eu revisei em um mês.’ (23) ABU performed statistical analysis and typesetted (sic) the manuscript in 40 days [...]. (EmtoSciPublisher) ‘ABU performou análise estatística e diagramou o manuscrito em 40 dias.’ (24) Imagine a whole book being formatted in 15 days and you receive the first draft [...]. (Indie Publishing Group) ‘Imagine um livro inteiro sendo formatado em 15 dias e você recebe o primeiro rascunho [...].’ As sentenças acima demonstram a telicidade dos verbos, sendo a expressão adjunta adverbial de tempo a delimitação da duratividade da ação ou o tempo gasto para se atingir o resultado, o ponto final da ação: em 15 dias, o livro foi formatado; o manuscrito foi diagramado em 40 dias, etc.; todas significando o tempo necessário para que a ação fosse concluída. Então, conforme Rothstein (2004, p. 25), I have proofread the material in a month, em (22), implica I was proofreading the material during a month. Por serem télicos, espera-se que os verbos que denotam accomplishment não passem no teste conhecido como o paradoxo do imperfectivo. O teste do paradoxo do imperfectivo, proposto também por Dowty (1979), é indicado para os verbos de atividade, pois deixa em destaque sua natureza atélica e dinâmica através da formulação de uma sentença com o verbo no aspecto contínuo, marcado com a perífrase do 27 gerúndio, e verifica se tal sentença acarreta uma correspondente no aspecto perfectivo, marcado pelo pretérito perfeito, mostrando assim o evento finalizado em qualquer parte da ação contínua: (25) a. It is snowing in New York. ‘Está nevando em Nova Iorque.’ b. It snowed in New York. ‘Nevou em Nova Iorque.’ Em (25a), temos um verbo que denota atividade, portanto a sentença no aspecto contínuo acarreta a sentença no aspecto perfectivo em (25b), tendo o sentido de ter nevado. O mesmo não ocorre com os verbos de accomplishment: (26) a. [...] we were proofreading the originals. ‘[...] nós estávamos revisando os originais.’ b. we proofread the originals. (Intraword) ‘nós revisamos os originais.’ (27) a. I was copy editing the manuscript [...]. ‘Eu estava preparando o manuscrito [...].’ b. I copy edited the manuscript. (The Editing Co) ‘Eu preparei o manuscrito.’ Em (26a) e em (27a), o acarretamento não ocorre nas sentenças em (26b) e em (27b). As sentenças marcadas pelo aspecto progressivo podem não ter tido as suas ações concluídas, tendo sido interrompidas em algum momento, por exemplo, o que indica mais uma vez a telicidade dos verbos. Como os verbos to edit, to copy edit, to proofread, to typeset e to format têm a ver com ações que apresentam subeventos, o teste com o verbo stop ‘parar de’, proposto por Dowty (1979), também ajuda a demonstrar os intervalos internos que os verbos de editoração têm, já que podem ser interrompidos ao longo do seu curso: (28) a. We edited Calum’s book [...]. (UK Book Publishing) ‘Nós editamos o livro de Calum [...].’ b. We stopped editing Calum’s book. 28 ‘Nós paramos de editar o livro de Calum.’ (29) a. Cathie Bucci copy-edited the manuscript for my second novel [...]. (Red Pen Editorial) ‘Cathie Buccy preparou o manuscrito para o meu segundo romance [...].’ b. Cathie Bucci stopped copy-editing the manuscript for my second novel [...]. ‘Cathie Bucci parou de preparer o manuscrito para o meu Segundo romance [...].’ (30) a. We proofread the book [...]. (Karen Saunders Assoc.) ‘Nós revisamos o livro [...].’ b. We stopped proofreading the book [...]. ‘Nós paramos de revisar o livro.’ (31) a. Kitty Buchner [...] formatted the book. (Library City of Albany) ‘Kitty Buchner [...] formatou o livro.’ b. Kitty Buchner [...] stopped formatting the book. ‘Kitty Buchner [...] parou de formatar o livro.’ Até o momento, todos os testes realizados com os dados coletados indicam que os verbos de editoração pertencem ao aspecto lexical básico de accomplishment, no entanto, verificamos que ao aplicar o teste for α time ‘por α tempo’, também proposto por (Dowty, 1979), os verbos demonstram características esperadas dos de atividade que aceitam essa expressão modificadora. Por exemplo: (32) Julian danced for four hours. ‘Julian dançou por quatro horas.’ (33) Natalie cried for ten minutes non-stop. ‘Natalie chorou por dez minutos ininterruptos.’ Os verbos de atividade, como os acima, aceitam a expressão adverbial de tempo for α time por serem atélicos e como os verbos de editoração não o são, esperava-se que não a aceitassem. Dowty (1979, apud Cançado e Amaral, 2016, p. 160) afirma que verbos de accomplishment que denotam mudança de estado podem aceitar essas expressões de duração, porém a duração descrita por tais expressões terá escopo sobre o resultado final do evento, não sobre o evento em si. No entanto, se compararmos as sentenças em (20), (21) e (22) com as sentenças a seguir, veremos o contrário: 29 (34) Polly Kummel skillfully copyedited the text for four days [...].(Amazin Phrasin) ‘Polly Kummel habilmente preparou o texto por quatro dias.’ (35) He has co-edited the book In Search of Stability, Security and Growth: BRICS and a new world order for twenty days. (Ipea) ‘Ele co-editou o livro In Search of Stability, Security and Growth: BRICS and a new world order por vinte dias.’ (36) Also, the guidelines below only relate to material that I have proofread for a month [...].(Technicalix) ‘E também, as instruções abaixo se referem apenas ao material que eu revisei por um mês.’ Em todas as sentenças acima, a interpretação é de que a expressão temporal está ligada à ação como um todo, não ao resultado final. Inclusive, o advérbio demonstra que nenhuma das ações chegou à culminação. Se acrescentarmos mais informação através de adjuntos, teremos a falta de culminação sendo expressa: (37) Polly Kummel skillfully copyedited the text for four days before her vacation. ‘Polly Kummel habilmente preparou o texto por quatro dias antes de entrar de férias.’ (38) He has co-edited the book In Search of Stability, Security and Growth: BRICS and a new world order for twenty days before leaving for his paternancy leave. ‘Ele co-editou o livro In Search of Stability, Security and Growth: BRICS and a new world order por vinte dias antes de sair para a sua licença paternidade.’ (39) Also, the guidelines below only relate to material that I have proofread for a month before getting fired. ‘E também, as instruções abaixo se referem apenas ao material que eu revisei por um mês antes de ser demitida.’ Nada garante que as ações foram concluídas nas sentenças acima. Polly Kummel pode ter preparado o texto até o último capítulo antes de entrar de férias; he pode ter coeditado o livro antes de entrar de licença paternidade, mas não chegou à última folha do livro; I pode ter revisado o material por um mês e não ter concluído. 30 Concluímos, portanto, que as expressões durativas do tipo for α time não têm escopo somente sobre o resultado, mas sobre a ação como um todo, diferentemente do que seria de se esperar para verbos de accomplishment. Consideramos o verbo como suficiente durante a classificação do aspecto até agora, no entanto, se os verbos de editoração fossem de fato télicos, com um ponto final bem definido lexicalmente, eles não aceitariam a expressão temporal for α time. Então, hipotetizamos que os verbos de editoração normalmente apresentam um sintagma verbal télico quando aceitam in α time e um sintagma verbal atélico quando são modificados por for α time, seguindo a argumentação de Rothstein (2004) e Rappaport Hovav, Doron e Sichel
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