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1 ÍNDICE APRESENTAÇÃO.........................................................02 CRIAÇÃO DO MUNDO.................................................03 GÊNESES..................................................................05 DEFINIÇÃO DE ORIXÁ.................................................14 TABELA DOS ORIXÁS..................................................16 ESTRUTURA DO SER ESPIRITUAL.................................17 UNIDADE DO SER HUMANO.........................................19 MENSAGEM DO CABOCLO PERY...................................25 MEDIUNIDADE...........................................................26 MEDIUNIDADE DE INCORPORAÇÃO..............................28 HISTÓRIA DA UMBANDA.............................................40 HISTÓRIA DO HINO DA UMBANDA...............................47 ENTIDADES NA UMBANDA... .......................................51 EXU E SUAS INTERPRETAÇÕES....................................65 UMBANDA X INDIVIDUALIDADE...................................79 FUNDAMENTOS DA UMBANDA .....................................80 SACERDÓCIO NA UMBANDA........................................85 FONTES DE PESQUISA................................................92 2 APRESENTAÇÃO Saravá a todos. O objetivo deste curso é estudar a religião de Umbanda e compreender seus fundamentos com discernimento, ética e consciência. Nossa proposta é oferecer recursos para que a formação religiosa seja equilibrada e consciente. Abordaremos a magia desse projeto chamado Umbanda pela ótica humana e racional. Não trataremos de fórmulas ou efeitos mágicos. Apresentaremos a Umbanda com o pé no chão e na realidade que alcançamos sem a pretensão de esgotar o estudo. Umbanda sem mistérios é um convite para se libertar de conceitos ingênuos, infantis e muitas vezes equivocados que se encontram presentes em nossos terreiros. Estudaremos sobre a realidade humana com toda sua complexidade de ser, compreendendo com mais propriedade os relacionamentos com nossos guias espirituais e os limites que há entre o mundo material e espiritual. Nosso estudo abordará também sobre as leis naturais que regem a vida e o amor divino que oferece constantemente o resgate de nossa essência através dos trabalhos espirituais que as entidades na Umbanda realizam. Deus-Pai nos comunica de diversas formas e a Umbanda é um modo brasileiro de seu fraterno amor se expressar. Sejam bem vindos. Mãe Márcia Moreira O material organizado nesta apostila é resultado de pesquisas, estudos, leituras e experiências reunidas em 30 anos de compromisso e prática mediúnica umbandista. O conteúdo deve ser divulgado desde que as fontes sejam citadas. Outras informações: mae.marciatte@gmail.com mailto:mae.marciatte@gmail.com 3 CRIAÇÃO DO MUNDO A pergunta que acompanha toda a humanidade em todos seus tempos. “De onde venho o que sou e para onde vou?” TEORIA DA RETRAÇÃO EM SI – No início, num princípio sem princípio, onde nossa linguagem não alcança um sentido exato, existia o TUDO, o TODO. Numa visão religiosa DEUS. Num ato de retração de si mesmo, Deus cria o nada, o espaço e numa explosão de si (teoria do big-bang) ou no pulsar do seu desejo, são lançadas milhões de partículas e após o resfriamento vai se unindo e assim formando as moléculas e posteriormente os elementos e consequentemente a Teoria da Evolução. “O Big Bang, também por vezes denominada em português como a Grande explosão, é a teoria cosmológica dominante do desenvolvivmento inicial do Universo. Os cosmólogos usam o termo "Big Bang" para se referir à ideia de que o Universo estava originalmente muito quente e denso em algum tempo finito no passado e, desde então tem se resfriado pela expansão ao estado diluído atual e continua em expansão atualmente. A teoria é sustentada por explicações mais completas e precisas a partir de evidências científicas disponíveis e da observação. De acordo com as melhores medições disponíveis em 2010, as condições iniciais ocorreram por volta de 13,3 a 13,9 bilhões de anos atrás. Georges Lemaître propôs o que ficou conhecido como a teoria Big Bang da origem do Universo, embora ele tenha chamado como "hipótese do átomo primordial". O quadro para o modelo se baseia na teoria da relatividade de Albert Einstein e hipóteses simplificadoras (como homogeneidade e isotropia do espaço). As equações principais foram formuladas por Alexander Friedmann. Depois Edwin Hubble descobriu em 1929 que as distâncias de galáxias distantes eram geralmente 4 proporcionais aos seus desvios para o vermelho, como sugeridos por Lemaître em 1927. Esta observação foi feita para indicar que todas as galáxias muito distantes e aglomerado de galáxias têm uma velocidade aparente diretamente para fora do nosso ponto de vista: quanto mais distante, maior a velocidade aparente. Se a distância entre os aglomerados de galáxias está aumentando hoje, todos deveriam estar mais próximos no passado. Esta idéia tem sido considerada em detalhe volta no tempo para as densidades e temperaturas extremas e grandes aceleradores de partículas têm sido construídos para experimentar e testar tais condições, resultando em significativa confirmação da teoria, mas estes aceleradores têm capacidades limitadas para investigar em tais regimes de alta energia. Sem nenhuma evidência associada com a maior brevidade instantânea da expansão, a teoria do Big Bang não pode e não fornece qualquer explicação para essa condição inicial, mas sim, que ela descreve e explica a evolução geral do Universo desde aquele instante. As abundâncias observadas de elementos leves em todo o cosmos se aproximam das previsões calculadas para a formação destes elementos de processos nucleares na expansão rápida e arrefecimento dos minutos iniciais do Universo, como lógica e quantitativamente detalhado de acordo com o nucleossíntese do Big Bang. Fred Hoyle é creditado como o criador do termo Big Bang durante uma transmissão de rádio de 1949. Popularmente é relatado que Hoyle, que favoreceu um modelo cosmológico alternativo chamado "teoria do estado estacionário", tinha por objetivo criar um termo pejorativo, mas Hoyle explicitamente negou isso e disse que era apenas um termo impressionante para destacar a diferença entre os dois modelos. Hoyle mais tarde ajudou consideravelmente no esforço de compreender a nucleossíntese estelar, a via nuclear para a construção de alguns elementos mais pesados até os mais leves. Após a descoberta da radiação cósmica de fundo em 1964, e especialmente quando seu espectro (ou seja, a quantidade de 5 radiação medida em cada comprimento de onda) traçou uma curva de corpo negro onde muitos cientistas ficaram razoavelmente convencidos pelas evidências de que alguns dos cenários propostos pela teoria do Big Bang devem ter ocorrido." GÊNESES GÊNESE1 NAGÔ-YORUBÁ - Olodumare, Senhor Supremo dos Nossos destinos, também chamado de Olorum, Senhor do céu, é Deus, o Ser Supremo, para a cultura africana nagô de língua yorubá. A vontade de Olorum se manifesta através das suas divindades, os Orixás. Olorum pediu ao Orixá Obatalá, também conhecido como Oxalá, que criasse os homens. Obatalá os criou a partir do barro e logo percebeu que, apesar de lhes ter dado uma forma, eles não tinham vida. Então consultou Olorum e expôs o problema.E Olurum assim lhe dirigiu a palavra: - Preste atenção! Chegando perto do corpo humano inerte, de barro, soprou o Hálito Divino, a Essência. Este sopro animou e deu vida ao que antes era só barro, só a forma, sem a Essência que é o sopro Divino. GÊNESE CATÓLICA - O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente. (Bíblia). GÊNESE ISLAMICA -“Vou criar um homem de argila seca, de barromaleável, e quando o tiver modelado e nele soprado de Meu espirito, prostrai-vos diante dele” (O Alcorão). 1 Gênese – origem da criação do mundo. 6 FILOSOFIA DE BUDA - Buda estava reunido com seus discípulos certa manhã, quando um homem se aproximou. -Existe Deus? Perguntou e Buda respondeu – Existe. Depois do almoço, aproximou-se outro home e quis saber – Existe Deus? Buda disse, Não, Não existe. No fim da tarde, um terceiro homem fez a mesma pergunta; -Existe Deus? Buda respondeu – Você terá que decidir. Mestre que absurdo, disse um dos discípulos – Como o senhor dá respostas diferentes para a mesma pergunta? -O iluminado responde – Por que são pessoas diferentes e cada uma delas se aproximará de Deus à sua maneira, através da certeza, da negação e da dúvida. (Paulo Coelho, do livro Maktub). Concluimos que existem várias interpretações e explicações sobre Deus e a criação do mundo. O assunto não se esgota e até hoje tanto as ciências da cosmologia e da teologia não encontraram uma resposta pontual sobre o assunto. Cada religião, cada cultura parte de uma teoria para desenvolver seus conceitos de fé e religiosidade. GÊNESE UMBANDISTA2 - O príncipio é DEUS – OLORUM - é energia, luz, magnestismo. Não é masculino nem feminino. Está além da questão de pai e mãe. Transcende nessa questão de paternidade e maternidade. É o divino Criador de tudo que existe e está em tudo o que criou. E nós como toda a vida existente, somos herdeiros de sua essência, somos energia, luz e magnetismo. Os orixás são em si mesmos, as qualidades divinas manifestadas pelas individualizações do Divino Criador, ou seja, é a manifestação de Deus por meio de uma de Suas qualidades divinas. Vibram diretamente no ori de cada pessoa e com muita intensidade no cosmos e na natureza. Orixá significa Ori = cabeça; Xá = luz, força. A palavra Orixá quer dizer “cabeça iluminada, força da cabeça, luz da cabeça”. A essência de orixá é pura luz de Deus. Orixá na Umbanda não é divindade embora existam muitas casas com fortes influências de cultos afros que se relacionam como as interpretações dos mitos africanos. 2 Conceito elaborado de acordo com as explicações dos mentores da egrégora Oxalá nos uniu. 7 Essa energia em que qualificamos e organizamos como orixás estão sob a lei natural da criação, ou seja, tudo está em movimento constante de evolução. Dentro da lei natural está a lei do livre-arbitrio e a lei da ação e reação. Leis sagradas para a Umbanda. Transcrevo abaixo uma reflexão do nosso irmão Milton Lopes Teixeira3. “Esses dias passei por uma situação que me fez pensar um pouco sobre o destino. Íamos visitar uma pessoa da familia que estava muito mal na UTI de um hospital. Era quase certo que ela não sobreviveria aos próximos três dias. E falávamos sobre a situação, de como era injusta a doença para esta mãe, nova, boa pessoa.... Até que surgiu a expressão de consolo “é...é a vontade de Deus”. Daí pensei: mas como assim, “é a vontade de Deus”? Será que o destino de nossa irmã estava traçado? Será que nossa vida não passa de um filme cujo roteiro fazemos apenas interpretar? Será que, não importa o que façamos, o resultado será sempre o mesmo? Será que a situação dela não poderia ser outra? Será que não ocorrera um erro médico? Será que o tratamento fora o mais adequado? Será que ela teve acesso aos medicamentos mais indicados? Será que foi tudo no tempo devido? Desses questionamentos, decorreu logicamente pensar em livre arbitrio Temos realmente livre-arbitrio? Ele é absoluto ou relativo? Basicamente, sobre este assunto existem três posições possíveis: 1 – O determinismo 2 – O livre-arbitrio absoluto 3 – e um misto dos dois, o Livre-arbitrio relativo Então, resolvi fazer uma pequena pesquisa sobre o tema, para ver como a humanidade tratou deste assunto ao longo da historia. 3 Texto extraído do livro Exu – O poder organizador do caos p 8 Para os Vedantas4, haveria um plano traçado, mas que seria aberto à mudança pelo agir. Para os estoicos5, o futuro seria tão inalterável quanto o passado portanto , zero de livre-arbitrio. No Epicurismo6, tudo que existe seria o caos, tudo é obra do acaso, muito semelhante ao pensar do Existencialismo de Sartre, segundo o qual “acreditar em um futuro com cartas marcadas equivaleria a escapar da responsabilidade de tomar decisões”, o que redundaria em última análise, em um mundo sem sentido, vazio, triste. Para o Cristianismo, a crucificação de Jesus fazia parte dos planos divinos, que se cumpriram com a traição de Judas, que, neste caso, estaria predestinado a ser mau. Para Calvin, Deus escolheu de antemão os que se salvam e os que não se salvam. Para o Vaticano e a teologia muçulmana, o livre-arbitrio seria uma peça necessária à responsabilidade moral. Para as doutrinas e religiões reencarnacionistas, mormente o Espiritismo, bem resumidamente falando, o livre-arbítrio seria o fundamento da condição humana, posto que nossa evolução espiritual decorreria diretamente das escolhas que fazemos em cada encarnação. Viríamos para esta vida com um plano traçado, normalmente com a nossa participação, para que possamos passar por aqueles situações que nos dariam a oportunidade de acertar velhas diferenças, velhas dificuldades, velhas dívidas. E, para tanto, esse plano nos colocaria no local mais adequado, na condição social mais necessária, na familia mais afim, no país cultural que precisamos, no copo mais útil... Tudo pensado para que possamos eliminar nossos débitos pretéritos e agir positivamente em prol de nossa evolução espiritual em cada 4 Vedanta é o nome do estudo realizado a partir do final dos Vedas, que deu origem ao conceito popular de autoconhecimento. Na sua etimologia o termo vedanta possui dois significados: “aquilo que se encontra no final dos Vedas”, pois “anta” em sânscrito significa “fim” ;e também, “o conhecimento final”. 5 O estoicismo foi uma linha do pensamento filosófico grego surgida no século III a.C. Era pensamento central dos estóicos o desenvolvimento do autocontrole, a busca pelo afastamento das emoções destrutivas e a manutenção da vida sem excessos. O homem sábio é aquele que obedece à lei natural, 6 Epicurismo. Epicuro dividiu sua filosofia em três áreas: lógica, física e ética. Para ele, apenas o verdadeiro conhecimento, obtido por meio dessas três partes, poderia levar o homem a seu objetivo natural: o prazer. Publicidade. Epicuro (c. 341-270 a.C.) Filósofo grego. 9 encarnação. Mas será que dá tudo certinho? Será que nós agimos como foi planejado? Será que os outros agem de acordo com o planejado para nós e para eles? Enfim, este plano reencarnatório interfere de alguma forma no nosso livre-arbitrio? No meu modo de ver, e de acordo com o que podemos interferir da própria literatura, pode ocorrer de tudo: pode ser que o plano seja alcançado total ou parcialmente; pode ser que o espírito recaia nas mesmas circunstâncias negativas e tenha que voltar para outra tentativa. Ou seja, na prática o que existe é uma probabilidade de que o plano venha a se cumprir, mas não certeza. Este plano também poderia ser chamado de Darma, que decorre do Carma, que é palavra de origem sânscrita que pode ser conceituada como o conjunto das ações individuais e coletivas, que , pela ação da Lei de ação e reação, vai gerar as suas consequências. É uma decorrência natural do exercício do livre-arbítrio. O carma é composto por muitas linhas divergentes e conflitantes decorrentes das diversas ações harmônicas e desarmônicas que cometemos do passado. A linha de tendência resultante de todasessas múltiplas ações aponta numa determinada direção e assume um determinado propósito alinhado com a ordem divina do Universo e de nossa vida em particular. Essa direção ou plano é o Darma. Para atingirmos o nosso darma, temos de navegar nas “ondas” revoltas do carma, até que essas ondas estejam todas alinhadas e não exista mais diferença entre o carma e o darma. Mas nem tudo é colheita do carma. Longe disso. Há inúmeros erros novos sendo plantado o tempo todo. Há centenas de milhares de novas injustiças sendo cometidas pela primeira vez. Mas também há inúmeros acertos e boas ações sendo praticadas pela primeira vez. Todos esses desequilibrios e equilibrios terão que ser reparados e compensados a seu devido tempo. Um dos princípios fundamentais da filosofia esotérica ensina que, através da lei da reencarnação, todo o esquema da natureza funciona e evolui de modo perfeitamente justo. Este axioma da 10 sabedoria eterna necessita ser examinado com bom senso. De fato, todo o esquema de natureza é justo. Disso não há a menor dúvida. Mas ele é justo no sentdo de que faz perfeita justiça em cada um dos seus momentos vistos isoladamente. Neste sentido, muito interessante é a observação do Dr. J.Graig Venter acerca da interpretação do DNA, publicada no livro “Uma vida decodificada”: Não se pode definir uma vida ou qualquer vida com base apenas no DNA. Sem entender o ambiente no qual as células ou a espécie existem, é impossivel entender a vida. O ambiente do organismo é, em última análise, tão único quanto seu código genético”. O que significa isso? Que até o DNA – o plano genético do nosso corpo – pode ser influenciado pelo ambiente, que é um somatório de tudo que nos rodeia, e se alterar, ou seja, ter um resultado prático diferente do plano. O que dizer, então, do nosso plano reencarnatório ou darma? Como podemos acreditar em determinismo? Penso que o mais sensato é acreditar que vivemos um Livre- arbitrio relativo. Por que relativo? Porque vivemos uma vida de relação social em que o resultado que buscamos é influenciado por muitas coisas que não estão sob nosso controle, que dependem de diversas alternativas e que não são certezas, apenas probabilidades. Temos livre-arbítrio e somos seres sociáveis inseridos numa rede de causas e efeitos muito maior do que podemos controlar e prever.” A Umbanda desde o seu anúncio através do Caboclo das 7 encruzilhadas vem se organizando e de certo modo eliminando os exageros (inclusive de oferendas) em relação ao culto aos orixás. Muitas “complicações” nas interpretações e formas de culto aos orixás são provenientes da própria limitação humana. Basta recorrecorrermos as entidades da Umbanda para perceber a simplicidade dos ritos e obrigações. 11 Interagir X Intervir por mãe Márcia Moreira Como mãe no santo, sacerdotisa de Umbanda, vejo um comportamento comum entre muitos filhos na fé como também dos assistidos, que buscam em nossas casas ajuda para suas vidas de forma equivocada. Isso acontece até mesmo com aqueles que recebem orientações ou formações da doutrina umbandista. As entidades também sempre ensinam e aconselham a respeito, porém a maioria não acolhe e não aprende como deveria. Vamos tentar aprender? A Umbanda é uma religião que respeita o livre arbítrio, porém nossa liberdade está condicionada a outra lei maior chamada Lei Natural, ação e reação, onde toda a forma de vida existente no universo está integrada. Sendo assim a Umbanda é uma religião espiritualista, que se relaciona com o sagrado através dos Orixás e com a incorporação de entidades comprometidas com a lei da caridade. Na Umbanda somos chamados e acolhidos a se relacionar com esses canais de espiritualidade que desenvolvem em nós a capacidade de interagir com o mundo material e espiritual e suas diversidades. Interagindo, harmonizamos nossas energias e nossas emoções. Adquirimos um sentido de vida que se lança para o além do imediato. Construímos identidade e confiança de que tudo está em seu lugar. De que a existência do caos nada mais é do que parte do processo de evolução. Se há problemas, há também discernimento, sabedoria e disposição para resolver cada um deles no seu tempo e sem dramatização. As entidades de Umbanda estão ali para nos aconselhar, nos guiar, mas cada um tem que viver, se construir com seus próprios passos. No entanto, muitos buscam a Umbanda de forma equivocada. Intervém no processo natural da vida, ordenando que suas vontades e necessidades sejam atendidas. Buscam casas e entidades que trabalham com a barganha, com a negociação. Alinham-se num processo vicioso de consumismo espiritual, não se importando de onde se está tirando desde que seja atendido. Essas pessoas adquirem também um sentido para a vida. Uma vida de insatisfação, de insegurança e de infelicidade. Desarmonizam-se com a naturalidade de sua essência e se afastam de entidades comprometidas com a evolução. Consequentemente, as insatisfações são maiores e os trabalhos espirituais mais exigentes de objetos e dinheiro. Essa é a essência da Umbanda? É caridade? E você como vive a Umbanda em sua vida? Interagindo ou intervindo? 12 Seguindo dessa forma o entendimento de Deus sendo energia, força, potência de energia presente no universo, apresentamos abaixo a constituição de forma gráfica da movimentação dos Orixás e suas origens: OXALÁ OGUM OXOSSI XANGÔ OMULU IANSÃ IEMANJÁ OXUM DEUS OLORUM NANÃ BURUQU E 13 Essa organização apresentada acima se refere à manifestação dos orixás em atividades realizadas numa engira ou gira7 de Umbanda. Portanto, Oxalá não se encontra na relação dos orixás básicos e não rege diretamente o ori. Considerado orixá maior, Oxalá é a energia crística8 oriunda de Deus-Olorum. Sua frequência vibracional esta acima dos orixás básicos. É a essência de Deus unida a toda sua criação. Na Umbanda, quando evocamos os orixás, incorporamos os chamados enviados, falangeiros ou representantes (espíritos que vibram exclusivamente os elementos correspondentes ao orixá). Os orixás se interagem ou manifestam individualmente de acordo com a gira realizada. Cada orixá possui um campo de atuação. Abaixo algumas de suas funções: - Oxalá: energia criadora, Amor. - Oxossi: energia vital a saúde física, expansiva e agregadora. - Ogum: energia impulsiva, determinação e organização. - Xangô: energia racional, discernimento e metodologia. - Omulu: energia regenerativa, transmutadora e evolutiva. - Oxum: energia emocional, geração e protetora. - Iemanjá: energia maternal, familiar e dominadora. - Iansã: energia da verbalização, dos movimentos e mudanças. - Nanã Buruquê: energia da interioridade, ancestralidade, identidade (herança). 7 Termo usado que significa: sessão de umbanda, trabalhos espirituais. 8 Energia do amor cósmico. 14 DEFINIÇÃO DE ORIXÁ Orixá é potência da Luz de Deus. Na Umbanda não “incorporamos” o Orixá, mas sim os seus enviados9. Visto que Orixá é energia divina que manifesta através da força da Natureza criada por Deus. Orixá é a energia do vento, do sol, das águas, da pedreira, etc. Portanto não podemos incorporar isso tudo, mas sim os seus enviados que por questõesde similitude vibratória estão representando essas forças. Saudação de Orixá OXALÁ: êpa babá (olá, com admiração e espanto ao ancestral dos ancestrais) OXÓSSI: okê arô (autoridade o rei que fala mais alto ou salve o rei que é aquele que fala mais alto) OGUM: patacori Ogum iê (salve Ogum, cabeça coroada) XANGO: kaô kabecilê (venham ver, admirar, saudar o rei da casa) OXUM: ora aie eu (salve menina cuidadosa, salve rainha Oxum) IANSÃ: epa hei oya ( salve oya, mãe dos nove espaços de orum) YEMANJÁ: odoia ou odociaba (mãe das águas) NANÃ: saluba Nanã (nos refugiaremos da morte com Nanã) ATOTÔ: atotô (silêncio) A saudação aos Orixás ou linhas de trabalho na Umbanda tem a função de nos auxiliar na sintonia vibracional. São mantras que verbalizados de forma vibrante evocam e preparam determinados Orixás ou linhas de trabalho para o ritual sagrado. Também é fundamento ritualístico que auxilia na organizaçao dos participantes. 9 Espírito que manipulam exclusivamente os elementos que corresponde a determinado Orixá. 15 Outras saudações Saravá10 = salve ou viva, correspondendo a uma saudação umbandista de muita positividade e sacralidade e deve ser pronunciada com reverência e solenidade. Pedido de benção as entidades = louvar a presença daquela entidade sagrada que se manifesta. Pedido de benção ao sacerdote11/ pai ou mãe no santo = é pedir a benção da egrégora espiritual que vibra no ori do sacerdote/ pai ou mãe no santo. Salve a sua coroa = saudação feita entre irmãos. Refere-se à saudação de todas as entidades e Orixás que manifestam em seu ori. 10 Do livro Memórias da Umbanda no Brasil (Ronaldo Linares/ Diamantino Trindade). O escravo banto precisou adaptar a sua língua ao Português. Era difícil pronunciar a letra L. Acabava dobrando a vogal. Então a palavra SALVE tornou-se SALAVE e depois SALAVA o que acabou gerando SARAVÁ. 11 O sacerdote/pai ou mãe no santo representa o congá vivo. (nota: mãe Márcia Moreira). 16 17 ESTRUTURA DO SER ESPIRITUAL Apresentar o vídeo sobreo corpo espiritual. http://www.youtube.com/watch?v=8Mf-qBFO9dI A partir do vídeo que assistimos podemos entender a dimensão do ser espiritual que somos, onde tudo envolve energia, magnetismo. Somos responsáveis pelas energias que atraimos e doamos. Desta forma é preciso que haja mais observação pelos lugares que frenquetamos, pela qualidade de energia em nossa casa e em nossas relações. O vídeo também nos mostra o quanto viajamos em desdobramento astral durante o nosso sono. O corpo físico descansa, porém nosso espírito continua em atividade plena, portanto, o momento de dormir é Sagrado tanto para o corpo quanto ao espírito. Tendo agora essas informações que haja mais cuidado e preparo para uma boa noite de sono. Que se aproveite ao máximo as energias disponibilizadas; o corpo recebendo um bom descanso e o espírito se desdobrando para ser educado, corrigido e orientado. Para aqueles que estão comprometidos em um trabalho espiritual, a qualidade do descanso é essencial para que haja melhor aproveitamento no serviço, nos atendimentos e nas correntes energéticas. Algumas dicas para um descanso saudável; - não dormir com televisão ou rádio ligado. - tomar um copo d‟agua na hora de se deitar. - deitar com roupas confortáveis e limpas. - o quarto deve ter o menos possível de objetos. - eliminar as preocupações (se for o caso, faça um exercício de respiração para diminuir a ansiedade). - oração (que cada um busque à sua maneira o que mais lhe agrada para alcançar um bom descanso). http://www.youtube.com/watch?v=8Mf-qBFO9dI 18 Sugestões de oração ou mentalização: - Oração para a paz do sono: Senhor! Agora que me preparo para o repouso do meu corpo físico, rogo que ele permaneça sob Tua proteção, Oh meu Deus! Que o meu espírito liberto, durante o sono reparador, possa encontrar-se com os bons espíritos e que estes possam amparar-me e instruir-me. Se porventura Senhor, algum irmão errante se aproximar de mim, que ele seja conduzido para um portal de luz para que seja socorrido amorosamente. Rogo-te meu Deus, para que durante esta liberdade provisória, o meu espirito se encontre com os bons e possa com eles compartilhar benéficos momentos. Permita, oh Senhor, que o meu anjo guardião e os espiritos protetores, de mim se aproximem e tragam-me esclarecimentos, paz e luz. E que no despertar do meu corpo fisico, meu espirito conserve as recordações dos ensinamentos obtidos com os benfeitores da espiritualidade colocando-os em prática no meu cotidiano Assim seja! - Mentalização de GRATIDÃO: Verbalizar ou mentalizar a gratidão pelo dia, pelo alimento, pelo lar que abriga o seu corpo e pelas oportunidades de aprendizado que terás enquanto descansa. - Pedidos de BENÇÃOS: Pedir bençãos a Deus, aos Orixás, aos pais (mesmo que estejam desencarnados), as entidades, guias e mentores espirituais. 19 O Ser Humano Como Unidade Bio-psico-sócio-espiritual12 O ser humano é uma unidade, com características próprias que o identificam como tal. Essa noção de ser um todo não exclui a verdade de ter partes componentes. O ser humano está situado dentro de um contexto que o abriga, o envolve que o influencia e é por ele influenciado. Faz parte de uma rede de relações com o universo. Portanto, o homem pode ser visto como um todo, uno e, ao mesmo tempo, como parte de um todo maior que o reveste. Quando se estuda o homem é preciso não desvinculá-lo de seu habitat, de seu contexto, de sua malha de relações. Por outro lado, enfocado como uma unidade, queremos propor ver o homem em algumas dimensões que o tornam único e diferentes dos outros seres. Enfocaremos o homem nas usas dimensões biológica, psicológica, social e espiritual. A dimensão biológica refere-se aos aspectos físicos do corpo: anatomia, a fisiologia, os sistemas musculares, digestivo, ósseo, hormonal, respiratório, as funções e disfunções dos diversos órgãos, a inter-relação desses sistemas. As necessidades fisiológicas estão aqui incluídas. A dimensão psicológica refere-se aos aspectos ligados à personalidade do ser humano, manifestada no comportamento motivado por instâncias conscientes, pré-conscientes e inconscientes. Incluem-se nesta dimensão o pensamento, a memória, os raciocínios, o contato e a expressão de sentimentos, emoções, desejos, vontades, necessidades de segurança, de autoestima, de realização. A dimensão social diz respeito aos aspectos ligados à vida em grupo, enfocando os fatores econômicos, políticos, ideológicos e culturais. Esta dimensão inclui, necessariamente, a interação e, consequentemente, todos os fenômenos que acontecem na interação 12 http://www.osentidodavida.com.br 20 entre pessoas e grupos. As necessidades de associação, de uma vida social estão aqui incluídas. A dimensão espiritual relaciona-se ao sentimento de pertencer ao mundo, de ser uma parte do Universo, à noção da existência de forças maiores que o entendimento não pode ou tem dificuldade de aprender; é uma dimensão que ultrapassa a matéria tal como a conhecemos. É uma noção interna de transformação da forma de vida conhecida para outro plano que é intuído, mas nem sempre claro para as pessoas. A espiritualidade pode ser desenvolvida através de alguns caminhos entre os quais a religião, a meditação, a reflexão, o esoterismo, a ação. Uma vez entendido que o homem existe nessas dimensões, isso quer dizer que suas necessidades, sua satisfação e seu funcionamento estão dentro dessas dimensões. O tempo inteiro o homem está se comportando segundo a junçãodessas dimensões. Elas não existem isoladas. Você não pode isolar o aspecto biológico do psicológico, por exemplo. Essas dimensões estão interligadas e funcionam como vasos comunicantes. As emoções têm uma ligação direta com o aspecto físico. As descargas de adrenalina na corrente sanguínea são uma mostra de que o psicológico tem repercussão no biológico. As tensões causadas pelo social, pelo econômico também têm influência nos aspectos biológicos e psicológicos. O contato com a espiritualidade pode, igualmente, ter consequências nas demais dimensões. A saúde vai, então, permear todas essas dimensões. É o equilíbrio dinâmico entre esses aspectos, difícil no mundo de hoje de ser obtido, que guiará a saúde do ser humano. A harmonização dos nós (pontos de intersecção) dessa rede em que se situa o homem será sempre o indicador de saúde: sentir-se bem por estar vivo, sentir-se útil e produtivo, com a consciência em paz, sentir fazer parte de um todo e capaz de se entregar à fluidez da vida. 21 Todo e qualquer ser humano tem algo em comum: o desejo de ser feliz. Tudo o que ele faz está relacionado à busca da satisfação deste desejo. Uns mais outros menos, mas todos buscam. Para que se criem condições onde a felicidade seja uma realidade é preciso uma definição para felicidade que nos possibilite a autoanálise, a análise do próximo, do ambiente ou da situação e, consequentemente, a tomada de decisões adequadas. O destino do ser humano é a evolução. Todo o universo está em constante evolução e o ser humano não é uma exceção. Não existe uma realidade absoluta comum a todos. A realidade é relativa, depende do observador e do contexto. É preciso aprender a se ver, a ver o mundo e a interagir com ele. Para entender o ser humano e preciso considerar suas diversas facetas: Homem material – o seu foco é a sobrevivência e a sua expressão é o instinto. Homem racional – o seu foco é o sentido para as ações e sua expressão é o motivo. Homem espiritual – o seu foco é a perfeição espiritual e a sua expressão é a intuição. Homem emocional – o seu foco é a felicidade e a sua expressão são as emoções e os sentimentos. Homem camaleão – o seu foco é a facilidade e sua expressão é um personagem. O homem possui necessidades, as quais consciente ou inconscientemente, busca atender durante toda a sua vida promovendo assim a sua evolução: Liberdade e Segurança – são as necessidades mais básicas do homem. Ter – o homem busca ter tudo aquilo que lhe garanta uma sobrevivência mais satisfatória. Ser – o homem busca a evolução do Eu, a autoestima, a sabedoria e a transcendência. Amar – o homem busca a evolução espiritual, o desapego do Eu, e se doa ao próximo e a natureza. 22 Na busca da satisfação de suas necessidades, o homem sofre a influência do próximo e a evolução se dá por: Competição – o individuo mais primitivo é essencialmente competitivo, ele se comporta como quem luta com o próximo pela sobrevivência, mesmo quando está em jogo. Cooperação – com a evolução o individuo percebe que obtém melhores resultados com a cooperação com outros que tenham os mesmos interesses. Doação – nesta etapa mais avançada do processo evolutivo o indivíduo busca o bem do próximo, o bem coletivo. Com a evolução há uma mudança no foco de interesse conforme as seguintes sequências: 1ª Fase 2ª Fase 3ª Fase Material Racional Espiritual Individual Grupo Todo Ter Ser Amar Competição Cooperação Doação A imperfeição é apenas uma faceta do livre arbítrio. O mundo como criação é perfeito e a felicidade, consequentemente, esta ao alcance de qualquer um, independentemente do estágio de sua evolução. A vida é uma caminhada solitária e infinita ao longo da qual vão se sucedendo as oportunidades para a satisfação de suas necessidades. Felicidade é o estado de satisfação do indivíduo com a sua evolução, com o atendimento das suas necessidades de segurança, liberdade, ter, ser e amar. Em qualquer situação, para que haja condições para ser feliz basta o indivíduo reduzir os seus desejos para 23 um patamar compatível com a capacidade real de atendê-los com ações de sua própria iniciativa, sem depender do próximo. Na evolução rumo à perfeição está o sentido da vida, a razão de existir do ser humano. O destino de cada pessoa é promover a própria evolução e a do ser humano como espécie e, em decorrência do livre arbítrio, cabe a ela decidir como esta evolução se dará. O mundo é simplesmente belo e ao mesmo tempo simples e complexo. É de uma grandeza assustadora. Tem uma capacidade ilimitada de se recriar. Nada criado pelo homem é ou será suficientemente belo ou perfeito quando comparado à natureza. Reconhecer a perfeição do universo é uma questão de bom-senso, de humildade. EVOLUÇÃO – o destino do ser humano é a evolução. Tudo evolui, não existe um momento igual ao outro. A cada instante as pessoas mudam e muda o contexto. Todo o universo está em constante evolução e o ser humano não é uma exceção. O foco da evolução do ser humano é a perfeição, o estado de paz total, de ausência de tensões, de plenitude. As pessoas têm uma necessidade natural de evolução, de crescimento. Elas precisam apenas ser apoiadas e motivadas para a obtenção dos melhores resultados. O ser humano tem três modos de evoluir; - Pela aceitação – deixar a vida fluir naturalmente. - Pela ação – fazer acontecer, participar ativamente do processo, buscar o conhecimento e exercer o livre-arbítrio. - Pela omissão – a pessoa não deixa a vida fluir naturalmente e nem busca o conhecimento necessário para o exercício do livre-arbítrio. Deixa a evolução por conta do destino. Evoluir não é uma opção, é o destino do ser humano e a evolução se dará pela ação ou pela aceitação, pelo amor ou pela dor, pelo sofrimento ou pelo esclarecimento. Pelo sofrimento e pela dor, a 24 evolução será baseada na culpa, no medo e na insegurança. Portanto, a arte de evoluir consiste em aprender a se ver, a ver o próximo, a ver o mundo e a interagir com eles. É preciso conhecer para compreender, é preciso compreender para aceitar, é preciso aceitar para amar. Todas essas dimensões e complexidades acima apresentadas nos direcionam para uma reflexão do que somos em nossas particularidades e do que exigimos seja da vida, das pessoas que nos cercam e de nossa fé. Perdemos muito tempo na ilusão, no comodismo e no próprio simplismo de nossas vidas. Nossas entidades, guias e mentores abraçam a grandiosa missão de nos inspirar, despertar e nos tirar desse marasmo “progresso” como incansáveis obreiros da luz. Embora eles tenham conhecimento de toda complexidade que nos cercam, cabe a cada um de nós realizarmos nosso movimento de evolução, abençoado por Deus e pelos Orixás13. 13 Nota: mãe Márcia Moreira 25 Importante e Essencial - Caboclo Pery – 24/01/2006 Viver é importante. Viver bem é essencial. Ser honesto é importante. Ser honesto consigo mesmo e com os outros é essencial. Perceber é importante. Compreender a percepção é essencial. Lutar é importante. Lutar por uma causa justa é essencial. Ser médium é importante. Ser um bom médium é essencial. Cada um sabe de si e tende a julgar os outros por critérios que favorecem a si mesmos. Ser justo é importante. Não julgar é essencial. No caminho que vocês escolheram, já era sabido por todos, haverão espinhos, mas haverão flores também. Se vocês permitirem que os espinhos sejam mais importantes do que as flores, certamente se cansarão do caminho. Decidir é importante. Perseverar é essencial. A responsabilidade pesa maneiras diferentes para cada um, pois ela está de acordo com as aspirações de caridade de cada um. Fazer caridadeé importante. Ser caridoso com o irmão é essencial. Os trabalhos não estão aumentando, vocês é que estão se capacitando para trabalhar mais. Ser médium é importante. Estar disponível verdadeiramente é essencial. É essencial ser bom médium, ser caridoso, ser perseverante, não ser juiz e ser honesto. É essencial saber e ter a certeza de que esta é a Casa que irá atender os seus ideais. Caso tenha dúvidas, medite sobre isso sinceramente, busque auxílio nas entidades que trabalham com você. Mas faça isso em silêncio! Ouça o seu coração! Se lhe for verdadeiro lhe dará a resposta. Importante é estar aqui. Essencial é estar aqui e somente aqui. Importante é que estar aqui seja importante para você. Essencial é que estar aqui seja essencial para você. Importante é ser da Casa. Essencial é Ser A Casa. 26 MEDIUNIDADE - INTRODUÇÃO Pergunta: Todos somos médiuns? Resposta: Todos os seres humanos são médiuns, sem exceção! A palavra médium tem origem no Latim e significa “meio”. Meio de comunicação entre o mundo espiritual (onde vivem os espíritos) e o mundo material (onde vivemos). Mediunidade é a capacidade de intermediar entre duas realidades. A mediunidade é nata em todos os seres humanos. É um dom do espírito. Na Umbanda também intermediamos realidades da natureza (Orixás, elementos).14 A mediunidade pode ser Natural ou de Prova “Mediunidade Natural” é a mediunidade decorrente da conquista de valores morais e evolução espiritual. Nessa situação o médium é um missionário em meio aos homens e tem sempre como objetivo a pratica da caridade e a eliminação de seus defeitos. “Mediunidade de Prova” é aquela em que os homens sob a misericórdia Divina passam a ter intercambio com os espíritos guias e dessa forma, passam a ressarcir seus débitos kármicos do passado. Esse é o tipo de mediunidade da esmagadora maioria dos médiuns, sejam eles umbandistas, kardecistas, seguidores do Candomblé ou ainda, de qualquer outra religião, tendo em vista que o fenômeno mediúnico existe em todas as religiões ou civilizações. Deus assim procede para que ninguém nunca possa dizer: “Não tenho fé porque fui privado do contato com os espíritos”! Os kardecistas catalogaram perto de 60 tipos de mediunidade, sendo as mais comuns a: Psicografia, Vidência, Auditiva, Intuitiva, Sensitiva, de Cura, Efeitos físicos, Incorporação... Psicografia O guia do médium envia seus pensamentos a mente do médium concentrado. Em seguida envia comandos ao sistema 14 Texto extraído do curso de Teologia da Umbanda – Alexandre Cumino. 27 nervoso do médium e passa a ter domínio sobre o braço e a mão do médium e nessa situação a escrita se desenvolve. A caligrafia é normalmente a mesma que o espírito adotava quando encarnado. Vidência Na mediunidade de vidência o médium vê e pode conversar com os espíritos, porém, esse tipo de vidência é raro, o mais comum é a vidência momentânea situação em que podemos ver os espíritos em frações de segundo. Auditiva Na mediunidade auditiva o médium ouve as vozes dos espíritos, mas não ouve com os ouvidos e sim, com a mente.O médium ouve a comunicação como se fosse um pensamento, mas ouve com timbre, onde pode distinguir um espírito masculino ou feminino, se ele está irritado ou se o espírito comunicante é amigo. A obsessão utiliza largamente esse meio para atingir seus desafetos. Intuitivos,inspiração ou irradiação Na intuição um espírito amigo (ou inimigo), envia sugestões através de seus pensamentos ao médium. Cabe ao médium ter discernimento nessas comunicações a fim de não cometer erros. A intuição pode muito nos ajudar, mas se a fé for cega poderá ser perigoso. “A obsessão faz uso dela amplamente”. Sensitivos Os sensitivos quando adestrados e desenvolvidos corretamente são muito úteis, principalmente em reuniões em que não estão presentes os videntes. São capazes de perceber vibrações nas pessoas, objetos, plantas, animais e ambientes, mas a principal característica é sentir a presença dos espíritos e suas vibrações, como exemplo; “Se são bons ou maus”. Curadores Este gênero de mediunidade consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer medicação. Existe logicamente a necessidade de elevada espiritualidade para que esse tipo de médium atinja seus objetivos. Efeitos físicos Por intermédio desse tipo de médium, os espíritos podem causar manifestações no nosso mundo físico. Podem 28 movimentar objetos de grande porte se materializarem e serem palpáveis ao toque físico. Utilizam para tanto os fluidos do médium conhecido como “ectoplasma”. Para realização das sessões de materialização são necessários além da forte concentração de todos os presentes, das orações preliminares e do ambiente totalmente escuro. Mas em alguns casos espontâneos existem registros dessas manifestações em qualquer ambiente e sem preparo algum. O fenômeno ficou conhecido como “Mesas girantes”. Desdobramento ou projeção astral também conhecido como viagem astral é o ato de sair do corpo material com seu corpo perispiritual para realizar tarefa no astral. Psicometria é uma leitura do registro astral e temporal que fica em cada objeto revelando seu histórico. Xenolalia falar em uma língua e todos entenderem em suas línguas. Glossolalia expressões de êxtase pelo ato de orar, falar em línguas celestiais. MEDIUNIDADE DE INCORPORAÇÃO A mediunidade de incorporação é a modalidade principal na Umbanda. Muito mais que simples mecânica de transmitir mensagens dos espíritos por nosso aparelho vocal, existe toda uma caracterização no médium incorporado por uma entidade de Umbanda, pois eles trazem todo um conjunto de trejeitos que identifica a qual linha pertence (preto-velho, caboclo, baiano...)e qual o tipo de trabalho que realizam15. Mediunidade de incorporação é transmitir mensagens dos espíritos por nosso aparelho vocal, expressar corporalmente a característica e personalidade desse espírito, vivenciar sua energia e sentimentos no mais intimo do seu ser. É uma vida em seu corpo e com ela toda a bagagem de sua história que transcende ao tempo e espaço. As 15 Trecho extraído do texto de Pai Rodrigo Queiroz. 29 entidades se apresentam a nós de forma integral e total de seu SER. É uma interação profunda com toda nossa limitação física, emocional e psicológica. Embora haja preparos por parte do médium (banhos de ervas, jejum de carnes, bebidas alcoólicas e sexo, e outros preceitos) as entidades equalizam suas energias para se moldar a nossa energia para que ocorra a incorporação, porém, o seu SER é incorporado em sua totalidade. Portanto, o médium é o templo vivo do seu guia. “Não somos loucos, somos médiuns16”. A pessoa quando começa a manifestar espíritos, quando começa a incorporar, ela começa pensar que esta ficando louca até descobrir que não é louca e sim, é médium. Zélio de Moraes quando começou a manifestar espíritos, foi encaminhado para um tio que era médico, o Dr Epaminondas. Era médico de um hospício e não encontrou diagnósticos de loucura. Adiante Zélio também foi exorcizado por padres. Quem esta de fora e olha para um médium incorporado pode pensar “Esta todo mundo louco varrido. Ajoelhados....., engatinhando no chão.......”. A mediunidade era considerada como histeria no final do século XVII. Graças a Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail) e sua pesquisa cientifica é que a mediunidade foi classificada. Entregar-se a algo maior do que você é um ato de loucura para muitos, é pular em um despenhadeiro para o desconhecido. No inicio a incorporação é praticamente um salto rumo ao desconhecido. “Incorporar” é entregar-se a algomaior do que você, não tem outra maneira de incorporar, é um ato de entrega”.17 O grande medo de todo médium que inicia sua caminhada na Umbanda é o da incorporação consciente. Nove entre dez médiuns sentem-se inseguros em suas primeiras incorporações. É muito comum ouvirmos frases do tipo “Eu vejo tudo, não posso estar em transe”. A culpa dessa dúvida que assola nossos terreiros é dos próprios dirigentes que não esclarecem aos iniciantes como é esse 16 Frase de Pai Ronaldo Linares 17 Texto extraído do curso de Teologia da Umbanda – Alexandre Cumino. 30 processo e dos irmãos mais antigos que insistem em dizer que são totalmente inconscientes, talvez para valorizar a sua (deles) mediunidade ou com medo de serem tachados de mistificadores. Acalmem-se todos! Há muitos anos as entidades deixaram de usar a inconsciência como fator preponderante para o bom trabalho exercido pelo médium. Muito pelo contrário, hoje sabemos que noventa e cinco por cento dos médiuns são conscientes ou semiconscientes. A inconsciência completa é muito raro e pouquíssimas vezes revelada, justamente para não causar essa insegurança tão presente em nossa religião. Pensemos no exemplo da água misturada ao açúcar. Quando adicionamos um ao outro teremos um terceiro liquido inteiramente modificado, mas com ambos os elementos nele. Assim se processa a incorporação, a mente do médium aliada à energia gerada pela entidade que se aproxima , unem-se em perfeita harmonia e conseguem, utilizando os conhecimentos de ambos, um trabalho mais compacto e correto. Não se acanhem em dizer que são conscientes, pois a insistência dessa postura pode levá-los a falhas que aí sim, darão margens à suspeitas de mistificação. Nos primeiros anos da Umbanda havia a necessidade da inconsciência, os médiuns tinham vergonha de entregar-se ao trabalho sem reservas. Como deixar que um espírito se arrastasse pelo chão falando como criança? Ou ainda sentasse em um banco com um pito na boca? Eram atitudes que assustariam o médium e o levariam a afastar aquela entidade. Com a evolução constante da lei, todos conhecem perfeitamente as capas fluídicas que nossas entidades usam e não existe mais a necessidade delas esconderem de seus médiuns a forma com que se apresentam. O cuidado a se tomar nos terreiros cabe aos dirigentes com informação e doutrina abundante para que o velho fantasma da insegurança se afaste de vez de nossas casas. 31 DINÂMICA DA INCORPORAÇÃO Em nosso corpo físico existe um eixo que vai do chakra coronal ao chakra básico, passando por todos os chakras, acompanhando a espinha dorsal. O corpo espiritual ou seja, nosso perispírito, nosso corpo astral está alinhado com nosso corpo espiritual. Quando um espírito se aproxima para a incorporação, ele utiliza de uma técnica chamado acoplamento áurico, ou seja, ele se conecta e utiliza do nosso mental. É através da nuca que a entidade incorpora, quando a aura do espírito encontra com a nossa aura. Quando há nesse encontro, essa interpenetração áurica, quando o campo magnético e áurico desse espírito entra em contado com o nosso campo magnético e os dois se unem, é que se tem aquele choque de incorporação. A reação deste choque será um movimento rápido se o médium estiver pronto para esta entrega, consciente deste ato ou será algo brusco se o médium resistir ou estiver inseguro para a incorporação. Três palavras que definem o ato da incorporação; PARCERIA – o médium não sai do seu corpo, ele continua junto com a entidade. É por isso que ele vê e ouve. A diferença é que vendo e ouvindo se permanece quieto para que a entidade se manifeste. Para que uma parceria aconteça é fundamental ter CONFIANÇA e não há confiança e parceria se não houver ENTREGA. Quando se tem esses três elementos presentes encontra-se uma boa mediunidade de incorporação consequentemente com bons resultados. Bons resultados não são efeitos físicos, mas o que desperta, inspira de bom naquele que esta sendo atendido. Mediunidade de incorporação assim como todas as mediunidades são dons do espírito e não da matéria. Compõe a essência do espírito. Por esta razão que muitas vezes sonhamos que estamos incorporados. Nosso espírito https://www.facebook.com/photo.php?fbid=454351644692438&set=gm.624953700886188&type=1 32 incorpora outro espírito que esta em outra vibração para que ele atenda através da comunicação um terceiro espírito que esta na mesma realidade que nós. Isso também é mediunidade, mediunidade entre duas realidades astrais18. Desenvolver mediunidade de incorporação é aprender a deixar-se manifestar através de você uma bagagem de pensamentos, sentimentos e sabedorias que você desconhece, mas que participa integralmente recebendo assim o privilégio do aprendizado se tratando de incorporação de entidades iluminadas. Quanto os espíritos poucos esclarecidos, é permitir que eles sintam suas virtudes, benevolências e comprometimentos assim doando lhes a oportunidade de se inspirarem através do seu Ser ao caminho da regeneração. Incorporar, portanto é um ato Sagrado, um dom que nos auxilia ao crescimento espiritual, a nossa evolução. Incorporar entidades aos quais chamamos de guias espirituais é permitir que se manifeste a sabedoria, os conselhos, aprendizados, correções , amparo, acolhimento. Enfim, há sempre um trabalho a ser feito por todas as partes. “Com os mais sábios aprenderemos, aos humildes ensinaremos e a ninguém renegaremos” – Caboclo das 7 Encruzilhadas Em nossos dias é comum ver terreiros de Umbanda divulgando suas festas e homenagens com as entidades incorporadas. Por muitas vezes se divulga mais festas do que comprometimentos em auxilio ao próximo. Com tanto trabalho a ser feito, tanto a se aprender, a se corrigir, tem se realmente necessidade de tantas festas? Podemos com a alegria e motivação que a Umbanda nos oferece, nos confundirmos e nos perdermos por este conceito tão prazeroso. E nessas festas, os terreiros estão sempre cheios de consulentes, a maioria presente somente nesses dias. Todos muito envolvidos e dedicados em detalhes visuais e comestíveis. Sempre tem aquele médium que providencia uma roupa nova, mais bonita mas quase ou 18 Trecho extraído do curso Teologia de Umbanda – Alexandre Cumino. 33 nunca não se habilita a renovar a pintura e manutenção de sua casa, ou do banquinho do seu Preto-Velho. Sempre encontram condições para adquirir algo novo para os festejos mas quando se trata da colaboração mensal e as necessidades básicas da casa a colaboração é inexistente. Sendo a incorporação um ato Sagrado de doação, expor a simples prazer ou vaidade é banalizador. Pelo caminho da fé se banaliza muitas vezes sem perceber. Por esta razão nossa fé necessita de aprendizado constante, amadurecimento e consciência da responsabilidade para que na escola da vida mediúnica possamos abandonar o playground e nos licenciarmos num sadio Ato Sagrado que é a incorporação mediúnica19. Video explicativo sobre incorporação https://www.youtube.com/watch?v=fLoEeX5JyYs MEDIUNIDADE CONSCIENTE20 Na mediunidade de incorporação consciente o Guia aproxima-se do médium e faz ligações apenas junto ao cérebro de seu médium e a ele envia seus pensamentos. Nesta situação o Guia se valerá também de outros tipos de mediunidade que o médium apresente como exemplo; a mediunidade intuitiva, auditiva, sensitiva, clarividência e outras. O Guia de um médium consciente sempre irá utilizar todos os meios que tiver ao seu alcance para ser compreendido e a mensagem ser transmitida aos seus consulentes. Neste caso o médium permanecerá consciente e notará todas as situações que ocorram no ambiente dos trabalhos e quando desenvolvido corretamentee ciente de seu papel como médium, a atuação de seu Guia aumentará gradativamente através da assiduidade do médium nos trabalhos, 19 Texto de mãe Márcia Moreira. 20 Texto do curso Teologia de Umbanda – Alexandre Cumino https://www.youtube.com/watch?v=fLoEeX5JyYs 34 situação em que o médium quanto mais assíduo nos trabalhos, mais passa a perceber movimentos dos seus braços, pernas e da boca sem o seu comando. Por ser a mediunidade de incorporação consciente, é ela que mais confusão faz na mente de um médium no inicio de sua missão, o que o faz muitas vezes duvidar das comunicações enviadas a sua mente, onde imagina estar transmitindo com suas próprias palavras as comunicações que lhe chegam à mente, o que não corresponde à realidade que vive o médium consciente quando integrado a uma corrente séria. O médium consciente quando firme e convicto de sua missão mediúnica não dá importância ao fator consciência de sua mediunidade e segue com naturalidade na sua missão, adaptando-se aos meios que seu Guia usa para se comunicar e se fazer compreendido. Mediunidade exige adestramento constante, quanto mais adestrado, menos propenso a duvidas ficará qualquer médium. Na aproximação do Guia que tenta fazer as ligações necessárias entre ele e o médium, são comuns os tremores do corpo e o aumento forte da respiração do médium, esse fato ocorre devido ao deslocamento sutil do duplo etéreo do médium. MEDIUNIDADE SEMI-CONSCIENTE21 É semi-consciente quando o Guia atua sobre o cérebro e o duplo etéreo do médium e movimenta os órgãos da fala e os membros do médium com maior facilidade e naturalidade, mas o médium poderá ter ainda em grande parte a visão do que ocorre a sua volta e percebe em grande parte o que ocorre no ambiente dos trabalhos. Nesta situação, o médium ao final da incorporação, terá vagas lembranças. A manifestação do Guia será claramente sentida pelo médium, porém, a lembrança dos fatos desaparece rapidamente, podendo-se comparar a um sonho, rapidamente esquecido. Na aproximação do Guia que tenta fazer as ligações necessárias entre 21 Texto do curso Teologia de Umbanda – Alexandre Cumino. 35 ele e o médium, também são comuns os tremores do corpo e o aumento forte da respiração do médium, esse fato ocorre pelo mesmo motivo, o deslocamento sutil do duplo etéreo do médium. Nota; muitos defendem e afirmam que possuem a mediunidade de incorporação inconsciente. Que ao incorporar, não vê e não escuta nada. As incorporações em que os espíritos deixam completamente inconscientes o médium, com tomada integral de todas as faculdades biopsicomotoras, é fenômeno raríssimo nas religiões mediúnicas. Em tempos imemoriais, foi à forma encontrada pelos espíritos para cumprirem suas missões no plano físico sem que o medianeiro pudesse interferir em suas tarefas, pois muitas pessoas não acreditavam na ação dos espíritos sobre o corpo humano e, por isto, se tivessem alguma porcentagem de consciência, acabariam por intervir, voluntária ou involuntariamente, no labor dos amigos espirituais. Com o passar do tempo, e através de um maior estudo e consequente entendimento do que ocorria, a inconsciência dos médiuns foi pouco a pouco sendo elevado à semiconsciência, fenômeno pelo qual os espíritos agem conjuntamente com a psiquê do médium, que, mesmo manifestados, sabem de quase tudo o que se passa a seu redor, inclusive que estão sob o domínio parcial de uma força externa. Este tipo de incorporação (semiconsciente) predomina quase que inteiramente nos segmentos espiritualistas, porque é a que melhor se adéqua às necessidades atuais. Através da semiconsciência há uma interação entre o medianeiro e o espírito atuante, que são doutrinador e doutrinado ao mesmo tempo. Além disto, esta espécie de incorporação faz com que o médium seja corresponsável pela mensagem transmitida por um Caboclo, Preto- velho, Exu e outras entidades. O fato é que, na mediunidade de incorporação semiconsciente, que, diga-se de passagem, também tem seus graus de variação, o espírito ao desprender-se do médium com o qual trabalha, deixa neste quase que a totalidade das informações recebidas ou transmitidas durante uma sessão. Caso 36 haja alguma necessidade, o espírito, atuando no sistema nervoso central e também no cérebro, pode fazer com que o médium deixe de lembrar de alguma coisa, mas isto é exceção. A regra é o médium lembrar-se de quase tudo que foi dito pelo espírito trabalhador. Neste sentido, muito importante é o respeito e a obediência que os médiuns devem ter para com a ética no atendimento. Infelizmente alguns médiuns que trabalham semi-conscientes insistem em dizer que não se lembram de nada depois que o espírito interventor se afasta. E o fazem por duas razões básicas: primeiro, querem dar um maior valor a sua mediunidade, dizendo: "eu sou especial porque trabalho sem consciência"; segundo, para se eximirem de responsabilidade, caso haja alguma comunicação equivocada, por influência do próprio médium, dizendo este depois: "eu sou inconsciente, quem errou foi o espírito". INCORPORAÇÕES FORA DO TERREIRO22 Esse é um tema que tenho debatido muito com os filhos-de-fé da nossa casa. Nós, umbandistas de coração, temos uma necessidade quase fisiológica de auxiliar alguém quando o encontramos em dificuldades. Quem de nós já não teve vontade de auxiliar alguém necessitado, ansioso por fazer o bem, a ponto de não aguentar esperar o dia da gira para isso? Quem nunca pensou em incorporar as suas entidades em casa, ou na casa da pessoa necessitada ou até mesmo em outro lugar a fim de auxiliar o mais breve possível? Atire o primeiro pó de pemba quem nunca pensou assim. A intenção é ótima, não resta dúvida. Mas nem sempre as boas intenções são sinônimos de bons resultados. Conheço inúmeros relatos de casos em que a tentativa de ajudar foi desastrosa para ambas as partes: para o que buscava ajuda e também para o 22 Douglas Fersan - Fonte: Lar de Preto Velho. 37 médium. "Ah, minhas entidades são fortes e minha fé é firme" - dirão alguns. Não tenho dúvidas quanto a isso. Mas pergunto: e os eguns e quiumbas que você (e suas entidades) vai encarar são fracos? Você tem noção da força deles? Lembre-se que não são apenas os "bonzinhos" que têm força e firmeza. Outro detalhe para refletir: se fosse para incorporar as entidades em casa (ou na casa do consulente), qual a necessidade de existir um terreiro, com tronqueira, congá e corrente mediúnica firmada? Se temos tudo isso num terreiro é porque lá é o lugar da incorporação e do atendimento acontecer. Se pensarmos o contrário - salvo casos de extrema necessidade - vamos fechar os terreiros e abolir os fundamentos da Umbanda, pois tudo isso passa a ser desnecessário. Mas vamos ao que realmente interessa. Dar atendimento e incorporar fora do terreiro equivale a nadar em um rio de piranhas famintas. Imagine as falanges de espíritos sofredores, zombeteiros, trevosos, malfeitores, quiumbas e energias nefastas que o acompanharão e, provavelmente ficarão em seu lar. Sensações desagradáveis como mal estar, doenças, desarmonias não tardarão a surgir. E quem é o culpado disso? As suas entidades que se deixaram incorporar em qualquer lugar? Não, elas estão sempre dispostas a ajudar independente da hora ou lugar. O culpado é você, que abriu as portas da sua vida e da sua casa para essas energias. Mais que isso... você levará problemas não apenas para sua vida, sua casa e sua família. Levará problemas também para os seus irmãos-de-fé no terreiro, pois quando lá chegar, em dias de gira, estará carregado com essas energias. E bem sabemos que uma gira funciona como uma grandeengrenagem. Quando uma das peças apresenta defeito, todo o mecanismo tende a falhar. Em outras palavras, todos os seus irmãos- de-fé sentem a baixa energia que chega na casa, e a gira tende a não correr da forma esperada. E não adianta dizer que antes de fazer o atendimento domiciliar você firmou vela para seu anjo da guarda e para sua esquerda. 38 Terreiro é terreiro. Ambiente familiar é morada de espíritos encarnados e não pronto socorro espiritual. Pense em tudo isso. Pense nos prejuízos que você pode levar a si próprio e à sua família. Lugar de manifestação de orixás e entidades é no terreiro, salvo exceções. como casos de saúde, em que o doente está totalmente impossibilitado de se locomover. O resto é vaidade do médium. E é justamente a vaidade que costuma derrubar os melhores médiuns. Respeitar essa regra é respeitar a si mesmo, é respeitar a hierarquia da sua casa, é respeitar o consulente (pois você não é detentor da verdade e não tem a certeza de que irá resolver os problemas dele), é respeitar seus irmãos-de-fé, é respeitar o nome do terreiro que frequenta e é respeitar, e é acima de tudo, respeitar os seus orixás e suas entidades. Incorporação, um dom a serviço do outro – por mãe Márcia Moreira A incorporação é um dos mais de 60 tipos de mediunidade catalogados por Allan Kardec. É um dom sagrado que nos permite relacionar com irmãos espirituais e assim aprendermos com suas experiências de vida. Através da incorporação sentimos o comprometimento espiritual de cada entidade e na entrega de nosso corpo para este encontro sagrado vamos educando nosso caráter e desenvolvendo nossas virtudes. Portanto, incorporação é um dom de SERVIÇO que envolve o médium e a entidade. Este serviço sagrado tem a função de despertar, inspirar, moldar a todos que buscam a verdade. Muitos médiuns quando chegam numa corrente de Umbanda, querem incorporar, dar passagem às suas entidades, sem antes aprender a servi-lás na função de cambono. Pensam que cambonar é atrasar o seu desenvolvimento mediúnico. Deixam a ansiedade e 39 imaginação serem os estímulos de seus objetivos. Atravessam a mensagem verdadeira da entidade, sem ao menos dar-lhes a chance de conhecê-las. É Caboclo que não é flecheiro soltando flecha, é Preto Velho que não usa a fumaça como elemento magístico, mas seu aparelho já providenciou o cachimbo, enfim, atropelam literalmente os momentos que deveriam ser encontros sagrados por pura pressa. Consequentemente se a casa não corrigir estes equivocados comportamentos, estes médiuns distanciarão do verdadeiro compromisso. Serão médiuns vaidosos, arrogantes e usuários da religião. Não estarão dispostos a estudos contínuos muito menos estar a serviço de suas entidades. Pelo contrário, terão posses de suas entidades e tenderão a trabalhar somente com aquela entidade que tem mais afinidade. Não darão oportunidades a outras entidades alegando que “a entidade não deixa outros chegarem”. E neste “desenvolvimento” desastroso acumularão mensagens e comportamentos equivocados, pois seu dom esta sendo corrompido pelo seu próprio ego. Enfim, desvirtuarão totalmente a doutrina da Umbanda, pois serão cada vez mais individuais e interesseiros. Mediunidade de incorporação não é brincadeira. Nenhuma entidade comprometida com o bem levará seu médium à exposição do ridículo e desvios morais. Entidades de Umbanda trabalham sob a lei da caridade e evolução, com ordem, disciplina e ética. 40 HISTÓRIA DA UMBANDA Reconstruir o processo histórico de formação das religiões afro- brasileiras não é, contudo, uma tarefa fácil. Primeiro porque, sendo religiões originárias de segmentos marginalizados em nossa sociedade (como negros, índios e pobres em geral) e perseguidos durante muito tempo, há poucos documentos ou registros históricos sobre elas. E, entre esses, os mais frequentes sãos os produzidos pelos órgãos ou instituições que combateram essas religiões e as apresentam de forma preconceituosa ou pouco esclarecedora de suas reais características. - casos dos autos da Visitação do Santo Oficio da Inquisição no Brasil colonial. - boletins de ocorrência feito pela policia para relatar a invasão de terreiros e prisão de seus membros, sob a acusação de praticarem curandeirismo, charlatanismo etc. - visão preconceituosa em relatos dos viajantes estrangeiros que estiveram no Brasil nos séculos passados descrevendo algumas manifestações religiosas afro-brasileiras como festas, danças, procissões. - características particulares cujos princípios e práticas doutrinárias são transmitidos oralmente. A história dessa religião tem sido feita, portanto, quase que anonimamente, sem registros escritos, no interior dos inúmeros terreiros fundados ao logo do tempo em quase todas as cidades brasileiras. Assim, a história das religiões afro-brasileiras inclui, necessariamente, o contexto das relações sociais, políticas e econômicas estabelecidas entre os seus principais grupos formadores; negros, brancos e índios. Diante das religiões afro-brasileiras como o Candomblé, Jurema, Macumba, Tambor de Mina, Xangô do Nordeste e outras, a 41 Umbanda apresenta uma peculiaridade que a diferencia das demais: enquanto os adeptos das religiosidades mais africanizadas buscam legitimar suas práticas exaltando a pureza das tradições nagô, os lideres do movimento umbandista fizeram questão de apresentá-la como uma religião brasileira. O caráter nacionalista atribuído à Umbanda contribui para um processo de legitimação que inclui também a institucionalização na nova religião23. O começo de nossa história Quando Portugal iniciou a colonização do Brasil, no inicio do século XVI, trouxe também a religião oficial: o catolicismo. A igreja católica naquele momento se encontrava em crise por parte dos reformistas e perdia adeptos para as religiões protestantes que crescia na Europa. A expansão para as Américas representou a possibilidade de ampliar a influência do catolicismo por meio da conversão dos pagãos do Novo Mundo. Para a coroa portuguesa, a evangelização dos nativos também apresentava vantagem, uma vez que a Igreja ao torná-los temente ao Deus dos cristãos deixava-os submissos aos interesses de Portugal. A Igreja no Brasil nasce com a estruturação de uma sociedade subordinada e dependente do sistema capitalista-mercantil em expansão, no qual a colônia devia abastecer a metrópole com metais preciosos e produtos agrícolas. O cultivo da cana de açúcar logo demonstrou potencial econômico, incentivando a expansão da lavoura canavieira e despertando, consequentemente o interesse também de holandeses e franceses em se instalarem no extenso litoral brasileiro. Para garantir uma colonização mais efetiva e um controle político mais intenso, Portugal instalou o Governo Geral em 1549 na capitania da Bahia, fundando a cidade de Salvador. Foi nesse período que chegaram as primeiras missões jesuíticas a fim de “domesticar” os índios que ameaçavam os engenhos de açúcar. 23 Das Macumbas à Umbanda – José Henrique Motta de Oliveira 42 A mão de obra indígena, contudo não se adaptou ao trabalho cotidiano e foi substituída pela de origem africana. Portugal era especializado no tráfico negreiro desde o século XV e não teve dificuldades de abastecer a colônia com escravos. NA ÁFRICA África é um continente imenso cercado de uma variedade de cultura. A cultura semita que deu origem ao judaísmo, também transitou por essa região. O Egito esta na África. A cultura de Orixá vem da cultura Nagô (língua yorubá) e que hoje corresponde a região da Nigéria, que era República Popular do Benin. Mais para o sul esta a região do Congo e mais abaixo Angola. Entre Congo e Angola esta uma região bem menorchamada Cabinda. Nessa grande região da cultura Nagô havia uma divisão entre nações como se fossem cidades, a nação de Keto, nação de Ijexá, Irê, Óio. Em cada cidade havia o culto de um ou outro Orixá. Em Keto, culto a Oxossi, em Oyó culto a Xangô e Iansã, em Ijexá culto de Oxum, cidade nação de Ifé considerada a cidade sagrada na cultura Nagô, onde Olorum criou o mundo por meio do Orixá Oxalá. Em ifé esta o culto de Oxalá, o culto de Odudua, e Exu esta em todos os lugares. No culto a Orixá não se mistura espíritos que na língua yorubá é chamado de Egum. Para o culto de eguns a um culto exclusivo chamado Egungun que no Brasil se estabeleceu na Ilha de Itaparica. Em Angola temos outra cultura e forma de se consagrar o sagrado, ou seja, Deus e suas divindades. A língua mais usada é o quimbundo, mas também presente vários dialetos. É na língua quimbundo que Deus se chama Zambi e as divindades são chamadas de Inquices. Os Inquices não tem problema de serem cultuados no mesmo lugar que os espíritos que na língua quimbundo é chamado de quiumba. Ao lado da Nigéria se encontra a cultura Gêge onde a língua falada é o fon e as divindades são Voduns ou Vodu. 43 São essas culturas mencionadas acima que mais influenciaram a cultura afro-brasileira e também a Umbanda. O tráfico negreiro dividiu-se em dois portos na África. - Porto costa do ouro ou costa dos escravos – porto na região da Nigéria e do norte da África – todos que vinham desse porto eram chamados de sudaneses (Nagôs e Gêges). - Porto Costa de Angola – da região de Angola, Congo, Cassange, Cambinda chamados de Bantos ou Bantu. * da cultura Gêge influência no Maranhão – Tambor de Mina e culto de divindades que são Voduns junto com o culto dos encantados. * da cultura Banto influência o Rio de Janeiro – Angola e Congo de onde se origina a Macumba (nome de uma madeira, árvore, instrumento musical feito com esta madeira, também nome de uma dança ritual na cultura Banto Angolana). Cultura Língua Divindade Sudaneses Gêge Nagô Fon Yorubá Vodun/vodu Orixá Bantos Angola Congo Quimbundo Quicongo Inquices Tátas A civilização africana considerada o berço da humanidade não possuía o esclarecimento que temos hoje da ciência, energias, forças cósmicas. Eles construíram um entendimento a partir de suas referências de vida. Construíram a mitologia dos Orixás a partir dos elementos que possuíam e entendiam. Foi no contexto de vivências humanas e na busca pelo sentido da vida que se construiu o mito. Como define Maçaneiro24 “Como filhos da terra, inseridos no tempo e no espaço, como filhos do céu somos capazes de ler e reler o 24 Marcial Maçaneiro. O labiririnto sagrado. Paulus, 2011. 44 cotidiano, a partir de experiências fundadoras de sentido, que nos remetem ao infinito e à transcendência. Daí os dois possíveis sentidos para a religião: religar e reler, do verbo latino relegere. De tal modo, mesmo apresentando variações, as vivências originárias se encontram e se confirmam nas várias religiões da humanidade. Por exemplo: em praticamente todas as religiões encontramos um rito que celebra as estações e as colheitas; nos momentos de nascimento e morte. Os símbolos variam e as divindades mudam de nome. Embora os cenários do Sagrado sejam diferentes, o sujeito que os experimenta e interpreta é o mesmo: a pessoa humana.” À medida que se registram na memória, as vivências originárias ganham expressão nos símbolos e narrativas. Da memória surgem ritos memoriais ou comemorativos, com seus sinais, períodos e movimentos próprios. No rito memorial, a pessoa rediz a vivência originária que a marcou, sobretudo com gestos cultuais que , usando ou não da expressão verbal, comunica o mistério por si mesma.” Desta forma podemos entender como os africanos começaram a construir suas percepções e experiências de forças sobrenaturais manifestadas na natureza dentro da linguagem e referência de vida que possuíam. Personificaram a potência das águas em orixás femininos, pois associaram a água a vida com virtude regenerativa, ou seja, um arquétipo gerador (útero, colheita, chuva). Associaram também água- mulher- lua e daí deriva os cultos lunares. Hoje a ciência explica a influência lunar sobre as plantações, ciclo menstrual e marés. A pedra como simbologia de fortaleza, resistência, fundação, sabedoria (associada ao seu estado de petrificação de milhões de anos). A mitologia dos Orixás não são mentiras, mas um gênero narrativo próprio da religião para expressar o sentido de ler a vida. Quando a religião africana desembarca em solo brasileiro recebe uma nova releitura e resignificação. O culto aos orixás, voduns e inquices que distinguiam nas diversas regiões africanas e 45 em seus clãs, se encontram e se unem a partir das senzalas e da situação de escravidão. Além do sincretismo entre às diversas culturas africanas, também ocorre o sincretismo com as culturas ameríndias e europeias. SINCRETISMO - consiste em unir dois ou mais valores para alcançar um terceiro valor. O sincretismo brasileiro está muito associado às culturas, pois valores de duas ou mais culturas se unem quando nasce uma nova religião. O ritual de Umbanda é marcada pela musicalidade tocada por atabaques, rezas para Santos e Orixás, uso de terços e de colares de contas (guias), a valorização da natureza com a visão do índio que adora Tupã, o uso de ervas com banhos e defumação. O sincretismo entre santos católicos e divindades serviu para encobrir o culto de orixás (e também de inquices, voduns e tatás) por escravos que não tinham a liberdade de professar sua religião. É importante entender que Orixá não é Santo e vice-versa. Portanto, o sincretismo é um processo natural quando as culturas se encontram, sejam na harmonia ou na adversidade. - O judaísmo absorveu das culturas sumeriana, babilônica, acadiana e assíria. - O Cristianismo absorveu da cultura judaica, grega e romana. - O Budismo nasce em solo hindu, e Sidarta Gautana recebe influência diferente do budismo chinês. Definimos Umbanda com influências da cultura africana, ameríndia e europeia. É uma religião brasileira onde outras culturas se encontraram para formar esta cultura. Sendo cada orixá a manifestação de uma qualidade do Criador compreendemos que a Umbanda não é politeísta (vários deuses). Dos cultos afros ela herda o caráter divino dos orixás, releu e reinterpretou dentro do contexto em que nasce. Enquanto nos cultos africanos os orixás são deuses, com seus fundamentos e preceitos individuais, dissociados um dos outros e por vezes se chocam, na 46 Umbanda os orixás se interagem, harmonizando e totalizando a criação de Olorum. Não importa o número de orixás cultuados por que a unidade religiosa está em Deus-Olorum. Dividi-los é um processo pedagógico de conhecer essas irradiações separadamente, vivênciá-las com mais consciência e conteúdo rumo à nossa humanização. Como cita Rubens Seraceni “São mistérios de Deus que na Umbanda assumem a denominação de orixás. Mas em outras religiões assumem outras denominações sem perder suas qualidades divinas e atribuições, que é regerem sobre tudo o que aqui existe, seja o meio onde vivemos, seja tudo o que vive nesse nosso meio, que é o nosso planeta.” Para entendimento de toda a formação desse projeto religioso, podemos perceber que a Umbanda nasce no momento da história humana onde as culturas se encontram em terras brasileiras. Um processo que definirá mais tarde o que foi anunciando como Umbanda. A história oficial acontece no dia 15 de novembro de 1908, quando o médium Zélio de Moraes manifestando o Caboclo das 7 encruzilhadas e uma federação espírita em Niterói-RJ, anuncia “Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade”e seguidamente ao ter sua presença rejeitada pelo dirigente o caboclo define que a prática na Umbanda será “Com os mais sábios aprenderemos, aos mais simples ensinaremos e a ninguém renegaremos”. Esse momento foi tão único e marcante, que foi considerado no processo que possibilitou em 2012 o decreto Lei 12.644 que reconhece a data de 15 de novembro como o dia nacional da Umbanda. “LEI Nº 12.644, DE 16 DE MAIO DE 2012. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o Fica instituído o Dia Nacional da Umbanda, que será comemorado, anualmente, em 15 de novembro.(16 de maio de 2012)”. 47 HISTÓRIA DO HINO DA UMBANDA O Hino da Umbanda foi composto, na década de 60, por um deficiente visual, que em busca de sua cura foi procurar ajuda do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Não conseguindo por ser uma deficiência cármica, José Manoel Alves fez o hino da Umbanda para mostrar que poderia ver o mundo e nossa religião de outra maneira. REFLETIU A LUZ DIVINA EM TODO SEU ESPLENDOR VEM DO REINO DE OXALÁ ONDE HÁ PAZ E AMOR LUZ QUE REFLETIU NA TERRA LUZ QUE REFLETIU NO MAR LUZ QUE VEIO DE ARUANDA PARA TUDO ILUMINAR UMBANDA É PAZ E AMOR O MUNDO CHEIO DE LUZ É A FORÇA QUE NOS DÁ VIDA E A GRANDEZA NOS CONDUZ AVANTE FILHOS DE FÉ COMO A NOSSA LEI NÃO HÁ LEVANDO AO MUNDO INTEIRO A BANDEIRA DE OXALA 48 Qual a verdadeira natureza e origem da Umbanda? por Mãe Iassan Pery. Às vezes se é mal informado a respeito, e confunde-se muito Umbanda com Espiritismo. A ignorância a respeito é generalizada. Desde que os negros foram tirados de sua terra, na África, vieram para o Brasil com o rancor e o ódio em seus corações, pois muitos foram enganados pelo homem branco e feitos prisioneiros e escravos, feridos em sua dignidade, distantes da pátria e dos que amavam. Foram transcorrendo os anos de lutas e dores, e o negro mantinha, em seus costumes e na religião, a invocação das forças da natureza, as quais chamavam de Orixás, espécie de deuses a quem cultuavam com todo o fervor de suas vidas. Aprenderam com o tempo a se vingar dos seus senhores e déspotas, através de pactos com entidades perversas e com a magia negra, que outra coisa não era, senão as energias magnéticas empregadas de forma equivocada. Dessa maneira, o culto inicial aos Orixás foi-se transformando em métodos de vingança, em pactos com entidades trevosas, que assumiam o papel dessas forças da natureza ou Orixás, disseminando o que se chamava de Candomblé, que, na época, era um disfarce para uma série de atividades menos dignas no campo da magia. Com o tempo, foi-se formando uma atmosfera psíquica indesejável no campo áurico do Brasil, que havia sido destinado a ser a pátria do evangelho redivivo, onde estava sendo transplantada a árvore abençoada do Cristianismo pelas bases eternas do espiritismo. A psicosfera criada no ambiente espiritual da nação foi de tal maneira violenta, que entidades ligadas aos lugares de sofrimento nas senzalas encarnavam e desencarnavam conservando o ódio nos corações, com exceção daquelas que entendiam o aspecto espiritual da vida. Assim, a magia negra foi-se espalhando em forma de culto pelas terras brasileiras. Do Norte ao Sul do país, as oferendas, os despachos ou os Ebós eram oferecidos pelos Pais de Santo, pelos mestres do Catimbó ou de outros cultos que proliferavam a cada dia, 49 criando uma crosta mental sobre os céus da nação. Nos planos etéreos da vida, reuniram-se então entidades de alta hierarquia com o objetivo de encontrar uma solução para desfazer a egrégora negativa que se formava na psicosfera do Brasil. A magia negra deveria ser combatida, e seus efeitos destrutivos haveriam de ser desmanchados de maneira a transformar os próprios centros de atividades dos cultos degradantes em lugares que irradiassem o amor e a caridade, única forma de se modificar o panorama sombrio. Havia necessidade de que espíritos esclarecidos se manifestassem para realizar tal cometimento. E, assim, foram se apresentando, uma a uma, aquelas entidades iluminadas que haveriam de modificar suas formas perispirituais, assumindo a conformação de Pretos Velhos e Caboclos, e levariam a mensagem de caridade através da Umbanda, cujo objetivo inicial seria o de desfazer a carga negativa que se abatia sobre os corações dos homens no Brasil. A Umbanda seria o elo de ligação com o alto; penetraria aos poucos nos redutos de magia negra ou nos terreiros de Candomblé, os quais ainda se mantinham enganados quanto às leis de amor e caridade, e iria transformando, com as palavras de um Preto Velho ou as advertências do Caboclo, os sentimentos das pessoas. E, para isso era necessário que elevados companheiros da vida maior renunciassem a certos métodos de trabalho considerados mais elevados e se dedicassem às atividades que a Umbanda se propunha. A esses companheiros de elevada hierarquia espiritual juntaram-se espíritos de antigos escravos e índios, que serviram por muito tempo nas fazendas e nos arraiais da Terra do Cruzeiro e, em sua simplicidade e boa vontade, propuseram-se a trabalhar para mostrar ao homem branco e civilizado as lições sagradas da Umbanda. Manifestavam-se aqui e acolá ensinando suas rezas, mandigas e beberagens, auxiliando a curar doenças e dando lições de amor e humildade. Na verdade, a Umbanda tem conseguido seu intento, e, aos poucos, vão sumindo dos corações dos oprimidos o desejo de 50 vingança, o ódio e o rancor. Os cultos afros, em sua essência, vão se transformando, auxiliando o progresso daqueles que sintonizam com tais expressões de religiosidade. A Umbanda está modificando o aspecto desses cultos de origem africana e transformando-os gradativamente, numa religião mais espiritualizada. Na palavra de um Caboclo ou de um Preto Velho a lei de causa e efeito é ensinada por meio de Xangô, que simboliza a Justiça; a reencarnação torna-se mais compreensível às pessoas mais simples quando o Preto fala de sua outra vida como escravo e da oportunidade de voltar à Terra em novo corpo, para ajudar seus filhos. A força das matas, das ervas, é ensinada na fala de Oxossi; o amor é personificado em Oxum, e a força de transformação, a energia de vitalidade, é apresentada nas palavras de Ogum. Mas há muito ainda o que fazer, muito trabalho a realizar. Nossa explicação não esgota o assunto, mostra apenas um aspecto da Umbanda, que guarda suas raízes em épocas muito distantes no tempo. 51 ENTIDADES NA UMBANDA Linhas de trabalho São aquelas entidades que vão atender, orientar, aconselhar, conversar com os filhos e assistência da casa. Suas manifestações expressam o arquétipo da linha determinada variando apenas alguns vocabulários, regionalidade e personalidade daquela entidade. As linhas de trabalho são: Caboclos - Essas entidades se manifestam produzindo em seus médiuns uma postura ereta e voz vibrante. Transmitem uma sensação de segurança, vitalidade, porém com muita simplicidade. Despertam nas pessoas a fortaleza moral e a vontade de expandir. Foi o Caboclo das 7 Encruzilhadas quem primeiro anunciou as diretrizes de uma nova religião, a Umbanda, em 1908. Os caboclos são considerados os grandes mentores da Umbanda. O termo "caboclo" além de designar índio mestiço, tem dentro da Umbanda o significado de espírito que trabalha e que na religião vem sob as ordens de algum orixá. São confundidos com o Orixá Oxossi, mas são, na realidade, trabalhadores espirituais que pertencem a organização de Oxossi, embora sua irradiação possa ser de outro Orixá. Possuem grande elevação espiritual, e trabalham incorporados em seus médiuns, dando passes e consultas, em busca de sua elevação espiritual. Geralmente são os escolhidos pela espiritualidadepara serem os Guias-Chefes dos médiuns representando o Orixá de cabeça do médium. São os braços fortes da Umbanda, muito utilizados nas sessões de desenvolvimento, curas, desobsessões, solução de problemas psíquicos e demandas materiais e espirituais. Espíritos de muita luz que assumem a forma de "índios", prestando uma homenagem a esse povo que foi massacrado pelos colonizadores. Nem todos foram índios em suas encarnações passadas, havendo inclusive dentre eles, espíritos de médicos, cientistas e mestres de várias áreas. 52 Têm profundo conhecimento das ervas e seus princípios ativos, e muitas vezes, suas receitas produzem curas grandiosas. Ajudam na vida material com trabalhos de magia positiva limpando nossa aura e proporcionando energia e força para a conquista de nosso objetivo. Entidades que através da sua simplicidade passam credibilidade e confiança a todos que os procuram. Em seus trabalhos de magia costumam usar pemba, velas, essências, flores, ervas, frutas e charutos. Ao encerrarem seus trabalhos em terra os caboclos voltam para a Aruanda, mas muitos deles dizem estar voltando para a Jurema, que na realidade, é o mesmo espaço astral, conhecido por diversos nomes. Em algumas casas, costumam usar durante as giras, penachos, arcos e flechas, lanças, etc. Falam de forma rústica, muitas vezes confundida com antipatia por alguns consulentes. Os brados, emitidos por eles em terra, são como mantras e cada um emite um som de acordo com seu trabalho, para ajustar condições especificas que facilitem a incorporação, ou para liberarem bloqueios nos consulentes, nos médiuns ou no ambiente geral. Sua cor é o verde escuro e seu dia a quinta-feira. São homenageados no dia 20 de janeiro. Sua saudação é: OKÊ CABOCLO! Pretos velhos - Essas entidades se apresentam de forma simples, produzindo vozes muito calmas e fazendo com que seus médiuns se curvem. São os MESTRES DA SABEDORIA, trazem consigo vibrações de paz, serenidade e muita humildade. São entidades que carregam o peso da experiência, são sapientíssimas, mas sempre demonstrando muita humildade. São espíritos que se apresentam em corpo fluídico de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos que morreram no tronco ou de velhice, e que adoram contar as histórias do tempo do cativeiro. Sábios, ternos e pacientes, vibram amor, fé e a esperança aos "seus filhos". São entidades que tiveram, pela sua idade avançada, o poder e o segredo de viver longamente através da sua sabedoria, apesar da rudeza do cativeiro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Senzala http://pt.wikipedia.org/wiki/Escravo http://pt.wikipedia.org/wiki/Tronco http://pt.wikipedia.org/wiki/Velhice http://pt.wikipedia.org/wiki/Cativeiro 53 Demonstram fé para suportar as amarguras da vida, consequentemente são espíritos guias de elevada sabedoria. Através de suas várias experiências, em inúmeras vidas, entenderam que somente o amor constrói e une a todos, que a matéria nos permite existir e vivenciar fatos e sensações, mas que a mesma não existe por si só, nós é que a criamos para estas experiências, e que a realidade é o espírito. Com humildade, apesar de imensa sabedoria, nos auxiliam nesta busca, com conselhos e vibrações de amor incondicional. Também são mestres dos elementos da natureza utilizando em seus benzimentos. São homenageados no dia 13 de maio25. Sua saudação é: Adorei as almas! Crianças – Essas entidades se manifestam de forma muito singela, com vozes infantis, são verdadeiras representantes DA PUREZA. Transmitem as mais puras vibrações de alegria e amor universal, características, realmente da fase da infância. É uma falange de espíritos que assumem em forma e modos, a mentalidade e o comportamento infantil. Como no plano material, também no plano espiritual, a criança não se governa, tem sempre que ser tutelada. É a única linha em que a comida de santo (Amalás), leva tempero especial (açúcar). É conhecido nos terreiros de Nação e Candomblé, como (ÊRES ou IBEJI). Com Criança tudo pode acontecer. Quando incorporadas em um médium, gostam de brincar, correr e fazer brincadeiras (arte) como qualquer criança. É necessária muita concentração do médium, para não deixar que estas brincadeiras atrapalhem na mensagem a ser transmitida. Os "meninos" são em sua maioria mais bagunceiros, enquanto que as "meninas" são mais quietas e calminhas. Alguns deles incorporam pulando e gritando, outros descem chorando, outros estão sempre com fome, etc... Estas características, que às vezes nos passam despercebido, são sempre formas que eles têm de exercer uma função específica, como a de 25 13 /05/1888- data que foi assinada a Lei Áurea, a abolição da escravatura no Brasil. http://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_maio http://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_maio http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%C3%81urea http://pt.wikipedia.org/wiki/Aboli%C3%A7%C3%A3o_da_escravatura http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil 54 descarregar o médium, o terreiro ou alguém da assistência. Os pedidos feitos a uma criança incorporada normalmente são atendidos de maneira bastante rápida. Entretanto a cobrança que elas fazem dos presentes prometidos também é. Uma gira de criança não deve ser interpretada como uma diversão, embora normalmente seja realizada em dias festivos, e às vezes não consigamos conter os risos diante das palavras e atitudes que as crianças tomam. Mesmo com tantas diferenças é possível notar-se as maiores características de todos, que é mesmo a atitude infantil, o apego a brinquedos, bonecas, chupetas, carrinhos e bolas, como os quais fazem as festas nos terreiros, com as crianças comuns que lá vão a busca de tais brinquedos e guloseimas nos dias apropriados. “Uma curiosidade: Cosme e Damião foram os primeiros santos a terem uma igreja erigida para seu culto no Brasil. Ela foi construída em Igarassu, Pernambuco e ainda existe.” Esses seres, mesmo sendo puros, não são tolos, pois identificam muito rapidamente nossos erros e falhas humanas. E não se calam quando em consulta, pois nos alertam sobre eles. Muitas entidades que atuam sob as vestes de um espírito infantil, são muito amigas e têm mais poder do que imaginamos. Mas como não é levado muito a sério, o seu poder de ação fica oculto. São conselheiros e curadores, por isso foram associados à Cosme e Damião, curadores que trabalhavam com a magia dos elementos. Elas manipulam as energias elementais e são portadores naturais de poderes só encontrados nos próprios Orixás que os regem. Estas entidades são a verdadeira expressão da alegria e da honestidade, dessa forma, apesar da aparência frágil, conseguem atingir o seu objetivo com uma força imensa. Embora as crianças brinquem, dancem e cantem, exigem respeito para o seu trabalho, pois atrás dessa vibração infantil, se escondem espíritos de extraordinários conhecimentos. Imaginem uma criança com menos de sete anos possuir a experiência e a vivência de um homem velho e 55 ainda gozar a imunidade própria dos inocentes. A entidade conhecida na Umbanda por ibeji é assim. Faz tipo de criança, pedindo como material de trabalho chupetas, bonecas, bolinhas de gude, doces, balas e as famosas águas de bolinhas (o refrigerante) e trata a todos como tio(a) e vô(ó). Uma das mais importantes e por que não dizer queridas Falanges de Umbanda é a Ibeijada, as crianças do astral. Nela encontramos também os caboclinhos (as) da mata, na sua forma indígena, atuando espiritualmente em prol do bem e da caridade. No dia 27 de setembro é comemorado São Cosme e São Damião. Sua saudação é: Onibejada ou onibeijada. Fontes: http://umbanda-de-deus.blogspot.com.br/2010/06/ibeijada-crianca-no-astral.html http://pt.wikipedia.org BAIANOS – essa linha de trabalho tem como principal vibraçãoa energia e qualidade de Iansã, porém intercruzam com as vibrações de todos os orixás. Deste modo é comum realizar nas giras as forças das sete linhas. São na maioria descontraídos e falantes conquistando rapidamente a simpatia dos consulentes. Por esta razão encontram facilidade para trabalhos de orientação e doutrinação. Usam colares de cocos e sementes. Não se sabe em que momento da história essa linha de trabalho surgiu na Umbanda. Trabalharemos com algumas teorias sobre a origem da linha dos baianos. http://umbanda-de-deus.blogspot.com.br/2010/06/ibeijada-crianca-no-astral.html http://pt.wikipedia.org/ http://4.bp.blogspot.com/_WWPiouKIiOM/TAUQnH7comI/AAAAAAAAAW4/gC915Bg7b8c/s1600/criancas-indigenas.jpg 56 a) Os Baianos formam uma corrente de entidades que ao desencarnar, apesar da afinidade com o culto ao Orixá (muitos foram sacerdotes), não tinham o grau de preto-velho. Estabeleceram uma egrégora de trabalhadores do astral que com o tempo foi reconhecida pela Umbanda. Passaram a ter a oportunidade do trabalho ativo e incorporante. Nomearam como linha dos Baianos como homenagem a origem dos primeiros formadores desta corrente e a Terra que tão bem acolheu o Orixá no Brasil26. b) Devido a grande seca no nordeste a partir da década de vinte, milhares de nordestinos se mudaram para a região sudeste em busca de melhores qualidades de vida. Desencarnaram com a expectativa de voltar à terra amada, com a experiência da coragem de deslocar de uma região conhecida para o desconhecido, sem perder a identidade. A linha dos baianos nasce como uma forma de incluir as qualidades e vivências desse povo27. c) No inicio da organização dos fundamentos da Umbanda, o culto aos orixás era manifestado com um entendimento sincrético aos santos católicos. Existia pouca compreensão do que era orixá e na maioria das vezes informações equivocadas. Uma delas se refere ao orixá Iansã que segundo algumas casas só poderiam ser manifestadas por médiuns femininos. A manifestação em médiuns masculinos causaria uma tendência ao homossexualismo. Diante desta limitada e equivocada interpretação humana, a linha dos baianos seria uma forma de harmonizar as vibrações de Iansã nos médiuns masculinos e consequentemente na corrente de trabalho. Um homem incorporando Iansã se tornaria suspeito, mas uma entidade 26 Fonte de pesquisa 27 Explicação acolhida pela entidade Mané baiano que pertence a egrégora do Templo de Umbanda Caboclo Pena Branca. 57 com fortes qualidades masculinas não. Assim, a linha dos baianos vem suprir as vibrações deste orixá dentro das correntes de Umbanda28. São entidades que estão mais próximas do nosso tempo. Suas identidades não se restringem ao povo baiano, mas a todo povo da região nordestina se apresentando com sotaque arrastado. É uma linha mais comum da região de São Paulo e como diz Baiano “o paulista não sabe diferenciar as regiões do norte e nordeste. Todos são baianos” 29. Atualmente alguns terreiros não fazem giras exclusivas de Baianos. Realizam sua chamada na Linha das Almas (Preto-velhos; Mineiros e Boiadeiros). Comemoramos o dia dos baianos em 13 de agosto, porém em muitas casas se comemora no dia do Senhor do Bonfim30. Sua saudação é “é da Bahia meu pai; salve a Bahia”. MINEIRO - São entidades de Umbanda muito próximas aos Boiadeiros com origem terrena no Povo de Minas. Poucos terreiros fazem sessões destinadas a essas entidades. Diversos cânticos (pontos) fazem referência aos Mineiros. BOIADEIRO - Dentre muitos caboclos que baixam em vários terreiros, o Caboclo Boiadeiro tem sempre uma participação especial nas seções de Caboclo. Boiadeiro é muito respeitado e aplaudido por trazer de volta ao nosso convívio toda a sua experiência adquirida em tempos de boiada, do sertão bravio, do homem responsável pela conduta da boiada do seu patrão. De um modo geral, Boiadeiro usa um chapéu de couro com abas largas (para proteger-lhe do sol forte), 28 Explicação acolhida pela entidade Mané baiano que pertence a egrégora do Templo de Umbanda Caboclo Pena Branca. 29 Idem. 30 Segundo domingo depois do dia de reis. 58 calças arregaçadas e movimenta-se muito rápido. Um pequeno cântaro para carregar água, tão importante para a viagem. O chicote que usa para açoitar a rês feroz. A corda, usada para laçar o boi brabo, ou para pegar aquele que se afasta da boiada, ou ainda usada para derrubar o boi para abate. Boiadeiro, na verdade, traz toda uma soma de sabedoria acumulada dessas viagens e vivências do campo. Na verdade, estamos descrevendo uma maravilhosa entidade de muita luz e muita força. No Terreiro os Boiadeiros vêm "descendo em seus aparelhos" como estivessem laçando seu gado, dançando, bradando, enfim, criando seu ambiente de trabalho e vibração. Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo as portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, assim como os Exús. Da mesma maneira que os Pretos Velhos representam a humildade, os Boiadeiros representam a força de vontade, a liberdade e a determinação que existe no homem do campo e a sua necessidade de conviver com a natureza e os animais, sempre de maneira simples, mas com uma força e fé muito grande. O caboclo boiadeiro está ligado com a imagem do peão boiadeiro: habilidoso, valente e de muita força física. Vem sempre gritando e agitando os braços como se possuísse na mão, um laço para laçar um novilho. Sua dança simboliza o peão sobre o cavalo a andar nas pastagens. Enquanto os "caboclos - índios" são quase sempre sisudos e de poucas palavras, é possível encontrar alguns boiadeiros sorridentes e conversadores. Os Boiadeiros vêm dentro da linha de Oxóssi. Mas podem vir na linha das almas, e também são regidos por Iansã, tendo recebido da mesma a autoridade de conduzir os eguns da mesma forma que conduziam sua boiada quando encarnados. Levam cada boi (espírito) para seu destino, e trazem os bois que se 59 desgarram (obsessores, kiumbas, etc.) de volta ao caminho do resto da boiada (o caminho do bem). São rudes nas suas incorporações, com gestos velozes e pouco harmoniosos. Sua maior finalidade não é a consulta como os Pretos Velhos, nem os passes e muito menos, as receitas de remédios como os caboclos, e sim o "dispersar de energia" aderida a corpos, paredes e objetos. É de extrema importância essa função, pois enquanto os outros guias podem se preocupar com o teor das consultas e dos passes existe essa linha "sempre" atenta a qualquer alteração de energia local (entrada de espíritos). Quando bradam alto e rápido, com tom de ordem, estão na verdade ordenando a espíritos que entraram no local a se retirar, assim "limpam" o ambiente para que a prática da caridade continue sem alterações. Esses espíritos atendem aos boiadeiros pela demonstração de coragem que os mesmos lhes passam e são levados por eles para locais próprios de doutrina. Em grande parte, o trabalho dos Boiadeiros é no descarrego e no preparo dos médiuns. Outra grande função de um boiadeiro é manter a disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns da casa ou consulentes. Costumam proteger demais seus médiuns nas situações perigosas. "Gostar" para um boiadeiro, é ver no seu médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é considerado por ele "filho". Pois ser filho de boiadeiro não é só tê-lo na coroa. Trabalham também para Orixás, mas mesmo assim, não mudam sua finalidade de trabalho e são muito parecidos na sua forma de incorporar e falar, ou seja, um boiadeiro que trabalhe para Ogum é praticamente igual a um que trabalhepara Xangô, apenas cumprem ordens de Orixás diferentes, não absorvendo, no entanto as características deles. Dentro dessa linha a diversidade encontra-se na idade dos boiadeiros. Existem boiadeiros mais velhos, outros mais novos, e costumam dizer que pertencem a locais diferentes, como regiões, por exemplo: Nordeste, Sul, Centro-Oeste, etc. 60 Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé. MARINHEIROS - Eles chegam do mar ou dos rios e desembarcam em terra com alegria contagiante, brincando sempre, com aquele jeito meio “maroto”. São os Marinheiros, grupo de Espíritos que trabalham na Umbanda em prol da caridade. Eles conhecem muito bem o mar e a navegação, pois participaram da descoberta de novos mundos através das viagens que empreenderam que duraram anos e anos. As Entidades de Marinheiro trabalham na Linha de Iemanjá e também de Oxum, que compõem o chamado “Povo da Água”. Também foram adequados aos trabalhos de Umbanda devido a compreensão equivocada no passado de que médiuns masculinos não podiam incorporar os orixás Iemanjá e Oxum devido a dimensão feminina. Deste modo, a Umbanda supriu essa deficiência vibracional na corrente mediúnica manifestando os marinheiros. Seus conselhos e mensagens são sempre cheios de esperança e de fé. Costumam trabalhar em grupos. São fortes, pois enfrentarem guerras e mares agitados, mas também conheceram a calmaria e a bonança. Dão consultas, passes e também fazem trabalhos fortes de descarrego que envolvem grandes demandas. Em algumas casas, também costumam trabalhar nas giras de desenvolvimento de Médiuns. Quando dão consultas, essa Falange costuma ir direto ao ponto, sem rodeios, mas também sabem como falar aos consulentes sem criar um clima desagradável ou de medo. Assim, conseguem atingir o fundo as almas dos aflitos que costumam procurá-los em busca de auxilio e de esperança. Carregam consigo um sentimento profundo de amizade. Seus conselhos são sempre fiéis e certeiros, têm uma grande responsabilidade e assumem o compromisso de um trabalho bem-feito. Os marinheiros são em sua grande maioria espíritos que militam na Umbanda para dar sustento no campo da diluição de 61 cargas trevosas, outros atuam como elementos de sustentação de trabalhos voltados a curas, atraindo os poderes elementais dos quais estes espíritos de alto grau espiritual, trazem consigo. Na realidade estes abnegados servidores da lei são verdadeiros “magos que atuam nos mistérios aquáticos” e com uma forma de atuação única dentro dos domínios da Umbanda. Diferente do que se imaginam estes irmãos do astral não são e não estão embriagados, como muitos se mostram na realidade sua forma de balanço é uma maneira de liberar suas ondas energéticas se utilizando do próprio médium. Como isso ocorre? Em torno do médium existe um campo de energia sustentado por seus centros de força e, além da energia gerada a partir da energia corpórea, existe um campo espiritual que se reflete em todo o ambiente. Os guias quando incorporados em seus médiuns, dançam, giram, balançam, gesticulam, etc. Desta forma os guias liberam não só a energia que se desprende do médium, mas também libera de forma salutar o poder de seu mistério através de ondas magnéticas que são liberadas dentro do campo espiritual do médium e do templo. É desta forma que os marinheiros fazem, em formas onduladas, ou através de seu balanço o seu trabalho redentor dentro dos campos da Umbanda Sagrada. É importante que os médiuns e principalmente os assistidos, saibam de tal fato, para que estes não deturpem e não interpretem mal o sentido dos trabalhos de Umbanda. Os marinheiros são sustentados pelo poder de nossa Mãe Iemanjá e sua cor de atuação é a mesma desta mãe Divina, que é o azul claro. Aos poucos eles desembarcam de seus navios da calunga grande e chegam em terra firme. Com suas gargalhadas, abraços e apertos de mão. São os marujos que vêm chegando para trabalhar nas ondas do mar. Salve o Povo D‟água! MAROLA DO MAR - Entidade ligada ao povo d‟água. Sua função dentro desta linha é de fazer a limpeza de toda a carga acumulada, 62 após algum trabalho mais pesado, levando todas as cargas negativas para as ondas do mar sagrado. Entidade que trabalha na linha de Iemanjá, com forte influencia de Ogum, facilmente (ou comumente), confundido com marinheiro, seu descarrego é baseado no movimento da “marola do mar”, que vai e vem. Foi um ser vivente em uma época muito distante. Quando vivo, tinha fixação pelas ondas do mar, consequentemente por Iemanjá, passava horas a fio a observar as ondas na esperança de vê-la. Cansado de esperar pela visão tão esperada, foi ao encontro das ondas julgando ouvir o chamado de Iemanjá, sendo assim tragado pelas ondas, encontrando enfim a morte nos braços de sua paixão. Passado o tempo, voltou como entidade, por sua afinidade com este Orixá, passou a trabalhar nesta linha, com a função de levar para Iemanjá toda a carga negativa que se encontrasse ao redor de seus filhos queridos. É uma entidade rara em terreiros de umbanda, até hoje poucos se viram ou se sabe da existência, porém, é uma entidade de muita força e luz. LINHA DO ORIENTE - Na linha do Oriente estão as falanges dos hindus, dos árabes, dos japoneses, chineses e mongóis, dos egípcios, dos gauleses, dos romanos, etc., formadas por espíritos que encarnaram nesses povos e que ensinam ciências ocultas e praticam caridade. O povo do Oriente fala pouco e, quando o faz, o seu linguajar é perfeito e bastante correto. Não gosta de dar consultas. Raramente usa o termo "chefia de cabeça" e sempre demonstra muita sabedoria e amplos conhecimentos filosóficos e esotéricos. Na Umbanda, os componentes desse povo são chamados de Mestres da Linha do Oriente (egípcios, tibetanos, chineses, etc). Normalmente atuam de forma discreta, intuindo seus médiuns para 63 que entendam o que está se passando. São importantíssimos na transmissão de mensagens de entidades ou espíritos de nível hierárquicos superior, devido à linha de desenvolvimento mental da qual participam. Também atuam na destruição de templos e de magias do passado, libertando o espírito. Estimula no médium o caminho da evolução espiritual através dos estudos, da meditação, do conhecimento das leis divinas, do amor, da verdade, da ciência, da arte, do belo. Estimula no médium o caminho da ascensão espiritual, fazendo-o eliminar da sua vida tudo o que é pernicioso. Na vibração de Oxalá, os espíritos são sempre nos níveis acima de Guias, portanto, elevadíssimos e que raramente se manifestam; atuam a nível mental, com passes e imantação, por imposição das mãos. É nesta linha que estão classificados o mais vulgarmente conhecido como “Povo do Oriente“. Vibração eletromagnética do SOL. Xangô é também o patrono da linha do oriente, na qual se manifestam espíritos mestres em ciência ocultas, astrologia, quiromancia, numerologia, cartomancia. Por este motivo, a linha dos ciganos vem trabalhar nesta irradiação. A influência de tradições orientais na Umbanda é bem forte nos centros que cultuam a linha do oriente. Os elementos orientais mais visíveis são aqueles herdados do budismo, hinduísmo e confucionismo. O budismo se faz presente nos rituais de umbanda através das oferendas de frutas e flores e pela aplicação dos ensinamentos de amor incondicional e da tranquila aceitação das vicissitudes irreparáveis da vida, não apenas como purgação de pecados passados, mas como reveladoras de ensinamentos espirituais. Da filosofia hindu, incorporaram-se os fundamentos da lei do karma, conforme consta das escrituras védicas. Do confucionismo, percebe-se a influência de conceitos como o Tao, ou caminho do meio, a ser alcançado pelo equilíbrio entre os opostos.64 OS CIGANOS - são entidades que há pouco tempo ganharam força dentro do ritual de Umbanda. Erroneamente no começo eram confundidos com entidades espirituais que vinham na linha dos Exus. Tal confusão se dava pela apresentação de algumas ciganas; que se apresentavam como Cigana das Almas ou como Cigana do Cruzeiro ou coisa desse tipo. Não têm na Umbanda o seu alicerce espiritual. Apresentam-se também em rituais Kardecistas e em outros rituais do tipo mesa. Estão na Umbanda por uma necessidade lógica de trabalho e caridade. Povo muito rico de estórias e lendas. Foram na maioria andarilhos que viveram nos séculos XIV, XV e XVI. Alguns presenciaram fatos históricos do tipo queda da bastilha na França antiga e destrono de reis famosos como Luís XV. Vivem em grupos, e não tem destino nem caminho certo. São amantes das aventuras que tais situações podem trazer; erroneamente são confundidos com vagabundos. Tem na sua origem o trabalho com a natureza, a subsistência através do que plantavam e o desapego às coisas materiais. Dentro de Umbanda seus fundamentos são simples, não possuindo assentamentos ou ferramentas para centralização da força espiritual. São cultuados em geral com imagens bem simples, com taças de vinho, doces finos e cigarrilhas doces. Trabalham também com as energias do Oriente, com cristais, pedras energéticas e com os quatro sagrados elementos da natureza. Têm em Santa Sarah de Kali as orientações necessárias para o bom andamento das missões espirituais. São comemorados no dia 24 de maio, dia de Santa Sarah. Sua saudação é “arriba meu povo cigano”. 65 EXU e suas interpretações: A Umbanda Tradicional, fundada pelo caboclo das Sete Encruzilhadas na faculdade mediúnica de Zélio Fernandino de Morais (já citada anteriormente) não trabalhava com Exu, aliás, desde a fundação da primeira tenda umbandista “Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade” pelo Caboclo até os dias de hoje não se fazem giras de Exu; mas outras tendas fundadas pelo Caboclo já apresentavam as giras de Exu desde o início, como, por exemplo, a Tenda São Jorge (REVISTA ESPIRITUAL DE UMBANDA, 2005, nº 4, pág. 22-23). Outra característica interessante e que reforça a informação sobre Exu é que só há sacrifício animal31 na “Tenda Nossa Senhora da Piedade” para Ogum. Em 1940, em um terreiro de Umbanda no Rio de Janeiro, o Caboclo Tupinambá promove outra revolução dentro da Umbanda, “ordenou que se retirasse a mesa do centro do salão. Assim deu espaço para os Exus se comunicarem com os assistentes e consulentes, em um ritual em que, após baixarem os caboclos e Pretos Velhos, baixariam também os Exus, antes de encerrarem os trabalhos32.” Assim tem início oficial as giras de Exu dentro da Umbanda. Compreensão que antes era atribuído somente aos círculos de quimbanda, macumbas e candomblés de caboclos. O Omolokô, trazida para o Brasil por Tancredo da Silva Pinto. Omoloko é uma palavra yorubá, que significa: Omo - “filho” e Oko – “fazenda”, zona rural onde esse culto, devido à intensa repressão policial que havia naquela época, era realizado. 31 O sacrifício com sangue animal é compreendido como um ritual de troca, onde o fluido vital (portador de axé) é oferecido à divindade para que esta, utilizando-se deste axé, possa prover felicidade, bons caminhos e realizações para os ofertantes do sacrifício. 32Trabalho de TCC. ALVARENGA, Lenny. ( Ronton, 1989, p.10). 66 No Omolocô tanto se manifestam entidades características da Umbanda, como se manisfestam os inkices (divindades). Sua significação é complexa, dependendo de sua origem e em qual religião se manifesta, tem caráter de divindade, mensageiro, protetor, escravo de outras divindades, demônio, espírito inferior e imperfeito. Na tradição africana, Exu é o princípio dinâmico que permeia tudo, ou seja, dinamiza tudo; Exu é aquele que permite as passagens (inclusive entre a terra e o além), que permite as trocas simbólicas, que leva e traz as comunicações. Todo ritual, independente de qual for e para qual orixá é dirigido, é precedido por uma oferenda para Exu, também chamada de despacho. No jogo oracular dos búzios, é Exu quem leva as perguntas e quem traz as respostas, podendo ser ele mesmo quem responde. É comum se dizer nos candomblés que se o Exu da casa estiver de costas para o terreiro, este não prospera. Na Umbanda Exu inicialmente é compreendido como “povos de rua”. São espíritos (egún) que já estiveram encarnados e que, quando vivos, eram marginalizados e segregados pela sociedade abastada, mas que transitavam com facilidade na boemia e em seus meandros, onde entraram em contato com a essência de muitas pessoas e diversos estilos de vida. Seria justamente por conhecer as falhas humanas, seus vícios e virtudes é que quando falecidos, esses espíritos se juntam às “correntes” de Exu. Em suas relações com os orixás dentro da Umbanda, os Exus são tidos como Guardiões de seus mistérios, as vezes confundidos com „escravo‟ dos orixás e dos guias espirituais (pretos-velhos, caboclos, etc) e funcionariam como verdadeiros soldados protetores do terreiro e das pessoas a ele ligados. Na Umbanda, os Exus estarão sempre a esquerda, contrapondo a outra face da moeda: as correntes de direita. 67 Os trabalhos de culto a Exu dentro dos terreiros de Umbanda são caracterizados de duas maneiras: 1) como giras de Exu (trabalhos em que os exus incorporam em seus „médiuns‟) 2) Pontos firmados, oferendas e despachos (trabalhos em que os exus atuam invisivelmente, ou seja, sem a necessidade de incorporação destas entidades). MITOS, SÍMBOLOS E RITOS DE EXU – DA ÁFRICA AO BRASIL O culto a Exu remonta desde antes do surgimento da Umbanda em nosso país, em meados de 1908. Sua origem se encontra na África, principalmente nos territórios localizados em Benin e na Nigéria, lugares onde residem os povos de língua yorubá e jejê, que o denominam de Legbá e nas regiões bantu (Angola, Congo, Moçambique, etc) exista também uma divindade com estas características: Bonbonjira (que se transformou no Brasil em entidade feminina denominada de Pomba-Gira). Com o tráfico de escravos estabelecido principalmente a partir do século XVI, vieram para o Brasil, mais especificamente para a Bahia, muitos negros sudaneses, em sua maioria yorubás. Na bagagem, além da saudade, trouxeram também vários aspectos de sua cultura, entre elas a religião de seus ancestrais .Na África, Exu Elegbara, mais comumente chamado Exu, é divindade essencial na cosmogonia da religião dos orixás. Divindade mensageira, representa também o princípio dinâmico capaz de dar ordem ou trazer desordem ao mundo. Um mito conta que Exu, ao ver Xangô (divindade dos raios e trovões) tentar violentar Oxum (divindade das águas doces), impediu que a união se desse pela violência, evitando assim que tempestades torrenciais se precipitassem e destruíssem a terra e a ordem nela estabelecida; neste caso, Exu apareceu como princípio regulador da ordem natural .Entre os autores clássicos há muita contradição sobre sua origem. 68 Como personagem histórica, os habitantes de Jebu Odé (Nigéria) acreditam ter sido Exu o primeiro rei de Kêto. Apesar das características fálicas de Legbá, Verger ( p. 127) rejeita a idéia de que esta divindade seja responsável pela fecundidade e pela copulação; para Verger, a presença do falo “é a afirmação de seu caráter truculento, violento, desavergonhado e o desejo de chocar os bons costumes” . Tanto no Brasil como na África, as cores de Exu são o preto e o vermelho. Seus assentamentos no Brasil são simbolizados pelo tridente de ferro enterrados em pequenos montículos de terra e suas estátuas podem ser feitas de ferro, barro, gesso, madeira, etc., mas na maioria das vezes,sua representação vai conter algumas destas características: chifres, pés de bode ou cabra, dentes, unhas e rabos pontudos, capas pretas e/ou vermelhas, tridentes e feições ferozes e traços sombrios (características icnográficas que acabam reforçando a identificação de Exu com o diabo dos cristãos da Idade Média). Exu é dono do dendê, óleo extraído do dendezeiro e fundamental tanto para a liturgia do candomblé, por ser portador e veículo poderoso de axé, como também para a culinária afro- descendente. Exu também é ligado ao fogo, que pertence ao Orixá Xangô. Ligação esta que também pode ter contribuído para associar Exu ao diabo dos cristãos (o elemento fogo associado ao inferno)33. No candomblé, seu status é de orixá mensageiro, como na África, estabelecendo o contato dos homens com os outros orixás. Mesmo no oráculo de Ifá (opelê-ifá), do qual o jogo de búzios é uma variante mais simples, Exu aparece como o orixá que revela os segredos da adivinhação para Ifá e posteriormente o revela também aos homens, pois Exu é o princípio comunicador de tudo e de todos donos das entradas e passagens, Exu têm seus assentamentos nas entradas das casas e dos terreiros; na África, principalmente no 33 Trabalho de TCC. ALVARENGA, Lenny. (Almeida, 1987, p.15). 69 Benin e na Nigéria, Exu está na entrada das cidades, vilarejos, feiras, etc34. Bastide35 afirma que no Brasil, cada terreiro de candomblé têm dois exus assentados, o primeiro deles de caráter extremamente arredio, agressivo e virulento estaria assentado na entrada do Ilê Axé (terreiro), enquanto o segundo, com características mais amenas, às vezes brincalhão, sedutor e cortês, em outras sério e conselheiro, mas sempre vaidoso e orgulhoso de sua posição, chamado muitas vezes de “compadre”, está assentado na entrada do barracão onde são realizadas as festas públicas. Sabe-se, entretanto, que qualquer terreiro de candomblé pode apresentar mais de dois Exus assentados, podendo variar este número de acordo com as qualidades de Exu presentes no terreiro. Na Escola de Umbanda Caboclo Mirim, Exu é uma entidade tripolar, o que justifica o uso do tridente, onde cada uma das ponterias representaria uma polaridade; o que faz de Exu essencial em qualquer trabalho por sua capacidade de transformar as energias do ambiente, atuando sempre sob a égide dos mestres espirituais da Umbanda a quem devem prestar contas. Na Umbanda Esotérica, Exu é o agente kármico responsável pelo cumprimento da lei e da justiça. É ele quem executa a “lei do retorno”, ou seja, é ele quem traz o positivo para quem faz o bem e o negativo para quem faz o mal36. Na Umbanda Iniciática (Ombhandhum), derivada da Esotérica, Exu é um Arcano que guarda todos os segredos iniciáticos, sendo portanto o guardião dos mistérios e segredos da Síntese Religiosa37. A Umbanda Sagrada de Rubens Saraceni faz uma diferenciação de planos Positivos e Negativos semelhante a Umbanda Esotérica, 34Trabalho de TCC. ALVARENGA, Lenny. (Verger, 1997, p.76). 35Trabalho de TCC. ALVARENGA, Lenny. ( Bastide, 1978, p. 179-182). 36 Trabalho de TCC. ALVARENGA, Lenny. (Matta e Silva, 1997, p.40s). 37 Neto, Rivas. Conceito que apresenta uma síntese única para todas as manifestações religiosas e segredos iniciáticos, sendo Exu o guardião desta síntese. 70 mas um ponto decisivo vai diferenciar as duas doutrinas: a função de Exu. Enquanto na Umbanda Esotérica, o Plano Positivo era contraposto pelo negativo através dos Exus, para Rubens Saraceni (2005, pp. 25 e segs.), Exu não pertence ao Plano Negativo em si, justamente por ser tripolar. A Função de Exu então, seria a de Guardião dos Planos Negativos, que segundo Saraceni não podem ser revelados aos humanos, para que estes não atuem negativamente na vida das pessoas e nos Planos Positivos. Exu é um executor das leis divinas, tanto para o bem, quanto para o mal, além de ser patrono da sexualidade masculina, tendo seu contra-ponto na figura de Pomba- Gira. Para Saraceni, nem mesmo o nome Exu é apropriado para designar esta entidade e suas funções.Para ele, o nome correto (que lhe foi revelado via psicografia) é Mehór Yê, que significa, segundo ele, “senhor da potência e da virilidade. Além disso, Exu é ligado ao fogo e tem como cores o preto e o vermelho; elementos estes relacionados, na icnografia cristã ao diabo, ao inferno e as deidades ligadas a este. A subjugação cultural se iniciou neste processo, inferiorizando as crenças locais e seus sistemas de pensamento, na tentativa de torná-los receptivos a todas as demais formas de dominação, incluindo a escravidão. Outra semelhança que pode ter influenciado a identificação exu-diabo: as características fálicas de Legbá (fon), que ainda na África foi associado à imagem de Exu (yorubá), que passou, no Brasil, a apresentar em seus assentamentos, a figura do falo proeminente presente nos assentamentos de Legbá na África. E aqui no Brasil, mais uma vez, Exu foi ligado38 à sexualidade e, portanto ao pecado e a luxúria. As características de Exu quando “incorporado” em um médium também reforçam esta idéia. Exu é muito truculento e agressivo em suas incorporações, muitas vezes gargalhando e fazendo o uso de palavrões. Sua manifestação, dependendo de qual Exu está se 38 Trabalho de TCC. ALVARENGA, Lenny. (Bastide, 1978, p.172. Santos, 1976, p.130s). 71 manifestando, apresenta no médium que o incorpora as seguintes características: mãos retorcidas como se fossem garras, os braços voltados para trás (nas costas), boca com lábios retorcidos mostrando os dentes como se fossem presas, corpo curvado para frente à maneira de homens “primitivos”, dificuldade de andar (sem grande mobilidade), movimentos estereotipados com os pés (como se fossem patas), além do uso e consumo constante de bebidas alcoólicas, principalmente as destiladas, em seus trabalhos. Outro símbolo de Exu no Brasil que pode ter influenciado esta identificação é o tridente típico instrumento icnográfico presente nas representações do diabo cristão na idade média. Os tridentes estão presentes nos assentamentos de Exu e nos pontos riscados representativos destas entidades. Outra associação que pode ter contribuído para o sincretismo exu-diabo no Brasil é o fato, coincidente, da planta Figueira-do-Inferno, também conhecida como Erva-do-Diabo (entre outros nomes) pertencer a Exu na África, onde recebe o nome de Agogô39. Esta associação com a planta permanece hoje nos Candomblé e Umbanda. Na Umbanda temos um ponto cantado para Exu que confirma esta ligação: “Balança a figueira, Balança a figueira, Eu quero ver exu cair (2x) Aonde moram os exus, Que eu não vejo eles aqui (2x) Balança a figueira pra eles cair” Exu por Pai Norberto Peixoto - Quanto à irradiação ou vibração sagrada de Exu entendo que ela é a responsável por levar e trazer, abrir e fechar, conduzir, movimentar, toda e qualquer energia, fluído, axé ou prana, entre as diversas dimensões, planos vibratórios ou "oruns". Sem o aspecto sagrado Exu, o Universo seria estático, tudo 39 Trabalho de TCC. ALVARENGA, Lenny. (Barros. Napoleão, 2003, p.68-69). 72 parado, inerte, e não teríamos evolução. Quando fazemos uma oração a uma "divindade", "santo", guia, benfeitor espiritual, utilizando nosso pensamento associado a vontade, o movimento quem dá é EXU, seja que nome dermos a ele, independente se o conhecemos assim ou não, pois sua atuação independe de nós sabermos que existe e de nossa aceitação ou recusa, de crença ou de fé, pois é uma realidade irmanada de Deus na organização do Cosmo. Exu na escola de Pai Maneco – A Umbandaé brasileira, baseada em fatos e personagens na época do descobrimento, tendo nos caboclos, nossos ameríndios, nos pretos velhos o simbolismo da raça africana escravizada pelos europeus e as crianças que são espíritos de qualquer nacionalidade que tenham desencarnado na idade da inocência. Fecha-se o Triângulo da Umbanda: Caboclos, Pretos Velhos e Crianças. Sabendo serem essas as entidades que compõem a Umbanda, não resta para a Quimbanda outro tipo de espírito senão os originários da Europa, no caso os nobres, príncipes, lordes, almirantes, eclesiásticos, figuras letradas e culturalmente avançadas. Isso aconteceu através da evolução dessas almas pela reencarnação. Se os europeus invadiram nosso país, mataram nossos índios, escravizaram os africanos e cometeram toda espécie de mal, dentro de seus resgates cármicos podem, espontaneamente, terem aceitado a situação de serviçais àqueles que, em vidas anteriores, foram seus carrascos. A lógica desse argumento baseia-se no fato que seria estranho e de difícil aceitação um príncipe apresentar-se em um terreiro de Umbanda, carregando um tridente, afirmar estar morando no cemitério, aceitar farofa, azeite de dendê, charuto e cachaça como oferenda, e ainda receber ordens de um índio ou de um escravo. O melhor é se esconder atrás de um comportamento atípico às suas nobres origens. 73 Exu e Pomba gira por Mãe Márcia Moreira - Temos como lógica a teoria da originalidade de Exu e Pomba gira da escola de Pai Maneco por várias considerações: - traduz o comportamento de exu e pomba gira (gosto por cartolas, bengalas, capas, taças, cigarrilhas e charutos) elementos tipicamente europeus. - pelo linguajar próprio - pelas personalidades - por enquadrar dentro da história real de escravidão e opressão no Brasil-colônia. - por traduzir um recurso correto e justo dentro do processo reencarnatório. Diante de tudo isso, constatamos em mais de duas décadas de trabalho e encontro com a linha de Exu e Pomba-gira que suas gargalhadas, ironias e rudez, demonstram que são qualidades de atuação de trabalho especificamente no submundo astral e em nosso plano material sendo os responsáveis pela execução das leis e mestres na ativação dos processos de expurgos. São eles que realizam os processos de limpeza astral em encarnados e desencarnados, exterminando através de vários recursos (fogo, fumaça, cachaça, pólvora....) todo tipo de sujeira astral e também os responsáveis em desativar energias que envolvem todo tipo de magia negativa. Incorporado ou presente em nosso campo magnético atua diretamente em nosso chakra básico e em outros chákras se houver necessidade. Por conta deste modo magnético de atuação, Exu e Pomba gira são confundidos como entidades que trazem forças maliciosas e sexuais aos seus aparelhos mediúnicos. Uma grave e equivocada interpretação que tem rendido muitas histórias de incitação sexual atribuída a essas entidades. Sendo o chákra básico o ponto principal de atuação dessa linha de trabalho é evidente que na incorporação se constate os reflexos no corpo. Do mesmo modo que 74 quando se incorpora um caboclo, temos todas as sensações de vitalidade e coragem, pois o chákra principal de atuação do caboclo é o esplênico e umbilical acontecerá com as entidades Exu e Pomba gira com seu ponto de atuação localizado no chákra básico. Diante disso, o médium irá sentir uma energia diferente localizada nas áreas básicas que despertará em si um sentido mais ardente, fervoroso. Essa sensação é o grande poder de realização que Exu e Pomba gira realizam quando incorporam (confundido com excitação da entidade e a tradução de ser conquistador e malicioso). Quando um médium traduz isso para o lado da promiscuidade ou elevada violência detona-se claramente o desequilíbrio emocional e sexual em que vive, pois o contato com a energia de realização de exu provoca inversão de polaridades. Portanto, a maldade e promiscuidade esta no encarnado. Esta equivocada interpretação provém: * do errôneo conceito que se tem dessas entidades enraizadas em nossa sociedade. * do desequilíbrio da formação integral da pessoa (nas fases: sexo, eros, filia e ágape). * no desvio da formação do caráter moral e no processo de idolatria como consequência a alienação. Exu e Pomba gira desperta em nós a coragem, a vitória, a paixão, a sensualidade. Exu e Pomba gira prezam pela dignidade, a honra e a beleza. Mostram a beleza do prazer, dos mistérios e das paixões sem o peso da condenação e do pecado. Exu e Pomba gira nos ensinam a sermos mais livres e felizes. Exu mirim - Os mirins são trabalhadores do astral que também atuam na Umbanda. Possuem grande conhecimento de magia e manipulam com maestria os elementais. São frequentemente enviados pelos Exus, aos submundos do astral como espiões. Sua sagacidade, rapidez e coragem fazem com que possam se infiltrar nas zonas inferiores sem serem percebidos. Quando enviados em 75 missão desagregam e neutralizam trabalhos de baixa magia com a mesma facilidade que plasmam campos de força para a proteção de terreiros ou outros lugares sob a proteção dos Exus. Como quase não trabalham atuando em um médium ,quando chegam nos terreiros demonstram certos hábitos adquiridos no astral, como esconder ou camuflar o rosto. Costume adquirido por frequentemente estarem infiltrados entre os espíritos da baixa espiritualidade. Por raramente estarem interagindo com médiuns, quando estão entre os encarnados se mostram ariscos e desconfiados. No entanto, quando respeitados e bem acolhidos demonstram fidelidade e até mesmo uma certa afabilidade. Os Exus Mirins obedecem a mesma hierarquia que os outros Exus. Não podemos esquecer que apesar de espíritos infantilizados, não deixam de ser EXUS. Trazem no ponto riscado os símbolos mágicos condizentes com a linha que trabalham. Os sinais cabalísticos identificam a falange a qual pertencem, o guardião a quem obedecem e o Orixá a quem estão ligados por afinidade .Recebem o "Nome de Guerra" de acordo com sua falange ou com o elemento natural que representam. Assim temos Exus Mirins do fogo, da terra, da água e do ar, se apresentando com os nomes de Labareda, Foguinho, Faísca, Brasinha, Caveirinha, Calunguinha, Pó de Terra, Toco de osso, Toquinho,Tiquinho, Ondinha, Malandrinho, Maria Caveirinha, Mariazinha da Calunga, Corisco, Fumaça, Trovoada e tantos outros nomes que se apresentam no terreiro. As crianças da esquerda existem. Isso é um fato incontestável. São elas os incompreendidos e desprezados Exus Mirins. Os espíritos da corrente de Umbanda que foram rotulados e assumiram o arquétipo de "meninos maus". Os degredados dos terreiros, isolados,condenados ao abandono, amaldiçoados. Crianças rebeldes que fumam, bebem e atazanam a vida de quem os contrariam. A Umbanda, mãe amorosa que acolhe a todos sem distinção, amparando e guiando um número infinito de espíritos encarnados e desencarnados, não pode 76 abandonar os Mirins a sua própria sorte, condenando ao exílio. Mirim é o olho que tudo vê, depurando e auxiliando os espíritos necessitados. São os "pupilos" de Exu, que os amparou dando-lhes um campo de ação na Lei de Umbanda. Os Mirins vêm resistindo bravamente ao preconceito e descaso com que são tratados, mas não deixam de cumprir o seu papel de "Pequenos Soldados da Lei". Vencendo demanda para filho de fé. Até por aqueles que olham com desprezo e desconfiança os pequeninos Exus trabalhando no terreiro. Para esses, Mirim deixa um recado: "Sou a escuridão da luz e a luz da escuridão. Sou o reflexo da tua alma. Fogo, terra, água e ar. Magia de redenção e perdição. Sou ambíguo. Exu. O menor de todos. Pequenino em minha grandeza40. Sua saudação é Laroyê mirim. Mensagem do Sr. Tata Caveira Por Maísa Intelisano O que dizer de quem cospe no prato emque comeu? Ingrato, talvez? E de quem não respeita a casa onde vive? Traidor? E de quem abusa da inocência ou da fraqueza alheia? Covarde? Exu não julga, não condena, não sentencia, não castiga, não persegue. Exu apenas cuida para que a Lei seja cumprida. Ele é o xerife, o guardião das Leis Universais. Exu é o Orixá que faz cumprir a Lei. Ele não cria nem inventa a Lei, ele não faz as Leis. Ele apenas cuida pra que a Lei seja cumprida. Existem outros que se dizem exus por aí que fazem outras coisas, e nós não temos nada com isso. Mas Exu de Lei, Exu Guardião, é sério e cumpridor das Leis. Eu sou Exu Guardião. Sou dono de falange, sou Exu de luz. E não falo isso por arrogância, não! Falo por conquista, porque trabalhei muito para conquistar o que tenho. Nada do que tenho foi de graça! Foi suado, honrado e merecido. E, no meu território, quem não cumpre a Lei responde pelo que faz. Quem não cumpre a Lei, não respeita a Lei, tem que se ver comigo. A maior Lei é fazer ao outro o que queremos para nós mesmos. Nem mais, 40 Texto da prof. Maria Amélia Martins. 77 nem menos. Simples assim, mas o ser humano complica, e algumas pessoas gostam de complicar a vida dos outros, se esquecendo que complicam primeiro sua própria vida. E depois vêm pra gente perguntar por que nada dá certo, por que as coisas estão tão difíceis, por que têm tanto obsessor, por que têm tanta energia pesada e negativa na vida...Arah...Quando alguém não cumpre a Lei, Exu apenas entrega para aqueles que julgam, e eles decidem o que fazer. Exu não tem rancor, Exu não tem antipatia, Exu não pratica vingança. Exu tem respeito à Lei e a quem respeita a Lei. Se você está do lado da Lei, Exu está do seu lado. Se você está contra a Lei, Exu está à sua frente, no seu caminho, esperando por você! A maior Lei é sempre fazer ao outro o que se quer pra si mesmo. E não é porque o “barbudo” falou, não! Muito antes dele, vários outros já diziam a mesma coisa, com outras palavras. Essa é a Lei desde sempre. Quer a gente goste, quer a gente não goste. Se gostamos, muito que bem. Se não gostamos, muito que bem também. A Lei é uma só e vale pra todo mundo. Quem não cumpre a Lei, Exu entrega pra quem de direito. E quem cumpre a Lei, Exu protege, ampara, orienta, defende. Exu tem muito respeito por quem procura sempre cumprir a Lei. Quem cumpre a Lei mora do lado esquerdo do peito de Exu, no coração de Exu. Exu sabe que ninguém é perfeito. Nem ele mesmo. E por isso não exige perfeição de ninguém. O que ele quer é sinceridade de intenções, seriedade de propósitos, respeito por todos e por cada um. O que Exu quer é que cada um procure ser melhor a cada dia, sem prejudicar ninguém, sem abusar de ninguém, sem hipocrisia, sem falsidade. Apenas fazendo a sua parte. Porque Exu vê muito mais do que você. Exu vê mais longe e, onde você pensa que ninguém sabe de nada, Exu já sabe, e já está agindo para que a correção seja feita. Onde você pensa que pode enganar, Exu já sabe da verdade, e vai fazer com que ela prevaleça. Por isso, não tente enganar Exu. Não tente mentir pra Exu. Não seja hipócrita com Exu, porque, quando você menos esperar, a sua máscara cai e você fica exposto, pra todo mundo ver a sua enganação, a sua mentira. Se você for esperto, corrige o seu rumo depressa, antes que Exu arranque sua máscara. A Lei diz: faça ao outro apenas aquilo que você quer que façam pra você. Se você exige algo dos outros, esteja preparado para exigir a mesma coisa de si mesmo. Se você quer algo para si, esteja preparado para desejar que o outro alcance a 78 mesma coisa. Se você espera alguma coisa do outro, veja se o outro pode esperar a mesma coisa de você. Se você acha que está tudo bem em enganar e usar o outro, esteja preparado para ser enganado e usado. Nem mais, nem menos. O que vai, tem que vir. O que vem, tem que ir. O que se dá, é o que se recebe. Assim é a lei. Exu não dá privilégios, mas privilegia quem privilegia a Lei. Exu não escolhe ninguém, mas gosta de quem escolhe a Lei. Exu não tem preconceitos, não faz diferença, não tem preferências. Exu é Orixá de Lei. Exu trabalha com a Lei e pela Lei e, por isso, é justo! Exu tem mais que amigos, tem parceiros, tem irmãos de fé. E quem tem Exu como parceiro, nunca está sozinho. 79 UMBANDA X INDIVIDUALIDADE Um dos grandes problemas que vivemos hoje na Umbanda é a individualidade das pessoas. Existe uma grande dificuldade de compreensão de que a Umbanda é um projeto de comunidade, de integração religiosa, mas também social. A própria doutrina dos Orixás desenvolvida na Umbanda nos oferece elementos suficientes para compreender a valorosa e fundamental interação e integração. Os elementos possuem suas essências, mas quando interagem promovem vida. Temos também as linhas de trabalho que compõe a Umbanda. Em abundância, histórias, exemplos de vidas de Caboclos, Pretos velhos e tantas outras entidades que nos ensinam no decorrer desses anos a importância de se dedicar ao outro, ao trabalho em grupo. Pessoas com dificuldade de compreensão de viver em comunidade, somatizada com a deficiência de caráter, disciplina e desequilíbrios emocionais resultam em grandes e dolorosos problemas para a comunidade umbandista. São pessoas que se comportam com grande exigência e crítica apontando sempre o outro. Estão sempre com a razão, são sempre vítimas e perseguidas. Constantemente declaram suas boas intenções e nobres sentimentos, porém suas declarações não se sustentam por muito tempo. Quando as aparências são desconstruídas ou as máscaras decaídas, reagem com ingratidão, desprezo e até ódio. Depreciam a própria aldeia que um dia os acolheu e na maioria das vezes os ajudou. Negam o que outros se esforçam para erguer e na maioria das vezes usam a pedra da calúnia para destruir a casa que um dia serviu de abrigo. Todos na Umbanda são acolhidos como filhos e filhas. São recebidas com grande esperança que com um árduo trabalho e dedicação serão capazes de superar suas mazelas e aprimorar suas virtudes. 80 Umbanda é um projeto de construção ou de reparação da pessoa inteira. Simultaneamente acontece o desenvolvimento mediúnico e humano. A realização do médium enquanto se relaciona com suas entidades como também a realização da pessoa enquanto se relaciona com o outro. O requisito para aderir a este projeto de amor é simples. Ter disposição de aprendiz e consciência de ser filho, pois proteção, ensinamentos e tarefas não faltam em casas, aldeias e egrégoras comprometidas em acolher, ensinar e integrar a todos em uma só aldeia, em uma só Luz. FUNDAMENTOS DA UMBANDA Os fundamentos de uma religião são a sua base, o alicerce de sua doutrina e rito litúrgico. Na Umbanda o fundamento básico esta na sua doutrina da caridade “Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade”. Portanto, esses fundamentos devem iluminar todos os outros fundamentos existentes dentro da Umbanda. Os fundamentos básicos são divididos entre: - Fundamentos teológicos e filosóficos. - Fundamentos litúrgicos ou ritualísticos. - Fundamentos Estruturais ou Materiais. FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS Diz respeito ao que a Umbanda acredita, qual é a sua doutrina. -fato histórico de 15 de novembro de 1908, na manifestação do Caboclo das 7 Encruzilhadas por meio de Zélio de Moraes onde anuncia a religião de Umbanda. - fato doutrinal quando anuncia uma religião mediúnica e caritativa. “Com os mais sábios aprenderemos, aos humildes ensinaremos e a 81 ninguém renegaremos”. Recebendo a todos encarnados e desencarnados. - crença em Deus, nos Orixás e nos guias espirituais. - semeadura livre e colheita obrigatória. FUNDAMENTOS LITÚRGICOS São os fundamentos referentesao ritual, sua liturgia, sua forma de realizar as sessões, giras ou trabalhos de Umbanda. - incorporação de espíritos – manifestação dos espíritos para o atendimento e desenvolvimento espiritual. - espíritos e seus arquétipos – as entidades, guias de Umbanda se apresentam em linhas de trabalho ou falanges, nas quais representam todo um contexto da realidade de sua história e constituição. - o ritual tem começo, meio e fim – o ritual varia de casa pra casa, mas os fundamentos se apresentam em todas. - a defumação – consiste em queimar ervas secas e resinas, devidamente escolhidas com o objetivo de promover uma limpeza astral por meio da fumaça aromática. - a curimba ou pontos cantados – é musica sagrada que quando entoada envolve vibrações espirituais produzindo no ambiente suas energias e auxiliando os participantes a entrar em sintonia naquele momento. - velas – a chama acesa potencializa e perpetua os pedidos e orações. Materializa a luz que emana do astral. - símbolos ou pontos riscados - são traços, símbolos em que as entidades manipulam ou direcionam determinadas energias. - o fumo – é uma erva sagrada onde as entidades manipulam através da fumaça direcionada pelo sopro purificando ou defumando os consulentes. - a bebida alcoólica – é um recurso de limpeza e higienização. Atração ou descarrego. Por sua qualidade de combustão, no caso das 82 bebidas que passam pelo processo da fermentação, ativam determinadas energias ou auxiliam em energias mais explosivas. No caso de atração, servem como elementos atrativos ou até mesmo de barganha espiritual (manipulada pelas entidades). - banhos de ervas – promove a limpeza espiritual e energética, irradiação, neutralização ou purificação de energias. - roupa branca – roupa sagrada, usada somente nos rituais. Na cor branca simbolizando a paz, a limpeza e o fato do branco ser neutro, não retém energias. - o congá ou gongá41 - é o local central de um terreiro onde se concentra as energias nos fundamentos através da pedra, água, vela e outros objetos. Também armazena os fluídos provenientes dos pensamentos, orações e da fé. É uma fonte de energia, de ectoplasma em que as entidades utilizam para realizar as tarefas de um terreiro. - pemba42 - é um instrumento sagrado. Usado para riscar símbolos para rituais magísticos como também para marcar o corpo da pessoa. É um instrumento manipulado exclusivamente pelas entidades ou o sacerdote que ao utilizar a pemba, imantam seus flúidos. - pontos riscados – são símbolos riscados em tábuas ou no chão representando manipulação de energias, qualidades de trabalho, identificação de entidades. São manipulados exclusivamente pelas entidades ou pelo sacerdote. Não há estudo específico do ponto riscado. Cada traçado ou símbolo pode ter inúmeros significados. Esse fundamento ainda se encontra nos mistérios das entidades. Poucas revelam e ensinam. 41 Uma terminologia própria da Umbanda. Também conhecido como altar. 42 Modelada em formato oval, é confeccionada com calcário, um tipo de giz. 83 FUNDAMENTOS ESTRUTURAIS É a estrutura material. - Local fixo ou provisório. Casa ou salão. - a forma em que se apresentará o congá ou gongá. - Ter uma tronqueira firmada ou assentada. ELEMENTOS DE RITO São elementos que não alteram o fundamento. São opcionais na ritualística. - atabaques - ingestão de bebidas - roupas coloridas ou caracterizantes - guias (colares) NÃO É FUNDAMENTO DE UMBANDA - cobrar por trabalhos ou atendimento espiritual. - sacrifício animal. - vocabulários impróprios, desrespeitosos e ameaçadores. - uso de maconha e drogas em suas firmezas. - entidades que se comportam com promiscuidades e pornografia. A MÚSICA SACRA DE UMBANDA (por mãe Márcia Moreira) A música sacra de Umbanda é conhecida como pontos cantados ou curimbas, pertence ao conjunto de fundamentos sagrados da religião. Toda a ritualística é cantada, inclusive as orações são estruturadas em forma de canto. A Umbanda é uma religião de movimento e os louvores são entoados em cantos com 84 acompanhamentos ou não do atabaque ou de outros instrumentos. A música é fundamento, é sagrada, enquanto o instrumento musical é elemento de rito. Sendo sagrada é de responsabilidade de todos e principalmente dos pais e mães no santo de ensinarem aos seus, dos locais e dos propósitos onde devem serem entoadas. É lamentável ver nossos pontos sagrados, as curimbas (onde muitas são inspirações de entidades), serem expostas em locais de diversões, acompanhadas de bebidas alcoólicas e de danças extravagantes, onde tudo pode acontecer. Se queremos que nossa religião seja respeitada pela sociedade é preciso construir de fato uma comunidade religiosa pautada no discernimento e na ética. Saravá! PRÍNCIPIOS DA UMBANDA - Na existência de Deus, único, expressado sob mais variados nomes (Zambi, Olorum, Tupã....). - Na existência de um Orixá- maior, Oxalá. - Na existência dos Orixás . - Na existência de guias espirituais, mensageiros dos Orixás. - Na existência do espírito a caminho da evolução. - Na existência da reencarnação, na lei da causa e efeito e do livre- arbítrio. - No exercício da mediunidade sob as mais variadas categorias. - No reconhecimento de que as religiões são caminhos que conduzem até Deus. - No compromisso do trabalho comunitário e caritativo. - Na necessidade do ritual como elemento disciplinador. 85 SACERDÓCIO NA UMBANDA "Sacerdote ou Sacerdotisa (do latim Sacerdos – sagrado; e otis – representante, portando "representante do sagrado") é uma autoridade ou ministro religioso, habilitado para dirigir ou participar em rituais sagrados de uma religião em particular. Eles também têm a autoridade ou o poder de administrar os ritos religiosos, em especial, os ritos de sacrifício e expiação de uma divindade ou divindades. Seu cargo ou posição é chamado de Sacerdócio43." Na Umbanda, o sacerdote é chamado de: - Dirigente – termo comum no kardecismo. - Zelador, babalorixá/yalorixá – termo comum do Candomblé. - madrinha/padrinho – termo comum nos terreiros de Umbanda mais antigos. - pai/mãe no santo44 – o mais popular. O sacerdote é o responsável pela liturgia dos ritos sagrados de Umbanda, sejam eles públicos ou reservados. É através dele que o mentor espiritual (entidade chefe do terreiro), irá conduzir a forma de trabalho mediúnico, ou seja, formando e conduzindo uma corrente espiritual (egrégora) de encarnados e desencarnados para realizar os atendimentos. O sacerdote é o congá vivo, onde vibram os Orixás e toda egrégora espiritual. Seu ori é o responsável em primeira escala diante do compromisso de ser representante do sagrado. Por isso a razão de pedir a benção ao pai/mãe no santo. A reverência que se faz é para toda a espiritualidade de Umbanda que está agregada na corrente espiritual daquela casa. O respeito e a reverência não devem ser confundidos com bajulação e idolatria a pessoa do sacerdote. Ele antes de tudo é médium, é um filho de fé que está numa condição de maior responsabilidade. Está a serviço dos orixás e de todas as entidades que compõem aquela corrente. É uma missão exigente e árdua. Através do seu útero espiritual muitos médiuns vão nascer 43 http://pt.wikipedia.org/wiki/Sacerdote 44 Expressão incorreta pai/mãe de santo. 86 para a Umbanda sendo filhos de fé. A relação é de esperança de que a Umbanda continuará mesmo que o filho não fique na casa. A relação é de afetividade fraternal, pois no desenvolvimento mediúnico há doação direta do seu ori sustentando o ori do filho até que este consiga manifestar sua espiritualidade com equilíbrio e eficiência. O caminho dosacerdócio é forjado pelo compromisso, dedicação e trabalho mediúnico. São anos de desenvolvimento espiritual e pessoal para que a pessoa com mais amadurecimento assuma essa responsabilidade. Além disso, o que outorga um sacerdócio é a indicação e confirmação da entidade chefe de terreiro. O sacerdócio não é legitimado por cursos, graus parentescos ou adquiridos em ritos de feituras. Nem todos os filhos possuem essa missão, personalidade, dom. Por isso a importância de ser indicado pela espiritualidade, para que não haja desejos pessoais alimentados pelo ego. Cada casa tem um modo de construir essa consagração45 sacerdotal, no entanto ela é realizada pela entidade chefe e não pela entidade do próprio médium. A legitimidade se dá pelo que se recebe do pai/mãe do santo, daquele que te iniciou46 na vida espiritual. Não precisa ser filho no santo daquela casa para chama-lo de pai/mãe. Aliás, o sacerdócio de Umbanda deve ser reconhecido e respeitado por todos, umbandistas ou não. Não somos católicos, mas dirigimos ao sacerdote da igreja católica chamando-o de padre, não é mesmo? 45 Consagração ou coroação – através de rito próprio realizado pela entidade chefe da casa. 46 Todos os grandes mestres na história foram iniciados por outros mestres. Não se pode auto-batizar e muito menos auto-consagrar. 87 QUANDO NASCE UMA CASA DE UMBANDA (por mãe Márcia Moreira) Muitos umbandistas expressam o desejo de terem suas casas. Na maioria dos objetivos, a razão é para fazer o que discorda da atual casa ou para ditar as suas próprias regras. No entanto uma corrente espiritual de Umbanda nasce de razões profundas, alicerçadas no compromisso moral, ético e espiritual. Não se trata de um local para atender as vontades das pessoas e nem tão pouco um palco de atrações. Uma casa de Umbanda é um lugar sagrado onde se encontra apoio e acolhida aos encarnados e desencarnados. Um lar para quem quer ficar, uma escola para quem quer aprender, um hospital para quem quer se curar. Ela nasce em coração simples e sincero, com disposição e capacidade de agregar, somar e de partilhar. São esses os dons que outorgam o nascimento de uma corrente umbandista. Valores que não se aprendem em cursos, que não são comprados ou adquiridos por graus parentescos e “ritos mágicos”. São valores forjados pela dedicação ao trabalho mediúnico, pelo discernimento e disciplina que no decorrer no tempo são adquiridos. A espiritualidade que desenvolve e educa o filho de fé indica o momento de construir uma casa, quando a formação se completa. A autorização parte da Umbanda e não das pessoas. Quando a concepção é sagrada entre a espiritualidade e um coração humilde, a Umbanda vibra no ori, no olhar, na pele. Não há recuo pelas dificuldades, pelas próprias limitações ou ingratidões. Há objetivo, determinação e realização. O resultado se apura no decorrer dos anos. Os trabalhos crescem, se desenvolvem e se multiplicam. As correntes espirituais se consolidam e a identidade da casa se constrói junto com sua história. É como uma semente que possui o dom dos frutos, mas terá que trabalhar em sua formação até se transformar em uma árvore. 88 Que as sagradas casas de Umbanda promovam ambientes adequados para que seus filhos sejam capacitados a cuidar da fragilidade humana. Saravá! “A espiritualidade na Umbanda e seus valores” O que é espiritualidade? • É a recusa de que a vida se esgote na sua materialidade, numa existência que tem sentido em si mesmo. Espiritualidade esta conectada com a noção de transcendência, isto é, o sentido da vida para além do imediato, mergulhado numa história que faz sentido de honrar a vida. (Sérgio Cortella). Na Umbanda vivemos a espiritualidade da diversidade, da inclusão e da coletividade. É religião que promove constantemente as relações. Essa convivência envolve vidas, existências e suas histórias. A Umbanda é vivida no NÓS e não sobrevive no EU. Umbanda é encontro e nessa pluralidade recebemos diariamente valores essenciais para a nossa construção ou reconstrução humana, aprimorando nosso ser bio-psico-sócio-espiritual. Há compreensão desses valores? Há aprendizado com essa espiritualidade? A espiritualidade na Umbanda é definida na história por Caboclo das 7 encruzilhadas “Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade”. O caboclo também revela naquele momento que numa vida anterior foi um frei jesuíta Gabriel Malagrida condenado pela inquisição ao garrote e fogueira sob acusação de heresia. Não nega sua história de religioso, mas assume a identidade de um caboclo com a missão de anunciar uma nova religião, “com os mais sábios aprenderemos, aos mais simples ensinaremos e a ninguém renegaremos”. Deste modo, a Umbanda em 1908 inicia o processo de 89 organização em forma de culto religioso de inúmeras manifestações espirituais que estão acontecendo por todo o Brasil. Vamos então refletir sobre essas duas declarações de Caboclo das 7 encruzilhadas: “Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade” Caridade – vem do latim cáritas que foi traduzido da palavra grega ágape (tradução feita por S. Gerônimo quando traduziu a bíblia do grego para o latim). Portanto a espiritualidade que se manifesta na Umbanda tem como finalidade transmitir o amor incondicional e voluntário. “Todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com os espíritos que souberem mais, além de podermos ensinar aos que souberem menos. Não viraremos as costas a nenhum nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai.” Acolher Aprender Ensinar Caboclo das 7 encruzilhadas assim como todas as entidades na Umbanda se apresentam através da mediunidade de incorporação para que todos possam se relacionar através do acolhimento, aprender através da vivência e partilhar do seu desenvolvimento humano ao outro. Uma religião com potencialidade de inclusão, que aprende com a diversidade e ensina a viver na liberdade e na plenitude o amor de Deus. São tarefas essenciais vivenciadas em tempo integral num ambiente de Umbanda. Essa é a lei de Umbanda. Através de um preto velho vivenciamos a humildade, a paciência, o perdão. Através de um caboclo vivenciamos a objetividade, a expansividade, a vitalidade. Através de um ibeji vivenciamos a pureza, a alegria, a esperança. Através de um exu e pomba gira vivenciamos a correção, a organização, a realização. 90 É um modo pedagógico da Umbanda atender as dimensões humanas que fazem parte de uma unidade como ser bio-psico-sócio- espiritual. A espiritualidade na Umbanda é vivida inteiramente com a participação humana e com toda sua complexidade de ser. Somos acolhidos por inteiros, com nossas histórias, nossos traumas, nossas limitações. Somos orientados o tempo todo para a reforma intima, moral e emocional. Recebemos apoio, compreensão e valorosos conselhos, mas a mudança que tanto almejamos precisa nascer do nosso interior, do nosso eu, da nossa consciência. Reconhecer as nossas limitações e assumir nossa condição de aprendiz para que de fato a Umbanda seja uma escola em nossa vida é o primeiro passo essencial rumo a nossa construção ou reconstrução de nosso ser. Nesta direção, a disciplina é a nossa grande aliada perante as nossas limitações até que os valores praticados se tornem verdadeiramente absorvidos em nosso ser despertando nossas virtudes e nossa essência divina. A espiritualidade de Umbanda nos leva para a lucidez, para a realidade de nossa história onde existe uma lei natural em que somos parte. Dimensão biológica ; nascimento, desenvolvimento, morte. Dimensão psicológica ; pensamento, raciocínio, memória, emoções. Dimensão social ; família, política, cultura. Dimensão espiritual: transcender, à noçãoda existência de forças maiores que o entendimento não pode ou tem dificuldade de aprender, religiosidade, a busca por Deus. Todas essas dimensões e complexidades acima apresentadas nos direcionam para uma reflexão do que somos em nossas particularidades e do que exigimos seja da vida, das pessoas que nos cercam e de nossa fé. Perdemos muito tempo na ilusão, no comodismo, no infantilismo e no próprio simplismo de nossa vida. Nossas entidades, guias e mentores abraçam a grandiosa missão de nos inspirar, despertar e nos tirar desse marasmo, são incansáveis 91 tarefeiros da luz. Embora eles tenham conhecimento de toda complexidade que nos cercam, cabe a cada um de nós realizarmos nosso movimento de evolução, abençoado por Deus e pelos Orixás. A Umbanda nos convida a assumir nossa história pessoal, enfrentar, modificar e aprimorar. Somente assim teremos nossa identidade, fortaleceremos nossa raiz e escreveremos uma história vitoriosa. Oxalá abençoe Abraços fraternos mãe Márcia Moreira. 92 Fontes de pesquisa: * Apostila Teologia de Umbanda Sagrada – Alexandre Cumino * As ressignificações de Exu na Umbanda – Lenny Francis Campos de Alvarenga * Das Macumbas à Umbanda – José Henrique Motta de Oliveira * Esse Deus que dizem amar o sofrimento – François Varone * Ética da sexualidade – Marciano Vidal * História da Umbanda – Alexandre Cumino * O labirinto sagrado – Marcial Maçaneiro * Orixás - Teogonia de Umbanda – Rubens Saraceni * Texto Jornal Umbanda hoje * Umbanda – Mitos e Realidade – Iassan Ayporê Pery