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Estrutura e Funcionamento do Sistema de Saúde Pública e Privada UNIDADE I 1 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS 1.1 Conceito de SUS O SUS é considerado um grande sistema público de saúde. Está amparado pela Constituição Brasileira de 1988, que o criou, cujo artigo 196 deixa claro que saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Além disso, é um sistema que trabalha com um conceito ampliado de saúde, pois seus serviços contemplam desde Unidades Básicas de Saúde com ações de promoção à saúde até procedimentos de alta complexidade em unidades hospitalares. O texto constitucional demonstra de forma clara que a concepção do SUS foi baseada em um modelo de saúde voltado para as necessidades da população, reafirmando o compromisso do Estado com o bem-estar social, principalmente no que se refere à saúde coletiva, como um dos direitos da cidadania. Esse texto define ainda o conceito de saúde, incorporando novas dimensões, pois para se ter saúde é preciso que haja acesso a um conjunto de fatores como alimentação, moradia, emprego, lazer e educação. O SUS é considerado um sistema porque é formado pelas instituições dos três níveis de governo (União, estados e municípios) e ainda pelo setor privado, com o qual são feitos contratos e convênios na realização de ações e serviços. Assim, quando o serviço privado é contratado pelo SUS, deve atuar como se fosse público. O SUS é único porque segue a mesma filosofia de atuação em todo o território nacional e é organizado de acordo com uma mesma lógica. Nesse sentido, vale ressaltar que o SUS não é apenas um serviço, e sim um sistema, que significa um conjunto de ações e serviços em saúde que interagem para um fim comum. Assim, essas ações e serviços referem-se ao que identificamos como atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. O SUS é considerado um dos maiores sistemas de inclusão social já vistos no Brasil. Amparado nos termos constitucionais, deixa claro o compromisso do Estado com sua população. Durante seu desenvolvimento, ocorreram muitas melhorias, mas ainda se faz necessário mudanças e ajustes, principalmente em relação à qualidade dos serviços prestados e ao financiamento. É importante enfatizar aqui que esse termo universal caracteriza a saúde como um direito de cidadania, pois abrange a cobertura, o acesso e o atendimento nos serviços do SUS, em que o Estado tem o dever de prestar esse atendimento a toda a população brasileira. Desse modo, universalidade foi um princípio-chave da criação do SUS. Podemos considerar o SUS como um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, pois abrange desde um atendimento ambulatorial até um de alta complexidade – por exemplo, um transplante de 12 Unidade I órgãos. Garante acesso integral, universal e gratuito para toda a população do País, constituindo, assim, uma rede organizada por postos de saúde, ambulatórios, hospitais e laboratórios. O SUS é constituído pelo conjunto das ações e de serviços de saúde sob gestão pública, pois está organizado em redes regionalizadas e hierarquizadas, e atua em todo o território nacional, com direção única em cada esfera de governo. O SUS não é, porém, uma estrutura que atua isolada na promoção dos direitos básicos de cidadania. Ele se insere no contexto das políticas públicas de seguridade social, que abrangem, além da saúde, a previdência e a assistência social (BRASIL, 2011a). Contudo, para sua construção eram necessárias muitas mudanças em sua organização e no financiamento dos serviços de saúde, além da introdução de novos mecanismos de responsabilização para os níveis de gestão do sistema, uma vez que existiam fragilidades como a disponibilidade limitada de serviços em algumas regiões do País e o inadequado sistema de atenção primária em saúde. O papel do setor privado foi intensamente debatido às vésperas da nova Constituição; no final, a Constituição e a legislação de criação do SUS definiram o papel do setor privado como “complementar”. Assim, o SUS consolidou-se, ao longo de mais de duas décadas, como a maior política de estado do País, promotor de inclusão e justiça social. Fruto de uma construção coletiva, nele se manifesta o melhor da tradição política brasileira: o diálogo, a composição e a busca do acordo (BRASIL, 2008b). O SUS representa uma política de saúde que foi construída a partir das demandas, necessidades e principalmente da importante participação da população brasileira, ocorridas também por meio das conferências nacionais de saúde. Assim, o SUS apresenta uma definição constitucional, pois é um sistema público de saúde, está em todo território nacional, é de caráter universal, está fundamentado na concepção de saúde como direito de cidadania e ainda segue suas diretrizes organizativas: descentralização, com comando único em cada esfera do governo; integralidade do atendimento; e participação da comunidade. Conforme a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 198, o SUS é definido como ações e serviços públicos de saúde que integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único organizado de acordo com suas diretrizes. Importante enfatizar o significado da sigla SUS em cada termo: • Sistema representa o conjunto de ações e serviços que se articulam com objetivos em comum. • Único significa a unificação do sistema previdenciário, do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais de saúde. • Saúde não é somente a ausência de doenças, pois tem um sentido mais amplo, como direito à educação, moradia, lazer, trabalho. Assim, o SUS é definido como um importante conjunto de ações e serviços de saúde que são oferecidos por instituições públicas das três esferas dos governos – federal, estaduais e municipais –, podendo sua administração ser direta e indireta, ou ainda ocorrer por meio de fundações mantidas pelo poder público e de forma complementar pelo sistema de saúde privada. Importante ressaltar que o SUS é uma política do Estado brasileiro, uma conquista política e principalmente uma conquista do povo brasileiro, de movimentos sociais que levaram à sua construção. O SUS pode ser entendido, em primeiro lugar, como uma “Política de Estado”, materialização de uma decisão adotada pelo Co ongresso Nacional, em 1988, na chamada Constituição Cidadã, de considerar a saúde como um “Direito de cidadania e um dever do Estado” (TEIXEIRA, 2011, p 1.2 Evolução histórica e criação do SUS Descrever a evolução histórica do SUS é, antes de mais nada, falar sobre a saúde pública no Brasil e voltar no passado considerando as políticas públicas. Durante os primórdios do período colonial no Brasil, as políticas públicas voltadas às questões da saúde eram inexistentes. A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808 determinou mudanças na administração pública do Brasil colonial, principalmente na área da saúde. Como sede provisória do império português e principal porto do País, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se centro das ações sanitárias. Nesse sentido, foi necessário criar rapidamente centros de formação de médicos. Por ordem real, foram fundadas as academias médico-cirúrgicas no Rio de Janeiro e na Bahia, na primeira década do século XIX, logo transformadas nas duas primeiras escolas de medicina do País (BRASIL, 2010). Em 1829, foi criada a Junta de Higiene Pública, que por não ter cumprido seu objetivo, que era o de cuidar da saúde da população, sofreu algumas transformações. Em 1851, seu regulamento foi editado e a transformou em Junta Central de Higiene Pública, cujos principais objetivos eram o controle do exercício da medicina e a polícia sanitária, que exerciam atividades como inspeção de alimentos, farmácias, armazéns de mantimentos, restaurantes, açougues, hospitais, colégios, cadeias, cemitérios, laboratórios e fábricas, enfim, todos os lugares que pudessem levar danos à saúde pública. É importante ressaltar que nesse período o Brasil estava submetendo-se econômica e politicamente à metrópole, Portugal, onde a questão econômica se dava por meio da exploração e comercialização do 14 UnidadeI pau-brasil, da cana-de-açúcar e do café. Com o aumento do número da população em virtude dessas transformações, as doenças transmissíveis se disseminaram rapidamente. A literatura cita doenças como varíola, malária, lepra e febre amarela. À época, a principal ação em saúde e intervenção governamental era o isolamento e internação dos doentes em Santas Casas, que já existiam desde 1543. O final do período imperial da história brasileira não representou uma fase de muitas melhorias em relação à saúde da população, pois existiam ainda graves problemas de saúde da coletividade. A Junta de Higiene Pública desenvolveu várias medidas de combate às epidemias, mas não alcançou os resultados esperados. A Junta não resolveu os problemas de saúde pública, e embora não tenha destruído as epidemias, marcou uma nova etapa na organização da higiene pública no Brasil, e é essa forma que será mantida durante o século XIX. Em 1889, ocorreu a Proclamação da República, pois existia uma necessidade urgente de melhorias na economia e na sociedade do País. Com um mundo já capitalista, o Brasil reconhecia a força dos seus trabalhadores como uma fonte geradora da riqueza da nação. Foi na República que se iniciaram as primeiras práticas de políticas públicas em saúde. Assim, em 1903 foi criado pelo então presidente Rodrigues Alves o Departamento Federal de Saúde Pública, que tinha, na época, como importante missão, a erradicação da Febre Amarela, doença que já atingia índices de epidemia em todo País. Segundo Figueiredo e Tonini (2007), em 1904 foi decretada uma lei tornando obrigatória a vacinação contra a varíola, fato que desencadeou a chamada Revolta da Vacina. Essa característica militarista predominou na prática do Departamento Federal de Saúde Pública, mas apesar desse caráter autoritário, tal modelo trouxe resultados positivos, erradicando a febre amarela e controlando doenças endêmicas. Foi erradicada na década de 1970, por meio de campanhas de vacinação. Foi na República que o Estado brasileiro reforçou a participação da União no controle das doenças, aprimorando as campanhas preventivas e a assistência médica curativa, e não mais o isolamento e internações em Santas Casas. Com essas medidas de proteção social, e em especial a assistência médica, houve um reconhecimento legal como política pública a partir da aprovação da Lei Elói Chaves, de 1923, que regulamentou a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões – CAPs, considerada intervenção inicial e de responsabilização do 15 Estado na concessão de benefícios e serviços aos trabalhadores. Assim, por muito tempo a saúde pública ficou vinculada a esse tipo de Previdência Social, gerida e mantida por trabalhadores e empresas. O governo de Getúlio Vargas (Estado Novo), a partir de 1930, foi o marco de uma nova política social no Brasil. As mudanças que ocorreram acentuaram o processo de expansão do capitalismo e da industrialização. Nesse governo é criado o Ministério da Educação e Saúde, as Caixas de Aposentadorias e Pensões – CAPs são substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões – IAPs, em virtude da forma socialista do governo de Getúlio Vargas. Os IAPs eram dirigidos por entidades sindicais, e não mais por empresas como as antigas caixas. Suas atribuições eram muito semelhantes às das caixas, prevendo assistência médica. O primeiro IAP foi o dos marítimos. O Ministério tomou medidas sanitaristas, como a criação de órgãos de combate a endemias por meio de ações sanitárias. Vinculando saúde e educação, o Ministério acabou priorizando o último item e a saúde continuou com investimentos insuficientes. Contudo, o sistema de saúde no Brasil no período de governo militar (1964-1984) implantou reformas institucionais que afetaram muito a saúde pública e a medicina previdenciária. Houve a unificação dos IAPs no Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, em 1966, quando se concentraram todas as contribuições previdenciárias, e assim esse órgão passou a gerir as aposentadorias, as pensões e a assistência médica de todos os trabalhadores formais. Mesmo assim, a saúde pública estava relegada a um segundo plano, tornando-se uma máquina ineficiente, cuja atuação restringia-se a campanhas de baixa eficácia, pois a carência de recursos colabora com o quadro de decadência. Os habitantes das grandes cidades eram vítimas das péssimas condições de vida, que resultaram em altas taxas de mortalidade. Esse quadro seria ainda agravado com a repressão política, que atingiu também o campo da saúde, com cassações de direitos políticos, exílio, intimidações e aposentadoria compulsória de pesquisadores. Com essa piora das condições de vida das pessoas, agravou-se muito o estado sanitário da população. Houve o aumento da mortalidade infantil e do número de casos de doenças transmissíveis, como a tuberculose, e grandes epidemias, como a da meningite, em 1973, no estado de São Paulo. Em resposta, ocorreram críticas por parte da sociedade ao modelo econômico do País e ao sistema previdenciário. Foi em 1975 que o modelo econômico implantado pela ditadura militar entrou em crise: a população com baixos salários passou a conviver com o desemprego e as suas graves consequências sociais. Aos poucos a sociedade foi se articulando em movimentos sociais importantes, e também médicos e profissionais da área da saúde discutiam em congressos e seminários a situação da saúde no Brasil. O ano de 1974 foi marcado pelas críticas à política do regime militar, dando início ao processo do último presidente militar (1979-1984). 16 Unidade I Em 1985, o regime militar chega ao fim. Com o advento da Nova República, lideranças do movimento sanitário assumem efetivamente posições em postos-chave nas instituições responsáveis pela política de saúde no País. Como expressão dessa nova realidade, destaca-se a convocação, em 1986, da 8ª Conferência Nacional de Saúde, cujo presidente foi Sérgio Arouca, então presidente da Fundação Oswaldo Cruz. Esse evento é considerado o momento mais significativo do processo de construção de uma plataforma e de estratégias do movimento pela democratização da saúde em toda sua história. Foi na 8ª Conferência Nacional de Saúde, entre 17 e 21 de março de 1986, em Brasília, que se lançaram os princípios da Reforma Sanitária. Nessa Conferência, que contou com a presença de mais de quatro mil pessoas, evidenciou-se que as modificações no setor da saúde transcendem os marcos de uma simples reforma administrativa e financeira. Havia necessidade de uma reformulação mais profunda, com a ampliação do conceito de saúde e sua correspondente ação institucional. A 8ª Conferência representa um importante marco da saúde no Brasil, pois foi o que deu origem à Reforma Sanitária Brasileira, discutindo temas como a necessidade de ampliação do conceito de saúde e de um novo Sistema Nacional de Saúde, a separação da saúde da previdência e a orientação da política de financiamento para o setor saúde. Seu relatório final representou um instrumento que responsabilizou o Estado por assegurar o direito à saúde a toda a população, garantindo condições de acesso e qualidade dos serviços, servindo de base para a elaboração da nova Constituição de Saúde do Brasil. A Constituição Brasileira de 1988, também chamada Constituição Cidadã, foi considerada o arcabouço legal do SUS é fundamental na redefinição das prioridades da política do Estado na área da saúde pública, pois definiu o conceito de saúde, incorporando novas dimensões. Para se ter saúde, é preciso ter acesso a um conjunto de fatores, como alimentação, moradia, emprego, lazer, educação etc. O artigo 196 (BRASIL, 2011a) cita que [...] a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Esse texto constitucional apresenta de forma clara que a concepção do SUS tinha como base a construção de um modelo de saúde voltadopara as necessidades da população, firmando o compromisso do Estado com o bem-estar social. Ao longo do ano de 1989, ocorreram as negociações para a promulgação da lei complementar que daria bases operacionais à reforma e iniciaria a construção do SUS. Pontos importantes a serem considerados no processo de criação do SUS são, sem dúvida nenhuma, as definições legais estabelecidas na Constituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da Saúde. Assim, a Lei de nº 8.080/90 institui o SUS, que deve ser constituído pelo conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais da administração 17 A direta e indireta e das fundações mantidas pelo poder público. A iniciativa privada poderá participar do SUS em caráter complementar. A Lei nº 8.080/90 dispõe sobre as condições para os três níveis de atenção à saúde, que são a promoção, a proteção e a recuperação sobre a organização e o funcionamento dos serviços. Essa lei deixa claros quais os principais objetivos e competências do SUS e também quais devem ser as funções das três esferas de governo, os níveis federal, estadual e municipal. Ainda em relação ao amparo legal, foi criada a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre como deve ser realizado o repasse financeiro entre os três governos para a área da saúde. Essas leis firmaram o papel do município como o principal executor das ações de saúde, pois reconhece a proximidade do gestor municipal com sua população, tema muito discutido e exposto nas conferências nacionais de saúde, principalmente a 8ª Conferência. Vale ressaltar que o processo de construção da definição do papel para cada esfera de governo não foi fácil, sendo mediado por conflitos e muitas discussões entre os entes representativos. Contudo, o caráter de democratização de todas as ações envolvidas nesse processo foi garantido, e à medida que as discussões avançavam, foram-se definindo as responsabilidades de cada setor dentro do Estado brasileiro. Assim, os municípios ficaram com a grande responsabilidade de executar as ações propostas dentro do SUS, pois estavam mais próximos da população e sabiam reconhecer suas necessidades. Todo esse processo foi guiado pelas Normas Operacionais – NOB, instituídas por meio de portarias ministeriais, nas quais eram definidas as competências de cada esfera do governo dentro do processo de implantação do SUS. O conjunto de leis e normas que constituem a base jurídica da política de saúde e do processo de organização do SUS está bem claro na Constituição Federal de 1988, do artigo 196 até o 200 . Nesse sentido, o SUS é considerado um sistema que compreende um conjunto de unidades, de serviços e de ações que interagem para um mesmo fim. Esse sistema de saúde segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o território nacional e está sob a responsabilidade das três esferas autônomas de governo federal, estadual e municipal. Em todo o País, o SUS deve seguir a mesma doutrina e a mesma forma de organização, sendo definido como único pela Constituição, um conjunto de elementos doutrinários e de organização do sistema de saúde. Com isso, podemos entender o SUS como um núcleo comum, que concentra os princípios doutrinários e, na sua forma e operacionalização, os princípios organizativos. Assim, todos os serviços públicos e privados de saúde, contratados ou conveniados com o SUS, devem seguir as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal de 1988, obedecendo ainda a princípios organizativos e doutrinários ou éticos. 1.3 Princípios doutrinários do SUS Os princípios doutrinários, também considerados princípios ideológicos do SUS, incluem a formulação e execução de ações voltadas para garantir o acesso dos indivíduos às ações e serviços de saúde, pois são propostas sistematizadas como programas e projetos que visam a assegurar a universalização do acesso e a integralidade das ações. Segundo a Lei nº 8.080/90, esses princípios são: 19 Universalidade: é a garantia de atenção à saúde a todo e qualquer cidadão. Com o princípio da universalidade, todo cidadão brasileiro tem o direito de acesso a todos os serviços de saúde, sejam públicos ou contratados/ conveniados pelo serviço público. Assim, a saúde é um direito do cidadão e dever das três esferas do governo: municipal, estadual e federal. É um direito de todos, de todo cidadão, onde a população tem direito de acesso. Equidade: é a garantia de que todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido nos serviços de saúde em qualquer nível de complexidade de assistência, independentemente de seu local de moradia. Significa também tratar “desigualmente os desiguais”, é prover e alocar recursos onde as necessidades são maiores. Integralidade: a compreensão de que o homem é um ser integral e deverá ser atendido por um sistema integrado pelas ações que visam promover, proteger e recuperar a saúde. A atenção inclui atendimento tanto preventivo quanto curativo, individual e coletivo, em todos os níveis de complexidade, sendo desde a atenção básica em saúde, assistência especializada e assistência hospitalar. Observação Doutrina são fundamentos e ideias essenciais, pois representam preceitos básicos que compõem um sistema 1.4 Princípios organizativos do SUS Os princípios organizativos do SUS orientam como este deve funcionar. São eles: Regionalização e Hierarquização: os serviços de saúde devem ser organizados de acordo com seu nível de complexidade tecnológica e de forma crescente. Devem ainda estar dispostos em uma área geograficamente delimitada, definindo muito bem a população a ser atendida. O acesso aos serviços deverá se dar no nível primário através da atenção básica em saúde, e seguir a hierarquia dos níveis de atenção segundo a necessidade de resolução do problema. Uma rede de serviços deverá ser organizada de forma hierarquizada e regionalizada para permitir um conhecimento maior dos problemas de saúde a serem enfrentados na sua área de abrangência. Resolubilidade: capacidade dos serviços de enfrentar e resolver os problemas de saúde utilizando sua capacidade instalada. 20 Unidade I Descentralização: redistribuição de responsabilidades nas três esferas de governo, municipal, estadual e federal, com o objetivo de se buscar o compromisso de todos na solução dos problemas de saúde da população. Participação dos cidadãos: garantia constitucional de que a população, através de suas entidades representativas e de classe, participará do processo de formulação das políticas de saúde e do controle da execução destas em todos os níveis de governo, desde o federal até o local. Esta participação deverá se dar através dos conselhos de saúde, com representação paritária de usuários, governo, profissionais de saúde e prestadores de serviço. Outra forma seria através da participação nas conferências de saúde, periódicas que definiriam as políticas de saúde e as prioridades. Outro ponto a ser destacado é que o processo participativo pode ocorrer em atividades onde os serviços esclarecem a população quanto à ocorrência dos agravos à saúde e, assim, esta poderá se posicionar frente às questões relativas ao agravo. Complementariedade do setor privado: a Constituição definiu que, quando, por insuficiência do setor público, for necessária a contratação de serviços privados através de contratos, conforme as normas de direito público, o interesse público prevalece sobre o particular. Intersetorialidade: a atual legislação brasileira ampliou a definição de saúde, considerando-a resultado de vários fatores como alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer, acesso a bens e serviços essenciais. Com isso, as gestões municipais do SUS devem desenvolver ações conjuntas com outros setores governamentais, como meio ambiente e educação, que possam contribuir, direta ou indiretamente, para a promoção de melhores condições de vida e da saúde para a população (BRASIL,1990b). Lembrete Na participação social, os sujeitos ou atores sociais são os usuários, profissionais, gestores, assim como as instituições, os órgãos, as comunidades e as equipes de trabalho, que participam dos processos de gestão no planejamento e monitoramento da saúde pública. Vale ressaltar que o cumprimento de todos esses princípios legais leva a uma responsabilidade política e social assumida pelo Estado, e ainda imputa os gestores na formulação e implementação de novas políticas econômicas e sociais, com o objetivo de melhorar as condições de vida e saúde da população Assim, as políticas devem garantir o acesso dos indivíduos aos serviços de saúde. Então, essa política de saúde deve incluir programas e projetos que visem a reformar o sistema de serviços de saúde, de modo a assegurar a universalização do acesso e a integralidade das ações. Como se pode constatar, a caracterização dos fundamentos teóricos e políticos dos princípios e diretrizes do SUS não foi algo fácil. Portanto, deve também ser muito trabalhado e mapeado dentro da organização dessas políticas. 2 MODELOS DE GESTÃO NO SUS E SUAS ENTIDADES REPRESENTATIVAS 2.1 Introdução O SUS, criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pelas Leis nº 8.080/90 e 8.142/90, foi sendo socialmente construído principalmente por meio de Normas Operacionais Básicas – NOB. As NOB foram feitas em comum acordo pelas três esferas de governo e concretizadas por Portarias Ministeriais. Esse modelo de sistema de saúde é descentralizado e administrado democraticamente com a participação da sociedade organizada e a separação de responsabilidades entre as distintas esferas de governo – nacional, estadual e municipal –, cabendo aos gestores o cumprimento de um importante papel, que é a concretização dos princípios e das diretrizes do SUS. Os gestores do SUS são os representantes de cada esfera de governo designados para o desenvolvimento das funções do Executivo na saúde: no âmbito nacional, o ministro da saúde; no estadual, o secretário de estado da saúde; e no municipal, o secretário municipal de saúde. A atuação de cada um efetiva-se por meio do exercício das funções gestoras na saúde, e essas funções gestoras podem ser definidas como um conjunto articulado de saberes e práticas de gestão necessários para a implementação de políticas na área da saúde (BRASIL, 2010). Um gestor do SUS tem característica de uma autoridade sanitária, pois tem a responsabilidade de conduzir as políticas de saúde do seu setor respeitando os preceitos constitucionais e legais do SUS. Em relação à atuação política do gestor do SUS, ela significa o seu relacionamento com diversos grupos e atores sociais, em diferentes contextos de negociação, como outros ministérios ou secretarias de saúde. Já sua atuação técnica abrange suas atribuições na gestão em saúde, pois o exercício de suas funções e um bom desempenho dependerá de conhecimentos, de habilidades e de suas experiências no campo da gestão pública. Assim, é importante ressaltar as atribuições e competências comuns das três esferas de governo na gestão do SUS. A Lei Orgânica da Saúde estabelece as atribuições comuns das três esferas de governo de forma abrangente nos vários campos de atuação. É importante ressaltar aqui algumas atribuições comuns da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, em cada âmbito administrativo: Administrar os recursos orçamentários e financeiros destinados à área da saúde; bem como monitorar, avaliar e divulgar o diagnóstico em saúde da população e as condições ambientais; Organizar um sistema de informação em saúde, principalmente que esteja interligado a um Banco de Dados em saúde; Elaborar programas e projetos que envolvam a promoção da saúde do trabalhador; Elaborar programas e projetos que envolvam as ações em saneamento básico, proteção e recuperação do meio ambiente; Participar na implementação da política de formação e desenvolvimento de recursos humanos para a saúde; Elaborar o Plano de Saúde com uma proposta orçamentária do Sistema Único de Saúde; Elaborar normas regulamentadoras para as atividades de serviços privados de saúde; Elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como para controle de epidemias e calamidades públicas (BRASIL, 2011a). As três esferas de governo ainda devem participar da implementação da política de formação e desenvolvimento de recursos humanos para a saúde, elaborar o Plano de Saúde com uma proposta orçamentária do SUS, respeitando as normas regulamentadoras para as atividades de serviços privados de saúde, e elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como para controle de epidemias e calamidades públicas. Assim, os três níveis de gestão do SUS, por meio de seus representantes legais, devem conhecer a realidade local para a elaboração de planos e projetos que envolvam ações e serviços à saúde da população. Esse conhecimento inclui um bom levantamento do diagnóstico em saúde e propostas de melhorias, bem como a implantação de sistemas de informação em saúde. As atribuições e competências específicas das três esferas de governo na gestão do SUS também precisam ser definidas. Atualmente, a federação brasileira é constituída pela união de 26 estados federados, divididos em 5.565 municípios. 2.2 Competências da União Considerando que o planejamento do SUS requer explicitar um projeto que se pretende consolidar e consequentemente fortalecer um sistema de saúde público, universal, de base igualitária, cabe demonstrar quais seriam as atribuições da esfera federal para que isso aconteça: • Formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição. • Definir e coordenar os sistemas de redes integradas de assistência de alta complexidade, de rede de laboratórios de saúde pública, de vigilância epidemiológica e de vigilância sanitária. • Participar da definição de normas e mecanismos de controle, com órgãos afins, de agravo sobre o meio ambiente ou dele decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana, bem como da definição de normas, critérios e padrões para o controle das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar a política de saúde do trabalhador, e ainda coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica. • Estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo a execução ser complementada pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios, assim como estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle da qualidade sanitária de produtos, substâncias e serviços de consumo e uso humano. • Promover articulação com os órgãos educacionais e de fiscalização do exercício profissional, bem como com entidades representativas de formação de recursos humanos na área de saúde, identificando assim os serviços estaduais e municipais de referência nacional para o estabelecimento de padrões técnicos de assistência à saúde. • Prestar cooperação técnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios para o aperfeiçoamento da sua atuação institucional. Elaborar normas para regular as relações entre o SUS e os serviços privados contratados de assistência à saúde. 24 Unidade I • Promover a descentralização para as unidades federadas e para os municípios dos serviços e das ações de saúde, respectivamente de abrangência estadual e municipal, acompanhando, controlando e avaliando as ações e os serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e municipais. • Estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a avaliação técnica e financeira do SUS em todo o território nacional, em cooperação técnica com estados, municípios e Distrito Federal. 2.3 Competências dos estados Definir o papel e as atribuições dos gestores de cada estado no SUS é o mesmo que identificar as especificidades da atuação de cada um deles dentro da esfera estadual. Os gestores estaduais devem conhecer os princípios e objetivos estratégicos da política de saúde, dentrode cada campo da atenção na saúde, desde a promoção, articulação intersetorial, vigilância sanitária, vigilância epidemiológica, saúde do trabalhador, assistência à saúde, entre outros. É necessário: • Acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do SUS, prestar apoio técnico e financeiro aos municípios, executar supletivamente ações e promover a descentralização para os municípios dos serviços e das ações de saúde. • Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços de vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, alimentação e nutrição e saúde do trabalhador, bom como participar da formulação da política e da execução de ações de saneamento básico. • Identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemas públicos de alta complexidade, de referência estadual e regional, e ainda coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública e hemocentros e gerir as unidades que permaneçam em sua organização administrativa, assim como estabelecer normas, em caráter suplementar, para o controle e a avaliação das ações e dos serviços de saúde e colaborar com a União na execução da vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras. Os Estados, por meio de suas secretarias estaduais de saúde, devem estar em constante interação com os municípios na busca do fortalecimento do SUS, sendo as Regionais de Saúde importantes representantes e elos entre estados e municípios. Observação A vigilância sanitária é definida, segundo a Lei Orgânica de Saúde, como um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e da circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde. 2.4 Competências dos municípios O município é considerado a porta de entrada do cidadão para o SUS. O gestor municipal está mais próximo da comunidade, com oportunidade maior de ajustes e cumprimento das diretrizes do SUS. Assim, a gestão municipal deve: • Planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde. • Participar do planejamento, da programação e da organização da rede regionalizada e hierarquizada do SUS, em articulação com sua direção estadual. • Participar da execução, do controle e da avaliação das ações referentes às condições e aos ambientes de trabalho, bem como executar serviços de vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, alimentação e nutrição, saneamento básico e saúde do trabalhador. • Colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente que tenham repercussão sobre a saúde humana e atuar junto aos órgãos municipais, estaduais e federais competentes para controlá-las, colaborando também com a União e com os estados na execução da vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras. • Celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, bem como controlar e avaliar sua execução. • Controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde e assim normatizar complementarmente as ações e os serviços públicos de saúde no seu âmbito de atuação. Portanto, a implementação de uma gestão descentralizada das ações e dos serviços de saúde no SUS foi realizada por meio de normas operacionais editadas pelo Ministério da Saúde, a partir de um processo de pactuação entre os gestores da saúde dessas três esferas de governo, após a avaliação e a aprovação pelo Conselho Nacional de Saúde. As Normas Operacionais foram consideradas instrumentos normativos para a operacionalização e descentralização das ações e dos serviços, assim como para a organização da gestão descentralizada do SUS. O processo de implantação do Sistema Único de Saúde foi orientado pelas Normas Operacionais do SUS, instituídas por meio de portarias ministeriais, que definiram as competências de cada esfera de governo e as condições necessárias para que estados e municípios pudessem assumir as novas atribuições no processo de implantação do SUS. As Normas Operacionais definiram critérios para que estados e municípios se habilitarem a receber repasses de recursos do Fundo Nacional de Saúde para seus respectivos fundos de saúde (BRASIL, 2011a, p. 52). 26 Unidade É importante ressaltar, ainda dentro da organização do SUS, as suas entidades representativas. Para Hennington (2001), a forma como o SUS está organizado e representado fortalece o controle social sobre as políticas nas três esferas de governo de forma coerente com os princípios e diretrizes do sistema. Esse modelo pressupõe articulação, negociação e tomada de decisão entre os gestores do sistema em cada esfera de governo. Assim, essas entidades de representação têm tido papel importante em espaços de negociação e deliberação do SUS. Conselhos de saúde; é um órgão colegiado, deliberativo e permanente dentro do SUS em cada uma das três esferas de governo. Ele faz parte da estrutura das secretarias de saúde dos municípios, dos estados e do governo federal e deve funcionar mensalmente, ter ata de registro de todas as suas reuniões e também infraestrutura que dê suporte ao seu funcionamento. Os conselhos de saúde participam da formulação de estratégias e do controle da execução da política de saúde, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, analisando e aprovando o plano de saúde para cada esfera de governo e também os relatórios de gestão. É importante ressaltar aqui que os conselhos de saúde devem sempre informar a sociedade sobre a sua atuação, trabalhos realizados e principalmente sobre os resultados alcançados. 2.5.1 Conselho Nacional de Saúde – CNS O Conselho Nacional de Saúde – CNS foi criado em 1937 e tinha como função assessorar o então Ministério da Educação e Saúde. Com a promulgação da Constituição de 1988, a Lei nº 8.142/90 instituiu os conselhos e as conferências de saúde como instrumentos do controle social, por meio dos quais deveria acontecer a participação dos diversos segmentos da sociedade para o acompanhamento e definição das políticas públicas de saúde. Quanto às principais atribuições e competências do Conselho Nacional de Saúde, destacam-se a deliberação sobre a formulação, o planejamento e o controle da execução da política nacional de saúde em âmbito federal. Em 1990, o Decreto-lei nº 99.438 regulamentou as novas atribuições dos conselhos de saúde, que seriam atualizadas mais uma vez, em 2006, pelo Decreto-lei nº 5.839, que estabelece no segundo parágrafo suas competências (BRASIL, 2006a). Entre as principais competências do Conselho Nacional de Saúde, estão: atuar na formulação de estratégias e no controle da execução da Política Nacional de Saúde, na esfera do governo federal, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros; estabelecer diretrizes a serem observadas na elaboração dos planos de saúde, em função das características epidemiológicas e da organização dos serviços; elaborar cronograma de transferência de recursos financeiros aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios consignados ao SUS; aprovar os critérios e os valores para remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura de assistência e ainda acompanhar e controlar a atuação do setor privado da área da saúde, credenciado mediante contrato ou convênio. Em relação à composição, o Decreto-lei nº 5.839, de 2006, estabelece que o CNS seja constituído por 48 conselheiros titulares, cada um deles com primeiro e segundo suplentes. 2.5.2 Conselho Nacional dos Secretários de Saúde – Conass Fundado em 1982, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde – Conass é uma entidade que foi criada para tornar o conjunto das secretarias de saúde dos estados e do Distrito Federal mais participantes do setor de saúde. Tem como missão promover o pleno exercício das responsabilidades das secretarias de saúde dos estados na política de saúde junto aos órgãos setoriais federais e municipais. O Conass é um órgão que congrega os secretários de saúde dos estados e do Distrito Federal e seus substitutos legais, tendo por finalidadeoperar o intercâmbio de experiências e informações entre seus membros, assegurando a implementação dos princípios e diretrizes constitucionais e da legislação complementar da saúde brasileira na implementação de ações e serviços de saúde. Promove o pleno exercício das responsabilidades das secretarias de saúde no que diz respeito às políticas de saúde. 28 Unidade I Nesse sentido, o Conass realiza diligência para que as secretarias de saúde dos estados e do Distrito Federal participem da formulação e tomada de decisões que digam respeito ao desenvolvimento dos sistemas de saúde nas unidades federadas, em conjunto com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009). Observação O mandato dos conselheiros não deve coincidir com o mandato do governo estadual, municipal, do Distrito Federal ou do governo federal. A Resolução nº 333/2003 sugere a duração de dois anos para o mandato, podendo os conselheiros ser reconduzidos (reeleitos) a critério de suas representações. 2.5.3 Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde – Conasems O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde – Conasems é uma entidade não governamental, sem fins lucrativos, com a finalidade de congregar as Secretarias Municipais de Saúde – SMS para atuarem a favor do desenvolvimento da saúde pública, da universalidade e da igualdade do acesso da população às ações e serviços de saúde. Esse conselho é constituído como entidade de mobilização e representação das secretarias municipais de saúde, tendo como eixo de ação o fortalecimento e a autonomia da gestão municipal, promovendo e incentivando o desenvolvimento de políticas públicas que valorizem as experiências de saúde e promovam a equidade e a participação social. O Conasems deve colaborar para promover um novo modo de gestão em saúde com base na descentralização e municipalização das ações e serviços de saúde. Deve ainda auxiliar os municípios na formulação de estratégias voltadas ao aperfeiçoamento dos seus sistemas de saúde, por meio do intercâmbio de informações e pela cooperação técnica. 2.5.4 Conselho Municipal de Saúde É um importante órgão de colegiado, com caráter permanente, deliberativo, normativo e de fiscalização das ações e serviços de saúde no âmbito do SUS dentro dos municípios. Atua na formulação e proposição de estratégias e no controle da execução das políticas de saúde, inclusive em seus aspectos econômicos e financeiros. Os Conselhos Municipais de Saúde são constituídos por participação paritária de usuários (50%), trabalhadores de saúde (25%) e representantes do governo e prestadores de serviços (25%), cujas decisões devem ser homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído. Para um conselho funcionar de forma adequada, é necessário que seja representativo e tenha legitimidade, além das condições previstas pela lei. A participação é voluntária e não remunerada, e as reuniões do Conselho são mensais e abertas para toda a população, com direito à voz (BRASIL, 2009). 29 Lembrete A criação dos Conselhos Municipais de Saúde é estabelecida por lei municipal, com base na Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. É importante ressaltar que os conselheiros de saúde têm um papel muito importante, que é o de acompanhar como está a saúde da população e também como estão sendo prestados os serviços de saúde no município. Os conselheiros, assim, podem, muitas vezes, chegar muito próximo da comunidade, ação que alguns gestores não conseguem realizar. Mas para isso é necessário que esses conselheiros estejam sempre muito bem informados a respeito de alguns assuntos importantes, como quais são os programas de saúde realizados nas unidades e qual parcela da população é beneficiada com eles. Os conselheiros ainda precisam saber quais os problemas de saúde mais comuns na população, quais especialidades em consultas medicas são oferecidas nas unidades de saúde do município, se existe falta de médicos especialistas na região, qual a situação da cobertura vacinal das crianças, qual é a quantidade de gestantes que estão realizando o pré-natal e se existem problemas nas unidade de saúde nessa especialidade, quantos leitos hospitalares há na rede pública, quais os principais motivos que levam às internações em sua região e quais são os hospitais privados com convênio com o SUS. Assim, os conselheiros devem saber quais recursos em saúde estão disponíveis para a população, se existe carência de determinados serviços e se a população procura outros municípios para receber atendimento em saúde. 2.5.5 Conselho de Secretários Municipais de Saúde – Cosems Os Cosems, conselhos de secretários municipais de saúde, são associações que representam e defendem os interesses dos municípios nas pactuações das três esferas governamentais do SUS e são constituídos por secretários municipais de saúde. Eles existem em todos os estados brasileiros e representam as secretarias municipais de saúde, por meio dos seus secretários municipais. São conselhos com autonomia administrativa e financeira e têm como principal objetivo lutar pela autonomia dos municípios na área da saúde. Para que isso ocorra, o Cosems deve participar na implementação das políticas de saúde, em nível nacional e estadual, principalmente nos momentos de pactuação e deliberação do SUS, fortalecendo e defendendo os interesses dos municípios e de sua população no que se refere à questão de saúde. Podemos ressaltar aqui o Cosems-SP, fundado em 19 de março de 1988, que se tornou um importante representante nas pactuações políticas em qm que ocorrem as discussões de projetos no processo de construção do SUS no estado de São Paulo 2.6 Comissões de saúde As Comissões Intergestores Bipartite – CIB e Comissões Intergestores Tripartite – CIT foram criadas pela NOB 01/1993. São espaços intergovernamentais, políticos e técnicos em que ocorrem o planejamento, a negociação e a implementação das políticas de saúde pública. As decisões se dão por consenso, e não por votação, o que estimula o debate e a negociação entre as partes (BRASIL, 2011a). Essas CIT, na direção nacional, e CIB, na direção estadual, têm-se constituído em importantes espaços políticos de representação dos entes federativos nos processos de formulação e implementação das políticas de saúde, destacando-se no processo de descentralização nesses dois níveis (federal e estadual). A CIT é constituída no nível federal, com representantes do Ministério da Saúde, do Conass e do Conasems. Na CIT, são definidas diretrizes, estratégias, programas e projetos do SUS. Essa Comissão atua na instância federal para a articulação e pactuação da organização e funcionamento do SUS. É integrada por gestores representantes da União, estados e municípios, composta por pelo menos 15 membros, sendo cinco indicados pelo Ministério da Saúde, cinco pelo Conass e cinco pelo Conasems. Assim, a representação de estados e municípios nessa Comissão é regional, sendo um representante para cada uma das cinco regiões no País. Nesse espaço, as decisões são tomadas por consenso, e não por votação. A CIT está vinculada à direção nacional do SUS (BRASIL, 2009). A CIB é constituída em nível estadual paritariamente por representantes da Secretaria Estadual de Saúde e das Secretarias Municipais de Saúde, indicados pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde – Cosems. Assim, inclui obrigatoriamente o secretário de Saúde da capital do estado. As CIB são espaços estaduais de articulação e pactuação política que objetivam orientar, regulamentar e avaliar os aspectos operacionais do processo de descentralização das ações de saúde. Essas comissões São constituídas paritariamente por representantes do governo estadual, indicados pelo secretário de Estado da Saúde, e dos secretários municipais de Saúde, indicados pelo órgão de representação do conjunto dos municípios do Estado. Os secretários municipais de Saúde, pormeio de seus espaços de representação, debatem entre si os assuntos e as demandas necessárias para suas regiões, antes de apresentar suas posições na CIB. lembrete O gestor municipal deve procurar o Cosems de seu estado e discutir, ali, quais são as possibilidades de participação no processo de constituição e funcionamento da CIB . Uma importante comissão de saúde é o Colegiado de Gestão Regional – CGR, que ocorre em instâncias regionais e tem um significado importante para um dos princípios dos SUS, que é a regionalização. Ele representa um instrumento de planejamento, regulação e programação das ações em saúde de uma região e tem caráter permanente. O CGR se configura como espaço de pactuação, de cogestão e de decisão, mediante a identificação e definição de prioridades e de soluções para a organização da rede regional de ações e serviços de atenção à saúde, integrada e resolutiva. Todos os gestores dos municípios devem participar e ter voz no CGR. Por meio da pactuação, procuram garantir que demandas dos diferentes interesses regionais possam ser organizadas e expressadas naquele território. A CGR passou a ser denominada Comissões Intergestoras Regionais – CIR, que também é órgão de instância colegiada, de natureza permanente, cujas decisões são tomadas por consenso, em conformidade com as disposições estabelecidas pelo Pacto pela Saúde, constituindo-se em um espaço de planejamento, pactuação e cogestão solidária entre os gestores municipais. Vale a pena ressaltar que o Artigo 30, Seção I, do Capítulo V da Lei nº 7.508, de 28 de junho de 2011 (BRASIL, 2011a), decreta que as Comissões Intergestores pactuarão a organização e o funcionamento das ações e serviços de saúde integrados em Rede de Atenção à Saúde, sendo a CIT, no âmbito da União, vinculada ao Ministério da Saúde para efeitos administrativos e operacionais, a CIB, no âmbito do Estado, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde para efeitos administrativos e operacionais e a Comissão Intergestores Regional – CIR, no âmbito regional, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde para efeitos administrativos e operacionais, devendo observar as diretrizes da CIB. Vale lembrar que o colegiado é considerado um espaço de decisão para a organização de uma rede regional de ações e serviços de atenção à saúde, devendo ser integrada e resolutiva. Contudo, consolidar esse espaço de rede regional ainda é um dos grandes desafios para os gestores do SUS. Ressaltamos aqui que muitos gestores ainda desempenham um papel solitário nas suas regiões, ou seja, a articulação regional ainda é um grande desafio. Observa-se que a solução dos problemas por muitas vezes ainda é buscada de forma individualizada, enfraquecendo a regionalização e as próprias secretarias municipais de saúde Assim, é muito importante ressaltar aqui que os gestores em saúde devem atuar em dois âmbitos: o político e principalmente o técnico. 32 Unidade I A atuação política de um gestor deve considerar seu papel de defensor do direito público do cidadão, os preceitos legais do SUS e ainda a interação com os outros níveis de governo dentro do SUS. A atuação técnica de um gestor em saúde deve considerar seus conhecimentos e práticas necessárias para a implementação da política na área da saúde Unidade II 3 NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE 3.1 Introdução Considerando a representação do SUS, um tema relevante associa‑se aos níveis de atenção à saúde, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde e, ainda, sobre a organização e o funcionamento dos serviços. A Lei nº 8.080/90 é clara ao estabelecer que o SUS é um sistema integrado, estruturado em rede regionalizada e hierarquizada, definindo, portanto, um modelo de atenção à saúde de forma organizada Assim, o sistema de saúde no Brasil é centrado na hierarquização das ações e serviços de saúde por nível de complexidade, o que significa dizer que ele se constitui em níveis de maior ou menor complexidade de ações e serviços de saúde Os sistemas de saúde devem representar um conjunto organizado e articulado de recursos que atendam às necessidades de saúde individual e coletiva da população. Cabe ressaltar que recursos em saúde englobam desde serviços como UBS, ambulatórios e hospitais até ações em cumprimento aos princípios doutrinários do SUS, já vistos anteriormente, que são a integralidade, a universalidade e a equidade – lembrando ainda que as ações devem seguir também a Política Nacional de Humanização. Para que esses serviços e ações aconteçam, é necessário existir uma boa articulação e também a organização em todos os níveis de atenção. Podemos citar alguns pontos importantes de atenção à saúde: UBS, ambulatórios de atenção especializada, serviços de atenção domiciliar e unidades hospitalares, lembrando que esses serviços devem manter uma relação horizontalizada, além de uma boa articulação e gestão Nesse sentido, vale a pena ressaltar que a disposição do SUS está sustentada por três pontos fundamentais: a rede de serviços; a regionalização, que significa a região de saúde; e a hierarquização, que são os níveis de complexidade desses serviços. Esse modelo está estruturado em atenção primária ou básica; atenção secundária, que apresenta ações e serviços de média complexidade; e atenção terciária, que envolve ações e serviços de alta complexidade. A Portaria nº 4.279 estabelece diretrizes para a organização das Redes de Atenção à Saúde – RAS no âmbito do SUS. Considera o modelo de atenção à saúde vigente fundamentado nas ações curativas e centrado no cuidado médico, e ainda tem se mostrado insuficiente para dar conta dos desafios sanitários atuais, pois o cenário brasileiro é caracterizado pela diversidade de contextos regionais e com marcantes diferenças socioeconômicas. Assim, a RAS é definida como arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que, integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado. O objetivo das RAS é promover a integração sistêmica de ações e serviços de saúde com provisão de atenção contínua, integral, de qualidade, responsável e humanizada, bem como incrementar o desempenho do Sistema, em termos de acesso, equidade, eficácia clínica e sanitária e eficiência econômica No processo de implantação das RAS, considera‑se importante que sejam observados os seguintes aspectos: definição clara da população e território; diagnóstico situacional; criação de uma imagem objetivo para a superação dos vazios assistenciais; articulação do público-privado; planejamento pela efetiva necessidade; criação de um sistema logístico e de suporte; investimento nas pessoas/equipes; criação de sistema de regulação e governança para funcionamento da rede; e financiamento sustentável e suficiente com vinculação a metas e resultados (BRASIL, 2014a, p. 11). Para a operacionalização da RAS, deve haver interação de três elementos constitutivos: população/ região de saúde, estrutura operacional e um sistema lógico de funcionamento determinado pelo modelo de atenção à saúde. Devemos ainda lembrar que existe uma fragmentação dos sistemas de atenção à saúde. Em alguns municípios, os serviços ainda trabalham de forma isolada, não ocorrendo um processo de comunicação eficiente. Podemos citar como exemplo as UBS, que pouco se comunicam com as unidades de atenção especializada, como os ambulatórios. Formam‑se, assim, barreiras dentro das Redes de Atenção à Saúde. Consideram‑se as barreiras mais comuns à implantação das Redes de Atenção à Saúde: os sistemas de informação deficientes; a atenção primária à saúde de baixa qualidade; o protagonismo da atenção especializada; os incentivos econômicos em sentido contrário ao da conformação das Redes de Atenção à Saúde; a debilidade na gestão integrada dos sistemas de saúde; a valorização relativa, pelos usuários, das ações de atenção secundária e terciária; a pouca tradição no uso da gestão da clínica; e a fragilidade dos sistemas logísticos na saúde (MENDES,2007, p. 22). A regionalização é outro ponto relevante na organização do SUS, pois evidencia a importância da articulação entre os gestores estaduais e municipais na introdução de políticas, ações e serviços de saúde qualificados e descentralizados, que possibilitem acesso, integralidade e resolutividade na atenção à saúde da população. A política de regionalização prevê a formação dos colegiados de gestão regionais, que têm a responsabilidade de instituir processo de planejamento regional que defina prioridades e pactue soluções para organizar a rede de ações e serviços de atenção à saúde das populações locais (BRASIL, 2009, p. 314). A regionalização é uma importante estratégia para garantir o direito à saúde, reduzir desigualdades sociais e territoriais, bem como promover a equidade e a integralidade da atenção onde os gestores do SUS buscam alternativas para melhorar o acesso dos cidadãos às ações e serviços de saúde com equidade, adequando a disponibilidade de recursos às necessidades e demandas da população. Ela é uma alternativa para melhorar eficiência da saúde, tem muitas vantagens, mas encontra desafios, como as dificuldades para integrar e coordenar as ações e serviços, em diferentes espaços geográficos, com distintas gestões e gerências. Na organização do SUS, outro ponto relevante é a hierarquização dos níveis de complexidade de atenção à saúde. O SUS hierarquiza o sistema público de saúde em três níveis: baixa complexidade (unidades básicas de saúde), média complexidade (hospitais secundários e ambulatórios de especialidades) e alta complexidade (hospitais terciários). O paciente é atendido, por exemplo, em unidades básicas de saúde ou em hospitais secundários, podendo ser encaminhado – referência – para hospitais de alta complexidade. Depois de ter sua necessidade atendida, o paciente é reencaminhado – contrarreferência – para uma unidade de menor complexidade para dar seguimento ao tratamento. Vale enfatizar que na organização das Redes de Atenção à Saúde, nos municípios e principalmente nas regiões, é muito importante realizar o desenho dos serviços que representam as referências e contra referências, pois isso irá organizar os serviços de saúde, fortalecendo e valorizando os princípios da regionalização dentro do SUS A comunicação dos municípios com sua macrorregião dentro de uma rede que respeita suas referências e contra referências será mais fácil e dinâmica, colaborando, assim, para uma melhor assistência em saúde. Os serviços de referência são locais dentro da rede de atenção onde são realizados os procedimentos solicitados para atendimento, lembrando que essa referência está respaldada por habilitações e credenciamento de serviços. Podemos aqui exemplificar serviços que são referência para realização de neurocirurgias e cirurgias ortopédicas. Por sua vez, os serviços de contrarreferência são as unidades de saúde contrarreferenciadas dentro da rede de atenção, lembrando ainda que a porta de entrada do SUS é a atenção básica – AB, correspondendo também a unidades de contrarreferência. É importante ressaltar a regionalização e a organização da Rede de Atenção à Saúde, que deve estar articulada e integrada, trabalhando dentro dos princípios do SUS. Os mais necessários nesse sentido são a universalidade, a equidade e principalmente a integralidade em saúde. 3.2 Atenção básica em Saúde Em 2006, o Ministério da Saúde apresenta a Política Nacional de Atenção Básica – PNAB. A atenção básica é conceituada como um conjunto de ações de saúde que envolve a promoção e proteção da saúde, a prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento e reabilitação. É considerada o primeiro contato do usuário do SUS com o sistema de saúde. Dessa forma, alguns princípios ordenadores devem ser respeitados em sua organização, como: acessibilidade, integralidade, responsabilização, coordenação e, principalmente, a resolubilidade. No Brasil, a atenção básica é desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, ocorrendo no local mais próximo da vida das pessoas. Ela deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde. Por isso, é fundamental que ela se oriente pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social (BRASIL, 2012, p. 11). A PNAB utiliza uma poderosa estratégia, que é o trabalho das equipes de Saúde da Família, para sua organização. Essa ação possibilita: melhorar o acesso da população aos serviços de saúde, incentivar a integralidade, desenvolver maior vínculo entre as equipes e a população, garantindo a continuidade do cuidado em saúde e permitindo o acompanhamento e a avaliação do sistema de saúde. O papel da atenção básica, que é o de ordenar a RAS, deve facilitar o acesso e o caminhar do usuário nas linhas de cuidado. Ainda tem a função de coordenar todo o cuidado em saúde, garantindo a referência e contrarreferência para que o usuário retorne para a unidade próxima de onde ele reside ou trabalha, estabelecendo, assim, o vínculo do usuário com a equipe de saúde. A UBS deve estabelecer um elo entre os seus usuários residentes com as equipes de saúde dentro de uma área de abrangência. As pessoas transitam contínua e crescentemente em espaços contíguos a seus locais de residência (integração horizontal), onde os programas da chamada atenção básica, seja em suas modalidades tradicionais, seja no modelo do programa de Saúde da Família, exigirão interseções mais frequentes com os serviços sociais de apoio, associações comunitárias, dinamismo e articulação maiores com as outras unidades e níveis de complexidade do sistema (OUVERNEY; NORONHA, 2013, p. 146). Lembrete Vários pontos devem ser observados na linha de cuidado, como a garantia dos recursos materiais e humanos, a integração e responsabilização das unidades de saúde, a interação entre equipes e a gestão de compromissos pactuados. As unidades de saúde que desenvolvem as ações da AB precisam de instalações físicas adequadas, com equipamentos e insumos necessários para a qualidade dos serviços prestados. Isso promove a valorização dos ambientes de trabalho e, sobretudo, do da AB como porta de entrada do serviço com a garantia de vínculo e responsabilização pelo cuidado. A UBS é a porta de entrada do usuário do SUS, onde são realizadas consultas médicas, inalações, injeções, curativos, vacinas, coleta de exames laboratoriais, tratamento odontológico e encaminhamentos para especialidades e fornecimento de medicação básica Nesse sentido é necessário enfatizar que uma estratégia importante para a atenção básica em saúde é o Programa de Saúde da Família – PSF, pois pode oferecer uma atenção básica mais resolutiva e humanizada. O Programa Saúde da Família é operacionalizado por meio de equipes compostas por médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde – ACS. Cada equipe é responsável pelo acompanhamento das famílias em um território definido dentro da área de abrangência da UBS a que pertence, onde o agente comunitário de saúde realiza um papel importante, que é o elo da comunidade com os serviços de estratégia de saúde da família. O trabalho de equipes da Saúde da Família é a chave para uma busca constante de comunicação e troca de conhecimentos entre os integrantes da equipe com a comunidade e ainda ressalta o papel do agente comunitário de saúde. A atuação das equipes ocorre principalmente nas UBS, nas residências e no contato direto com a comunidade. Como o trabalho das equipes é realizado em um território definido, com uma população delimitada, fica mais fácil intervir nos fatores de risco aos quais a comunidade está exposta, prestar uma assistência integral e realizar atividades de educação e promoção da saúde, estabelecendo assim vínculos de compromisso com a população. Observação Para a Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2006c),no SUS, a estratégia de promoção da saúde considera os aspectos que determinam o processo saúde‑adoecimento em nosso País, como violência, desemprego, subemprego, falta de saneamento básico, habitação inadequada e/ou ausente, dificuldade de acesso à educação, fome, urbanização desordenada e qualidade do ar e da água ameaçada e deteriorada. O SUS mudou sua prática assistencial por meio da Estratégia de Saúde da Família, que exige mudança no processo de trabalho da equipe de saúde, que passa a ter seu foco dirigido à promoção e manutenção da saúde, e não somente à existência de doenças. Assim, toda a equipe de saúde é corresponsável pelo processo de atenção aos problemas, assim como pelas práticas promotoras de saúde, respeitando‑se os limites de cada categoria profissional. A divisão de tarefas entre os componentes da equipe, dentro das atribuições de cada categoria, deve ter flexibilidade para adequar‑se à situação de saúde da população sob cuidado (BRASIL, 2007a). A Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde – SAS‑MS, até 2014, confirmou um aumento gradual da cobertura da atenção básica, por meio da Estratégia de Saúde da Família, com alcance do patamar de 56,41% de cobertura da população do País, por meio do trabalho de 34.702 equipes, o que representa atendimento ao total de 109.429.035 de cidadãos brasileiros. Com o objetivo de melhorar a capacidade de resposta à maior parte dos problemas de saúde da população na atenção básica, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 154, de 24 de janeiro de 2008, republicada em 4 de março de 2008, criou os Núcleos de apoio à Saúde da Família – Nasf. Um importante objetivo do Nasf era o de traçar diretrizes mais claras para os gestores e os trabalhadores. O Nasf constitui‑se em uma retaguarda clínico‑assistencial e técnico‑pedagógica para as equipes de atenção básica/Saúde da Família. Atuam na própria atenção básica desenvolvendo um trabalho de ação clínica direta aos usuários e ainda de apoio educativo para as equipes. Assim, cada vez mais gestores municipais investem na implementação da atenção básica em saúde, por meio dos trabalhos das equipes de Estratégia de Saúde da Família e ainda com o apoio técnico das equipes do Nasf. A Política Nacional de Atenção Básica estabelece que o financiamento da atenção básica em saúde se dá por meio do piso da atenção básica – PAB, que é o componente federal para o financiamento da atenção básica. O PAB é composto de uma fração fixa e outra variável. O somatório das partes fixa e variável – o PAB – compõe o bloco atenção básica, conforme estabelecido nas diretrizes do Pacto de Gestão, integrante do Pacto pela Saúde. Os recursos do PAB são transferidos mensalmente, de forma regular e automática, do Fundo Nacional de Saúde – FNS aos Fundos Municipais de Saúde – FMS. O PAB são recursos financeiros federais destinados à viabilização de ações de atenção básica à saúde e compõe o teto financeiro do bloco atenção básica. Ele é composto de uma parte fixa (PAB fixo), destinada a todos os municípios, e de uma parte variável (PAB variável), que consiste em recursos financeiros destinados a melhorar a reorganização do modelo de atenção à saúde, como Saúde da Família, Agentes Comunitários de Saúde, Saúde Bucal e Compensação de Especificidades Regionais. Para o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o modelo de atenção básica em saúde vem avançando, porém ainda enfrenta alguns problemas, e para a atenção básica ser mais ágil, precisa enfrentar alguns desafios, como o modelo fragmentado do sistema de saúde brasileiro, a desvalorização política e social, as dificuldades da formação profissional e do processo de trabalho das equipes do PSF e, principalmente, o financiamento insuficiente. Além disso, ainda existem municípios que trabalham nos moldes tradicionais de atenção básica, com UBS, sem cobertura da ESF. Assim, ainda é preciso investir, financiar e acompanhar a atenção básica como um todo 3.3 Ações de média e alta complexidade Ainda em relação aos níveis de atenção à saúde, vale enfatizar as ações de média e alta complexidade, que, segundo o Ministério da Saúde, são ações que visam a atender aos principais problemas e agravos de saúde da população. São realizados em ambiente ambulatorial ou hospitalar, que exigem a utilização de equipamentos e profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos para o apoio diagnóstico e tratamento. Estão integrados à atenção básica por meio de um sistema de regulação em saúde. As ações de média complexidade são realizadas por Centros de Consultas Especializadas, Ambulatórios de Especialidades e Centros de Especialidades Médicas, nos quais é possível encontrar médicos especialistas. O usuário é encaminhado da atenção básica para as consultas especializadas via central de marcação de consultas ou via Secretaria de Saúde. Um grande problema nesse nível de atenção à saúde é o estrangulamento no acesso aos serviços especializados/atenção secundária, com especialidades médicas com grande demora na marcação de consultas. Apesar disso, outros motivos podem ser evidenciados, como baixa oferta de especialistas, grande absenteísmo dos usuários nas consultas, casos mal encaminhados e falta de um serviço de regulação municipal de acesso às consultas Sendo assim, o SUS deve enfrentar um duplo desafio: abrir as portas do sistema para garantir o atendimento à população historicamente desassistida em saúde e, ao mesmo tempo, implantar Redes de Atenção à Saúde que possam dar conta das necessidades de atendimento (BRASIL, 2007a). Lembramos que nosso País, por meio da ampla expansão da atenção básica em saúde, desde a implantação do sistema, em 1988, já apresentou resultados satisfatórios nesse nível de atenção à saúde. Contudo, o SUS ainda enfrenta muitos problemas no nível secundário de atenção à saúde, ou seja, na atenção especializada, pois ainda existem desigualdades de acesso significativas entre as diferentes regiões do País. É muito importante fazer uma reflexão sobre a integralidade e a articulação da atenção básica com os serviços de média complexidade do SUS, lembrando que integralidade de assistência, um dos princípios do nosso sistema de saúde pública, é entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e dos serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso, em todos os níveis de complexidade do sistema. Podemos compreender que a atenção básica em saúde é a base orientadora do sistema, devendo ter uma visão integral da assistência à saúde para sua comunidade local, e que os procedimentos realizados diretamente em seus serviços não esgotam as necessidades dos pacientes do SUS. Com isso, a Secretaria de Atenção à Saúde – SAS do Ministério da Saúde define que a média complexidade ambulatorial é composta por ações e serviços que visam a atender os principais problemas e agravos de saúde da população cuja complexidade da assistência na prática clínica demande a disponibilidade de profissionais especializados e utilização de recursos tecnológicos para o apoio diagnóstico e tratamento. Observação Existe no Ministério da Saúde um setor que gerencia as ações de média e alta complexidade, o CGMAC, que revisa periodicamente os procedimentos, propondo a incorporação de tecnologias em saúde, e no qual as propostas são desenvolvidas e avaliadas. Essa coordenação conta com o apoio técnico de instituições de referência parceiras e com as sociedades médicas. Vale enfatizar nesse momento quais são as ações que compõem os procedimentos de média complexidade. Seguem alguns grupos: • Procedimentos especializados realizados por profissionais médicos e outros profissionais de nível superior e nível médio. • Cirurgias ambulatoriais especializadas. • Procedimentos traumato‑ortopédicos. Ações especializadas em odontologia. • Patologia clínica. • Anatomopatologia e citopatologia. • Radiodiagnóstico. • Exames ultrassonográficos. • Próteses e órtese Hoje podemos observar que em alguns estados esses procedimentos são contratados/conveniadosjunto aos serviços de saúde, podendo ser privados com fins lucrativos, filantrópicos ou universitários, e que seu acesso para a população sempre dependeu da procura espontânea e voluntária dos pacientes. Muitos municípios, sentindo a dificuldade na realização desses procedimentos, foram construindo sistemas de saúde municipais autônomos, expandindo a rede municipal, muitas vezes, sem articulação regional. É muito importante que os gestores realizem uma análise dos problemas de saúde da sua comunidade, como conhecer a situação de saúde e da oferta de serviços de saúde já existentes. Devem‑se elaborar propostas de intervenção, envolvendo reorientação da estrutura do sistema, modificação, ampliação ou criação de novos serviços, bem como de programas de saúde a serem desenvolvidos em cada região. Contudo, sabemos o quanto ainda os municípios encontram dificuldades nesse nível de atenção, pois atender às necessidades da comunidade, otimizar custos e aumentar a eficiência na realização dos atendimentos, com o objetivo final de melhoria dos níveis de saúde da população e de seu bem‑estar, ainda é um grande desafio a ser enfrentado pelos gestores municipais e regionais. O Minis• Oferta de serviços superior às necessidades de saúde da comunidade: existem regiões no Brasil nas quais é comum um planejamento inadequado em saúde, muitas vezes insuficiente ou desnecessário para a realidade daquela região.tério da Saúde já reconhece as necessidades e a capacidade produtiva dos serviços de saúde existentes em cada região do Brasil. É comum os gestores enfrentarem algumas situações, como: Inexistência de determinados procedimentos de saúde em uma região: existem regiões no Brasil que não dispõem de ofertas de serviços de média e alta complexidade, tanto em serviço público como serviço privado. • Insuficiência dos serviços de saúde existentes: existem regiões no Brasil que realizam o procedimento, mas é comum observar uma incapacidade de atendimento à demanda. • Capacidade de recursos humanos e físicos adequados, mas com insuficiência de recursos financeiros: existem regiões no Brasil – por exemplo, nos grandes centros – que possuem muitos serviços de saúde instalados, mas com o crescimento da demanda, encontram problemas com recursos financeiros. Assim, é necessário que se tenha muita atenção na gestão e organização dos serviços. São exemplos evitar desperdícios de recursos de saúde e não permitir ociosidade de leitos hospitalares e aparelhos de apoio, diagnose e terapia. Isso pode comprometer o funcionamento do SUS e a qualidade prestada. Os gestores do SUS, a partir da realização do planejamento de saúde de sua região, devem buscar o credenciamento ou habilitação dos serviços públicos de saúde. Os serviços, para serem credenciados ou habilitados para a prestação de serviços de média ou de alta complexidade, podem ser federais, estaduais ou municipais, da administração direta ou indireta dos três níveis do governo. É muito importante ressaltar nesse momento que a iniciativa privada pode participar do SUS, de forma complementar. A participação se dá mediante convênio, dando-se preferência a entidades filantrópicas ou contratos de prestação de serviços de saúde, firmados com o gestor do SUS, estadual ou municipal, e que devem estar integrados ao SUS. Essas entidades privadas serão fiscalizadas, controladas e avaliadas pelo gestor público correspondente, conforme as atribuições pactuadas nos Termos de Compromisso de Gestão. Para isso, é importante enfatizar que a Portaria GM/MS nº 204/2007 (BRASIL, 2007c) estabeleceu que o financiamento e a transferência dos recursos federais destinados ao custeio das ações e dos serviços de saúde passam a ser organizados e transferidos na forma de blocos de financiamento: • Atenção básica: composto do PAB fixo e PAB variável. • Atenção de média e alta complexidade: composto pelo MAC e pelo Fundo de Ações Estratégicas e de Compensação – Faec. Assim, o financiamento das ações no âmbito da média e alta complexidade está organizado em blocos de financiamento e dividido em dois componentes financeiros da média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar: Teto MAC e Fundo de Ações Estratégicas e de Compensação – Faec. O Teto MAC é definido anualmente considerando uma série histórica obtida nos bancos de dados do Sistema de Informações Ambulatoriais – SIA/SUS e do Sistema de Informações Hospitalares – SIH/SUS e as discussões levadas a efeito nas Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite. Uma vez que os serviços de saúde de média e alta complexidade necessários ao SUS, em uma determinada região, tenham sido credenciados e contratados, os gestores devem realizar um acompanhamento das ações de saúde prestadas, portanto a avaliação de sistemas de informação e de auditoria do SUS são atividades importantes de todo planejamento em saúde Vale ressaltar nesse momento a importância dos sistemas de informação em saúde, que fazem parte da estrutura organizacional e devem contribuir para que a gestão da saúde, nos três níveis de governo, cumpra suas finalidades institucionais. Entendemos assim que, no setor saúde, sistemas de informação representam um instrumento para detectar prioridades em saúde nas diversas regiões, levando a um planejamento responsável e à execução de ações que condicionem a realidade às transformações necessárias. Os serviços devem informar ao SUS as atividades realizadas. Existem, no SUS, diversos sistemas de informação, que na sua grande maioria são informatizados. Destacamos a seguir alguns que correspondem aos serviços de média e alta complexidade: • Sistema de Informações Hospitalares – SIH/SUS: utilizado para o registro das internações, é de envio obrigatório para todos os gestores que tenham serviços públicos ou privados. O instrumento de coleta de dados é a Autorização de Internação Hospitalar – AIH. • Sistema de Informações Ambulatoriais – SIA/SUS: é utilizado para o registro da produção ambulatorial, também de envio obrigatório para todos os gestores que tenham serviços públicos ou privados sob sua gestão. • Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – Cnes: importante base de dados utilizada pelo SIA e pelo SIH, sendo de responsabilidade do gestor estadual ou municipal a inclusão de unidades por meio da Ficha de Estabelecimento de Saúde – FCES Cabe enfatizar aqui e citar a experiência do estado de São Paulo, que, por meio de sua Secretaria Estadual de Saúde, implantou a partir do ano de 2007, em suas macrorregiões, o Ambulatório Médico de Espacialidades – AME. Esses ambulatórios estão inseridos dentro da atenção especializada, nível secundário de atenção à saúde, exercendo ações de média complexidade. São grandes centros de diagnóstico e orientação terapêutica com uma boa resolutividade em especialidades médicas. Devem atender os pacientes que são encaminhados pela rede básica de saúde, sendo o objetivo principal ampliar a oferta de serviços ambulatoriais especializados em determinadas regiões. Existem alguns AME, como os da capital paulista, com alto grau de resolutividade em virtude das inúmeras especialidades médicas, tecnologia e recursos humanos para realização de diagnósticos e adequação da terapêutica inicial à doença de base, e que ainda desenvolvem programas de educação continuada em linguagem simples e acessível, com informações quanto à importância da aderência terapêutica e o uso das medicações conforme a prescrição médica. Para implantação desses grandes centros de atendimento ambulatorial, os gestores em saúde devem conhecer o perfil epidemiológico da região, a demanda e as necessidades em saúde de sua população. Com isso, esses centros de média complexidade ambulatorial devem atender aos principais problemas em saúde da população. . Vale enfatizar que os AME, modelo ambulatorial do estado de São Paulo, são implantados após um levantamento nas macrorregiões do estado dentro da rede de atenção especializada para média complexidade. Os ambulatórios devem atender não somente pequenos municípios, mas também ser referência
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