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Prévia do material em texto

História da
América
Professor Esp. Paulino Augusto Peres
Reitor 
Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino
Prof. Ms. Daniel de Lima
Diretor Financeiro
Prof. Eduardo Luiz
Campano Santini
Diretor Administrativo
Prof. Ms. Renato Valença Correia
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Coord. de Ensino, Pesquisa e
Extensão - CONPEX
Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
Coordenação Adjunta de Ensino
Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman 
de Araújo
Coordenação Adjunta de Pesquisa
Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme
Coordenação Adjunta de Extensão
Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves
Coordenador NEAD - Núcleo de 
Educação à Distância
Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
Web Designer
Thiago Azenha
Revisão Textual
Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Geovane Vinícius da Broi Maciel
Kauê Berto
Projeto Gráfico, Design e
Diagramação
André Dudatt
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade 
exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi-
tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem 
a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP 
 
P437h Peres, Paulino Augusto 
 História da América / Paulino Augusto Peres. Paranavaí: 
 EduFatecie, 2022. 
 113 p. : il. Color. 
 
 
 
1. América - História. 2. América Latina – História. 
I. Centro Universitário - UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. 
Título. 
 
CDD: 23 ed. 980.02 
 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 
 
UNIFATECIE Unidade 1 
Rua Getúlio Vargas, 333
Centro, Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
UNIFATECIE Unidade 2 
Rua Cândido Bertier 
Fortes, 2178, Centro, 
Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
UNIFATECIE Unidade 3 
Rodovia BR - 376, KM 
102, nº 1000 - Chácara 
Jaraguá , Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
www.unifatecie.edu.br/site
As imagens utilizadas neste
livro foram obtidas a partir 
do site Shutterstock e 
Pixabay.
AUTOR
Professor Esp. Paulino Augusto Peres
● Graduado em História pela UNESPAR (Universidade Estadual do Paraná) cam-
pus de Paranavaí/PR.
● Especialista em Didática e Tecnologia na Educação pela FATECIE (Faculdade 
de Ciências e Tecnologia do Norte do Paraná).
● Mestrando em Ensino Profissionalizante de História pela UNESPAR - Campo 
Mourão/PR.
● Professor na Escola Fatecie Max (séries finais do Ensino Fundamental).
● Professor no Colégio Fatecie Premium (Ensino Médio).
● Professor na UniFatecie no curso de Ciências Contábeis.
CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/0165285728983866
Graduado em história pela UNESPAR (Universidade Estadual do Paraná) campus 
de Paranavaí. Especialista em Didática e tecnologia na Educação pela FATECIE (Faculda-
de de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná). É mestrando na UNESPAR de Campo 
Mourão e pesquisador nas áreas de ensino, tecnologia e história. Atualmente é professor 
do Ensino Superior nas áreas de filosofia e sociologia e também de história e sociologia no 
Ensino Básico.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja muito bem-vindo (a)!
Sejam bem-vindos (as) ao nosso curso de História da América. A partir de agora 
iniciamos uma jornada em busca de nossas experiências históricas e algumas explica-
ções para o que ocorreu no continente americano, sobretudo na América Latina, além de 
compreender alguns aspectos deste continente nos dias de hoje e claro, olhar para um 
horizonte futurístico e depositar nele nossa aprendizagem como uma forma de expectativa.
Nosso resgate histórico inicia com a América pré-colombiana e sua importância 
para o continente. Compreender que a mesma não foi descartada através das invasões 
europeias, mas sim, de maneira compulsória, incorporada aos novos elementos culturais 
eurocentristas. Dar destaque para as populações tribais que aqui viviam e também as civi-
lizações como incas, maias e astecas.
Também resgataremos fatos sobre o processo de colonização após a conquista do 
continente. Entender como esse processo ocorreu, quem foram os colonizadores e quais 
métodos de conquista utilizaram e como colonizaram esses territórios. Neste tópico será 
destacado toda a crueldade da colonização, como também a eurocentrização do continente 
americano com seus valores que consideravam mais evoluídos.
O choque cultural foi o resultado imediato da conquista e colonização das Américas 
onde as culturas indígena e europeia se estranharam e se admiraram para logo depois en-
trarem em confronto. A cultura das américas foi praticamente destruída por ser considerada 
algo demoníaco para a religiosidade cristã.
A escravização nas américas também tem importância na compreensão da recons-
trução do continente, pois o africano retirado de suas terras foi trazido para cá, contra sua 
vontade para trabalhar e ser a base da reconstrução. Sua força produtiva e sangue foram 
os grandes pilares da colonização da América. 
Uma vez colonizada a américa latina passa a resistir de diversas formas à colo-
nização e inicia em vários momentos movimentos de resistência e lutas por libertação. 
Na América do Sul se destacou a liderança de Simón Bolívar, no México a de Emiliano 
Zapata e Pancho Villa, em Cuba a dos irmãos Castro e do argentino Ernesto “Che” Guevara 
e na Nicarágua a de Augusto Cesar Sandino. Esses personagens foram cruciais para a 
libertação de seus países, ou de uma metrópole marcada pelo pacto colonial ou por uma 
potência imperialista.
Nos Estados Unidos vemos uma importância para os rumos de todo o continen-
te americano desde sua emancipação. A independência dos estados é o start para toda 
a influência que teria na América Latina. O imperialismo estadunidense gerou conflitos, 
invasões, dependência econômica e ressentimentos até hoje não resolvidos. Até mesmo 
intervenções militares diretas foram utilizadas como método de dominação por parte dos 
americanos, sendo a última em 1989. A partir dessa data, com o objetivo de diminuir as 
tensões no continente, os Estados Unidos voltam sua atenção para o mundo, quando se 
torna a única superpotência mundial com a desintegração da União Soviética em 1991. 
Após os Estados Unidos voltarem suas atenções para outros lugares no mundo, 
sobretudo aqueles que perderam o apoio da URSS, a América continuava lutando contra o 
imperialismo americano exercido de forma indireta. Personagens como Hugo Chávez surgem 
criticando os políticos de seus país e os acusando de estarem alinhados aos interesses esta-
dunidenses e transformando o conceito de bolivariano para se encaixar em sua narrativa. Os 
venezuelanos apoiaram Chavez e levaram seus ideais anti-imperialistas ao poder. Uma vez 
no poder, aos poucos, Chávez e seu sucessor, Maduro, passaram a criar leis que aumenta-
vam seus poderes, colocando a Venezuela em um estado de quase ditadura. 
As ditaduras foram comuns na América Latina durante a Guerra Fria. Vários gover-
nos de direita forma instalados com apoio estadunidense com medo da suposta “ameaça 
vermelha”. Nesse processo, dezenas de milhares de pessoas foram presas, torturadas 
e assassinadas no continente. Somente após o fim dessas ditaduras o continente pode, 
finalmente, correr atrás de seu próprio futuro sem as intervenções imperialistas diretas e 
dando oportunidade a outras concepções ideológicas de existirem. 
Após trinta anos desde o fim da última intervenção militar americana na América, 
o continente sofre uma nova onda totalitarista: a extrema-direita. Essa onda chegou ao 
poder nas duas maiores potências do continente e possui um discurso, considerado por 
pesquisadores, ameaçador à democracia. Mas, mesmo diante da atual ameaça, as forças 
democráticas se movimentam e através da lei lutam paraque não ocorra novas ditaduras 
no continente americano.
● Na unidade I “As várias américas: o processo de colonização” vamos resgatar 
fatos históricos sobre a América pré-colombiana, como povos tribais, incas, 
maias e astecas para depois conhecer o processo de colonização das américas, 
o choque cultural entre esses dois povos, indígenas e europeus para finalmente 
compreender que a base econômica da colonização foi a mão de obra escravi-
zada africana.
● Já na unidade II “O processo de independência latinoamericana” você irá saber 
mais sobre os fatos e líderes de alguns processo de independência e revolução, 
como Simón Bolívar, Emiliano Zapata e Pancho Villa, Fidel Castro e Che Gue-
vara, como também de Augusto Cesar Sandino.
● Na sequência, na unidade III “A declaração de independência dos Estados 
Unidos: ordem mundial e grande potência” falaremos a respeito da indepen-
dência dos EUA, o exercício de poder imperialista sobre a América Latina, as 
intervenções militares e como expandiu seu poder da América para o mundo. 
● Em nossa unidade IV “América Latinae a busca pela autonomia, vamos finalizar 
o conteúdo dessa disciplina com alguns exemplo latinoamericanos na busca 
por se desvincular do poderio norte americano, como a ascensão de Chávez 
na Venezuela, o fim das ditaduras militares e como esses alguns desses países 
ficaram após suas redemocratização e as novas ameaças à democracia re-
gional, sobretudo com golpes, tentativas de golpes e surgimento do fenômeno 
político da extrema-direita. 
Muito obrigado e bom estudo!
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 5
As Várias Américas: O Processo de Colonização
UNIDADE II ................................................................................................... 33
Os Processos de Independência Latinoamericanas
UNIDADE III .................................................................................................. 60
A Declaração de Independência dos Estados Unidos, 
Ordem Mundial e Grandes Potências
UNIDADE IV .................................................................................................. 84
América Latina e a Busca Pela Autonomia
5
Plano de Estudo:
● América pré-colombiana;
● O processo de colonização;
● O choque cultural;
● A escravização nas américas.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender como era o continente americano antes da conquista europeia;
● Entender como ocorreu a colonização nas américas;
● Estabelecer a importância da cultura regional americana e como ela 
foi colocada como contraste da cultura europeia;
● Compreender a base econômica das colônias nas américas e como 
ocorreu a substituição da mão de obra indígena para africana.
UNIDADE I
As Várias Américas: O Processo de 
Colonização
Professor Esp. Paulino Augusto Peres
6UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
INTRODUÇÃO
Nosso resgate histórico inicia com a América pré-colombiana e sua importância 
para o continente. Compreender que a mesma não foi descartada através das invasões 
europeias, mas sim, de maneira compulsória, incorporada aos novos elementos culturais 
eurocentristas. Dar destaque para as populações tribais que aqui viviam e também as civi-
lizações como incas, maias e astecas.
Também resgataremos fatos sobre o processo de colonização após a conquista do 
continente. Entender como esse processo ocorreu, quem foram os colonizadores e quais 
métodos de conquista utilizaram e como colonizaram esses territórios. Neste tópico será 
destacado toda a crueldade da colonização, como também a eurocentrização do continente 
americano com seus valores que consideravam mais evoluídos.
O choque cultural foi o resultado imediato da conquista e colonização das Américas 
onde as culturas indígena e europeia se estranharam e se admiraram para logo depois en-
trarem em confronto. A cultura das américas foi praticamente destruída por ser considerada 
algo demoníaco para a religiosidade cristã.
A escravização nas américas também tem importância na compreensão da recons-
trução do continente, pois o africano retirado de suas terras foi trazido para cá, contra sua 
vontade para trabalhar e ser a base da reconstrução. Sua força produtiva e sangue foram 
os grandes pilares da colonização da América. 
7UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
1. AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA
A América passou a ser conhecida pelos europeus apenas a partir de 1492, quando 
o navegador italiano, Cristóvão Colombo (1451-1506), à serviço dos espanhóis, chega equi-
vocadamente na América Central à caminho das Índias Orientais. A chegada de Colombo 
não representa de forma alguma o início da história das Américas. Nesse continente já exis-
tiam cerca de 50 milhões de pessoas que foram chamadas, também de forma equivocada, 
de índios, por Colombo, uma vez que o navegador acreditava ter chegado nas Índias, hoje, 
entretanto chamamos esses vários povos genericamente de indígenas.
Milhares de grupos indígenas viviam aqui à época, cada um deles com sua forma de 
falar, pensar e agir, tinham cultura distintas, com idiomas diferentes e religiosidade própria, 
desta forma a forma correta de se dirigir a esses povos seria chamando pelo nomes que 
eles mesmos se chamam: terena, apache, guarani, kaingang, etc.
Os primeiros povoadores do continente americano viviam ou como caçadores e 
coletores ou ainda em cidades grandes que faziam parte de impérios fortes como os incas, 
maias e astecas. Isto é, grandes civilizações criadas e geridas por indígenas do continente 
e que surpreenderam os conquistadores europeus.
Nesta América pré-colombiana, portanto, houve diversas formas de sociedade: 
caçadores e coletores; economia de subsistência; e agricultoras. Os caçadores e coletores 
eram numerosos, existiam desde a Argentina, com os indígenas patagões até a Groenlândia, 
com os esquimós. Não desenvolveram a técnica da agricultura, portanto, para sobreviver, 
8UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
a caça, a pesca e a coleta de frutas, folhas e raízes era fundamental. Quando os recursos 
naturais para sua sobrevivência acabavam se deslocavam para outras regiões, portanto, 
esses grupos humanos eram nômades.
Os agrupamentos humanos que viviam da economia de subsistência, como os tu-
pi-guarani, que hoje habitam o atual território brasileiro, paralelamente caçavam e colhiam, 
mas também produziam agricultura. Essas comunidades plantavam para o sustento da 
tribo, sem realizar trocas/comércio com outras tribos. Vários grupos indígenas da América 
do Norte também realizavam a economia de subsistência. 
Já os agrupamentos agrícolas produziam excedentes de sua produção. Os astecas, 
maias e incas, por exemplo, ao desenvolver grandes civilizações, tinham como base o se-
dentarismo proporcionado pelo domínio da agricultura, e uma vez fixados em determinado 
lugar, expandiram o território, conquistaram outros povos e a produção que excedia era 
comercializada com a população. Tecnologias foram desenvolvidas para esse fim, como 
canais de irrigação, chinampas (ilhas artificiais) e o plantio em terraços. 
Outro traço importante é que esses povos também podem ser distribuídos em dois 
grupos: os igualitários e os hierarquizados. Os igualitários eram caçadores e coletores e 
compartilhavam tarefas e os alimentos obtidos. Alguns grupos agricultores também eram 
igualitários, mas isso não acontecia a todos os grupos agricultores. Os grupos igualitários 
eram menores e, por isso, a identificação e elo entre eles era muito forte. As decisões eram 
tomadas de forma coletiva ou por algum chefe com apoio dos demais.
Nas sociedades hierarquizadas, a agricultura com a produção de excedentes sem-
pre se fez presente, pois o excedente pode ser concentrado nas mãos de alguns criando 
os que tinham mais que outros e assim, essas sociedades formaram hierarquias políticas. 
Coma agricultura também possibilitou o sedentarismo, logo criaram cidades feitas de pe-
dra, onde a administração da cidade foi dada às pessoas mais altas da hierarquia, sendo 
assim, essas sociedades se tornaram desiguais política e economicamente.
Entre as sociedades hierarquizadas temos os incas, maias e astecas. Eram contro-
ladas por um Estado que administrava a cobrança dos impostos e o serviço público. Eram 
desiguais tendo nobres ricos, que normalmente eram líderes de antigas tribos ou familiares 
do imperador. E, apesar das cidades, continuavam existindo pequenas aldeias que traba-
lhavam com agricultura, artesanato e comércio. Parte da produção dos camponeses era 
usada para pagar os impostos ao Estado que o devolvia em forma de obras públicas, como 
a construção de estradas, canais de irrigação, pontes, armazéns, etc. 
9UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
Os astecas, que viviam onde hoje é o México, na América do Norte, às margens 
do lago Texcoco, criaram a cidade de Tenochtitlán, que se tornaria sua capital. Conforme 
iam crescendo foram estabelecendo alianças políticas com os grupos vizinhos. Os astecas 
aos poucos passaram a anexar os seus vizinhos ao seu território e iniciaram a formação de 
um império que com o uso da força conquistaram e submeteram outros povos. O governo 
asteca era centralizado na figura do imperador e os povos conquistados tinham que pagar 
tributos e escravizados à Tenochtitlán. 
As cidades Astecas impressionavam pela sua estrutura, eram grandes, organiza-
das, limpas, pavimentadas e ainda possuíam grandes monumentos que celebravam as 
divindades astecas, como os templos em formato de pirâmide e ainda palácios e espaçosas 
praças. Os espanhóis ao chegarem em Tenochtitlán escreveram seu fascínio sobre aquela 
cidade, inclusive pelo seu incrível tamanho e por seus surpreendentes 200 mil habitantes. 
Nessa época, poucas cidades europeias tinham essa população.
Os astecas eram politeístas e seus deuses eram associados a elementos da natu-
reza e alguns poderiam ser antropomorfos (meios humanos, meio animal). Quetzalcóatl era 
o deus mais importante para eles e era representado como um pássaro serpente e humano, 
sendo o deus da vida. Tlaloc era o deus da chuva, Xiuhtecuhtli era o deus do fogo, ou seja, 
os elementos eram representados por divindades, o que é comum em religiões politeístas. 
Alguns deuses astecas estavam presentes em outros povos e foram absorvidos devido ao 
caráter expansionista dos astecas. As trocas culturais são comuns entre povos que mantêm 
proximidade. Inclusive o deus Quetzalcóatl para os maias era chamado de Kulkulkán. Os 
astecas acreditavam que os deuses poderiam se irritar com os humanos e para aplacar a 
ira dos deuses realizavam rituais de sacrifícios humanos.
Os astecas ainda desenvolveram seu próprio sistema de escrita pictográfica, onde 
utilizam pequenos desenhos, figuras, que representavam os sons e registravam seus 
escritos em argila. Tinham domínio de matemática e engenharia, o que os proporcionou 
a construção de templos e pirâmides grandiosas. O conhecimento sobre astronomia era 
tão vasto a ponto de preverem os próximos eclipses e tinham um calendário baseado no 
desenvolvimento das atividades agrícolas com 365 dias. Apesar deste vasto conhecimento, 
somente um pequeno grupo tinha acesso a ele. 
Os maias, por sua vez, também possuíam um grande domínio sobre os astros. 
Possuíam também calendário próprio com 365 dias o que os auxiliava com a agricultura 
e na previsão de eclipses, assim como os astecas. Possuíam também escrita própria e 
que também era pictográfica. Sua escrita era registrada em murais, templos, monumentos, 
placas de pedra, madeira ou louça e seus registros destacavam feitos dos líderes maias. 
Poucas pessoas tinham acesso à escrita. 
10UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
Esse povo se organizou em diversas cidades independentes, na região da América 
Central, mas que possuíam a mesma tradição, por isso se identificavam como um povo. 
Apesar da identificação, essas cidades independentes sempre estavam em conflito umas 
com as outras.
A cidade de Tikal se destacou entre 800 a.C. a 200 a.C., pois exercia domínio sobre 
as demais cidades, vilas e povoados. Com cerca de 50 mil habitantes, Tikal foi a maior das 
cidades maias e possuíam uma estrutura urbana com templos, praças e palácios pensados 
esteticamente. A cidade contava com reservatórios de água para os períodos de escassez, 
eram feitos nos buracos de pedreiras, captavam a água da chuva e era distribuído quando 
as chuvas cessavam. Além da captação da chuva, para driblar os períodos de estiagem, 
realizam o plantio em terraços, construíram canais de irrigação e praticavam a agricultura 
intensiva de espécies variadas. 
A religiosidade maia era politeísta, assim como a asteca e também realizavam sacrifí-
cios humanos para deixar as divindades felizes. Os deuses eram associados aos fenômenos 
naturais, como Kulkulkán, deus do vento, Huracán, deus da tempestade, Kinich Ahau, deus 
do sol, etc. Seus rituais religiosos também utilizava o transe como prática sagrada para ter 
contato com as divindades, para o transe utilizavam cigarros narcóticos e bebidas alucinóge-
nas. Esses rituais eram restritos a sacerdotes e a outros membros da elite maia. 
A sociedade maia era estratificada, tendo o soberano no topo da pirâmide social, 
seguido pela corte real formada por guerreiros, sacerdotes e funcionários da administração. 
Em seguida estavam os nobres, que eram pessoas de famílias importantes. Depois os 
artesãos, mercadores e camponeses e por fim, os escravizados, que eram prisioneiros de 
guerra ou escravizados por dívidas. 
Na América do Sul, os quéchuas se instalaram na região das cordilheiras dos An-
des. Iniciaram um processo de alianças com povos vizinhos que viviam na região. Com 
o tempo, os quéchuas se destacaram e passaram a exercer dominação sobre os demais 
povos e criaram um grande império, chamado de império Inca, tendo como capital a cidade 
de Cuzco, que acreditavam ser o “umbigo do mundo”. 
Os primeiros agrupamentos quéchuas eram tribais. Haviam várias vilas chamadas 
de ayllus e cada ayllu era comanda por um líder chamado kuraka. Dentro das ayllus viviam 
sob o sistema de reciprocidade, onde a troca de favores era a base das relações sociais e 
da organização das ayllus. Os chefes das ayllus ofereciam ajuda às pessoas que deveriam 
retribuir em forma de tributos e/ou alianças militares através de casamentos, etc.
11UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
Conforme o poder dos quéchuas crescia, dominavam outros territórios, e assim 
o império expandiu seu território de forma rápida e ampla, fazendo com que o imperador, 
chamado de Sapa Inca, construísse uma máquina estatal eficiente. O Império passou a ser 
chamado pelos espanhóis de Inca, devido ao título do imperador, Sapa Inca. Estradas, pontes 
e cidades foram construídas de forma calculada para melhor administração do império. Até 
mesmo um eficiente sistema de correios existia entre o povo quéchua. Como o império ia 
desde o sul da Argentina e Chile até Equador e Colômbia, precisavam criar algum método de 
envio de mensagens. O povo quéchua, ao contrário de maias e astecas, não desenvolveu 
escrita, o que dificultava o envio de mensagens. Então, treinaram pessoas para se tornarem 
corredoras, que corriam até 30km por dia para enviar uma mensagem oral. Eles ouviam a 
mensagem, a memorizavam, corriam até 30km e a passavam para o próximo mensageiro 
que iria repetir a ação até a mensagem chegar no local de destino. A mensagem, de voz em 
voz, de corredor em corredor chegava a percorrer até 300 km por dia. O que mesmo assim 
era pouco, pois do sul ao norte do Império Inca eram centenas de km. 
Tudo entre os incas parecia superlativo, o território com mais de 2 mil km², mais de 
14 milhões de habitantes, com cidades a três mil metros dealtitude. Tudo isso muito bem 
organizado pela máquina pública incaica. E isso sendo um império bem mais jovem que os 
asteca e maia. 
O império se desenvolveu em uma região montanhosa com poucos fatores favo-
ráveis à agricultura, entretanto, os camponeses desenvolveram a técnica de plantio em 
terraços, construindo um tipo de degrau nas montanhas, cada degrau era terraço que era 
separado para a produção agrícola. Também desenvolveram canais de irrigação e sistema 
de drenagem, além de conhecerem a técnica da adubagem para fertilizar a terra.
Como não utilizavam a escrita desenvolveram um sistema de registro de impostos 
chamado de quipo. Era um objeto composto de diversos cordões, cores e nós, com cordões 
de tamanhos diferentes. Por meio da combinação desses fatores registravam a quantidade 
de habitantes nas diferentes regiões, registravam os impostos arrecadados, etc. O uso do 
quipo ainda é um mistério para os pesquisadores, tamanha sua complexidade.
A sociedade era hierarquizada, no topo da sociedade estava o Sapa Inca e sua es-
posa, que tinha o título de Coya. O Sapa Inca poderia ter diversas esposas, fruto da prática 
da reciprocidade, onde cada esposa era fruto de aliança política com os povos anexados ao 
império. Mas somente uma tinha o título de Coya. Logo abaixo do imperador e sua esposa 
estavam os sacerdotes, mamaconas (mulheres virgens, próximas ao Sapa Inca e Coya, 
responsáveis pela dedicação e serviço nos templos), chefes militares, governadores de 
12UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
província e administradores locais. Os governadores de províncias eram escolhidos pelo 
próprio Sapa Inca. Existiam quatro províncias, ou suyo, no idioma quéchua e assim o nome 
quéchua do Império Inca era tahuantisuyo, o império das quatro partes. Os administradores 
locais eram os kurakas das ayllus, ou seja, os chefes das vilas. Abaixo de governadores, 
mamaconas, sacerdotes, chefes militares e administradores de locais, se posicionavam 
os funcionários públicos, soldados, artesãos e comerciantes e na posição social menos 
privilegiadas estavam as famílias rurais. Na sociedade inca não existiam escravos.
A religiosidade inca era politeísta. Viracocha era a grande divindade criadora do 
universo, mas a divindade mais venerada era Apu Inti, ou apenas Inti, o deus sol. É do 
nome de Apu Inti que deriva o título do Imperador, Sapa Inca, ou apenas Inca, sendo o 
imperador considerado o filho do deus sol, ou seja, o Inca era filho de Inti. 
Apesar de não desenvolverem escrita, devido a juventude de seu império, os incas 
tinham uma excelente engenharia, podendo construir cidades até mesmo nas mais altas 
montanhas como a cidade de Machu Picchu. Tinham uma técnica de corte e encaixe de 
pedras imensas para a construção de templos, palácios e muralhas que usavam como 
liga apenas a força da gravidade. Tinham conhecimento sobre medicina e astronomia. E o 
quipo, alguns historiadores acreditam que poderia continuar se desenvolvendo e se tornaria 
uma forma de escrita se os incas não tivessem sido invadidos pelos espanhóis. 
No início do século XVI os espanhóis descobriram a existência dessas civiliza-
ções e em busca de riquezas invadiram o território da América e após décadas de guerras 
todas elas foram tomadas. Os espanhóis tinham uma tecnologia bélica mais avançada e 
aproveitaram as disputas internas nesses territórios, fazendo alianças com um dos lados, 
o que favoreceu sua vitória. Incas, Maias e Astecas caíram, mas ainda hoje sua cultura 
permanece no cotidiano de do México, países da América Central e América do Sul.
Os demais povos do continente que construíram cidades e viviam alguns como 
caçadores e coletores e outros como agricultores, tão pouco tiveram como resistir aos 
povos europeus que dominaram o território do continente do norte ao sul. Os portugueses 
invadiram o território onde hoje é o Brasil, os espanhóis o território que vai desde Chile e 
Argentina, passa pela América Central e chega até o México. França e Inglaterra ocupam 
a América do Norte e algumas ilhas do caribe. Os grupos indígenas residentes resistiram e 
ainda resistem até hoje. Seu território foi ocupado, seu povo foi massacrado, seus deuses 
destruídos, sua cultura aniquilada. Muitos dos artefatos arqueológicos foram destruídos em 
um processo de catequização jesuíta e, por isso, muito sobre esses povos se perdeu. Mas, 
de forma alguma suas culturas foram esquecidas.
13UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
2. O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa 
alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons 
ares, assim frios e temperados como os de Entre Douro e Minho, porque nes-
te tempo de agora os achávamos como os de lá.
Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a 
aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.
Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta 
gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve 
lançar. (CORTESÃO, 1943, p. 07).
O relato acima é da famosa carta de Pero Vaz de Caminha (1450-1500) quando 
esteve em território brasileiro junto a Cabral (1467-1520) no momento do descobrimento em 
abril de 1500. Alguns pontos chamam a atenção no trecho, pois além da boa impressão com 
os aspectos naturais, Caminha destaca um fator econômico e outro cultural: ouro e indígenas. 
Todo o processo de colonização envolverá esses fatores. Pois, quando os europeus 
chegaram à América estavam à caminho das índias, em busca de novas rotas comerciais 
para conseguirem fortalecer suas economias. Após descobrirem que a terra encontrada por 
Colombo (1451-1506) não eram as índias orientais, mas sim um território novo, investiram 
seus esforços neste lado do planeta até que descobriram que aqui existia um gigantesco 
território, e não apenas as 25 léguas previstas por Caminha, que poderia muito bem possuir 
metais preciosos, além de indígenas que poderiam servir como mão de obra e novos cristãos.
Ao chegarem nos territórios de astecas, maias e incas, logo a Coroa espanhola 
declarou guerra a esses povos. O ouro e a prata entre eles eram abundantes. Os espanhóis 
com canhões e espadas de aço se tornaram invencíveis para os nativos que lutavam com 
14UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
espadas de bronze, muito mais frágeis. Os cavalos davam aos invasores maior velocidade. 
As doenças da Europa começaram a matar a população local. Os povos indígenas domi-
nados por astecas e incas aproveitaram a invasão para se aliar aos invasores em busca da 
liberdade de seu povo. Mais tarde, esses grupos seriam traídos pelo governo espanhol e 
também seriam dominados. 
A Igreja católica demonstrou interesse na colonização desde o início, mas esse 
interesse aumentou com a Reforma Protestante de 1517, onde a Igreja perdeu cerca de 
40% de seus fiéis na Europa para as igrejas protestantes. No Concílio de Trento decidiram, 
entre outras coisas, que enviaram a Companhia de Jesus às Américas em busca de novos 
fiéis. Muito se discute sobre esse período com discussões teológicas sobre a população 
indígena possuir ou não alma, poder ou não ser escravizada. O caso mais emblemático é o 
embate teológico entre os padres Sepúlveda (1489-1573) e Las Casas (1474-1866).
O fato é que alguns membros da Igreja quando encontravam escritos astecas e 
maias os queimava acreditando se tratar de escritos do demônio. Também, muitos se sen-
tiam respaldados por falas como a de Sepúlveda que defendia a escravidão dos nativos 
(CARRÈRE, 2003, p. 18). Assim, reis de Portugal, Espanha, Inglaterra e França persegui-
ram, aprisionaram, escravizaram e assassinaram milhões de nativos. A Igreja, tanto católica 
quanto anglicana, apesar de oficialmente se posicionar contra a escravização dos povos 
nativos, não se movia muito para barrar a prática.O frei espanhol Bartolomé de Las Casas 
foi um exemplo de um membro da Igreja Católica que destoava do tom de dominação a 
esses povos (CARRÈRE, 2003, p. 21). 
A citação de Caminha ainda revela sua decepção em relação a fatores econômicos 
importantes, pois não encontrou ouro na Ilha de Vera Cruz (primeiro nome dado ao Brasil 
pelos portugueses). Portugueses e indígenas não falavam o mesmo idioma, então através 
de gestos, Caminha perguntava sobre ouro e prata. Ao perceber que eles não tinham tais 
metais, concluiu que aquela terra seria mais importante para a Igreja Católica que poderia 
converter os gentios à fé cristã. 
Diante da decepção inicial com o novo território, os portugueses continuaram in-
vestindo nas índias orientais. Por 32 anos Portugal não se estabeleceu no território onde 
hoje é o Brasil nem para criar vilar nem para plantar, apenas parava por aqui para buscar 
pau-brasil durante sua jornada até as índias. Esse período entre 1500 e 1532 é chamado 
de pré-colonial. 
15UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
A decisão de Portugal de fazer destas terras uma colônia, surgiu quando ao realizar 
expedições de reconhecimento, encontraram invasores holandeses, ingleses e franceses, 
desta forma, para não perderem o território, decidiram se instalar definitivamente.
Além desse motivo, Portugal via seus concorrentes cada vez tendo mais lucros 
com as especiarias das índias e que tinham perdido a exclusividade do comércio marítimo 
com o oriente. Viram a emergência de conquistar novas fontes de lucro e a colonização se 
mostrou uma atividade com grandes possibilidades, uma vez que já haviam percebido que 
estas terras não eram uma ilha. Assim, em 1932 surgiu a primeira vila portuguesa no Brasil, 
a Vila de São Vicente, próximo onde hoje é Santos. 
O Rei de Portugal estabeleceu no Brasil uma estratégia de colonização em parceria 
com a nobreza portuguesa. As capitanias hereditárias eram grandes faixas de terra divididas 
em 1534 entre os fidalgos portugueses. O nome capitania hereditária era assim chamada 
pois aos donatários da terra recebiam o título de capitão e, apesar de não serem os donos, 
pois não podiam vender essas terras, eles poderiam cobrar impostos e distribuir parte de-
las a outros nobres. As terras da capitania distribuídas eram chamadas de sesmarias. Os 
donatários tinham amplos poderes sobre suas capitanias e entre suas obrigações estavam 
proteger, investir nessas terras e pagar impostos à Coroa portuguesa
As capitanias se mostraram um fracasso. Os donatários não conseguiam investir o 
suficiente nas capitanias e não as tornavam atrativas para outros nobres. A nobreza portu-
guesa não queria sair de Portugal para viver em uma colônia que não lhes oferecia nada. 
Uma prática recorrente entre os donatários foi a de entrar em guerra contra os 
povos nativos, o que gerou mortes de indígenas e portugueses e fragilizou ainda mais a 
débil colonização.
Apenas duas capitanias tiveram êxito nesse período, São Vicente e Pernambuco. 
Nos dois casos, os donatários conseguiram realizar alianças com os povos indígenas o que 
trouxe a eles mais tranquilidade para se preocuparem com o investimento em engenhos 
para a produção de cana-de-açúcar. O açúcar era muito rentável, sendo na época um 
produto de muito valor. O lucro da colônia com o açúcar logo se tornou uma monocultura 
que duraria mais de 200 anos.
O fracasso da maior parte das capitanias fez o governo português mudar de estra-
tégia e assim criou o governo-geral no Brasil. Esse governador-geral era nomeado pelo Rei. 
Em 1549 Tomé de Souza (1503-1579) assumiu como o primeiro governador-geral do Brasil. 
Mais de 1000 pessoas vieram com ele para o Brasil, entre eles 120 funcionários públicos. 
O governo-geral demonstrava como Portugal desistiu de sua aliança com a nobreza para 
colonizar essa colônia e a substituiu pela administração estatal. É nesse período que o 
Brasil tem sua primeira capital, Salvador. 
16UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
O território era enorme, então existiam administrações locais que auxiliavam a 
capital, eram as câmaras municipais, também chamadas de câmara dos homens bons, que 
funcionavam como prefeituras. Para ser um homem bom, para ser um representante da 
câmara, deveria ser nobre sem laços genealógicos com negros ou judeus.
A colonização de exploração foi a marca da colonização portuguesa e espanhola. 
Após a destruição do astecas por Hernán Cortés (1485-1547) em 1521 e a dos incas por 
Francisco Pizarro (1476-1541) em 1533 os espanhóis organizaram a administração de seus 
territórios dominados na América. Mas já desde 1503 a Espanha já havia criado a Casa de 
Contratação para manter o monopólio das atividades comerciais que vinham das américas. 
Em 1520 criaram o Conselho das Índias para auxiliar na tomada de decisões sobre a co-
lônia. Nesse período ainda muitos chamavam a América de Índias ou Novo Mundo. E só 
mudou de nome graças à descoberta do navegador Américo Vespúcio (1451-1512) de que 
essas terras não faziam parte do leste da Ásia.
Como o território espanhol no Novo Mundo era extenso o dividiram em regiões ad-
ministrativas chamadas de vice-reinos: Peru, Nova Espanha, Nova Granada e Rio da Prata. 
Seus líderes administrativos eram os vice-reis, membros da nobreza da Espanha. Ainda 
assim os vice-reinos continuavam grandes territorialmente, então existiam as capitanias 
gerais da Venezuela, Chile, Cuba e Guatemala. 
Aos vice-reis cabia a administração política e econômica das colônias, aos capi-
tães gerais, o controle militar e ainda existiam os cabildos, que consistiam em um tipo de 
conselho municipal que regulamentava serviços que iam desde cobrança de impostos a 
aplicação de leis. 
Na economia os espanhóis mesclaram características espanholas e nativas. Com 
a mita, as autoridades indígenas enviavam alguns membros de suas comunidades para 
trabalharem para os espanhóis durante alguns meses.
Com a encomienda se estabelecia a prestação de trabalho dos indígenas para pa-
gamento de impostos. Esses cobradores de tributos eram os encomenderos que também 
ficavam com a responsabilidade da catequização dos povos nativos. 
Comercializavam tecidos, algodão, açúcar, milho, tabaco, cacau, índigo, batata, 
etc. A mais lucrativa era a produção de açúcar, que assim como no Brasil e Estados Unidos 
dependia do trabalho escravo.
Ao contrário de Espanha e Portugal, a Inglaterra estabeleceu em suas Treze Co-
lônias na América do Norte um sistema de colonização baseado na ocupação. Os anglo 
saxões que ocuparam as Treze Colônias eram, em sua maioria, puritanos que fugiam da 
perseguição religiosa na Inglaterra, portanto eram pequenos burgueses sem laços com 
a nobreza inglesa. Diferente do que aconteceu com Portugal e Espanha que trouxeram 
membros da nobreza e distribuíram terras a eles.
17UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
Os puritanos eram calvinistas e acreditavam que a salvação era fruto da predesti-
nação divina, isto é, acreditavam que os salvos eram escolhidos por deus, desde os seus 
nascimentos. Acreditavam ainda que a marca da salvação predestinada por deus era a 
riqueza material, e como esses puritanos não eram nobres na Inglaterra e não possuíam 
grandes terras, restava a eles trabalharem com o comércio e, desta forma, essa forma de 
ser calvinista os incentivou a desenvolverem a economia das Treze Colônias. Essa ética 
calvinista os impulsionou a trabalhar cada vez mais e mais para conseguirem enriquecer e 
morrer com a certeza que iriam para o paraíso. Esta forma de pensar a salvação calvinista 
seria um motor para a economia das colônias inglesas no território americano. 
A colonização das Treze Colônias foi marcada por duas formas distintas. Ao nor-
te, com clima mais frio, sem um clima favorável para a agricultura, se desenvolveu uma 
economia comercial, com diversas cidades e pequenas propriedades de terra, com mão 
de obra livre assalariada.Já nas colônias do Sul, com clima mais quente e adequado para 
a agricultura, surgiu uma economia latifundiária, com grandes proprietários de terras que 
usavam o trabalho escravizado.
Essa separação colonial entre norte e sul ainda têm consequências nos Estados 
Unidos de hoje, onde no Sul as pessoas são mais conservadoras, com maior número de 
pessoas com preconceito racial, e no Norte existem pessoas menos conservadoras e mais 
combativas contra o preconceito racial. 
A ocupação inglesa na América aconteceu com vários embates com portugueses 
e espanhóis, que já haviam recebido esses territórios do papa em 1496 no Tratado de 
Tordesilhas. Os ingleses então contrataram piratas, chamados de corsários para atacar 
e saquear as terras portuguesas e espanholas, mas somente no século XVII os ingleses 
conseguiram se estabelecer na América fundando a Nova Inglaterra. 
O grande marco para a colonização da Nova Inglaterra foi a chegada de calvinistas 
em 1620 a bordo do navio Mayflower. Queriam exercer sua liberdade religiosa e ao che-
garem ali, esses calvinistas puritanos, afirmaram ter chegado na “terra prometida”. Foram 
chamados de pais peregrinos. 
A ocupação dos Estados Unidos é recheada de mitos que supervalorizam os colo-
nizadores, mas essa história é marcada pela violência contra os nativos e, nesse aspecto, 
nada se diferencia de Portugal e Espanha. A população indígena foi dizimada. Usaram armas 
de fogo, alimentaram seu etnocentrismo e impuseram sua cultura através da evangelização 
dos nativos. Apesar da resistência dos nativos, não tinham como vencer os invasores com 
armas bem menos tecnológicas. 
18UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
As colônias contavam com bastante liberdade econômica, o que era incomum para 
o momento histórico. O Brasil, por exemplo, podia comercializar apenas com Portugal. As 
Treze Colônias mantinham um grande comércio com as Antilhas e África, o que enriqueceu 
os colonos. Escravizados, melaço, rum, trigo, tecido e peixes eram os principais produtos. 
As coisas só iriam mudar quando a Inglaterra, após uma guerra de sete anos com a Fran-
ça, precisando de mais riquezas para recuperar sua economia, decide limitar a liberdade 
econômica e aumentar os impostos dos colonos. 
Apesar das características particulares, as colonizações portuguesa, espanhola e 
inglesa foram traumáticas para os povos nativos, que viram seu território sendo invadido, 
destruído tomado e seus irmãos sendo assassinados de diversas formas, sua cultura ani-
quilada e substituída pela dos invasores e ainda tiveram que conviver com a informação 
equívoca que este território foi descoberto, como se quem morasse aqui nada fosse. 
A colonização da América acelerou o processo de construção de uma civilização 
na América, mas civilizações também já existiam nesse continente, como astecas, maias 
e incas. Não saberemos quais rumos os vários povos que viviam aqui tomariam, pois, a 
história de seus agrupamentos humanos e civilizações foi interrompida de forma abrupta. 
19UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
3. O CHOQUE CULTURAL
O Descobrimento da América. O próprio termo correntemente usado para a chega-
da de Colombo à América, “descobrimento” demonstra o que é o choque cultural entre eu-
ropeus e ameríndios. Descobrimento, choque, cultura, são conceitos controversos quando 
se trata da discussão dos encontros culturais entre povos da Europa e nativos da América. 
A historiografia contemporânea costuma evitar o termo “descobrimento”, pois não 
se descobre uma terra habitada. Somente poderíamos nomear descobrimento caso o 
território estivesse desabitado. O território americano já estava habitado por populações 
indígenas e civilizações como incas, maias e astecas, portanto, estes povos nativos são 
os verdadeiros descobridores da América. A postura do europeu de se autoconsiderar o 
descobridor é fruto de uma postura imperialista, que considera os outros como inexistentes, 
estranhos, desconhecidos.
O encontro entre essas duas culturas desde o início foi marcado pelo estranha-
mento, pois a cultura europeia, como milhares anos de história, se deparava com uma 
outra cultura que mesclava civilizações com escrita desenvolvida e registros histórico a 
outras que ainda não haviam se sedentarizado, constituído cidades e desenvolvido escrita. 
E, até mesmo o povo que aqui morava foi confundido com outro povo, o da índia, por isso 
Colombo e seus marinheiros os chamaram de índios. 
20UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
Ao dar aos nativos destas terras o nome “índio”, independente de ser um equívoco 
ou não, mostra como esses povos foram generalizados como um só. Desprezaram suas 
diferenças étnicas, seus idiomas, seus costumes e religiões. O termo “índio” auxiliava no 
tratamento genérico destes povos e no desprezo de suas culturas.
O próprio objetivo da colonização também representa diversos choques entre essas 
duas culturas. A economia europeia mesclava um feudalismo em crise com uma atividade 
comercial crescente. Quando se instalaram nas américas procuraram nestas terras formas 
de explorar as riquezas naturais, como madeira, minérios preciosos e terra fértil para o 
plantio. Para parte da população nativa essas atividades econômicas não faziam sentido, 
pois viviam como caçadores e coletores, não viam nada de valor no ouro e tão pouco se 
consideravam proprietários da terra, muitas tribos nem mesmo tinham em seus idiomas os 
termos “meu” e “seu”.
Um caso famoso das diferenças culturais entre europeus e nativos é a carta do ca-
cique Seattle (1786-1866) ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce (1804-1869). 
O presidente teria feito uma oferta de compra de parte das terras dos povos suquamish e 
duwamish ao qual Seattle teria respondido:
É possível comprar ou vender o céu e o calor da terra? Tal Idéia é estranha 
para nós. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como podem 
comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrada para o meu povo. Cada ramo 
brilhante de um pinheiro, cada areia da prata, cada bruma nas densas flores-
tas, cada clareira e cada inseto a zumbir são sagrados na memória do meu 
povo. A seiva que corre através das árvores carrega as memórias do homem 
vermelho [...]. Somos parte da terra e ela é parte de nós [...], Deste modo, quan-
do o grande Chefe manda dizer que quer comprar nossa terra, ele pede muito 
de nós [...]. Consideraremos sua oferta de comprar nossa terra. Mas não será 
fácil, pois esta terra é sagrada para nós (CATANI, 1988, p. 06).
A terra para os povos nativos era algo que fazia parte do próprio povo, ao contrá-
rio dos europeus, que viam a terra como mercadoria, ideia fortalecida por esses países 
pelo feudalismo que perdurou por centenas de anos no velho continente. Os indígenas 
mantinham uma relação afetiva com a terra que lhes proporcionava sua subsistência. Con-
sideram a terra como a terra mãe e que está, como mãe afetuosa, fornece alimentos para 
sobrevivência e por isso estão sempre dispostos a lutar por ela. Os nativos construíram sua 
própria forma de passar o conhecimento sobre a terra de geração a geração. A religiosidade 
indígena também está ligada à adoração à mãe terra, assim suas próprias identidades 
estão ligadas à terra.
Além disso, é importante lembrar que tanto europeus quanto nativos das Américas 
eram diferentes. Não podemos homogeneizar a cultura europeia acreditando que eram 
todos iguais. Portugueses e espanhóis, apesar de vizinhos, católicos e monárquicos, não 
21UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
compartilhavam diversos costumes, práticas, leis, idioma, etc. Apesar destas diferenças 
ambos colonizaram a América com práticas semelhantes que envolvia o genocídio humano 
e cultural indígena.
Os invasores chegaram a essas terras para explorar e não para catequizar. A catequi-
zação dos indígenas foi o segundo passo da colonização e também foimarcada pela violência, 
sobretudo cultural. Conforme já citado no tópico anterior: “Nela, até agora, não pudemos saber 
que haja ouro, nem prata [...]. Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será 
salvar esta gente.” (CORTESÃO: 1943, p. 7). Essa frase de Caminha em 1500 nas terras onde 
hoje é o Brasil apresenta a prioridade colonizadora: a busca por riquezas.
Os relatos são inúmeros da violência colonizadora e o que, durante muito tempo, 
justificou a violência foi a crença que o indígena não tinha alma e, portanto, não era huma-
no. Até mesmo a humanidade foi rejeitada a esses povos, e quem decidiu se eles tinham 
ou não alma foi papa Paulo III (1468-1549) em 1537, que após longas disputas sobre o 
tema, escreveu uma bula papal com o objetivo de encerrar a discussão. O intrigante é que 
precisou o principal líder religioso cristão escrever um documento afirmando a humanidade 
dos nativos para que muitos pudessem concordar. Hoje nos soa absurdo pensar que a 
humanidade indígena foi decidida com uma assinatura.
Os europeus não compreendiam a forma com que os nativos desdenharam aquilo 
que era valioso para eles. O ouro e a prata não eram valorizados pela maioria dos povos. 
A madeira como o pau-brasil não tinha muita importância para o modo de vida desses 
agrupamentos. Eles, ainda no período pré-colonial no Brasil, preferiram espelhos, tecidos 
e álcool, no qual acreditavam ser água que pegava fogo. Para os indígenas as riquezas 
naturais da terra era presente da mãe terra para os humanos. Viviam em sintonia com ela e 
não viam como fonte de riquezas extraordinárias, como viam os europeus. O igualitarismo 
era a prática social dos nativos e não a acumulação, como acontecia com os europeus. 
Com a certeza de que essas terras eram demasiadamente abundantes e valiosas, 
espanhóis e portugueses se instalaram aqui e logo, iniciaram também o processo de cate-
quização desses povos. Os responsáveis foram os padres da Companhia de Jesus. Esses 
missionários aprenderam os idiomas nativos, não porque os valorizavam, mas para que 
pudessem ensinar a eles a fé cristã. 
Assim que iam aprendendo os idiomas, iniciavam o processo de catequização que 
envolvia também ensinar o português para os indígenas, no caso da colonização brasileira. 
A língua portuguesa era considerada a língua cristã, por isso o empenho no ensino da 
língua. Desta forma, a cultura indígena, era considerada inferior por não ser cristã. 
22UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
Da mesma forma, evidentemente, as divindades indígenas foram fortemente ataca-
das e associadas a demônios. O choque cultural dessas informações dadas aos indígenas 
também trouxe consequências psicológicas, pois muitos ao se depararem com a figura 
do diabo, inicialmente não entendiam, depois assimilam e se amedrontavam. As diversas 
etnias indígenas não possuíam uma ideia de diabo, não tinham a ideia de um personagem 
representante do mal. Acreditam que as divindades poderiam ser responsáveis pelo bem 
e o mal e por isso tentavam aplacar sua ira através de sacrifícios e oferendas. Portanto, a 
ideia de diabo despertou um novo temor desses povos.
A ideia de inferno foi a que mais assustou os integrantes dessas etnias. A crença 
em um lugar de punição em fogo, onde todos aqueles que não seguissem o verdadeiro 
deus, Jesus, pudessem ser punidos eternamente, era aterrorizante. Os indígenas se con-
verteram com medo do lugar de punição eterna. Mas mesmo convertidos, o termo deste 
lugar permanecia a tal ponto que muitos deles se deprimiram e alguns cometiam suicídio. 
Definitivamente os europeus não compreenderam os componentes culturais dos 
povos ameríndios. Até mesmo as escritas maias e astecas foram incendiadas, pois acredi-
taram ser rituais demoníacos escritos ali. 
A relação entre esses povos envolveu, incompreensão, etnocentrismo, xenofobia 
e ignorância. Quase não se dava espaço para entendimentos entre eles. Os indígenas 
resistiram à colonização também com violência. Capturavam os invasores e os matavam. 
A reação indígena foi marcada por violência tão grande quanto a dos europeus. O que os 
diferencia não é a violência física, mas sim, a posição em que esses dois povos estavam, 
um era o invasor, o outro o invadido. Um possuía a fé “correta”, o outro a “demoníaca”. Um 
tinha pistolas e canhões, o outro, no máximo, espadas de bronze. Foi uma luta desleal e 
saiu vencedor o que possuíam a maior tecnologia de guerra. O conquistador impôs sua 
cultura, fé e idiomas, o outro teve seu território, crença e língua tirados de si. 
É impossível ver a história da colonização sem se atentar às diferenças étnicas e 
choques culturais, desde atitudes inocentes, como as dos indígenas tocando a pele dos 
europeus pensando que estavam doentes, pois estavam pálidos ou ainda pensando que as 
caravelas eram montanhas flutuantes até o catapultamento de corpos infectados com gripe 
para dentro das tribos para a infecção e morte dos nativos. Tudo isso representa como o 
choque cultural é antes de mais nada, intolerante. 
Hoje, após cerca de 200 anos que a maioria das colônias conseguiram sua 
independência, os povos nativos ainda sofrem com o preconceito étnico. A alcunha de 
preguiçoso ainda os persegue. A crença esdrúxula que os indígenas que mantêm contato 
com os povos das cidades deixa de ser índio é grande. A rejeição à identidade dos povos 
reduzindo-os a índios ainda é comum. A invasão de terras e assasinato de índios ainda 
persiste. O genocídio indígena nunca deixou de acontecer. 
23UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
4. A ESCRAVIZAÇÃO NAS AMÉRICAS
Quem vir na escuridade da noite aquelas fornalhas tremendas perpetuamen-
te ardentes, o ruído das rodas, das cadeias, da gente toda da cor da mesma 
noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mesmo tempo sem mo-
mento de tréguas, nem de descanso; quem vir enfim toda a máquina e apa-
rato confuso e estrondoso daquela Babilônia, não poderá duvidar, ainda que 
tenha visto Etnas e Vesúvios, que é uma semelhança de inferno. (SCHWAR-
CZ e STARLING, 2015, p. 83).
“Gente toda da mesma cor da noite” (SCHWARCZ e STARLING: 2015, p. 83) afir-
ma o Padre Antônio Vieira (1608-1697) sobre o trabalho dos escravizados africanos nas 
fornalhas dentro dos engenhos de açúcar “naquelas fornalhas perpetuamente ardentes”. 
A paritr desse treco de Vieira podemos comprender a escravidão no Brasil. Portanto, a 
análise da escravidão no Brasil parte da investigação da esconomia brasileira entre os 
séculos XVI e XIX.
Para ocupar o território, portugueses e espanhóis deveriam estabelecer atividades 
econômicas lucrativas para que o interesse dos investidores se voltasse para as Américas. 
O açúcar foi a atividade escolhida pelos portugueses para a colônia brasileira.
O açúcar foi produzido na colônia e exportado para a europa, pois era valorizado no 
mercado europeu; possuía um solo apropriado para o cultivo da cana-de-açúcar; e os portu-
gueses já tinham experiência com o plantio da cana nas ilhas Açores, Cabo Verde e Madeira. 
Com as condições necessárias, iniciou, entre os anos 1540 e 1560 a estrutura da 
produção do açúcar, sobretudo nas regiões onde hoje estão Bahia e Pernambuco e ali se 
instalaram os engenhos no Brasil. O engenho era uma grande roda usada para moer cana
24UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
 e fabricar açúcar. Com o tempo a importância do engenho era tanta que o nome passou 
a ser usado para todo o complexo produtivo que envolvia o açúcar, desde o plantio até a 
senzala, onde ficavam os trabalhadores escravizados vindos da África. 
Os africanos eram comprados ou capturados na África e trazidos para as américas 
para exercerem o trabalho escravo. No continente africano já existia escravidão, mas esta 
não era motivada por fatores raciais. Os escravizados dentro da África eram, na maioria 
das vezes, prisioneiros de guerra, alguns poucos, pessoas endividadas. Quem inaugura a 
escravidãoetnica são portugueses e espanhóis.
Os primeiros africanos foram trazidos para o Novo Mundo, como era chamada a 
América, ainda no século XVI. Portugal e Espanha tentaram escravizar os indígenas, mas 
aos poucos iam desistindo dessa ideia, pois os nativos, ao conhecer o território e como 
sobreviver nele, escapavam e dificilmente eram encontrados. Além da resistência indígena 
ser motivada pelo choque cultural. Os indígenas não entendiam porque os portugueses 
se estendiam horas em atividades produtivas, pois aos indígenas o trabalho era voltado 
unicamente para sua subsistência diária, isto é, trabalhava-se no momento em que tinham 
que caçar, coletar ou pescar.
Os indígenas foram escravizados durante muito tempo e somente no século XVII 
a prática foi proibida no país. Os reis europeus não seguiram a bula papal que proibia 
escravização desses povos e continuaram o que chamaram de Guerra Justa, pois, ao 
escravizarem os nativos realizavam o processo de catequização. 
Os padres jesuítas eram avessos à escravidão dos indígenas no Brasil e fugiam 
com o máximo de nativos possíveis para o interior do país e ali fundavam suas missões. 
Muitas dessas missões eram invadidas e os indígenas capturados e escravizados.
Os reis perceberam que a tentativa de escravização dos povos ameríndios gerava 
mais prejuízo que lucro e iniciaram o comércio de escravizados com a África. Iam até 
os portos africanos, nos mercados de escravos, compravam a “peça” e traziam ao novo 
continente dentro dos navios negreiros, também chamados de tumbeiros. 
Ao chamar o africano de “peça” fica perceptível a negação da humanidade daquele 
povo. Eram reduzidos à condição de mercadoria. O ser humano na escravidão é objetifica-
do, tratado como um simples objeto usado para fins particulares. Essa lógica de desuma-
nização do humano foi responsável pela escravidão, assassinatos, violência sexual, etc., 
durante 350 anos nas Américas.
25UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
A citação do Padre Antônio Vieira presente no início desta discussão mostra como 
o trabalho nas fornalhas era desgastante. Durante a época da colheita trabalhavam até 16 
horas por dia sem espaço para descanso e não somente nas fornalhas, mas também em 
todas as outras atividades do engenho. A fornalha era o lugar onde o trabalho era mais 
árduo, devido à exposição a alta temperatura por horas a fio. 
A expectativa de vida de um escravizado nos engenhos era de 25 anos. A vida de 
um trabalhador escravizado só existia para esse fim. Além da liberdade de ir e vir, também 
era-lhes tirado o direito a escolhas, a amar, a viver. Famílias eram separadas no mercado 
de escravos para servir a algum senhor em um continente desconhecido. 
Desde os tumbeiros o sofrimento era apresentado aos escravos. Dentro dos navios 
eram colocados em porões e transportados em um local escuro aos montes com pouco 
espaço. Um lugar ideal para a transmissão de doenças. Muitos morriam infectados por 
alguma doença. Pelo menos um terço dos africanos transportados nos tumbeiros morria 
antes de chegar ao seu destino.
Na colônia experimentam a humilhação de serem tratados como peças, como mer-
cadorias no mercado de escravos. Ao serem vendidos, alguns viviam a violência de serem 
separados de seus maridos, esposas e filhos. Uma vez estabelecidos em seus lugares 
de trabalho, que poderia ser um engenho ou nas cidades, presenciaram todos os dias 
violências diversas que poderiam ser violência física, verbal, sexual e moral. 
Era muito comum entre os senhores o estupro de escravas, inclusive muitas delas 
engravidavam de seus senhores. A criança nasceria e viveria como uma escravizada tam-
bém. Surgiria como fruto dessa violência as chamadas “mulatas”. Gilberto Freyre (2006) 
escreveu que a beleza da mulher mulata se tornou objeto de inveja da mulher branca que 
investiu esforços para minimizar a mulher mulata, escravas ou livres, afirmando que eram 
tomadas pela perversão sexual e assim surge frases estereotipadas e preconceituosas.
No Brasil os senhores de engenho perceberam rapidamente que o excesso de 
violência física estimulava a revolta e fugas dos cativos. Assim, logo adotaram uma forma 
que envolvia menos violência física e a substituíram por outras formas de violência, como 
prisões e humilhações. Isso não tornou a escravidão no Brasil menos violenta, apenas 
mudou a forma de violentar. 
A senzala se tornou símbolo da vida escrava. Ali era a moradia dos escravizados. 
Não tinham casa para se abrigar e eram obrigados a morar em lugares fechados, escuros 
e dormiam todos acorrentados no chão de terra. Muitas senzalas estavam embaixo das 
casas grandes, outras separadas em prédios vizinhos. 
26UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
Na América espanhola a escravidão se assemelha em muitos pontos à do Brasil, 
mas ao contrário dos portugueses, a principal atividade econômica nas colonias da Espanha 
era a mineração, isto porque, desde o início da colonização espanhola encontraram ouro, 
coisa que os portugueses demorariam duas centenas de anos para encontrar. 
Bartolomé de Las Casas (1484-1566), frei espanhol, realizou discussões teológicas 
importantes com o padre Juan Ginés de Sepúlveda (1489-1573), em defesa dos indígenas, 
mas ao defendê-los chegou a sugerir que substituíssem os indígenas por africanos no 
trabalho escravo. Apesar da quantidade de escravizados pela Espanha ser menor que a 
de Portugal, também tinham as mesmas preocupações, inclusive com as fugas. Também 
tinham métodos semelhantes de controle, isto é, o uso da violência.
Nos Estados Unidos, ao contrário de Portugal e Espanha, estimulavam a união 
entre os escravizados para que gerassem filhos e pudessem diminuir sua dependência do 
tráfico negreiro. Os escravizados eram concentrados no Sul, uma vez que no Norte usavam 
o trabalho livre assalariado. 
No Sul das Treze Colônias inglesas na América do Norte prosperou o trabalho 
escravo, pois o clima era quente e mais adequado para o plantio. Com uma economia 
baseada em grandes latifúndios, a força de trabalho escolhida logo foi a escravizada. Os 
africanos, como nos demais territórios do continente, sofriam todo tipo de violência.
A França, apesar de ter poucas colônias nas américas, também utilizou o trabalho 
escravo. O caso mais conhecido é o do Haiti, que de tanto lucro dava aos franceses foi cha-
mada de “pérola das Antilhas”. A prática escravista no Haiti que além dos castigos físicos 
também expunha os escravizados até mesmo a humilhações públicas, como a permissão 
para que visitantes atirassem laranjas nos cativos. 
No fim do século XVIII o país tinha uma população de cerca de 490 mil pessoas, 
sendo 40 mil franceses e 450 mil cativos. Em 1791 iniciou a Revolução Haitiana em que 
os escravizados se rebelaram contra os franceses. Aos poucos os cativos que ouviam da 
rebelião se rebelavam também e em poucas semanas já eram mais de 100 mil escravos 
rebelados contra a França. Isso acontecia enquanto a França passava pela Revolução 
Francesa, um processo revolucionário que colocava a burguesia no poder com ideais ilumi-
nistas de igualdade, liberdade e fraternidade. Os escravos lutavam pelo fim da escravidão 
e os negros libertos por direitos iguais com os brancos. Com a Revolução Haitiana, o Haiti 
se tornou o primeiro país das américas a libertar seus escravos.
27UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
O ato de rejeitar a escravidão e lutar por seus direitos não foi exclusivo do Haiti. O 
africano escravizado nunca aceitou essa condição para si. Pelo contrário, até a abolição da 
escravidão nos territórios americanos, esses cativos lutaram de diversas formas para alcançar 
sua liberdade. A resistência dos africanos e de seus descendentes que nasceram na condição 
de escravos eram diversas. Uns queimaram as plantações, como forma de frear o trabalho 
interminável e gerar prejuízos aos seus senhores. Outros, boicotarama produção através 
da quebra do engenho. A fuga era uma das maneiras mais comuns de resistir à escravidão. 
Esses cativos fugidos procuravam vilas formadas por escravos em fuga para se protegerem, 
eram as concentrações quilombolas. Também resistiam revidando a violência dos capatazes, 
que seguravam o chicote, com mais violência. É nesse contexto de resistência que os escra-
vizados no Brasil criaram a capoeira, um tipo de luta que surgiu nos engenhos para revidar 
a agressão física que sofriam. Em alguns casos, a resistência chegava a extremos como o 
suicídio, pois para alguns a morte era menos infeliz que a vida de escravo.
Toda a história da escravização de africanos nas américas é marcada por muito 
sangue e sofrimento. A dominação branca com o uso da escravidão terminou no século 
XIX, sendo o Brasil o último país do mundo a abolir a escravidão. Entretanto, mesmo liber-
tos continuaram sendo segregados no continente. Nos Estados Unidos criaram leis que 
separavam a população branca da afroamericana. No Brasil, apesar das leis não citarem 
a exclusão da população preta do país, elas os excluíam de outras formas. Durante a 
República Velha do Brasil (1889 - 1930) não havia direito ao voto para analfabetos, assim, 
os escravizados que haviam se libertado em 1888, com a Lei Áurea, não podiam votar e os 
poucos escolarizados tinham que submeter ao voto aberto com pistoleiros dos fazendeiros 
próximos às urnas sofrendo intimidação para que votassem em quem o coronel ordenou. 
Hoje, Brasil, países de colonização espanhola e Estados Unidos convivem com o 
legado da escravização, o racismo estrutural e o racismo institucional. As práticas racistas 
presentes em piadas e brincadeiras, aparentemente inocentes, nos apresentam como este 
sentimento racial ainda está presente em toda a estrutura social. Muitas empresas, escolas, 
igrejas e outras instituições ainda resistem ao penteado estilo black e às manifestações re-
ligiosas de matriz africana, demonstrando que o racismo institucional também permanece. 
Para além disso, muitas conquistas legais contra o racismo foram alcançadas nas améri-
cas. A escravidão nunca deveria ter acontecido, mas ocorreu, e uma vez que é impossível 
apagar essa marca da história é necessário compreendê-la e lutar pela erradição de seu 
maior legado: o racismo. 
28UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
SAIBA MAIS
O choque cultural entre ameríndios e europeus se deu desde o momento em que os 
indígenas avistaram as caravelas ao longe no horizonte e conforme chegavam perto 
imaginavam ser montanhas flutuantes. A pele pálida dos europeus os fez imaginar que 
estavam doentes e os cavalos os fez crer que eram bestas de duas cabeças. Já os eu-
ropeus se impressionaram com a nudez dos indígenas, também com suas peles verme-
lhas e repleta de pinturas e as aves falantes, os papagaios, creram ser fruto de algum 
tipo de feitiçaria. O choque cultural no primeiro momento foi marcado pelo espanto, pela 
estranheza natural quando se vê algo jamais visto. Europeu e tupis foram pacíficos uns 
com os outros na costa brasileira em abril de 1500. Mas o choque cultural, infelizmente, 
não se limitou a atos pacíficos.
Fonte: IGLÉSIAS, F. Encontro de duas culturas: América e Europa. Estudos Avançados, Sevilha, v. 6, n. 
14, p. 23-37, 1992.
REFLITA 
“Quando o europeu chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português”
ANDRADE. Oswald de. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1972.
29UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a análise da primeira unidade verificamos que o continente americano 
possuía uma enorme riqueza cultural distribuída entre grupos tribais e civilizações. Povos, 
línguas, nações se desenvolveram aqui com suas próprias formas de agir e pensar. As ci-
vilizações ora construíram cidades-Estado, ora impérios centralizados, estruturas de poder 
que existiam em outras partes do mundo, portanto, esses povos possuíam semelhanças 
com europeus. As cidades grandes e organizadas eram bem planejadas. O domínio de 
matemática, engenharia e astronomia era vasto. As formas de driblar as dificuldades de 
sobrevivência eram criativas e iam desde as chinampas mexicas (astecas) até os terraços 
nas montanhas incas. Aqui apresentamos a grandiosidade da América pré-colombiana.
Quando os europeus chegaram na América iniciaram o seu processo de coloni-
zação. Espanha e Portugal adotaram formas diferentes de colonização, com estruturas 
hierárquicas diferentes, porém, ambas desenvolveram colônias de exploração que levaram 
as riquezas de suas colônias para a Europa durante trezentos anos. Já a Inglaterra, nas 
Treze Colônias, sem encontrar riquezas naturais, decidiu construir uma colônia de ocupa-
ção colonizada por religiosos fugidos da Inglaterra e esse modelo de colonização auxiliou 
os Estados Unidos a se desenvolverem mais rapidamente que as colônias de exploração. 
Em outras palavras, vimos que o passado colonial das américas ainda influencia o presente 
dos países que aqui estão.
Ainda verificamos nessa unidade que a colonização não foi pacífica, mas sim, mar-
cada por mortes, doenças, guerras, genocídios, etc. O estranhamento entre ameríndios e 
europeus foi pacífico durante o primeiro contato para logo após ser marcado por guerras de 
conquistas europeias que, além de dizimar a população, também dizimou a sua cultura. O 
amplo arsenal cultural indígenas foi destruído porque os padres católicos acreditavam ser 
coisas do demônio. Portanto, percebemos que hoje existem poucos indígenas no continen-
te e pouco sabemos de suas culturas porque no passado os mesmos foram massacrados 
durante a colonização.
A colonização foi sustentada através da mão de obra escravizada, primeiro a dos 
indígenas e depois a dos africanos. O indígena foi substituído, gradativamente, pelos 
africanos porque conheciam o território e tinham maiores possibilidades de fugirem e difi-
30UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
cilmente eram recapturados. Os africanos também eram estranhos no continente, tal qual 
os europeus, e mais facilmente eram capturados quando fugiam. O africano no Brasil, além 
de sofrer com o trabalho compulsório foi submetido aos mais variados tipos de maus tratos, 
físicos e psicológicos. Desta forma, verificamos que a construção da América só foi possível 
graças ao trabalho escravizado de indígenas e africanos.
31UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
LEITURA COMPLEMENTAR
MATTOSO. K. M. Q. Ser escravo no Brasil: séculos XVI-XIX. Curitiba: Editora 
Vozes, 2016. 
32UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: As veias abertas da América Latina
Autor: Eduardo Galeano.
Editora: L&PM.
Sinopse: Remontando a 1970, sua primeira edição, atualizada 
em 1977, quando a maioria dos países do continente padecia 
facinorosas ditaduras, este livro tornou-se um ‘clássico libertário’, 
um inventário da dependência e da vassalagem de que a América 
Latina tem sido vítima, desde que nela aportaram os europeus 
no final do século XV. No começo, espanhóis e portugueses. 
Depois vieram ingleses, holandeses, franceses, modernamente 
os norte-americanos, e o ancestral cenário permanece - a mesma 
submissão, a mesma miséria, a mesma espoliação.
FILME / VÍDEO
Título: Apocalypto
Ano: 2006.
Sinopse: No fim da civilização maia, sacrifícios humanos se tornam 
cada vez mais frequentes, na tentativa de aplacar a ira dos deuses. 
Um jovem guerreiro é capturado e, num ímpeto de bravura, em-
preende uma incrível fuga para salvar a mulher grávida e o filho.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=YhCByMDkBEE
33
Plano de Estudo:
● A importância de Simón Bolívar para a independência da América Latina;
● Revolução Mexicana;
● Revolução Cubana;
● Revolução Sandinista.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conhecera figura de Simón Bolívar e sua importância 
para a independência da América Latina;
● Compreender os antecedentes e o processo da Revolução no México;
● Entender como era Cuba antes da Revolução e como ocorreu o processo 
revolucionário e sua opção pelo socialismo;
● Compreender a Nicarágua pré revolução, conhecer a importância 
de Sandino e entender o processo revolucionário.
UNIDADE II
Os Processos de Independência
Latinoamericanas
Professor Esp. Paulino Augusto Peres
34UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 34UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
INTRODUÇÃO
Uma vez colonizada a América latina passa a resistir de diversas formas à coloni-
zação e inicia em vários momentos movimentos de resistência e lutas por libertação. Nesta 
unidade estudaremos um pouco sobre essas lutas.
Na América do Sul se destacou a liderança de Simón Bolívar (1783-1830) e o surgi-
mento do fenômeno político chamado bolivarianismo, que nada tem a ver com esquerda ou 
direita, mas sim, um movimento de libertação. O surgimento de alguns países da América 
do Sul se deu graças a essa liderança, como Venezuela, Colômbia, Equador e Peru.
Também estudaremos a revolução do México onde lideranças como Emiliano 
Zapata (1879-1919) e Pancho Villa (1878-1923) se destacaram na luta contra um governo 
local ligado às elites que tratava com indiferença a fome do povo. Os descontentamentos 
da população do campo e cidade se uniram e lançaram as bases da Revolução Mexicana.
 Em Cuba, também houve muita pobreza a políticos ligados às elites locais e aos 
Estados Unidos. A pobreza levou o povo a se unir à guerra de guerrilha liderada por Fidel 
Castro (1926-2016) e Ernesto Guevara (1928-1967) o que fortaleceu os guerrilheiros e 
abriu as portas para a Revolução Cubana que tornaria Cuba um país socialista.
Outro país que também sofreu muito com a intervenção estadunidense foi a Nicará-
gua onde a figura de Augusto César Sandino (1895-1934) se tornou mitológica, pois mesmo 
após décadas de sua morte, seu nome foi e ainda é utilizado politicamente no país como 
sinônimo de libertação. 
35UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 35UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
1. A IMPORTÂNCIA DE SIMÓN BOLÍVAR PARA A INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA LATINA
A história da América Latina se confunde com a história de Simon Bolívar (1783-
1830). Influenciado pelos ideais iluministas foi um defensor da descolonização das améri-
cas. Lutou contra os espanhóis e é responsável pela independência de Colômbia, Equador, 
Venezuela, Bolívia e Peru. Como um dos libertadores da América, seu nome é um dos 
grandes nas lutas pela independência no continente. 
As ideias iluministas de liberdade se espalharam da Europa para o mundo, sobretu-
do em regiões como a América, onde a colonização tirava a liberdade política e econômica 
dos territórios sob domínio europeu, além de liberdades individuais dos mais pobres e 
escravizados. Sob a influência iluminista vários grupos de resistência à colonização espa-
nhola surgiam na América espanhola e alguns líderes se destacavam, como José de San 
Martín (1778-1850), Miguel Hidalgo (1753-1811) e Simón Bolívar (1783-1830). 
Bolívar nasceu em Caracas em 1783 na Capitania-geral da Venezuela e mesmo 
sendo de uma família aristocrata que fez fortuna com mineração teve influências ilumi-
nistas na própria Venezuela e também na Europa. Pertencia à elite criolla venezuelana, 
descendentes de espanhóis nascidos na América. Em 1799 viaja para a Espanha e retorna 
à Venezuela apenas em 1807. Chegando em Caracas percebe a agitação revolucionária, 
onde alguns grupos já se insurgiram contra o Rei da Espanha e a colonização. Bolívar era 
um adepto da libertação das Américas e, até mesmo, havia feito uma promessa em Roma 
de libertação da América espanhola. 
36UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 36UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Os movimentos de separação na América espanhola ganharam força com o enfra-
quecimento da Coroa após a invasão francesa no território espanhol. Napoleão (1769-1821) 
havia decretado em toda a Europa o bloqueio continental, que, em suma era, a tentativa 
de tornar a França potência econômica hegemônica no continente, proibindo os países do 
continente a realizarem comércio com a Inglaterra, que era a maior economia do mundo da 
época e se destacava por ser o país berço da Revolução Industrial. A França, uma vez que 
não conseguiu invadir a insular Inglaterra, tentava enfraquecer sua economia. 
Como a Espanha não respeita o Bloqueio napoleônico é invadida em 1808 pelos 
franceses. O Rei espanhol, Fernando VII (1784-1833) é deposto e substituído pelo irmão 
de Napoleão, José Bonaparte (1768-1844). A invasão e deposição do Rei enfraqueceu a 
Coroa espanhola o que reflete diretamente em suas colônias na América. 
Em seu retorno à Capitania Geral da Venezuela estava decidido sobre a libertação 
da América do domínio espanhol e logo integrou grupos de resistência contra a coloniza-
ção. As lutas de resistência contra a Coroa espanhola não eram novidade na América, 
elas existiam há séculos e eram realizadas por indígenas, escravos e até mesmo criollos 
insatisfeitos com a monarquia da Espanha. 
Na segunda metade do século XVIII já era possível perceber nas colônias espa-
nholas organismo nacionais, apesar de continuarem submissas à Espanha, havia certa 
autonomia dos municípios e o aumento do poder dos vice-reis o que impulsionava essa 
autonomia política. Não apenas a política, mas a autonomia econômica também, pois no 
século XVIII a Espanha tentava reerguer sua economia e para isso concedeu relativa liber-
dade comercial às colônias americanas. Os lucros, sobretudo da elite criolla, cresceram e 
não iriam aceitar retrocessos nessa política econômica. Um passo importante estava dado 
para a emancipação da américa espanhola. 
No início do século XIX ocorria também a Revolução Industrial inglesa que mudou a 
forma de pensar a economia europeia e mundial. Com o advento da indústria da Inglaterra e 
a ascensão da burguesia o pacto colonial se tornou um grande entrave econômico para os 
burgueses, pois limitava a liberdade econômica de povos de fora da Europa. A Inglaterra só 
poderia comercializar com as colônias se houvesse autorização de suas metrópoles euro-
peias. Esses limites ao comércio inglês aumentam com a rivalidade francesa operacionada 
por Napoleão que cria o bloqueio econômico e impede as nações europeias de comprarem 
ou venderem produtos britânicos. Para enfraquecer a França e as demais metrópoles e 
derrubar o pacto colonial, a Inglaterra passa a apoiar as lutas por independência nas co-
lônias de seus rivais, sendo assim, existiu apoio inglês a Bolívar para a independência da 
Capitania-Geral da Venezuela e Vice-reinado da Nova Granada.
37UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 37UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Somado a isso, a substituição da família real de Bourbon do trono francês por José 
Bonaparte em 1808, representou uma desobrigação dos colonos a respeitarem o novo Rei 
o que gerou ainda mais insubordinação nas colônias. 
Esses fatores unidos iam gerando coragem nos colonos. Existiram no século XVII 
as cimarronaje, que eram as lutas de escravos fugitivos que buscavam sua liberdade. Em 
1795 o movimento insurrecional de Chirino se tornou um dos primeiros grandes movimentos 
de levante contra a Coroa, liderados por José Leonardo Chirino (1754-1796). Outro líder 
importante foi Francisco de Miranda (1750-1816) que queria criar uma grande nação entre 
os colonos. Participou da Revolução Americana e Francesa, tinha conhecimento de guerra 
e habilidade política, e assim aproveitou a insatisfação das colônias e a fraqueza da Coroa 
espanhola com as guerras napoleônicas para, em 1810, para expulsar representantes do 
Rei e lançar as bases para a futura independênciada Venezuela.
É durante essa luta para consolidar a independência que aparece a figura de Simón 
Bolívar como líder para o futuro sulamericano. A República instaurada por Miranda logo foi 
derrubada. Bolívar e os revolucionários fogem para não serem capturados e reorganizar 
a revolução. Bolívar, também influenciado pela Revolução Haitiana, uma revolução de 
escravos por sua liberdade e independência, propõe uma revolução na América espanhola 
unindo todas as classes sociais e abolindo a escravidão.
As forças patrióticas organizadas por Bolívar iniciam a Campanha Admirável para 
vencer as tropas da Coroa e iniciarem uma nova República. Em agosto de 1813 vencem 
a guerra e entram em Caracas instaurando a Segunda República. Bolívar recebe o título 
de O Libertador. A reação dos contrários à independência com a Espanha iria novamente 
derrotar os patriotas e dar fim a esta segunda república.
Bolívar irá restaurar a república uma terceira vez. Sua liderança política e militar 
para unir os grupos patriotas foi fundamental. Após se unir aos republicanos de Granada 
em 1819 e incorporar o Equador posteriormente formando a Grande Colômbia. Alguns anos 
após esses países se dividiram e surgem Colômbia, Venezuela e Equador, somente depois 
surgiria o Panamá que se separaria da Colômbia. 
Desde as vitórias de Simon Bolívar em Carabobo e José de Sucre (1795-1830) em 
Ayacucho, Bolívar viu seu sonho se realizando, isto é, uma grande nação unindo povos 
independentes do domínio espanhol. Mas esse sonho duraria pouco. A Grande Colômbia 
resistiu por 11 anos (1819-1930) e era o sonho de Bolívar que queria unificar os povos da 
américa espanhola. Apesar da Grande Colômbia não ter resistido às disputas regionalistas, 
a independência dos povos da América espanhola se concretizou. Uma a uma, várias na-
ções independentes foram surgindo do México até Argentina e Chile. 
38UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 38UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Em 1830, o último ano da Grande Colômbia, Sucre é assassinado quando retornava 
de Quito no mês de junho e em dezembro Bolívar não resiste à tuberculose. A morte dos 
dois divide os grupos políticos e militares e a Grande Colômbia não resiste, assim como seu 
maior criador e maior idealista, Simón Bolívar. 
A luta de Bolívar vira um fator motivador para que toda a América do Sul lutasse por 
liberdade e outros libertadores da América surgissem. Após a Primeira (1810) e Segunda 
(1813) Repúblicas instauradas por Bolívar, países como Paraguai (1811), Argentina (1816), 
Chile (1818), Peru (1821), Bolívia (1825), Uruguai (1828) lutam contra as forças espanholas 
e proclamam sua independência, rejeitam a monarquia e instauram repúblicas por toda a 
América do Sul. Assim como Bolívar colaborou com a independência de Venezuela, Colôm-
bia e Equador e influenciou na independência da Bolívia com Antônio José de Sucre, José 
de San Martín liderou a luta por autonomia na Argentina, Chile e Peru. 
39UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 39UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
2. REVOLUÇÃO MEXICANA
Durante três séculos o México esteve sob domínio espanhol. No início do século 
XIX movimentos libertários eclodiram e iniciaram a luta pela independência pressionando a 
metrópole após diversas divergências políticas, econômicas e religiosas.
A partir de setembro de 1810 a luta por liberdade na colônia duraria uma década, 
liderada principalmente pelo padre Miguel Hidaldo y Costilla (1753-1811). A questão religio-
sa era predominante, mas a causa republicana logo tomou a frente das discussões pela 
emancipação. Apesar de existirem grupos conservadores que queriam a independência do 
México, mas estimavam mais uma monarquia que uma república. Apesar das diferenças, 
monarquistas e republicanos se uniram em busca da liberdade mexicana. 
Após a independência, o México passou por governos que não conseguiram estabi-
lizar a política nem a economia. Agustín de Iturbide (1783-1824), autoproclamado Primeiro 
Imperador em 1821 sofreu um golpe em 1823 e o México se tornou os Estados Unidos 
Mexicanos tornando-se uma República e tendo Guadalupe Victoria (1783-1843) como seu 
primeiro presidente em 1824.
Após a instauração da República no México houveram diversas disputas políticas 
entre liberais e conservadores e o México experimentou diversos governantes e algumas 
formas de governo: primeira república; república centralista; segunda república; ditadura; 
junta governista; segundo império; república restaurada. Tudo isso com muita disputa, em 
alguns momentos envolvendo guerras e revoltas. 
40UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 40UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
No meio de tanta disputa política surge Porfírio Díaz (1830-1915) que exerceria in-
fluência na política mexicana entre 1876 e 1911 e governaria o país com características de uma 
ditadura. Porfírio, uma vez no poder, através de fraudes se reelegeria eleição após eleição.
No poder, Porfírio iniciou um plano de modernização da economia mexicana, 
estimulando o capitalismo, investindo em indústrias, máquinas, ciência e tecnologia. A eco-
nomia do México avança junto com a desigualdade. Apesar do crescimento, a população 
continuava na pobreza. Aliás, seu governo não assumiu o antigo sonho de Miguel Hidalgo 
que clamava por redistribuição das terras e igualdade racial. Pelo contrário, contribuiu 
para que comunidades indígenas perdessem suas terras para que pudessem recorrer às 
cidades em busca de trabalho e fortalecer a modernização liberal de seu governo. As terras 
desses indígenas ficaram nas mãos dos latifundiários mexicanos aumentando ainda mais 
a concentração de terras e de renda. O que Porfírio Díaz ignorava com essas medidas era 
o crescente descontentamento da população mexicana.
Díaz ainda abriu o mercado interno para o investimento estrangeiro, o que dificul-
tava que empresas nacionais fossem criadas, devido à alta concorrência das empresas 
estrangeiras, sobretudo as estadunidenses. As companhias dos EUA monopolizaram as 
minas de prata, carvão e zinco e também as estradas de ferro com trabalhadores mexica-
nos que recebiam salários baixos. 
Porfírio criou uma estrutura oligárquica em seu governo, onde beneficiava pessoas 
próximas e importantes. Entretanto, alguns grupos tradicionais e ricos do país que não 
conseguiam os benefícios do Governo se sentiram desprezados. O descontentamento com 
o governo que desde o início alcançava as classes mais baixas, agora alcançava os grupos 
mais ricos de fazendeiros e empresários. Exigiam que o Estado criasse leis que auxiliassem 
empresários e latifundiários de todo o Estado mexicano e não apenas grupos próximos.
A classe média urbana sonhava que o México se tornasse uma república liberal tal 
qual os EUA viam apenas uma estrutura oligárquica. Queriam eleições limpas, um presi-
dente que respeitasse o Parlamento e uma Constituição que pudesse garantir os direitos 
individuais e a liberdade econômica. 
Os mais pobres, a classe média e segmentos da elite não apoiavam Porfírio e colo-
caram em xeque seu governo. Nas eleições de 1910, Díaz venceu a sexta eleição seguida, 
marcada pela fraude, e também aumentou o tempo do mandato de quatro para seis anos. 
Este foi o estopim para a população mexicana que via em Porfírio, apenas um oligarca à 
serviço de amigos e dos EUA. O povo foi às ruas, invadiu quartéis, roubou armas, batalhões 
abandonaram o exército e lutaram ao lado dos rebeldes. Iniciava-se a Revolução Mexicana.
41UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 41UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Pressionado e com o seu exército enfraquecido, Porfírio Díaz renuncia à presidên-
cia e foge do país em 1911. Quem assumiu o governo em seu lugar foi Francisco Madero 
(1873-1913), um latifundiário, dono de minas e de fábricas. Era umrepresentante da bur-
guesia liberal mexicana. Havia se formado em universidades da Europa e EUA. Apesar de 
sua formação e grupo social elitizado, Madero deveria considerar que a Revolução fora 
realizada também por camponeses, que eram a maioria dos revolucionários. Esses campo-
neses eram organizados e contavam com um enorme exército liderados principalmente por 
Emiliano Zapata (1879-1919) e Francisco Pancho Villa (1878-1923) que estavam dispostos 
a lutar pelos camponeses até a morte.
Zapata, que era filho de um camponês que teve suas terras roubadas, criou um 
exército chamado Exército Revolucionário do Sul. Jurou que lutaria até recuperar as terras 
de camponeses e indígenas. Pancho, por sua vez, era de família pobre e se tornou ban-
doleiro procurado pelo governo, mas herói do povo. Atacava as fazendas, roubava o gado 
e distribuía ao povo com fome. Durante a revolução, através de sua influência uniu 50 mil 
camponeses e criou um grande exército. 
Diante de tamanha força dos camponeses, os liberais revolucionários médios e 
da elite se propuseram a distribuir parte de suas próprias terras aos camponeses, mas 
para Pancho e Zapata isso não era o suficiente queriam a reforma agrária. Queriam que 
o Governo confiscasse as terras dos latifundiários, sobretudo daqueles beneficiados pelo 
governo de Porfírio, e as distribuísse aos camponeses. 
Zapata, que apoiava Madero, lançou o Plano de Ayala, que exigia uma imediata refor-
ma agrária no México. A proposta de Zapata preocupou Madero, a elite fundiária, a burguesia 
industrial e até mesmo os interesses dos Estados Unidos em território mexicano, pois os 
estadunidenses queriam manter seus interesses econômicos lucrativos em sua fronteira sul. 
Madero não pode equilibrar todos esses interesses e pressionado foi substituído por 
um militar, o general Huerta (1850-1916) em 1913. O palácio presidencial foi invadido, Madero 
foi capturado, torturado e assassinado, o Congresso Nacional foi fechado, vários deputados e 
funcionários públicos foram mortos e o México, através de um golpe de Estado contra revolu-
cionário, tinha um novo ditador, Victoriano Huerta. A Revolução ainda estava em andamento.
A influência dos Estados Unidos na queda de Madero foi direta. O embaixador 
Henry L. Wilson (1857-1932) se desentendeu com o presidente Madero após este criar 
leis nacionalistas que beneficiava os trabalhadores mexicanos e somente estrangeiros que 
falassem espanhol, desempregando vários trabalhadores dos Estados Unidos. Também 
não simpatizou com a lei que taxava empresas estrangeiras de explorar petróleo no Méxi-
co. Essas medidas de Madero fizeram que Wilson realizasse alguns relatórios altamente 
negativos sobre seu governo, o que motivou o presidente dos EUA a priorizar a substituição 
do governo Madero.
42UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 42UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Huerta após assumir o poder tentou negociar com líderes revolucionários. Zapata 
e Pancho negaram apoio e continuaram sua luta contra o governo. Alguns generais, como 
Venustiano Carranza (1859-1920) e Álvaro Obregón (1880-1928), não apoiavam o novo 
governo, mas sabiam que precisavam do apoio dos camponeses. Os oficiais dissidentes 
do exército unidos aos líderes camponeses resistiram à ditadura de Huerta e o México caiu 
em uma guerra civil.
Com a chegada do presidente dos EUA, Woodrow Wilson (1856-1924), nem mesmo 
os estadunidenses apoiavam Huerta. O presidente trocou o embaixador e realizou algumas 
exigências à Huerta, como: cessar-fogo imediato e armistício (paz) definitivo; eleições livres 
e imediatas; retirada do nome de Huerta das eleições; aceitação de todos os partidos em 
acatar o resultado das eleições. Huerta rejeita as propostas do presidente Wilson. 
Com a recusa do general Huerta uma guerra civil se estende e é marcada por 
crianças lutando no exército mexicano, diante do desespero de Huerta que não conseguia 
resistir aos exércitos e Pancho e Zapata. Os EUA declaram neutralidade no conflito, já os 
ingleses, apoiavam Huerta com interesse no petróleo mexicano. Mas a neutralidade dos 
norte-americanos não os impediu de tomar a alfândega no porto de Veracruz e impedir 
Huerta de receber um carregamento de munições vindo da Alemanha. 
Após vitórias dos camponeses do sul, liderados por Zapata e de Pancho, liderando 
os camponeses do norte, como também dos generais dissidentes, Carranza e Obregón de-
sarticulam as tropas do exército e o governo Huerta não resiste e chega ao seu fim em 1914. 
No dia 1º de outubro de 1914, após o impasse com o fim do governo Huerta e sua 
fuga para fora do país, se reuniram na cidade de Aguascalientes. O general dissidente, 
agora chefe do exército, Venustiano Carranza, organizou a Convenção, apresentou sua 
renúncia e se retirou da reunião, após insistência de Zapata.
As discussões giraram em torno das ideias de Zapata e Villa que conseguiram se 
eleger na Convenção como presidente Eulalio Gutierrez (1881-1939). Assim que assumiu, 
Gutierrez nomeou como chefe do exército, Pancho Villa. Carranza, insatisfeito, leva suas 
tropas para Veracruz. A guerra civil continuava agora entre as tropas dos ex-aliados, Villa 
e Carranza. O isolamento das forças de Villa no Norte favoreceu Carranza, somado a isto, 
Zapata não auxiliou Villa, pois estava iniciando uma reforma agrária no sul do país. 
Carranza foi hábil politicamente e acrescentou a seu discurso as reformas sociais e 
começou a ter apoio também de simpatizantes de Villa e Zapata. Muitos passaram a acre-
ditar que as reformas sociais só aconteceriam de fato se Carranza se tornasse presidente. 
43UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 43UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
O general também conseguiu perceber o pequeno, porém em crescimento, movimen-
to operário, e propôs a criação de leis trabalhistas não somente para o campo, mas para os 
trabalhadores urbanos, enquanto que Villa e Zapata tinham propostas apenas para indígenas 
e camponeses. Muitos dos operários urbanos participaram do exército de Carranza.
Como os Estados Unidos temiam Pancho Villa como presidente, então apoiaram 
Carranza, não por verem nele o líder ideal para os interesses estadunidenses, mas sim por 
enxergarem nele um perigo menor que Villa. Enviaram dinheiro, armas e também permitiram 
que pudessem passar por território dos EUA como parte da estratégia contra as forças de Villa.
O apoio dos EUA a Carranza foi fundamental para a vitória do General que con-
seguiu desmobilizar o exército de Villa que foi derrotado. Villa ainda se vingaria dos EUA 
atravessando a fronteira e atacando pequenas cidades dos Estados Unidos. Um exército 
estadunidense chegou a entrar no México procurando Villa, mas nunca o conseguiram 
capturar. Villa foi assassinado após ter deixado a luta armada enquanto trabalhava como 
agricultor em 1923. O mesmo fim teve Zapata que foi emboscado por mais de cem soldados 
e assassinado em 1919.
O assassinato de Emiliano Zapata foi orquestrado por Carranza, que havia se tor-
nado presidente do México em 1917, após encurralar as tropas de Pancho Villa. 
Com a vitória de Carranza uma Assembleia Constituinte foi convocada, uma nova 
Constituição era urgente, assim em dezembro de 1916 constitucionalistas e progressistas 
se reuniram para discutir a criação das novas leis do país. No dia 31 de janeiro concluíram 
a Constituição e no dia 05 de fevereiro de 1917 foi promulgada. 
A Constituição de 1917 era moderna e alinhada com os ideais iluministas e liberais. 
Estabeleceram eleições diretas para presidente, o sufrágio universal, os direitos individuais, 
educação pública e universal, leis trabalhistas, como salário mínimo, limite de oito horas 
diárias de trabalho, além da separação entre Estado e igreja, proibição do trabalho infantil e 
os princípios da reforma agrária. A nova Constituição mexicana foi um avanço e surpreen-
deu outros países.
Apesarda nova Constituição garantir a exploração do solo e subsolo apenas ao 
Estado mexicano, o presidente Carranza foi cuidadoso para não ameçar os empreendi-
mentos dos estadunidenses no México, pois as novas leis não se aplicavam às empresas 
estrangeiras que já existiam no país.
No dia exatamente após a promulgação das Carta Magna, dia 06 de fevereiro de 
1917 o presidente Carranza convocou novas eleições gerais e foi eleito presidente para 
os anos de 1917 e 1920. As eleições foram em março de 1917 e Carranza se elegeu com 
ampla vantagem tomando posse no dia 1º de maio.
44UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 44UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Apesar da Constituição de 1917 a pacificação do país não aconteceu e no Norte 
ainda ocorriam revoltas, além de outros levantes em diferentes locais da nação. Em meio 
às lutas o mandato presidencial de Carranza chegava ao fim e tinha que enfrentar também 
as disputas políticas. Após uma tentativa de assassinato mal sucedida, Carranza sai da 
Cidade do México e se dirige à Veracruz onde é emboscado no caminho e morto a tiros.
O México se tornou, com a Revolução, o primeiro país a enfrentar suas oligarquias 
agrárias. No Brasil, por exemplo, isso só aconteceu após 1930. O sonho de Miguel Hidalgo 
por liberdade, terra para todos e igualdade racial estava acontecendo aos poucos sem que 
ele visse, através de líderes que hora eram aliados e hora inimigos, como Zapata, Villa 
e Carranza. Sua luta por direitos dos privilegiados e a Constituição de 1917 se tornaram 
exemplos para outros países da América Latina. Apesar da reforma agrária, nos anos que 
se seguiram a Constituição ter sido realizada a conta-gotas, ainda se consolidou como um 
dos poucos países a realizá-la. 
45UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 45UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
3. REVOLUÇÃO CUBANA
A Revolução cubana foi e continua sendo um grande momento para todo o continente 
americano. Em período de guerra fria, onde Estados Unidos e União Soviética rivalizavam 
a economia política do mundo, Cuba, há menos de 150 km contrariou os interesses de 
seus vizinhos estadunidenses e realizou uma revolução socialista, bem ali, no quintal dos 
Estados Unidos. O poderoso país, líder do bloco capitalista, viu aquele acontecimento como 
uma afronta e temia que outras nações latinoamericanas seguissem o exemplo cubano.
Cuba era um país aliado aos Estados Unidos desde o século XIX, a ilha era o 
terceiro país com maior importância econômica para os Estados Unidos. A elite estadu-
nidense via a ilha como um paraíso para realização de festas, lazer, jogos e prostituição. 
Após Venezuela e Brasil, Cuba era a economia com maior comércio com os EUA. O país 
era essencialmente agrícola e sua economia se baseava na produção de açúcar, sendo 
que 90% de todo o açúcar exportado ia para os Estados Unidos. De toda essa produção 
de açúcar, 40% era controlada pelos próprios estadunidenses e controlavam ainda 50% 
das linhas de ferro e 90% dos serviços elétricos e telefônicos. Tamanha dependência gerou 
um alinhamento automático dos líderes políticos cubanos ao gigante do norte. Qualquer 
político que ousasse governar Cuba sem se curvar à política imperialista dos EUA sofreu 
um golpe de Estado e era substituído por um mais simpático aos interesses econômicos 
dos Estados Unidos.
46UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 46UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Uma vez compreendida a dependência cubana à economia norte-americana, é 
necessário compreender quem foi Fulgência Batista (1901-1973). Batista, tornou-se uma 
figura política poderosa em Cuba após um golpe de Estado, a Revolta dos Sargentos, 
em 1933, que retirou do poder o então presidente, Gerardo Machado (1871-1939). Após 
nomeia a si mesmo como chefe do exército e controla o presidente, Ramón Grau (1887-
1969) e todo o Conselho da presidência. Após controlar presidentes fantoches por 7 anos, 
se torna o presidente de Cuba e o governa o país como ditador.
Como ditador governou com o apoio do exército atendendo os interesses dos donos 
de indústrias e de engenho. Perseguiu, prendeu e assassinou opositores políticos, além de 
fechar partidos políticos, sindicatos de trabalhadores e censurar a imprensa. Anulou ainda a 
Constituição republicana no país. O povo viu tudo o que ocorria no país com desconfiança, 
pois Batista já havia governado o país.
Apesar do descontentamento, o povo não teve reação, pois não estavam mobiliza-
dos e tão pouco tinham poderio bélico para enfrentar Batista e seus aliados dos Estados 
Unidos. Diante da perplexidade e inércia do povo cubano, surge a figura de Fidel Castro 
(1926-2016), um advogado cubano que usava a lei a seu favor, como, por exemplo, de-
nunciar o ditador de violar o Código de Defesa Social de Cuba e exigia a prisão do ditador. 
Evidentemente, o Tribunal de Havana, arquivou o pedido de Fidel.
Uma Cuba historicamente violentada pela espoliação econômica dos Estado 
Unidos, com agudos problemas sociais, diante de uma ditadura elitista, via a pobreza e 
desigualdade social aumentarem significativamente, conforme afirma Lopes
[...] havia aproximadamente seiscentos mil desempregados, dezenas de cam-
poneses eram explorados pelos latifundiários, a classe trabalhadora também 
era explorada desapiedadamente; o analfabetismo, a insalubridade, a misé-
ria, os abusos, a malversação, o jogo, a prostituição e os vícios reinavam em 
toda parte. O imperialismo dominava de maneira absoluta a política nacional 
[...] (LOPES, 2005, p. 11)
O agravamento das questões sociais, foi o fator decisivo que levou Fidel à luta 
armada, uma vez que o uso da lei não foi suficiente, pois Fulgêncio manipulava o poder 
judiciário a seu favor. Trabalhadores urbanos e estudantes seguiram as ideias de Fidel 
Castro. Iniciava em Cuba a luta armada pela queda de Fulgêncio Batista liderada pelos 
irmão Castro, Fidel e Raul.
Em 1953, os Castro e mais 125 pessoas tentaram invadir e roubar as armas e 
munições do Quartel Moncada, porém foram capturados e dos 125, 61 foram executados, 
além dos oito que morreram durante a operação. Os demais foram presos. Fidel acreditava 
que após a tomada do Quartel o povo ficaria otimista com a luta armada e se uniria aos 
revolucionários.
47UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 47UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Fidel desde a faculdade de direito se aproximou do movimento estudantil de 
influência marxista-leninista, além de ter influência de José Martí (1853-1895), um líder 
nacionalista e político cubano. Tanto Karl Marx (1818-1883) quanto Vladimir Lênin (1870-
1924) apregoavam uma luta pelo fim do capitalismo e sua substituição por um sistema 
político-econômico socialista. E Martí o inspira a lutar por liberdade, uma vez que o líder 
foi um herói e mártir da independência cubana. Era isso que Fidel queria, a liberdade 
cubana através de uma política econômica socialista e seu maior rival, era, como ele dizia, 
o “odioso imperialismo norte-americano” (CASTRO, 1976, p. 13). 
Apesar do ataque ao Quartel Moncada ter fracassado, ele ainda seria importante 
em Cuba, pois cinco anos após o ataque os sobreviventes iriam a julgamento coletivo. 
Fidel, como advogado, organizou a defesa dos acusados. Fidel, além de advogado era 
um bom orador, já havia liderado movimentos estudantis o que deu a ele habilidade com 
discursos. Ele articulou a sua defesa e de seus pares para ser um espetáculo midiático que 
fosse usado como propaganda para seu movimento. A defesa se tornou um grande ato de 
defesa de seu grupo e um ataque ao governo Batista. A defesa se inicia com a famosa frase 
de Fidel, “a história me absolverá”. 
Habilmente o discurso de Fidel no tribunal acusa Batista e defende o exército. 
Fidel estava tentando alcançar a simpatia do exército. O tribunal condenou Fidel e seuscompanheiros a 26 anos de prisão. Mas o discurso de Fidel Castro foi espalhado por toda 
Cuba e o povo sustentou suas palavras e exigiam a anistia a Castro e aos demais. Dos 
26, permaneceu apenas dois anos na prisão, pois uma grande pressão política forçou a 
ditadura de Batista a anistiar Fidel e todos os membros do Movimento de 26 de julho de 
1953 ao Quartel Moncada.
Aproveitou o período de liberdade para continuar suas denúncias ao governo Ba-
tista, entretanto, como medo de ser assassinado, se auto exilou no México. Foi no México 
que Fidel realizou o treinamento de guerrilha com seus companheiros, elabora o programa 
revolucionário e se une ao médico argentino, Ernesto “Che” Guevara (1928-1967) e se 
prepara para uma futura batalha em Cuba.
Os irmãos Castro se uniram a mais 80 homens e invadiram Cuba em 1956 em um 
iate. Os guerrilheiros foram atacados pelos soldados de Batista, sobrevivendo apenas 12 que 
conseguiram se refugiar na mata. A estratégia de Fidel era realizar um assalto imediato, de 
forma rápida e letal, para provocar uma insurreição no país, tal qual havia tentado em Moncado. 
A derrota obrigou os insurrecionalistas a adotarem as táticas de guerrilha, o que, 
sabiamente, Fidel já havia treinado seus para isso, acreditando na possibilidade de não 
conseguirem tomar Cuba facilmente. Seus homens estavam preparados e movimentavam-
-se pela mata de Sierra Maestra fugindo dos homens de Batista, uma vez que estavam em 
número bem reduzido.
48UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 48UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
O fato de terem sido derrotados e fugido para Sierra Maestra acabou se mostrando 
algo positivo. A região de Sierra Maestra era uma região com uma economia pequena 
onde viviam muitos camponeses pobres. Muitos conflitos surgiam entre camponeses e 
latifundiários e o governo chegava, até mesmo, a enviar tropas do exército para proteger as 
terras do latifúndio dos camponeses sem terra. Com a presença de Fidel e seus homens, 
os donos das terras usaram esse fato como desculpa para expulsar alguns camponeses de 
suas pequenas terras, o que aumentou a rivalidade entre esses grupos.
Face à repressão indiscriminada por parte do exército de Batista, aos abu-
sos contra os camponeses da Sierra Maestra, logo Fidel Castro [...] estreitou 
contato com as lideranças camponesas da Sierra, buscando e dando apoio 
a essa população. [...]. Aos poucos os guerrilheiros capitalizaram o crescente 
apoio dos camponeses, fazendo alianças com eles [...] (LOPES, 2005, p. 15).
Fidel se aproximou dos camponeses e, como estavam insatisfeitos com o governo 
que apoiava apenas os latifundiários, se uniram a Fidel. Os camponeses os ajudavam, 
dando inclusive informações sobre as tropas de Fulgêncio, dando mantimentos, proteção e 
alguns deles entraram para a guerrilha de Fidel.
Uma vez que a guerrilha dos revolucionários se reorganizou iniciaram ataques aos 
soldados de Batista com o objetivo de tomar armas, munições e itens de subsistência. Os cam-
poneses conseguiram com Fidel e seus homens ter uma visão mais ampla sobre sua própria 
realidade e, aos poucos, começaram a apoiar a causa marxista-leninista de Fidel, Raul e Che. 
Cada vez mais o exército guerrilheiro de Fidel cresce com a adesão de mais cam-
poneses, de forma que o território de Sierra Maestra se torna impenetrável para o exército 
cubano. Também, a guerrilha se espalhou por todo o território cubano e Batista experimen-
tava, enfim, um revés perigoso que realmente poderia tirar dele o governo de Cuba.
Com Fulgêncio Batista governando o país de Havana, Fidel Castro e os camponeses 
colocam em prática uma verdadeira reforma agrária na região de Sierra Maestra, e construin-
do escolas e hospitais organizados pelo médico Guevara, tudo isso à revelia do governo. 
Criaram ainda a Rádio Rebelde que informaria a população dos atos do exército rebelde.
Após uma fracassada tentativa de greve geral em Cuba realizada pelos guerrilheiros, 
Batista teve a impressão que os mesmos estivessem política e militarmente enfraquecidos 
e desarticulados, o que fez Batista organizar suas tropas e atacar Sierra Maestra através da 
Operação Fim de Fidel. O otimismo de Fulgêncio foi descuidado, pois ao chegar em Sierra 
Maestra se deparou com uma forte resistência do exército de guerrilheiros que os venceu 
sem grandes dificuldades. 
49UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 49UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Com a vitória acachapante dos guerrilheiros, se sentem mais confiantes para ocu-
par outras regiões de Cuba, e organizam as tropas para invadirem a planície da ilha em 
duas frentes, uma comandada por Camilo Cienfuegos (1932-1959) e a outra comandada 
por Che Guevara. Com a ação combinada dessas duas frentes, várias cidades da região 
vão sendo tomadas. A força dos guerrilheiros cresce e a população e governo já deixam de 
os chamar de guerrilha para alcunhá-los de exército rebelde. 
O avanço rebelde, o apoio da população e a inércia de Fulgêncio e do exército 
solidificavam cada vez mais a derrota do governo. E assim, no dia 1º de janeiro de 1959, 
antevendo a tomada de Havana, Batista foge de Cuba. Após negociações o Movimento 
26-7 toma Santiago de Cuba
A elite ainda tentou estabelecer um governo militar provisório, mas a população 
estava ao lado dos revolucionários que realizaram uma forte greve geral revolucionária que 
garantiu a efetivação da revolução cubana em 1959.
Com a revolução efetivada, Fidel estatizou empresas, expropriou terras e indenizou 
seus proprietários, expulsou líderes religiosos e julgou os opositores leais a Batista. Adotou 
o socialismo como política, investiu em educação e em saúde, eliminou o analfabetismo e 
realizou a reforma agrária em toda Cuba. Adota o unipartidarismo e vigilância contra a ati-
vidade contra-revolucionária. O comportamento da população começou a ser investigado e 
os homossexuais eram perseguidos com apoio do governo de Fidel, que em 2008 assumiu 
a culpa pela escalada homofóbica na ilha.
Os antigos aliados de Cuba, os Estado Unidos não simpatizavam com a Revolução 
cubana e adotam um embargo econômico que existe até hoje o que prejudicou a economia 
da ilha e forçou Fidel a se aproximar cada vez mais da União Soviética que ofereceu apoio 
econômico ao regime cubano. 
Em 1961 os Estados Unidos lideram uma invasão à Baía dos Porcos com cubanos 
anticastristas treinados pela CIA para derrubar o regime de Fidel. Em apenas três dias as 
forças armadas cubanas derrotaram os invasores e a maioria dos combatentes se rendeu. O 
plano da CIA era matar Fidel Castro, mas com a vitória dos cubanos, Fidel declara a vitória 
sobre o imperialismo americano. Fidel sofreria muitas outras tentativas contra a sua vida. 
Apesar de Cuba ter adotado o socialismo, isso apenas ocorreu após os EUA levan-
tarem o embargo econômico contra a ilha. Fidel não havia transformado Cuba em um país 
socialista, mas como foi impedido de manter comércio com os países do bloco capitalista, 
se aproximou do regime soviético e em 1961 se declara um país socialista para poder 
manter viva a economia cubana com apoio da URSS.
50UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 50UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Na prática as liberdades individuais diminuíram com o regime socialista cubano 
enquanto os direitos sociais cresceram. Cuba hoje continua sendo um país de economia 
socialista, com uma das melhores educações e saúde de todo o mundo, mas as liberdades 
individuais continuam existindo com restrições. 
O regime cubano ainda é um assunto polêmico em diversos países da América Latina 
sendo alvo de diversas informações, muitas falsas e outras verdadeiras. O fato é que a popula-
ção antes da revolução era miserável e a riqueza concentrada, com a revolução essa riqueza 
é distribuída, o poder de compra aumenta. Cuba não se tornou uma grande economia,mas 
conseguiu resistir ao embargo. Fidel foi um líder controverso amado em Cuba, mas nunca 
teve o coração de todos os cubanos. Todos os anos é noticiado a fuga de algum cubano da 
ilha a nado até a Flórida nos EUA. Da mesma forma muitos atletas saem para competições 
internacionais e retornam para seu país. A população tem grande estima pela revolução, mas 
ainda carece de liberdades, acesso à internet e maior liberdade de expressão. 
51UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 51UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
4. REVOLUÇÃO SANDINISTA
Augusto César Sandino (1895-1934) é o líder e político que dá o nome à Revolução 
na Nicarágua na segunda metade do século XX. A Nicarágua é um país da América Central 
com uma longa e conturbada história de exploração hispânica, invasões de aventureiros dos 
Estados Unidos, ditadura à serviço do imperialismo americano, liderança subalterna de uma 
elite cafeeira e mineradora e, claro, um povo empobrecido que não conseguia sair da pobreza 
devido a política exclusiva de seus líderes durante a colônia e após a independência.
Foi uma colônia da Espanha desde o século XVI e seguiu o mesmo ritmo em busca 
de sua independência no século XIX das demais colônias espanholas do continente ame-
ricano, alcançando a sua emancipação em 1821. Após sua independência o clima político 
no país caiu no caos criado pelos liberais e conservadores. O caos foi tão grande que um 
mercenário estadunidense, William Walker (1824-1860), que realizava expedições militares 
para estabelecer colônias na América Latina, percebendo a caótica política nicaraguense 
se autoproclamou presidente da Nicarágua em 1856 após eleições fraudulentas. Esse 
absurdo foi acompanhado por outros realizados pelo próprio Walker que tentou substituir o 
espanhol pelo inglês como língua oficial e manipulava a política econômica para beneficiar 
os negócios e imigração de yankees na Nicarágua. Walker colaborou com o caos político na 
Nicarágua, que não cessaria mesmo após sua prisão e fuzilamento em Honduras em 1860. 
52UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 52UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Na virada do século XIX para o XX o presidente José S. Zelaya (1853-1919), do 
partido liberal adotou uma política reformista e progressista no país, como ampliação da 
educação pública, ensino obrigatório, ampliação das ferrovias, estabelecimento de linhas a 
vapor, igualdade perante a lei, direito ao habeas corpus, voto obrigatório, separação entre os 
poderes. Isto é, a nova Constituição elaborada por Zelaya e aprovada pelo parlamento lança-
va as bases para uma nova fase da história nicaraguense. O problema era que os interesses 
do povo nicaraguense não eram exatamente os interesses do governo dos Estados Unidos.
Zelaya renunciou em 1909 após uma revolta armada e da oposição dos EUA. Seu 
sucessor, também do partido liberal, não foi aceito pelo governo americano que apoiava 
os rebeldes e o novo caos político só é acalmado quando um presidente alinhado aos 
interesses estadunidenses assume o poder, Adolfo Díaz (1875-1964). 
Uma vez no poder, Díaz firmou o Pacto de Dawson que sujeitava a economia 
nicaraguense ao domínio político de Washington e ao domínio econômico e financeiro de 
Wall Street. Este pacto foi seguido à risca por Adolfo Díaz. Até mesmo as estradas de 
ferro, o Banco Central nicaraguense e a alfândega foram entregues ao controle dos EUA. 
Em outras palavras, tanto a economia interna quanto externa do país foi entregue aos 
norte-americanos. 
Após o governo de Díaz os Estados Unidos ficaram à vontade para enviarem tropas 
da marinha para invadir o país toda vez que um presidente eleito não era seu aliado e 
anulavam o resultado das eleições. Em 1912, logo no início de Díaz no governo, mais de 
8000 marinheiros americanos invadiram a Nicarágua após um levante nacionalista. 
Em 1923 o presidente Bartolomé Martínez (1873-1936) tentou rever alguns pontos 
do Pacto de Dawson o que levou os EUA a realizaram uma nova invasão de suas tropas à 
Nicarágua e recolocou no poder Adolfo Díaz. 
Diante da postura imperialista dos Estados Unidos em relação à Nicarágua o povo 
nicaraguense alimentou um sentimento nacionalista e antiamericano. Desse sentimento 
surge um movimento guerrilheiro liderado por Juan Bautista Sacasa, pelo general José 
Maria Moncada (1870-1945) e Augusto Cesar Sandino.
Em 1926 Sandino inicia operações de guerrilha na região montanhosa da Nicarágua. 
No início eram algumas dezenas, mas começou a conquistar apoio após suas vitórias, sobre-
tudo porque expressava o sentimento do povo, um sentimento nacional e anti Estados Unidos. 
53UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 53UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Sandino, assim como o povo nicaraguense, insatisfeitos com a apropriação do seu 
país pelos EUA, inicia um “processo de reapropriação de possessões norte-americanas na 
Nicarágua” (FAGUNDES, 2009, p. 12). Sandino queria devolver a seus compatriotas todos 
os bens que os EUA haviam tomado deles.
Sandino ganha projeção nacional e passa a fazer parte das decisões importantes 
dentro da Nicarágua. As forças sandinistas não poderiam ser desprezadas, pois represen-
tavam a maior parcela da população. “Em 1932, a Nicarágua passa por eleições tidas como 
cruciais e aceitas por Sandino em troca da retirada das tropas norte-americanas, o que 
efetivamente acontece.” (AHUMADA e LIMA, 2017, p. 26). 
Três forças importantes passaram a disputar o poder dentro do país da América 
Central: a Guarda Nacional, ligada aos interesses norte-americanos, liderada por Somoza 
Garcia (1896-1956); o presidente eleito, Juan Bautista Sacasa (1874-1946), aliado de San-
dino; e as forças sandinistas, altamente anti-imperialistas. 
Aparentemente, a paz política havia chegado ao país, com as tropas americanas 
se retirando, com a chegada de um político moderado ao poder, Sacasa, e sua aliança com 
Sandino, que limitava a ação guerrilheira e, por fim, a Guarda Nacional que era o último 
reduto militarizado dos Estados Unidos na Nicarágua. Evidentemente que Sandino insistia 
no fim da Guarda Nacional, justamente por ela representar os ideais imperialistas dos EUA.
Após ser recebido pelo presidente, Sacasa, Sandino foi detido pela Guarda Nacional 
e assassinado por Somoza, o líder da Guarda, em fevereiro de 1934. Após o assassinato 
de Sandino, os poderes de Somoza se ampliam. Tomou controle do Congresso, a Guarda 
Nacional assumiu o processo eleitoral e deu um golpe de Estado no presidente Sacasa. 
Somoza se torna presidente da Nicarágua e inicia uma perseguição às forças sandinistas 
remanescentes e contra todos que o contrariasse.
Com o apoio do governo dos EUA, teve início a chamada ‘dinastia dos Somo-
za’. Período da história política da Nicarágua em que o assassinato, a prisão 
e a tortura eram colocados em prática contra todos aqueles que ousassem se 
colocar em oposição aos Somoza e seus aliados (FAGUNDES, 2009, p. 16).
Sandino morreu, o sandinismo não. Durante todo o período da “Dinastia de Somoza” 
houve a dominação pessoal das forças armadas, a corrupção como prática de Estado e 
o uso da repressão contra opositores. O sandinismo, apesar de violentamente reprimido 
revidou com o assassinato de Somoza.
Apesar da morte do ditador, a família Somoza se manteve no poder, ao todo, por 
mais de quarenta anos. Foram quatro décadas marcadas por rebeliões de militares, e revol-
ta de estudantes e trabalhadores. Nesse momento surge a Frente Sandinista de Libertação 
Nacional (FSLN). Políticos de diferentes frentes se aliam à FSLN com um ideal em comum: 
salvar a Nicarágua dos interesses dos Estados Unidos representados pelos Somozas. 
54UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 54UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Além de líderes políticos, operários, estudantes e camponesesse aliaram à Frente. 
Organizavam ataques armados nas cidades e nos campos na chamada Guerra Popular 
Revolucionária, possuía jornais para divulgação de suas atividades e propostas. Treinava 
guerrilheiros e liderava movimentos entre estudantes e operários. Assaltos a bancos, se-
questros a políticos e empresários eram utilizados como forma de angariar fundos para os 
sandinistas. A Frente Sandinista se espalhava pelo país. 
Enquanto isso os EUA mantinham, presidente após presidente, sua política im-
perialista na Nicarágua. Mantinham controle econômico e financeiro através do governo 
fantoche dos Somozas. Franklin D. Roosevelt (1882-1945) chegou a dizer que “Somoza 
pode ser um bastardo. Mas é nosso bastardo”. 
Com a chegada de um dos filhos de Somoza ao poder, Somoza Debayle (1925-
1980), a repressão aos sandinistas cresceu. Em contrapartida a FSNL mantinha a luta 
armada. Nesse contexto, o povo iniciou manifestações de oposição ao governo nas ruas 
destacando um movimento sem luta armada. Esses movimentos que pediam o fim da Di-
nastia Somoza uniu integrantes da imprensa, da Igreja Católica e de empresários. 
Somoza Debayle indisposto ao diálogo, ordenou o assassianto do jornalista Pedro 
Chamorro (1924-1978), um dos líderes da frente pacifista. Paralelamente a FSNL invadiu 
o palácio nacional fazendo 1500 pessoas reféns e libertando militantes aprisionados. O 
presidente continuou aumentando a repressão a qualquer opositor sandinista ou não, 
violento ou não. Censurou a imprensa, proclamou estado de sítio. As graves violações de 
direitos humanos de Somoza Debayle e a corrupção do governo fez com que a pressão 
internacional virasse contra seu governo, mas os EUA mantinham seu apoio ao governo 
nicaraguense. “O temor dos EUA era que a Nicarágua seguisse o mesmo caminho de 
Cuba.” (FAGUNDES, 2009, p. 17).
O terremoto em Manágua em 1972 mobilizou a comunidade internacional a realizar 
doações à Nicarágua. Os Somozas desviaram os bens doados e realizaram a especulação 
desses bens a fim de lucrar com eles. A corrupção do governo nicaraguense ficou evidente 
para o mundo todo.
A FSNL, cada vez mais organizada, tomava cidades no interior do país, nelas criou 
o Comitê de Defesa Civil e a opinião pública, cada vez mais admitia a luta armada sandinis-
ta. Somoza Debayle já não tinha apoio interno e, aos poucos, os EUA iam se afastando do 
governo da Nicarágua, pois já não era possível esconder as violações dos direitos humanos 
e tão pouco a corrupção. 
55UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 55UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
Em junho de 1979 uma insurreição generalizada ocorre na capital, Manágua, e 
os sandinistas tomam o poder no país e consolidam a Revolução Sandinista. “O ideal de 
Sandino acabou sendo vitorioso” (FAGUNDES, 2009, p. 17). O ditador, Somoza Debayle, 
foge para os EUA e depois se muda para o Paraguai sob a guarda do ditador paraguaio, 
Alfredo Stroessner (1912-2006). 
A herança dos Somoza foi uma economia em crise, cofres públicos esvaziados e 
uma alta dívida externa. O novo governo deveria recuperar a economia, realizar a rees-
truturação social e estabilizar a política. Para isso instauraram a Junta de Governo de 
Reconstrução Nacional (JGRN) que possuía composição mista, desde sandinistas,como o 
líder Daniel Ortega, até membros da elite nicaraguense, como Violeta Chamorro, viúva do 
jornalista, Chamorro, assassianto por Somoza. 
Assim, foi estabelecido um regime democrático com uma economia mista – 
fato relevante, pois a revolução contou com apoio tanto dos estratos sociais 
mais baixos como das elites econômicas tradicionais, que queriam garantir 
seus interesses comerciais (AHUMADA e LIMA, 2017, p. 16). 
A partir de então, o governo da Nicarágua deixou de ter um alinhamento político e 
econômico com os EUA. A pluralidade política foi a grande marca da Revolução Sandinista, 
que se dividiu em vários grupos, uns mais à esquerda e outros mais à direita, mas todos 
alinhados com ideias de autonomia da Nicarágua através de uma democracia. A JGRN 
governou entre 1979 e 1985. Daniel Ortega, sandinista, e com uma posição mais alinhado 
ao socialismo, assumiu o poder em 1980 e governou até 1985, mas respeitou as institui-
ções do país. Após Ortega, assumiu a presidência, Violeta Chamorro, que governou entre 
1990 e 1997. Chamorro, mais à direita, foi mais próxima dos EUA que Ortega, mas nunca 
rejeitou os ideais de autonomia política e econômica sandinista, portanto, nunca realizou 
alinhamento automático aos EUA. 
Recentemente Ortega foi eleito novamente para a presidência da Nicarágua. O 
mesmo vem sendo criticado por prender opositores políticos. O presidente acusa opositores 
de receberem dinheiro dos Estados Unidos para derrubá-lo. Acusa ainda seus opositores 
de lavagem de dinheiro, fraude, conspiração e traição. 
A disputa política entre Ortega e a família Chamorro já está sendo discutida por es-
pecialistas na história e política do país sobre se a Revolução Sandinista realmente chegou 
ao seu fim ou não? Ou se ela alcançou seus objetivos ou até mesmo se veio à falência. A 
nova crise política traz lembranças amargas aos nicaraguenses. 
56UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 56UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
SAIBA MAIS
A Revolução cubana queria se libertar da ditadura de Batista e do imperialismo norte-ame-
ricano, mas não tinha, inicialmente, uma proposta socialista, que foi incorporada apenas 
depois. A ditadura de Batista havia até mesmo incluído o turismo sexual na ilha, o que foi 
radicalmente contestado pelos revolucionários. Mas um dos pontos mais surpreendentes 
da Revolução Cubana foi o apoio do então presidente dos Estados Unidos, John F. Ken-
nedy: “Acredito que não haja país no mundo, incluindo aqueles sob regime de coloniza-
ção, onde a humilhação e a exploração tenham sido piores do que em Cuba, em parte 
por culpa da política do meu país durante a ditadura de Batista. Eu aprovo a Revolução 
Cubana comandada por Fidel Castro em Sierra Maestra, que se trata de um chamado por 
justiça, especialmente no que diz respeito à corrupção em Cuba. E vou ainda mais longe: 
em alguns pontos, Batista parece ser a encarnação de pecados norte-americanos. Agora, 
chegou a hora de pagarmos esses pecados. No que diz respeito ao regime de Batista, 
estou do lado dos revolucionários cubanos. Isso é perfeitamente claro”.
 
Fonte: LOPES. F. M. M. R. A Revolução Cubana. Revista de Ciências Humanas, n.º 6, fev 2005.
REFLITA 
“Quanto a mim, sei que a prisão será dura como tem sido para todos – prenhe de amea-
ças, de vil e covarde rancor. Mas não a temo, como não temo a fúria do tirano miserável 
que arrancou a vida a 70 de meus irmãos. Condenai-me, não importa. A história me 
absolverá.”
Fonte: CASTRO. F. A história me absolverá. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
57UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 57UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade aprendemos mais sobre algumas das muitas revoluções e lutas de in-
dependência de países latino-americanos. Vimos o ideal de um grande país latino-americano 
de Bolívar e as lutas contra o imperialismo dos líderes cubanos, mexicanos e nicaraguenses.
Percebemos que Bolívar foi um grande líder na América do Sul e lutou para libertar 
as colônias das mãos espanholas e que sua importância é tanta que seu nome se tornou 
mitológico na Venezuela, Colômbia, Equador e Peru e hoje é usado tanto pela direita quanto 
pela esquerda nesses países. Seu legado libertário alcançou a todos nessas nações.
No México compreendemos o processo revolucionário que tirou o poder das mãos 
do ditador Porfírio Diaz e o transferiu para outros líderes. Vimos a interferência dos Estados 
Unidos e a resistência de líderes camponeses importantes como Villa e Zapata e que sem 
elas, talvez Diaz não tivesse caído.O México, com a revolução, se tornou um país menos 
dependente dos interesses americanos e realizou várias reformas.
Em Cuba, podemos perceber os abusos de Fulgêncio Batista, ditador fantoche do 
governo americano que gerou inúmeras insatisfações na população cubana a ponto de le-
var a população a apoiar um grupo guerrilheiro contra o Estado que geraria uma Revolução 
libertária, que depois adotaria o socialismo como forma de governo pelas mãos de Fidel 
Castro e Ernesto Che Guevara.
Por fim, também verificamos o longo processo de libertação imperialista na Nica-
rágua e a construção do mito de Sandino, que mesmo morto, continua inspirando a luta 
contra a dominação norte-americana. A Nicarágua foi um dos países que mais sofreu com 
as intervenções dos Estados Unidos e apenas na década de 1990 conseguiu alcançar 
autonomia, de fato. 
58UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 58UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
LEITURA COMPLEMENTAR
BALTODANO, M.; STEDILE, J. P. Sandino: vida e obra. São Paulo: Expressão 
popular, 2008.
59UNIDADE I As Várias Américas: O Processo de Colonização 59UNIDADE II Os Processos de Independência Latinoamericanas
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: Fidel e a Religião
Autor: Frei Betto.
Editora: Fontanar.
Sinopse: Neste livro já clássico, Fidel Castro falou a Frei Betto so-
bre religião durante 23 horas. Foi a primeira vez que um Chefe de 
Estado de um país socialista concedeu uma entrevista exclusiva a 
respeito desse tema sempre atual. Nas últimas décadas, a ques-
tão religiosa ganhou especial interesse, principalmente na América 
Latina, onde ditaduras militares assassinaram inúmeros religiosos 
que se colocaram ao lado da causa dos pobres. As milhares de 
Comunidades Eclesiais de Base que congregam camponeses 
e operários e a força da Teologia da Libertação são alguns dos 
fatores que fazem o tema da religião transcender os limites das 
próprias Igrejas e ganhar uma expressão política só comparável 
aos primeiros séculos do Cristianismo. Frei Betto revisita a obra 
escrita no início dos 1980 e traz de volta aos leitores o livro revisto 
e ampliado sobre o icônico líder cubano.
FILME / VÍDEO
Título: A história da revolução cubana e suas consequências
Ano: 2019.
Sinopse: A ditadura de Fulgêncio que agradava os ricaços da ilha 
foi desafiada pelos revolucionários irmãos Castro e Che Guevara. 
A instalação do socialismo foi seguida por um embargo econômico 
que dificultou o crescimento econômico da ilha até hoje. O regime 
socialista cubano foi diversas vezes criticado por inibir as liber-
dades individuais ao mesmo tempo que tem ótimos índices em 
educação e saúde.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=BscKGvlhTHI
60
Plano de Estudo:
● Independência dos Estados Unidos;
● Imperialismo na América Latina;
● Intervenções diretas dos Estados Unidos na América Latina;
● Os Estados Unidos como potência mundial.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o processo de independência dos Estados Unidos da América;
● Entender como os estados se tornaram um país imperialista 
e como sua preferência se voltou para a América Latina;
● Conhecer algumas intervenções dos Estados Unidos na 
América Latina e suas consequências;
● Entender como os Estados Unidos se tornou uma potência mundial.
UNIDADE III
A Declaração de Independência dos 
Estados Unidos, Ordem Mundial e 
Grandes Potências
Professor Esp. Paulino Augusto Peres
61UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
INTRODUÇÃO
Essa unidade terá como tema os Estados Unidos da América, pois vemos nos 
EUA uma importância para os rumos de todo o continente americano desde sua emanci-
pação. A independência dos estados é o start para toda a influência que teria na América 
Latina. O imperialismo estadunidense gerou conflitos, invasões, dependência econômica 
e ressentimentos até hoje não resolvidos. Até mesmo intervenções militares diretas foram 
utilizadas como método de dominação por parte dos americanos, sendo a última em 1989. 
A partir dessa data, com o objetivo de diminuir as tensões no continente, os Estados Unidos 
voltam sua atenção para o mundo, quando se torna a única superpotência mundial com a 
desintegração da União Soviética em 1991. 
Desde a sua independência em 1776 a história dos Estados Unidos é marcada 
por guerras. Aprenderam desde o início que deveriam se defender e que para manter seu 
poder deveriam atacar. Assim foi nas lutas de independência onde se revoltaram contra as 
leis intoleráveis. Essas atitudes bélicas marcariam para sempre a cultura norte-americana.
Com sua formação baseada em guerras os Estados Unidos constroem sua história 
política associada ao domínio político sobre os outros povos. Não que os Estados Unidos 
tenham inventado o imperialismo, mas adaptam essa prática europeia e o usam em toda 
a América Latina. De muitas maneiras os norte-americanos exerceram sua influência no 
continente, mas a mais marcante, com certeza, foi através da intervenção militar, onde, com 
a força, impôs seus interesses substituindo presidentes, por exemplo.
Os norte-americanos só deixariam de invadir países latinoamericanos em 1889 
após o fim das tensões com a Guerra Fria e passaram a exercer influência mundial. Como 
única superpotência, deixou as preocupações com o Bloco Comunista e passou a reivin-
dicar influência política em territórios da antiga União Soviética, o que foi bom para os 
latinoamericanos que nunca mais tiveram seu território invadido pelos Estados Unidos.
62UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
1. INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
A independência dos Estados Unidos, assim como qualquer outra nas Américas, 
só pode ser compreendida a partir das relações coloniais anteriores à emancipação. Por-
tanto iremos analisar como a Inglaterra controlava politicamente e economicamente suas 
colônias na América do Norte e a partir daí compreender as reivindicações coloniais e o 
processo de independência. 
A Inglaterra passava por turbulências políticas e econômicas desde o século XVII. 
Após a morte da rainha Elizabeth de Tudor I (1533-1603) em 1603, Jaime Stuart VI (1566-
1625), da Escócia, assumiu o trono. Jaime reinaria até 1625 e seu filho Carlos Stuart I 
(1600-1649) reinaria até 1649. Durante os reinados posteriores ao de Elizabeth I uma intensa 
perseguição religiosa alcançou a Inglaterra. O Rei Henrique de Tudor VIII (1491-1547) havia 
reformado a Igreja Católica em território inglês no início do século XVI, criando assim uma 
igreja protestante na Inglaterra, a Igreja Anglicana, que até hoje é a igreja oficial do país.
Com a conversão de Henrique inicia-se uma perseguição religiosa contra os católicos 
na Inglaterra. A sucessora de Henrique VIII, Maria I de Tudor (1516-1558), continuou a per-
seguição religiosa que seria freada com a ascensão da rainha Elizabeth I . Com a morte de 
Elizabeth e a sucessão dada aos Stuart, a perseguição continua e se intensifica. Ora um rei era 
anglicano, ora era católico. Dependendo da fé do rei, o perseguido era aquele da fé contrária. 
63UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
Mais ao norte, na ilha da Grã-Bretanha, a Escócia passava por um processo de 
protestantização no século XVI liderado pelo calvinista, John Knox (1514-1572). Como es-
coceses e ingleses habitavam países que dividem uma mesma ilha, era comum o trânsito 
de escoceses e ingleses entre os dois territórios.
A perseguição religiosa na Inglaterra às vezes era contra os anglicanos e às vezes 
contra os católicos, mas sempre se voltava contra os calvinistas. O calvinismo também 
ganhava força em território inglês devido ao trânsito de escoceses no país. 
O calvinismo foi um movimento protestante que ocorreu na Suíça, tendo como 
epicentro a cidade de Genebra e liderado pelo erudito, João Calvino(1509-1564). Calvino, 
após ter contato com os escritos de Martinho Lutero (1483-1546), primeiro grande nome da 
Reforma Protesnte, se inspira em sua reforma para realizar uma na Suíça, mas com uma 
visão teológica diferente.
Enquanto Lutero afirmava que a salvação era alcançada pela fé, Calvino dizia que 
a salvação era fruto da eleição divina e que Deus escolhia os eleitos antes mesmo do 
nascimento, portanto a salvação seria apenas para os escolhidos de Deus, mas como 
saber quem iria para o céu? Através do acúmulo de riquezas.
Os calvinistas escoceses acreditam que a riqueza era a prova de quem iria para o 
céu, e perseguidos na Inglaterra, iniciam um processo de migração para as Treze Colônias 
inglesas na América do Norte.
A Inglaterra não se interessou pela exploração das Treze Colônias e preferiu explo-
rar suas colônias em outros continentes que eram bem mais rentáveis. Esse desinteresse 
inglês em relação à Nova Inglaterra (como eram chamadas as Treze Colônias) beneficiou 
os colonos, pois os livrou do pacto colonial.
O pacto colonial implicava, entre outras coisas, a exclusividade das colônias reali-
zarem atividades econômicas apenas com suas metrópoles. A Inglaterra abriu mão desse 
pacto e permitiu que suas colônias na América estivessem livres para realizar suas atividades 
econômicas e assim estabeleceram o comércio triangular com África e as América Central. 
Sem o jugo econômico dos ingleses, os colonos alcançaram altos lucros compran-
do melaço das Antilhas (derivado da cana-de-açúcar), escravizados da África e vendendo 
tecidos, trigo e peixe para a América Central e rum para os africanos. Esse comércio enri-
queceu a burguesia das Treze Colônias.
A burguesia colonial inglesa na América nunca havia sido rica, de maneira geral, 
pois quando a Coroa Inglesa não viu chances de prosperidade, logo a nobreza inglesa não 
se dispôs a colonizar a região. Quem colonizou o local foi justamente os calvinistas que, 
pobres ou de classe média, trabalhavam com o comércio e lutavam para ficarem ricos, uma 
vez que acreditavam que seu sucesso econômico lhes garantia o paraíso.
64UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
O fator religioso que estimulava o comércio, mas principalmente o fator econômico 
de liberdade cedida pelos ingleses favoreceram a economia das Treze Colônias. Essa 
liberdade econômica apenas seria interrompida após a vitória dos ingleses sobre a França 
na Guerra dos Sete Anos (1756-1763). 
Apesar da vitória contra os franceses, os gastos com a manutenção da guerra fo-
ram enormes e realizaram diversas dívidas. Para conseguir dinheiro para os cofres públicos 
ampliaram o controle sobre suas colônias com maior rigidez e regras sobre a economia 
das mesmas. A Inglaterra já havia proibido a fabricação de tecido e aço em todos seus 
territórios coloniais. O objetivo era que as colônias não fossem um mercado concorrente 
dos produtos ingleses, forçando a queda da oferta, diminuindo as opções no mercado e 
levando os compradores a procurarem os produtos ingleses. Essa política aumentava os 
lucros da Coroa e fortalecia a burguesia inglesa, que era quem havia assumido o poder 
desde a Revolução Gloriosa (1688).
Para recuperar a economia da metrópole, criaram leis que garantiriam maiores 
lucros sobre as colônias e, assim, a Inglaterra utilizou de forma mais rígida seus direitos 
como metrópole e acionou o pacto colonial intervindo diretamente em suas colônias. Além 
de, ainda durante a guerra, já ter proibido a produção de aço e tecido, criaria leis que 
minariam a liberdade econômica dos colonos.
Em 1764 o governo inglês criou a Lei do Açúcar que aumentava os impostos sobre 
a produção de açúcar, vinho, café, etc. Também determinava que os colonos comprassem 
o melaço, matéria prima para a produção do rum, apenas de outras colônias inglesas. 
Essa medida tirou parte dos lucros no comércio dos derivados de açúcar, pois obrigava as 
colônias a comprarem mais caro de outras colônias inglesas em outros continentes. 
Em 1765 a Inglaterra estabelece a Lei do Selo obrigando o uso do selo real em 
produtos e impressos em geral, livros, cartas, bíblias, jornais, documentos e até mesmo bara-
lhos. Com essas leis, os colonos viram os produtos e materiais impressos ficarem mais caros.
A Inglaterra estabelecia, em 22 de março de 1765, que todos os contratos, 
jornais, cartazes e documentos públicos fossem taxados.
A lei caiu como uma bomba nas colônias! Foram realizados protestos em 
Boston e outras cidades (KARNAL, 2007, p. 182).
Como se essas leis já não tivessem gerado insatisfação suficiente, em 1767 os 
ingleses criaram os Atos Townshend aumentando as taxas sobre o chá, o vidro, papel, etc. 
O ministro da fazenda, responsável por esses atos, foi Charles Townshend (1725-1767), 
que ainda nomeou funcionários para reprimir o contrabando na colônia. O contrabando 
aumentava na mesma medida que as leis retiravam a liberdade econômica dos colonos.
65UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
Em 1773 aumentaram a taxação sobre o chá, que era um produto bastante comer-
cializado nas Colônias, pois os moradores haviam adquirido o costume do consumo do chá 
na Inglaterra.
Os colonos tinham o mesmo hábito britânico do chá. Tal como na Inglaterra, 
o preço da bebida vinha baixando, tornando-se cada vez mais popular. Com 
o monopólio do fornecimento de chá nas mãos de uma companhia, os preços 
naturalmente subiram (KARNAL, 2007, p. 195).
Com a intervenção inglesa na economia de cunho mercantilista se intensificava, inten-
sificava-se também a insatisfação colonial. Houveram protestos, boicotes, declarações contra 
as medidas. Tanto foi a resistência das colônias, que algumas dessas leis foram revogadas.
A insatisfação dos colonos era tanta que em 1773 durante a Festa do Chá, que 
acontecia em Boston, alguns habitantes das Colônias, fantasiados de indígenas invadiram 
os navios no porto da cidade e lançaram ao mar os carregamentos de Chá da Companhia 
das Índias Orientais. A Inglaterra revidaria.
Em 1774, a reação dos ingleses foi a criação de novas leis que intervenham no 
lucro das Colônias, o que seus habitantes consideraram intolerável. Além disso, a Ingla-
terra também ordenou o fechamento do porto de Boston como forma de punição e até 
que o prejuízo fosse pago. O porto de Boston era o mais lucrativo das Colônias e fechá-lo 
representava prejuízo para todos seus habitantes. Os ingleses queriam isolar a economia 
da América do Norte.
Os moradores das Treze Colônias estavam acostumados a mais de duzentos anos 
à liberdade comercial. As novas regras caíram como uma bomba sobre suas cabeças e o 
fechamento do porto de Boston como uma pedra no caminho. Assim, uma disputa entre 
Inglaterra e as Treze Colônias ia se tornando inevitável.
Em 1774 representantes de doze das treze colônias realizaram uma reunião que 
foi chamada Primeiro Congresso Continental. Discutiram uma articulação política que en-
volvia a pressão sobre a Coroa para extinguir as Leis Intoleráveis e aprovaram um bloqueio 
comercial aos produtos ingleses. Estavam revidando com o mesmo remédio. Não houve 
nesse primeiro congresso a presença da pauta sobre a independência.
O rei Jorge III (1738-1820) rejeitou a solicitação das Treze Colônias e não revogou 
as Leis, chamadas de intoleráveis, e enviou um efetivo militar até a América do Norte que 
dá início à Revolução Americana que desencadearia a independência das colônias.
A recusa e envio de tropas por parte do Rei Jorge III em 1775, motivou os colonos 
a realizarem o Segundo Congresso Continental, em que estavam presentes representantes 
de todas as Colônias, a luta pela independência tornou-se a pauta principal. Para alcan-
66UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
çar esse objetivo criaram um Exército Coloniale uma comissão deliberativa liderada por 
Thomas Jefferson (1743-1826). A comissão escreveu a Declaração de Independência que 
tinha como principais pontos a liberdade econômica, a autonomia dos estados em relação 
à metrópole e o direito individual. Essa declaração foi promulgada em 4 de julho de 1776.
[...] o Congresso se reuniu na Filadélfia e proclamou, com apoio da popula-
ção, o surgimento de uma nova nação: os Estados Unidos da América. [...]
Os problemas que a declaração de independência enumera já são nossos 
conhecidos: as leis mercantilistas, as guerras que prejudicavam os interesses 
dos colonos, a existência de tropas inglesas que os colonos deviam susten-
tar, etc. A paciência dos colonos, sua alma, e ponderação são destacadas em 
oposição à posição intransigente e autoritária do rei da Inglaterra, no caso, 
Jorge III (KARNAL, 2007, p. 201).
O Rei Jorge, por sua vez, reagiu à posição das colônias em declarar independên-
cia. As tropas coloniais já haviam tomado a cidade de Boston e reabriram o seu porto mais 
importante. As tropas inglesas, mais bem treinadas, experientes e armadas impuseram 
diversas vitórias sobre as colônias. Os colonos ainda tinham que mesclar sua participação 
na guerra com a manutenção de suas colheitas. Apesar de algumas vitórias, os colonos da 
América do Norte sabiam que não tinham forças suficientes contra o real exército inglês.
Benjamin Franklin (1706-1790) sabia que um dos maiores rivais políticos e eco-
nômicos dos ingleses era a França. Sabia também que os franceses estavam ressentidos 
devido à derrota para a Inglaterra na Guerra dos Sete Anos. Franklin foi até a França nego-
ciar com os franceses que desejavam uma revanche. 
Os franceses apoiam a causa dos colonos e enviam cerca de 7500 homens à 
América do Norte para lutarem ao seu lado. O efetivo novo vindo da França revitaliza as 
forças do Exército Colonial.
Com o apoio militar dos franceses as tropas coloniais derrotaram as inglesas na 
batalha de Yorktown em 1781. A Inglaterra apenas reconheceria a independência de suas 
colônias dois anos depois com a assinatura do Tratado de Paris.
As Treze Colônias agora são Estados Unidos da América. Sua luta serviria de 
exemplo para outras colônias de todo o continente americano sob o controle de Portugal, 
Espanha, Holanda e França. Os próprios franceses usam o exemplo da Revolução Ameri-
cana para realizarem sua Revolução alguns anos depois. 
67UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
2. IMPERIALISMOS NA AMÉRICA LATINA
Após sua Declaração de Independência em 1776 com inspiração iluminista e ideais 
de liberdade, os Estados Unidos iniciam uma política contra a colonização, pois haviam se 
sujeitado como colônia durante séculos. Havia o sentimento de que não deveriam ser poli-
ticamente parecidos com a Europa. Sobre essa a questão geopolítica, o quinto presidente 
dos EUA, James Monroe (1758-1831) declarou para o Congresso:
Julgamos propícia esta ocasião para afirmar, como um princípio que afeta os 
direitos e interesses dos Estados Unidos, que os continentes americanos, em 
virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não 
podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização 
por nenhuma potência europeia […] (MONROE, 1823, p. 03).
Os traumas coloniais colaboraram na ideologia política da nova nação. George 
Washington (1732-1799) assim que se tornou o primeiro presidente dos EUA já havia alerta-
do seus compatriotas sobre as diferenças de interesses entre estadunidenses e europeus. 
Portanto, a declaração do presidente Monroe é alinhada com a de George Washington.
Ao mesmo tempo que se direcionam contrários à prática colonial europeia, voltaram 
sua atenção ao continente americano. Em sua declaração, Monroe diz que “os continentes 
americanos [...] não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de coloni-
zação por nenhuma potência europeia” (MONROE, 1823, p 3). De fato, os Estados Unidos 
não fizeram dos territórios latinoamericanos suas colônias, pelo menos não territorialmente.
68UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
Monroe em 1823 cria e coloca em prática a chamada Doutrina Monroe que foi 
resumida na frase “América para os americanos”, sendo um dos pontos a não criação de 
novas colônias no continente americano. Mas o ponto mais controverso foi o de não inter-
venção nos assuntos internos dos países americanos. A prática geopolítica mais comum 
dos Estados Unidos durante os séculos XIX e XX foi a intervenção nos assuntos políticos 
de toda a América Latina. E essa foi a marca do imperialismo norte-americano.
O imperialismo foi uma política de ocupação territorial, exploração de recursos 
naturais, controle político e econômico que surgiu no século XIX, sendo inaugurada pelos 
europeus sob o pretexto de realizar um processo civilizatório fora da Europa aos moldes 
europeus. Esse tipo de imperialismo é chamado de imperialismo formal. Os Estados Unidos 
realizou com a América Latina o imperialismo informal, isto é, uma dominação indireta, onde 
o território não é ocupado, todavia, há o controle econômico através da geração proposital da 
dependência econômica feita através de empréstimos e financiamentos e com alianças com 
elites locais para manterem no poder políticos alinhados aos interesses da nação imperialista.
A doutrina Monroe surge como uma reação às investidas europeias que tentavam 
retomar suas colônias perdidas, sobretudo nas américas, pois no início do século XIX, as 
colônias de Espanha, França e Portugal travaram guerras e conquistaram sua emancipação 
política. Portanto, o presidente Monroe tentava defender a manutenção da independência 
dos Estados Unidos e apoiar a independência de seus vizinhos. Os libertadores da América 
Latina chegaram a enviar cartas a Monroe agradecendo pelo apoio moral, pois na prática os 
EUA ainda eram um país recém independente em processo de construção, que não era um 
potência e ainda com um pequeno território, pois não haviam se expandido para o Oeste.
Somente no fim do século XIX foi que a política Monroe demonstrou seu caráter 
imperialista e, como eram uma economia em expansão direcionaram sua política imperia-
lista aos países mais próximos na América Central. Uma série de intervenções militares 
se seguiram a partir de 1891 no Haiti, Nicarágua, Porto Rico, Cuba, Venezuela, República 
Dominicana, Colômbia, Guatemala, Honduras e Chile. A maioria na América Central e Mar 
do Caribe e três na América do Sul. 
Recentemente, em junho de 2021, o então presidente dos Estados Unidos, o demo-
crata Joe Biden, em uma entrevista, acusou o governo russo de interferir nas eleições norte-
-americanas. O vídeo foi postado no twitter pelo jornalista estadunidense Glenn Greenwald, 
onde Biden questiona: “Como seria se os Estados Unidos fossem vistos pelo resto do mundo 
interferindo diretamente nas eleições de outros países e todos soubessem disso?” Certamen-
te Biden desconhece ou finge desconhecer a história dos Estados Unidos da América. 
69UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
A fala do Joe Biden gerou estranhamento entre historiadores, cientistas políticos 
e observadores internacionais, pois as intervenções norte-americanas em processos elei-
torais foram inúmeras, sendo uma no Uruguai, Bolívia, Venezuela, Argentina, Granada e 
Costa Rica, duas no México, El Salvador, Porto Rico e Chile, três na Guatemala, quatro 
no Haiti e República Dominicana, seis em Cuba, oito em Honduras e Nicarágua e nove no 
Panamá. E ainda existiram os Golpes de Estado liderados por lideranças nacionais, mas 
que tiveram apoio dos Estados Unidos, como ocorreu no Brasil em 1964.
Porto Rico, antigo território da Espanha, foi tomado pelos Estados Unidos após uma 
guerra contra os espanhóis em 1898. Cuba,após se emancipar da Espanha, foi dominada 
pela política dos Estados Unidos a ponto de serem pressionados a mudar sua Constituição 
inserindo na mesma a Emenda Platt que tornaria Cuba em um protetorado dos EUA e 
permitindo sucessivas invasões à ilha, caso Cuba tomasse qualquer atitude que não fosse 
interessante aos norte-americanos. 
[...] o governo americano estabeleceu um Novo Corolário aos princípios de 
1823 e tornava pública a política do big-stick. Nela vinha expressa uma nova 
postura com relação aos países americanos: as nações que cumpriam com 
suas obrigações e compromissos políticos e sociais nada teriam a temer de 
uma possível interferência norte-americana. As que tinham um “mau procedi-
mento”, governos desonestos, poderiam forçar os Estados Unidos a intervi-
rem [...] (SILVA, 1998, p. 14).
Caso algum país latino-americano não seguisse as orientações estadunidenses os 
EUA colocavam em prática sua política do big stick (grande bastão), política de uso de força 
militar para forçar o alinhamento político das nações do continente. Cuba, Nicarágua, Hondu-
ras e Panamá, foram os países que mais sofreram violações americanas com essa política.
O Brasil sofreu pouca influência dos Estados Unidos durante o século XIX. O cará-
ter imperialista da política nacional, afastou a família imperial Bragança dos interesses dos 
Estados Unidos, que eram republicanos. Desta forma, a maior parte das ideias republicanas 
norte-americanas chegaram aqui através de intelectuais vindos da Europa, e eram despreza-
das por D. Pedro II (1825-1891). O Brasil nem mesmo participa dos Congressos que reuniam 
os países do continente. Foi somente a partir do fim do século XIX que com a Proclamação 
da República em 1889 o que acontecia nos Estados Unidos realmente importava ao Brasil.
Com a república, o segundo presidente brasileiro, Floriano Peixoto (1839-1895), 
ergueu no Rio de Janeiro um monumento em homenagem a James Monroe e mandou 
censurar o livro de Eduardo Prado, A ilusão Americana. Na prática, apesar do crescimento 
da influência americana, o que afastou o Brasil dos EUA durante a República Velha foi o 
investimento britânico. 
70UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
Muita discussão houve no país sobre o imperialismo no Brasil. Alguns apoiavam 
os americanos, outros, não. Após a visualização do big stick colocado em prática e suas 
consequências, a aproximação e apoio aos americanos recua, pois geraria a desnacionali-
zação da economia e a exploração de riquezas naturais. E alguns chegaram a denunciar a 
política americana como “América para os americanos… do Norte’’.
Aos poucos a estratégia imperialista dos Estados Unidos foi se modificando. Não 
havia mais espaço para invasões militares para que um presidente fosse substituído. A 
nova forma de dominação seria apoiando as elites locais alinhadas a seus interesses e 
as pressionando para que elas manipulassem o processo político para que o candidato 
alinhado fosse eleito.
Fraudes eleitorais e processos judiciais são a nova cara do imperialismo no 
continente americano. Agora não há mais navios dos Estados Unidos no litoral do país 
ameaçando uma investida caso o golpe de Estado não desse certo. Não existe mais a pre-
sença de tropas americanas em territórios da América Latina. Agora existem os presidentes 
fantoches. Políticos apoiados pelos Estados Unidos e, cegamente, alinhados, criam leis 
que beneficiam o mercado dos EUA e prejudicam seu próprio país. 
O imperialismo, como uma nova face, permanece na América Latina. Hoje é mais 
difícil para os Estados Unidos manterem seus interesses de forma ininterrupta por diversas 
décadas. Muitos políticos não alinhados aos interesses norte-americanos assumiram o 
governo de seus países e criaram leis que beneficiaram a distribuição da riqueza nacional. 
O nacionalismo cresce na América Latina, diminuindo a força da ideologia imperialista. 
A internet vem funcionando como um meio de realização de denúncias contra a entrada 
do capital americano nesses países. Não que o capital americano seja automaticamente 
rejeitado, mas para que entre esses políticos anti-imperialistas exigem que esse capital 
realmente possa contribuir com o crescimento da nação. 
71UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
3. INTERVENÇÕES DIRETAS DOS ESTADOS UNIDOS NA AMÉRICA LATINA
Muitas são as faces do intervencionismo dos Estados Unidos na América Latina, 
como a criação de dependência econômica, influência nas eleições, influência na mudança 
de Constituição, apoios a golpes de Estado, golpes jurídicos e invasão de território. Formas 
diretas e indiretas de intervenção estão presentes na política externa dos Estados Unidos 
da América desde o século XVIII.
As intervenções indiretas foram mais comuns e se manifestaram nos países lati-
noamericanos em regulamentações, fiscalizações, incentivos e planejamento das ativida-
des econômicas. O Estado americano utiliza seu poder para fiscalizar práticas econômicas 
garantindo que as normas da economia sejam seguidas e para punir seus transgressores. 
Dessa forma, o poder econômico dos EUA se impõe e as economias menores da América 
Latina seguem suas normativas.
Para gerar dependência econômica, os americanos realizam empréstimos, acesso 
a crédito e benefícios fiscais ajudando as economias do continente que, depois de algum 
tempo, se veem dependentes do apoio econômico dos Estados Unidos e dificultando a 
construção de novos acordos econômicos com outras potências. Também, a intervenção 
americana ocorre através da regulamentação política, onde seus valores políticos são 
importados das demais nações mesmo contra a vontade delas. Os princípios liberais são 
importados e todas as demais formas de visão política e econômica são desprezadas e por 
vezes, demonizadas.
72UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
Mas aqui apontaremos as intervenções diretas dos Estados Unidos na América 
Latina através do uso militar. A capacidade militar dos Estados Unidos é a maior do mundo 
e através da força militar intimida outras concepções econômicas de mundo que contraria 
seus interesses. Intervenção militar é guerra, isto é, sempre é uma questão de política 
internacional resolvida por meio do uso da força como forma de um ator dobrar a vontade 
de um outro.
O uso da força física de forma presencial é exercido para captar o poder político 
a fim de que este atenda os interesses econômicos e ideológicos de um país. Assim, os 
EUA, quando não conseguiam alinhar a política de determinado país aos seus interesses, 
intervinha militarmente ocupando o território e substituindo seu líder político substituindo-o 
por um mais alinhado com suas perspectivas econômicas.
Somente a partir da década de 1830 houve intervenções para proteger os interes-
ses dos Estados Unidos na Argentina (1833, 1852, 1890), Peru (1835), México (1842, 1844, 
1846, 1859, 1866, 1914, 1918, 1919), Nicarágua (1853, 1854, 1857, 1867, 1894, 1896, 
1898, 1899, 1910, 1912, 1826), Uruguai (1855, 1858, 1868), Panamá (1856, 1865, 1885, 
1903, 1904, 1912, 1918, 1825, 1988, 1989), Paraguai (1859), Colômbia (1860, 1868, 1873, 
1895, 1901, 1902), Haiti (1888, 1891, 1914, 1915), Chile (1891), Honduras (1903, 1907, 
1911, 1912, 1919, 1924, 1825, 1983, 1988), República Dominicana (1903, 1904, 1914, 
1916, 1965), Cuba (1906, 1912, 1917, 1833, 1859, 1862), Guatemala (1920), Suriname 
(1841), El Salvador (1981), Granada (1983).
As intervenções militares nas Américas só diminuíram com o aumento da insatis-
fação regional que resultou em diversas revoltas fazendo os Estados Unidos mudarem de 
estratégia. A partir da década de 1930 as intervenções militares na América Latina foram 
sendo substituídas por intervenções indiretas. Os Estados Unidos ganharam o status de 
superpotênciamundial com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) e usaram sua 
força militar em outros lugares do mundo.
Desde o início da década de 1990 os Estados Unidos não realizam uma interven-
ção militar no continente americano. Preferiram apoiar golpes internos através de acordos 
secretos para manterem políticos favoráveis no poder mantendo seus interesses vivos. Um 
caso clássico foi a tentativa de golpe contra o presidente eleito da Venezuela, Hugo Chávez 
(1954-2013), em 2002.
Na lista de países que sofreram intervenções dos Estados Unidos não constam 
países como Brasil e Bolívia, inclusive, são os únicos, juntamente com a Guiana, que não 
sofreram invasões norte-americanas na América do Sul. Entretanto, a marinha estaduni-
73UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
dense já esteve em nossa costa em dois momentos, uma para defender navios americanos 
durante a Revolta da Armada (1893), que não oferecia riscos ao país e outra foi durante a 
Operação Brother Sam, em 1964 para apoiar o golpe de Estado contra o presidente João 
Goulart (1919-1976). Caso Jango resistisse, o Rio de Janeiro poderia ter sido bombardea-
do. Jango não resistiu, justamente para evitar uma guerra civil. Já a Bolívia, teve a presença 
de tropas dos Estados Unidos durante a guerra contra o narcotráfico em 1986 e 1989.
A última intervenção militar americana na América Latina foi no Panamá em 1989 
para retirar o ditador Manuel Noriega (1934-2017) do poder. Segundo o jornalista Rafael 
Balago (2019) em reportagem para a Folha de São Paulo:
Antonio Vargas, 43, saiu de casa à noite para cuidar de sua mãe, que estava 
doente. Morador da Cidade do Panamá, ele seguia pela rua quando foi sur-
preendido por tiros vindo de um helicóptero. Vargas foi visto pela última vez 
correndo em busca de abrigo. Seu corpo, atingido por projéteis, foi encontra-
do meses depois, em uma vala comum (BALAGO, 2019, s/p).
Mais de trinta anos após, moradores panamenhos continuam procurando os corpos 
de civis desaparecidos que nada tinham a ver com a política nacional do Panamá. Segundo 
os EUA a operação deixou 202 civis mortos. Os panamenhos dizem que foram mais de 500. 
Alguns corpos foram queimados, outros lançados ao mar e alguns, como o Antonio Vargas, 
enterrados em uma vala comum junto a outros corpos. 
O ideal imperialista não mede esforços para alcançar seus objetivos, mesmo que isso 
signifique a morte de civis. O grande objetivo é ter algum político alinhado aos interesses da 
potência imperialista. No Panamá, por exemplo, os governos que se seguiram alinhavam-se 
inteira ou parcialmente aos Estados Unidos, mas todos eles se negaram a investigar a invasão 
ao território panamenho pelos americanos. Somente em 2018, durante o governo de Juan 
Carlos Varela, uma comissão investiga a morte de civis durante a operação.
Recentemente, a ameaça de intervenção militar dos Estados Unidos voltou a 
assombrar a América Latina. O ex-presidente Donald Trump fez menção a uma possível 
intervenção militar na Venezuela governada por Nicolás Maduro. O país sul-americano 
enfrenta uma forte crise econômica, hiperinflação e uma crise política a ponto de além do 
presidente eleito, Maduro, ter paralelamente, um presidente autoproclamado, Juan Guaidó. 
Após a iniciativa de Guaidó de se considerar presidente autoproclamado, Maduro 
o acusa de tentativa de golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos. Maduro realiza a 
acusação, pois Trump já havia admitido essa possibilidade. E o presidente dos Estados 
Unidos fez questão de manter o discurso de possível invasão ao responder aos jornalistas 
que todas as opções estavam na mesa. 
74UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
O presidente estadunidense disse que se Guaidó precisasse de apoio, ele o teria. 
Juan Guaidó, por sua vez, não descartou aceitar a proposta de Trump. A disputa entre o 
presidente eleito, Nicolás Maduro, e o presidente autoproclamado, Juan Guaidó gerou mui-
tas disputas retóricas. Os que defendem Guaidó, afirmam que Maduro fraudou as eleições 
e manipula as instituições para se manter no poder. Os defensores de Maduro seguem seu 
discurso e dizem que os Estados Unidos manipulam Guaidó para justificar uma invasão e 
ter acesso ao petróleo venezuelano. Independente se apoiam Maduro ou Guaidó, os países 
da América do Sul descartam uma invasão dos Estados Unidos e afirmam que apoiam uma 
transição da Venezuela a uma democracia realizada pelos próprios venezuelanos.
Os traumas das inúmeras invasões estadunidenses na América Latina continuam 
vivos após mais de 30 anos da última invasão. A interferência contínua dos americanos na 
região gerou ressentimentos e desconfianças e esses países questionam os reais interes-
ses americanos na região e seu real compromisso com a democracia.
75UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
4. OS ESTADOS UNIDOS COMO POTÊNCIA MUNDIAL
Indiscutivelmente os Estados Unidos da América são a maior economia do planeta, 
uma superpotência. Sua influência atinge todo o globo. Sua economia é tão grande que sua po-
lítica não pode ser desprezada descuidadamente pelos demais países. Em 2020 o PIB nominal 
(Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos foi de 20,5 trilhões de dólares. Maior que o PIB de 
toda União Europeia, que foi de 18,7 trilhões. Seu poder político e econômico só é ameaçado 
pela China, que cresce ano após ano percentuais invejáveis, até mesmo para os EUA.
Para compreender como os Estados Unidos se tornaram a maior potência mun-
dial, alguns pontos já foram apresentados nesta obra envolvendo o passado desse país. 
Qualquer pergunta sobre uma nação, suas respostas serão encontradas em seu passado. 
Os Estados Unidos foram formados com uma mentalidade comercial, fruto do puritanismo 
religioso. Estabeleceu sua economia, ainda durante as Treze Colônias, sustentada pela 
liberdade comercial. Alcançou sua independência política precocemente o que a colocou no 
ritmo das mudanças das nações europeias. Adotou uma política imperialista no século XIX 
que resiste até hoje que envolveu intervenções militares e eleitorais e o domínio econômico. 
Todos esses aspectos citados são importantes para a compreensão dos Estados Uni-
dos como a grande potência do século XX e XXI, mas ainda outros fatores serão apresentados 
neste tópico, sobretudo seu desenvolvimento industrial, investimento em ciência e tecnologia, 
investimento e desenvolvimento da indústria bélica e sua prática militarista intercontinental.
76UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
A indústria americana se desenvolveu pioneiramente no continente americano. A mentali-
dade do país era altamente liberal. Seguiam as leis de livre-mercado de Adam Smith (1723-1790) 
e David Ricardo (1772-1823). Quando tentaram ferir a liberdade econômica de suas colônias, 
fizeram uma revolução e declararam a independência. A independência que declararam, para 
além da política, era, sobretudo, econômica. Uma vez independentes e com o ideal liberal burguês 
em mente. Iniciam o seu processo de desenvolvimento comercial e industrial.
Livres, acompanharam a Revolução Industrial que ocorria na sua antiga metrópole, 
a Inglaterra e, seguiram seus passos, já na segunda metade do século XIX, junto às potên-
cias europeias e Japão, protagonizam a Segunda Revolução Industrial. Os Estados Unidos 
começaram a se tornar uma potência, aos poucos, a partir de então.
Nesse período, a economia americana cresceu embalada nas mãos dos mono-
pólios. Empresários como Cornelius Vanderbilt (1794-1877) dono de ferrovias, Andrew 
Carnegie (1835-1919) da metalurgia e John D. Rockefeller (1839-1937) do petróleo se 
tornaram bilionários. A fortuna de Rockefeller foi estimada em mais de 1 trilhão de dólares. 
O monopólio dessesempresários existiu devido às novas demandas internas do país.
Com a expansão americana para o Oeste foi necessário o desenvolvimento de uma 
logística mais eficiente, daí surgem as ferrovias e os trens de ferro de Vanderbilt. As dificul-
dades em construir pontes de ferro em alguns rios, como o Mississipi, fizeram que Carnegie 
desenvolvesse um aço mais resistente para suportar os trens de Vanderbilt e, logo, seu aço 
já estava sendo vendido para todo o país e fora dele. A nova matriz energética, o petróleo, 
enriqueceu os Rockefeller. Todas as casas e empresas tinham lamparina a óleo. Isso já era 
o suficiente para que para a fortuna de Rockefeller, mas após descobrir que era possível 
fazer gasolina do petróleo, sua fortuna disparou. 
Para driblar os limites da indústria americana a solução foi investimento em ciência e 
tecnologia, algumas vezes de empresários, mas a maioria do Estado americano. A Segunda 
Revolução Industrial também foi uma revolução científica. Foi com investimento em ciência 
que Carnegie criou um aço mais forte para poder criar uma ponte sobre o Mississipi, poden-
do suportar um trem de ferro de toneladas. Foi com ciência que Rockefeller transformou o 
descarte do petróleo em gasolina. Foi nessa era que alguns nomes populares da ciência 
estadunidense surgem, como Thomas Edison (1847-1931) e Nikola Tesla (1856-1943) 
com a eletricidade, Alexander Grahan Bell (1847-1922) com a telefonia e os irmãos Wilbur 
(1867-1912) e Orville Wright (1871-1948) com a aviação, que até hoje ainda disputam com o 
brasileiro Santos Dumont (1873-1932) o título de reais inventores do avião.
77UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
O sucesso desses bilionários monopolistas e dos cientistas inventores significava 
o sucesso dos Estados Unidos. A demanda era socorrida pela ciência e tecnologia e ace-
leram a economia do país. Economia tão ansiosa por crescimento que também surgem 
nos Estados Unidos a gerência científica, também chamada de taylorismo e o fordismo. O 
Taylorismo e o fordismo surgiram no fim do século XIX e início do século XX e conseguiram 
organizar e acelerar a produção, diminuir os seus custos e aumentar o lucro. A economia 
americana estava pronta para se tornar a grande potência mundial, mas a Inglaterra ainda 
permanecia soberana como uma grande potência econômica e imperial.
As tensões europeias que existiam desde o século XIX desencadearam o início 
da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918). Foram quatro anos de horror, mortes, feridos e 
destruição. A destruição e morte refletiu na economia dessas nações. Inglaterra, França, 
Alemanha, Itália e Rússia estavam esgotadas economicamente e demoraram para reagir. 
Quem se beneficiou com a guerra na Europa foram os Estados Unidos que entraram no fim 
do conflito ao lado da Tríplice Entente e definiram os vencedores. 
Os Estados Unidos entraram na guerra para que não houvesse prejuízos. Até então 
neutros, não poderiam correr o risco de seus aliados perderem e as empresas americanas 
correrem o risco de sofrer um calote, uma vez que estas vendiam diversos produtos para 
Inglaterra e França. Se as empresas americanas quebrassem a economia americana que-
brava, portanto, os Estados Unidos declararam apoio declararam guerra à Tríplice Aliança e 
despejaram soldados na Europa em 1917. O equilíbrio da guerra deixa de existir e o avanço 
da Tríplice Entente força a rendição dos membros da Tríplice Aliança em 1918.
Os Estados Unidos saíram como o grande vencedor, a economia americana estava 
salva, pois os países europeus tinham que pagar suas dívidas aos Estados Unidos, além 
disso, havia uma dívida moral para retribuírem. A Europa com sua indústria e economia 
destruídas não poderia rivalizar com a indústria americana, que se tornou, após o fim da 
primeira guerra, a maior do mundo. 
Na década de 1920 a riqueza conquistada pelos americanos foi utilizada em um 
forte consumismo, Com um estilo de vida perdulário e luxuoso, os EUA o importava para o 
resto do mundo através de filmes e músicas. Nos filmes o American Way of Life (estilo de 
vida americano) era divulgado e o mundo via naquilo o sinônimo do progresso liberal que 
só os Estados Unidos tinham.
Apesar da quebra de valores de Nova York em 1929 e da Grande Depressão eco-
nômica dos anos 1930 os Estados Unidos continuavam como uma economia em ascensão, 
sobretudo porque seus rivais ainda estavam com a economia debilitada desde o fim da 
Primeira Guerra.
78UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
Em 1939 com a invasão da Alemanha em território polonês, explode a Segunda 
Guerra Mundial. A fórmula mágica da participação americana utilizada na Primeira Guerra 
é repetida na segunda. Os Estados Unidos entraram no conflito ao lado das forças Aliadas, 
composta por Inglaterra, França e União Soviética, e combatiam as forças do Eixo, com 
Alemanha, Itália e Japão. 
Os EUA investiram pesado na produção e venda de materiais bélicos para as forças 
Aliadas. Apesar de terem saído de uma grave crise econômica durante os anos 1930, a 
economia americana voltava com muita força. A solução keynesiana (intervencionista) para 
economia deu certo. A economia crescia sob o investimento do Estado. Esse investimento 
foi direcionado para a indústria de guerra durante todo o período da segunda guerra mun-
dial. Portanto, o investimento de guerra e as políticas keynesianas foram responsáveis pelo 
rápido crescimento americano entre 1939 a 1945.
Novamente, com medo de seus aliados perderem a guerra e não tivessem como 
honrar suas dívidas, os Estados Unidos declararam guerra às forças do Eixo, em 1941, após 
um ataque japonês em sua base naval de Pearl Harbor. Sua entrada na guerra, novamente 
foi decisiva. Colaborou com soldados e armas que foram fundamentais para a derrota da 
Alemanha, Itália e Japão. 
Com o fim da guerra, além das dívidas gigantescas que as nações europeias tinham 
que pagar aos Estados Unidos, ainda criou o Plano Marshall. Esse plano consistia na política 
de auxílio econômico aos países europeus para reconstrução de sua economia através de 
financiamentos e empréstimos. Além dessa prática os Estados Unidos inundaram a Europa 
com produtos industrializados americanos. Aproveitou a economia em crise da Europa para 
se inserir no mercado europeu, praticamente, sem concorrência. 
Além dos fatores apresentados, a economia americana também soube utilizar 
habilmente seu enorme mercado consumidor interno, a grande oferta de força produtiva 
disponível, o potencial energético, a exploração das jazidas minerais diversificadas, além 
do investimento da política keynesiana em estrutura, logística, ciência e tecnologia. 
Com o fim da Segunda Guerra os Estados Unidos se consolidaram como superpo-
tência mundial ao lado da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Entre 
as décadas de 1940 e 1980 as duas superpotências rivalizavam em todos os aspectos para 
confirmar que suas ideologias econômicas eram superiores. Rivalizavam na ciência, na 
produção de armamentos bélicos de destruição em massa, nas tecnologias aeronáuticas 
e até mesmo nos esportes.
79UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
Em 1989 a queda do Muro de Berlim se torna o grande marco para a queda do 
comunismo soviético. Em 1991 a URSS se desintegra e os Estados se tornam a única 
superpotência mundial. Sem seu maior rival ideológico a economia americana se concentra 
na produção industrial, continua desenvolvendo novas tecnologias e conquistando mais 
mercados externos. 
Nos anos 1990 e 2000 os Estados Unidos aceleraram seu crescimento se consoli-
dando ainda mais como potência hegemônica mundial. O alto índice de desenvolvimento é 
impressionante. Apenas um país no mundo conseguiu, a partir da década de 1990, índice 
maior queos Estados Unidos, a China. Apesar do surpreendente crescimento da economia 
chinesa, os Estados Unidos ainda são a maior economia do planeta e, mesmo após a China 
ultrapassar a economia americana, os Estados Unidos continuarão como uma superpotên-
cia e manterão seu poder político e geopolítico em todo o Globo durante muito tempo.
80UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
SAIBA MAIS
Segundo Noam Chomsky o poder dos Estados Unidos, apesar de menor, ainda é gran-
de. Para ele, a América Latina tomou as rédeas de seu desenvolvimento, porém ainda 
cheia de problemas, sobretudo por estar com sua economia nas mãos das elites locais 
que preferem acumular a riqueza nacional que diminuir a desigualdade, mas, parecem 
estar livres dos Estados Unidos. Chomsky também elucida sobre as possíveis novas 
potências, China e Índia e como as duas são grandes credoras da dívida americana. 
Uma guerra econômica poderia surgir se os Estados Unidos decidissem não pagar essa 
dívida, ou quem sabe uma guerra de fato, o que é pouco provável, mas não se sabe até 
onde a ganância pode levar.
Fonte: CHOMSKY, N. Quem manda no mundo? São Paulo: Crítica, 2017.
REFLITA 
“O novo imperialismo americano parece substancialmente diferente da variedade ante-
rior, já que os Estados Unidos são uma potência econômica em declínio e, consequen-
temente, estão vendo uma perda de seu poder político e influência.”
Fonte: BARSAMIAN. D. Quem são os donos do mundo? UOL, São Paulo, 06 de fev. de 2013. Disponível 
em: https://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/noam-chomsky/2013/02/06/quem-sao-os-donos-
-do-mundo.htm. Acesso em: 01 jul. 2021.
81UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O imperialismo dos Estados Unidos sempre se fez presente no continente ameri-
cano desde sua independência e isso mudou a história da América Latina. Os americanos 
impuseram sua agenda econômica e política. Todos deveriam caminhar conforme os dita-
mes dos norte-americanos.
Ditaduras foram instaladas para manter esses países na agenda econômica ca-
pitalista. As intervenções diretas foram inúmeras e a liberdade tão pregada pelos estadu-
nidenses se mostrou uma grande hipocrisia desde a independência. Libertaram as Treze 
Colônias da Inglaterra, mas mantiveram os africanos escravizados. Libertaram os escravi-
zados, mas permitiram sua segregação. Apregoavam a democracia, mas colaboraram com 
intervenções militares, substituições de presidentes e formação de ditaduras.
Os Estados Unidos construíram uma potência política e econômica ao mesmo 
tempo que construíram uma imagem negativa de si na América Latina. A imagem negativa 
era tanta que os próprios políticos estadunidenses queriam mudá-la e pararam de intervir 
diretamente no continente em 1989. Mas as lembranças de muitos países latinoamericanos, 
provavelmente, ainda demorarão para serem esquecidas, sobretudo daqueles que tiveram 
seus territórios invadidos.
82UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
LEITURA COMPLEMENTAR
CHOMSKY, N. Quem manda no mundo? São Paulo: Crítica, 2017.
83UNIDADE III A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: Quem manda no mundo?
Autor: Noam Chomsky.
Editora: Crítica.
Sinopse: O mais importante ativista intelectual do mundo oferece 
neste livro um aprofundado exame das mudanças do poder norte-
-americano, as ameaças à democracia e o futuro da ordem global. 
Meticulosamente documentado, Quem manda no mundo? é um 
guia indispensável para entender a situação internacional atual. 
Com clareza e oferecendo diversos exemplos, Chomsky mostra 
como os Estados Unidos continuam sendo a voz mais forte, mesmo 
com a ascensão da Europa e da Ásia. O envolvimento americano 
com China e Cuba, as sanções contra o Irã, os conflitos no Iraque, 
Afeganistão e Israel/Palestina, a relação com a América Latina e 
África e o aquecimento global são alguns dos pontos discutidos no 
livro. Chomsky escreveu um posfácio sobre a eleição de Donald 
Trump, o referendo Brexit e a ascensão dos partidos ultranaciona-
listas de extrema direita na Europa. Sua conclusão é alarmante e 
preocupante sobre o futuro do mundo.
FILME / VÍDEO
Título: Doutrina Monroe
Ano: 2015.
Sinopse: explicação do que foi a Doutrina Monroe e como ela 
se tornou a base da prática imperialista dos Estados Unidos na 
América Latina sob a frase “América para os americanos”.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=2JMtVX9u0UQ 
84
Plano de Estudo:
● Venezuela e o Bolivarianismo;
● Os governos militares, a guerra fria e o comunismo;
● América latina pós ditaduras militares;
● Golpes, protesto e a ascensão da extrema-direita no século XXI.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar o que é Bolivarianismo e compreender o processo 
● de ascensão da esquerda na Venezuela chavista;
● Compreender como o comunismo foi utilizado como narrativa 
para o surgimento de ditaduras militares na América Latina;
● Entender como os Estados Unidos utilizaram essas 
ditaduras para impor seus interesses;
● Entender como a América Latina se redemocratizou
 e como estão essas democracias;
● Conhecer um pouco sobre a história recente do continente 
americano e suas tensões políticas e conceituar o que é extrema-direita.
UNIDADE IV
América Latina e a Busca 
Pela Autonomia
Professor Esp. Paulino Augusto Peres
85UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
INTRODUÇÃO
Após os Estados Unidos voltarem suas atenções para outros lugares no mundo, 
sobretudo aqueles que perderam o apoio da URSS, a América continuava lutando contra o 
imperialismo americano exercido de forma indireta. Personagens como Hugo Chávez (1954-
2013) surgem criticando os políticos de seus país e os acusando de estarem alinhados aos 
interesses estadunidenses e transformando o conceito de bolivariano para se encaixar em 
sua narrativa. Os venezuelanos apoiaram Chavez e levaram seus ideais anti-imperialistas ao 
poder. Uma vez no poder, aos poucos, Chávez e seu sucessor, Maduro, passaram a criar leis 
que aumentavam seus poderes, colocando a Venezuela em um estado de quase ditadura. 
As ditaduras foram comuns na América Latina durante a Guerra Fria. Vários gover-
nos de direita forma instalados com apoio estadunidense com medo da suposta “ameaça 
vermelha”. Nesse processo, dezenas de milhares de pessoas foram presas, torturadas 
e assassinadas no continente. Somente após o fim dessas ditaduras o continente pode, 
finalmente, correr atrás de seu próprio futuro sem as intervenções imperialistas diretas e 
dando oportunidade a outras concepções ideológicas de existirem. 
Após trinta anos desde o fim da última intervenção militar americana na América, 
o continente sofre uma nova onda totalitarista: a extrema-direita. Essa onda chegou ao 
poder nas duas maiores potências do continente e possui um discurso, considerado por 
pesquisadores, ameaçador à democracia. Mas, mesmo diante da atual ameaça, as forças 
democráticas se movimentam e através da lei lutam para que não ocorra novas ditaduras 
no continente americano.
86UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
1. VENEZUELA E O BOLIVARIANISMO
No Brasil o bolivarianismo passou a ser mencionado em debates políticos em redes 
sociais com bastante frequência a partir do radicalismo político que vem inundando o país 
desde 2013. O bolivarianismo, nas redes, se tornou sinônimo de comunismo e serviu como 
ofensa para os opositores da esquerda no país. Também vale lembrar que o bolivarianismo 
é associado ao chavismo da Venezuela, movimento político inaugurado pelo ex-presidente 
venezuelano, Hugo Chávez. 
Ao confundir esses conceitos esvazia-se a discussão e confunde a população, além 
de desprezar o legado de Simón Bolívar (1783-1830) no processo de libertação da Américado Sul no início do século XIX. Mas afinal, ser bolivariano é ser comunista? A Venezuela é 
bolivariana? O Brasil está se tornando uma Venezuela?
Toda essa confusão conceitual surge a partir de 1999 quando o militar, Hugo Ra-
fael Chávez, lidera a chamada Revolução Bolivariana da Venezuela. Com características 
políticas de esquerda, economia capitalista e forte crescimento do Estado na participação 
da economia nacional, convencionou-se chamar a Venezuela de comunista, mesmo sendo 
um país capitalista.
O legado das lutas bolivarianas e a apropriação desse termo, acontece em dois 
casos. O primeiro é o culto a Bolívar que “surge da necessidade – compartilhada pela classe 
dominante venezuelana – de restabelecer o domínio e a estrutura político econômica da so-
ciedade, cuja possibilidade se faz possível à sombra do libertador” (SEABRA, 2010, p. 212).
87UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
Portanto, no primeiro caso é a classe dominante venezuelana que tem um interesse 
nacionalista à fim de superar os conflitos internos frutos de uma guerra civil. Para poder 
pacificar o país e diminuir os rancores um sentimento nacionalista de união deveria ser 
incentivado, portanto, o nome que poderia unir os grupos sociais dentro da Venezuela foi o 
do grande libertador, Bolívar.
O segundo caso sobre a apropriação do termo bolivariano ocorre à partir de uma 
releitura de grupos guerrilheiros comunistas na Venezuela, que abandonaram as perspec-
tivas soviéticas e modificaram suas propostas para o futuro do país com características 
progressistas, anti-imperialistas e de solidariedade latino-americana. 
Uma mistura entre esses dois casos envolvendo o culto a Bolívar e os ideais pro-
gressistas, anti-americanos e de união da América Latina dão a cara ao bolivarianismo 
venezuelano a partir do fim da década de 1980, sem, contudo, estar alinhada aos interes-
ses soviéticos. O que se mostrou ter sido um bom posicionamento político, pois a URSS 
experimentaria seu declínio e caos nos anos 1980 até 1991 quando se dissolve e deixa de 
existir, representando o fim do Bloco Comunista. O bolivarianismo se mostrou inovador.
A renovação criativa do bolivarianismo demonstra que a fragmentação e a 
hierarquia no interior da classe trabalhadora não podem ser superadas so-
mente pela socialização da produção, mas sim em conformidade com a parti-
cipação e distribuição radical do poder político (SEABRA, 2010, p. 212). 
O movimento substituiu os ideais socialistas de apropriação dos meios de produção 
e divisão social da riqueza por distribuição do poder político. O objetivo não era mais radi-
calizar a economia, mas o poder. E com essa ideia, o movimento bolivarianista conseguia 
apoiadores quando se sentiram deslegitimados pelo poder político nos anos 1980 e 1990. 
A população na rua acusava o Estado de ser rico e negligente com seu povo e reforçaram 
a ideia de serem vítimas do poder. 
A revolta da população contra o governo que não conseguia controlar a alta da infla-
ção e a alta dos preços das passagens de ônibus gerou uma tentativa de golpe liderado pelo 
bolivarianista Hugo Chávez em 1992. Chávez foi preso por dois anos, entretanto foi projetado 
para o cenário nacional como uma importante liderança. Apesar de seu golpe de Estado ter 
fracassado, o presidente Carlos Andrés Pérez (1922-2010) foi afastado acusado de corrupção.
Com a alta popularidade Chávez se lança como candidato presidencial nas eleições 
de dezembro de 1998 e as vence com 56% dos votos e assume o governo em 1999 para 
um mandato de cinco anos. Sua campanha foi marcada pelo anti-imperialismo, justificação 
do Golpe de 1992 e desconfiança em relação à então Constituição da Venezuela. Ou seja, 
“o êxito eleitoral do grupo chamado de bolivariano significou a possibilidade de se realizar 
mudanças estruturais no país” (ARCE e SILVA, 2015, p. 133).
88UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
O bolivarianismo se instalou como política nacional venezuelana a partir de 1999 du-
rante o governo de Hugo Chávez com uma economia capitalista, ideais de emancipação do 
capital americano, que acusava de imperialista, integração regional, nacionalismo e resgate da 
população pobre do país. A política venezuelana adotou políticas progressistas com Chávez, 
em outras palavras, políticas de esquerda, que não são políticas socialistas ou comunistas.
Apesar do culto a Bolívar ter sido realizado por todos os antecessores de Chávez, e 
todos terem exaltado a imagem e memória de Bolívar, é com Chávez que o bolivarianismo 
irá se reinventar. Durante décadas, elites, classe média e classes baixas se apropriaram do 
bolivarianismo, mas Chávez conseguiu reinventar o bolivarianismo e colocar nele a alcunha 
de sua política de esquerda progressista. Portanto, não foi Hugo Chávez que inventou o 
bolivarianismo, mas com certeza teve sucesso em sua popularização.
Constantemente Chávez trazia fragmentos do discurso de Bolívar em prol do res-
tabelecimento da moral bolivariana na tentativa de fazer com que propostas de Bolívar 
rejeitadas na primeira metade do século XIX fossem colocadas em prática no século XXI 
na Venezuela, Assim “Chávez se colocou no cenário político como um continuador da obra 
de Bolívar e responsável por restituir o poder ao povo venezuelano através do ideário boli-
variano” (ARCE e SILVA, 2015, p. 134).
Chávez mantém o culto presente no imaginário popular a Bolívar e o reinventa 
quando o institucionaliza ao redefinir o nome do país como República Bolivariana da Ve-
nezuela e criar políticas sociais. Com a transferência de riqueza transformada em marca da 
política chavista, Chávez vence todas as eleições que participa.
As políticas nacionalistas de Chávez incomodavam o mercado internacional glo-
balista que queria ter maior participação da riqueza nacional venezuelana. O nacionalismo 
de Chávez era mal visto pelos EUA que até mesmo tentaram retirá-lo do poder em 2002 e 
tiveram êxito por alguns dias, mas o bolivarianismo, também presente nas Forças Armadas 
o recolocou no poder após ser resgatado.
A construção do imaginário internacional contra Chávez é realizado dentro de dis-
putas políticas que envolviam o imperialismo dos Estados Unidos, que, conforme já citado 
nesta obra, havia modificado sua estratégia de intervenção na América Latina, deixando 
de realizar intervenções militares para apoiar golpes internos liderados pelas elites locais 
(como ocorreu em 2002 na Venezuela) ou para interferir nas eleições através de manipu-
lação judiciária para manchar a reputação do candidato anti-EUA. Chávez se torna alvo do 
imperialismo norte-americano quando se auto-declara contra a influência dos estaduniden-
ses na América Latina e em prol da integração regional latino-americana. 
89UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
Durante todos os anos 2000 os canais de imprensa de direita na América Latina 
realizam a construção de estereótipos generalizantesm, não só de Chávez, mas de outros 
líderes progressistas da américa Latina com o objetivo de colarem neles a alcunha de 
comunistas e, como já vimos aqui, Chávez havia abandonado os ideiais soviéticos, ainda 
nos anos 1980, portanto:
[...] Nesse processo, o jornalismo deixa transparecer opiniões e admite jul-
gamentos de valor. Estereotipia por generalização, ou seja, a tendência a 
convergir, confundir e relacionar as informações sobre os líderes latino-a-
mericanos de forma a criar uma imagem comum, que se sobressai ao fato 
de serem indivíduos distintos, em contextos distintos. (UMBELINO FILHO e 
RODRIGUES, 2014, p. 05).
O grande risco dessa abordagem jornalística é trazer uma crise de conceitos, con-
fundindo a população fazendo-os acreditar que bolivarianismo, comunismo e socialismo são 
a mesma coisa, além de dar a entender que países distintos não possuem características 
próprias, generalizando suas histórias, problemas, lutas e superações. Sendo assim, esse 
jornalismo mais confundeque informa.
A Revolução Bolivariana na Venezuela promovida com a chegada de Chávez ao 
poder em 1999 foi legitimada pela maior parte da população da Venezuela, pois o pre-
sidente conseguiu trazer benefícios concretos à população. O combate à desigualdade, 
atenção aos pobres, elevação da importância internacional venezuelana e a administração 
dos recursos naturais são apontados como os principais pontos positivos da gestão de 
Hugo Chávez que governou entre 1999 e 2013 de forma ininterrupta. 
Durante seu governo a desigualdade regrediu alcançando a menor desigualdade 
de toda América Latina. Combateu a pobreza com sua política de Missões através da al-
fabetização da população e redução da mortalidade infantil. Em 2013 a Venezuela havia 
reduzido a porcentagem de pessoas abaixo da linha da pobreza de 62,1% para 31,9%. 
A alfabetização acelerou para 95% da população e em 2010 83% frequentavam o ensino 
médio. Outra realização chavista foi a redução da mortalidade infantil de 20 para 13 para 
cada mil nascimentos vivos, graças a uma melhor estruturação do sistema de saúde.
Chávez também é muito criticado por seu perfil autoritário, acusações de corrupção, 
atritos com a imprensa e aumenta violência. Seu estilo autoritário e personalista o levou a 
ser criticado, sobretudo por ter adotado medidas antidemocráticas, apesar de ter mantido 
as principais instituições democráticas no país. Também foi acusado de aparelhar o Estado 
colocando pessoas de confiança em pontos estratégicos para beneficiar seu governo. Em 
2007 Chávez não renovou a concessão para a RCTV, que havia sido acusada por Chávez 
de apoiar a tentativa de golpe contra ele em 2002.
90UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
A política externa chavista, talvez, foi seu maior ponto forte e fraco, ao mesmo tempo. 
Chávez é celebrado dentro da Venezuela por usar uma retórica fortemente anti-imperialista 
em reuniões internacionais, sobretudo nas Nações. Dispensou a cordialidade nas relações 
com os Estados Unidos e apostou na integração com a América Latina. Como moeda de 
troca, baixou os custos do petróleo venezuelano atraindo parceiros comerciais importantes. 
Ao mesmo tempo, que o estilo Chávez era celebrado internamente, nos Estados Unidos e 
Europa era mal visto. Os americanos eram os maiores clientes do Estado Bolivariano, mas 
a retórica do líder venezuelano derreteu as relações diplomáticas entre ambos. Também, 
sem o apoio de Estados Unidos e União Europeia, se aproxima de líderes controversos 
como Saddam Hussein (1937-2006), na época demonizado pelas potências ocidentais. 
Após sua morte, seu sucessor, Nicolás Maduro, continua a Revolução Bolivariana 
na Venezuela, mas sem os bons índices do governo Chávez. A grande marca do fracasso 
do governo Maduro, mas não do bolivarianismo, foi a alta de 3000% na inflação do país em 
2020 e acumula sete anos consecutivos de recessão econômica. O fracasso econômico de 
Maduro passa pela queda do preço e produção do petróleo, o principal motor da economia 
venezuelana, dependência das importações e controle cambial, hiperinflação, crise política, 
e bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos.
Alguns defendem a tese que o grande responsável pela crise da Venezuela é o Blo-
queio dos norte-americanos, sendo o grande responsável pelo desabastecimento e hiperin-
flação, pois os EUA proibiram qualquer instituição financeira com sede em solo americano 
fazer qualquer tipo de transação econômica com o Estado Venezuelano e a punição para o 
desrespeito a ordem do Estado é o bloqueio dos bens econômicos da empresa, portanto a 
maior parte dos Bancos do mundo todo não realizam transações com os venezuelanos. Até 
mesmo algumas transportadoras que carregam alimentos ao país sofrem com o embargo 
e, aos poucos, desistem de enviar mercadorias à Venezuela, agravando ainda mais a crise.
Os ideais bolivarianos, com certeza, não morrerão, pois a inspiração não é Chá-
vez, mas Bolívar. Símon Bolívar é cultuado no país como o grande libertador e qualquer 
líder que assumir o país invocará o nome dele, sendo de direita ou esquerda. Classificar o 
bolivarianismo como comunista é uma demonstração de ingenuidade histórica, ignorância 
teórica e um desrespeito ao povo venezuelano, que não sabe ainda porque alguns líderes 
pelo mundo invocam o nome de seu grande herói, Bolívar, em vão.
91UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
2. OS GOVERNOS MILITARES, GUERRA FRIA E O COMUNISMO
Na sombra da Guerra Fria entre os blocos comunistas e capitalistas liderados por 
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e Estados Unidos da América o continente 
americano, considerado pelos norte-americanos seu quintal, foram palco de diversos gover-
nos ditatoriais comunistas e capitalistas. Ao se instalarem como ditaduras justificavam seu 
autoritarismo com o discurso de que o inimigo poderia chegar ao poder e destruir o estilo 
de vida, cultura e sociedade. Os comunistas acusavam os capitalistas de espoliar a nação 
a favor dos Estados Unidos e os capitalistas denunciavam os comunistas de expropriar a 
propriedade privada e de destruir a moral cristã. Independente de suas motivações, ambas 
impuseram regimes autoritários que fraudavam, censuravam, perseguiam, prendiam, tortu-
ravam e assassinavam.
Dos anos 1960 em diante, Guatemala, Honduras, El Salvador, Panamá, Nicarágua, 
Haiti, República Dominicana, Equador, Peru, Chile, Bolívia, Paraguai, Argentina e Brasil 
experimentaram ditaduras militares capitalistas. Haiti, República Dominicana e Uruguai 
também experimentaram ditaduras civis. Peru e Bolívia experimentaram ainda uma ditadura 
militar nacionalista. A Nicarágua ainda passou por uma experiência socialista e Cuba teve, 
e ainda tem, a única ditadura comunista do continente. De todos os países do continente 
americano, com exceção das Antilhas, apenas México, Costa Rica, Venezuela e Colômbia 
não experimentaram qualquer forma de ditadura legal a partir da década de 1960. 
92UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
Houve, no período citado, quatorze ditaduras capitalistas, três ditaduras civis, duas 
ditaduras nacionalistas, e apenas uma ditadura comunista. A partir do fim da Segunda 
Guerra Mundial (1939-1945) os EUA desenvolveram uma série de programas e mecanis-
mos para conter o avanço do Bloco Comunista e combater o red scare (ameaça ou medo 
vermelho) no território norte-americano e fora dele, sobretudo após a revolução cubana de 
orientação socialista em 1959. 
O imperialismo norte-americano sobre Cuba através do apoio ao presidente Ful-
gêncio Batista (1901-1973) estimulou os cubanos a apoiarem uma Revolução Comunista. A 
população do país colocou nos Estados Unidos parte da culpa pelos seus problemas sociais, 
como pobreza, desigualdade e fome. O governo dos Estados Unidos percebeu que suas 
ações na ilha de Cuba colaboraram para a crise no país e pelo crescimento do sentimento 
anti-americano. Sendo assim, a postura norte-americana na América Latina iria mudar para 
evitar que as desigualdades do continente provocassem novas revoluções socialistas.
Uma das estratégias norte-americanas para impedir novas revoluções comunistas 
foi a de melhorar os índices socioeconômicos da região, levando à essas populações maior 
qualidade de vida evitando para uma radicalização político-ideológica. Apesar dessa alian-
ça dos EUA com lideranças regionais os problemas latinoamericanos ainda eram muitos, 
e assim, a influência do Bloco Comunista crescia no continente. Para impedir que essas 
forças comunistas conseguissem alcançar o poder o governo estadunidense, em diversos 
momentos, aliado a políticos ligados às oligarquias destas nações, apoiou golpes de Estado 
e instalação de ditaduras militares de direita. Ao todo, a partir dos anos 1960, foram quatorze.
Quem inaugura a era das ditaduras militares de direita na América do Sul foi o 
Brasil em 1964. Em 1961 assume o poder presidencial no Brasil, atravésdo voto direto e 
respeitando a Constituição do país, o excêntrico político de direita, Jânio Quadros (1917-
1992). Seu breve governo foi marcado por uma forte crise econômica ao qual tentava tirar 
o foco através de atitudes absurdas, como proibir o uso de biquíni por mises em desfiles. 
Jânio, ao ver que não possuía apoio do Congresso Nacional e nem da população, 
resolveu usar o radicalismo político da Guerra Fria a seu favor. Seu vice, João Goulart 
(1919-1976), era um político de esquerda e criticado pela direita de ser demasiadamente 
esquerdista, portanto, comunista. Goulart, ou Jango, como era chamado, já havia sido vice-
-presidente, do também político de esquerda, Juscelino Kubitscheck (1902-1976). Surfando 
na onda radical, Jânio Quadros envia Jango à China, que havia se tornado comunista na 
década de 1950 para gerar maior desconfiança sobre o caráter comunista de Goulart na 
população e no Congresso. Uma vez que Jango estava na China, Jânio renuncia à presi-
dência acreditando que a população iria pressionar o Congresso a pedir seu retorno pelo 
medo do suposto comunista, João Goulart. Para o descontentamento de Jânio Quadros, o 
povo nada fez. 
93UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
A ameaça comunista era uma ideia viva na mente das elites e classe média brasi-
leira e acreditavam que Jango realmente era um comunista. O Congresso tentou impedir 
sua entrada no Brasil. Após permitir que entrasse no país e assumisse a presidência em 
1961, criaram uma emenda na Constituição que diminuiu seus poderes executivos com um 
primeiro-ministro escolhido pelo Congresso, Tancredo Neves (1910-1985).
Nas emendas aprovadas pelo Congresso um plebiscito estava previsto para 1956 
que o povo pudesse escolher entre um regime presidencialista ou parlamentarista. Como 
o governo de Jango terminaria em 1966 resolveu antecipar o plebiscito em forma de refe-
rendo. O Congresso autorizou a antecipação do referendo e o povo, em 1963, rejeitou nas 
urnas o regime parlamentarista e devolveu a João Goulart seus poderes executivos.
Com seus poderes de executivo restaurados iniciou as chamadas Reformas de 
Base que realizaria no país reformas agrária, educacional, fiscal, eleitoral, urbana e bancá-
ria. As propostas foram interpretadas como muito radicais e aqueles que antes já acusavam 
Jango de comunista intensificaram suas críticas. O clima ideológico proporcionado pela 
Guerra Fria intensificou as dúvidas e medos. 
Jango na realidade era um fazendeiro de esquerda e não comunista, mas nem 
mesmo as terras em seu nome conseguiram convencer a classe média que ele era comu-
nista. A elite brasileira, na verdade, sabia que João Goulart não tinha intenções comunistas 
no Brasil, mas tinha receio da realização de suas reformas, pois alteraria a estrutura econô-
mica do país retirando alguns privilégios dessas elites.
A destituição do presidente da República, bem como o afastamento compul-
sivo de seus aliados da vida pública nacional, segundo seu entendimento, 
objetivou evitar potenciais e profundas modificações na estrutura econômica 
e política do Brasil. O caráter transformador das reformas estruturais, reivin-
dicadas pelo movimento social, não foi assimilado nem pelos setores tradi-
cionais da sociedade brasileira, vinculados à propriedade latifundiária, nem 
pelos modernos representantes de um modelo capitalista industrializado e 
internacionalizado (DELGADO, 2009, p. 127).
Com o apoio das elites, classe média e mídia, os militares deram um Golpe de 
Estado em 1964 iniciando uma ditadura militar de direita no país, prometendo ficar pouco 
tempo para reestruturar a política do país, no entanto permaneceram durante 21 anos 
marcados pelo crescimento do PIB, aumento da desigualdade e denúncias de repressão, 
censura e corrupção.
As demais ditaduras militares de direita passaram por processos semelhantes 
de instalação de seus regimes militares. Denunciavam o presidente como comunista, or-
ganizavam um golpe com apoio de militares, elites, classe média e mídia, derrubavam o 
presidente e instalavam uma ditadura. Portanto, o golpe de 1964 possui caráter preventivo 
contra um suposto avanço comunista no país.
94UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
Além do Brasil, outro caso clássico é o do Chile que após a década de 1950 com 
a industrialização, urbanização e influência da Revolução Cubana passou por pressões 
populares por “participação política efetiva de trabalhadores urbanos e rurais” (MENDES, 
2013, p. 28). Parte da pequena burguesia e classe média aderiram a essas reivindicações e 
incluíram uma série de reivindicações trabalhistas. Paralelamente a estas pautas a esquer-
da partidária no país se reorganiza em um processo de unificação e fortalecimento. 
Com medo de uma radicalização política, motivada pela Guerra Fria, a população 
elegeu Eduardo Frei (1911-1982), político de direita que manteve um discurso anticomu-
nista durante toda a campanha. Uma vez eleito, realizou diversas reformas melhorando a 
qualidade de vida da população a fim de evitar uma ascensão comunista no país.
Pode-se conjecturar que essas reformas estimularam o desenvolvimento de 
forças sociais que foram despertadas, inclusive, pelo reformismo da Demo-
cracia Cristã, e que agora queriam mais. Achavam, então, que sua capaci-
dade de concretizar as reivindicações que apresentavam era significativa. 
Passaram a ver no governo do próprio Frei um entrave ao aprofundamento 
das transformações (MENDES, 2013, p. 32).
O remédio econômico anticomunista de Frei se tornou o próprio fator motivador das 
forças de esquerda no país, não necessariamente comunistas. Os trabalhadores urbanos 
queriam mais direitos e os trabalhadores rurais conseguiram se organizar e pediram o 
aprofundamento da Reforma Agrária. Somado a isso, o fim do governo do Frei foi marcado 
pela desaceleração da economia, inflação, alta do preço do cobre no mercado internacional 
e fracasso das reformas sociais, que foram barradas pelo Congresso. As reivindicações 
do povo somadas ao fracasso do governo de Frei fortaleceram o candidato de esquerda, 
Salvador Allende (1908-1973).
Allende era claramente socialista e foi a primeira vez que um candidato socialista 
vencia as eleições no Chile. O medo comunista era tal que alguns resistiram à posse do 
presidente eleito.
Alguns chegaram a vincular-se às facções golpistas das Forças Armadas, 
ainda não predominantes. Essas tentaram sequestrar o general Schneider, 
exponente da legalidade nas Forças Armadas. Na terceira tentativa – todas 
sob financiamento norte-americano e orientação da CIA – o general foi morto 
ao resistir (MENDES, 2013, p. 36).
Após a resistência conseguiu assumir. Durante seu governo transferiu 35% das 
terras dos latifundiários para os camponeses. 30% da indústria manufatureira foi transferida 
para os trabalhadores em um sistema de autogestão do operariado. O Banco Central do 
Chile controlava 90% do crédito liberado. (MENDES: 2013, p. 30).
95UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
As políticas econômicas de Allende desagradaram setores da elite e militar do 
Chile, sobretudo com as nacionalizações. Assim, liderados pelo general Augusto Pinochet 
(1915-2006), realizaram um golpe de Estado no dia 11 de setembro de 1973. Os membros 
das Forças Armadas que eram contrários ao golpe foram imediatamente presos. Em um 
ano mais de 30 mil pessoas morreram. O Palácio La Moneda, sede do poder executivo, foi 
bombardeado quando Allende decidiu não se entregar, que morreu durante o bombardeio.
A violência foi adotada como política de Estado, o chamado Estado do Terror, que 
duraria 17 anos. O medo era a política de governo. Os militares tiveram apoio de políticos 
direitistas e o grande discurso de manutenção da ditadura de Pinochet era a ameaça comu-
nista, o mesmo discurso existente no Brasil.
As ditaduras em países como Chile e Brasil marcada por diversos abusos contra as 
liberdades individuais e liberdadede expressão. O comunismo foi utilizado como pretexto 
para a manutenção desses regimes e pedem força com o enfraquecimento do Bloco Comu-
nista nos anos 1980. No Brasil, com a vitória do Regime sobre os grupos de guerrilha no 
campo e guerrilhas urbanas comunistas, o governo não tinha mais uma causa para manter 
a ditadura. O povo na rua pedindo o seu fim motivou os dois últimos presidentes militares 
a flexibilizar o Regime que chegaria ao seu fim em 1985. No Chile, o enfraquecimento do 
Bloco Comunista foi ainda maior, pois a economia da URSS encolhia e a queda do Muro de 
Berlim em 1989 foi um dos fatores decisivos para o fim do Regime Militar de Pinochet, e em 
1990, no Chile, assumiu um novo presidente eleito.
A década de 1980 é marcada pela redemocratização de boa parte de países da 
América Latina. Peru (1980), Bolívia (1982), Brasil (1985), Uruguai (1985), Paraguai (1989) 
e Chile (1990). A América Latina iniciaria um novo processo, um processo de reconstrução 
das constituições democráticas e que ainda estão em construção. 
96UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
3. AMÉRICA LATINA PÓS DITADURAS MILITARES
O processo de redemocratização dos países latino-americanos ainda é realizado 
após 30 ou 40 anos de período democrático. A reconquista da democracia não é um fato 
isolado, mas um processo longo que envolve mudança de mentalidades, reconciliação de 
diferentes grupos sociais, pacto com o Estado de direito e rejeição total ao Estado totalitário.
O Estado totalitário é caracterizado pelo aumento do poder executivo em detri-
mento dos poderes legislativo e judiciário; centralização do poder em um líder; fim da 
liberdade política; existência de partido único ou existência de outros partidos marcados 
pela irrelevância para que não ameace o poder do partido que exerce o poder; controle 
estatal da economia; o ultranacionalismo; controle sistemático de todas as organizações 
sociais; censura à imprensa, às universidades, escolas e cultura com o objetivo de controlar 
a população; propaganda intensiva dos ideais do Estado; uso da força policial e militar; 
presença de práticas militares na política e na sociedade (militarismo); e o culto ao líder.
As ditaduras latino-americanas experimentaram esse tipo de Estado por algumas 
décadas e o rejeitaram. A população se manifestou contrariamente a esse modelo de Es-
tado e conseguiu derrubar seus ditadores. Um a um tiveram que dar espaço para o retorno 
do Estado de direito, garantidor das liberdades individuais.
O Estado de direito é exatamente o oposto do totalitários, pois possui uma Cons-
tituição que deve ser seguida por toda a população, inclusive governantes; divide o poder 
do Estado em três, a fim de dificultar o poder em excesso em um único indivíduo, sendo 
97UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
os poderes executivo, legislativo e judiciário; o direito ao voto, defesa dos direitos funda-
mentais, como liberdade de ir e vir, de expressão, de ser julgado por juízes imparciais e 
liberdade religiosa.
O Estado de direito foi a escolha das nações da América Latina. No Brasil o regime 
totalitário durou 21 anos (1964-1985). Iniciou prometendo ser passageiro, se consolidou dou 
com o Ato Institucional nº 2 (AI-2) de 1965, que extinguiu os partidos existentes e permitiu 
a legalidade de apenas dois, ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento 
Democrático Brasileiro) e chegou ao seu ápice entre os anos de 1968 e 1978 com o Ato 
Institucional nº 5 (AI-5).
As diversas críticas à ditadura brasileira estimularam os presidentes Ernesto Geisel 
(1907-1996) e João Figueiredo (1918-1999) a flexibilizar e reabrir a política nacional até o 
ponto em que a ditadura daria espaço à democracia. Em 1985 com um governo eleito pelo 
Congresso e tutelado pelos militares até 1989. Só então o povo pode retornar às urnas, 
depois de 29 anos, para votar em um presidente, a última havia sido em 1960. 
No Chile a ditadura existiu por 16 anos, sob a tutela do general Pinochet que só 
saiu do poder depois de admitir sua derrota em um referendo realizado em 1988 que abriu 
caminho para a restauração da democracia. No processo de abertura política no Chile até o 
papa João Paulo II (1920-2005) foi envolvido. Em uma visita ao país em 1987 teria conver-
sado com o ditador a fim de convencê-lo a realizar a abertura e dar espaço à democracia, 
chegou até mesmo pedir para que renunciasse. 
Nem todas as ditaduras terminaram em acordos políticos ou por referendos e 
plebiscitos, El Stronato, ou a ditadura militar paraguaia, por exemplo, liderada por Alfredo 
Stroessner (1912-2006), acabou apenas após um golpe de Estado bem-sucedido em 1989. 
Os golpistas foram considerados libertadores, pois organizaram eleições e o país segue, 
até os dias de hoje, como uma democracia.
Os países latino-americanos tiveram êxito na luta por liberdades individuais e direi-
tos políticos como o voto direto, universal e secreto, o multipartidarismo, eleições livres de 
fraudes, respeito às instituições, independência dos três poderes, etc. O ganho político foi 
facilmente percebido pela população.
Economicamente, cada país tomou rumo diverso. Alguns experimentaram equilí-
brio econômico, outros enfrentaram fortes crises. O Brasil, por exemplo, herdou do governo 
militar uma inflação galopante, que crescia ano após ano, fruto do “milagre econômico”, 
prática econômica brasileira que expandiu o PIB à base de empréstimo e juros flutuantes 
que levou ao país a uma crise inflacionária durantes todos a década de 1980 e metade da 
década de 1990. Em 1985, último ano do governo militar no Brasil, a inflação alcançava 
mais de 230%. O PIB (Produto Interno Bruto) despencou e os juros da dívida cresceram.
98UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
O governo José Sarney, eleito pelo Congresso, foi o primeiro presidente não militar 
do Brasil, desde 1964, herdou todo o problema econômico dos militares, durante seus cinco 
anos no poder não conseguiu conter a crise e a inflação saltou para mais de 2000%. Com o 
fim do governo Sarney, Fernando Collor de Mello continua enfrentando toda a hiperinflação 
e teve de lidar com o crescimento negativo do PIB brasileiro. 
Somente com o impeachment de Collor, o Brasil conseguiu resolver seus pro-
blemas econômicos herdados da ditadura. O vice de Collor, Itamar Franco (1930-2011), 
colocou como sua maior prioridade à estabilização econômica do país, reuniu uma equipe 
de políticos importantes no cenários nacional brasileiro, como o seu Ministro da Fazenda, 
Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati, José Serra e Ciro Gomes. 
A equipe sob o comando do presidente Itamar Franco cria um novo Plano Econô-
mico e substitui a moeda pelo Real que auxiliaria na futura estabilização do país em quase 
uma década e meia e eliminaria a hiperinflação. O sucesso do real lançou como nome forte 
do governo o sociólogo, Fernando Henrique Cardoso (FHC). 
FHC foi eleito e governou entre 1995 e 2003. Durante seus oito anos de governo 
ampliou o PIB em quase 20%, aumentou a renda per capita, reduziu a inflação, criou pro-
gramas de assistência social, combateu a pobreza e ampliou o acesso à educação básica. 
Sobre o Estado totalitário brasileiro entre os anos de 1964 e 1985 afirmou “Eu acredito 
firmemente que o autoritarismo é uma página virada na História do Brasil”. 
Com uma crise asiática que atingiu o país em seu segundo mandato, não teve força 
para eleger seu sucessor, assim a oposição de centro-esquerda chega ao poder, com o 
ex-operário e líder sindical, Luís Inácio Lula da Silva, o Lula, eleito em 2002. Ao todo Lula 
permaneceu por oito anos no governo (2003 - 2010).
Durante seu governo, Lula teve que vencer a desconfiança do mercado a ponto de 
escrever a Carta ao Povo Brasileiro, que nada mais era que uma Carta ao mercado interno 
e externo os acalmando prometendo respeitar as instituições sociais. Teve um aumento do 
PIB de 32,6%e de 23% de renda per capita. Assumiu o governo com 12,5% de inflação 
e entregou com 5,9%. Assim como fez FHC, Lula ampliou o acesso à educação básica, 
combateu a pobreza, ampliou os programas de assistência social e diminuiu as desigual-
dades. Seu governo também foi marcado pela construção e acesso às universidades, pela 
luta pelos direitos das minorias e crescimento da renda maior que a inflação. O último ano 
de seu governo termina com 7% de crescimento do PIB, menos de 6% de inflação e com 
o aumento do poder de compra da população. Isso alavancou sua popularidade, que foi 
maior de 80% e ajudou a eleger sua candidata, a economista, Dilma Rousseff, a primeira 
mulher a se tornar presidente do Brasil, que inclusive havia sido torturada pelo Estado 
totalitário no Brasil na década de 1970.
99UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
A radicalização política voltaria a dominar o cenário político nacional a partir de 
2013 durante o governo Dilma. Apesar de tudo, a presidente e seus antecessores se 
mantiveram fiéis à Constituição democrática brasileira e jamais insinuaram qualquer 
interferência autoritária no país.
No Chile, com o fim da ditadura a democracia no país se estabilizou e chegou a 
ser vista como uma das democracias mais estáveis da América Latina. O ponto divergente 
do Chile pós-ditadura militar foi sua Constituição, criada em 1980 pelo ex-ditador, Pinochet, 
ainda mantinha mecanismos autoritários e, portanto, incompatíveis com o regime demo-
crático. Ao contrário do Brasil, que se apressou a realizar uma nova Constituição que ficou 
pronta em 1988, que enterrava, de uma vez por todas, a ditadura no país. 
Durante o novo governo estabelecido em 1990 de Patricio Aylwin (1918-2016), que 
governou até 1994, os militares queriam manter alguns mecanismo de controle influencia-
dos pelos militares durante alguns anos, dessa forma, coube a Aylwin liderar o processo 
de transição democrática, tal qual ocorreu no Brasil durante o governo Sarney. No Brasil, 
entretanto, Sarney foi eleito pelo voto do Congresso e Aylwin, pelo voto popular.
Aylwin sofreu durante seu mandato ameaças de círculos golpistas ligados a Pinochet. 
Mas apesar das ameaças, a forma como geriu a economia agradou a população e em seus 
quatro anos de mandato o PIB chileno cresceu em média, 7,3% ao ano, o PIB per capita dispa-
rou, a inflação caiu e o desemprego reduziu em 25%. Conseguiu esses indicadores positivos 
através de uma reforma tributária e trabalhista que permitia o aumento dos gastos sociais. 
O sucessor de Aylwin, Eduardo Frei Ruiz-Tagle, enfrentou uma crise econômica 
no fim dos anos 1990, o que retraiu o PIB e colocou o país em recessão e aumentou o 
desemprego. Apesar dos problemas, conseguiu investir no combate à pobreza, e expandir 
o poder de compra da população chilena. Aumentou o investimento em saúde e educação 
e promoveu uma abertura econômica com o mundo. 
Ainda governaram o Chile democrático nos anos 2000, Ricardo Lagos (2000-2006) 
e Michelle Bachelet, em duas ocasiões (2006-2010 e 2014-2018) e Sebastián Piñera (2010 
- 2014 e 2018 - 2022). 
Lagos teve que enfrentar o desemprego e a crise econômica, para isso criou o 
seguro-desemprego, garantiu que a saúde fosse direcionada ao povo, criou programas 
de erradicação de favelas, criou programas de assistência social diversos. Com uma alta 
popularidade conseguiu eleger sua candidata, Michelle Bachelet, a primeira mulher eleita 
presidente do Chile. 
100UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
Bachelet em seu primeiro mandato enfrenta uma crise mundial iniciada nos Estados 
Unidos, e apesar de ter iniciado um governo mal, conseguiu sair bem da crise. Economizou 
os lucros do país com exportação e quando a crise estourou tinha 20 bilhões guardados e 
investiu na reforma previdenciária e no programa de proteção social às mulheres colabo-
rando com a redução da desigualdade no país.
Após Bachelet, foi eleito Sebastián Piñera, que durante seu governo o PIB cresceu 
em média 5,3% ao ano, reduziu o desemprego para 6% e reduziu a desigualdade social 
para 0,473 segundo índice de Gini. Após um segundo mandato de Bachelet, Piñera retorna 
ao poder no Chile e agora enfrenta o desafio de ter que enterrar a última lembrança dos 
tempos do Estado totalitário, a Constituição de 1980.
Desde 2019 o povo chileno vai às ruas criticando a falta de direitos. A política econô-
mica do país é acusada de ser excessivamente neoliberal e, apesar de Piñera ter enviado a 
polícia às ruas para conter as manifestações, o povo resistiu e nem mesmo a pandemia de 
Covid-19 parou os chilenos. Piñera não resistiu e decidiu ceder. O Chile elegeu em 2021 os 
membros da Assembleia Constituinte e finalmente descartará sua Constituição que ainda 
possui elementos antidemocráticos.
Brasil e Chile são dois exemplos da América Latina, formada por dezenas de paí-
ses em processo contínuo de transformação democrática. A maioria vem intensificando sua 
democracia, mas alguns poucos regrediram após o fim de suas ditaduras. Na Venezuela, 
o presidente Maduro se recusa a deixar o poder. Em Honduras houve o golpe contra o 
presidente Manuel Zelaya em 2009. Houve a tentativa de golpe policial contra o presidente 
do Equador, Rafael Correa em 2010. O golpe judiciário em Fernando Lugo no Paraguai em 
2012. O impeachment de Dilma Rousseff no Brasil em 2016 e o caso boliviano em que o 
presidente Evo Morales renuncia pressionado pelo exército em 2019.
A América Latina ainda não experimentou totalmente uma estabilidade política, 
mas mesmo com os problemas políticos recentes que envolvem um radicalismo onde a 
extrema-direita ganha espaço e tenta minar a força da esquerda através de apoio a golpes 
e vitória nas urnas, a América Latina mantém suas democracias.
101UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
4. GOLPES, PROTESTOS E ASCENSÃO DA EXTREMA DIREITA NO SÉCULO XXI
O continente americano vem experimentado ondas de direita e esquerda em seus 
governos desde as redemocratizações dos anos 1980. A possibilidade da substituição das 
ideologias políticas é uma das bases do Estado de direito, uma vez que a sociedade é mar-
cada por diversos grupos e esses querem ser ouvidos politicamente. Em uma passado, não 
muito distante, diversos países do continente americano excluíam os pobres de participarem 
da vida política. Eram proibidos de votar e de candidatar e assim jamais poderiam chegar ao 
poder. No Brasil, por exemplo, durante a República Velha (1989-1930) era necessário ser 
alfabetizado para votar, mas como o Estado brasileiro não oferecia escolarização pública, 
os pobres não votavam. Era uma forma indireta de impedir que a população mais pobre 
participasse do jogo político.
Entretanto, na contemporaneidade, no continente americano, o voto é universal e 
tanto pobres quanto ricos, podem participar do sufrágio universal, o voto. Com a inclusão 
das classes mais baixas de participarem do poder, os seus representantes começaram a al-
cançar a presidência. Até a década de 1980 os representantes do povo eleitos, foram vistos 
como comunistas pelas elites direitistas desses países e foram retirados do poder à força, 
como já visto aqui, nesta obra. Mas com as redemocratizações, a esquerda poderia chegar 
ao poder e representar o povo, sem medos de intervenções militares. Agora o Estado de 
direito se fortalecia.
102UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
O Estado de direito, entre outras coisas, dá a liberdade de expressão e liberdade de 
participação política, inclusive àqueles que criticam a democracia, e graças a essas liber-
dades é que surgiram no continente um fenômeno que parecia não ter força significativa, 
surgia nas américas o fenômeno político partidário da extrema direita.
A extrema-direita surge como uma reação ao fortalecimento da esquerda e de sua 
chegada ao poder através da democracia. Uma vez no poder a esquerda se envolveu 
em escândalosde corrupção em diversos países e contribuiu para sua impopularidade. 
Todavia, a direita respondeu politicamente com governos que também não conseguiram se 
afastar dos escândalos de corrupção. Nesse vácuo de moralidade política nas democracias 
modernas do continente americano, surge como solução política o extremismo de direita.
A extrema direita é a ideologia política que reúne políticas ideológicas da direita 
tradicional, como a possibilidade de acumulação de riqueza, hierarquização social, livre-
-mercado e meritocracia, com os ideais anticomunistas, autoritários, ultranacionalistas e 
pautas morais como a defesa da família tradicional e apelo religioso.
Portanto esse movimento político ideológico está mais à direita do espectro político 
de direita e é considerado como extremista. Esse grupo político ganhou força, principal-
mente, entre as pessoas mais velhas e saudosistas de um passado em que a família 
tradicional não era questionada e tão pouco as concepções religiosas. Essas pessoas não 
se identificaram com os novos atores políticos que surgiram com a redemocratização e 
colocaram a culpa na própria democracia pelas mudanças que colocavam em xeque suas 
visões conservadoras de mundo.
As pessoas se apegam à construção de seu próprio ser, e essa construção ocor-
re, principalmente na infância, sendo assim, os valores morais aprendidos com a família 
costumam nortear toda a vida desses indivíduos. Esse conjunto de valores aprendido na 
infância são levados até a fase adulta e quando estes valores são questionados, a pessoa 
se depara com dilemas incompreensíveis, na maioria das vezes. Pautas progressistas como 
o divórcio, o trabalho feminino, a descriminalização das drogas, do aborto, e o casamento 
homoafetivo colocou em xeque uma visão conservadora de mundo. Essas pessoas, que 
percentualmente são pessoas mais velhas, mas que também reúnem jovens, se viram não 
representadas pelas siglas partidárias. 
Os partidos de extrema-direita foram os que levantaram essas bandeiras anti-pro-
gressistas, que são assimiladas com a esquerda, e alcançaram esse eleitorado desprezado 
pelas esquerda e direita. Assim a extrema-direita passa a ser legitimada por essas vozes 
esquecidas e defende de forma aberta e direta suas pautas conservadoras como a rejeição 
ao aborto, em qualquer circunstância, mesmo em casos de violência sexual, medidas mais 
duras contra o uso de drogas, rejeição completa à união estável homoafetiva. Sempre com 
a bandeira de estar “a favor da família”.
103UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
Sendo assim, todos aqueles que não concordam com suas pautas morais são, 
automaticamente, associados à esquerda e considerados comunistas. A extrema-direita 
inicia um processo de criminalização moral e política da esquerda nas américas criando 
a sensação nos conservadores que, o fato de ser de esquerda, seria, por si só algo ruim, 
corrupto, imoral, ateísta e contra a família. A onda conservadora cresce nas américas sob 
esse discurso extremista.
O grande nome no continente desta ideologia política é o de Donald Trump, que 
apoiado em um discurso ultra-conservador foi eleito presidente dos Estados Unidos da 
América em 2016. Assim que assumiu em janeiro de 2017 não regride no discurso extre-
mista, até então considerado eleitoreiro, mas que se mostrou parte de um projeto político.
Como presidente, indicou à Suprema Corte dos Estados Unidos, juízes alinhados à 
pauta conservadora, foi contra a descriminalização do aborto, salvo em casos de estupro e 
incesto, foi contra a decisão da Corte que permitiu a união estável entre pessoas do mesmo 
sexo, é contra a legalização da maconha e a apoia seu apenas para uso medicinal e é favor 
do armamento da população e da pena de morte.
Economicamente Trump também representa bem a extrema-direita sendo um 
ultranacionalista, pois, para defender a economia interna americana, até mesmo se opôs 
ao livre-mercado. No fim de 2019 quando Brasil e Argentina, dois países aliados, sofriam 
com a desvalorização de suas moedas em relação ao dólar, o que era ruim para a econo-
mia desses países, Trump não socorreu Jair Bolsonaro no Brasil e nem Mauricio Macri na 
Argentina, pelo contrário, restaurou as tarifas sobre o aço e o alumínio. Trump adotou uma 
política econômica protecionista. Esse tipo de política não é exclusivo da extrema-direita, 
mas como ultranacionalistas, políticas de proteção à economia interna, são bem comuns 
para esse espectro político ideológico.
Trump também adotou uma retórica difusa, vaga e contraditória com o objetivo de 
confundir seus adversários políticos. Em muitas pautas, alguns afirmam ser difícil captar 
qual o pensamento de Trump. São muitos os casos em que Trump afirma algo, depois afir-
ma o oposto, após nega ter afirmado qualquer coisa e por fim, coloca a culpa na mídia por 
suas afirmações acusando-os de tirarem suas frases de contexto e até mesmo mentirosos.
Trump agradou há muitos com sua política nacionalista, pautas conservadoras, re-
tórica combativa, mas também desagradou. A extrema-direita demonstrou ter seus limites. 
Os opositores denunciaram Trump de ser racista, homofóbico, xenofóbico e negacionista. 
A derrota de Trump nas eleições aconteceu em meio a pandemia de Covid-19 ao qual 
Trump, repetidamente, negou a existência da pandemia, quando reconheceu a existência 
104UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
da mesma culpou os chineses, após minimizou a fatalidade do vírus, negou a efetividade 
das vacinas, promoveu medicações ineficazes e até mesmo insinuou que desinfetantes 
poderiam curar a doença, o que em apenas dezoito horas rendeu 30 chamados de emer-
gência por ingestão de produtos de limpeza.
Trump perdeu a eleição, mas não abandonou seu extremismo após sua derrota. 
Negou a derrota, sugeriu fraudes eleitorais que não conseguiu provar na justiça, pediu a 
suspensão da contagem de votos e incitou seus apoiadores, com sua retórica vaga, quando 
os mesmos tentaram invadir o Congresso Nacional.
O outro caso de ascensão da extrema-direita nas américas é o caso de Jair Bolso-
naro no Brasil e que possui diversas semelhanças com Donald Trump. No Brasil, o processo 
de ascensão da extrema-direita ocorre desde 2013, quando a população começou a ir às 
ruas fazendo críticas ao governo de esquerda, Dilma Rousseff. 
As críticas se acentuaram em 2014, ano eleitoral, quando a operação judicial cha-
mada de Lava-jato investiga vários personagens políticos ligados ao partido de Rousseff, 
o PT (Partido dos Trabalhadores). Mesmo com a popularidade em queda, Rousseff se 
reelege com uma pequena margem de votos contra seu candidato de direita, Aécio Neves.
Durante a campanha as ruas foram inundadas com manifestantes contra a presi-
dente e outros a favor da mesma. Era clara a divisão política do país. O candidato perdedor, 
Neves, foi derrotado por uma diferença mínima de apenas 3,3% dos votos. A decisão de 
Aécio Neves de não aceitar a derrota e exigir a recontagem dos votos colaborou para o 
clima de extremismo no país. A recontagem foi feita e não houve erro do sistema eleitoral. 
Dilma assume um segundo mandato.
Durante seu mandato, as investigações da Lava-jato se intensificam e a populari-
dade da presidente despenca. Com a popularidade em baixa, perde apoio do Congresso 
que instala um processo de impeachment que a afastaria do poder executivo. Mas a direita 
não sairia ilesa.
Muitas denúncias contra chavões da direita brasileira surgiram no processo. O 
principal nome da direita no momento, Aécio Neves, também foi denunciado por esquemas 
de corrupção. Direita e esquerda estavam sendo colocadas no mesmo balaio. A população 
acentua o seu discurso antipolítico, um discurso do “ser contra tudo isso que está ai”.
E é no discurso antipolítico, no discurso anticorrupção que a extrema-direita ganha 
voz no Brasil. Ganha destaque no Brasil o deputado Jair Bolsonaro, que surfa na onda con-
servadora que toma conta dopaís, pois o discurso contra a ex-presidente Dilma Rousseff 
também é um discurso conservador, pois todas as pautas da esquerda foram criminalizadas 
105UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
pela extrema-direita e seus adeptos. Dilma Rousseff, o ex-presidente, do mesmo partido de 
Rousseff, Lula, e todos os membros da esquerda são acusados de serem comunistas e de 
corruptos. O movimento anti-esquerda cresceu no país, que foi denominado antipetismo, 
em referência ao partido de esquerda que esteve no poder por quatro gestões seguidas. 
Nessa onda, Bolsonaro se apropria do discurso anticorrupção, anticomunista e moralis-
ta. Aproveita o momento para alcançar os eleitores da extrema-direita, pouco lembrados pelos 
políticos brasileiros. Acusa a esquerda de inserir nas escolas o kit-gay, que nunca foi provado 
sua existência, de impor uma ditadura gay, de destruir a família e oferecer riscos à liberdade 
religiosa. Essas pautas morais são valiosas para a população conservadora que logo o seguiu. 
Jair Bolsonaro, aproveita o momento histórico da antipolítica. O maior líder da esquer-
da no país, Lula, é preso e o então presidente da república, Michel Temer, de direita, estava 
abarrotado de acusações de corrupção. Com a direita e esquerda enfraquecidas, seu apelo 
moral conquista os eleitores mais conservadores, também reúne aqueles decepcionados 
com seus políticos e legendas partidárias e os extremistas autoritários escondidos pelo país.
A extrema-direita, representada por Jair Bolsonaro, através de uma tempestade polí-
tica e econômica perfeita, lança candidatura e vence no segundo turno com 55% dos votos. 
Uma vez no poder, assim como pensavam quando Donald Trump assumiu, Bolsonaro não 
muda seu discurso, mantém uma retórica combativa contra seus adversários e jornalistas.
A extrema-direita ainda não conseguiu chegar ao poder nos demais países ame-
ricanos, mas é um fenômeno relevante em toda a América, principalmente depois que as 
duas maiores economias foram governadas por presidentes de extrema-direita que muitas 
vezes disseram frases vagas sobre a democracia e sua manutenção.
106UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
SAIBA MAIS
Um exemplo do que é a extrema-direita está na Ku Klux Klan, que é um grupo de supre-
macia racial que surgiu nos Estados Unidos na segunda metade do século XIX e promo-
via e ainda promove atentados terroristas contra a população negra dos Estados Unidos. 
Seus principais ideais eram o W.A.S.P (White, Anglo-Saxon and Protestant) ou seja, para 
participar da Klan era necessário ser branco, de origem anglo-sazônica e protestante.
As vítimas da Klan eram espancadas até a morte ou espancadas e enforcadas em públi-
co. Usavam acusações sem provas e tinham o apoio dos governos locais, que estavam 
nas mãos de pessoas brancas e utilizavam esse poder para justificar as ações do klan. 
Seu nome Ku Klux Klan deriva da junção de algumas palavras, onde Ku Klux tem origem 
no grego Kyklos que significa círculo e Klan é uma inglesa que significa clã ou família.
Após a população negra conquistar os direitos civis na década de 1960, a Klan enfra-
queceu, mas continua viva e desprezando a população negra e é sinônimo para extre-
ma-direita dentro e fora dos Estados Unidos.
Fonte: SILVA, D. N. Ku Klux Klan. 2016. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/
ku-klux-klan.htm. Acesso em: 15 jun. 2021.
REFLITA 
“É assim que as democracias morrem agora. A ditadura ostensiva – sob a forma de fas-
cismo, comunismo ou domínio militar – desapareceu em grande parte do mundo. Golpes 
militares e outras tomadas violentas do poder são raros. A maioria dos países realiza 
eleições regulares. Democracias ainda morrem, mas por meios diferentes. Desde o final 
da Guerra Fria, a maior parte dos colapsos democráticos não foi causada por generais 
e soldados, mas pelos próprios governos eleitos. Como Chávez na Venezuela, líderes 
eleitos subverteram as instituições democráticas em países como Geórgia, Hungria, 
Nicarágua, Peru, Filipinas, Polônia, Rússia, Sri Lanka, Turquia e Ucrânia. O retrocesso 
democrático hoje começa nas urnas.”
Fonte: LEVITSKY, S; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. São Paulo: Zahar, 2018.
https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/ku-klux-klan.htm
https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/ku-klux-klan.htm
107UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta Unidade percebemos que a história do continente americano é marcada, de 
norte a sul, por lutas ininterruptas por liberdade, desde o momento em que os europeus 
decidiram reivindicar essas terras houveram lutas e milhões de mortes. Com a colonização as 
lutas não pararam, diversas guerras por independência, resistência de indígenas e africanos.
Com as independências, as lutas se transformaram para abandonar a dependência 
e exploração das elites locais e poder dos EUA, causadores da pobreza e desigualdade 
social. Essas lutas fizeram insurgir diversas ditaduras, uma socialista em Cuba e diversas 
de direita no restante da América Latina, tudo sob o olhas da superpotência norteamerica-
na. Mesmo após o fim das ditaduras a democracia no continente sofre perigo e a luta pela 
liberdade parece ainda não ter terminado.
108UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
LEITURA COMPLEMENTAR
LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. São Paulo: Zahar, 2018.
109UNIDADE IV América Latina e a Busca Pela Autonomia
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: 1984
Autor: George Orwell.
Editora: Companhia das Letras.
Sinopse: Winston, herói de 1984, vive aprisionado na engrena-
gem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo 
Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive 
sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais 
famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao in-
finito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do 
Partido dominante na Oceânia não visa nada de coisa alguma para 
ninguém, no presente ou no futuro. O›Brien, hierarca do Partido, é 
quem explica a Winston que “só nos interessa o poder em si.” Um 
homem sozinho desafiando uma tremenda ditadura; sexo furtivo e 
libertador; horrores letais - atraíram leitores de todas as idades, à 
esquerda e à direita do espectro político, com maior ou menor grau 
de instrução. À parte isso, a escrita translúcida de George Orwell, 
os personagens fortes, traçados a carvão por um vigoroso dese-
nhista de personalidades, a trama seca e crua e o tom de sátira 
sombria garantiram a entrada precoce de 1984 no restrito panteão 
dos grandes clássicos modernos. Os leitores ficam livres para 
associar o totalitarismo no livro à extrema-direita ou à esquerda. 
FILME/VÍDEO
Título: A Onda
Ano: 2008.
Sinopse: Rainer Wegner, professor de ensino médio, deve ensi-
nar seus alunos sobre autocracia. Devido ao desinteresse deles, 
propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do 
fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo, 
escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome 
de A Onda. Em pouco tempo, os alunos começam a propagar o 
poder da unidade e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, 
Wegner decide interrompê-lo. Mas é tarde demais, e A Onda já 
saiu de seu controle. Baseado em uma história real ocorrida na 
Califórnia em 1967.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=zG3TfjAhs30
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CONCLUSÃO GERAL
No nosso curso de História da América pudemos olhar para o passado do continente 
e perceber que ele é bem amplo, e evidentemente, não pudemos discorrer sobre todos os 
países, muito menos sobre os pormenores de cada um, como sua cultura, política e eco-
nomia. Mas nosso recorte teve como objetivo trazer alguns pontos da história da América 
Latina, desde o período pré-colonial, para que assim pudéssemos realizar uma explicação 
sobre a conquista e colonização do território, para enfim mostrar o choque cultural e a base 
econômica escravocrata.
Uma vez compreendida as Américas pré-coloniais e coloniais pudemos partir para 
a compreensão das insatisfações populares com suas colônias ou com governos inde-
pendentes ligados aos interesses de elites locais e/ou imperialismo estadunidense. Assim 
pudemos usar alguns exemplos como Bolívar na América do Sul, Villa e Zapata no México, 
Sandino na Nicarágua e Castro e Che Guevara em Cuba.
Também resgatamos as Américas no período da Guerra Fria onde várias ditaduras 
se instalaram para conter o avanço comunista. Essas ditaduras deixaram diversas seque-
las no continente, sobretudo na América Latina, que os levariam a lutar contra o poder 
imperialista dos EUA de diversas formas, o que geraria, lutas armadas e mortes.
Enfim, percebemos que a história do continente americano é marcada, de norte a 
sul, por lutas ininterruptas por liberdade, desde o momento em que os europeus decidiram 
reivindicar essas terras houveram lutas e milhões de mortes. Com a colonização as lutas não 
pararam, diversas guerras por independência, resistência de indígenas e africanos. Com as 
independências, as lutas se transformaram para abandonar a dependência e exploração 
das elites locais e poder dos EUA, causadores da pobreza e desigualdade social. Essas 
lutas fizeram insurgir diversas ditaduras, uma socialista em Cuba e diversas de direita no 
restante da América Latina, tudo sob o olhas da superpotência norte-americana. Mesmo 
após o fim das ditaduras a democracia no continente sofre perigo e a luta pela liberdade 
parece ainda não ter terminado.
+55 (44) 3045 9898
Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro
CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR
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	UNIDADE I
	As Várias Américas: O Processo de Colonização
	UNIDADE II
	Os Processos de Independência
	Latinoamericanas
	UNIDADE III
	A Declaração de Independência dos Estados Unidos, Ordem Mundial e Grandes Potências
	UNIDADE IV
	América Latina e a Busca 
	Pela Autonomia

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