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educaçãofísica alem do esporte

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Abmael e estudantes na sala de
tecnologia: 
gráficos indicam o resultado da pesquisa. 
Foto: Gustavo Lourenção 
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/1222/educacao-
fisica-vai-alem-dos-esportes
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 179, 01 de Fevereiro | 2005
Prática Pedagógica
Educação Física vai além
dos esportes
Para atender alunos adultos que chegavam à escola
exaustos, depois de um dia de trabalho, Abmael propôs
um estudo de campo. A turma aprendeu muito sobre
saúde e obesidade
Meire Cavalcante
NOVA ESCOLA
Giovana Girardi
Roberta Bencini
Quando as aulas começaram no início
de 2004, o professor Abmael Rocha
Junior se viu diante de um problema:
como lecionar Educação Física para
estudantes do noturno que chegavam
exaustos à escola, sem condições de
fazer ginástica ou praticar esportes? A
maioria dos alunos, quase adultos
muitos deles evadidos em anos
anteriores , pegava pesado o dia inteiro
nos frigoríficos da cidade de Nova
Andradina (MS), onde se localiza a Escola
Estadual Austrílio Capilé Castro. A
solução veio da própria classe.
Reportagem exibida pela TV sobre a
epidemia mundial de obesidade levou a
turma a perguntar: Professor, isso é
verdade? Os jovens não notavam na
escola uma quantidade tão grande de
obesos. Era a deixa que Abmael procurava. Ele poderia ensinar noções de
saúde em suas aulas. Os alunos foram investigar se o problema existia na
cidade e chegaram a uma conclusão surpreendente: havia muito mais alunos
https://novaescola.org.br/conteudo/1222/educacao-fisica-vai-alem-dos-esportes
com peso abaixo do ideal.
Passo-a-passo e metodologia 
1. Projeto inclui Matemática e Informática 
Além de dar aulas de Educação Física, Abmael coordena à noite a sala de
tecnologia educacional. Assim, uniu as duas áreas no projeto. A idéia era
mostrar que Educação Física não é só ginástica é também saúde e que nas
aulas de informática se aprende a usar softwares para auxiliar na resolução
de problemas como a pesquisa sobre obesidade.
O professor contou ainda com a parceria da professora de Matemática Maria
Aparecida Rodrigues, que orientou a parte estatística da pesquisa. Juntos,
eles dividiram a turma em quatro grupos, cada um responsável por uma
atividade. Diante dos computadores, a primeira etapa do trabalho foi a busca
de informações sobre o que é obesidade. Os alunos aprenderam que a
melhor maneira de descobrir se uma pessoa está obesa é por meio do Índice
de Massa Corporal (IMC). O número é obtido pela divisão do peso (em quilos)
pela altura (em metros) ao quadrado.
O grupo 1 elaborou um questionário a ser aplicado aos estudantes das outras
escolas. A idéia era investigar seus hábitos alimentares. Munidos de um
aparelho para medir estatura, balança e questionário, o grupo 2 foi a campo
colher os dados. Os jovens visitaram 11 escolas, onde mediram e pesaram
496 estudantes entre 13 e 15 anos. Com as informações em mãos, todos
deram início ao cálculo do IMC e, em seguida, à tabulação. Inicialmente o
trabalho foi feito no papel, com a ajuda da professora de Matemática. Depois,
o grupo 3 confeccionou gráficos e tabelas usando os programas Excel e Word.
Não adiantava só ensinar aos alunos como manipular esses aplicativos. Era
preciso relacionar os programas à prática pedagógica, explica o professor. O
grupo 4 ficou responsável pela parte final, de divulgação dos dados. 
2. Jovens eram desnutridos, e não obesos 
Quando a análise foi concluída, os alunos ficaram surpresos. Os resultados
mostraram que, em vez de obesos, havia uma grande quantidade de alunos
abaixo do peso no município: 29,5% das meninas e 33,8% dos meninos
estavam com o IMC inferior a 18,5 (o normal é entre 18,5 e 24,9). Eram obesos
mesmo somente 1,5% das garotas e 0,8% dos garotos. Os demais tinham
peso normal ou sobrepeso, sem efeito negativo sobre a saúde.
Diante dos números, os alunos passaram a questionar por que havia tantos
alunos abaixo do peso em Nova Andradina. Eles perceberam que a maioria
deles estava nas escolas mais carentes (em algumas a taxa chegou a 60%).
Depois de pensar em várias possibilidades, a hipótese mais plausível era de
que os estudantes deveriam estar desnutridos. 
A turma de Abmael voltou os olhos então para o questionário aplicado nas
escolas quando os colegas foram pesados e medidos. Perceberam que
muitos dos que estavam abaixo do peso às vezes tinham como única refeição
do dia a merenda escolar. Outros até diziam que comiam bem, mas a
qualidade da alimentação começou a ser questionada.
3. Pesquisa causa impacto na cidade 
Os alunos fizeram um relatório apontando a necessidade de aprofundar a
pesquisa para checar a origem de tantos casos de jovens com peso abaixo do
ideal. Com orientação do professor, sugeriram uma melhoria da qualidade da
merenda. Propusemos a inclusão de noções sobre reeducação alimentar nas
aulas de Ciências e Biologia. Nas de Educação Física, seria interessante fazer
um acompanhamento do IMC dos alunos a cada seis meses, explica Abmael. 
Com todas as informações em mãos, entrou em cena o grupo 4, que bolou
apresentações em PowerPoint e voltou às 11 escolas para contar o que havia
sido descoberto. O que os alunos não imaginavam é que o impacto do
trabalho seria muito maior. Quando soube dos resultados da pesquisa, um
vereador da cidade convidou a turma para se apresentar no plenário da
Câmara. Mesmo um pouco envergonhados, eles foram pedir mais atenção à
merenda. O secretário de Saúde também fez questão de receber os dados.
Agora todos estão engajados em ampliar a pesquisa para descobrir se o
problema se repete entre estudantes de outras faixas etárias.
Tema do trabalho
Obesidade 
8ª Série 
Objetivos e conteúdos 
O plano de Abmael era realizar com a turma um estudo de campo para
descobrir se havia obesidade entre os estudantes de Nova Andradina. Para
isso, seus alunos fizeram pesquisas e aprenderam a calcular o Índice de
Massa Corporal; usaram ferramentas da estatística, como tabulação, gráficos
e tabelas; analisaram dados; redigiram relatórios; e montaram apresentações
no computador, com o auxílio de programas como Excel, PowerPoint e Word. 
Avaliação
Os alunos foram avaliados durante todo o projeto. 
As atividades realizadas pelos grupos eram compartilhadas com o restante da
classe ao término de cada etapa. 
Os estudantes do grupo em ação contavam o que tinham descoberto e os
outros colegas faziam perguntas e davam sugestões. Nessas reuniões, o
professor checava o andamento dos trabalhos e a evolução dos
conhecimentos da classe. 
A avaliação final ocorreu durante as palestras que os alunos fizeram nas
escolas em que a pesquisa tinha sido realizada. 
Para ampliar este projeto
O selecionador do Prêmio Victor Civita Paulo Monteiro propõe comparar os
dados coletados com pesquisas já realizadas em outras cidades ou com
outros grupos de adolescentes. É possível ainda discutir as diferenças entre
fome e desnutrição e obesidade e sobrepeso e, com base nisso, analisar
políticas e programas como o Fome Zero e Bolsa-Família. Outra opção é criar
entre os alunos um rodízio, de modo que todos passem pelas várias etapas
da pesquisa.
Quer saber mais?
Escola Estadual Austrílio Capilé Castro, R. Imaculada Conceição de Maria, 553, 79750-000, Nova Andradina, MS,
tel. (67) 441-3468 
Abmael Rocha Junior , e-mail: kanelanovo@ibest.com.br 
mailto:kanelanovo@ibest.com.br

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