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ESTUDOS DO FUTEBOLbrtemas emergentes e desafios contemporâneos - Coleção Academia Futebol

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Editora CRV
Curitiba – Brasil
2023
Pedro Athayde
Edson Marcelo Húngaro
(Organizadores)
ESTUDOS DO FUTEBOL: temas 
emergentes e desafi os contemporâneos
Coleção: Academia & Futebol
VOLUME 3
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Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagem de Capa: Freepik
Revisão: Os Autores
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506
ES79
Estudos do Futebol: temas emergentes e desafi os contemporâneos. / Pedro Fernando 
Avalone Athayde, Edson Marcelo Húngaro (organizadores) – Curitiba: CRV, 2023.
138 p. (Coleção: Academia & Futebol, v.3)
Bibliografi a
ISBN Coleção Digital 978-65-5578-225-7
ISBN Coleção Físico 978-65-5578-226-4
ISBN Volume Digital 978-65-251-4269-2
ISBN Volume Físico 978-65-251-4268-5
DOI 10.24824/978652514268.5
1. Educação física 2. Futebol. 3. Esporte. 4. Racismo. 5. Gênero. 6. Economia I. Athayde, 
Pedro. org. II. Húngaro, Edson Marcelo, org. III. Título IV. Coleção: Academia & Futebol, v.3
CDD 796.334 CDU 796.4
Índice para catálogo sistemático
1. Esporte – futebol – 796.334
2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei nº 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
Comitê Científi co:
Adalberto Santos Souza (UNIFESP)
Allyson Carvalho (UFRN)
Andrey Portela (UNIGUAÇU)
António Camilo Teles Nascimento 
Cunha (UMINHO)
Arnaldo Luis Mortatti (UFRN)
Daniel Carreira Filho (Faculdade FUTURA)
Gumercindo Vieira dos Santos (UTFPR)
José Martins Filho (UNICAMP)
Laura Ruiz Sanchis (UCV – Espanha)
Luciana Venâncio (UFC)
Luciene Ferreira da Silva (UNESP)
Luiz Carlos Vieira Tavares – Mestre Lucas (IFS)
Luiz Sanches Neto (UFC)
Marcílio Souza Júnior (ESEF)
Marcos Garcia Neira (USP)
Mauro Betti (FC/UNESP)
Nara Rejane Cruz de Oliveira (UNIFESP)
Sérgio Luiz Carlos dos Santos (UFPR)
Suraya Cristina Darido (UNESP)
Walter Roberto Correia (USP)
Conselho Editorial:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro)
Carmen Tereza Velanga (UNIR)
Celso Conti (UFSCar)
Cesar Gerónimo Tello (Univer .Nacional 
Três de Febrero – Argentina)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL)
Elizeu Clementino de Souza (UNEB)
Élsio José Corá (UFFS)
Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR)
Gloria Fariñas León (Universidade 
de La Havana – Cuba)
Guillermo Arias Beatón (Universidade 
de La Havana – Cuba)
Jailson Alves dos Santos (UFRJ)
João Adalberto Campato Junior (UNESP)
Josania Portela (UFPI)
Leonel Severo Rocha (UNISINOS)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO)
Lourdes Helena da Silva (UFV)
Luciano Rodrigues Costa (UFV)
Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US)
Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar)
Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)
Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES)
Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
Simone Rodrigues Pinto (UNB)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................................9
CAPÍTULO I
PARA ALÉM DAS QUATRO LINHAS: o futebol enquanto 
manifestação cultural ...................................................................................... 13
Kleber Mazziero de Souza
CAPÍTULO II
O DESENVOLVIMENTO DO FUTEBOL DE MULHERES NO BRASIL:
desafi os do passado, conquistas do presente e perspectivas para o futuro ........ 27
Julia Barreira
CAPÍTULO III
O FUTURO DO FUTEBOL É FEMININO? PASSOS E IMPASSES 
PARA A PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL DE MULHERES ........... 41
Mariana Zuaneti Martins
Gabriela Borel Delarmelina
Letícia Souza
CAPÍTULO IV
CIVILIZACIONISMO ESPORTIVO: notas introdutórias sobre um outro 
tipo de racismo ................................................................................................61
Neilton de Sousa Ferreira Júnior
CAPÍTULO V
ACUMULAÇÃO PRIMITIVA E FUTEBOL: anotações sobre a 
constituição das condições para a industrialização da modalidade ................ 85
Nadson Santana Reis
Marcelo Resende Teixeira
Fernando Mascarenhas
CAPÍTULO VI
UMA LEITURA ECONÔMICA DO FUTEBOL NO BRASIL ....................... 109
Marcelo Weishaupt Proni
ÍNDICE REMISSIVO ...................................................................................133
SOBRE AUTORES E AUTORAS ................................................................135
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 APRESENTAÇÃO
Eduardo Galeano, célebre escritor e poeta uruguaio, com todo seu talento 
literário, é responsável por demonstrar a dimensão passional do futebol. Para 
ele, o futebol é “a única religião que não tem ateus”, cujos fi éis são “torcedores 
no manicômio” e a camisa do time, “a segunda pele”, e a única unanimidade é 
o árbitro, “a quem todos odeiam”. Mas, ao mesmo tempo, o próprio Galeano, 
no seu livro “Futebol ao sol e à sombra”, publicado em 1995, refl ete sobre as 
mudanças contemporâneas, que transformaram o futebol em um espetáculo 
lucrativo, permeado por uma tecnocracia esportiva “que renuncia à alegria, 
atrofi a a fantasia e proíbe a ousadia”, salvo aqueles que se atrevem a driblar 
“pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventura da liberdade”.
O futebol representado de forma belíssima nas palavras acima é um 
fenômeno globalizado, um patrimônio cultural da humanidade, que contém 
em si a relação dialética entre a paixão que provoca e a razão que o cerca. 
A paixão expressa-se na forma vivida nas cores, bandeiras e expressões das 
torcidas nos estádios, alegorias que resistem a despeito dos processos de mer-
cantilização, arenização e elitização promovidos pela racionalidade do capital. 
Ao mesmo tempo, é possível dizer que essa característica do futebol, entre 
outras, desperta o interesse de muitas pessoas em se aproximar dele, seja pelo 
prazer em praticá-lo ou assisti-lo, seja como espaço de atuação profi ssional, 
seja como objeto de estudo.
Considerando essa última possibilidade, em 2020, durante a Pandemia da 
covid-19, o Grupo de Pesquisa e Formação Sociocrítica em Educação Física, 
Esporte e Lazer (Avante-UnB) organizou o Seminário Internacional de Estudos 
do Futebol e Direitos do Torcedor, com o apoio da Faculdade de Educação 
Física da Universidade de Brasília e da Secretaria Nacional de Futebol e 
Defesa dos Direitos do Torcedor. O evento teve como objetivo divulgar aná-
lises sobre o futebol a partir de um espectro mais amplo, incluindo as contri-
buições advindas das ciências sociais, dos estudos de gênero e do jornalismo.
Mais recentemente, o Avante-UnB protagonizou a segunda edição desse 
evento, de onde se originaa concepção e organização deste e-book. O evento, 
realizado entre os dias 7 e 9 de dezembro de 2022, promoveu refl exões e 
debates acerca do futebol norteados por temas candentes, em especial, o 
racismo, a questão de gênero e o papel das torcidas. Para esse intuito, sua 
programação contemplou a participação de professores(as)/pesquisadores(as) 
vinculados(as) ao campo acadêmico-científi co e, ao mesmo tempo, represen-
tações da sociedade civil, ampliando o diálogo intramuros da universidade 
para outras experiências e visões de mundo.
O conhecido jornalista Juca Kfouri, com uma carreira dedicada ao fute-
bol, certa vez em coluna no jornal Folha de S. Paulo relatou episódio no qual, 
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ainda estudante universitário, ausentou-se de uma prova, pois ela fora marcada 
para o horário de um jogo da seleção brasileira. O professor, ao ser alertado 
por Juca Kfouri notou sua distração, mas não pode alterar o certame, pois, 
em decisão democrática, por meio de votação, os(as) alunos(as) decidiram 
mantê-lo. Anos mais tarde, Juca Kfouri encontrou esse mesmo professor den-
tro de um estádio de futebol que, de dedo em riste, asseverou “Sociólogo no 
Brasil que não tiver os fundilhos das calças puídas pelas arquibancadas não 
entenderá este país”. O autor da frase é o renomado sociólogo Dr. Gabriel 
Cohn, professor emérito do Departamento de Ciência Política da Universidade 
de São Paulo (USP).
O episódio narrado acima simboliza a importância do futebol no cenário 
nacional. Ainda que se possa questionar os critérios e a exatidão da frase “O 
Brasil é o país do futebol”, dados do Diagnóstico Nacional do Esporte de 2015 
apontam o futebol como a prática esportiva mais recorrente entre os brasilei-
ros, sobretudo os homens. O futebol, reconhecido como importante expressão 
da cultura corporal brasileira e sem desconsiderar suas contradições, permite, 
a partir de seu estudo, refl etir sobre outros fenômenos, bem como interpretar 
o país nas suas dimensões histórico-cultural, ideopolítica e socioeconômica.
Imbuídos do desafi o acima e movidos pelo desejo de contribuir com 
os estudos do futebol, apresentamos este ebook. A obra é composta por seis 
capítulos, sendo três relativos a comunicações orais realizadas durante o Semi-
nário, e outros três resultantes de contribuições inéditas.
“Para além das quatro linhas: o futebol enquanto manifestação cultural”, 
escrito por Kleber Mazziero de Souza, é o capítulo inicial da obra e reproduz a 
palestra de abertura do Seminário. Após uma breve discussão conceitual sobre 
o conceito aristotélico da natureza política do homem e os papéis do político 
(poliḗtēs) e do idiota (idiṓtēs), por meio de indagações, o autor nos provoca 
a pensar sobre a condição social dos jogadores de futebol, inicialmente a 
partir do quadro remuneratório e depois pela exposição da história do jogador 
Afonsinho. O texto fi naliza problematizando a omissão da entidade máxima 
do futebol, a Federação Internacional de Futebol (FIFA), frente à realização 
do mundial de futebol no Catar em 2022, e culmina com a premissa de que, 
“Para além das quatro linhas, é preciso considerar o futebol como parte da 
cultura da sociedade; é preciso observar o futebol enquanto uma rica e com-
plexa manifestação cultural”.
O capítulo 2, de autoria de Julia Barreira Augusto e intitulado “O desen-
volvimento do futebol de mulheres no Brasil: desafi os do passado, conquistas 
do presente e perspectivas para o futuro”, também compôs a programação 
do evento. A autora nos convida à refl exão sobre a evolução histórica e as 
perspectivas futuras em relação ao futebol de mulheres. Para sua exposição, 
utiliza como parâmetros de análise as competições esportivas e a regionalidade 
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ESTUDOS DO FUTEBOL: temas emergentes e desafi os contemporâneos 11
das equipes de alto rendimento, a profi ssionalização das atletas e a formação 
de mulheres líderes no esporte. A autora reconhece que os avanços e a maior 
visibilidade recente engendraram um cenário positivo para o desenvolvimento 
da modalidade. Entretanto, ela identifi ca “diversos desafi os ainda enfrentados 
para a promoção de um futebol mais plural que realmente desafi e as estrutu-
ras de poder e os estereótipos de gênero”. Dentre esses obstáculos, destaca a 
formação de jovens jogadoras, transformação do ambiente e do público no 
sentido do acolhimento e inclusão, avanços na profi ssionalização e a maior 
presença das mulheres em cargos de liderança e gestão do futebol.
O capítulo 3 é uma contribuição inédita das autoras Mariana Zuaneti 
Martins, Gabriela Borel Delarmelina e Letícia Souza. O texto, com o título 
“O futuro do futebol é feminino?: passos e impasses para a profi ssionaliza-
ção do futebol de mulheres”, reforça algumas refl exões e problematizações 
apresentadas no capítulo anterior. As autoras trazem como tema central a 
profi ssionalização do futebol de mulheres, apontando os principais desafi os 
descritos na literatura. Para essa tarefa, partem de uma caracterização mais 
abrangente do tema, mergulham na realidade nacional e fi nalizam acentuando 
os problemas que persistem. Em suas refl exões fi nais, as autoras destacam 
que parte da profi ssionalização do futebol de mulheres se deu ancorado ao 
futebol de homens, o que promove um cenário que oscila entre o “otimismo 
– com esse presente de crescimento e as esperanças de um futuro maior – e 
a incerteza sobre a sustentabilidade dessa dependência”.
O texto “Civilizacionismo esportivo: notas introdutórias sobre um outro 
tipo de racismo”, quarto capítulo desta obra, aborda tema candente e com epi-
sódios recentes no futebol. Nele, Neilton de Sousa Ferreira Júnior aprofunda 
sua proposta de análise do racismo no esporte, introdutoriamente apresentada 
durante o Seminário, tendo como eixo de sua abordagem o que denomina de 
“civilizacionismo esportivo”. O autor parte do pressuposto de que o refe-
rido fenômeno representa um sofi sticado argumento “sem o qual o esporte, 
enquanto ideia, não se estenderia para além da forma espetacular, suspendendo 
com isto as possibilidades de assimilação crítica da técnica”. Para alcançar 
o objetivo e colocar a prova seu argumento, o autor percorre a “gênese” do 
civilizacionismo esportivo e as formas neocoloniais de política esportiva, com 
destaque para ações orientadas ao “desenvolvimento” dos subdesenvolvidos 
e à “pacifi cação” de zonas de confl ito. O texto encerra com o resgate de abor-
dagens críticas do civilizacionismo em busca de “um diálogo intercultural que 
não negue, mas segue em busca de uma nova e mais radical universalidade, 
mais sensível às demandas emancipatórias da classe oprimida”.
No capítulo 5 inicia-se um tema que não esteve diretamente presente 
na programação do evento, mas que é de suma importância para compreen-
der a dinâmica contemporânea do esporte de forma geral e do futebol em
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particular. Referimo-nos à dimensão econômica do futebol e o seu processo 
de industrialização ou mercantilização. O texto “Acumulação primitiva e 
futebol: anotações sobre a constituição das condições para a industrialização 
da modalidade” de autoria de Nadson Santana Reis, Marcelo Resende Tei-
xeira e Fernando Mascarenhas tem como objetivo “identifi car e analisar os 
processos que viabilizaram a entrada e a ingerência de interesses mercantis/
capitalistas no futebol”. Passando pela categoria da historicidade, fundamental 
à abordagem teórico-marxista que orienta as interpretações dos autores, o 
texto pontua as mudanças do esporte moderno para o momento contempo-
râneo, recupera as tensões históricas entre amadorismo e profi ssionalismo, e 
encerra com as transformações mais recentes engendradas pelos processos de 
espetacularização e comercialização do futebol a partir da década de1970. 
Considerando a infl uência dos meios de comunicação de massa – e mais 
recentemente, das novas tecnologias de mídia e das ações de marketing –, os 
autores identifi cam, em patamares inéditos, um futebol caracterizado pelos 
“traços de industrialização, isto é, de comercialização, espetacularização, 
mecanização/tecnologização e globalização/mundialização”.
O capítulo fi nal desta obra reserva importante e atual contribuição do 
professor Marcelo Weishaupt Proni. “Uma leitura econômica do futebol no 
Brasil” procura entender os impactos econômicos no futebol brasileiro da Lei 
da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), publicada em 2021, com foco na 
concorrência entre os clubes de elite. O texto inicia recuperando a trajetória 
histórica das mudanças na legislação que regulamenta a atividade econômica 
dos clubes de futebol no Brasil e o desafi o de superar o elevado endividamento 
dessas entidades. A segunda parte apresenta um retrato atual da situação dos 
clubes de elite do Brasil, com destaque para as receitas e o grau de endivida-
mento. O autor fi naliza o texto com considerações sobre possíveis impactos 
da Lei da SAF, elogiada pelo meio empresarial e com impacto imediato sobre 
clubes tradicionais, e o anúncio de uma nova era no futebol brasileiro.
Finalizando esta apresentação, em uma muito singela homenagem diante 
da grandiosidade de atos e manifestações recentes, dedicamos este livro ao 
“maior de todos”. O ano de 2022 se encerrou e com ele levou Edson Arantes 
do Nascimento, o Pelé. Maior jogador de todos os tempos, reconhecido e 
reverenciado em todo o mundo, seus feitos e sua obra ganham a eternidade. 
Existe um futebol antes e outro depois de Pelé. Nas palavras de Armando 
Nogueira “Se Pelé não tivesse nascido homem teria nascido bola”.
Os Organizadores
Brasília, 5 de janeiro de 2023.
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 CAPÍTULO I
 PARA ALÉM DAS QUATRO LINHAS: 
o futebol enquanto manifestação cultural
 Kleber Mazziero de Souza
Ser humano, um ser social
A tradução da célebre frase de Aristóteles “ἄνθρωπος φύσει πολιτικὸν 
ζῷον” (ánthropos fýsei politikón zóon) pela expressão em português “o homem 
é, por natureza, um ser vivo político”1 ou pela expressão “o homem, por natu-
reza, é um animal político”2 requer, invariavelmente, uma Nota de Rodapé, 
uma Nota Explicativa, um comentário do tradutor. Isso, por ao menos dois 
motivos essenciais: a dimensão quase sempre inabarcável do saber aristotélico 
e a difi culdade de tradução não do termo, mas do conceito do termo πολιτικὸν 
(politikón), “político”.
Uma possibilidade de dirimir a difi culdade de tradução do conceito desse 
termo, pode ser construída a partir do termo que o ladeia, φύσει (fysei), “natu-
reza”, e, sobretudo, emprestando à expressão o contexto no qual ela está inse-
rida. Em Grego, a frase que antecede a expressão é: ἐκ τούτων οὖν φανερὸν 
ὅτι τῶν φύσει ἡ πόλις ἐστί (ek toúton oún fanerón óti tón fýsei i pólis estí), 
“de tudo isso, é evidente que a cidade é uma das coisas naturais”.
É possível depreender, portanto, que a “natureza política” do “homem” 
estaria atrelada a outro elemento “natural”: a “cidade”. Ao mesmo tempo, é 
impossível desassociar os termos qualifi cados como dois elementos “naturais”: 
πόλις (pólis) e πολιτικὸν (politikón); o segundo, uma declinação de πολῑτῐκός 
(polītikós), o “habitante da cidade”, o primeiro, a própria “cidade”, o objeto 
direto do sujeito “habitante”.
Desse modo, considerado o contexto desde seu início, a tradução da 
frase “ἐκ τούτων οὖν φανερὸν ὅτι τῶν φύσει ἡ πόλις ἐστί, καὶ ὅτι ὁ ἄνθρωπος 
φύσει πολιτικὸν ζῷον” (ek toúton oún fanerón óti tón fýsei i pólis estí kaí óti 
o ánthropos fýsei politikón zóon) poderia ser: “de tudo isso, é evidente que a 
cidade é uma das coisas naturais, e que o homem é, por natureza, um animal 
que habita a cidade”.
1 ARISTÓTELES. Política. Tradução: António Campelo Amaral, Carlos Gomes. Lisboa: Vega, 1998.
2 ARISTÓTELES. Política. Tradução: Pedro Constantin Tolens. São Paulo: Martin Claret, 2001.
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Também ladeiam o conceito trazido pelo termo πολιτικὸν (politikón), 
as palavras ἄνθρωπος (ánthropos), traduzido pelo termo “homem” e ζῷον 
(zóon), traduzido pelo termo “animal”.
O conceito trazido pelo termo ἄνθρωπος (ánthropos) é, certamente, mais 
amplo do que o que se encontra na tradução “homem”; em verdade, “homem”, 
a palavra grega que determina o “homem”, ser humano do sexo masculino, 
não é ἄνθρωπος (ánthropos), mas άνδρας (ándras), que ladeia o ser humano 
do sexo feminino, γυναίκα (gynaíka). Assim, uma tradução mais precisa para 
o termo ἄνθρωπος (ánthropos), seria aquela que carregaria consigo o conceito 
comum a άνδρας (ándras) e γυναίκα (gynaíka): o conceito de “ser humano”.
Também o termo ζῷον (zóon) pode conter um conceito mais amplo do 
que o que se encontra na tradução “animal”. É fato que, tomado literalmente, 
o termo prevê a tradução “animal”, mas tomado de maneira mais abrangente – 
nem precisando alçar a raia metafórica –, abarcaria o conceito de “criatura”3.
Desse modo, a tradução da frase ἐκ τούτων οὖν φανερὸν ὅτι τῶν φύσει ἡ 
πόλις ἐστί, καὶ ὅτι ὁ ἄνθρωπος φύσει πολιτικὸν ζῷον (ek toúton oún fanerón 
óti tón fýsei i pólis estí kaí óti o ánthropos fýsei politikón zóon) poderia ser 
ainda mais precisa, caso se confi gurasse como: “de tudo isso, é evidente que 
a cidade é uma das coisas naturais, e que o ser humano é, por natureza, uma 
criatura que habita a cidade”.
Não se deve desconsiderar, contudo, que o grego redundou no português 
após passar pelo latim.
Se, no grego, “habitar a cidade” respondia à natureza do “ser humano” 
e o fazia πολιτικὸν (politikón), no latim esse conceito partiria de outro termo: 
socius, que trazia consigo o conceito de “parceiro”, “aliado”, “companheiro”. 
Societas, termo derivado de socius, indicaria a união de parceiros, de com-
panheiros, para um fi m e com um fi m em comum; engendraria o conceito 
de “comunidade”. A forma genitiva societātis (societatis) e a forma dativa 
societātī (societati) não deixam dúvidas de que o termo “sociedade”, em por-
tuguês, tem a matriz socius, e, por conseguinte, a raiz em πολῑτῐκός (polītikós).
Desse modo, ao permitir uma espécie de “latinização” da tradução do 
saber aristotélico e, sobretudo, depreendendo dessa “latinização” que a vida 
3 No livro dos Hebreus, encontramos a primeira espécie de conotação para o termo – ou para seus derivados 
ζῷον (zóon) –: ζῴων (zóon) é traduzido como “animais”: ὧν γὰρ “εἰσφέρεται” ζῴων “τὸ αἷμα περὶ 
ἁμαρτίας εἰς τὰ ἅγια” διὰ τοῦ ἀρχιερέως, τούτων τὰ σώματα “κατα καίεται ἔξω τῆς παρεμβολῆς: 
“Pois os corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, 
são queimados fora do arraial.” (Hebreus, 13:11).
Já no Apocalipse, a tradução mais precisa da palavra ζῷα (zóa) indicaria o termo “criatura”: καὶ ἐνώπιον 
τοῦ θρόνου ὡς θάλασσα ὑαλίνη “ὁμοία κρυστάλλῳ. καὶ ἐν μέσῳ τοῦ θρόνου” καὶ “κύκλῳ τοῦ 
θρόνου τέσσερα ζῷα γέμοντα ὀφθαλμῶν” ἔμπροσθεν καὶ ὄπισθεν: “E havia diante do trono um como 
mar de vidro, semelhante ao cristal. E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, 
por diante e por detrás.” (Apocalipse, 4:6).
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dos que “habitam a cidade” seria uma vida “em sociedade”, poderíamos ver 
consolidada a tradução da frase ἐκ τούτων οὖν φανερὸν ὅτι τῶν φύσει ἡ πόλις 
ἐστί, καὶ ὅτι ὁ ἄνθρωπος φύσει πολιτικὸν ζῷον (ek toúton oún fanerón óti 
tón fýsei i pólis estí kaí óti o ánthropos fýsei politikón zóon) na formulação: 
“de tudo isso, é evidente que a cidade é uma das coisas naturais, e que o ser 
humano é, por natureza, um ser social”.
É possível defi nir, portanto, que, ao viver em sociedade, na πόλις (pólis), 
o ser humano atende à sua natureza;é um ser político porque um ser social; 
é político porque vive em sociedade.
πολῐήτης (poliḗtēs) x ῐ̓δῐώτης (idiṓtēs)
Ao tratar dos Episódios (ἐπεισόδια) e do Argumento (λόγους) na Tragédia 
e na Epopeia, em seu A Poética, Aristóteles emprega o termo ἴδιον (ídion) 
com o sentido de “próprio”: “Eis o que é próprio ao argumento, tudo o mais 
são episódios” (τὸ μὲν οὖν ἴδιον τοῦτο, τὰ δ᾽ ἄλλα ἐπεισόδια) e com o sentido 
de “particular”, de “específi co”: “Mas a epopeia possui uma característica 
muito particular quanto à viabilidade de alongar a extensão” (ἔχει δὲ πρὸς 
τὸ ἐπεκτείνεσθαι τὸ μέγεθος πολύ τι ἡ ἐποποιία ἴδιον); e o termo ἰδιωτικὸν 
(idiotikón) com o sentido de “ordinário”, de “usual”: “A elocução é respei-
tável e apartada do ordinário quando emprega nomes inabituais” (“σεμνὴ δὲ 
καὶ ἐξαλλάττουσα τὸ ἰδιωτικὸν ἡ τοῖς ξενικοῖς κεχρημένη” – Aristóteles, A 
Poética; 1455b, 1459b, 1458a). Nota-se que o estagirita faz uso dos termos 
derivados da palavra ἴδιος (ídios), que signifi ca “tudo o que é próprio de 
alguém, que é privado, exclusivamente particular”4.
Desse modo, somos levados ao termo que, na Grécia Antiga, indicava o 
indivíduo que se dedicava apenas aos seus próprios interesses: ῐδ̓ῐώτης (idiṓ-
tēs); em contrapartida, o indivíduo que se ocupava dos interesses comuns, 
aos assuntos da sociedade, às questões que envolviam todos os habitantes da 
pólis, era denominado: πολῐήτης (poliḗtēs). Portanto, aquele que se envolvia 
com a política-enquanto-processo-social era denominado πολῑ́της (polítes); 
aquele que se dedicava apenas aos seus interesses pessoais era denominado 
ἰδιώτης (idiótes). Tal denominação redundaria, em português, nos termos 
“político”, a indicar “o ser social”, que, “por natureza” vive em sociedade, 
“uma das coisas naturais”, na formulação aristotélica; e “idiota”, a indicar 
um “ser não-social”, que, contrariando sua natureza, pensaria somente em si, 
agindo como se a ele não fosse “natural” viver em sociedade.
4 É sobejamente conhecido o fato de que o termo ῐ̓δῐώτης (idiṓtēs), pelo radical da palavra, indicava o indi-
víduo que se dedicava apenas aos seus próprios interesses, que não se dedicava aos interesses de todos, 
da população, enquanto o termo πολῐήτης (poliḗtēs) defi nia o cidadão que se dedicava aos assuntos da 
sociedade, da πόλις (pólis), da política-enquanto-processo-social, enfi m.
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A condição social média do jogador de futebol no Brasil – 
especifi camente o âmbito fi nanceiro
Parece absurdamente redundante afi rmar que o jogador de futebol é um 
ser humano; que, enquanto ser humano vive em sociedade; e que, enquanto 
ser social tem uma condição social.
Como o universo de profi ssionais do futebol é muito maior do que 
podemos abarcar neste trabalho, delimitaremos um recorte preciso e con-
sideraremos apenas um dos aspectos da condição social do ser humano do 
sexo masculino jogador profi ssional de futebol no Brasil: o salário médio 
desses profi ssionais.
No início do ano de 2016, a Confederação Brasileira de Futebol divulgou 
o Balanço da classe profi ssional do ano anterior e revelou que mais de 80% 
dos jogadores de futebol masculino no Brasil tinham salários de, no máximo, 
R$ 1.000,00 por mês; 96,08% dos jogadores tinham salários que não ultrapas-
savam o valor de R$ 5.000,00 por mês, tal como ilustrado na tabela abaixo.
Tabela 1 – Salários dos Jogadores. Balanço 2015
Valor Nº de atletas Proporção
Até R$ 1.000,00 23.238 82,40%
R$ 1.000,01 até R$5.000,00 3.859 13,68%
R$ 5.000,01 até R$ 10.000,00 381 1,35%
R$ 10.000,01 até R$ 50.000,00 499 1,77%
R$ 50.000,01 até R$ 100.000,00 122 0,40%
R$ 100.000,01 até R$ 200.000,00 78 0,28%
R$ 200.000,01 até R$ 500.000,00 35 0,12%
Acima de R$ 500.000,01 1 0,00%
Fonte: Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Vale observar que, no ano de 2015, o salário mínimo no Brasil era de 
R$ 788,00 mensais.
É preciso observar, também, que o tempo total de carreira de um traba-
lhador profi ssional do futebol é de cerca de 20 anos.
É preciso ressaltar, por fi m, que grande parte desses profi ssionais do 
futebol masculino do Brasil têm contratos de apenas quatro meses, tanto 
para atender à Lei n° 9.615/1998, o Decreto n° 8.692/2016, a Consolidação 
das Leis do Trabalho, outras leis trabalhistas compatíveis com a profi ssão de 
atleta, cabíveis à aplicação subsidiária da legislação laboral comum, previstas 
no Artigo 28 da Lei, quanto para não gerar vínculos empregatícios para os 
clubes de futebol.
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ESTUDOS DO FUTEBOL: temas emergentes e desafi os contemporâneos 17
Desse modo, ainda que um jogador de futebol tenha o vencimento 
máximo da faixa de profi ssionais cujos salários mensais variam entre R$ 
5.000,00 e R$ 10.000,00 (1,35% dos profi ssionais), seria necessário dividir 
o total dos proventos de R$ 40.000,00 por 12 meses, o que confi guraria um 
salário mensal de aproximadamente R$ 3.334,00, e deslocaria esse atleta 
para a faixa de salários que cobre os 13,68% cujos vencimentos mensais não 
somam os R$ 5.000,00.
Dessa condição redunda o fato de que, segundo o Balanço divulgado, 
no ano de 2015 foram registradas 7.973 quebras de vínculos contratuais; vale 
dizer, mais de 30% dos jogadores de futebol profi ssional fi caram desempre-
gados ainda no primeiro semestre daquele ano.
A situação parece não ter melhorado com o decorrer da segunda década 
do século XXI. Em 2021, a agência Money Times divulgou os resultados 
de uma pesquisa que reuniu dados obtidos na CBF e pelas agências Statista
e Ernst & Young. Segundo a pesquisa, 55% dos jogadores profi ssionais de 
futebol masculino no Brasil tinham vencimentos salariais de R$ 1.100,00, 
valor equivalente ao salário mínimo daquele ano, 33% dos jogadores pro-
fi ssionais tinham salários até R$ 5.000,00, perfazendo um total de 88% dos 
jogadores profi ssionais cujos salários seriam inferiores R$ 5.000,00; e 12% 
teriam remuneração superior a R$ 5.000,00.
A este quadro exposto, sucede uma pergunta: fosse aquele único jogador 
com salários mensais superiores a R$ 500,00,00 em 2015, fossem os poucos 
jogadores com salários mensais superiores a R$ 500,00,00 em 2021, quantos 
deles se manifestaram publicamente a respeito da difícil faceta fi nanceira da 
condição social média do jogador profi ssional de futebol masculino no Brasil?
Afonsinho e o histórico da condição social média do jogador de 
futebol no Brasil – especifi camente o âmbito fi nanceiro
Naturalmente, o espaço deste trabalho não é sufi ciente para narrar, anali-
sar, admirar a grandeza de uma das mais importantes personagens da história 
do futebol brasileiro: o jogador profi ssional do futebol masculino, Afonsinho.
A luta de Afonsinho pela libertação do jogador de futebol de sua condi-
ção social – vale dizer, da média dos jogadores de futebol do Brasil – entre 
o fi nal da década de 1960 e o início da década subsequente está descrita na 
biografi a Prezado Amigo Afonsinho, e foi descrita já àquela altura, em outubro 
de 1972, por Pelé: “Homem livre em futebol. Homem livre, eu só conheço 
um: o Afonsinho. Esse, sim, pode dizer – usando suas palavras – que deu 
o grito de ‘Independência ou Morte’. Ninguém mais. O resto é conversa.” 
(SOUZA, 1998, p. 219).
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A luta de Afonsinho, de escopo tão profundo quanto amplo, foi tra-
vada num contexto histórico muito específi co no Brasil, como descreveu 
o próprio jogador:
Chegou um determinado momento em que os dirigentes resolveram 
implantar algumas transformações e adotar novas medidas. Naturalmente, 
aquilo correspondia ao caráter do conjunto de coisas que se procurava 
impor a peso de força na sociedade brasileira. E formalmente foi muito 
direta: o período de férias era de 17 de dezembro a 7 de janeiro. Saímos 
de férias em 1968. Quando voltamos, as mudanças estavam nosesperando 
(SOUZA, 1998, p. 79).
A luta de Afonsinho, de escopo tão profundo quanto amplo, entre outras 
questões, foi caracterizada também pela reinvindicação no âmbito fi nanceiro. 
Contratado pelo Botafogo FR à altura, Afonsinho tinha em contrato um salário 
acima da média dos salários da maioria dos jogadores de futebol do Brasil, 
incluindo os que atuavam pelo clube. Considerando não apenas a sua situação, 
mas a dos demais jogadores do elenco – considerando, portanto, o complexo 
social, não apenas sua situação particular; pensando e agindo como πολῑ́της 
(polítes), não como ἰδιώτης (idiótes) –, Afonsinho, que à época cursava Medi-
cina, contestava a conduta da diretoria do clube, como ele mesmo descreve: 
“Um diretor do Botafogo ‘me queria como capitão do time’, para ter ‘diálogo 
com um universitário’, mas como eu reclamava dos prêmios que o clube pro-
metia e atrasava, ele passou a dizer que eu era ‘um líder negativo’” (SOUZA, 
1998, p. 111).
Qual um “líder negativo”, Afonsinho foi perseguido, marginalizado e, 
naturalmente, abandonado. Descrevendo e analisando a história, Zizinho, o 
grande jogador brasileiro da primeira metade do século XX, sintetizou em 
um único parágrafo cada um dos particípios passados grafados acima: “ele 
enfrentou os dirigentes, que naturalmente não queriam e nem esperavam um 
problema daquele tipo, e teve pouco apoio dos jogadores da época. Talvez 
não tenha chegado ao estrelato que merecia na carreira devido a esse fato” 
(SOUZA, 1998, p. 220).
É preciso ressaltar que a perseguição a Afonsinho foi protagonizada, 
naturalmente, pela classe dirigentes do futebol brasileiro, “os dirigentes, que 
naturalmente não queriam e nem esperavam um problema daquele tipo”; e 
que a marginalização foi a decorrência natural tanto da ação dos dirigentes 
(“talvez não tenha chegado ao estrelato que merecia na carreira devido a esse 
fato”) quanto da inação dos colegas de classe (“teve pouco apoio dos jogadores 
da época”), inclusive aqueles a quem Afonsinho defendia. Todos, dirigentes 
e jogadores profi ssionais de futebol masculino, a cuidar de seus interesses 
particulares e a desconsiderarem a condição social.
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Assim como as palavras de Zizinho sintetizam a história e a condição 
social, as palavras de um dirigente de futebol sintetizam o pensamento 
e o comportamento históricos do universo social do futebol brasileiro. 
Afonsinho recordou:
Uma vez, um diretor me propôs de cortar o cabelo, raspar a barba, vol-
tar para o campo e não dar “bola para esses caras da imprensa que só 
gostam de fazer onda e fofocas; você vai botar um dinheirinho no bolso, 
carro do ano, boas mulheres e pronto. É isso o que interessa” (SOUZA, 
1998, p. 111).
Do quadro histórico exposto, brota naturalmente uma pergunta: à exceção 
de Afonsinho, quantos dos jogadores profi ssionais do futebol masculino do 
Brasil se manifestaram publicamente a respeito da difícil faceta fi nanceira da 
condição social média do jogador profi ssional de futebol masculino no Brasil, 
desde o fi nal da década de 1960 até o início da década de 2022?
Dessa pergunta, nasce outra: ao longo desse tempo, teria se exacerbado 
o fato de o jogador profi ssional de futebol masculino no Brasil ser levado a 
pensar e a agir mais como um ἰδιώτης (idiótes), menos como πολῑτ́ης (polítes)?
Um paralelo
A fi m de traçar um único paralelo entre os profi ssionais do futebol mas-
culino e os atletas profi ssionais de outro esporte, trazemos em coleção um 
fato proveniente do âmbito do tênis feminino:
O presidente da Associação de Tênis da Polônia, Miroslaw Skrzypc-
zynski, foi acusado de violência física e sexual. A imprensa polonesa divul-
gou na segunda semana do mês de novembro de 2022 denúncias de casos de 
violência praticados pelo presidente quando ainda técnico de tênis.
No dia 22 de novembro de 2022, quando da divulgação das acusações, a 
tenista Iga Swiatek, campeã dos torneios de Roland Garros e do US Open de 
2022, e líder do ranking mundial da modalidade, manifestou-se prontamente: 
“Sinto que, na condição de atual líder do tênis feminino, não posso me calar 
a respeito de determinados assuntos”; afi nal, enquanto a grande campeã que 
é, teria a felicidade de dispor da “liberdade de decidir se quero falar sobre 
algo ou não”, teria decidido tomar uma posição fundamentada em sua “sen-
sibilidade, conhecimento, limites e força que tenho no momento para apoiar 
as pessoas que sofrem ou encorajá-las a fazer algo” .
Vale ressaltar que, ao tempo de sua declaração, a tenista contava 21 
anos de idade, e declarou uma posição assaz precisa a respeito da questão: 
“quando se trata de violência física ou abuso emocional, o mais importante é 
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ser sensível em relação às vítimas; e quando falamos sobre algo errado que está 
acontecendo, precisamos pensar primeiro nelas primeiro e acima de tudo. ”
Vale ressaltar, também, que Iga Swiatek não se furtou a especifi car a 
função e o cargo ocupado pelo acusado: “sou contra a violência no esporte, 
no tênis, em todas as disciplinas, e na vida cotidiana. É por isso que con-
sidero os artigos sobre o presidente da Associação Polonesa de Tênis um 
assunto sério”, tampouco se furtou a cobrar providências de quem de direito: 
“os órgãos governamentais devem determinar o que aconteceu, e espero que 
cuidem desse caso trazido à tona pela mídia”; ademais, demonstrou perfeito 
conhecimento de sua função e posição social: “não é minha função fazer o 
trabalho dos órgãos governamentais e dos jornalistas”. Contudo, é possível 
depreender da manifestação pública da atleta profi ssional do tênis feminino, 
o profundamente consolidado conhecimento de seu papel; vale dizer, de sua 
função e condição social. Desse modo, enquanto ser social, delimitou preci-
samente a necessidade de seu pronto e veemente manifesto: “mas o assunto 
é muito sério, pois diz respeito à vida e à saúde das pessoas.”
Vale ressaltar, por fi m, que a tenista de 21 anos de idade demonstrou 
ciência de seu papel social: “este pode ser o meu papel”, da possibilidade de, 
ao desempenhar seu papel, infl uenciar a sociedade: “é assim que posso usar 
minha infl uência”, e de que a sociedade é o palco em que se desempenham 
os papeis do conjunto de todas as relações humanas: “espero que, com a 
exposição de tais assuntos e sua resolução cuidadosa e justa, o esporte mude 
para melhor, na Polônia e no mundo”.
Exatamente um mês antes, no dia 22 de novembro de 2022, às vésperas 
da Copa do Mundo e do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, 
o jogador de futebol masculino profi ssional, Neymar Jr., declarou apoio a um 
dos candidatos ao pleito, o então presidente Jair Bolsonaro, do Partido Liberal.
Em seu mandato como presidente da República, os indicadores sociais 
e econômicos do candidato à reeleição indicaram um retrocesso relativo a 30 
anos. Os dados do 2º inquérito sobre Insegurança Alimentar, promovido pela 
Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar, indicaram 
que 33,1 milhões de pessoas no Brasil não tinham o que comer, número 
similar ao do ano de 1992; que 58,7% da população convivia em algum grau 
com a insegurança alimentar, um aumento de 60% em relação ao início do 
mandato. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas apontou que o percentual de 
brasileiros que, em algum momento do ano de 2021, não teve dinheiro para se 
alimentar era de 36% de pessoas, o que estabeleceu um recorde histórico na 
série cuja aferição iniciou em 2006; que a taxa de evasão escolar da faixa etária 
entre 5 a 9 anos regrediu ao estágio em que se encontrava no ano de 2008; 
que o recuo no âmbito das ações de preservação ao meio ambiente é histórico: 
segundo dados do INPE, em maio de 2002, a Amazônia teve o maior número 
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de incêndios desde 2004, o desmatamento anual médio na região aumentou 
75% em relação à década anterior, e, 30 anos depois da ECO-92, o Brasil 
deixou a vanguarda da agenda mundial de sustentabilidade e se transformou 
numa ameaça ambiental internacional.
Somam-se a esses, os dados do IBGE, que dão conta de que os investi-
mentos e o consumo das famílias brasileiras retrocederam ao ano de 2015; a 
indústria, a números similares aos de 2009; a produção de veículos, a números 
de 2006; e o PIB a cifras de 2013.
No entanto, ciente ou ino-ciente desses indicadores sociais, o jogador de 
futebol masculino profi ssional Neymar Jr. declarou seu apoio ao candidato à 
reeleição, e justifi cou a decisão afi rmando que recebera o apoio do candidato 
“no momento mais difícil” de sua vida: “Eu queria agradecer ao presidente 
que no momento mais difícil da minha vida foi o primeiro a se posicionar 
publicamente dizendo que estaria do meu lado. Então, quando eu vi o que 
estava acontecendo, eu senti no meu coração que devia retribuir esse mesmo 
carinho que ele teve comigo”.
Parece impossível não voltar ao parágrafo do qual se depreende que 
“aquele que se envolve com a política-enquanto-processo-social” seria deno-
minado em Grego, na Grécia Antiga, πολῑ́της (polítes), enquanto “aquele 
que se dedica apenas aos seus interesses pessoais” seria denominado ἰδιώτης 
(idiótes); a profi ssional do tênis feminino, Iga Swiatek, seria denominada em 
Português, no ano de 2022 da Era Cristã, “política”, seria considerada um “ser 
social”, que, “por natureza” vive em sociedade, “uma das coisas naturais”. 
Novamente, ao quadro exposto sucede uma pergunta: como seria denominado 
em português, no ano de 2022 da Era Cristã, o profi ssional jogador de futebol 
masculino acima mencionado, que se afi gurou mais próximo de se confi gurar 
como um “ser não-social”, que, contrariando sua natureza humana, pensou 
somente em si, agindo como se a ele não fosse “natural” viver em sociedade?
A postura da entidade máxima do futebol
Às vésperas da Copa do Mundo de 2022, que seriam realizadas no Catar, 
um dia antes de a tenista Iga Swiatek se manifestar qual um “ser social”, 
as Federações de Futebol da Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, 
Alemanha, Holanda e Suíça emitiram um comunicado conjunto; no texto, as 
Federações afi rmam que a FIFA, entidade máxima do futebol, sentenciou que 
seriam punidos com um cartão amarelo os capitães das equipes que usassem a 
braçadeira de capitão da equipe, com a mensagem “One Love”, que estampa 
as cores do arco-íris, em apoio à causa LGBTQIA+ no mundo – o código 
penal do Catar5, país sede da competição, categoriza o homossexualismo 
5 Documento que compõe o apêndice deste trabalho.
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masculino prevê como uma prática criminosa, passível de uma pena de oito 
anos de prisão ou até mesmo a pena de morte.
Pressionado acerca da escolha do país sede da competição e da posição 
da entidade máxima do futebol a respeito da violação de direitos humanos 
no país, Gianni Infantino, presidente da FIFA à altura da Copa do Mundo, 
declarou: “Tenho falado sobre esse assunto com as mais altas lideranças do 
país; eles confi rmaram – e eu posso confi rmar – que todos são bem-vindos. 
Se alguém disser o contrário, bem, não é a opinião do país e certamente não 
é a opinião da Fifa”6.
É notável que o presidente da entidade máxima do futebol refere-se 
àqueles que visitariam o país durante o mês em que transcorreria a competição 
de futebol, não às violações que ocorreriam antes ou depois da Copa, quando 
os olhos do mundo já não mais estariam voltados para o Catar. A sociedade, 
o corpo social, estaria preservado durante um mês de um único ano.
No entanto, pressionado pela postura da entidade máxima do futebol, 
sobretudo no que diz respeito à ameaça de punição às equipes cujos capitães 
usassem os dizeres e as cores do arco íris em suas braçadeiras, o presidente 
Gianni Infantino e a secretária geral da FIFA, Fatma Samoura, divulgaram 
um comunicado ofi cial, no qual pedem à Federações dos países que dispu-
tariam a Copa do Mundo, no Catar: “por favor, não permitam que o futebol 
seja arrastado para todas as batalhas ideológicas ou políticas que existem”7.
É notável o uso deliberado do termo political (políticas). O futebol não 
deveria ser “arrastado” às questões “políticas”, às questões “sociais”; o futebol 
não deveria ser “arrastado” para a o âmbito social, para a sociedade.
Tanto é deliberado o uso do termo e a consciência da entidade máxima do 
futebol acerca desse “distanciamento social” do futebol, que o comunicado se 
estende: “sabemos que o futebol não vive num vácuo, e estamos igualmente 
conscientes de que existem muitos desafi os e difi culdades de natureza política 
por todo o mundo”8.
É notável, contudo, que, apesar da “consciência” da entidade máxima 
do futebol acerca dos “muitos desafi os e difi culdades de natureza política por 
todo o mundo”, no comunicado enviado às 32 Federações de futebol à apenas 
uma exclamação, a enfatizar uma frase, um pedido: “Por favor, agora vamos 
focar no futebol!9”.
6 “I have been speaking about this subject with the country’s highest leadership. They have confi rmed, and I 
can confi rm that everyone is welcome. If anyone says the opposite, well it’s not the opinion of the country 
and it’s certainly not the opinion of FIFA.”
7 “Please do not allow football to be dragged into every ideological or political battle that exists.”
8 “We know football does not live in a vacuum and we are equally aware that there are many challenges and 
diffi culties of a political nature all around the world.”
9 “Please, let's now focus on the football!”
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ESTUDOS DO FUTEBOL: temas emergentes e desafi os contemporâneos 23
Considerações fi nais
É preciso voltar a Aristóteles.
Tentamos encontrar a tradução mais precisa da célebre frase de Aristóte-
les “ἄνθρωπος φύσει πολιτικὸν ζῷον”, sem necessitar atrelar a ela uma Nota 
de Rodapé. Para tanto, buscamos a mais precisa tradução para o conceito do 
termo πολιτικὸν (politikón), valendo-nos primeiramente do termo que o ladeia, 
φύσει (fysei); em seguida, emprestamos à expressão aristotélica o contexto 
concedido pela frase que antecede a expressão, “ἐκ τούτων οὖν φανερὸν ὅτι 
τῶν φύσει ἡ πόλις ἐστί”, e depreendemos que os conceitos intrínsecos aos 
termos da frase estariam atrelados ao conceito de πόλις (pólis); munidos desse 
elo, estendemo-nos aos conceitos de ἄνθρωπος (ánthropos) e de ζῷον (zóon), 
tomamos a frase de Aritóteles desde seu início, e alcançamos a tradução da 
frase “ἐκ τούτων οὖν φανερὸν ὅτι τῶν φύσει ἡ πόλις ἐστί, καὶ ὅτι ὁ ἄνθρωπος 
φύσει πολιτικὸν ζῷον” (ek toúton oún fanerón óti tón fýsei i pólis estí kaí óti 
o ánthropos fýsei politikón zóon) como: “de tudo isso, é evidente que a cidade 
é uma das coisas naturais, e que o ser humano é, por natureza, uma criatura 
que habita a cidade”; por fi m, fomos ao Latim, encontramos o conceito de 
societātī (societati), a especular o conceito de πολῑτῐκός (polītikós), e con-
cluímos que uma tradução para a frase, um tradução que poderia prescindir 
de uma Nota explicativa, de um comentário do tradutor, seria: “de tudo isso, 
é evidente que a cidade é uma das coisas naturais, e que o ser humano é, por 
natureza, um ser social”.
Concluímos, assim, que “ao viver em sociedade, na πόλις (pólis), o 
ser humano atende à sua natureza; é um ser político porque um ser social; é 
político porque vive em sociedade.”
No entanto, para que nossas Considerações nada percam em precisão, é 
necessário que, a título de construir o mais amplo contexto para intentarmos 
em tudo compreender a célebre frase aristotélica, além de nos debruçarmos 
sobre a formulação que a antecede, devemos nos estender àformulação que 
a sucede: “καὶ ὁ ἄπολις διὰ φύσιν καὶ οὐ διὰ τύχην ἤτοι φαῦλός ἐστιν, ἢ 
κρείττων ἢ ἄνθρωπος” (kaí o ápolis diá fýsin kaí ou diá týchin ítoi favlós 
estin, í kreítton í ánthropos). Saltam aos olhos os conceitos dos termos ἄπολις 
(ápolis), com o prefi xo “ἄ” (á) a indicar o “contrário”, o “ausente de”, natu-
ralmente levando à concepção do conceito de um ser “a-político”, in-social”, 
“não ocupado com as questões sociais”, “distante de sua própria natureza”, 
que é “social”; de φαῦλος (phaûlos), o “simples”, o “simplório”, seguramente, 
o “inferior”; e de κρείττων (kreítton), o “superior”. Tais conceitos comporiam 
a frase “e que o insocial por natureza e não por acaso é ou um ser inferior ou 
superior ao homem”.
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É preciso ressaltar, contudo, a expressão “καὶ οὐ διὰ τύχην ἤτοι” (kai 
ou diá týchin), “e não por acaso”, e, ao ressaltá-la, levar a tradução a “e que 
o ser não-social por natureza – e não por acaso – é um ser inferior ou um ser 
superior ao ser humano.”
Desse modo, a frase completa de Aristóteles “ἐκ τούτων οὖν φανερὸν 
ὅτι τῶν φύσει ἡ πόλις ἐστί, καὶ ὅτι ὁ ἄνθρωπος φύσει πολιτικὸν ζῷον καὶ ὁ 
ἄπολις διὰ φύσιν καὶ οὐ διὰ τύχην ἤτοι φαῦλός ἐστιν, ἢ κρείττων ἢ ἄνθρωπος” 
(ek toúton oún fanerón óti tón fýsei i pólis estí kaí óti o ánthropos fýsei poli-
tikón zóon kaí o ápolis diá fýsin kaí ou diá týchin ítoi favlós estin, í kreítton 
í ánthropos) seria traduzida como: “de tudo isso, é evidente que a cidade é 
uma das coisas naturais, que o ser humano é, por natureza, um ser social, e 
que o ser não-social por natureza – e não por acaso – é um ser inferior ou um 
ser superior ao ser humano”.
É preciso voltar à contraposição entre o ser πολῑ́της (polítes) e o ser 
ἰδιώτης (idiótes).
Tomando emprestado de Aristóteles a expressão “e não por acaso” (“καὶ 
οὐ διὰ τύχην ἤτοι” – kai ou diá týchin), podemos adequá-la ao contexto 
exposto do jogador profi ssional de futebol masculino no Mundo, podemos 
adequá-la ao contexto exposto do jogador profi ssional de futebol masculino no 
Brasil, e, de aí, podemos deduzir que à entidade máxima do esporte futebol, 
a grande parte de dirigentes de futebol e a uma pequena parte de jogadores 
profi ssionais de futebol masculino, interessa sobremaneira que o jogador pro-
fi ssional de futebol masculino, especifi camente enquanto jogador de futebol, 
seja tido, havido, visto, considerado, tratado deliberadamente como um “ser 
superior ao ser humano”: o artista de um espetáculo muito maior do que ele, 
porém do qual ele é o protagonista. Em contrapartida, o jogador profi ssional 
de futebol masculino, especifi camente enquanto “ser social”, é tido, havido, 
visto, considerado, tratado deliberadamente como um “ser inferior ao ser 
humano”, reduzido a um “idiótes” (ἰδιώτης) que jamais deve se portar, ter-se, 
ver-se, posicionar-se, considerar-se, ser tratado como um “polítes” (πολῑτ́ης).
De tal quadro exposto, nasce inevitavelmente uma pergunta: a quem 
isso interessa?
Desta pergunta, que procura identifi car, nasce outra, que procura espe-
cifi car: como isso tudo se confi gura há tanto tempo, em lugares tão distintos, 
em situações que variam de pequenas a imensas proporções, sempre com um 
traço de semelhança tão comum a todas elas?
É preciso intentar uma resposta.
Para além das quatro linhas, é preciso considerar o futebol como parte 
da cultura da sociedade; é preciso observar o futebol enquanto uma rica e 
complexa manifestação cultural.
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ESTUDOS DO FUTEBOL: temas emergentes e desafi os contemporâneos 25
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FIFA pressiona e seleções europeias vetam braçadeira arco-íris na Copa. UOL, 
21 nov. 2022. Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/reda-
cao/2022/11/18/posso-ser-preso-por-ser-gay-no-qatar-entenda-legislacao-do-
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 CAPÍTULO II
 O DESENVOLVIMENTO DO 
FUTEBOL DE MULHERES NO 
BRASIL: desafi os do passado, conquistas 
do presente e perspectivas para o futuro
Julia Barreira
Introdução
O desenvolvimento do futebol de mulheres tem atraído crescente aten-
ção da literatura científi ca e de profi ssionais que trabalham diretamente com 
os processos de ensino, treinamento e gestão do esporte (BARREIRA et al., 
2018). O aumento da participação e do desempenho esportivo revelam um 
processo de melhoria nos últimos anos. A prática ganhou visibilidade e que-
brou diversos recordes nacionalmente, como o público de mais de 40.000 
mil pessoas na fi nal do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino 2022, 
a transmissão em rede aberta dos jogos do Brasil na última edição da Copa 
do Mundo de Futebol Feminino e a profi ssionalização de atletas em diversosclubes brasileiros. Esses exemplos representam conquistas alcançadas a par-
tir da luta de jogadoras que resistiram frente à falta de suporte e apoio para 
sua permanência na modalidade. Mesmo com esses avanços, o processo de 
desenvolvimento ainda é marcado por desafi os e pela busca por uma maior 
equidade de gênero no esporte. Esse se torna um momento oportuno para 
refl etirmos sobre essa evolução histórica e as perspectivas em relação ao 
futebol de mulheres que desejamos para o futuro.
Caracterizado como um processo longitudinal de melhoria e imerso em 
aspectos sociais, políticos e econômicos, o desenvolvimento do esporte é 
comumente analisado pelo aumento da participação e do desempenho espor-
tivo (GREEN, 2005; SHILBURY; SOTIRIADOU; GREEN, 2008). Embora 
esses parâmetros possam ser utilizados na avaliação do processo, ainda mais 
em modalidades em que a participação de meninas e mulheres foi proibida por 
décadas, é importante que eles também sejam acompanhados por mudanças 
estruturais. Atualmente, o esporte ainda é considerado um espaço de domínio 
masculino uma vez que a remuneração, visibilidade e reconhecimento espor-
tivo são majoritariamente destinados aos homens. Nesse sentido, é necessário 
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que o processo de desenvolvimento vá além do desempenho e participação e 
que desafi e as estruturas desiguais de poder na sociedade e no esporte.
As organizações esportivas tem um importante papel dentro desse pro-
cesso por serem responsáveis pela proposta de estratégias e pelo ofereci-
mento de recursos para a prática esportiva (SOTIRIADOU; SHILBURY; 
QUICK, 2008). Entre essas organizações, podemos citar as federações e 
confederações esportivas responsáveis por promover a prática do futebol ao 
redor do mundo. Essas organizações compõe um sistema esportivo estrutu-
rado de forma hierárquica no qual as federações e confederações se encon-
tram no topo dessa estrutura e são responsáveis por iniciar ou moldar as 
estratégias de desenvolvimento, por isso também são chamadas de agentes 
do desenvolvimento do esporte (WEINBERG, 2012). Já os agentes em níveis 
mais baixos, como clubes e escolas, são responsáveis por implementá-las 
(SOTIRIADOU, 2009).
No caso do futebol, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) repre-
senta a entidade máxima responsável por organizar e promover o futebol 
ao redor do mundo. Registros mostram como a FIFA até a década de 1970 
desaconselhou que as associações nacionais estimulassem a prática do fute-
bol por meninas e mulheres (SILVA, 2015). Apoiada em discursos médicos, 
a FIFA recomendava que as praticantes não utilizassem os mesmos campos 
que os homens, limitando o acesso às instalações físicas e difi cultando a 
prática esportiva (ROCHA, 2019). Esses direcionamentos não impediram 
que as mulheres praticassem a modalidade de maneira informal, mas desen-
corajaram as ações por parte das confederações continentais e associações 
nacionais (SILVA, 2015). Embora, naquele momento, a FIFA não tivesse um 
poder político e econômico como atualmente, seu posicionamento fomentou 
o distanciamento das organizações esportivas e inviabilizou o fornecimento 
de recursos necessários para o seu desenvolvimento.
No caso específi co do Brasil, os discursos e as construções sociais foram 
reforçados por um decreto legal que proibiu ofi cialmente a prática do futebol 
por meninas e mulheres por mais de 30 anos durante o século passado (GOEL-
LNER, 2005). Mulheres, que praticaram o esporte durante esse período, desa-
fi avam não só as construções legais e sociais, mas também resistiam frente à 
falta de recursos e suportes para a sua permanência na modalidade. Durante 
esse período, elas não contavam com o apoio das organizações esportivas, 
com o oferecimento de competições, nem com a disponibilidade de espaços 
físicos para a prática. Esse cenário apresentou mudanças iniciais na década de 
1980 quando as entidades esportivas passam a aprovar a prática por meninas 
e mulheres, embora não dedicassem grandes esforços para fomentar o seu 
desenvolvimento (PFISTER, 2015).
A aproximação das organizações esportivas ocorreu principalmente 
depois da organização de campeonatos que atraír am o público aos estádios e 
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ESTUDOS DO FUTEBOL: temas emergentes e desafi os contemporâneos 29
revelaram o potencial fi nanceiro da prática esportiva. Por exemplo, empresá-
rios europeus realizaram a primeira Copa do Mundo de Futebol de Mulheres 
em 1970 na Itália. A competição contou com a participação de oito equipes 
e com a presença de 15 mil espectadores na partida fi nal (SILVA, 2015). 
A possibilidade comercial apresentada pela competição atraiu ainda mais a 
atenção dos empresários que organizaram sua segunda edição em 1971 no 
México utilizando a mesma estrutura física do mundial de homens realizado 
pela FIFA no ano anterior (SILVA, 2015). Os organizadores fi caram satisfeitos 
com a média de público de 80 mil pessoas por jogo e com o retorno fi nanceiro 
dessa segunda edição (SILVA, 2015).
O sucesso dos dois mundiais atraiu a atenção dos dirigentes da FIFA que
passaram a ter receio da força política e econômica do futebol de mulheres 
organizado em paralelo à própria entidade (ROCHA, 2019). Nesse momento, 
a FIFA passou a sinalizar uma mudança de posicionamento e a possibilidade 
de inserir o futebol praticado por meninas e mulheres em sua ofi cialidade 
(SILVA, 2015). Registros mostram que em 1971 a FIFA aconselhou que as 
associações nacionais se aproximassem do futebol de mulheres, mas que 
organizem a prática de forma similar ao futebol juvenil praticado por homens 
(ROCHA, 2019). Portanto, o reconhecimento inicial do futebol de mulheres 
pela FIFA não foi marcado pela preocupação com o desenvolvimento da 
modalidade, mas sim movido por interesses políticos e econômicos, e tratado 
de forma desvalorizada.
No Brasil, o futebol passou a ser regulamentado para meninas e mulheres 
em 1983 quando o Conselho Nacional de Desportos (CND) defi niu regras e 
possibilitou a criação de clubes e ligas esportivas (SILVA, 2015). Já a FIFA 
promoveu suas primeiras ações somente no início da década de 1990 depois 
de ter sido cobrada pela delegação norueguesa. Como resposta imediata a essa 
cobrança, a federação internacional organizou a primeira Copa do Mundo FIFA 
de Futebol de Mulheres em 1991 na China. Devido ao sucesso do evento, o 
torneio passou a ser realizado a cada quatros anos e novas competições foram 
organizadas para as categorias de base. Essas ações iniciais foram importan-
tes para movimentar as seleções de diferentes continentes e para estimular 
a criação de competições continentais e nacionais de futebol de mulheres 
(BARREIRA et al., 2020).
Mesmo com essas ações iniciais, o real compromisso da FIFA aconte-
ceu somente em 2004 quando a federação incorporou o futebol de mulheres 
como um dos pilares do seu desenvolvimento (FIFA, 2004). Essa mudança de 
posicionamento, motivada por interesses políticos e econômicos, repercutiu 
na organização do futebol mundial que passou a mobilizar agentes esporti-
vos. O programa FIFA se propôs a fornecer os recursos fundamentais para o
processo de desenvolvimento do esporte, como cursos de qualifi cação para 
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treinadoras, árbitras, médicas e diretoras, competições esportivas da iniciação 
ao alto rendimento, assim como espaços físicos para as praticantes (FIFA, 
2004; MADELLA; BAYLE; TOME, 2005). Para que essas ideias fossem 
disseminadas e fomentadas ao redor do mundo, a FIFA novamente contou 
com a estrutura hierárquica do futebol e com a sua força política e econô-
mica. A federação internacional disponibilizou fundos para as confederações 
continentais criarem seus próprios programas e políticas esportivas, e passou 
a avaliar as estruturas fornecidas para as meninase mulheres nos diferentes 
continentes e países do mundo.
Entre essas confederações continentais se encontra a Confederação 
Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) que tem realizado ações em res-
posta às exigências da FIFA (BARREIRA et al., 2020). Uma das principais 
ações da CONMEBOL foi a exigência, no seu licenciamento de clubes, 
de uma equipe de mulheres para que times masculinos pudessem disputar 
competições internacionais. Essa exigência infl uenciou diretamente a estru-
tura do futebol brasileiro e promoveu uma série de mudanças na prática da 
modalidade. Desde que foi proposta em 2016, a exigência tem mobilizado 
importantes ações em clubes tradicionais no futebol de homens e aumen-
tado a visibilidade do futebol de mulheres no país. Reconhecendo que essas 
políticas afi rmativas ainda estão sendo implementadas e que o esporte se 
encontra em um processo de consolidação, podemos refl etir sobre os avan-
ços promovidos por elas, os desafi os ainda enfrentados atualmente e as 
perspectivas para seu desenvolvimento futuro.
Desenvolvimento
Analisar o processo de desenvolvimento do esporte em dada sociedade 
e em determinado período de tempo é uma tarefa desafi adora. Além da con-
textualização histórica, social e econômica, é necessário defi nir aspectos a 
serem avaliados de forma longitudinal. Mesmo se fosse possível analisar 
esse processo pela evolução do número de praticantes e do seu desempenho 
esportivo, ainda assim correríamos o risco de fazer uma análise superfi cial sem 
levar em consideração os desafi os ainda enfrentados por meninas e mulheres 
na prática do futebol. Nesse sentido, aspectos que precedem essas variáveis 
e que revelam as inequidades ainda existentes no cenário brasileiro foram 
escolhidos para essa análise. Entre eles podem ser citados o oferecimento 
das competições esportivas e a regionalidade das equipes de alto rendimento, 
a profi ssionalização das atletas e a formação de mulheres líderes no esporte 
(BARREIRA et al., 2022). Desta forma, analisaremos a seguir as mudanças 
sofridas nesses aspectos ao longo dos últimos anos e os desafi os ainda enfren-
tados no desenvolvimento do futebol de mulheres no Brasil.
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ESTUDOS DO FUTEBOL: temas emergentes e desafi os contemporâneos 31
Competições
As competições esportivas representam um dos principais elementos 
para o desenvolvimento do esporte moderno. As competições agem como um 
critério de elegibilidade no avanço de atletas para níveis competitivos maiores, 
e também são fundamentais para promover e impulsionar a popularidade do 
esporte (SOTIRIADOU; SHILBURY; QUICK, 2008). No caso do futebol de 
mulheres no Brasil, a Figura 1 apresenta a quantidade de competições espor-
tivas ao longo dos últimos 30 anos. Notamos que o esporte apresenta dois 
momentos principais de desenvolvimento. O primeiro é caracterizado pelo 
período entre 2006 e 2008 que foi infl uenciado pelos bons desempenhos da 
seleção brasileira em competições internacionais. As jogadoras conquistaram 
a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2004 em Atenas e de 2008 em 
Pequim. As medalhas de ouro fi caram com a seleção dos Estados Unidos, 
maior campeã da modalidade. Durante esse ciclo olímpico, a seleção também 
conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan Americanos do Rio de Janeiro 
em 2007. Por fi m, esse período foi marcado pelo fato inédito da jogadora 
de futebol da seleção brasileira Marta ganhar o título de melhor do mundo 
por cinco anos consecutivos (2006-2011). Embora o sucesso internacional 
não necessariamente se traduza em um aumento da participação esportiva 
(GRIX; CARMICHAEL, 2012), essas conquistas foram divulgadas pelo país 
e geraram esperança para crianças e adolescentes que até então não viam no 
futebol uma possibilidade profi ssional.
Figura 1 – Quantidade de campeonatos de futebol 
de mulheres no Brasil ao longo dos anos
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O segundo momento de crescimento acontece a partir de 2016 em função 
das novas exigências da CONMEBOL. À medida que clubes tradicionais 
passaram a oferecer o futebol para meninas e mulheres, novas competições 
foram criadas para atender as expectativas dessas equipes. Se no passado a 
competição nacional contava apenas com 20 participantes, atualmente as 64 
equipes são distribuídas nas séries A1, A2 e A3 do Campeonato Brasileiro de 
Futebol Feminino. Além disso, durante esse período, também foram criados 
os campeonatos nacionais para as categorias de base, como a Sub 20 e Sub 
17. Essas ações foram importantes para fomentar não só a estruturação das 
equipes principais, mas também a formação de atletas em longo prazo.
Embora esse apoio às categorias de base seja necessário, ele ainda não 
é a realidade em diversos clubes e estados brasileiros. São poucos os esta-
dos, como São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, que organizam competi-
ções esportivas para atletas em formação. Os outros estados ainda enfrentam 
difi culdades para consolidar seus campeonatos. A regionalização também 
é um desafi o na categoria principal. Por exemplo, a Figura 2 apresenta a 
quantidade de equipes participantes do Campeonato Brasileiro de Futebol 
Feminino no ano de 2013 (em sua primeira edição) e em 2022 (momento de 
escrita desse texto) em função das regiões do país. Notamos que na primeira 
edição do campeonato havia uma maior descentralização do esporte com 
equipes representantes de todas as regiões do país e um maior protagonismo 
daquelas localizadas na região nordeste e sudeste do Brasil. Entretanto, ao 
analisar o cenário atual notamos que o processo de desenvolvimento parece 
estar concentrado na região Sudeste do país.
Figura 2 – Participação de times no Campeonato Brasileiro de 
Futebol Feminino de acordo com as diferentes regiões do país
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Além da participação, o desempenho esportivo também está concen-
trado nessa região. De acordo com o ranking divulgado pela Confederação 
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ESTUDOS DO FUTEBOL: temas emergentes e desafi os contemporâneos 33
Brasileira de Futebol no ano de 2021, das equipes que se encontram entre 
as 10 primeiras colocações, metade delas estão localizadas no estado de São 
Paulo, como o Corinthians, Ferroviária, Santos, São José e São Paulo (CBF, 
2022). O desempenho dessas equipes, em grande parte, pode ser explicado 
pelo maior suporte fi nanceiro que recebem. Seja pela parceria com prefeituras 
municipais ou pelo apoio do próprio clube, os recursos fi nanceiros possibilitam 
a profi ssionalização, e consequentemente, a dedicação integral das atletas, 
melhor estrutura para o treinamento e a consolidação de uma comissão técnica 
que ofereça um acompanhamento multidisciplinar às jogadoras. Nesse cenário 
de crescente investimento fi nanceiro na região Sudeste, equipes tradicionais 
no esporte foram perdendo seu protagonismo e passaram a estabelecer novas 
estratégias para se manterem competitivas. Entre essas estratégias se encontra 
o maior investimento na iniciação e na promoção do esporte para as categorias 
de base na busca por formar atletas e evitar as elevadas transações fi nanceiras 
na categoria principal.
Profi ssionalização
Mesmo com os desafi os ainda enfrentados em relação ao oferecimento 
das competições, o aumento dos campeonatos e o estabelecimento de um 
calendário anual foram fundamentais para manterem as atletas ativas no 
esporte e viabilizar a sua profi ssionalização. Esses movimentos ganharam 
força principalmente a partir da exigência de equipes de mulheres para licen-
ciamento de clube da CONMEBOL no ano de 2016. As primeiras ações foram 
destinadas a pequenos grupos de mulheres,como o caso da Ferroviária ao 
anunciar a carteira assinada para apenas seis jogadoras do elenco (ESPN, 
2017). Entretanto, a profi ssionalização ganhou força ao longo do tempo e mais 
atletas foram incluídas nesse processo. Atualmente, equipes protagonistas no 
cenário brasileiro como Ferroviária e Corinthians garantem a carteira assinada 
para todas suas atletas do elenco principal.
Embora esse seja um cenário positivo e importante para o desenvol-
vimento do esporte no país, também é necessário reconhecer os desafi os 
enfrentados nesse processo. De acordo com a reportagem de Catharina Obeid 
e Gonçalo Junior, entre os 52 clubes que disputam o Campeonato Brasileiro 
Feminino (considerando suas três categorias), apenas 10% deles assinam a 
carteira das atletas. Portanto, identifi camos que a profi ssionalização ainda 
está em um processo de consolidação uma vez que nem todas as jogadoras 
têm direito à carteira assinada. Além da regularização do salário e garantia 
de férias, seguro desemprego e INSS, atletas que estabelecem seu vínculo 
com base em contratos formais não correm o risco de serem afastadas e de 
encontrarem difi culdades de retorno ao esporte após o período de lesão.
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A remuneração das atletas também representa um aspecto alarmante 
uma vez que o salário médio do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino 
é de R$2.000,00. Esse valor deve ser interpretado com cautela uma vez que 
dentro dele também se encontram atletas que recebem mais de R$50.000,00 
por mês e aquelas que recebem apenas uma ajuda de custo para se manterem 
ativas no esporte. Portanto, essa média mascara os valores extremos que são 
preocupantes quando pensamos em um processo de desenvolvimento.
Estudiosas do futebol de mulheres reforçam que a profi ssionalização é 
um elemento chave a ser aprimorado para promover o desenvolvimento do 
esporte (SKOGVANG, 2019). As ligas semiprofi ssionais comprometem a 
dedicação, treinamento e desenvolvimento das jogadoras que, por sua vez, 
apresentam desempenho prejudicado. Esse, muitas vezes, é utilizado como 
justifi cativa para a baixa visibilidade e investimento no esporte. Com atletas 
profi ssionais e o oferecimento de uma melhor estrutura de treinamento, a 
qualidade do jogo poderia melhorar e benefi ciar diversos atores do sistema 
esportivo (BOTELHO; AGERGAARD, 2011).
Mulheres em cargos de liderança
Embora as possibilidades para ingressarem e se desenvolverem dentro do 
futebol tenham aumentado ao longo dos últimos anos (ainda que enfrentem 
desafi os e difi culdades), muitas meninas e mulheres ainda não identifi cam na 
modalidade a possibilidade de uma carreira para além de jogadora. É impor-
tante lembrar que o futebol representa um amplo sistema orgânico e que sua 
sustentabilidade depende da interação bem-sucedida entre diferentes agentes. 
Profi ssionais de comissão técnica, profi ssionais de comissão de arbitragem, 
jornalistas, gestores e gestoras, e entre muitos outros, representam alguns 
desses agentes que atuam e promovem o esporte. Entretanto, a literatura 
científi ca indica que as mulheres ainda são marginalizadas, discriminadas e 
desvalorizadas nessas posições de liderança no esporte (BARREIRA, 2021; 
NORMAN, 2010; SARTORE; CUNNINGHAM, 2007).
Entre esses cargos de liderança vale destacar o de treinadora em que há 
um desequilíbrio signifi cativo de gênero devido à sua visibilidade e ao seu 
protagonismo (HARGREAVES, 2002). No Brasil, por exemplo, o estudo de 
Passero et al. (2020) investigou a participação de mulheres como treinadoras 
ao longo do tempo no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. As autoras 
mostraram que, embora sua participação tenha aumentado lentamente ao longo 
dos anos, as mulheres ainda representam menos de 20% desses profi ssionais. 
Essa sub-representação é agravada pela constante necessidade de se provar 
e atestar sua competência para ocupar esse espaço (NOVAIS et al., 2021). O 
estudo de Novais et al. (2021) mostrou que treinadoras brasileiras relatam a 
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ESTUDOS DO FUTEBOL: temas emergentes e desafi os contemporâneos 35
constante busca por qualifi cação e experiências formativas que desenvolvam 
suas competências profi ssionais para se manterem e progredirem na profi s-
são. A carreira das profi ssionais é marcada pela transposição de barreiras e 
superação de desafi os.
Entre esses desafi os se encontra a participação em cursos de formação. 
Recentemente, Guimarães et al. (2022) analisaram as experiências de treinado-
ras que participaram das Licenças da CBF Academy. As autoras mostram que, 
além do ambiente ser majoritariamente ocupado por homens, as poucas trei-
nadoras que ocupam esse espaço relatam serem recebidas com desconfi ança. 
Além de uma linguagem direcionada aos treinadores e de piadas sexistas, elas 
relatam se policiar em relação às perguntas e aos comentários para atestarem 
seu conhecimento. Esse cenário reforça que a trajetória como treinadora é 
marcada por diversas barreiras sociais e organizacionais.
Além da sub-representação como treinadoras, estudos nacionais também 
mostram a baixa participação de mulheres como gestoras no futebol. Por 
exemplo, ao analisar 60 cargos de gestão ou diretoria em clubes de futebol 
das séries A, B e C, Torga (2019) revelou uma sub-representação das mulheres 
ao encontrar apenas cinco gestoras nesse contexto. Esse cenário é alarmante 
uma vez que a manutenção dos homens nos cargos de liderança assegura que 
as tomadas de decisão também sejam realizadas em prol dos seus interesses. 
A presença de mulheres nessas posições de poder é fundamental para que as 
estratégias e as políticas de desenvolvimento também levem em considera-
ção os desafi os enfrentados por meninas, mulheres e demais grupos que se 
benefi ciariam de ações específi cas de fomento à prática esportiva.
Além das difi culdades apresentadas acima, é importante lembrar que os 
obstáculos enfrentados nessa trajetória são ainda maiores quando levamos em 
consideração marcadores de raça, classe social, sexualidade e regionalidade 
(BARREIRA, 2021). As discussões e refl exões sobre a interseccionalidade 
reforçam que o caminho dentro do esporte não é linear e único seguido por 
todas as mulheres. As mulheres percorrem diferentes jornadas de liderança 
de acordo com seus diferentes pontos de partida nessa trajetória profi ssional 
(KARK; EAGLY, 2014). Portanto, democratizar o acesso ao futebol signi-
fi ca ampliar a sua pluralidade e fomentar políticas públicas e esportivas que 
alcancem grupos que historicamente enfrentam difi culdades para iniciar e se 
manter dentro do ambiente esportivo.
O futuro do futebol de mulheres
O cenário apresentado anteriormente mostra como meninas e mulheres 
tem conquistado gradualmente um maior espaço e participação dentro do fute-
bol. Os diversos recordes quebrados nos últimos anos e a maior visibilidade 
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dada pela mídia apresentam um cenário positivo em relação ao desenvol-
vimento da modalidade. Entretanto, também é necessário refl etirmos sobre 
os diversos desafi os ainda enfrentados para a promoção de um futebol mais 
plural que realmente desafi e as estruturas de poder e os estereótipos de gênero. 
Mais do que reproduzir a estrutura dos homens, podemos desenvolver um 
esporte mais inclusivo, diverso e equalitário. Portanto, esse se torna um impor-
tante momento para pensarmos sobre o futebol de mulheres que desejamos 
para o futuro.
Em primeiro lugar, podemos refl etir sobre as jogadoras que desejamos 
formar. Com o aumento da visibilidade do esporte, as atletas se tornam mode-
los que inspiram as futuras gerações. Seu sucesso se torna uma referência e 
reforça a possibilidade de uma trajetória profi ssional por muitas outras jogado-
ras. Mas, além do seu protagonismo em campo, suas relações

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