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Matéria: Educação e Diversidade. Assunto: Temas 1 ao 8. Curso de Pedagogia Licenciatura – 1º Período Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 2 de 64 Atualmente, a escola brasileira vem sendo objeto de uma discussão motivada pela situação difícil em que a instituição se encontra. Diversas razões são citadas para explicar essa situação, dentre elas a falta de verbas e o desinteresse das autoridades governamentais em proporcionar uma educação de qualidade à população. Uma das discussões de grande importância, que é pouco debatida, trata do multiculturalismo existente na educação brasileira, reflexo de uma sociedade também multicultural. A ideia principal sobre o multiculturalismo na educação seria assumir que hoje a escola é um veículo de padronização de ideias, costumes e valores, e que deveria ter outra função - a de ser libertária. A autora Vera Maria Candau cita que o multiculturalismo deve estar mais presente nas escolas, para justamente fazer com que o caráter homogeneizador da educação não ocorra: Hoje esta consciência do caráter homogeneizador e monocultural da escola é cada vez mais forte, assim como a consciência da necessidade de romper com esta e construir práticas educativas em que a questão da diferença e do multiculturalismo se faça cada vez mais presente. (CANDAU, 2008, p. 15) Para a autora citada, a educação deve levar em conta o multiculturalismo na construção da prática educativa. A questão multiculturalista contribui com elementos para se superar a crise pela qual passa a educação brasileira, já que esta deixará de padronizar o ensino e os alunos para se tornar uma escola que atenta nas diferenças e que leva em consideração a multiplicidade de costumes e práticas. Para que o multiculturalismo possa realmente fazer parte da noção de educação no Brasil, ele deve ser estudado e discutido nos cursos de formação de professores, para que estes adquiram ferramentas para lidar com esta questão na sala de aula. Segundo Candau, só recentemente questões sobre o multiculturalismo têm sido objeto de estudo de educadores em cursos de formação, e mesmo assim de modo pouco aprofundado e sistemático. Ações que visam preparar o educador para lidar com o multiculturalismo têm sido basicamente derivadas de atitudes pontuais de alguns profissionais, que acreditam que este debate é de grande importância na formação de professores (CANDAU, 2008, p. 19). A questão da formação de professores para lidar com o multiculturalismo mostra-se mais necessária a partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 3 de 64 Nacionais (PCN), em 1997. Como documento oficial elaborado pelo Ministério da Educação, seu texto traz um conjunto de propostas para o currículo das diversas disciplinas brasileiras. A necessidade de se padronizar o ensino nacional em busca de melhor qualificação deste foi a mola propulsora da criação dos PCN. Em seu texto, a preocupação com a pluralidade cultural é clara quando cita que a população brasileira possui uma composição bastante heterogênea, ocorrendo, por isso, a formação de diversos estereótipos sobre os grupos existentes dentro da sociedade brasileira, considerados diferentes de outros grupos. Podemos citar, a título de exemplo, estereótipos criados sobre grupos considerados minoritários - negros, homossexuais, indígenas, entre outros (PCN, 1997, v. 10, p. 20). Outros aspectos abordados pelos PCN são o preconceito e a discriminação racial ou étnica. Citados como temas difíceis de serem tratados pela sociedade, sempre foram trabalhados no contexto escolar sob a forma de “mitos”, que não buscavam discutir esses problemas de maneira eficiente. Abordar o preconceito e a discriminação sob a forma de mito significa deixar a discussão de lado, ao assumir que o Brasil seria um país no qual ocorre uma “democracia racial”. Vive-se numa realidade na qual a simples menção da palavra discriminação assusta, uma vez que se convencionou aceitar sem discussões a ideia de que no Brasil todos se entendem e são cordiais e pacíficos (o “mito da democracia racial”). (PCN, 1997, v 10, p. 41) O trecho a seguir demonstra a importância do debate sobre o pluralismo cultural, ou multiculturalismo: A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. (PCN, 1997, v 10, p. 19) A multiculturalidade na escola - propostas Vera Maria Candau discute algumas propostas para se trabalhar a questão do multiculturalismo na sala de aula, com o objetivo de identificar as diferenças, assumi-las e expô-las como parte integrante do processo ensino-aprendizagem. A diferença é fundamental e básica no contexto educativo, e necessita ser valorizada. Assim, alguns elementos são discutidos pela autora, para que o multiculturalismo possa de fato ser incorporado na prática pedagógica. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 4 de 64 O primeiro elemento é a criação de “espaços que favoreçam a tomada de consciência da construção de nossa própria identidade cultural, no plano pessoal [...]” (CANDAU, 2008, p. 25). A autora confere grande importância à valorização da identidade cultural. Para que isto aconteça, é necessário que cada um realize uma análise pessoal de sua própria identidade, buscando seus referenciais e seus pertencimentos culturais. Ter consciência destes pertencimentos é fundamental, já que é uma atitude que poucas pessoas realizam. Na grande maioria dos casos, os indivíduos tendem a desenvolver uma atitude homogeneizada de si mesmos, estereotipando sua identidade cultural. Poucos procedem a um exame cuidadoso dos vários aspectos que envolvem sua identidade, o que contribui para um grande enriquecimento pessoal. Professores que têm consciência das várias facetas de sua identidade cultural seriam mais preparados para lidar com o tema em sala de aula, provocando debates e discussões e valorizando as diversas características culturais de grupos ou pessoas. Outra proposta de Vera Candau é identificar práticas que têm por objetivo selecionar alguns aspectos culturais em detrimento de outros, pois essas práticas consistem em não reconhecer as diferenças culturais ou não evidenciá-las em sala de aula. É selecionar algum aspecto cultural, geralmente relacionado aos grupos dominantes, e não abordar aspectos culturais de grupos minoritários. É, como cita a autora, criar uma espécie de “daltonismo cultural”, em que algumas cores seriam observadas, apreciadas e discutidas, enquanto outras não seriam levadas em conta (CANDAU, 2008, p. 27). Simula-se uma abrangência grande de diversos aspectos culturais, quando na verdade pouco ou poucos aspectos são abordados. Algumas explicações podem ser dadas para que a escola trate de poucos aspectos culturais: [...] a dificuldade e a falta de preparo para lidar com essas questões, o considerar que a maneira mais adequada de agir é centrar-se no grupo “padrão”, ou, em outros casos, por, convivendo com a multiculturalidade quotidianamente em diversos âmbitos, tender a naturalizá-la [...].(CANDAU, 2008, p. 28) Outro ponto problematizado por Candau refere-se à questão do “outro”. Este outro é pensado aqui como sendo o diferente, o que se opõe ao grupo identitário ao qual considero que faço parte. O “outro” tem atitudes, pensamentos, valores, idéias, em resumo, maneiras de ser no mundo que entram em conflito com a minha maneira de ser no mundo. Assim, o “outro” é visto como meu oposto, o diferente de mim. Este reconhecimento acerca do outro é essencial na dinâmica das relações sociais, pois nelas ocorre uma interação e um relacionamento com este outro, criando e consolidando papéis sociais. Para os estudos culturais e filosóficos, a alteridade significa essa relação como o outro. Na educação, essa visão se manifesta quando, por exemplo, atribui-se o fracasso escolar “a características sociais ou étnicas dos/as alunos/as” (CANDAU, Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 5 de 64 2008, p. 30). É necessário desconstruir as ideias que se possui sobre os “outros”, para que estes possam ser compreendidos e celebrados em sua diferença. O diferente é alvo de discriminação, mesmo no contexto educacional, e cabe ao educador promover um processo de compreensão do diferente, favorecendo o estabelecimento de relações culturais positivas. Uma maneira de o educador trabalhar a compreensão sobre o “outro” é realizar exercícios nos quais os indivíduos se coloquem no lugar deste outro. Um exemplo seria propor aos alunos atividades em que utilizassem uma venda nos olhos, para proporcionar aos educandos uma vivência no lugar de pessoas com deficiências visuais. Outro exemplo seria abordar a questão da discriminação econômica em sala de aula, propondo situações em que se discutam as reações de pessoas de grupos sociais economicamente privilegiados frente a pessoas de grupos sociais não privilegiados. Situações do dia a dia, que evidenciem a diferença de tratamento que as pessoas de ambos os grupos recebem. Estas atividades contribuem para que o “outro” seja identificado e conhecido, aceito e assimilado como “nós”. Finalmente, Candau descreve a incorporação do multiculturalismo na prática pedagógica. A autora parte da noção básica de que as práticas pedagógicas são processos de negociação cultural, ou seja, são resultados de relacionamentos entre os diversos grupos sociais com suas características culturais próprias, tendo como resultado um produto cultural unificado. Assim, ela discute a universalidade do conhecimento presente na organização escolar. Os assuntos que os alunos estudam são um conjunto de conceitos e fatos que adquiriram “legitimidade social e se transformaram em verdades inquestionáveis” (CANDAU, 2008, p. 33). A educação tende a universalizar e padronizar o conhecimento, sendo este considerado sempre correto, nunca questionável. A noção multicultural vai contra essa visão, pois considera que nenhum conhecimento é universal, já que o conhecimento é selecionado e construído de acordo com os contextos sociais. Por que ensinar um conhecimento e não outro? Por que privilegiar o estudo da história dos Estados Unidos da América em detrimento do estudo da República Popular da China? Os conhecimentos são selecionados por motivos históricos e sociais, que muitas vezes representam os desejos de grupos sociais considerados importantes. É necessário, portanto, estabelecer currículos que abordem diversos referenciais culturais, contribuindo, assim, para que a noção de multiculturalismo esteja presente na sala de aula. Outro ponto abordado pela autora refere-se à visão de que a escola é concebida como um espaço de crítica e produção cultural: “Nessa perspectiva, a escola é concebida como um centro cultural em que diferentes linguagens e expressões culturais estão presentes e são produzidas” (CANDAU, 2008, p. 34). A escola deve refletir a sociedade, que está em constante mudança cultural. A escola precisa Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 6 de 64 compreender o jovem, cuja mentalidade é indecifrável para a maioria dos professores e demais atores relacionados ao processo educativo. O aluno deve ser entendido enquanto ator social, que traz uma bagagem histórica e cultural que deve ser valorizada e compartilhada com os demais alunos e professores. Assim, a escola pode acompanhar as mudanças culturais que ocorrem a passos largos na sociedade brasileira. Mais do que adquirir e equipar as escolas com recursos tecnológicos é necessário também que os alunos passem por “experiências de produção cultural e de ampliação do horizonte cultural [...], aproveitando os recursos disponíveis na comunidade escolar e na sociedade” (CANDAU, 2008, p. 35). Como dito inicialmente, a perspectiva multicultural é ainda muito pouco trabalhada nos cursos de formação inicial ou continuada de professores, assim como também pouco trabalhada nas escolas brasileiras. Mas, trabalhar as questões relativas ao cotidiano escolar e às culturas é condição básica para que a escola se torne aquilo que deve realmente ser, um local especial, onde os educandos possam construir novas mentalidades e identidades. Dessa forma, estes atores sociais poderão construir novas respostas aos desafios constantes enfrentados pela sociedade. Identidade: segundo o dicionário Houaiss, identidade é definida como: “O que faz que uma coisa seja da mesma natureza que outra; conjunto de características e circunstâncias que distinguem uma pessoa ou uma coisa e graças às quais é possível individualizá-la; consciência da persistência da própria personalidade; [...]”. (IDENTIDADE, 2012) Multiculturalismo: de acordo com Vera Candau, o multiculturalismo possui diversas definições, mas a autora elege a perspectiva interacionista como sua referência teórica. Assim, multiculturalismo seria uma relação entre os diferentes grupos culturais, sendo que nesse processo os grupos se construiriam e se reconstruíram. Preconceito: segundo o dicionário Michaelis online. “1 Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. 2 Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. 3 Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles se pratiquem. 4 Sociol Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 7 de 64 P. de classe: atitudes discriminatórias incondicionadas contra pessoas de outra classe social. P. racial: manifestação hostil ou desprezo contra indivíduos ou povos de outras raças. P. religioso: intolerância manifesta contra indivíduos ou grupos que seguem outras religiões”. (PRECONCEITO, 2009) Por meio de reflexões acerca das condições de vida das minorias sociais e da maneira como estas são vistas e tratadas nas relações sociais, é possível observar a importância da discussão dentro do espaço escolar e a introdução, no currículo, de questões para debate nesse sentido. Alguns temas em destaque, que estão diretamente relacionados com a vida em sociedade, dizem respeito à cidadania, à pluralidade, à identidade, à cultura, ao preconceito e à discriminação. Enfim, existe um grande número de questões a serem discutidas que colaboram para a construção do sujeito enquanto ser humano. O princípio que deve permear esse estudo e o debate é o olhar e a escuta críticos. Deve-se procurar despertardentro de cada um a capacidade de enxergar além, ou seja, buscar o viés, o que está por trás do que se vê, do que se lê e do que se ouve no nosso cotidiano, ao nosso redor. Deve-se procurar compreender o que está por trás de determinada afirmação, desvendar o conteúdo ideológico de um discurso. Esse exercício promoverá a busca do esclarecimento, da retirada do véu que muitas vezes não permite que se enxergue a realidade com nitidez. Uma ferramenta interessante para facilitar a compreensão das relações de poder e da dominação é a análise do discurso, que estuda a linguagem no contexto de sua produção, os significados que foram firmados considerando o discurso como o meio no qual se dão as relações de poder entre os interlocutores, entendendo a linguagem como instrumento social de dominação. A dominação se materializa por meio de relações de poder estruturadas em um sistema assimétrico, que confere poder permanente a um determinado grupo, impedindo aos demais o acesso ao poder e tendo como consequência a exclusão social. A sociedade contemporânea ocidental afirma que “todos são iguais perante à lei” e que os direitos são “universais” e “acessíveis” aos cidadãos e, ao mesmo tempo, discrimina e promove a exclusão dos cidadãos tanto da esfera pública (participação nas decisões) quanto da civil (exercer seus direitos individuais e fazer suas escolhas). Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 8 de 64 Os sistemas de desigualdade e de exclusão que nos envolvem no dia a dia são resultados de uma teia de poder, de grupos hegemônicos, que constroem e impõem linguagens, ideologias e crenças que implicam a rejeição, a marginalização ou o silenciamento de tudo que se lhes oponha. Eliminar ou ofuscar o caráter sócio-histórico de fatos ou processos retira a importância destes, já que os considera ocorrências naturais. A discriminação, o antagonismo entre grupos ou a divisão social do trabalho passam a ser aceitas como algo natural ou normal, que não precisam ser alteradas. A esse processo de aceitação dá-se o nome de naturalização. Conquistas e lutas sociais passam a ser vistas como algo do passado, a ser lembrado, porém sem relevância, como se a sociedade não fosse fruto de um processo histórico. Assim, desvinculam-se os direitos humanos da luta que foi travada ao longo dos séculos para a sua conquista, e deixam-se de lado, banalizam- se, esses direitos. É no espaço escolar que se encontra um ambiente adequado para se discutir e conhecer a história da conquista e das lutas atuais por direitos. Não se deve esquecer da importância dessas conquistas e também da manutenção desses direitos. Sabe-se que desde a Revolução Francesa, já influenciada pelas revoluções anteriores e pelas ideias iluministas, busca-se a construção desses direitos como elementos inerentes ao ser humano, devendo ser respeitados em todo o planeta. A evolução histórica desses direitos deve ser conhecida, desde a conquista dos direitos civis, passando pelos direitos sociais, ambientais, até chegar aos direitos mais contemporâneos, ligados à discussão da genética, da bioética e dos interesses coletivos de preservação do planeta. Fala-se em geração de direitos quando se quer fazer referência às várias conquistas de direitos do ser humano a partir do século XVII. A cidadania se realiza na vida concreta, cotidiana, na dinâmica das relações sociais. Para ser possível que diferentes grupos vivam (e convivam), o homem tem lutado por condições justas e dignas de coexistência. A partir dessas lutas e desses conflitos sociais, vêm-se estabelecendo coletivamente essas condições na forma de direitos. Essas conquistas têm sido expressas em declarações, acordos, constituições, estatutos, entre outros registros. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um dos documentos básicos das Nações Unidas e foi assinada em 1948. A partir dela, tem-se a base dos principais direitos humanos reconhecidos. Nela, são enumerados os direitos que todos os seres humanos possuem, servindo como guia instrumental na educação para os direitos. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 9 de 64 A DUDH corresponde a um ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. (ONU, 2009, p. 4). Para que efetivamente se tornem realidade o reconhecimento dos valores básicos para a vida e o respeito à dignidade humana, é necessário que o espaço escolar passe a ser um local não só de discussão, mas também de exercício e vivência do respeito às diferenças individuais e grupais. E, assim, além de introduzir a disciplina de direitos humanos e trabalhar seu conteúdo na grade curricular, é imprescindível que se possibilite o crescimento do indivíduo como ser humano pleno. Conhecer direitos e deveres é essencial na formação do indivíduo, e a própria educação surge como um direito humano fundamental para a tomada de consciência e o exercício da cidadania. Entretanto, há necessidade de se ir além do que está escrito e consolidado nas normas e leis para passar para a prática, trazendo para a realidade - ou seja, para o cotidiano escolar - a experiência e a troca de informação. Daí surge a necessidade da formação do docente para incutir essa concepção de direitos humanos como algo inerente ao cotidiano de cada um, que extrapole os ditames legais escritos nas normas e regulamentos. É necessário que se entenda que o conteúdo não se limita a ser interdisciplinar ou transversal. Ele deve ultrapassar essa fronteira, devendo fazer parte de todo o processo educativo. Ou seja, os direitos humanos são algo concreto e imprescindível não meramente como uma disciplina constante do programa de ensino, mas como um instrumento que serve à prática voltada a uma educação que liberta e questiona. Vale lembrar que a discussão sobre esses direitos vai desembocar num trabalho de conhecimento de nossa legislação maior: a Constituição Brasileira. Dentro dela se veem explicitados e reconhecidos os direitos humanos, principalmente nos artigos 5° ao 15, razão pela qual todos devem saber o que nela está escrito, tendo familiaridade com essa legislação, através do uso diário. A importância da construção de identidades políticas para enfrentar a problemática do silenciamento, por meio da participação política, nos leva a acreditar que o espaço da escola colabora nesse processo: a construção da identidade coletiva (manter vínculos de pertencimento a grupos sociais e se integrar em redes de comunicação com outros grupos para não agir isoladamente), e para compreender a lógica da desigualdade e da diferença (identificar como a ideologia Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 10 de 64 opera na sociedade e lutar contra a opressão) e delimitar as fronteiras políticas (distinguir os interesses dos diversos grupos políticos e entender quem são os grupos que provocam a opressão na sociedade). A sociedade contemporânea divide as pessoas em categorias e atribuições sociais (divisãosocial do trabalho), a partir disso, estabelece as bases dos preconceitos e da discriminação. A partir do entendimento de que a pessoa é um sujeito psicossocial, que se constitui na interação com o outro, abre-se a perspectiva de que ele é capaz de produzir discurso e não apenas ser um receptor passivo do discurso alheio, passando a estabelecer uma relação mais equilibrada de poder. A ocupação do espaço escolar como local de exercício da crítica e ao mesmo tempo da tolerância serve como fortalecedor da prática democrática e da necessidade de se dar vez e voz para a formação de atores políticos que serão os cidadãos que não silenciarão diante das desigualdades sociais. Análise do discurso: são estudos interdisciplinares, especialmente com a Linguística e as Ciências Sociais, que fornecem estrutura para compreender como a ideologia está inserida nas relações hierárquicas de poder e entender como se reproduz a opressão por meio do discurso. Silenciamento: utilizar de mecanismos e estratégias para impedir que as pessoas se manifestem e tenham seus pontos de vista respeitados. Sujeito psicossocial: é reconhecer que a identidade de uma pessoa não se baseia apenas em suas características individuais, mas se forma a partir de complexas interações nos grupos sociais das sociedades hierarquizadas, que produzem inferiorizações simbólicas e materiais. Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 11 de 64 diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. (SANTOS, 2003, p. 56) Este tema se inicia com uma discussão relacionada à questão da educação e da diversidade: a trilha dos caminhos do “arco-íris de culturas” do conhecimento nos diversos ambientes da instituição escolar. Você já parou para observar um arco-íris? Conseguiu distinguir todas as suas cores? Consegue compreender por que milhões de gotículas em movimento produzem uma imagem sem movimento? Na realidade, um arco-íris é resultado da luz branca do sol interceptada por uma gota d’água da atmosfera. Parte dessa luz é retratada para dentro da gota, refletida no interior e novamente retratada para fora da gota. Dessa forma, a luz branca se transforma em um arco-íris composto pelas seguintes cores: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. Fisicamente o arco-íris não existe, sendo, na realidade, uma ilusão de óptica cuja posição aparente depende da posição de quem o observa. Traduzindo: você pode observar que as gotas de chuva refletem a luz do sol da mesma forma, mas somente a luz de algumas delas chega ao olho do observador em várias cores. Historicamente as cores do arco-íris foram usadas como símbolo da paz e da união entre os povos. No sentido bíblico, representou a aliança de Deus com os homens, na Idade Moderna foi símbolo da paz ao final da Guerra dos Camponeses da Alemanha no século XVI, representou ainda a filosofia da paz e do amor do movimento hippie da década de 1970 e a luta pela diversidade dos movimentos sociais minoritários. A partir dessas representações e nesse mosaico das cores, você será levado a atravessar um arco-íris de culturas presentes nas pedagogias culturais, na produção de identidades refratadas nos ambientes educacionais. Boaventura Souza Santos (2005), por analogia, corrobora os paradigmas do multiculturalismo para que se compreenda a diversidade cultural quando afirma que os estudos culturais são uma nova forma de analisar os processos de globalização, fazendo uma comparação entre os graves problemas de pluralidade cultural e um “arco-íris de culturas”. Nesse sentido, para o autor, algumas pessoas olham para conjunto de cores de um arco-íris sem serem capazes de discernir as tonalidades das cores. Dizendo em outras palavras, é possível afirmar que algumas pessoas possuem a capacidade reduzida para identificar os graves problemas culturais (as cores) relacionados à educação e à diversidade. Ainda que o mundo represente um mosaico de cores, a educação escolarizada ainda continua sendo construída em preto e branco, razão pela qual os educandos têm sido levados à mesmice, fossilizando comportamentos, criatividades, e vetando sentidos pedagógicos do arco-íris das diversas culturas presentes nos ambientes educacionais. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 12 de 64 A pedagogia das cores da educação para diversidade corresponde a uma forma alternativa de estimular os seus sentidos, sensibilizando seu olhar para a escola das cores do arco-íris presente nas pedagogias culturais na construção de identidades. Para desvelar sua compreensão, você precisa aprender a reconhecer as cores que interagem em nosso cotidiano quando relacionadas às questões temáticas da educação para diversidade: responsabilidade dos professores na promoção dos direitos humanos e da cidadania; o respeito ás diferenças culturais; os conflitos em valores pessoais e o respeito ás diversidades e o combate à discriminação e ao preconceito. Temos a convicção de que a escola não pode tudo, mas o pouco que ela pode deve contribuir para dar sentido aos diálogos interculturais que dão significado às questões aqui discutidas. As orientações presentes aqui trazem informações que vão levar você a desenvolver estudos e pesquisas de ações que vão lhe ajudar a compreender a necessidade de educação para diversidade cultural. Isso é dado em razão de os estudos culturais voltados para a área de educação e diversidade estarem presentes em diferentes dimensões da organização didática e pedagógica da instituição escolar como: projeto político-pedagógico, concepções curriculares, função social da escola, entre outros. A compreensão das relações existentes entre educação e diversidade numa sociedade multicultural como a brasileira depende de reflexões epistemológicas que mostram como os espaços de ensino e aprendizagem da instituição escolar inserem- se nos contextos das inquietações sociopolíticas da educação para a diversidade. O Arco-íris Cultural na Educação para Diversidade Como educação escolar é campo híbrido dos estudos culturais, é interessante recorrer ao conhecimento produzido por Vera Maria Candau (2010) para demonstrar a você porque parece consensual a necessidade de se reinventar a educação escolar em tempos de aprendizagens significativas voltadas para os contextos sociopolíticos e culturais das inquietações de hoje, as quais envolvem homens e mulheres como partes diversificadas de um arco-íris de culturas. Parto da afirmação de que não há educação que não esteja imersa nos processos culturais do contexto em que se situa. Neste sentido, não é possível conceber uma experiência pedagógica “desculturizada”, isto é, desvinculada totalmente das questões culturais da sociedade. Existe uma relação intrínseca entre educação e cultura(s). Estes universos estão profundamente entrelaçados e não podem ser analisados a não ser a partir de sua intima articulação. No entanto, há momentos históricos em que se experimenta um descompasso, um estranhamento e mesmo um confronto intenso nestas relações. Acredito que estamos vivendo um desses momentos. (CANDAU, 2010, p. 14-15). Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 13 de 64 Partindo desse pressupostoapresentado por Candau (2010), é de fundamental importância que você reconheça o que há de novo na maneira contemporânea de conceber as relações humanas. E o que isso tem a ver com as relações pedagógicas entre educação e cultura na perspectiva da diversidade cultural, considerando a especificidade que essa temática tem na atualidade para educação escolar? Para se fazer uma leitura didática das relações existentes entre educação e diversidade, é preciso reconhecer que os estudos culturais no contexto escolar é uma reivindicação dos movimentos sociais que não aceitam os programas educacionais normalizadores que provocam a submissão daquilo que é plural. Como a educação para a diversidade é um movimento de conflitos naturais e culturais que causam ordem e caos na unidade das diferenças dos ambientes escolares, entende-se que ela corresponde a um campo de estudo que busca unir o uno ao múltiplo. Nesse sentido, a escola é um ambiente que possui um “Arco-íris cultural”, carregado de um mosaico de condições contraditórias orientadas pelas cores da modernidade. Apesar de os diversos programas educacionais possuírem um caráter monocultural cada vez mais forte, observa-se que os estudos culturais presentes nos pressupostos teóricos e práticos da educação para diversidade rompem com as abordagens padronizadoras e homogeneizadoras da educação escolar. Isso ocorre porque se percebe que os movimentos pedagógicos críticos da educação para diversidade reconhecem a educação escolar como um espaço de cruzamento de culturas que formam esse arco-íris cultural. Nesse sentido compreende-se que a escola possui espaços híbridos de ensino e aprendizagem que asseguram processos naturais de formação cultural. Esses espaços se articulam organicamente como ambientes de influências plurais de socialização que possuem autonomia para a construção de identidades dos indivíduos que frequentam os espaços escolares. A mediação pedagógica nesses espaços proporciona reflexões que exercem influência sobre a formação das identidades das gerações presentes e futuras. A Dinâmica Pedagógica do Arco-íris Cultural A dinâmica pedagógica do arco-íris de culturas presente nos ambientes escolares mostra que é necessário construir “rupturas” com as tendências pedagógicas que tentam homogeneizar e padronizar a práticas educativas. Nesse contexto, o professor ou a professora são mediadores e organizadores políticos do conhecimento na escola. Para isso você precisa levar o aluno a saber construir e reconstruir o seu conhecimento. Para isso, no entanto, você precisa ser um professor curioso, que busca dar sentido aos conteúdos e aos processos de ensino e aprendizagem dos seus Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 14 de 64 alunos. É preciso que você deixe de ser um professor reprodutor de conteúdos e passe a organizar os processos de ensino e aprendizagem para a diversidade cultural. Nessa perspectiva, Candau (2010) alerta que a escola sempre teve dificuldade em lidar com as diferenças. A autora comenta que é mais confortável para escola desenvolver práticas que silenciam e padronizam os processos de ensino e aprendizagem. Dessa forma, ela deixa claro que construir programas educacionais voltados para a diversidade cultural é uma pedra no meio do caminho para aqueles que ignoram o arco-íris de cultura presente nas escolas. Nessa perspectiva, o desafio na área de educação e diversidade é criar novos caminhos para pluralidade da educação escolar. É preciso substituir o tempo presente do verbo em “tem uma pedra no meio caminho” pelo tempo passado: “tinha uma pedra no meio do caminho”. Essa metáfora tem o objetivo de conscientizar para o fato de que faz parte da função docente tirar as pedras do meio do caminho. Se no meio do caminho existem pedras, também há racismo, homofobia, preconceitos, discriminação, humilhação e opressão. No meio do caminho do arco-íris de culturas existem também sol, bandido, mocinho e muita gente bonita buscando promover a pedagogias das diferenças. Construindo Rupturas Pedagógicas com as Pedras do Caminho No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra Nunca me esquecerei desse acontecimento Na vida de minhas retinas tão fatigadas Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra Composição: Carlos Drummond de Andrade. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 15 de 64 O mundo em que vivemos é um campo minado para discussões culturais das pedras do meio do caminho. Dentro desse cenário você precisa aprender a estabelecer rupturas com os caminhos das indiferenças humanas. Para aprender novos caminhos que regem abordagens plurais, é preciso sensibilizar os educadores, diretores, alunos, famílias, enfim, homens e mulheres, para os graves problemas culturais que afetam a humanidade nos ambientes naturais e culturais. Essa é uma medida urgente, senão corre-se o risco de ver a escola se afastar ainda mais daquilo que inferioriza o direito de sermos diferente: as pedras do caminho. Ainda que vivamos um momento em que as nossas diferenças estão nos descaracterizando e inferiorizando, não resta dúvida de que temos o direito de ser diferentes. Portanto, a necessidade de uma igualdade que reconheça as nossas diferenças e não produza ou reproduza as desigualdades passa pelos caminhos da educação escolar para a diversidade. Para isso reconhecendo à máxima de Paulo Freire (2000, p. 67) de que “a educação não pode tudo, mas alguma coisa ela pode”, conclui-se que a educação pode contribuir para o “rompimento dos modelos padronizadores”. Com base nesse pressuposto do pouco que a escola pode, é importante refletir sobre o pensamento pedagógico de Paulo Freire e a paixão de ensinar. Nesse rumo, Gadotti (2007, p. 11) afirma que para Paulo Freire, “a escola é o lugar preferencial do professor”. Com isso ele mostra que a escola é um lugar especial de construção de esperança para as lutas docentes. [...] A escola é um lugar bonito, um lugar cheio de vida, seja ela uma escola com todas as condições de trabalho, seja ela uma escola onde falta tudo. Mesmo faltando tudo, nela existe o essencial: gente. Professores e alunos, funcionários, diretores. Todos tentando fazer o que lhes parece melhor. Nem sempre eles têm êxito, mas estão sempre tentando. Por isso, precisamos falar mais e melhor de nossas escolas, de nossa educação. (GADOTTI, 2007, p. 11, grifo no original). Com base nesses pressupostos da paixão de ensinar no ambiente da escola, é possível compreender que este não corresponde meramente a um espaço físico, e sim a um modo de ser e ver as nossas pluralidades no arco-íris cultural dos espaços escolares. [...] A escola é um espaço de relações. Neste sentido, cada escola é única, fruto de sua história particular, de seu projeto e de seus agentes. Como lugar de pessoas e de relações, é também um lugar de representações sociais. Como instituição social ela tem contribuído tanto para a manutenção quanto para a transformação social. Numa visão Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 16 de 64 transformadora ela tem um papel essencialmente crítico e criativo. (GADOTTI, 2007, p. 11, grifo no original). Nesse prisma, a escola no pensamento crítico da educação para diversidade nos mostra queas relações sociais que envolvem os ambientes escolares não podem mudar tudo nem podem mudar a si mesmas, sozinhas. Isso ocorre porque estão em um espaço intimamente ligado ao ser humano, à sociedade e à sua própria natureza pedagógica, demonstrando que os indivíduos nela inseridos são seres inacabados e em processo de formação. Ninguém nasce feito, ninguém nasce marcado para ser isso ou aquilo. Pelo contrário, nos tornamos isso ou aquilo. Somos programados, mas, para aprender. A nossa inteligência se inventa e se promove no exercício social de nosso corpo consciente. Se constrói. Não é um dado que, em nós, seja um a priori da nossa história individual e social. (FREIRE, 1993, p. 104). Nesse cenário, Freire afirma que somos indivíduos determinados, mas que, na qualidade de seres inacabados e incompletos, estamos sujeitos a uma formação híbrida que depende dos ambientes culturais e naturais em que vivemos. Isso mostra que para aprender é necessário levar em consideração as condições de ensino e aprendizagem dos diversos ambientes naturais e culturais em que vivemos. Em outras palavras, é possível considerar que somos programados para aprender, mas o que aprendemos depende do tipo de comunidade de aprendizagem a que pertencemos (GADOTTI, 2007, p. 12). Para enfrentar os graves problemas que pautam a área de educação e diversidade, é preciso superar as práticas pedagógicas fossilizadas que tratam de modo superficial os processos de ensino e aprendizagem do arco-íris cultural presente na educação escolar. Para isso, é essencial seguir para além da introdução dos métodos e das técnicas presentes na educação escolar. Superando os Caminhos das Diferenças Para superar os caminhos das diferenças culturais é preciso construir princípios norteadores das abordagens na educação para a diversidade, pois a educação escolar não assegura sozinha a pluralidade cultural apenas pelos programas educacionais que abordam o seu arco-íris de cultura. Para isso é necessária a construção de princípios pedagógicos que possibilitam meios de desenvolver processos de ensino e aprendizagem que ajudem a produzir interação e estímulos de diálogos, produzindo igualdade na diversidade, nas diferenças. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 17 de 64 Para superar as desigualdades nos ambientes escolares, é preciso construir atividades pedagógicas que dão sentido às diversidades presentes na educação escolar. Há de ser atividades que respeitem o ritmo e a diversidade do arco-íris cultural, que dialogue como um princípio que possibilite refletir a respeito das diferenças sem nos tornar desiguais. Na função docente é importante reconhecer as diferenças culturais. É no reconhecimento das pluralidades culturais que colocamos o mundo em movimento para reconhecermos que eu e você somos iguais. A interação das diferenças nos leva a construir um mundo plural. E o educador precisa reconhecer que as diferenças são campos híbridos que se manifestam no ambiente escolar. Entretanto, fica a questão: “se ainda não conseguimos ser um, como poderemos ser dois?”. A educação para a diversidade serve para aprender com as experiências plurais construídas entre eu e você, reconhecendo que cada um de nós temos as nossas solidões e nossos silêncios, reconhecendo que eu e você somos únicos (singulares), reconhecendo o um que sou antes de podermos ser dois. É necessário, entretanto, também reconhecer que você é uma pessoa com algo de único para ser um ou uma. Há ainda a certeza de que os múltiplos caminhos que escolhermos para a diversidade nos levam a saber e a aprender com as diferenças culturais do arco-íris de cores de pessoas inacabadas. A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai Mas eu preciso ser outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. Manoel de Barros (LEITE, 2014) A Pedagogia das Diferenças nas Práticas Curriculares Em razão da “incompletude” dos seres, é possível perceber que o tema da diversidade cultural nos remete aos campos híbridos das relações interculturais. Os Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 18 de 64 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) trazem sugestões para a organização curricular nesse sentido. Dessa forma, pode-se considerar que o currículo escolar não é neutro, visto que possui uma dimensão política que passa pelas diretrizes curriculares nacionais que levam em consideração as diversidades culturais. Essa dimensão passa pela necessidade de valorização das diferenças que ocorre nas práticas pedagógicas exercidas pelos professores no cotidiano escolar. Nessa perspectiva, pode-se considerar que as práticas pedagógicas dos professores em sala de aula promovem ou silenciam os paradigmas educacionais que ajudam na compreensão das diversidades culturais presentes nos espaços escolares. Portanto, as práticas pedagógicas dos professores “não são neutras” e ajudam a promover a compreensão de que no contexto escolar a diversidade assume diversas manifestações que dependem de uma mediação política dos professores. Na prática, essa mediação passa pela transversalização dos conteúdos e métodos das abordagens pedagógicas nos processos de ensino e aprendizagem dos professores. Nesse rumo, os estudos culturais voltados para a pluralidade cultural revelam que escola na sociedade contemporânea possui diversos espaços diferenciados de manifestações das identidades culturais. Esses espaços são carregados de práticas multiculturais que revelam que as temáticas da diversidade cultural passam pela pedagogia dos diálogos interculturais. Como esses diálogos são carregados de diferentes manifestações de conflitos sociais, eles podem ser negados ou excluídos nas diversas formas de violência presentes nos currículos escolares. Nesse cenário, o professor assume também um papel político de mediador de conflitos das relações interculturais, sendo o seu maior desafio o de promover ações pedagógicas que ajudem no reconhecimento do mencionado arco-íris cultural presente em seu ambiente. Como o professor é o responsável pelo processo histórico de construção do conhecimento, que passa pela intimas relações dos contextos sociais que estão atravessados na dimensão pedagógica da escola, ele tem como compromisso pedagógico fazer escolhas políticas dentre os temas relevantes para a construção do currículo escolar na perspectiva da educação para diversidade. Nas escolhas desses temas é fundamental que os professores sejam capazes de organizar um currículo que incorpore questões que contribuam com as políticas públicas de combate à discriminação, ao preconceito e à intolerância. Essas abordagens pedagógicas precisam estabelecer, portanto, discussões que mostrem as diversas etnias existentes em nosso país - ressaltando inclusive o caráter criminoso da discriminação racial -, posicionando-se contra a demarcação de terras das populações tradicionais como seringueiros, indígenas e quilombolas. Essas questões precisam ser discutidas numa perspectiva que ajude a melhorar as relações interculturais da sociedade brasileira. Não podem ficar de fora também os Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8.....................................................................Página 19 de 64 conteúdos relacionados à homofobia, a fim de que seja assegurado o respeito à diversidade sexual e às identidades de gênero. Nesse prisma, então, a escola, por meio da mediação pedagógica dos professores, pode ajudar na construção de um currículo escolar relacionado à diversidade cultural, com ações socioeducativas que contemplem as diversas linguagens culturais presentes nas práticas educativas como: literatura, dança, teatro, memória, entre outras linguagens específicas próprias dos povos e culturas tradicionais, conforme estabelece o Decreto Federal 6.040 de 7 de fevereiro de 2007. Portanto, a relação entre a escola das normas e a escola da pluralidade cultural passa necessariamente pelas ações educativas do professor, que é chamado a enfrentar as questões colocadas pela diversidade cultural brasileira. É importante compreender que essas questões não passam apenas pela promoção das linguagens e dos produtos culturais, mas pela ampliação do arco-íris cultural de professores e alunos, a fim de que haja aproveitamento pedagógico dos limites e das possibilidades disponíveis na comunidade escolar. Partindo dessas reflexões, sugere-se que você aprofunde as leituras relacionadas ao currículo para diversidade cultural, considerando que o MEC tem consciência da pluralidade de possibilidades que existem para a construção curricular nos sistemas de ensino. Para isso, torna-se necessário que a escola estabeleça o debate dos eixos organizadores do currículo e procure não apresentar perspectiva teórica que não dê conta do arco-íris cultural que há nas escolas. A reflexão sobre o currículo para diversidade deve, portanto, fazer parte dos projetos político-pedagógicos nas escolas, das propostas dos sistemas de ensino, assim como das pesquisas, da teoria pedagógica e da formação inicial e permanente dos docentes. Educação e diversidade: tem como pressuposto teórico e prático a promoção da garantia dos direitos fundamentais da dignidade humana para oferecer condições essenciais para o enfrentamento das desigualdades. Visa promover o debate sobre a educação como um direito humano fundamental, que precisa ser garantido a todos e todas sem qualquer distinção, promovendo a cidadania, a igualdade de direitos e o respeito à diversidade sociocultural, étnico-racial, de gênero e de orientação afetivo- sexual. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 20 de 64 Pedagogias culturais: são ambientes naturais e culturais onde as identidades sociais de educação e diversidades são produzidas. As identidades são produzidas por meio de práticas educativas e políticas que se dão através do reconhecimento de espaços culturais. Esses espaços produzem formas específicas de pedagogia onde a produção de significado é construída nas relações de poder. E as relações de poder são processos constituídos de práticas sociais que, ao mesmo tempo em que produzem, organizam e regulam ideias e concepções sobre que ações são possíveis e legítimas as identidades culturais da educação para diversidade. Ambientes naturais e culturais: conjunto de condições e influências naturais e culturais que cercam um ser vivo ou uma comunidade. Considera-se a necessidade de reconhecer as diferenças entre os grupos sociais e no interior destes. Não basta, portanto, distinguir grupos qualitativamente diferentes por sua aparência externa, como a divisão entre homens e mulheres, entre crianças, adultos e velhos, ou entre grupos étnicos. É também necessário estudar o interior de cada grupo e suas relações entre cultura e ambiente. Além disso, entendem-se essas relações como resultado de processos contraditórios de produção de sentido, enraizados na transformação e na apropriação desigual da natureza e contra a visão consumista da cultura e da natureza. Arco-íris cultural: metáfora correspondente a uma afirmação de Boaventura de Souza Santos, pesquisador e professor da Universidade de Coimbra, que tem trabalhos publicados sobre globalização, sociologia do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos. O conceito considera que o mundo possui uma pluralidade de culturas, etnias, religiões, pontos de vista e de identidades culturais que têm sido cada vez mais reconhecidos nos diversos campos da vida contemporânea. Nesse caso, “arco-íris cultural” corresponde a uma crítica ao modelo de educação escolar de caráter monocultural, que não reconhece as diversas manifestações culturais de gênero, étnicas, raciais, sexuais, entre outros, presentes nos ambientes escolares. Comunidade de aprendizagem: termo usado para descrever o estudo de temas relacionados à educação e à diversidade como fenômeno cultural de grupos (comunidades) de indivíduos que aprendem de forma colaborativa. Nas comunidades de aprendizagem, os grupos partilham temas geradores comprometendo-se a desenvolver diálogos de aprendizagem que beneficiam não só os indivíduos do grupo, mas também a comunidade global. Portanto, comunidades de aprendizagem são conjuntos de indivíduos autônomos e independentes que, partindo de uma série de ideias e ideais partilhados, dialogam por vontade própria para aprender e trabalhar juntos, comprometendo-se e influenciando-se uns aos outros dentro de um processo de ensino e aprendizagem. Espaços híbridos: é um termo relacionado ao de “culturas híbridas” e pode ser definido como uma ruptura entre as barreiras que separa o que é tradicional e o que Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 21 de 64 é moderno, entre o culto e o popular. Em outras palavras, culturas híbridas correspondem à mistura entre diferentes culturas que unem traços distintos de diferentes visões de mundo e formam, assim, uma nova cultura, a qual, por sua vez, resultará na elaboração de identidades. Esse processo geralmente acaba contribuindo com a origem de uma identidade própria de uma comunidade local. Portanto, nos estudos culturais, os espaços híbridos referem-se às discussões da modernidade que é constituída de culturas híbridas. Educação Étnico-racial: Direitos Humanos, Educação e Interculturalidade Neste tema, iremos desenvolver uma reflexão sobre os pressupostos pedagógicos que envolvem as questões étnico-raciais, com base em oito tópicos: 1) Elementos históricos, sociais e culturais da luta pelos direitos étnico- raciais. 2) Questões étnicas no âmbito escolar. 3) As políticas afirmativas. 4) Preconceito e injúria. 5) Conceitos de raça e etnia. 6) Discriminação e preconceito. 7) Relações de poder, raça e representações sociais. 8) Educação e direitos humanos. Estes tópicos serão abordados com o objetivo de desenvolver uma reflexão sobre o direito à educação étnico-racial e de compreender a educação escolar como expressão das práticas sociais da sociedade brasileira. O propósito é assegurar um conhecimento que demonstre que as manifestações da pluralidade cultural são um valor democrático necessário para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária que reflita os direitos humanos, a educação e os diálogos interculturais. Dimensões Pedagógicas - Questões Étnico-raciais Para abordar as questões étnico-raciais na educação escolar, organizamos este tema em três dimensões pedagógicas para facilitar o seu processo de compreensão das concepções pedagógicas relacionados à educação racial. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 22 de 64 A primeira dimensão pedagógica diz respeito aoshorizontes em que se situam as questões étnico-raciais. Para isso, primeiro iremos introduzir algumas considerações sobre as questões culturais da contemporaneidade e depois trataremos da relevância dos direitos humanos como paradigma para reivindicações críticas das práticas de educação étnico-raciais na escola. Dessa forma, iremos refletir sobre os paradigmas dos direitos humanos, numa interface entre educação e interculturalidade. Já na abordagem da segunda dimensão pedagógica, procuraremos problematizar os princípios norteadores dos elementos históricos, sociais e culturais da luta pelos direitos étnico-raciais como pressupostos teórico- metodológicos das unidades escolares. Consideramos que o conhecimento dessa dimensão pode contribuir significativamente para viabilizar o direito à educação étnico-racial como uma forma de descolonização do poder e do saber na perspectiva dos direitos humanos. O propósito é discutir a implementação da Lei n. 11.645/2008 e das relações étnico-raciais na escola. O objetivo é que esses pressupostos teóricos contribuam para uma reflexão étnico-racial na perspectiva da efetivação dos direitos humanos na educação escolar básica. Por fim, a terceira dimensão está vinculada às questões étnicas no âmbito escolar, às políticas afirmativas, ao preconceito e à injúria, aos conceitos de raça e etnia, à discriminação e ao preconceito, às relações de poder, raça e representações sociais, à educação e aos direitos humanos. Esses tópicos são tratados como conhecimento, currículo e cultura escolar e constituem elementos primordiais para a realização dos processos de ensino e aprendizagem relacionados às questões étnico-raciais da sociedade brasileira. Esses temas devem ser de domínio do gestor escolar e dos professores, considerando que são temas relevantes para o processo de descolonização das questões étnico-raciais. Horizontes Plurais da Educação Étnico-racial Para você compreender os horizontes plurais da educação étnico-racial, inicialmente, é importante problematizar o conceito de direitos humanos e os seus desdobramentos. Para isso, podemos recorrer aos estudos de Vera Maria Candau e Boaventura Sousa Santos. Os autores abordam o conceito de multiculturalismo para introduzir o tema da interculturalidade, relacionando-o aos desafios que marcam as relações entre educação intercultural e direitos humanos. Atualmente, estamos vivendo mudanças profundas de paradigmas e ainda não somos capazes de compreender o significado dessas mudanças. Segundo Candau (2008), para muitos intelectuais e atores sociais, não estamos simplesmente Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 23 de 64 vivendo uma época de mudanças significativas e aceleradas, mas sim uma mudança de época caracterizada por uma realidade que provoca perplexidade e suscita uma ampla produção científica e cultural nos estudos culturais. Na pluralidade das reflexões teóricas, Candau (2008) situa sua discussão identificando como posição central dos debates a expressão de matrizes teóricas e político-sociais diferenciadas que são marcadas pelo processo de globalização neoliberal excludente. Dessa forma, a autora compreende que a questão da diferença tem pretensões monoculturais, o que acaba tornando os aspectos relativos à justiça, redistribuição, superação das desigualdades e democratização de oportunidades para os diferentes grupos culturais uma questão estreita que não contribui com a promoção dos direitos humanos. Neste contexto, Candau (2006) demonstra que o reconhecimento de diferentes grupos culturais e a relação entre justiça, redistribuição, superação das desigualdades e democratização de oportunidades se faz cada vez mais presente. Neste sentido, ela considera que a problemática dos direitos humanos, muitas vezes entendidos como direitos exclusivamente individuais e fundamentalmente civis e políticos, se amplia e, cada vez mais, se consolida como direitos coletivos, culturais e ambientais. Neste sentido, a autora mostra que os direitos humanos são uma construção da modernidade e que estão profundamente carregados de processos, valores e afirmações instigados pela modernidade. Dessa forma, estamos vivemos imersos num clima político-ideológico e cultural. Com isso, a questão dos direitos humanos torna-se relevante nas relações internacionais, especialmente a partir das reflexões sobre igualdade e diferença. Mas, ao que tudo indica, houve um deslocamento do debate, em que se colocou em evidência a questão da diferença, defendida por meio da via constitucional que faz a seguinte pergunta: somos iguais ou somos diferentes? [...] atualmente a questão da diferença assume uma importância especial e se transforma num direito, não só o direito dos diferentes a serem iguais, mas o direito de afirmar a diferença. Pessoalmente, me inclino a defender que certamente há uma mudança de ênfase e uma questão de articulação. Não se trata de afirmar um polo e negar o outro mas de articulá-los dialeticamente de tal modo que um nos remita ao outro. (CANDAU, 2008, p. 47) Neste cenário, Candau (2008) nos mostra que, tanto no plano internacional quanto no plano nacional, existe um discurso reiterativo que afirma fortemente a importância dos direitos humanos, no entanto, as violações destes direitos se multiplicam sobremaneira. Segundo a autora, no plano internacional, é possível identificar grandes retrocessos em relação a direitos que estavam consolidados pela humanidade, como o combate à tortura em qualquer circunstância. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 24 de 64 Nesse sentido, os direitos fundamentais que já estavam assegurados na mentalidade e nas políticas internacionais, na contemporaneidade, são negados, desprezados, “esquecidos” e “silenciados”. Nessa perspectiva, o professor Boaventura Sousa Santos (2006, p. 445-7 apud Candau, 2008) afirma que os direitos humanos precisam ser ressignificados numa perspectiva que não negue as suas raízes e a sua história, mas que, ao contrário, traga-as para a problemática de hoje, por meio de um processo de reconceitualização. Neste sentido, ele apresenta cinco premissas fundamentais: 1) A superação do debate entre o universalismo e o relativismo cultural. 2) Todas as culturas possuem concepções da dignidade humana. 3) Todas as culturas são incompletas e problemáticas nas suas concepções de dignidade humana. 4) Nenhuma cultura é monolítica. Todas as culturas comportam versões diferentes da dignidade humana, algumas mais amplas do que outras, algumas mais abertas a outras culturas do que outras. 5) Todas as culturas tendem a distribuir as pessoas e os grupos sociais entre dois princípios competitivos de pertença hierárquica: princípio da igualdade e princípio da diferença. Percebemos que essas premissas estão voltadas para a articulação entre igualdade e diferença, o que deixa claro que a afirmação da igualdade ou da diferença passa, necessariamente, pela igualdade na diferença. Portanto, não se trata de afirmar a igualdade ou negar a diferença, nem de defender uma visão que relativize a igualdade, pois a questão essencial é como trabalhar a igualdade na diferença. Candau (2008) mostra que, para isso, se faz necessária uma articulação pós- moderna e multicultural das políticas de igualdade e diferença. Mas, para que aconteça a dialética entre igualdade e diferença, é preciso superar toda a desigualdade e reconhecer as diferenças culturais. E os desafios dessa articulação se colocam na perspectiva das diferentes concepções do multiculturalismo presentes nas sociedades contemporâneas. Paraautora, uma das características fundamentais do multiculturalismo é que sua criação encontra-se atravessada pelo acadêmico e pelo social, isso porque o conhecimento multicultural para questões étnico-raciais foi gerado nas militâncias e nas políticas públicas. [...] Convém ter sempre presente que o multiculturalismo não nasceu nas universidades e no âmbito acadêmico em geral. São as lutas dos grupos sociais discriminados e excluídos de uma Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 25 de 64 cidadania plena, os movimentos sociais, especialmente os referidos às questões étnicas e, entre eles, de modo particularmente significativo, os referidos às identidades negras, que constituem o locus de produção do multiculturalismo. Sua penetração na academia deu-se num segundo momento e, até hoje, atrevo-me a afirmar, sua integração no mundo universitário é frágil e objeto de muitas discussões, talvez exatamente por seu caráter profundamente marcado pela intrínseca relação com a dinâmica dos movimentos sociais. (CANDAU, 2008, p. 49) Nesta perspectiva, a autora mostra que, entre as tendências de multiculturalismo assimilacionista e diferencialista, as relações pluriculturais voltadas para a promoção de uma educação para o reconhecimento do “outro” passam pela construção de diálogos entre os diferentes grupos sociais e culturais. Para ela, a melhor alternativa é o multiculturalismo crítico, para construção destes diálogos, e a modalidade intercultural, que permite a negociação cultural provocada pela assimetria de poder entre os diferentes grupos socioculturais da sociedade contemporânea. Para Candau (2008), somente uma modalidade de multiculturalismo intercultural que promova diálogos será capaz de favorecer a construção de um projeto comum, no qual as diferenças sejam dialeticamente integralizadas. Nesta perspectiva, as relações multiculturais são campos minados de conflitos que necessitam de relações interculturais orientadas à construção de uma sociedade democrática, plural e humana, que articule políticas de igualdade com políticas de identidade, considerando os paradigmas dos direitos humanos, da educação e da interculturalidade. Multiculturalismo assimilacionista: Candau (2006) parte da afirmação de que vivemos numa sociedade multicultural, no sentido descritivo. Nessa sociedade, as pessoas não têm as mesmas oportunidades, não existe igualdade de oportunidades. Há grupos, como os grupos de indígenas, negros, homossexuais, pessoas oriundas de determinadas regiões geográficas do próprio país ou de outros países e de classes populares ou com baixos níveis de escolarização que não têm o mesmo acesso a determinados serviços, bens e direitos fundamentais que outros grupos sociais, constituídos, em geral, por pessoas de classe média ou alta, brancas e com altos níveis de escolarização. Multiculturalismo diferencialista: parte da afirmação de que quando se enfatiza a assimilação termina-se por negar a diferença ou por silenciá-la. Nesta perspectiva, propõe-se então colocar a ênfase no reconhecimento da diferença e, para assegurar a expressão das diferentes identidades culturais presentes num determinado contexto, garantir espaços em que estas Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 26 de 64 diferenças possam se expressar. Afirma-se que somente assim os diferentes grupos socioculturais poderão manter suas matrizes culturais de base. Elementos Históricos da Luta pelos Direitos Étnico-raciais Do ponto de vista da história da educação, o Estado brasileiro sempre praticou ações de discriminação contra os negros e os povos indígenas, uma vez que o Brasil, ao longo de sua história, sempre estabeleceu um modelo de desenvolvimento excludente, impedindo que milhões de brasileiros e brasileiros tivessem acesso à escola ou nela permanecessem (BRASIL, 2004). Documentos oficiais do governo brasileiro reconhecem que os modelos de desenvolvimento praticados sempre foram excludentes (BRASIL, 2004). No Brasil Colônia, Império e República sempre houve elementos constitucionais colonizadores que contribuíram com as práticas de discriminação e de racismo que atingiram as populações afrodescendentes e indígenas. Um bom exemplo do processo de discriminação praticado legalmente pelo Estado brasileiro é o Decreto n. 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, que estabelecia que nas escolas públicas do país não fossem admitidos escravos. Outro decreto discriminador da população afrodescendente foi o de n. 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, que estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno. Além disso, a instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. Percebemos, assim, que diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares. Em relação aos povos indígenas, a história da educação escolar no Brasil demonstra que ela foi marcada por atitudes “abusivas” praticadas pelo Estado brasileiro. Já em 1500, no primeiro contato do colonizador português com os índios brasileiros, estes foram tratados como selvagens e sem alma. Essa situação só mudou a partir de 1537 com uma bula do Papa Paulo III, que declarou que os povos indígenas eram seres humanos. Do ponto de vista histórico, temos vários fatos que demonstram que estes povos sempre foram massacrados por leis positivistas do Estado brasileiro. Em 1570, por exemplo, foi decretada uma lei proibindo a escravização dos povos indígenas, mas, ainda assim, os colonizadores consideravam necessário torná-los “civilizados”, isto é, convertê-los aos costumes e ao modo de vida europeu. Até uma guerra foi realizada contra os povos indígenas. O ano de 1808 é considerado como o início do período de massacre e extermínio dos povos indígenas brasileiros, com a declaração da “guerra justa” (combate aos índios inimigos), feita por D. João VI, contra os índios botocudos de Minas Gerais. Esse período ainda estendeu-se até 1910, quando foi criado o Serviço de Proteção ao índio (SPI). Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 27 de 64 A criação do SPI, chefiado pelo marechal Rondon, deu início ao período de pacificação dos índios e do reconhecimento do direito deles à posse da terra e à vida de acordo com os próprios costumes. Mas, em 1967, a extinção do SPI foi necessária devido a inúmeras denúncias de irregularidades administrativas, abuso de poder, corrupção, matança de índios e diversos outros problemas. Nesta perspectiva histórica, observa se que, desde 1500, foi negado aos povos indígenas o direito de viverem liberdade como viviam seus ancestrais. Eles foram obrigados a viver de forma diferente dos seus costumes, com base nos costumes trazidos pelos colonizadores europeus, estabelecidos a partir do contato destes com as sociedades indígenas, sem que fossem consideradas as diferenças culturais dos povos que aqui viviam. Os Desafios Constitucionais da Relação Étnico-racial Com a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil buscou consolidar a condição de um Estado democrático de direito com ênfase na cidadania e na dignidade da pessoa humana. No entanto, do ponto de vista histórico, o país tem uma realidade marcada por posturas preconceituosas, racistas e discriminatórias para com os afrodescendentes e os povos indígenas, que sempre tiveram dificuldade de acesso e permanência à educação escolar. Do ponto de vista constitucional, não resta dúvidasde que a educação escolar constitui um dos principais mecanismos de transformação de um povo e de promoção do ser humano na sua integralidade, uma vez que seu papel é estimular a formação de valores, hábitos e comportamentos que respeitem as diferenças e as características próprias de diversos grupos sociais. Assim, a educação escolar é essencial no processo de formação de qualquer sociedade, na medida em que abre caminhos para o reconhecimento das identidades culturais. Neste contexto, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) assegura que a educação deve abranger os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Dessa forma, a LDB assegura que o ensino de história do Brasil deverá levar em conta as contribuições de diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro. Nesse sentido, deve-se considerar os povos de matrizes africana, indígena e europeia. Pela via constitucional, os movimentos dos negros foram os primeiros a conquistarem esses direitos, com a promulgação da Lei n. 10.639 de 2003, modificada pela Lei n. 11.645/2008, que vai além da LDB e supera a visão de estudar apenas as questões históricas dos afrodescendentes, incluindo, assim, os povos indígenas. Dessa forma, observamos que a via constitucional da lei, juntamente com Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 28 de 64 as diretrizes curriculares nacionais, garante uma visão interdisciplinar das questões étnico-raciais. De acordo com os parâmetros da Lei n. 11.645/2008, as raízes africanas e indígenas são reconhecidas na construção da sociedade brasileira, superando, assim, a visão colonizadora dos afrodescendentes escravos e dos povos indígenas como incivilizados. Com isso, a lei contribui para a superação dos preconceitos que foram propagados pelos conhecimentos sistematizados de história e que criaram um imaginário de que os povos indígenas e afrodescendentes são subespécie da formação da sociedade brasileira. Gomes (2010) comenta que a construção de legislações reconhecendo as questões étnico-raciais da sociedade brasileira promove três tipos de contribuição: da pedagogia, da política e da subjetividade de outras etnias presentes na educação escolar. Assim, a legislação: 1) Do ponto de vista pedagógico contribui para a superação dos preconceitos sobre a África e os povos indígenas, causando impactos positivos ao proporcionar políticas afirmativas que tratem a diversidade étnico-racial como uma riqueza da constituição da identidade cultural da sociedade brasileira. 2) Do ponto de vista político contribui para a problematização das relações de poder e de dominação, bem como dos contextos de desigualdade e de colonização. 3) Do ponto de vista da subjetividade promove a releitura sobre questões africanas e indígenas na escola, podendo despertar o interesse de outros grupos étnico-raciais para reivindicarem também o reconhecimento de sua identidade cultural na organização curricular da escola. Dessa forma, observa-se que as questões étnico-raciais vão além da via constitucional com a implementação de leis que respondam às demandas históricas dos diversos movimentos sociais da sociedade brasileira, como negros, indígenas, surdos, brancos, entre outros. A via constitucional assegura políticas afirmativas que têm como objetivo a correção de desigualdades e a construção de oportunidades iguais para os grupos étnico-raciais que foram marginalizados pelos processos de colonização. Neste contexto, os estudos culturais demonstram que não basta termos leis assegurando as políticas afirmativas de correções das desigualdades, é preciso promover um processo de descolonização do saber e do poder, que assegure avanços para além das complexas relações de classe, raça, etnia, gênero, entre outros tipos de relações que enfrentam as desigualdades étnico-raciais. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 29 de 64 Descolonizando o Saber e o Poder para a Construção Curricular As diversas críticas às formas como estão organizados os currículos da educação étnico-racial na escola são importantes para se conhecer os limites e possibilidades de afirmação cultural trazida pela Lei n. 11.645/2008. É interessante observar que a lei expõe as fragilidades das diretrizes que, sozinhas, não garantem a implementação de um currículo que amenize as desigualdades, apenas com a discussão histórica dos afrodescendentes e indígenas. Essa discussão só terá sentido se os processos didáticos e pedagógicos forem realizados nas perspectivas da descolonização do poder e do saber. Neste sentido, observa-se a necessidade urgente que se tem de promoção dos processos de descolonização do saber na construção dos currículos e programas escolares. Um bom exemplo desta necessidade é que as populações indígenas e negras são reconhecidas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. Dessa forma, observa-se que o preconceito parte, muito mais, daqueles que convivem com esses povos. Assim, é importante que você saiba que, na perspectiva dos estudos interculturais, as relações étnico-raciais passam por um processo dinâmico e permanente de relação, comunicação e aprendizagem entre culturas em condições de respeito, legitimidade mútua, simetria e igualdade. E, para que isso ocorra, é necessária a realização de um intercâmbio que se constrói entre pessoas, conhecimentos, saberes e práticas culturalmente diferentes, buscando desenvolver um novo sentido para a produção do conhecimento no contexto escolar. Dessa forma, é importante reconhecer que as práticas interculturais caracterizam um espaço de negociação e de tradução, no qual as desigualdades sociais, econômicas e políticas e as relações e conflitos de poder da sociedade não são mantidos ocultos, e sim reconhecidos e confrontados. Essas práticas são uma tarefa social e política que interpela o conjunto da sociedade e parte de práticas e ações sociais concretas e conscientes, tentando criar modos de responsabilidade e solidariedade entre os diferentes. Portanto, na perspectiva da interculturalidade, não há um entendimento comum sobre as implicações pedagógicas da interculturalidade nos processos de ensino e aprendizagem, isso porque não se sabe ainda até que ponto elas se articulam com as dimensões cognitivas, procedimentais e atitudinais das práticas educativas da escola. O conceito de interculturalidade é central à (re)construção de um pensamento crítico-outro - um pensamento crítico de/desde outro modo-, precisamente por três razões principais: primeiro porque está vivido e pensado desde a experiência vivida da colonialidade [...]; segundo, porque reflete um pensamento não baseado nos legados eurocêntricos ou da modernidade e, em terceiro, porque tem sua origem no Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera - Pedagogia – Educação e Diversidade – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 30 de 64 sul, dando assim uma volta à geopolítica dominante do conhecimento que tem tido seu centro no norte global. (WALSH, 2005, p. 25 apud CANDAU, 2008, p. 52) Neste cenário, podemos afirmar que a educação que envolve questões étnico- raciais passa, necessariamente, pela “descolonização do poder e do saber”, considerando a necessidade que se tem de ressignificação dos direitos humanos a partir das questões colocadas pelo multiculturalismo.
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