Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UFSM Dissertação de Mestrado FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS NO RIO GRANDE DO SUL _____________________ Shana Letícia Garmatz PPGMV Santa Maria, RS, Brasil 2004 FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS NO RIO GRANDE DO SUL _____________________ por Shana Letícia Garmatz Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Área de Concentração em Patologia Veterinária, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Medicina Veterinária PPGMV Santa Maria, RS, Brasil 2004 Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Rurais Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS NO RIO GRANDE DO SUL elaborada por Shana Letícia Garmatz como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Medicina Veterinária COMISSÃO EXAMINADORA: ___________________________________ Luiz Francisco Irigoyen (Presidente/Orientador) ___________________________________ David Driemeier ___________________________________ Glaucia Denise Kommers Santa Maria, 02 de abril de 2004. G233f Garmatz, Shana Letícia Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul / por Shana Letícia Garmatz ; orientador Luiz Francisco Irigoyen. – Santa Maria, 2004. xxii, 110 f. : il., tabs. 1. Medicina veterinária 2. Bovinos 3. Doenças infecciosas 4. Febre catarral maligna 5. Doenças a vírus 6. Doenças de bovinos 7. Patologia veterinária 8. Reação em cadeia de polimerase I. Irigoyen, Luiz Francisco II. Título CDU: 619:636.2 Ficha catalográfica elaborada por Luiz Marchiotti Fernandes CRB-10/1160 Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Rurais/UFSM © 2004 Todos os direitos autorais reservados a Shana Letícia Garmatz. A reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita com autorização por escrito do autor. Endereço: Rua Henrique Dias, 112/101, Santa Maria, RS. Fone (0xx51) 3718 1372. End. Eletr.: garmatzsl@yahoo.com.br. AGRADECIMENTOS Aos professores do Setor de Patologia Veterinária, Luiz Francisco, Claudio Barros, Dominguita Graça e Glaucia Kommers pelos ensinamentos e amizade. Um agradecimento especial ao professor Claudio pelo auxílio constante na elaboração deste trabalho. Aos proprietários e funcionários das fazendas em Santiago, pela colaboração e permissão para a realização deste estudo. E ao professor Alexandre Mazzanti e Fabiano Zanini Salbego pelo auxílio na inoculação dos terneiros utilizados na transmissão experimental da doença. Agradeço também aos colegas e amigos Raquel, Simone, Margarida, Fabiano, Aline, Ricardo, Dani, Márcia, Cris, Inge, Tati, Fighera e Serginho, pelo companheirismo e auxílio em várias etapas deste trabalho. A técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) descrita nesta dissertação foi desenvolvida durante meu estágio no Department of Pathology da University of Georgia, sob orientação da professora Corrie Brown e com bolsa da CAPES, como parte do projeto CAPES-FIPSE 09/01. Meus agradecimentos à CAPES pelo apoio financeiro, à Profa. Corrie Brown pela orientação durante esse período e às colegas Jian Zhang e Nobuko Wakamatsu pela amizade e inestimável apoio técnico na realização dos ensaios de PCR. Agradecimentos também são devidos à professora Glaucia Kommers pela confecção das fotos histológicas e aos colegas Ana Lucia Schild, David Driemeier e Franklin Riet-Correa que colocaram os arquivos de seus laboratórios à nossa disposição para coleta dos dados que permitiram o estudo retrospectivo dos casos de febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS...................................................................................................... iv LISTA DE TABELAS...................................................................................................... vii LISTA DE FIGURAS....................................................................................................... x RESUMO.......................................................................................................................... xvi ABSTRACT...................................................................................................................... xx 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1 2. REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................... 2.1 Epidemiologia....................................................................................................... 2.2 Etiologia................................................................................................................ 2.3 Patogenia............................................................................................................... 2.4 Sinais clínicos....................................................................................................... 2.5 Achados de necropsia............................................................................................ 2.6 Achados histológicos............................................................................................ 2.7 Diagnóstico........................................................................................................... 2.8 Diagnóstico diferencial......................................................................................... 2.9 Controle, tratamento e profilaxia.......................................................................... 5 5 7 9 10 14 16 19 21 22 3. MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................... 3.1 Surtos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) ocorridos em Santiago, RS, em 2001-2003................................................................................................. 3.2 Transmissão experimental..................................................................................... 3.2.1 Animais de experimentação......................................................................... 3.2.2 Inóculo e método de inoculação................................................................... 3.3 Reação em cadeia de polimerase (PCR)............................................................... 3.4 Casos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) em bovinos ocorridos em anos anteriores no Rio Grande do Sul................................................................... 23 23 26 26 26 29 30 4. RESULTADOS............................................................................................................. 4.1 Surtos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) ocorridos em Santiago, RS, em 2001-2003................................................................................................. 4.1.1 Epidemiologia.............................................................................................. 4.1.2 Sinais clínicos.............................................................................................. 4.1.3 Achados de necropsia................................................................................... 4.1.4 Achados histológicos................................................................................... 4.2 Transmissão experimental..................................................................................... 4.2.1 Sinais clínicos..............................................................................................4.2.2 Achados de necropsia................................................................................... 4.2.3 Achados histológicos................................................................................... 4.3 Reação em cadeia de polimerase (PCR)............................................................... 4.4 Casos espontâneos de febre catarral maligna em bovinos relatados no Rio 32 32 32 34 41 49 60 60 64 65 68 Grande do Sul (1973-2003)................................................................................... 4.4.1 Epidemiologia.............................................................................................. 4.4.2 Sinais clínicos.............................................................................................. 4.4.3 Achados de necropsia................................................................................... 4.4.4 Achados histológicos................................................................................... 74 74 75 75 79 5. DISCUSSÃO................................................................................................................ 81 6. CONCLUSÕES............................................................................................................ 92 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 93 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Órgãos que foram colhidos e processados para a histologia dos 11 bovinos afetados por febre catarral maligna nos surtos espontâneos de Santiago, RS....................................................................................................................................... 24 Tabela 2 – Dados dos bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino clinicamente afetado por febre catarral maligna................................. 26 Tabela 3 – Órgãos que foram colhidos e processados para a histologia dos 5 bovinos inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino clinicamente afetado por febre catarral maligna................................................................................................................. 28 Tabela 4 – Relação dos tecidos examinados pela técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR). Onze bovinos (1 a 11) são casos espontâneos de febre catarral maligna. Cinco bovinos (E1-E5) foram usados nos experimentos de transmissão........... 31 Tabela 5 – Febre catarral maligna em bovinos. Dados dos 11 bovinos necropsiados nas duas propriedades de Santiago, RS, onde ocorreram os surtos da doença em 2001- 2003................................................................................................................................... 33 Tabela 6 – Sinais clínicos em 11 bovinos afetados por febre catarral maligna nos surtos espontâneos ocorridos em Santiago, RS, 2001-2003............................................. 34 Tabela 7 – Principais alterações macroscópicas em 11 bovinos afetados por febre catarral maligna necropsiados nos surtos espontâneos ocorridos em Santiago, RS, 2001-2003......................................................................................................................... 41 Tabela 8 – Febre catarral maligna em bovinos. Intensidade das lesões vasculares em 50 múltiplos órgãos e tecidos dos 11 bovinos necropsiados nas duas propriedades de Santiago, RS, onde ocorreram os surtos da doença em 2001- 2003................................................................................................................................... Tabela 9 – Período de incubação, evolução clínica, tipo de morte e principais achados clínicos nos cinco bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino clinicamente afetado por febre catarral maligna................................................... 62 Tabela 10 – Correlação dos sinais clínicos de distúrbios nervosos com a localização e intensidade das lesões vasculares no sistema nervoso central e rete mirabile em dois bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino clinicamente afetado por febre catarral maligna............................................................... 66 Tabela 11 – Resultado da técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) realizada em amostras de tecido de 16 bovinos. Os bovinos de 1 a 11 são casos espontâneos de febre catarral maligna. Cinco bovinos (E1-E5) são os animais usados no estudo de transmissão experimental.................................................................................................. 70 Tabela 12 – Febre catarral maligna em bovinos. Resultado da técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) realizada em amostras de tecido de 11 bovinos necropsiados nas duas propriedades de Santiago, RS, onde ocorreram os surtos da doença em 2001-2003, comparada com a intensidade das alterações histológicas nos tecidos............................................................................................................................... 72 Tabela 13 – Resultado da técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) realizada em amostras de tecido de três bovinos usados na transmissão experimental de febre catarral maligna comparada com a intensidade das alterações histológicas nos tecidos............................................................................................................................... 73 Tabela 14 – Dados epidemiológicos dos casos de febre catarral maligna diagnosticados em bovinos no Rio Grande do Sul..................................................................................... 76 Tabela 15 – Sinais clínicos nos casos de febre catarral maligna diagnosticados em bovinos no Rio Grande do Sul........................................................................................... 77 Tabela 16 – Achados de 24 necropsias de casos de febre catarral maligna diagnosticados em bovinos no Rio Grande do Sul............................................................ 78 Tabela 17 – Achados histológicos nos casos de febre catarral maligna diagnosticados em bovinos no Rio Grande do Sul.................................................................................... 80 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Hemisfério cerebral. As linhas numeradas indicam os locais onde foram efetuados cortes coronais para estudo da distribuição das lesões histológicas no encéfalo. 0, medula cervical; 1, seção do bulbo na altura do óbex; 2, cerebelo; 3, ponte com pedúnculos cerebelares; 4, mesencéfalo na altura dos colículos rostrais; 5, seção através do diencéfalo na altura da massa intermédia; e 6, seção através do joelho do corpo caloso e dos núcleos basais................................................................................................................................ 25 Figura 2. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. A figura mostra as seções obtidas dos seis locais mostrados na Figura 1, de onde foram realizados os cortes histológicos para estudo da distribuição das lesões............................................. 25 Figura 3. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 5. Corrimento ocular seroso............................................................................................... 37 Figura 4. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 4. Corrimento nasal mucopurulento em ambas as narinas................................................. 37 Figura 5. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Maior detalhe da Figura 4...........................................................................................................................38 Figura 6. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 8. Crostas na pele do focinho resultante de exsudato ressecado. O animal apresenta também abundante salivação.......................................................................................... 38 Figura 7. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 6. 39 Opacidade da córnea....................................................................................................... Figura 8. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 6. Ceratoconjuntivite. A conjuntiva está acentuadamente hiperêmica e parcialmente recoberta por película de fibrina amarelada. Há protrusão da membrana nictitante......................................................................................................................... 39 Figura 9. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11 mostrando sinais clínicos de distúrbios nervosos (hipermetria)..................................... 40 Figura 10. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Papilas bucais A. bovino normal. B. Bovino 4. Algumas das papilas têm as pontas hiperêmicas, necrosadas e estão rombas (seta).................................................................................... 44 Figura 11. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 8. Ulcerações na mucosa do abomaso................................................................................ 45 Figura 12. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 2. Fossas nasais. Hiperemia da mucosa que está parcialmente recoberta por exsudato catarral. Na porção anterior podem-se observar áreas de erosão................................... 46 Figura 13. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 4. Fossas nasais. Rinite ulcerativa. O exsudato foi retirado para evidenciar as ulcerações....................................................................................................................... 46 Figura 14. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Rim. Áreas multifocais branco-amareladas que correspondem à infiltração inflamatória mononuclear na cortical................................................................................................. 47 Figura 15. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Rim, superfície de corte. Há múltiplos nódulos brancos de alguns milímetros de diâmetro distribuídos pela cortical. No centro de alguns desses pequenos nódulos pode-se perceber um orifício. Esses nódulos representam acúmulos de células inflamatórias mononucleares ao redor de pequenas artérias (ver Figura 20)....................................... 47 Figura 16. Febre catarral maligna (FCM) em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 7. Bexiga. A mucosa está hiperêmica, edematosa e parcialmente ulcerada. Essa lesão é muito freqüente em bovinos com FCM e é responsável pela hematúria observada clinicamente.................................................................................................................... 48 Figura 17. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11. Linfonodo. Na superfície de corte aparecem nódulos branco salientes (hiperplasia).................................................................................................................... 48 Figura 18. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Aspecto histológico das lesões vasculares na rete mirabile. A. Bovino normal. B. Bovino 4. Acentuado infiltrado inflamatório mononuclear na parede das artérias, predominantemente na adventícia. Hematoxilina e Eosina............................................ 51 Figura 19. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Aspecto histológico das lesões vasculares na rete mirabile. A. Bovino normal, artéria isolada da rete. B. Bovino 4. Acentuado infiltrado inflamatório mononuclear na parede de artéria da rete. Embora as células inflamatórias afetem predominantemente a adventícia, o infiltrado estende-se também para a túnica média. Hematoxilina e Eosina............................................................................................................................. 52 Figura 20. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Aspecto histológico das lesões renais. Necrose fibrinóide acentuada e moderado infiltrado mononuclear da túnica média de artéria de pequeno calibre e extenso infiltrado mononuclear na adventícia e tecido renal perivascular. Hematoxilina e Eosina............................................................................................................................. 56 Figura 21. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11. Aspecto histológico das lesões oculares. Acentuado infiltrado inflamatório e vasculite na íris, corpo ciliar, esclera e conjuntiva bulbar. Hematoxilina e Eosina............................................................................................................................. 56 Figura 22. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11. Corte histológico transversal do nervo óptico. Percebe-se infiltrado inflamatório perineural e vasculite. Hematoxilina e Eosina............................................................... 57 Figura 23. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11. Maior aumento da Figura 22 mostrando duas arteríolas do tecido perineural com moderado infiltrado mononuclear na adventícia............................................................ 57 Figura 24. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Aspecto histológico das fossas nasais. A. Bovino normal. B. Bovino 4. As arteríolas da submucosa estão afetadas por infiltrado inflamatório na adventícia e média e hialinização da túnica média. O epitélio nesta região está íntegro. Hematoxilina e Eosina............................................................................................................................. 58 Figura 25. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Fígado, aspecto histológico de um espaço porta mostrando infiltrado inflamatório linfo-histiocitário. Hematoxilina e Eosina...................................................................... 59 Figura 26. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Aspectos histológicos do córtex e meninges do cerebelo. As leptomeninges estão infiltradas por células mononucleares. Em uma artéria de pequeno calibre e uma arteríola meníngea localizadas na porção inferior e ao centro da ilustração, a túnica média tem aspecto fibrinóide e está moderadamente infiltrada por células inflamatórias mononucleares; a adventícia desses vasos está acentuadamente infiltrada pelas mesmas células inflamatórias. Hematoxilina e Eosina.......................... 59 Figura 27. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Aspecto histológico da vasculite na substância branca do cerebelo. A lesão é menos grave que a observada nos vasos das leptomeninges (ver Figura 26). Hematoxilina e Eosina............................................................................................................................. 59 Figura 28. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Sinais clínicos de distúrbios nervosos nos casos experimentais. Bovino E1 nas fases terminais da doença realizando movimentos de pedalagem............................................................... 63 Figura 29. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Sinais clínicos de distúrbios nervosos noscasos experimentais. Bovino E1. Opistótono................................. 63 Figura 30. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Reação em cadeia de polimerase (PCR). Casos espontâneos. Eletroforese em gel de agarose dos produtos da PCR nested mostrando fragmentos amplificados de 228 pares de bases (pb). Linha 1: tamanho molecular padrão (pb); linha 2: amostra de adrenal (Bovino 8); linha 3: amostra de linfonodo (Bovino 8); linha 4: amostra de baço (Bovino 7); linha 5: amostra de rim (Bovino 6); linha 6: amostra de linfonodo (Bovino 6); linha 7: amostra de bexiga (Bovino 9); linha 8: amostra de cerebelo (Bovino 2)................... 71 Figura 31. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Reação em cadeia de polimerase (PCR). Casos experimentais. Eletroforese em gel de agarose dos produtos da PCR nested mostrando fragmentos amplificados de 228 pares de bases (pb). Linha 1: tamanho molecular padrão (pb); linha 2: amostra de rim (Bovino E1); linha 3: amostra de fígado (Bovino E1); linha 4: amostra de fígado (Bovino E5); linha 5: amostra de rim (Bovino E2); linha 6-8: amostras de rúmen, fígado e tonsila, respectivamente (Bovino E4)......................................................................................... 71 RESUMO Dissertação de Mestrado Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS NO RIO GRANDE DO SUL AUTORA: SHANA LETÍCIA GARMATZ ORIENTADOR: LUIZ FRANCISCO IRIGOYEN Data e local da defesa: Santa Maria, 02 de abril de 2004. São relatadas duas epizootias recentes de febre catarral maligna (FCM) que ocorreram em bovinos de duas propriedades rurais (A e B) do município de Santiago, Rio Grande do Sul (RS) e a transmissão da doença a bovinos suscetíveis. Adicionalmente, foi realizada uma pesquisa nos arquivos de três laboratórios de diagnóstico veterinário (LDVs) em atuação no estado, para o levantamento de casos de FCM em bovinos no RS. As duas epizootias recentes ocorreram de novembro de 2001 a fevereiro de 2002 (Propriedade A) e em janeiro-fevereiro de 2003 (Propriedade B). O número de bovinos sob risco, as taxas de morbidade e de letalidade foram, respectivamente, 170, 10,59% e 83,33% na Propriedade A e 500, 2,4% e 100% na Propriedade B. Em ambas as propriedades havia contacto de ovinos com os bovinos afetados. Nos bovinos afetados nas duas propriedades, a duração do curso clínico, os achados de necropsia e a histopatologia foram semelhantes. A maioria dos bovinos afetados morreu ou foi submetida à eutanásia após um curso clínico de 2 a 8 dias. Os sinais clínicos incluíam febre (40.5 e 41.5°C), corrimento nasal e ocular, opacidade da córnea, conjuntivite, salivação, erosões e ulcerações em mucosas, diarréia, hematúria e distúrbios neurológicos. Foram realizadas onze necropsias (nove na propriedade A e duas na propriedade B). Lesões macroscópicas incluíam erosões e úlceras nas mucosas dos cornetos nasais, cavidade oral e tratos gastrintestinal e urogenital; hemorragia e necrose da ponta das papilas bucais, aumento de volume dos linfonodos, múltiplos focos brancos no córtex renal, acentuação do padrão lobular da superfície hepática e hiperemia das leptomeninges. Microscopicamente, havia arterite e degeneração fibrinóide em artérias de médio e pequeno calibre e em arteríolas de múltiplos órgãos e tecidos, necrose e inflamação em várias superfícies mucosas, ceratite, conjuntivite, uveíte, nefrite intersticial e encefalite. A transmissão experimental foi tentada em cinco terneiros (E1-E5) pela inoculação de cada um deles, por via intravenosa, com 500 ml de sangue total oriundo de bovino afetado por FCM. A transmissão foi conseguida em pelo menos três (E1-E3) dos terneiros experimentais que adoeceram após um período de incubação de 15 a 27 dias. Quatro dos terneiros do experimento morreram ou foram submetidos à eutanásia in extremis após um curso clínico que durou de três dias a oito semanas. O terneiro experimental remanescente (E5) recuperou-se após uma doença branda e foi submetido à eutanásia 14 semanas após a inoculação. Os cinco terneiros foram necropsiados. Sinais clínicos, achados de necropsia e histopatologia de três terneiros (E1-E3) eram característicos de FCM. O DNA viral de herpesvírus ovino-2 (OvHV-2) foi detectado pela técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) em tecidos emblocados em parafina de sete dos 11 bovinos espontaneamente afetados por FCM e que haviam sido diagnosticados com base nos achados clínicos e nas alterações patológicas. O DNA de OvHV-2 foi também detectado por PCR em tecidos emblocados em parafina de três terneiros experimentais (E1-E3). A técnica de PCR resultou negativa nos restantes quatro dos 11 bovinos testados nos casos espontâneos das epizootias recentes de FCM e em dois (E4-E5) dos cinco terneiros usados nos experimentos de transmissão. Testes de imunoistoquímica (streptavidina- biotina peroxidase) realizados em cortes de tecido linfóide do terneiro E4 para detecção de antígeno do vírus da diarréia viral bovina resultaram negativos. Os resultados da pesquisa de todos os casos de FCM em bovinos no Rio Grande do Sul revelou que a doença foi relatada em 14 ocasiões (incluindo as duas epizootias deste estudo) de 1973 a 2003. Nenhum caso de FCM em bovino foi relatado antes de 1973. Seis desses relatos de FCM em bovinos ocorreram na forma de epizootias, afetando vários bovinos em um rebanho, com taxas de morbidade que variaram de 2,4% a 25%; em uma ocasião 100 bovinos foram afetados e morreram em um único rebanho; nas restantes oito ocasiões, a doença ocorreu em forma esporádica com 1 a 3 bovinos afetados por rebanho. As taxas de letalidade relatadas foram virtualmente de 100%, embora em um caso, a letalidade foi de 83,33%. Em duas ocasiões (1994 e 2001/2) epizootias de FCM ocorreram na mesma invernada da mesma fazenda. Bovinos de todas as idades e de ambos os sexos foram afetados, mas a maioria dos casos ocorreu em terneiros de sobreano até bovinos de 4 e 5 anos. Em sete dos 14 relatos havia ovinos em contato com os bovinos afetados; em cinco relatos não havia essa informação e em um relato o único touro afetado nunca estivera em contato com ovinos. A maioria dos casos de FCM diagnosticados pelos três LDVs ocorreu nos períodos quentes da primavera e verão, mas casos foram também diagnosticados em três ocasiões durante o inverno. Os sinais clínicos e as alterações patológicas (baseados nos achados de 24 necropsias) observados nos bovinos desses 14 relatos foram semelhantes aos descritos acima, mas houve casos em que os sinais neurológicos predominaram sobre os outros sinais clínicos, tornando difícil o diagnóstico baseado somente nos sinais clínicos e achados de necropsia. A transmissão experimental de FCM de bovino para bovino e a caracterização do agente etiológico da doença em bovinos como OvHV-2 foi conseguida pela primeira vez no Brasil. ABSTRACT MS Dissertation Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS NO RIO GRANDE DO SUL (MALIGNANT CATARRHAL FEVER IN CATTLE IN RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL) AUTHOR: SHANA LETÍCIA GARMATZ ADVISER: LUIZ FRANCISCO IRIGOYEN Santa Maria, April 02, 2004. Two recent epizootics of malignant catarrhal fever (MCF) occurring in cattle from two farms (A and B) in the municipality of Santiago, state of Rio Grande do Sul (RS), Brazil, and the transmission of the disease to susceptible calves are reported. Aditionally, all cases of MCF diagnosed in cattle in RS in the past were surveyedin the files of three veterinary diagnostic laboratories (VDLs) of this state. The two recent epizootics occurred from November 2001 to February 2002 (Farm A) and in January-February 2003 (Farm B). Numbers of cattle at risk, morbidity and letality rates were respectively 170, 10.59% and 83.33% for Farm A and 500, 2.4% and 100% for Farm B. Contact between affected cattle and sheep was detected in both farms. Duration of clinical courses, gross findings and histopathology were the same for the affected cattle in both farms. Most affected cattle died or were euthanatized in extremis after a clinical course of 2-8 days. Clinical signs included fever (40.5 and 41.5°C), nasal and ocular discharge, corneal opacity, conjunctivitis, drooling, erosions and ulcerations of the mucosae, diarrhea, hematuria, and neurological disturbances. Eleven necropsies (nine in Farm A, two in Farm B) were performed. Gross lesions included erosions and ulcers affecting the mucosae of nasal turbinates, oral cavity, gastrointestinal and urogenital tracts; hemorrhage and necrosis of the tip of the buccal papillae, lymph node enlargement, multifocal white foci in renal cortex, reticular pattern of the hepatic surface and hyperemia of leptomeninges. Microscopically, there were arteritis and fibrinoid degeneration in medium and small arteries and arterioles of multiple organs and tissues, necrosis and inflammation in several mucosal surfaces, keratitis, conjunctivitis, uveitis, intersticial nephritis, and encephalitis. Transmission experiments were attempted in five calves (E1-E5) by intravenous inocculation each of them with 500 ml of whole heparinized blood from a MCF affected cattle. The transmission was successful in at least three (E1-E3) of the experimental calves which became sick after an incubation period that varied from 15 to 27 days. Four experimental calves either died or were euthanatized in extremis after a clinical course which varied from three days to eight weeks. The remaining experimental calf (E5) recovered from a mild disease and was euthanatized 14 weeks after inocculation. Necropsies were performed in all five calves. Clinical signs, necropsy and histopathological findings of three calves (E1- E3) were characteristic of MCF. Ovine herpesvirus-2 (OvHV-2) viral DNA was detected by the polimerase chain reaction (PCR) test in paraffin embedded tissues from seven cattle out of the 11 spontaneous MCF cases diagnosed based on clinical signs and pathology. Paraffin embedded tissues from three experimental calves (E1- E3) were also positive for OvHV-2 DNA by PCR. PCR tests resulted negative in the remaining four of the 11 spontaneous MCF cases tested and in two (E4-E5) of the five experimental calves tested. Immunohistochemistry (streptavidin-biotin peroxidase method) performed in sections of lymphoid tissue from calf E4 for detection of BVD virus antigen was negative. Results from the survey on MCF in cattle in RS revealed that the disease was reported in 14 occasions (including the two epizootics of this study) from 1973-2003. No reports of MCF in cattle were found before 1973. Six of these reports in cattle occurred as MCF epizootics affecting several cattle in a herd with morbidity rates raging from 2.4% to 25%; in one instance 100 cattle were affected and died in only one herd; in the remaing eight occasions the disease occurred as sporadic cases affecting 1-3 cattle per herd. Reported fatality rates were virtually 100%, although in one occasion fatality rate was 83.33%. In two occasions (1994 and 2001/2) epizootics of MCF occurred at the same pasture of the same farm. Cattle of all ages and both sexes were affected but the majority of the cases occurred from yearlings to 4-5-year-old cattle. In seven of the reports there were sheep in contact with the affected cattle; in five reports this information was unavailable and in one report the sole affected bull never had contact with sheep. Most MCF cases reported in cattle from the three VDLs occurred in the warm periods of spring and summer but cases were also diagnosed in the winter in three instances. Clinical signs and pathology (based on 24 necropsies) observed in cattle of these 14 reports were similar to those described above but there were cases in which neurological signs predominated over the other clinical signs, thus making the diagnosis based on clinical and gross findings alone, difficult. The experimental transmission of MCF from cattle to cattle and the characterization of the etiological agent in this species as OvHV-2 were successfully attempted for the first time in Brazil. 1. INTRODUÇÃO A febre catarral maligna (FCM) é uma doença infecciosa, viral, pansistêmica, altamente fatal, com distribuição geográfica ampla. Além de bovinos, afeta diversas espécies de veados (Reid et al., 1979; Denholm & Westbury, 1982; Jessup, 1985; Reid et al., 1987; Shulaw & Oglesbee, 1989; Brown & Bloss, 1992; Li et al., 1999; Audige et al., 2001; Driemeier et al., 2002) e, esporadicamente, outras espécies de ruminantes silvestres (Smith, 2002) e suínos (Løken et al., 1998). Caracteriza-se por febre alta, depressão, corrimento nasal e ocular, erosões e ulcerações na mucosa do trato respiratório superior, ceratoconjuntivite, linfadenopatia, enterite hemorrágica, diarréia, encefalite, exantema cutâneo e artrite (Barker et al., 1993; Pierson et al., 1973; Plowright, 1968; 1990; Selman et al., 1974; Smith, 2002). As lesões macro e microscópicas envolvem principalmente os tratos digestivo, respiratório superior e urinário, linfonodos, fígado, olhos e encéfalo. As lesões histológicas características consistem de vasculite, infiltrados mononucleares em vários órgãos, hiperplasia linfóide e necrose dos epitélios de revestimento (Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994). O “grupo de vírus da FCM” pertence ao gênero Rhadinovirus, subfamília Gammaherpesvirinae (Coulter et al., 2001). São espécie-específicos e a maioria das espécies de ruminantes, domésticos ou selvagens, são bem adaptadas a eles, i.é, esses vírus induzem pouco ou nenhum efeito em seus hospedeiros naturais, mas podem causar doença quando afetam espécies diferentes pouco adaptadas. Até o momento foram identificados nove vírus do “grupo de vírus da FCM”; quatro associados a doença clínica em animais (Li et al., 2003a). A forma africana ou FCM gnu-associada é induzida pela cepa alcelaphine herpesvírus 1 (AlHV-1) (Plowright, 1990; Murphy et al., 1999). O AlHV-1 é linfotrópico, seu capsídio tem aproximadamente 140 a 220 nanômetros e é transmitido pelo gnu (Connochaetes taurinus e C. gnou, subfamília Alcelaphine). Em locais onde não há gnus ocorre a forma denominada FCM não associada a gnus ou FCM ovino-associada, pois ovinos são implicados como portadores do agente etiológico, denominado herpesvírus ovino 2 (OvHV-2) (Roizman et al., 1981; Bridgen & Reid, 1991). Os outros dois vírus associados a doença em veados incluem o herpesvírus caprino 2 (CpHV-2), endêmico em cabras domésticas (Chmielewicz et al., 2001; Crawford et al., 2002; Keel et al., 2003; Li et al., 2003b) e um vírus de origem ainda não identificada (Li et al., 2000a). Ao contrário de AlHV-1, que já foi isolado em cultivo celular, os outros três agentes patogênicos da FCM são detectados apenas por técnicas moleculares como a reação em cadeia de polimerase – PCR (Crawford et al., 1999; Li et al., 2000a; Crawford et al., 2002; Keel et al., 2003; Li et al., 2003b). As manifestações clínicas e patológicas das formas induzidas por AlHV-1 e OvHV-2 são as mesmas, mas há diferenças epidemiológicas entre as duas (Smith, 2002). No Brasil, a doença é descrita desde 1924 (Torres, 1924), tendo sido documentada em bovinos no Rio Grande do Norte (Döbereiner & Tokarnia, 1959), Riode Janeiro (Sampaio et al., 1972), Bahia, Sergipe (Oliveira et al., 1978; Figueiredo et al., 1990), Rio Grande do Sul (Barros et al., 1983; Riet-Correa et al., 1988), São Paulo (Marques et al., 1986), Paraná (Baptista & Guidi, 1998), Piauí (Silva et al., 2001) e em cervídeos em cativeiro no Rio de Janeiro (Costa et al., 1989) e em Mato Grosso (Driemeier et al., 2002). Atualmente, a técnica da reação da polimerase em cadeia (PCR) tem sido usada para o diagnóstico da FCM associada a ovinos (Radostits et al., 2000). Suas vantagens sobre o exame histopatológico incluem: a) a técnica poder ser feita in vitro, b) tem grande sensibilidade e especificidade (Müller-Doblies et al., 1998), c) permite diagnosticar casos de FCM que não apresentem todos os sinais clínicos clássicos, como os casos crônicos com recuperação da doença clínica (O’Toole et al.,1995, 1997; Penny, 1998) e d) a aplicação da técnica em tecidos fixados e emblocados em parafina pode ser utilizada para caracterizar o agente, especialmente para estudos retrospectivos (Tham, 1997; Crawford et al., 1999). Limitações da técnica quando aplicadas a materiais fixados e emblocados estão relacionadas à desnaturação do ácido nucléico por fixação muito prolongada ou em formol não-tamponado (Crawford et al., 1999). A FCM no Brasil tem sido relatada esporadicamente em casos diagnosticados pelos sinais clínicos, achados de necropsia e histopatologia. Testes para determinação do agente etiológico não têm sido realizados ou têm sido realizados sem sucesso. Dessa forma, não há documentação do tipo de vírus que circula no país e causa a doença em bovinos ou outras espécies. Os sinais clínicos e as lesões macroscópicas na FCM são geralmente característicos, mas podem ser variados e inespecíficos, especialmente nos casos leves, hiperagudos ou crônicos. Nesses casos, o diagnóstico deve ser baseado na detecção de características histológicas e resultados positivos de experimentos de transmissão e técnicas laboratoriais para determinar a etiologia. Nos anos de 2001-2003, dois surtos importantes de FCM ocorreram em bovinos de duas propriedades do município de Santiago, Rio Grande do Sul. O objetivo deste trabalho foi estudar esses dois surtos considerando os seguintes aspectos: a) levantamento de dados epidemiológicos, b) determinação do quadro clínico e patológico da doença, c) comprovação da natureza da doença através da transmissão a bovinos susceptíveis e d) determinação da natureza do agente etiológico através da técnica de PCR. Adicionalmente, procurou-se realizar um estudo retrospectivo da epidemiologia, sinais clínicos e achados anatomopatológicos de todos os casos de FCM diagnosticados em bovinos no Rio Grande do Sul a fim de estabelecer a importância relativa da doença em nosso Estado. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Epidemiologia A febre catarral maligna (FCM) tem distribuição mundial. A forma associada a gnus (ou gnu-associada), ocorre, na vasta maioria das vezes na África, conhecida por isso também como forma africana, mas pode ocorrer em zoológicos em outros países (Heuschele et al., 1985). A forma associada a ovinos (ou ovino-associada), tem sido relatada em vários países incluindo Estados Unidos, Canadá (referida por isso, às vezes, como forma americana), Austrália, Nova Zelândia, Escandinávia, Ásia e Europa (Radostits et al., 2000) e países da América do Sul, como Brasil, onde tem sido descrita em bovinos (Torres, 1924; Döbereiner & Tokarnia, 1959; Sampaio et al., 1972; Oliveira et al., 1978; Barros et al., 1983; Marques et al., 1986; Riet-Correa et al., 1988; Figueiredo et al., 1990, Baptista & Guidi, 1998; Silva et al., 2001) e cervídeos (Costa & Pires, 1990; Driemeier et al., 2002). A forma ovino-associada é encontrada inclusive no sul da África, embora com freqüência muito mais baixa que a forma gnu-associada (Plowright, 1990). Espécies de gnu (Connochaetes taurinus, C. gnou), membros da subfamília Alcelaphinae, são os portadores assintomáticos do alcelaphine herpesvirus tipo 1 (AlHV-1). Outros antílopes como o veado-do-cabo (Alcelaphus buselaphus) e o topi (Damaliscus korrigum eureus, D. lunatus) podem servir de reservatórios (Murphy et al., 1999). Anticorpos contra o AlHV-1 têm sido detectados em várias outras espécies da subfamília Alcelaphinae e das subfamílias Caprinae e Hippotraginae, o que as inclui como reservatórios em potencial do vírus (Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994). Gnus infectam-se durante os primeiros dois ou três meses de vida, quando se tornam virêmicos e eliminam AlHV-1 nas secreções nasal e ocular (Mushi & Rurangirwa, 1981; Plowright, 1990; Barker et al., 1993). No gnu azul, a concentração de vírus nessas secreções atinge o nível máximo em filhotes entre seis e oito semanas de idade; a transmissão do vírus ocorre por inalação de aerossóis ou ingestão de pasto contaminado (Radostits et al., 2000). Ovinos são considerados os reservatórios na forma americana da FCM (Plowright, 1990). Como os gnus, virtualmente todas as ovelhas adultas sob condições naturais de rebanho são infectadas (Li et al., 1994, 1995b). De maneira semelhante ao que ocorre com AlHV-1 em relação aos gnus, a transmissão de OvHV-2 aos bovinos e outros ruminantes é associada ao período perinatal dos ovinos; cordeiros seriam uma importante fonte de transmissão do vírus (Baxter et al., 1997). Entretanto, existem estudos indicando que cordeiros recém-nascidos não são infectados e, portanto, não são fontes importantes para a transmissão de OvHV-2 (Li et al., 1998, 1999, 2000b, 2001a). E grandes concentrações de partículas virais são detectadas predominantemente em ovinos entre 6 e 9 meses de idade (Li et al., 2001a; Kim et al., 2003). A origem da infecção tem sido questionada quando da persistência da doença mesmo sem contato dos bovinos com esses reservatórios; a fragilidade do vírus torna improvável a sua persistência em fômites (Radostits et al., 2000). Foi demonstrado que bovinos recuperados tornam-se virêmicos por vários meses (O’Toole et al., 1997). Além disso, OvHV-2 tem sido ocasionalmente detectado em bovinos e cervos clinicamente sadios (Baxter et al., 1993; Wiyono et al., 1994; Li et al., 1995b; Tham, 1997; Radostits et al., 2000), sugerindo a possibilidade de ativação de uma infecção latente nos casos da doença em que não há contato com ovelhas (Smith, 2002). Sorologia positiva foi demonstrada em bisões, cervos, cabras e ovinos selvagens e coelhos selvagens, indicando que esses animais possam servir de reservatórios do vírus (O’Toole et al., 1995; Li et al., 1994, 1996; Radostits et al., 2000). A manifestação clínica de FCM já foi descrita em mais de 30 espécies de ruminantes (Radostits et al., 2000). A maioria dos bovinos domésticos de todas as idades e raças e numerosas espécies exóticas como Bos javanicus e Bos gaurus são susceptíveis à doença clínica (Li et al., 2000a). Bisões, búfalos, alces e várias espécies de cervos são altamente susceptíveis (Reid et al., 1979; Denholm & Westbury, 1982; Hoffmann et al., 1984; Reid et al., 1987; Schultheiss et al., 1998; Brown & Bloss, 1992; Li et al., 1999, 2000a; Audige et al., 2001; Driemeier et al., 2002; O’Toole et al., 2002). A FCM em bovinos é uma doença de curso clínico rápido e quase invariavelmente fatal. O índice de morbidade é variável. Geralmente ocorre na forma de casos isolados, entretanto surtos afetando mais de 50% dos bovinos de um rebanho podem ocorrer. O índice de mortalidade varia de 95 a 100% (Plowright, 1990). Os surtos geralmente ocorrem no final do inverno, primavera e início do verão (Selman et al., 1974). Casos de bovinos que se recuperam de FCM têm sido descritos (O’Toole et al., 1995, 1997; Penny, 1998; Otter et al., 2002). 2.2 Etiologia O agente etiológicoda FCM gnu-associada foi isolado e identificado como um herpesvírus em 1960 (Plowright et al., 1960). Foi posteriormente classificado como um γ-herpevírus devido à sua capacidade de infectar e induzir a proliferação de linfócitos T do hospedeiro (Roizmann et al., 1992). Atualmente os agentes etiológicos da FCM como o AlHV-1 e o OvHV-2, são incluídos em um grupo de vários γ-herpevírus antigênica e geneticamente relacionados, o assim chamado “grupo de vírus da FCM”. Os vírus desse grupo são capazes de produzir infecção clínica ou subclínica em animais (Li et al., 2003a). São classificados na subfamília Gammaherpesvirinae, gênero Rhadinovirus. Os vírus dessa subfamília caracterizam-se por replicar em linfócitos T e B, estabelecer infecções latentes em tecidos linfóides e causar doenças linfoproliferativas, neoplasias e morte celular (Murphy et al., 1999). Ao contrário de AlHV-1, o isolamento em cultivo celular de OvHV-2 não foi ainda alcançado (Storz et al., 1976; Plowright, 1990). Técnicas moleculares, no entanto, permitem o reconhecimento de seqüências de DNA específicas de OvHV-2 em sangue e outros tecidos de animais afetados (Crawford et al., 1999). Estudos recentes comprovaram a expressão de genes associados ao ciclo replicativo de OvHV-2 em linhagens de células-T de coelhos. Em estudos com microscopia eletrônica, realizados em extratos peletizados dessas células-T infectadas, foram demonstrados capsídios característicos de herpesvírus (Rosbottom et al., 2002). A caracterização genômica foi também realizada em dois outros novos membros do grupo de vírus da FCM. Um causa a FCM clássica em veados-de-cauda- branca (Odocoileus virginianus; ‘MCFV-WTD’), mas o hospedeiro reservatório para esse vírus não foi ainda identificado (Li et al., 2000a); o outro, endêmico em cabras domésticas (Capra hircus), denominado herpesvírus caprino tipo 2 ou CpHV-2 (Chmielewicz et al., 2001; Li et al., 2001b), tem sido associado com alopecia crônica em veados sika (Cervus nippon) (Crawford et al., 2002; Keel et al., 2003) e veados de cauda-branca (Odocoileus virginianus) (Li et al., 2003b). Outros vírus não relacionados a doença clínica, mas também intimamente relacionados ao AlHV-1 incluem alcelaphine herpesvirus tipo 2 (AlHV-2), recuperado de antílopes como veado-do-cabo (Alcelaphus buselaphus) e topi (Damaliscus korrigum, D. lunatus) (Mushi et al., 1981) e hippotragine herpesvirus 1 (HiHV-1), isolado de uma outra espécie de antílope (Hippotragus equinus) (Reid & Bridgen, 1991). Seqüências do DNA de outros três novos membros do grupo (ainda sem denominação) foram recentemente determinadas em espécies de ruminantes exóticos (Ovibus moschatus, Capra nubiana, Oryx gazella). Embora seja em geral reconhecido que esses cinco radinovírus (AlHV-2, HiHV-1 e os três novos vírus ainda sem denominação) não causem doença clínica, vírus semelhante a AlHV-2 foi detectado por PCR em oito veados (Cervus elaphus barbarus) que apresentaram sinais clínicos e lesões de doença compatível com FCM (Klieforth et al., 2002); isso sugere que, sob certas circunstâncias, esses vírus podem ser patogênicos (Li et al., 2003). 2.3 Patogênese Muitas hipóteses têm sido sugeridas para explicar a patogênese das lesões vasculares, mas nenhuma é totalmente convincente. A ausência de complexos antígeno- anticorpo e complemento na parede dos vasos e o infiltrado celular linfóide são inconsistentes com vasculite imunomediada (Liggitt & DeMartini, 1980a). Embora o DNA viral possa ser detectado em células mononucleares circulantes e na maioria dos tecidos por PCR, o sítio celular da replicação do vírus in vivo é desconhecido (Plowright, 1990; Crawford et al., 1999). A ausência de vírus ou expressão viral nas lesões (Edington et al., 1979; Rossiter, 1980, 1985) indicam que o dano tecidual deve resultar da proliferação e disfunção de linfócitos-T citotóxicos induzida pelo vírus (Ellis et al., 1992; Nakajima et al., 1992, 1994; Lagourette et al., 1997). Embora o mecanismo do recrutamento dos linfócitos TCD8 e o dano tecidual sejam ainda desconhecidos, alguns achados (Simon et al., 2003) demonstram que o infiltrado celular predominante nas lesões de FCM aguda é infectado por OvHV-2. Isso sugere a possibilidade da patogênese ser primariamente relacionada a interações diretas do vírus com as células ou talvez a respostas imunomediadas diretas contra células infectadas, ao invés dos efeitos causados pela infecção e disfunção de células linforregulatórias que resultariam em proliferação benigna de linfócitos-T, como foi sugerido (Buxton et al., 1984). Grandes linfócitos granulares com atividade de células matadoras naturais - NK (Reid et al., 1983, 1989; Buxton et al., 1984) ou células matadoras ativadas por linfocina (Cook & Splitter, 1988) podem estar envolvidos na gênese das lesões necróticas e destruição epitelial. Grandes linfócitos granulares são a subpopulação de células T que atuam como células NK e também como linfócitos T supressores. Se essas células apresentam disfunção supressora pode ocorrer exuberante proliferação de células T enquanto que a disfunção de células NK pode resultar em morte indiscriminada de células normais. Restrição do complexo de histocompatibilidade e macrófagos também parecem ter um papel na patogênese (Smith, 2002). 2.4 Sinais Clínicos O período de incubação na infecção natural varia geralmente de três a 10 semanas (Collery & Foley, 1996; Radostitis et al., 2000), mas pode chegar a 200 dias (Smith, 2002). O curso da doença geralmente é de 3 a 7 dias e raramente prolonga-se por mais de 14 dias (Radostits et al., 2000). Dependendo da apresentação, intensidade e duração dos sinais clínicos, a FCM tem sido classificada nas formas hiperaguda, “cabeça-e-olho”, digestiva (alimentar), encefálica, dérmica e leve ou branda (Plowright, 1990; O’Toole et al., 1995, 1997; Murphy et al., 1999; Radostits et al., 2000; Smith, 2002). Na forma hiperaguda, o curso clínico varia de 1 a 3 dias. Os animais apresentam febre alta, dispnéia, gastrenterite hemorrágica aguda e rápida perda de peso. Ocasionalmente ocorre morte súbita, na ausência de sinais prévios (Pierson et al., 1973; Liggitt et al., 1978; Tham, 1997; Murphy et al. 1999; Radostitis et al., 2000). O curso clínico da doença aguda é de 3 a 7 dias (Smith, 2002). A forma “cabeça-e-olho” refere-se à síndrome clássica da FCM (Plowright 1990; Radostits et al., 2000). É caracterizada pelo aparecimento súbito de sinais relacionados à cavidade oral, oculares, respiratórios e febre (Radostits et al., 2000; Smith, 2002). Inicialmente há secreção ocular serosa ou seromucosa que pode se tornar mucopurulenta à medida que a doença progride. A opacidade de córnea é característica; geralmente inicia na junção córnea-esclera e se estende centripetamente, envolvendo às vezes toda a córnea e causando cegueira. Na maioria das vezes, é acompanhada de hiperemia da conjuntiva e episclera, edema de pálpebra, blefarospasmo e fotofobia (Liggitt et al., 1978; Pierson et al, 1973; Pierson et al., 1978; Whiteley et al., 1985; O’Toole et al., 1997; Tham, 1997). Hipópion, glaucoma, petéquias nas conjuntivas e vascularização córnea ocorrem em alguns casos (Selman et al., 1974; Whiteley et al., 1985; Twomey et al., 2002). Panoftalmite bilateral grave com perfuração da córnea e protrusão da íris podem ocorrer nos casos graves (O’Toole et al., 1997). Os sinais respiratórios incluem descarga nasal, inicialmente serosa, progredindo a mucopurulenta, dispnéia e estertor devido à obstrução da cavidade nasal com exsudato (Selman et al., 1974; Pierson et al., 1978; Barros et al., 1983; Collery & Foley, 1996; Twomey et al., 2002). Congestão e necrose superficial são evidentes na mucosa nasal anterior. Ocasionalmente observam-se erosões recobertas por placas fibrinonecróticas (Selman et al., 1974;Liggitt et al., 1978). Epistaxe bilateral intensa e tosse podem ocorrer (Selman et al., 1974; Twomey et al., 2002). A tosse é presumivelmente causada pela faringite, laringite e traqueíte necrosantes (Plowright, 1990). A pele do focinho pode estar extensivamente afetada por ulcerações recobertas por crostas resultantes do ressecamento de exsudato e tecido necrosado (Selman et al., 1974; Tham, 1997; Radostits et al., 2000). Hiperemia e erosões focais ou difusas aparecem no palato duro, gengiva, almofada dental, comissuras labiais, lábios e superfície dorsal da língua. A boca é dolorida nesse período e o animal mastiga com dificuldade (Radostits et al., 2000; Plowright, 1990). A mucosa é frágil e desprende-se facilmente. As pontas das papilas bucais estão hemorrágicas com necrose das extremidades; com o tempo acabam se desprendendo e a papila assume um aspecto rombo. Nesse estágio há intensa salivação (Collery & Foley, 1996; Selman et al., 1974; Radostits et al., 2000; Twomey et al., 2002). Sinais clínicos de distúrbios nervosos desenvolvem-se mais tarde no curso da doença. Consistem de fraqueza, letargia, incoordenação, ataxia, agressividade e convulsões (Barros et al., 1983; Colery & Foley, 1996). Tremores musculares podem aparecer precocemente, e nistagmo, pressão da cabeça, paralisia e convulsões geralmente ocorrem nos estágios finais (Radostits et al., 2000). Nos casos de doença espontânea, os linfonodos tendem a aumentar progressivamente de volume durante o curso clínico. Linfadenopatia também é um dos achados mais consistentes e persistentes na doença experimental (Plowright, 1968; Selman et al., 1974; Liggitt et al., 1978). Lesões cutâneas, especialmente na forma ovino-associada, são comuns, mas freqüentemente passam despercebidas. Em casos de longa duração, as alterações de pele, incluindo hiperemia, pápulas e exantema com exsudação e crostas envolvem o tórax, abdômen, região inguinal, axilas, prepúcio, períneo, úbere, parte inferior dos membros e ocasionalmente a cabeça (Selman et al., 1974; Barker et al., 1993; O’Toole et al., 1995). A pele dos tetos, vulva e escroto, nos casos agudos, pode se desprender completamente ou tornar-se coberta por crostas secas. Lesões crostosas podem correr na junção pele-casco (Radostits et al., 2000). A laminite pode ser pronunciada e pode ocorrer desprendimento da capa córnea dos chifres ou dos cascos (Plowright, 1990; Smith, 2002). A febre varia de 41°C a 42,2°C (Pierson et al., 1973). Alguns animais apresentam constipação, mas pode ocorrer diarréia profusa (Pierson et al., 1973; Selman et al., 1974; Barros et al., 1983). Ocasionalmente observa-se hematúria (Selman et al., 1974). Outros sinais clínicos incluem apatia, anorexia, agalactia e pulso acelerado de 100-120/bpm (Radostits et al., 2000). A forma alimentar é caracterizada por diarréia fétida, profusa, muitas vezes hemorrágica (melena acentuada) e leves alterações oculares como conjuntivite, lacrimejamento, fotofobia, febre, hiperemia nas mucosas oral e nasal, leves erosões ou ulcerações na mucosa oral, linfonodos aumentados, hiperemia do focinho, emaciação, perda de peso (Pierson et al., 1973; Pierson et al., 1978; Tham, 1997). Essa forma tem sido encontrada em confinamentos de bovinos leiteiros sem contato direto com ovinos, animais experimentais e em veados criados para produção. Ocorre doença leve seguida por doença terminal fulminante. Essa forma intestinal é comum em cervídeos (Plowright, 1990). A forma leve ou branda é descrita comumente em animais experimentais (Pierson et al., 1978). Há febre transitória, acompanhada de erosões discretas nas mucosas oral e nasal, catarro nasal, diarréia com muco e lesões ulcerativas entre os dígitos (Tham, 1997). Pode seguir-se por completa recuperação, recuperação com recrudescimento ou por FCM crônica (Hamilton, 1990; Milne & Reid, 1990; Baxter et al., 1993; Michel & Asperling, 1994, O’Toole et al., 1995, 1997; Penny, 1998; Twomey et al., 2002). Uma característica distinta da forma crônica é a persistência de leucoma ocular bilateral. Alguns animais recuperados permanecem com ceratite estromal bilateral, com ou sem pigmentação da córnea. A leucomata pode estacionar ou resolver lentamente (O’Toole et al., 1997). 2.5 Achados de necropsia As principais lesões macroscópicas são observadas nos tratos respiratório e digestivo, linfonodos, encéfalo, olhos, fígado, rins e bexiga (Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994). A carcaça está desidratada e pode estar emaciada, com atrofia serosa da gordura, especialmente quando o curso clínico é prolongado. Além das lesões oculares, orais, no focinho, nos orifícios nasais externos e na pele, as quais são discerníveis clinicamente, alterações semelhantes ocorrem na mucosa do septo e cornetos nasais, na laringe, faringe, traquéia e brônquios. Congestão com necrose, membranas diftéricas, erosões e áreas hemorrágicas também ocorrem nos cornetos e septo na grande maioria dos casos da forma “cabeça-e-olho” (Barnard et al., 1994). A mucosa da faringe e laringe está hiperêmica e edemaciada e com o tempo desenvolvem-se múltiplas erosões e ulcerações cobertas por exsudato seroso ou mucopurulento ou, ocasionalmente, por pseudomembranas. Na maioria das vezes, os pulmões não são envolvidos, exceto ocasionalmente por enfisema, edema, congestão e broncopneumonia inespecífica secundária (casos crônicos), com leve exsudato pleural (Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994; Smith, 2002). Como nas lesões da cavidade oral, hiperemia, hemorragia, necrose epitelial e erosões, às vezes seguidas por ulcerações, ocorrem no palato mole, esôfago, pregas do retículo e pilares do rúmen (Plowright, 1990; Barker et al., 1993). As erosões e úlceras podem ser cobertas por depósitos caseosos diftéricos (Radostits et al., 2000). No abomaso, as lesões são mais extensas. A mucosa do abomaso está hiperêmica e edematosa; há congestão dos folhetos fúndicos, e erosões hemorrágicas da região pilórica são comuns. Petéquias e úlceras hemorrágicas podem ocorrer nas margens das dobras e ao longo da curvatura maior (Barker et al., 1993). A parede intestinal, particularmente do ceco e cólon, está espessada, edematosa, com petéquias, congestão e ocasionalmente ulceração na mucosa. A serosa está opaca, finamente granular e com petéquias discretas na serosa. Na forma intestinal as fezes são enegrecidas e contêm sangue e excesso de muco. Congestão do omento e leve exsudato peritoneal são freqüentemente encontrados (Plowright, 1990; Barker et al., 1993; Smith, 2002). Aumento de volume dos linfonodos devido à hiperplasia linfocítica é característica da FCM. Todos os linfonodos podem estar envolvidos, incluindo os hemolinfonodos. Estão edematosos e ocasionalmente congestos e hemorrágicos, com áreas multifocais de necrose. (Plowright, 1990; Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994). Há edema também no tecido pericapsular (Radostits et al., 2000). As placas de Peyer estão aumentadas de volume, ulceradas e friáveis (Smith, 2002). As tonsilas palatinas estão freqüentemente aumentadas de volume e as criptas preenchidas por conteúdo mucopurulento (Plowright, 1990). Na maioria dos casos há leve ou moderada esplenomegalia e os folículos linfóides esplênicos estão proeminentes (Plowright, 1990; Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994). O fígado está aumentado de volume e ocasionalmente se observa acentuação difusa do padrão lobular com áreas brancas (1-2 mm) que demarcam as regiões periportais e correspondem aos acúmulos inflamatórios de células mononucleares (Plowright, 1990; Barker et al., 1993). Pode haver numerosas e pequenas hemorragias e poucas erosões na membrana mucosa da vesícula biliar (Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994). Outras lesões características podem estar presentes nos rins. Nos casos naturais estãoaumentados de volume com aspecto variegado da cortical produzido por focos brancos de 1 a 5 mm, petéquias e infartos (Plowright, 1990; Barnard et al., 1994; O’Toole et al., 1995). Esses focos podem formar projeções circulares a partir da superfície capsular. A mucosa da uretra freqüentemente tem petéquias e equimoses. Lesões semelhantes ocorrem na mucosa da bexiga, ocasionalmente associadas à erosão e ulceração do epitélio (Plowright, 1990; Barker et al., 1993; O’Toole et al., 1995). Vaginite com congestão, necrose e erosão da mucosa e leve exsudato mucopurulento pode ser observada (Plowright, 1990). As glândulas adrenais ocasionalmente estão aumentadas de volume, friáveis, com hemorragia nas áreas cortical e capsular (Liggitt & DeMartini, 1980b; Radostits et al., 2000). As leptomeninges estão brilhantes e úmidas com petéquias e opacidade nos espaços subaracnóideos dos sulcos. Geralmente essas lesões são mais concentradas nas leptomeninges cerebelares (Barker et al., 1993). Poliartrite, caracterizada por aumento e opacidade do líquido sinovial e avermelhamento da sinóvia tem sido relatada em bovinos infectados experimentalmente (Pierson et al., 1974, 1978; Liggitt et al., 1978). 2.6 Achados histológicos Microscopicamente, a doença é caracterizada por lesões vasculares, necrose epitelial e infiltrado linfóide primariamente perivascular em muitos órgãos, proliferação linforreticular e destruição de pequenos linfócitos em órgãos linfóides como baço e linfonodos (Pierson et al., 1979; Liggit & DeMartini, 1980a; Plowright, 1990). Vasculite necrosante fibrinóide generalizada é a lesão histológica característica e patognomônica da FCM (Plowright, 1990; Nakajima et al., 1992; Barker et al., 1993). Pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, mas é particularmente evidente em alguns locais como rete mirabile carotídea, rim, encéfalo e leptomeninges cerebral e espinhal, tríade portal, cornetos etmoidais, pulmão, olho, coração, cápsula dos linfonodos, cápsula e medula adrenal, glândula salivar, cordão espermático, ligamento largo e qualquer área da pele ou trato alimentar com lesões macroscópicas (Liggitt et al., 1978; Liggitt & DeMartini, 1980a; Barker et al., 1993; O’Toole et al.,1997; Collery & Foley, 1996; Tham 1997). As lesões vasculares caracterizam-se por acúmulo de células mononucleares principalmente na adventícia e necrose fibrinóide na camada média, melhor visualizada nas artérias de médio calibre (Liggitt et al., 1978; Plowright, 1999). Essas alterações podem ser focais ou segmentares, podem envolver toda a parede ou podem estar confinadas a uma das túnicas. Segmentos de um vaso severamente afetado são substituídos por um material coagulado, homogêneo, eosinofílico, no qual se observam restos nucleares (Barker et al., 1993). Casos crônicos desenvolvem arteriopatia obliterante crônica, arterite linfocítica e arteriosclerose (O’Toole et al., 1995, 1997). As lesões inflamatórias caracterizam-se por infiltrado mononuclear (linfócitos, linfoblastos, macrófagos) perivascular e intramural (Buxton et al., 1984). O infiltrado é constituído principalmente por linfoblastos ou células linfóides com núcleo grande e nucléolo proeminente; ocasionalmente pequenos linfócitos, plasmócitos e macrófagos podem estar presentes (Barker et al., 1993). Neutrófilos são raramente encontrados. Em geral, ocorre aumento progressivo na intensidade dos acúmulos inflamatórios e das lesões degenerativo-necróticas, proporcionalmente à gravidade dos sinais clínicos. A despeito do estágio clínico, as lesões na adventícia são consistentemente mais intensas que as lesões da túnica média e da íntima. Nos casos mais acentuados, toda a adventícia pode estar densamente compactada com células mononucleares numerosas e grandes. Mitoses podem ser freqüentes nos linfócitos da adventícia. As lesões na média são menos freqüentes e variam desde acúmulo mononuclear sem necrose, até necrose acentuada. Necrose da média não é observada na ausência de infiltrado inflamatório e era mais acentuada nos estágios finais da doença (Liggitt & DeMartini, 1980a). As células endoteliais estão aumentadas de volume ou de número, projetando-se para a luz empurradas por infiltrado subjacente de células linfóides localizadas na íntima (Denholm & Westbury, 1979; Liggit & DeMartini, 1980a). Pode ocorrer ainda hiperplasia acentuada de miócitos na túnica íntima, resultando em arteriopatia obliterante das artérias de médio calibre (O’Toole et al., 1997). A despeito dessas alterações na íntima, a trombose é um evento relativamente raro, embora possa ocorrer e provocar infartos (Plowright, 1990; Collery & Foley,1996). Alterações semelhantes à da parede dos vasos sangüíneos pode também ocorrer no tecido conjuntivo da cápsula e trabéculas de linfonodos e baço. Podem ainda se estender para os tecidos conjuntivo e adiposo. Infiltrado perivascular e degeneração semelhantes ocorrem nas camadas de músculo liso do intestino (Plowright, 1990). Depleção linfóide pode ser ocasionalmente observada no baço (Tham, 1997; Liggitt et al. 1978); a doença é invariavelmente associada com marcada hiperplasia linfóide, a qual nos linfonodos, envolve primariamente regiões timo-dependentes. No fígado as lesões incluem infiltrado mononuclear periportal e necrose coagulativa de hepatócitos adjacentes. No rim há infiltrado celular linfóide intersticial focal e perivascular (Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994). Lesões do sistema nervoso central incluem meningoencefalite não-supurativa caracterizada por infiltrado linfóide das meninges e adventícia e média dos vasos sangüíneos meníngeos e da substância encefálica. Alguns vasos exibem degeneração fibrinóide. Vasculite linfocítica pode ocorrer na medula espinhal (Collery & Foley, 1996). Há excesso de líquido cefalorraquidiano, contendo grande quantidade de proteína e células mononucleares (Liggitt et al., 1978; Pierson et al., 1978). Lesões oculares são caracterizadas por vasculite linfocítica da esclera, retina, e úvea; uveíte envolvendo especialmente processo e corpo ciliar, íris; ceratite com edema de córnea e neovascularização, degeneração epitelial e endotelial. Neurite ciliar linfocítica e meningite óptica são achados menos freqüentes (O’Toole et al., 1997). Bovinos com FCM crônica têm ceratite estromal central bilateral crônica com ou sem pigmentação da córnea (O’Toole et al., 1995, 1997). 2.7. Diagnóstico Para o diagnóstico de FCM, o apoio laboratorial é necessário, já que os sinais clínicos são inespecíficos (Li et al., 1995a; Mirangi & Kang’ee, 1990). É geralmente baseado no histórico, epidemiologia, achados clinicopatológicos, e ocasionalmente na sorologia e determinação genômica do DNA viral no sangue ou tecidos de animais doentes ou clinicamente sadios (Li et al., 1995a; Tham, 1997; Radostits et al., 2000). Os achados histológicos de vasculite disseminada são característicos e considerados patognomônicos da doença (Liggitt & DeMartini, 1980a; Barker et al., 1993). O diagnóstico da forma gnu-associada é baseado no isolamento viral de linfonodos, baço e capa flogística do sangue (Reid et al., 1996) e detecção de anticorpos específicos no soro, especialmente durante o estágio avançado da doença ou durante convalescença nos poucos animais que sobrevivem (Plowright, 1990). A transmissão experimental para bovinos ou coelhos pode ser usada como método de diagnóstico. Utiliza-se sangue total (500 ml), esfregaço ou lavado nasal ou linfonodos (Radostits et al., 2000; Smith, 2002). Entretanto, a detecção de ácido nucléico viral pela técnica da reação em cadeia de polimerase (PCR) tem substituído amplamente os testes biológicos de transmissão. PCR tem sido eficiente e amplamente utilizada para detecção de ácidos nucléicos genômicos em amostras de campo, a partir do sangue total ou em tecidoscolhidos na necropsia, tanto para a forma africana (Katz et al., 1991; Lahijani et al., 1994; Tham et al., 1994) como para a forma ovino- associada (Baxter et al., 1993, 1997; Li et al., 1995b). A técnica de PCR nested de segundo estágio baseada na amplificação de um único DNA viral tem sido utilizada como um teste rápido para o diagnóstico definitivo de AlHV-1, AlHV-2 e OvHV-2 (Katz et al., 1991; Baxter et al., 1993; Lahijani et al., 1994; Mirangi & Kang’ee, 1999). PCR realizada em blocos de parafina tem sido eficiente para detectar seqüências genômicas dos vírus da FCM em tecidos fixados, especialmente para estudos retrospectivos (Tham, 1997; Crawford et al., 1999; Collins et al., 2000). Embora etanol e acetona pareçam ser os melhores fixadores para subseqüente técnica de PCR em tecidos incluídos em parafina, resultados aceitáveis podem ser obtidos usando-se tecidos preservados em formalina (Crawford et al., 1999). Geralmente as lesões histológicas são compatíveis com os resultados positivos na PCR. DNA extraído a partir de tecidos fixados contém menos inibidores de PCR (Tham, 1997). PCR e também o teste imunoenzimático de inibição competitiva (CI-ELISA) geralmente são os métodos de escolha para investigar a epidemiologia da doença, particularmente o papel de espécies ruminantes com doença inaparente ou infecção latente (Li et al., 1995b). O CI-ELISA é baseado em um anticorpo monoclonal dirigido contra um epítopo conservado entre as cepas AlHV-1 e OvHV-2 (Li et al., 1994, 1995b, 1996) e a PCR para a forma ovino-associada é baseada nos primers 556 (5’- AGTCTGGGTATATGAATCCAGATGGCTCTC-3’) e 755 (5’- AAGATAAGCACCAGTTATGCATCTGATAAA-3’) na reação primária e 556 e 555 (5’-TTCTGGGGTAGTGGCGAGCGAAGGCTT-3’) na reação secundária (Baxter et al., 1993; Li et al., 1995b; Mirangi & Kang’ee, 1999). Esses testes são usados em surtos naturais de FCM e em populações de ruminantes clinicamente sadios (Li et al., 1994, 1995a,b, 1996; Crawford et al., 1999). Outros testes sorológicos incluem imunofluorescência indireta, fixação do complemento e neutralização do vírus. Os testes sorológicos em geral têm valor limitado para diagnóstico de casos clínicos porque somente uma pequena porcentagem de animais soroconverte e, ainda assim, somente nos estágios finais do curso da doença. O título de anticorpos é baixo e há reação cruzada com outros herpesvírus (Li et al., 1994, 1996). Leucopenia progressiva por neutropenia ou moderada leucocitose (Radostits et al., 2000) e aumento dos linfoblastos nos estágios avançados e terminais da doença têm sido ocasionalmente relatados (Plowright, 1990). Proteína total e células mononucleares podem estar aumentadas nos líquidos articular e cefalorraquidiano (Pierson et al., 1978). 2.8 Diagnóstico diferencial As alterações nos vasos sangüíneos são fortes indicativos de FCM, entretanto arterite pode ser observada na diarréia viral bovina-doença das mucosas (BVD-MD), principalmente na submucosa do trato alimentar inferior (Barker et al., 1993), mas dificilmente tem a mesma morfologia das lesões vasculares que ocorrem principalmente na rete mirabile carotídea na FCM em bovinos. Outras doenças semelhantes a FCM incluem rinotraqueíte infecciosa bovina, peste bovina, língua azul, estomatite vesicular, febre aftosa, doença de Jembrana e encefalomielite bovina esporádica. Febre aftosa e estomatite vesicular cursam com alta morbidade e baixa mortalidade e geralmente não se apresentam com diarréia. Língua azul é rara em bovinos (Plowright, 1990; Radostits et al., 2000). 2.9 Controle, tratamento e profilaxia Não há tratamento específico. A taxa de morbidade pode ser alta, de até 37% em um surto. Embora alguns animais com doença clínica leve possam sobreviver, quase 100% dos que apresentam doença grave morrem (Smith, 2002). Apesar de FCM geralmente ter pouca importância econômica, perdas importantes podem ocorrer (Bonn, 1990; Hamilton, 1990; Collery & Foley, 1996). Medidas de controle incluem minimizar o contato entre bovinos e ovinos, particularmente durante a fase de parição de cordeiros. O gado não deve ser exposto a animais selvagens africanos, especialmente antílopes como gnu, veado-do-cabo e topi, que podem servir como portadores dos vírus da FCM (Smith, 2002). Tentativas de produzir uma vacina não têm sido bem sucedidas (Plowright, 1975) e a vacinação geralmente não é usada na prática (Murphy et al., 1999). 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Surtos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) ocorridos em Santiago, RS, em 2001-2003. O dados epidemiológicos e clínicos foram colhidos através de visitas às fazendas onde estavam ocorrendo os surtos, designadas Propriedades A e B. Cinco visitas foram realizadas na Propriedade A e uma visita na Propriedade B. Os dados foram complementados por questionários aplicados ao proprietário, ao administrador e a outros trabalhadores da fazenda. Nove bovinos (identificados por números de 1-9) e dois bovinos (identificados como 10 e 11) foram necropsiados na Propriedade A e B respectivamente. Nove bovinos (1-8 e 11) foram necropsiados por docentes e pós- graduandos do Laboratório de Patologia (LP) do Departamento de Patologia (DP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e dois bovinos (9 e 10) foram necropsiados por veterinários de campo e o material foi enviado ao LP para exame macroscópico e histológico. Para exame histológico, fragmentos de diversos tecidos foram coletados e fixados em formol a 10% (Tabela 1). Os olhos, após fixação em formol foram desidratados em soluções crescentes de etanol (50%→70%→96%), seccionados longitudinalmente a partir do nervo óptico em direção à córnea e examinados macroscopicamente antes de serem processados para histologia. O método de colheita e processamento do encéfalo foi descrito anteriormente (Langohr, 2001) e é mostrado nas Figuras 1 e 2. Após fixados e clivados, todos os tecidos foram incluídos em parafina, cortados a 5 µm e corados por hematoxilina e eosina. As lesões foram avaliadas quanto à sua natureza, intensidade e distribuição. A graduação adotada para a intensidade foi ausente (-), leve (+), moderada (++) e acentuada (+++). TABELA 1 Figuras 1 e 2 3.2 Transmissão experimental 3.2.1 Animais de experimentação Os dados dos cinco terneiros utilizados no experimento encontram-se na Tabela 2. Três desses terneiros (E1-E3), foram adquiridos do Setor de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria e os outros dois (E4-E5) vieram da fazenda A, em Santiago, Rio Grande do Sul, onde havia ocorrido um dos surtos espontâneos de febre catarral maligna em 2001-2002. Os terneiros estavam em estado nutricional 3 (Stöber et al., 1990), com exceção do Bovino E1 que apresentava estado nutricional 1, segundo a mesma classificação de estado corporal (Stöber et al., 1990); esse animal não apoiava o membro pélvico direito devido a artrite crônica na articulação tíbio-tarso-metatarsiana. Durante o experimento os terneiros foram mantidos em baias de alvenaria com piso recoberto por serragem e recebiam feno de alfafa e água à vontade. Inspeção visual e aferição da temperatura corporal eram realizadas diariamente nos terneiros. Tabela 2. Dados dos bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino clinicamente afetado por febre catarral maligna. Bovino Idade (meses) Sexo Raça Origem do sangue inoculado Data de inoculação E1 8 MC Charolês x Nelore Bovino 5 21/12/01 E2 6 MC Nelore Bovino E1 18/12/01 E3 5 F Tabapuã x Charolês Bovino E1 18/12/01 E4 12 F Charolês Bovino E2 05/02/02 E5 8 F Tabapuã Bovino E2 05/02/02 MC = macho castrado, F = fêmea. 3.2.2 Inóculo e método de inoculação
Compartilhar