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A Dinâmica de Grupo de Kurt Lewin

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PASQUALINI, Juliana C.; MARTINS, Fernando Ramalho; EUZEBIOS FILHO, Antônio. A "Dinâmica de Grupo" de Kurt Lewin: proposições, contexto e crítica. In: Estud. psicol. (Natal), Natal v. 26, n. 2, p. 161-173, jun.  2021.   Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epsic/v26n2/a05v26n2.pdf>. acessos em 26 mar.  2023.  
Por Patrícia Maria Paula S. D’Ávila Pires
O presente artigo aborda o pensamento de Lewin acerca dos grupos humanos, na busca de examinar as circunstâncias históricas na qual se se concebe a Dinâmica de Grupo, suas perspectivas teórico-práticas centrais, bem como sua ideologia política. Os autores apresentam os prováveis motivos da aceitação nos das atuais, mesmo diante do capitalismo, sua instrumentalização dos processos de mudança sem muito impacto, frente ao acesso de relações intersubjetivas de um suposto comportamento democrático, centrado na afetividade, foco nos processos comunicacionais que confundem as relações de poder e consignas estruturais do processo grupal.
Os autores fazem um revisão histórica a partir da biografia de Kurt Lewin e de como a Dinâmica de Grupo, a construção da sua identidade para os estudos de grupos dentro da Psicologia Social norte-americana, e é uma referência para a constituição dos psicólogos e outros profissionais que atuam com a dinâmica grupal. A obra de Lewin é considerada parte do movimento, levou a psicologia para os processos inerentes às coletividades humana no período pré e pós guerra. As ideias de Lewin fomentam as bases do Dinâmica de Grupo, integrando-se aparentemente ao controle social do processo produtivo no capitalismo contemporâneo.
Observa-se que a teoria da liderança de Kurt Lewin, ainda é amplamente, defendida nos estudos de Administração nas aulas de comportamento organizacional. Lewin constitui-se como referência nos debates acerca do papel do grupo na motivação para o trabalho. Seus estudos contribuíram acerca da consultoria e análises do clima organizacional. O artigo ainda faz referência a biografia de Kurt Lewin. Lewin morre muito cedo, mas deixa um legado no desenvolvimento e socialização do seu pensamento cientifico. Frente a formação acadêmica, tornou-se professor assistente e, posteriormente professor titular no Instituto de psicologia da Universidade de Berlin,. Foi perseguido pelos nazistas por ser judeu, quando teve quem sair da Alemanha juntamente com a família. 
Destaca-se que Lewin, trouxe a teoria Gestalt para ampliar o estudo da personalidade e posteriormente para o estudo dos grupos. No início da sua produção científica focava a psicologia individual, contudo já fazia referência a relevância do ambiente na determinação do comportamento, posteriormente seu interesse científico concentrou-se nos problemas de psicologia social e dinâmica de grupo. Já nos estados unidos focou na psicologia de seu próprio grupo étnico, e nas discriminações, injustiças e o ostracismo pelo qual seu povo sofreu durante a segunda guerra, também investiu na s investigações sobre a coesão de grupo e fenômenos correlatos. 
Para Lewin a realidade ou a existência do grupo como identidade deve ser tomado como objeto de estudo cientifico. Ao dirigir um programa de pesquisa sobre Dinâmica de Grupo, percebeu a sua relevância teórica e empírica metodológica, ou seja, com ênfase na experimentação, com vigor na verificação empírica das intenções entre o indivíduo e o grupo. Permitindo, assim, que seu legado fosse alcançado nas mais diferentes psicologias sociais: interacionista e psicossocial. A Dinâmica de Grupo tem a pretensão de torna-se Ciência Experimental dos pequenos grupos, cujo objeto seria microgrupo e seu método deveria ser experimental. A Dinâmica de Grupo “constituiu-se como uma ciência experimental praticada em laboratório e sobre grupos artificialmente reunidos, para fins de experiência, com controle de variáveis, quantificação, etc.” (Andaló, 2006, p. 43).
Lewin acreditava que o estudo dos grupos se formava como trabalho investigativo na interconexão entre psicologia e sociologia. Para ele a psicologia social demonstrava convincentemente a respeitável relevância dos fatores sociais nos mais variados tipos de comportamento, desse modo, o psicólogo se ocupava “dos problemas, ditos sociológicos, de grupos e da vida grupal. O pesquisador ainda defendia que um empirismo metodológico, com ênfase na experimentação, asseverando que o estudo de mudanças experimentalmente criadas demanda de uma melhor perspectiva acerca da dinâmica vital do grupo. 
No segundo tópico desse artigo, discute as proposições no campo da psicologia social e em particular da Dinâmica de Grupo, que se constituíram em uma certa adaptação das posições básicas de Lewin no âmbito da psicologia individual, visto que ele considerava que ao analisar a conduta individual, servia para analisar também a conduta do grupo. O teórico acreditava que ao investigar a dinâmica das relações interpessoais e intergrupais a partir das mesmas hipóteses e concepções, também poderá elaborar a respeito da dinâmica da vida intrapessoal.
Considerando a sua teoria de campo, Lewin considerava que o comportamento de uma pessoa poderia ser explicado como função da particular situação de forças em seu espaço vital, ou seja, entendido como totalidade dos fatos que determinariam o comportamento de um indivíduo em um determinado momento. Assim, destaca-se dois pensamentos se reapresentam em sua psicologia dos grupos: o comportamento como derivado da totalidade de fatos coexistentes, que importa examinar o campo dinâmico atual e presente, analisando-se os sistemas de tensão que se produzem pelas forças em ação (atração, repulsa, coerção etc.). Daí pode-se dizer que as forças se coadunam em dois tipos de forças um que o impele para o grupo e a conserva dentro dele, o outro tipo o repele afastando-o do grupo. Desse modo, se o grupo não for suficientemente atraente o bastante para um determinado número de indivíduos, ele deixará de existir.
Várias forças podem promover atitudes de lealdade e pertencimento, forças e ou fatores de coesão do grupo a pertinência e a clareza compartilhadas das finalidades, bem com a sua aceitação pelos membros, no movimento contrário as divergências quanto às finalidades do grupo, podem ser as forças que provocariam a dissolução ou mesmo o esfacelamento dos grupos. 
A justificativa mais aceita para os fenômenos grupais está na interdependência entre os membros, Lewin (1948a, p. 100) diz que: “a essência de um grupo não é a semelhança ou a diferença entre seus membros, mas a sua interdependência” Isso implica que “(...) o grupo é uma realidade irredutível aos indivíduos que a compõem, independentemente das similitudes ou diferenças de objetivos ou temperamentos que seus membros possam apresentar”, (FERNÁNDEZ, 2006, pp. 66-67). Entende-se, portanto que a ideia de constituição de um grupo ocorre pela afinidade entre os membros. Sendo assim, o grupo é o resultado de um conjunto de relações, do qual o indivíduo faz parte, visto que a dinâmica de um grupo promove sempre um impacto social sobre os indivíduos que o compõem, favorecem as mudanças sofridas pelo grupo em suas estruturas ou mesmo em sua própria dinâmica. 
O impacto da mudança irá depender do grau de interdependência entre seus membros, varia de acordo com os fatores, o tamanho, a organização e intimidade do grupo. Portanto, o grupo a que pertence o indivíduo compõe a base de suas percepções, ações e sentimentos, contudo caso a estrutura do grupo que os inclui seja alterada, não é possível transformar necessariamente os indivíduos, conferindo ao grupo o estatuto de dispositivo privilegiado para a mudança social, indicando que, de modo geral, é mais simples mudar indivíduos num grupo do que mudar cada um separadamente. 
Ao encontrar resistência à mudança diante da conduta do grupo, que se mantém essencialmente inalterada a despeito dos esforços de introdução de novas forças no campo grupal, exige-se que se elabore instrumentos técnico-científicos para promover tais “mudanças” nos grupos e conduza as forças na direçãodesejada e reduza as forças opostas. Portanto, é imperioso que evite estados de tensão elevada, pois vem acompanhado de maior fadiga, mais agressividade, mais emocionalidade, e baixa construtividade e se modifique o padrão dos grupos sociais, a partir novos procedimentos que provoquem uma mudança social no clima ou atmosfera de grupo, que está relacionada diretamente com o tipo de autoridade que nele se exerce. Essa atmosfera grupal é entendida como o ânimo, disposição, tom emocional ou sentimento de bem-estar ou desconforto que se difunde no grupo. 
Com a Dinâmica de Grupo, os membros iram aprender que a atmosfera do grupo depende diretamente do tipo de liderança que nele se exerce. Sendo assim, modificar as atitudes coletivas ou produzir uma mudança social incide, na maioria das situações, na introdução de uma modelo de autoridade ou uma nova concepção do poder no interior da situação social que se quer fazer evoluir, ou seja, uma liderança mais democrática (LEWIN, 1994). 
Para Lewin (1994) as vantagens do tipo democrático de liderança foram evidenciadas em experimentos no ambiente industrial, demonstrando sua superioridade também no que tange à eficiência e eficácia dos grupos. Enquanto que, o modelo de liderança permissiva, ou laissez-faire, após incluída nos experimentos, manifestou-se, também menos vantajosa. Pode-se dizer que o tipo liderança, a questão da comunicação e o aprendizado da autenticidade, são elementos essenciais e decisivos para compreender a dinâmica de um grupo.
 O tópico seguinte traz uma discussão acerca da conjuntura histórica em que se formula a teoria da Dinâmica de Grupo e seu compromisso político-ideológico. A partir do nascimento da sociedade industrial capitalista, no século XIX, começam as primeiras formulações e condições necessárias à futura necessidade da Dinâmica de Grupo. Surgem as primeiras doutrinas sociológicas e políticas, e a distribuição do trabalho parcelado e a organização hierárquica da produção no contexto industrial, requerendo coordenação das ações dos indivíduos com base em uma cooperação mecânica. 
O ato do trabalho ao se tornar mais complexo e burocrático pelo taylorismo, no qual o movimento dos gestos produtores é calculado, medido, decidido em outro lugar, ou seja nos escritórios de estudos. Diante da consolidação do modo de produção capitalista em meio as contradições da burocracia, a qual concebia a racionalização da organização da empresa, passa a mostrar-se irracional, evidenciando que a função implica disfunções, ou seja, os inconvenientes e as insuficiências que o taylorismo acreditou poder sanar mediante uma racionalização, passa a ser consideradas como o ‘disfunções’ ligadas ao fator humano” (Fernández, 2006, p. 78). Frente as emergências da segunda metade do século XX nas ciências sociais, às burocracias industriais, emerge a sociologia industrial e a psicossociologia.
Os estudos da psicossociologia apresentam um conjunto de conhecimentos, cuja preocupação são os grupos humanos, que tem um de seus pontos de origem na demanda vinda da prática social empresarial, com particular localização nos Estados Unidos dos anos 20. Lewin apresenta três demandas sociais a que atende ao dispositivo grupal: manter e melhorar o nível de produção da grande empresa; operar sobre o consumo; e reforçar os ideais liberais-democráticos.
A partir dessas demandas sociais a Dinâmica de Grupo passa a vincular-se ao aumento da produtividade dos grupos e a redução de conflitos intergrupais presentes entre o trabalho e o capital, e entre grupos religiosos e étnicos, considerados como questões de interesse daqueles comprometidos com o “bem-estar social”. Entretanto, é observável nas proposições de Lewin, a ausência de uma teoria consistente de sociedade, ou, ainda, uma compreensão funcionalista da ordem social, conforme destaca Martin-Baró (2004, p. 28), que se funda em um consenso axiológico entre seus membros, no qual o conflito se constitua em uma situação anormal, e denote um mau funcionamento da ordem social.
Lewin defende os benefícios da estratégia de eliminar certos conflitos dentro do grupo, para tanto é preciso desenvolver procedimentos que criem uma atmosfera geral de cordialidade e cooperação, reduza o nível geral de emotividade, despolarize e despersonalize o conflito, alterando a percepção dos indivíduos; e construa uma decisão de grupo, para que as pessoas não sintam que estão a obedecer a uma decisão da autoridade. 
Segundo Kariel (1956) a Dinâmica de Grupo é uma ciência de meios, que instrumentaliza a modificação de padrões de comportamento de indivíduos e grupos à base da ideia de participação, neutralizando os fins perseguidos, assumidos como interesse universal. Lewin corrobora com o argumento, visto que caracteriza a experimentação com grupo como uma forma de administração social em que se dedica à comparação entre procedimentos individuais e de grupo visando a mudança da conduta social.
Nota-se que a Dinâmica de Grupo ocultar os aspectos estruturais da sociedade capitalista, ofusca os processos econômicos e relações de classe, conduzindo à despolitização da análise das dinâmicas grupais, e, a rigor, da própria noção de democracia. Embora, queiram focalizar na noção de participação como fundamental para a promoção do clima democrático nos grupos, sustentada pela interação interpessoal sensível e tolerante, de modo que os que estão no poder possam criar um clima democrático independentemente das relações de poder efetivamente vigentes no contexto. Portanto, a Dinâmica de Grupo ensina que modificações reais e duráveis do comportamento produzem-se “somente quando a informação recebida pode ser aceita, após uma discussão livre de qualquer pressão, após expressão de sentimentos negativos e ambivalentes em relação à informação, ao informador e ao grupo”, enfim, “quando o que era intelectual vem a ser transformado pela vivência do grupo” (SCHUTZENBERGER, 1967, p. 30)
Destarte, a Dinâmica de Grupo refere-se a um fenômeno global que se caracteriza, também pela intensificação da precarização do trabalho, explosão da informalidade, informatização e uma exigência cada vez maior nas habilidades cognitivas e socioemocionais dos trabalhadores. O artigo finaliza reafirmando que a Dinâmica de Grupo instrumentaliza processos de mudança com baixo nível de tensão, minimiza a resistência e despolitiza a noção de democracia, também coloca a mudança com recurso à promoção de relações sociais supostamente democrática, limitadas ao campo intersubjetivo da comunicação dentro do grupo. Reafirmado ainda que a participação, o procedimento da decisão de grupo, a expressão e aceitação de sentimentos estão vinculadas às demandas do capitalismo tardio.

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