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Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Psicologia Teorias e Técnicas de Grupo Thaís Barbosa Ribeiro - 11411PSI057 Ensaio de auto análise - Coordenação de oficina Uberlândia, novembro de 2017 O exercício da coordenação de oficina foi uma experiência que agora defino como interessante, porque embora eu não pretenda trabalhar com grupos, tenho a ciência de que a possibilidade de algum dia ter que vir a fazer isso, eventualmente, existe. Para além deste propósito utilitarista, digo que foi muito bom aprender sobre alguns “passos” desta atividade durante o momento com o grupo e também durante a supervisão, os aprendizados se deram tanto por auto-observação quanto por observação dos colegas e pelas pontuações trazidas por todos na supervisão. Do meu grupo de trabalho, eu fui quem ficou responsável por informar para a turma as instruções necessárias para a execução da atividade do desenvolvimento, uma das partes mais importantes do processo! E eu falhei no que diz respeito ao quesito “clareza” e “adequação”, porque escorreguei em palavras que fizeram muita diferença em relação ao nosso objetivo de comover as pessoas sobre as perdas da vida, em algum momento me percebi dizendo : “Agora peço que retirem da lista mais uma coisa que estão preparados para perder”, eu disse isso e já senti que algo havia saído dos trilhos e, na supervisão, quando o professor Emerson comentou sobre o peso da palavra “preparados” em uma oficina como a que coordenamos, que objetivava provocar nas pessoas uma reflexão sobre a perda, suas dores e inevitabilidade, eu realmente me dei conta do “poder da palavra” neste contexto e o quanto é preciso estar atenta a como elas saem da gente para chegarem ao outro ! Ter usado a palavra “preparados” mudou todo o rumo da oficina e as pessoas entraram na parte dos comentários fazendo reflexões totalmente diversas das que tínhamos imaginado que iriam aparecer, isso repercutiu também na parte do fechamento, porque de repente, o que tínhamos preparado, já não cabia, não fazia tanto sentido naquele espaço, naquela situação, com as pessoas dizendo aquelas coisas! O “timing das orientações” também foi algo que não saiu muito bem durante o desenvolvimento, porque eu fiquei observando as pessoas desenhando e escrevendo coisas em suas folhas e esperando o momento em que todas iam terminar e largar o lápis ou a caneta e esperar a próxima orientação, porém, meu plano deu errado! Algumas pessoas terminaram muito cedo, outras não terminavam nunca e eu pensava “Não vou apressar, não quero interromper, talvez esta pessoa esteja num momento muito íntimo e profundo” e enquanto isso, os que já tinham terminado começaram a mostrar a folha para o colega do lado e conversar… Ver essa dispersão do grupo e não saber o que fazer foi bastante incômodo para mim, eu fiquei perdida, sem saber como agir e no fim das contas levei um bom tempo para dizer que o tempo estava acabando, que eles precisavam terminar! No momento da supervisão o professor Emerson trouxe uma fala muito explicativa sobre esse momento e suas repercussões - enquanto eu não “cortava” as pessoas, para que finalizassem a produção, elas se dispersaram, elas dividiram com o colega do lado a angústia das perdas da vida e esta se tornou menos incômoda, logo, não houve ninguém desesperado ou realmente triste nos momentos dos comentários, nossa oficina que pretendia trazer a tona desconfortos, se tornou algo mais ou menos leve! Eu nunca vou esquecer disso, do ensinamento do professor para avisar que o tempo está acabando, para trazer as pessoas de volta para a atividade, porque o meu maior momento de desconforto nessa oficina foi esse, o de não saber o que fazer ante a demora do grupo e essa é uma “solução” simples e direta para levar para a vida! No que diz respeito ao “timing das orientações”, também houve um deslize do grupo no momento da entrega de material e de passar as instruções do que deveria ser feito, porque fizemos isso simultaneamente e mais tarde, na supervisão, percebemos que não foi o adequado, porque dificulta para as pessoas do grupo prestar atenção nas instruções! Bom, como tivemos algumas “pedras no caminho” durante o desenvolvimento, ao chegarmos na parte dos comentários, a oficina não saiu como desejamos e planejamos! Identificar a abertura das pessoas a conversar sobre o tema “perdas” ficou difícil, porque elas traziam a “perda” de uma forma diferente da que intencionamos, traziam a perda como uma experiência em que há uma ausência física de alguém, mas que apesar dessa ausência física, vive nas lembranças delas ou como a perda do velho que abre lugar para o novo, a perda como algo que fortalece, entre outras significações que não trago aqui porque não me marcaram tanto. Como estávamos nervosos e desajeitados por ser a nossa primeira coordenação de oficina, foi difícil acompanhar essa coisa nova que surgiu, inesperada, não planejada, foi difícil também identificar formas de entrar no assunto e convidar mais as pessoas para entrarem na conversa! Eu queria muito ter feito comentários junto ao grupo, porém, não o fiz porque achei que eles destoavam muito do que estava aparecendo.... Sobre a estrutura da oficina penso que ficou bom, que conseguimos conectar bem os aquecimentos com o desenvolvimento (porém os comentários e o fechamento saíram um pouco dos trilhos!), conseguimos também dar conta de distribuir as atividades de acordo com o tempo disponível e reconhecer a adequação da oficina ao momento do grupo, porque o tema que propomos tem muito a ver com toda a discussão que vem sendo indiretamente suscitada nas oficinas, sobre as sobrecargas da vida! Quanto à criatividade também acredito que cumprimos com o esperado, porque propomos para as pessoas que desenhassem e a nossa dinâmica do chocolate também foi atrativa (pelo que notamos nas expressões delas). A preparação do ambiente também cumpriu com o esperado, nos organizamos dias antes da oficina acontecer para que cada um levasse alguns materiais, afixamos aviso externo para que a oficina não fosse interrompida, escolhemos uma música instrumental e relaxante. Sobre a promoção de condições dialógicas, foi uma parte bem sucedida em termos, em alguns momentos sim, em outros não! Houve abertura para as pessoas se colocarem e falarem o que sentiram, houve acolhimento, nem tantas perguntas reflexivas e sensíveis e a conexão dos comentários do grupo durante o fechamento foi algo que deixou a desejar e que precisa melhorar na próxima... O entrosamento da equipe foi bom, trabalhamos desde a etapa de organização da oficina de maneira respeitosa e buscando ajudar uns aos outros, dividimos as funções, sugerimos coisas uns aos outros, cada um ficou responsável por um material necessário, foi algo que funcionou bem! Considero que a minha flexibilidade e desenvoltura não foram boas, me senti um pouco engessada, muito apegada à técnica, pouco espontânea! Me senti assim enquanto passava as instruções e não sabia bem quando interromper as pessoas, o que indica uma falta de conexão com o grupo… Preciso melhorar isso na próxima, porque essa minha falta de timing atrapalhou toda a oficina! Em relação a ética e cuidado com os participantes, creio que falhei, porque quando uma colega falou sobre a dor da perda de um celular e de um carro, dei risada junto com a turma! Depois, no momento de reflexão da supervisão, senti vergonha de mim por isso… porque é como diminuir a dor do outro e achar que ela “vale menos” diante da minha. Foi algo bem ruim, coisa que quero que se repita na minha trajetória… Considero que o meu grupo de trabalho se saiu bem, no geral e que essa primeira experiência foi de grande aprendizado, mais de aprendizado que de sucesso!
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