Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Toxicologia Conduta de urgência nas intoxicações INDRODUÇÃO A abordagem deve ser sistemática e padronizada, para evitar que se perca tempo ou se esqueça de algum passo importante. Na conduta de urgência, propõem-se os seguintes passos: Institui a terapia de emergência para manutenção da vida; Determina o diagnóstico clínico; Emprego do medicamento (antídoto) e recursos adequados; Determina a fonte de exposição para futuras prevenções; INSTRUÇÕES PRELIMINARES AO PROPRIETÁRIO Geralmente, a evolução do quadro clínico da intoxicação ocorre de forma aguda, fato que desperta atenção do proprietário, levando-o a procurar imediatamente assistência, muitas vezes por telefone. Neste momento, as perguntas e as instruções devem ser claras e tranquilas para que o tutor possa assimilá-las facilmente. O animal deve ser mantido aquecido, em local tranquilo, evitando qualquer estresse. A conversa deve ser iniciada com a tentativa de assegurar-se que, de fato, trata-se de um quadro de intoxicação. Para isso, deve-se perguntar ao proprietário: Presenciou o animal em contato com o tóxico? Qual produto? Qual via de exposição? Qual quantidade? Qual a sintomatologia? Há quanto tempo? Há outros animais com os mesmos sintomas? Neste momento inicial, o médico veterinário pode instruir o tutor sobre algumas medidas que podem manter ou melhorar as condições clínicas do animal intoxicado, até que seja possível a avaliação do animal pelo profissional. Exposição tópica ao agente: deve instruir a lavar a pele do animal com água corrente em abundância. Preferencialmente, a água deve ser fria ou morna para evitar a vasodilatação periférica que favorece a absorção do agente tóxico. Se o agente dor lipossolúvel deve ser recomendado o banho empregando sabões neutros para facilitar a sua remoção, tomando o cuidado de não esfregar ou massagear a área, pois isso pode aumentar a circulação sanguínea local e, consequentemente, a absorção dérmica do agente tóxico. O tutor também deve ser instruído a proteger-se usando vestimenta protetora impermeável (luvas, aventais e botas). Toxicologia Agente tóxico ingerido: o vômito nestes casos nem sempre é estimulado, pois há várias contraindicações. A administração de medicamentos por via oral, não deve ser realizada quando o animal estiver deprimido ou inconsciente, uma vez que a risco de aspiração, devido à redução ou ausência dos reflexos protetores da tosse. Se for possível o uso da via oral, o animal deve ter cesso a água à vontade (favorece a diluição do agente tóxico) ou, em alguns casos, administrar leite ou clara de ovo (efeito demulcente/protetor de mucosa). No entanto, não deve se desperdiçar tempo: o animal deve ser levado à clínica o mais rápido possível, ou o profissional deve ir até o animal. Se a opção for levar o animal até o profissional, o tutor deve ser instruído a levar o produto ou os materiais suspeitos e, se for o caso, também o vômito. Em alguns casos é mais apropriado o médico veterinário ir ao encontro do animal intoxicado. Por exemplo, se o animal entrou em contato com um agente tóxico convulsivante, o fato de submeter o animal ao estresse do transporte pode induzir o aparecimento de convulsões, agravando o quadro apresentado. MEDIDAS PRELIMINARES DE URGÊNCIA O aspecto mais importante do tratamento de urgência frente a um quadro de intoxicação é manter as funções vitais. Desta forma, deve-se certificar que as vias aéreas encontram-se desobstruídas, assegurando-se, desta forma, a manutenção da respiração e da função cardiovascular. Uma vez obtida à estabilização dos sinais vitais, pode-se dar andamento às medidas terapêuticas subsequentes. Para o bom atendimento das emergências de um quadro de intoxicação, é necessário dispor de equipamentos e materiais, que variam, evidentemente, de acordo com a disponibilidade econômica. Recomenda-se que o médico veterinário, tenha, no mínimo, ao seu dispor: Forquilha bucal; Sondas gástricas de diferentes tamanhos; Sonda endotraqueal; Peras; Instrumentos cirúrgicos; Cateter uretral; Seringas, agulhas; Recipiente para armazenar amostra. Respirador mecânico. Existem alguns carrinhos que possuem os materiais adequados para uma urgência. Toxicologia MEDIDAS PARA DIFICULTAR A ABSORÇÃO DO AGENTE TÓXICO Dificultar ou impedir a absorção adicional do tóxico é o fator de maior relevância nos quadros de intoxicação. Uma vez exposto ao tóxico, quanto mais rápido se intervir no sentido de prevenir a absorção, maior será a garantia de sucesso no tratamento do quadro de intoxicação. Medidas empregadas apara evitar a absorção do tóxico nas seguintes exposições: Cutânea: banho com água morna, sem esfregar, por pelo menos 15 minutos e recomenda-se o uso de sabão neutro caso a substância seja oleosa. O paciente deve ser enxaguado e seco, no entanto, não deve ser usado secador para não aquecer o local. Deve-se fazer o uso de proteção como luvas, avental e bota de borracha. Não é recomendável a tentativa de neutralizar substâncias ácidas ou alcalinas, por causa do risco de aumentar a gravidade da lesão (reações de neutralização podem produzir calor suficiente para danificar o tecido subjacente). Ocular: deve-se lavar o olho com a cabeça lateralizada de modo que o produto não escorra para o outro olho. A lavagem do olho acometido deve ser de 20 a 30 minutos. Esse procedimento pode ser iniciado pelo proprietário do animal ainda no domicílio, utilizando água limpa ou soro fisiológico. Inalatória: deve-se retirar o animal da fonte de contaminação e oferecer oxigênio e suporte ventilatório. Trata- se o broncoespasmo e o edema pulmonar, se necessário. Gastrointestinal: se a ingestão ocorreu recentemente, uma parte do tóxico pode estar ainda presente no estômago, contudo, se transcorreram uma ou mais horas após a intoxicação, provavelmente parte do agente tóxico atingiu também o intestino. No entanto, alguns agentes tóxicos, como o álcool, podem ser rapidamente absorvidos no estômago. Os métodos geralmente utilizados para impedir a absorção do agente tóxico presente no trato digestivo são: indução da êmese, lavagem gástrica, transformação do agente tóxico em uma forma não absorvível, uso de catárticos e eliminação direta do agente tóxico. INDUÇÃO DA ÊMESE Estudos não demostram a melhora significativa após o uso desta manobra. No entanto, é inquestionável que a obtenção do Toxicologia material emético pode ser de grande valia como amostra para ser submetida à análise toxicológica. A decisão do uso dessa manobra irá depender da experiência profissional, do agente tóxico ingerido e do tempo decorrido após a ingestão, com exceção das substâncias que retardam o esvaziamento gástrico como, como anticolinérgicos e barbitúricos. A êmese ocorre de forma mais eficiente quando a cavidade gástrica está repleta ou parcialmente repleta de sólidos e/ou líquidos. Para induzir a êmese pode-se usar: Apomorfina (difícil de encontrar hoje em dia); Xilazina IM ou SC efeito rápido; Os indutores abaixo devem ser utilizados no mínimo com 30 minutos de ingestão ou podem não funcionar: Peróxido de hidrogênio a 3% Xarope de ipeca Detergente neutro Xampu Johnson Cloreto de sódio Sulfato de cobre a 1% Contraindicações: Ingestão por mais de 60 minutos Ingestão de substâncias cáusticas Produto é volátil Animal apresentar convulsão Ingestão de substâncias depressoras no SNC Animal inconsciente ou severamente deprimido Agente tóxico é desconhecido. O vômito é indicado em detrimento à lavagem gástrica, por ser mais eficientena remoção do conteúdo estomacal e de fácil acesso e administração. LAVAGEM GÁSTRICA Existem controversas sobre e eficácia da lavagem gástrica, assim como da indução do vômito. Deve ser realizada em no máximo 1 a 2 horas após a ingestão do tóxico (5 a 10mL/Kg). Vantagens: Dilui as substâncias cáusticas; Remoção rápida do conteúdo gástrico (tubo). Desvantagens: Necessidade de anestesia geral Entubação orotraqueal Ineficaz para grandes volumes e partículas sólidas Risco de hipernatremia ou hiponatremia Recomendações gerais para a realização: o procedimento é feito com o animal inconsciente ou levemente anestesiado e Vômito com espuma. Animal sempre deve ser assistido Toxicologia com entubação orotraqueal. O paciente deve ficar em decúbito lateral esquerdo e com a posição da cabeça em um plano inferior à projeção do estômago. O calibre do tubo para a lavagem gástrica deve ser o maior possível (diâmetro da luz do esôfago) para facilitar a retirada do agente tóxico (exceto quando houver a ingestão de substância cáustica que fragiliza a parede do esôfago, podendo levar à ruptura do órgão) e não obstruir a sonda com o alimento contido no estômago. Antes de iniciar a colocação da sonda, deve estimar o comprimento a ser utilizado, para isso é medida a distância da narina até o apêndice xifoide. Em seguida, a sonda deve ser introduzida até a marca previamente feita. TRANSFORMAÇÃO EM AGENTE NÃO ABSORVÍVEL E USO DE CARVÃO ATIVADO Impedir a absorção do agente tóxico que não pode ser eliminado fisicamente do trato digestivo é um procedimento muito importante no tratamento da intoxicação. Neste sentido, dispõe-se de três opções: Formação de um precipitado ou complexo insolúvel: são usadas substâncias que podem evitar a dissolução de um agente tóxico ou formar um complexo insolúvel. Ionização: consiste na manipulação do pH, pois substâncias químicas ionizadas têm maior dificuldade de atravessar as barreiras celulares. Desta forma, pode- se modificar o pH do trato digestivo de tal forma que este permita que o agente tóxico permaneça na sua forma iônica, dificultando assim sua absorção pela mucosa gástrica ou intestinal. Adsorção: é feita através da captação física das moléculas do agente tóxico, que, aderidas ao adsorvente, não são Toxicologia absorvidas pela mucosa do trato digestivo, sendo eliminadas do organismo. De todos os adsorventes disponíveis, o mais eficaz contra uma ampla variedade de agentes tóxicos é o carvão ativado. Catárticos osmóticos: os medicamentos mais utilizados para favorecer a eliminação das fezes nos quadros de intoxicação são: sorbitol, manitol, sulfato de magnésio e sulfato de sódio. Estes catárticos têm absorção limitada e exercem força osmótica na luz intestinal, causando a retenção de líquidos dentro do trato intestinal. Catárticos à base de óleo vegetal não são indicados, pois diminuem a eficácia do carvão ativado e podem aumentar a absorção de alguns agentes tóxicos lipossolúveis, como, por exemplo, os praguicidas organofosforados. Enema ou Clister: forma medicamentosa que consiste na introdução de um líquido por via retal que, no caso da conduta de urgência nas intoxicações, é de evacuação. O líquido mais indicado é a água morna, entretanto sua eficácia depende de o agente tóxico ainda estar presente no intestino (não ter sido absorvido) e, em particular, nas últimas partes do intestino grosso, o qual é o local de atuação do enema. Eliminação direta: faz-se o uso de gastrotomia ou enterotomia para eliminação do agente tóxico que ainda não foi absorvido. São raras as situações em que se faz necessário o uso de cirurgias para retirar agentes tóxicos do trato gastrointestinal, como, por exemplo, durante a ingestão de metais (moedas, porcas de parafusos e etc) ou grande quantidade de substâncias que formam uma massa coalescente. Embora seja efetivo, este procedimento deve ser reservado quando há falha de outros meios utilizados. A endoscopia gástrica pode ser uma alternativa mais segura que a gastrotomia em algumas situações. MEDIDAS PARA ELIMINAR O TÓXICO ABSORVIDO Toxicologia Geralmente são eliminados pela via renal, uma vez que o rim é a principal via de eliminação, mas também pode ser excretados pela via biliar (sendo eliminados nas fezes) e pela via pulmonar. Pode se utilizar para eliminação renal diuréticos ou através da alteração do pH da urina. O uso desses procedimentos necessita da integridade da função renal e de que o animal esteja hidratado. Os diuréticos de escolha são o manitol e a furosemida, por possuírem potente ação. Muitos agentes tóxicos são ácidos ou bases fracas. Portanto, modificações do pH da urina podem favorecer a eliminação desses agentes tóxicos, devido ao aumento da parte ionizada do agente tóxico e da redução de sua reabsorção nos túbulos renais. A acidificação pode ser útil para a remoção de bases fracas, é utilizado o cloreto de amônio. A alcalinização da urina é indicada nos casos de intoxicações por ácidos fracos. Para alcalinizar recomenda-se o uso do bicarbonato de sódio. DIÁLISE Este termo refere-se ao movimento de um agente por meio de uma membrana semipermeável. Usa-se agente tóxico de baixo peso molecular, solúvel em água e baixa ligação com proteínas, no entanto, está técnica possui alto custo e risco.
Compartilhar