Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Doenças transmitidas por protozoários I APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, serão abordadas três doenças transmitidas por protozoários: malária, toxoplasmose e doença de Chagas. Você conhecerá as particularidades da transmissão de cada uma delas, assim como as formas de tratamento e prevenção. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir as doenças causadas por protozoários, especificamente: malária, toxoplasmose e doença de Chagas. • Listar as principais manifestações destas doenças no ser humano.• Caracterizar as formas de transmissão, tratamento e prevenção a estas patologias.• DESAFIO A malária é uma doença parasitária, causada por um dos quatro tipos de Plasmodium, um protozoário que infecta o homem através da picada da fêmea do mosquito Anopheles. Após a picada, os parasitas chegam ao fígado onde se multiplicam, invadem a corrente sanguínea e causam destruição dos glóbulos vermelhos. Não existe vacina para prevenção da doença, e o tratamento com antimaláricos deve ser iniciado tão logo tenha-se confirmação da doença. Seu desafio será criar orientações para serem repassadas à população de uma área endêmica no Norte brasileiro. Utilizando imagens, gravuras, frases, diagramas, em uma página, você deverá elaborar orientações acerca das características da doença e formas de prevenção. Seja criativo! INFOGRÁFICO O Infográfico apresenta os vetores dos protozoários que afetam o sangue, alguns tecidos e órgãos do corpo humano, em destaque: CONTEÚDO DO LIVRO As principais características das doenças transmitidas por protozoários - malária, toxoplasmose e doença de Chagas - estão no Capítulo 52 ("Protozoários do sangue e do tecido") do livro Microbiologia médica e imunologia. Você encontrará também as formas de transmissão, tratamento e prevenção dessas doenças nos tópicos "Plasmodium", "Toxoplasma", "Pneumocystis" e "Trypanosoma". Boa leitura. Revisão técnica desta edição Flávio Guimarães da Fonseca Professor adjunto do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Subcoordenador do Curso de Pós-graduação em Microbiologia da UFMG. Doutor em Microbiologia pela UFMG. Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 L665m Levinson, Warren. Microbiologia médica e imunologia [recurso eletrônico] / Warren Levinson ; [tradução: Bárbara Resende Quinan ... et al.] ; revisão técnica: Flávio Guimarães da Fonseca. – 12. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8055-390-1 1. Microbiologia médica. 2. Imunologia. I. Título. CDU 579.61 Bárbara Resende Quinan (Capítulos 38 a 40, 42 e 46) Pesquisadora P.D. do Centro de Pesquisas René Rachou – FIOCRUZ. Doutora em Microbiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Edel Figueiredo Barbosa Stancioli (Capítulos 37, 41, 43 a 45) Professora associada do Departamento de Microbiologia da UFMG. Doutora em Microbiologia pela UFMG. Flaviano dos Santos Martins (Capítulos 14 a 27) Professor adjunto do Departamento de Microbiologia da UFMG. Doutor em Microbiologia pela UFMG. Flávio Guimarães da Fonseca (Iniciais, Capítulos 57 a 68, Parte IX) Professor adjunto do Departamento de Microbiologia da UFMG. Subcoordenador do Curso de Pós-graduação em Microbiologia da UFMG. Doutor em Microbiologia pela UFMG. Gabriel Magno de Freitas Almeida (Capítulos 28 a 36 e 69, Partes XII, XIII) Pesquisador P.D. do Departamento de Microbiologia da UFMG. Doutor em Microbiologia pela UFMG. Jônatas Santos Abrahão (Capítulos 1 a 13) Professor adjunto do Departamento de Microbiologia da UFMG. Doutor em Microbiologia pela UFMG. Luiz Henrique Rosa (Capítulos 47 a 56, Partes X, XI) Professor adjunto do Departamento de Microbiologia da UFMG. Doutor em Microbiologia pela UFMG. Tânia Murta Apolinário (Índice) Pesquisadora P.D. do Departamento de Microbiologia da UFMG. Doutora em Microbiologia pela UFMG. Equipe de tradução INTRODUÇÃO Os organismos de importância médica nessa categoria de pro- tozoários consistem nos esporozoários Plasmodium e Toxoplas- ma e nos flagelados Trypanosoma e Leishmania. Pneumocystis é discutido neste livro como um protozoário, pois é considerado como tal do ponto de vista médico. Entretanto, dados molecula- res indicam que Pneumocystis está relacionado a leveduras, como Saccharomyces cerevisiae. A Tabela 51-2 resume as várias caracte- rísticas desses protozoários do sangue e do tecido. Os estágios de importância médica no ciclo de vida dos pro- tozoários do sangue e do tecido são descritos na Tabela 52-1. PLASMODIUM Doença A malária é causada por quatro plasmódios: Plasmodium vivax, Plasmodium ovale, Plasmodium malariae e Plasmodium falcipa- rum. P. vivax e P. falciparum são os plasmódios que causam ma- lária com mais frequência, em comparação com P. ovale e P. ma- lariae. Mundialmente, a malária é uma das doenças infecciosas mais comuns e pode levar à morte. Características importantes O ciclo de vida de espécies de Plasmodium é apresentado na Fi- gura 52-1. O vetor e hospedeiro definitivo para os plasmódios é a fêmea do mosquito Anopheles (somente a fêmea suga sangue). Existem duas fases no ciclo de vida: o ciclo sexuado, que ocorre principalmente nos mosquitos, e o ciclo assexuado, que ocorre nos humanos, os hospedeiros intermediários. 1 O ciclo sexuado é denominado esporogônico, pois são pro- duzidos esporozoítos (o ciclo esporogônico está representado pela letra C na Figura 52-1), e o ciclo de vida assexuado é deno- minado esquizogônico, devido à produção dos esquizontes. O ciclo de vida em humanos inicia com a introdução de es- porozoítos no sangue por meio da saliva do mosquito, ao picar. Os esporozoítos são absorvidos pelos hepatócitos em 30 minutos. Essa fase “exoeritrocítica” (representada pela letra A na Figura 52-1) consiste na multiplicação e diferenciação da célula em me- rozoítos. P. vivax e P. ovale produzem uma forma latente (hipno- zoíto) no fígado; essa forma é a causa das recidivas observadas na malária vivax e ovale. Os merozoítos são liberados das células hepáticas e infectam as hemácias. Durante a fase eritrocítica (representada pela letra B na Figura 52-1), o organismo diferencia-se em um trofozoíto em forma de anel (Figuras 52-2A e B, e 52-3). A forma de anel de- senvolve-se em uma forma ameboide e então se diferencia em um esquizonte repleto de merozoítos (Figura 52-2C). Após a liberação, os merozoítos infectam outras hemácias. Esse ciclo repete-se em intervalos regulares típicos para cada espécie. O período de libera- ção de merozoítos causa os característicos sintomas recorrentes de calafrios, febre e sudorese observados em pacientes com malária. O ciclo sexuado inicia nas hemácias de humanos quando al- guns merozoítos se desenvolvem em gametócitos masculinos e femininos (Figuras 52-2D a F, 52-4, e Etapa 7 na Figura 52-1). As hemácias que contêm o gametócito são ingeridos pela fêmea do mosquito Anopheles e, no seu intestino, produzem um macroga- meta feminino e oito microgametas masculinos. Após a fertiliza- 1 O ciclo sexuado é iniciado em humanos com a formação do gametócito no interior das hemácias (gametogonia) e completado nos mosquitos com a fu- são dos gametas masculinos e femininos, formação do oocisto e produção de muitos esporozoítos (esporogonia). Protozoários do Sangue e do Tecido52 Introdução Plasmodium Toxoplasma Pneumocystis Trypanosoma Leishmania Questões para autoavaliação Resumos dos organismos Questões práticas CO N T E Ú D O D O C A P Í T U LO C A P Í T U L O Imagens das lesões realçadas em cor de laranja podem ser visualizadas na Galeria de Imagem disponível em http://www.langetextbooks.com/levinson/ gallery/. CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e do Tecido 409 ção, o zigoto diploide diferencia-se em um oocineto móvel que penetra na parede do intestino, onde se desenvolve em umoocis- to, no interior do qual muitos esporozoítos haploides são produ- zidos. Os esporozoítos são liberados e migram para as glândulas salivares, prontos para completar o ciclo assim que o mosquito se alimentar de sangue novamente. Uma característica muito importante do P. falciparum é a resistência à cloroquina. Linhagens resistentes à cloroquina pre- dominam na maioria das áreas do mundo onde a malária é endê- mica. A resistência à cloroquina é mediada por uma mutação no gene que codifica o transportador de cloroquina na membrana celular do organismo. Patogênese e epidemiologia A maioria dos achados patológicos da malária resulta da destrui- ção das hemácias. As hemácias são destruídas tanto pela libera- ção dos merozoítos quanto pela ação do baço que sequestra e lisa hemácias infectadas. O aumento característico do baço pela ma- lária é devido à congestão de sinusoides com hemácias, associado à hiperplasia de linfócitos e macrófagos. A malária causada pelo P. falciparum é mais grave quando comparada à causada por outros plasmódios. Ela é caracterizada pela infecção de mais hemácias em comparação com as outras espécies de malária e pela oclusão dos capilares com agregados de hemácias parasitadas. Isso leva a hemorragia e necrose poten- cialmente fatais, particularmente no encéfalo (malária cerebral). Além disso, pode ocorrer hemólise extensiva e danos aos rins, re- sultando em hemoglobinúria. A cor escura da urina dos pacien- tes deu origem ao termo “febre da água negra”. A hemoglobinúria pode levar à insuficiência renal aguda. O tempo do ciclo de febre é de 72 horas para P. malariae e de 48 horas para os outros plasmódios. A doença causada por P. malariae é chamada malária quartã, pois a febre ocorre a cada quatro dias, enquanto a malária causada pelos outros plasmódios é chamada de malária terçã, pois a febre ocorre a cada três dias. A malária terçã é subdivida em maligna, causada por P. falciparum, e benigna, causada por P. vivax e P. ovale. P. falciparum causa um alto nível de parasitemia, pois pode infectar hemácias em todos os seus estágios. Em contrapartida, P. vivax infecta somente reticulócitos e P. malariae infecta apenas hemácias desenvolvidas; entretanto, eles produzem níveis mais baixos de parasitas no sangue. Indivíduos com genes relaciona- dos à anemia falciforme, mas cuja doença não é ativa (hetero- zigotos), estão protegidos contra malária, pois suas hemácias possuem baixa atividade da ATPase e não produzem energia suficiente para suportar o crescimento do parasita. Pessoas com anemia falciforme ativa (homozigotos) também estão protegidos, mas raramente sobrevivem o bastante para obter esse benefício. O receptor para P. vivax é o antígeno de grupo sanguíneo Duffy. Indivíduos homozigotos recessivos para o gene que co- difica essa proteína são resistentes à infecção por P. vivax. Mais TABELA 52-1 Estágios de importância médica no ciclo de vida de protozoários do sangue e do tecido Organismo Inseto-vetor Estágio em que infecta humanos Estágio(s) em humanos mais associado(s) à doença Estágio(s) importante(s) fora dos humanos Plasmodium Mosquito fêmea (Anopheles) Esporozoíto na saliva do mosquito Trofozoítos e merozoítos em hemácias Mosquito ingere gametócitos → fusão para formar o zigoto → oocineto → esporozoítos Toxoplasma Nenhum Cistos em tecido (pseudo- cistos) em carne mal- -cozida ou oocistos em fezes de gatos Trofozoítos que se multiplicam rapi- damente (taquizoítos) no interior de vários tipos de células; os taqui- zoítos podem atravessar a placenta e infectar o feto; trofozoítos que se multiplicam lentamente (bradizoí- tos) em tecidos com cistos Gato ingere cistos dos tecidos contendo bradizoítos → gametas → oocineto → oocistos nas fezes Pneumocystis Nenhum Incerto; provavelmente cistos Cistos Nenhum conhecido Trypanosoma cruzi Barbeiro (Triatoma) Formas tripomastigotas nas fezes do barbeiro Formas amastigotas no músculo car- díaco e nos neurônios Inseto ingere formas tripomasti- gotas no sangue humano → epimastigotas → tripomas- tigotas Trypanosoma gambiense e T. rhodesiense Mosca-tsé-tsé (Glossina) Formas tripomastigotas na saliva da mosca Formas tripomastigotas no sangue e no encéfalo Mosca ingere formas tripomas- tigotas no sangue humano→ epimastigotas → tripomas- tigotas Leishmania donovani Flebotomíneos (Phlebotomus e Lutzomyia) Formas promastigotas na saliva do mosquito Formas amastigotas em macrófagos no baço, no fígado e na medula óssea Mosca ingere macrófagos contendo amastigotas → promastigotas Leishmania tropica e outros Flebotomíneos (Phlebotomus e Lutzomyia) Formas promastigotas na saliva do mosquito Formas amastigotas em macrófagos na pele Mosca ingere macrófagos contendo amastigotas → promastigotas 410 PARTE VI Parasitologia de 90% dos africanos ocidentais e muitos de seus descendentes norte-americanos não produzem o antígeno Duffy e são, por isso, resistentes à malária vivax. Pessoas com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) também estão protegidas contra os efeitos graves da ma- lária falciparum. A deficiência de G6PD é uma hemoglobinopatia ligada ao X encontrada em alta frequência em áreas tropicais onde a malária é endêmica. Indivíduos dos sexos masculino e feminino carreadores do gene mutado estão protegidos contra malária. A malária é transmitida principalmente pela picada do mos- quito, mas também pode ocorrer transmissão através da placen- ta, por transfusões de sangue e pelo uso de drogas intravenosas. A imunidade parcial baseada em anticorpos humorais que blo- queiam a invasão das hemácias por merozoítos ocorre em indiví- duos infectados. Como resultado, há um baixo nível de parasitemia e sintomas brandos; essa condição é conhecida como premonição. Em contrapartida, um indivíduo não imune, como um viajante pre- sente pela primeira vez em uma área onde a malária falciparum é endêmica, está em risco de doença grave e potencialmente fatal. Mais de 200 milhões de pessoas no mundo têm malária e mais de 1 milhão morrem a cada ano, o que faz da malária a doença in- fecciosa letal mais comum. Isso ocorre principalmente em regiões tropicais e subtropicais, especialmente na Ásia, África e Américas Central e do Sul. A malária nos Estados Unidos é diagnosticada em norte-americanos que viajam para áreas de infecção endêmica sem quimioprofilaxia adequada e em imigrantes de áreas de infecções endêmicas. A malária não é endêmica nos Estados Unidos. Certas áreas no Sudeste Asiático, América do Sul e África Oriental são par- ticularmente afetadas pelas linhagens de P. falciparum resistentes à cloroquina. Indivíduos que viveram em ou viajaram para áreas onde ocorre a malária devem procurar atendimento médico no caso de doença febril até três anos após a saída das áreas endêmicas. Malária (espécies de Plasmodium) LEGENDA Estágio infectante Estágio de diagnóstico Os mosquitos sugam sangue (injeção de esporozoítos) Estágios no fígado humano Ciclo exoeritrocítico Célula hepática Célula hepática infectada EsquizonteRuptura do esquizonte e liberação dos merozoítos Estágios no sangue humano Ciclo eritrocítico Trofozoíto imaturo (estágio em anel) Trofozoíto maduro Esquizonte Ruptura do esquizonte Gametócitos Gametócitos P. falciparum P. vivax P. ovale P. malariae Mosquito suga o sangue (ingestão dos gametócitos) Estágios no mosquito Ciclo esporogônico Macrogametócito Microgametócito exflagelado Microgameta penetrando no macrogametócito Oocineto Oocisto Ruptura do oocisto Liberação dos esporozoítos FIGURA 52-1 Espécies de Plasmodium. Ciclo de vida. O lado direito da figura descreve os estágios no interior de humanos (setas roxas). O ciclo A (à direita, na parte superior) é o estágio exoeritrocítico que ocorre no fígado. O ciclo B (à direita, na parte inferior) é o estágio eritrocítico que ocorre nas hemácias. O lado esquerdo da figuradescreve os estágios no interior do mosquito (setas vermelhas). Os humanos são infecta- dos na Etapa 1, quando o mosquito injeta esporozoítos. O mosquito é infectado na Etapa 8, quando ingere gametócitos presentes no sangue humano. (Fonte: CDC/Dr. Alexander J. da Silva e Melanie Moser.) CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e do Tecido 411 Achados clínicos A malária apresenta, como primeiros sintomas, febre abrupta e calafrios, acompanhados de dor de cabeça, mialgias e artralgias, cerca de duas semanas após a picada do mosquito. A febre pode ser contínua durante a doença; o típico ciclo periódico não se desenvolve por vários dias após os primeiros sintomas. O pico de febre, que pode chegar a 41°C, é frequentemente acompanhado por calafrios, náusea, vômito e dores abdominais. A febre é segui- da por sudorese. Os pacientes geralmente se sentem bem entre os episódios febris. A esplenomegalia é observada na maioria dos pacientes e a hepatomegalia ocorre em cerca de um terço deles. A anemia é proeminente. A malária não tratada causada por P. falciparum é poten- cialmente fatal como resultado de danos extensivos ao encéfa- los (malária cerebral) e ao rim (febre da água negra). A malária causada pelos outros três plasmódios é geralmente autolimitada, com uma baixa taxa de mortalidade. Entretanto, recidivas de ma- lárias causadas por P. vivax e P. ovale podem ocorrer vários anos após a doença inicial como resultado de hipnozoítos latentes pre- sentes no fígado. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico baseia-se no exame microscópico do sangue, utili- zando esfregaços em gota espessa e fina, em corante de Giemsa. A gota espessa é utilizada para triar a presença dos organismos e a gota fina é utilizada para a identificação das espécies. É importan- te identificar a espécie, pois o tratamento das diferentes espécies pode variar. Os trofozoítos em forma de anel podem ser obser- vados no interior das hemácias infectadas (Figura 52-3). Os ga- metócitos de P. falciparum apresentam forma de quarto-crescente (“forma de banana”), enquanto os outros plasmódios são esféricos (Figura 52-2F). Se mais de 5% das hemácias estiverem parasitadas, o diagnóstico é geralmente de malária causada por P. falciparum. Caso os esfregaços sanguíneos não revelem o resultado, en- tão um teste baseado na PCR para ácidos nucleicos de Plasmo- dium ou um teste de Elisa para uma proteína específica para P. falciparum pode ser útil. Tratamento A cloroquina é o fármaco de escolha para a malária aguda causa- da por linhagens sensíveis. A cloroquina mata os merozoítos, re- duzindo a parasitemia, mas não afeta os hipnozoítos de P. vivax e P. ovale no fígado. Estes são mortos pela primaquina, a qual deve ser utilizada para prevenir recidivas. A primaquina pode induzir hemólise grave em indivíduos com deficiência de G6PD, assim, testes para essa enzima devem ser realizados antes da utilização do fármaco. A primaquina não deve ser administrada se o pa- ciente tiver deficiência de G6PD. Em áreas onde ocorrem linhagens resistentes à cloroquina, o fármaco de escolha é o Malarone, que é uma combinação de atovaquona e proguanil. Linhagens resistentes de P. falciparum para cloroquina e mefloquina têm surgido em alguns países (p. ex., Tailândia). Em casos graves, especialmente de malária falcí- parum, a administração intravenosa tanto de quinidina (ou qui- nina) além de outro fármaco antimalárico, como doxicliclina ou clindamicina, deve ser adotada. Nos Estados Unidos, a quinidina é disponível, mas a quinina não. A B C D E F G H FIGURA 52-2 A: Trofozoíto em anel de sinete de Plasmodium vivax no interior de uma hemácia. B: Trofozoíto ameboide de Plasmodium vivax no interior de uma hemácia, mostrando os pontos de Schüffner. C: Esquizonte maduro de Plasmodium vivax com merozoítos internos. D: Microgametó- cito de Plasmodium vivax. E: Macrogametócito de Plasmodium vivax. F: Gametócito “em forma de banana” de Plasmodium falciparum associado a uma hemácia-fantasma. G: Trofozoítos de Toxoplasma gondii no interior do macrófago. H: Cistos de Pneumocystis jiroveci. (A a G, aumento de 1.200 ×; H, aumento de 800 ×.) 412 PARTE VI Parasitologia Fora dos Estados Unidos, as artemisininas, como artesunato ou arteméter, são amplamente utilizadas em combinação com ou- tros fármacos antimaláricos. Nos Estados Unidos, uma combinação de arteméter e lumefantrina (Coartem) está disponível para o tra- tamento para malária causada por P. falciparum. As artemisininas não são caras, têm poucos efeitos colaterais, e a maioria dos plas- módios não desenvolveu resistência a esses fármacos. A resistência ao artesunato vem surgindo em algumas linhagens de P. falciparum no Sudeste Asiático (p. ex., Camboja, Mianmar e Tailândia). Prevenção A quimioprofilaxia da malária para viajantes a áreas onde o P. falciparum resistente à cloroquina é endêmico consiste na meflo- quina e doxiciclina. Uma combinação de atovaquona e proguanil (Malarone), em doses fixas, também pode ser administrada. A cloroquina deve ser utilizada em áreas onde o P. falciparum é sen- sível ao fármaco. Indivíduos que viajam a áreas onde os outros três plasmódios são encontrados devem iniciar a administração de cloroquina duas semanas antes da chegada à área endêmica e continuar o tratamento seis semanas após a partida do local, o que deve ser seguido por duas semanas com o uso de primaquina se a exposição tiver sido alta. A primaquina matará os hipnozoí- tos de P. vivax e P. ovale. Outras medidas preventivas incluem o uso de redes do tipo “mosquiteiro”, telas nas janelas, roupas protetoras e repelentes de insetos. Os mosquitos alimentam-se do fim do dia ao amanhecer, assim, a proteção é particularmente importante durante a noi- te. Medidas preventivas comuns são direcionadas à redução da população de mosquitos. Muitos aerossóis inseticidas, como o DDT, não são duradouros, pois os mosquitos desenvolveram re- sistência. A drenagem de água parada em pântanos e valas reduz as áreas de reprodução. Não há vacina disponível. TOXOPLASMA Doença Toxoplasma gondii causa a toxoplasmose, incluindo a toxoplas- mose congênita. Características importantes O ciclo de vida do Toxoplasma gondii é apresentado na Figura 52-5. O hospedeiro definitivo é o gato doméstico e outros fe- linos; humanos e outros mamíferos são hospedeiros interme- diários. A infecção em humanos inicia com a ingestão de cistos presentes em carne malpassada ou pelo contato com as fezes de gatos. No intestino delgado, a ruptura dos cistos libera formas que invadem a parede do intestino, onde eles são ingeridos pelos macrófagos e diferenciam-se em trofozoítos com multiplicação rápida (taquizoítos), os quais matam as células e infectam outras células (Figuras 52-2G e 52-6). A imunidade mediada por célu- las geralmente limita a dispersão dos taquizoítos e os parasitas entram nas células dos hospedeiros no encéfalo, no músculo e em outros tecidos, onde eles se desenvolvem em cistos em que o parasita multiplica-se lentamente. Essas formas são chamadas bradizoítos. Esses cistos teciduais são uma característica impor- tante para o diagnóstico e uma fonte de organismos quando o cisto do tecido se rompe em um paciente imunocomprometido. O ciclo no interior do gato inicia com a ingestão dos cistos na carne crua (p. ex., ratos). Os bradizoítos são liberados dos cistos no intestino delgado, infectam as células mucosas e diferenciam-se em gametócitos masculinos e femininos, cujos gametas se fundem para formar os oocistos que são excretados nas fezes do gato. O ciclo é completado quando o solo contaminado com fezes de gato é aci- dentalmente ingerido. A infecção humana geralmente ocorre por meio da alimentação de carne malpassada (p. ex., cordeiro e porco) de animais que pastaram em solo contaminado com fezes de gatos. FIGURA 52-3 Plasmodium falciparum – trofozoíto em forma de anel. A seta longa indica uma hemácia contendo um trofozoíto em forma de anel.A cabeça de seta indica uma hemácia contendo quatro trofozoítos em for- ma de anel. Observa-se a alta porcentagem de hemácias contendo forma de anel. Esse alto nível de parasitemia é mais frequentemente observado em infecções de Plasmodium falciparum que em outras infecções de plas- módios. (Figura cortesia do Dr. S. Glenn, Public Health Image Library, CDC.) FIGURA 52-4 Plasmodium falciparum – gametócito. A seta indica um gametócito de Plasmodium falciparum “em forma de banana”. (Fi- gura cortesia do Dr. S. Glenn, Public Health Image Library, CDC.) Imagens das lesões realçadas em cor de laranja podem ser visualizadas na Galeria de Imagem disponível em http://www.langetextbooks.com/levinson/ gallery/. 414 PARTE VI Parasitologia para outros órgãos, especialmente para o encéfalo, os pulmões, o fígado e os olhos. A progressão da infecção é geralmente limitada pelo sistema imune competente. A imunidade mediada por cé- lulas exerce o principal papel, mas os anticorpos circulantes au- mentam a chance de eliminação do organismo. A maioria das in- fecções iniciais é assintomática. Quando contidos, os organismos persistem como cistos no interior dos tecidos. Não há inflamação e o indivíduo permanece bem, a menos que uma imunossupres- são permita a ativação dos organismos no interior dos cistos. A infecção congênita do feto ocorre somente quando a mãe é infectada na gravidez. Se ela for infectada antes da gravidez, o or- ganismo estará na forma de cisto e não haverá nenhum trofozoíto para passar através da placenta. A mãe que é reinfectada durante a gravidez, mas que tem imunidade devida a uma infecção prévia, não irá transmitir o organismo para seu filho. Cerca de um terço das mães infectadas durante a gravidez dá à luz a crianças infecta- das, mas somente 10% dessas crianças são sintomáticas. A infecção por T. gondii ocorre mundialmente. Pesquisas soro- lógicas revelam que nos Estados Unidos anticorpos são encontra- dos em 5 a 50% das pessoas em várias regiões. A infecção é geral- mente esporádica, mas surtos associados à ingestão de carne crua ou água contaminada ocorrem. Aproximadamente 1% dos gatos domésticos nos Estados Unidos dissemina cistos de Toxoplasma. Achados clínicos A maioria das infecções primárias em adultos imunocompeten- tes é assintomática, mas algumas se assemelham à mononucleose infecciosa, com a exceção de que o teste do anticorpo heterófilo é negativo. A infecção congênita pode resultar em aborto, natimor- to ou doença neonatal com encefalite, coriorretinite e hepatos- plenomegalia. Febre, icterícia e calcificações intracraniais tam- bém são observadas. A maioria dos recém-nascidos infectados é assintomática, mas coriorretinite ou retardo mental se desenvol- verá em algumas crianças após meses ou anos. A infecção con- gênita com Toxoplasma é uma das principais causas de cegueira em crianças. Em pacientes com imunidade celular reduzida (p. ex., pacientes com Aids), ocorre a doença disseminada (princi- palmente encefalite) com risco de morte. Diagnóstico laboratorial Para o diagnóstico das infecções agudas congênitas, um ensaio de imunofluorescência para anticorpos IgM é realizado. A IgM é utilizada para diagnosticar a infecção congênita, pois IgG pode ter uma origem materna. Testes de anticorpo IgG podem ser utili- zados para o diagnóstico de infecções agudas se um aumento sig- nificativo do título de anticorpos for observado no soro pareado. O exame microscópico de preparações com corante de Giemsa mostra trofozoítos em forma de quarto-crescente duran- te as infecções agudas. Os cistos podem ser observados no tecido. O organismo pode ser cultivado em cultura de célula. A inocula- ção em camundongos pode confirmar o diagnóstico. Tratamento A toxoplasmose congênita, sintomática ou assintomática, deve ser tratada com a combinação de sulfadiazina e pirimetamina. Esses fármacos também representam o tratamento de escolha para a doença disseminada em pacientes imunocomprometidos. A toxoplasmose aguda em um indivíduo imunocompetente é ge- ralmente autolimitada, mas qualquer paciente com coriorretinite deve ser tratado. Prevenção A forma mais efetiva de prevenir a toxoplasmose é cozinhar bem as carnes para matar os cistos. As mulheres grávidas devem ser especialmente cuidadosas, evitando carnes malpassadas e conta- to com gatos. Elas devem evitar o manuseio de caixas de areia de gatos, e os animais não devem ser alimentados com carne crua. PNEUMOCYSTIS Doença Pneumocystis jiroveci é uma importante causa de pneumonia em indivíduos imunocomprometidos. Em 2002, taxonomistas reno- mearam a espécie de Pneumocystis que acomete humanos como P. jiroveci e recomendaram que P. carinii seja utilizado somente para descrever as espécies de Pneumocystis que acometem ratos. Características importantes A classificação e o ciclo de vida do Pneumocystis não são claros. Mui- tos aspectos da sua bioquímica indica que o organismo é uma leve- dura, mas ele também possui várias características de um protozoá- rio. Uma análise de sequências do rRNA, publicada em 1988, indica que Pneumocystis deve ser classificado como um fungo relacionado a leveduras como Saccharomyces cerevisiae. Uma análise subsequen- te do DNA mitocondrial e de várias enzimas suporta a ideia de que Pneumocystis é um fungo. No entanto, ele não apresenta ergosterol em suas membranas, como os fungos. Ele apresenta colesterol. Clinicamente, o organismo é tratado como um protozoário. No tecido, ele aparece como um cisto que se assemelha a cistos FIGURA 52-6 Toxoplasma gondii – taquizoítos. A seta indica um ta- quizoíto de Toxoplasma gondii no músculo cardíaco. (Figura cortesia do Dr. E. Ewing, Jr., Public Health Imagem Library, CDC.) Imagens das lesões realçadas em cor de laranja podem ser visualizadas na Galeria de Imagem disponível em http://www.langetextbooks.com/levinson/ gallery/. CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e do Tecido 415 de protozoários (Figuras 52-2H e 52-7). As descobertas de que ele não cresce em meios de cultura para fungos e de que fárma- cos antifúngicos não são efetivos têm atrasado a aceitação de sua classificação como fungo. As espécies de Pneumocystis são encontradas em animais domésticos como cavalos e ovelhas e em uma variedade de roe- dores, mas esses animais não são considerados reservatórios para infecções humanas. Cada espécie de mamífero possui sua própria espécie de Pneumocystis. As espécies de Pneumocystis possuem uma glicoproteína principal de superfície que exibe uma variação antigênica sig- nificativa, de maneira similar ao que ocorre com Trypanosoma brucei. As espécies de Pneumocystis têm múltiplos genes codi- ficadores dessas proteínas de superfície, mas somente um é ex- presso em um determinado momento. Esse processo de rearranjo programado foi primeiramente observado em T. brucei. Patogênese e epidemiologia A transmissão ocorre por inalação e a infecção é predominante nos pulmões. A presença de cistos nos alvéolos induz uma respos- ta inflamatória consistindo principalmente em células plasmáticas, resultando em um exsudato espumoso que bloqueia a troca de oxi- gênio. (A presença de células plasmáticas dá nome à “pneumonia de células plasmáticas.”) O organismo não invade o tecido pulmonar. A pneumonia ocorre quando as defesas do hospedeiro (p. ex., o número de células T [auxiliares] CD4-positivas) são redu- zidas. Isso explica a proeminência de Pneumocystis em pacientes com Aids e em crianças prematuras ou debilitadas. Surtos hos- pitalares não ocorrem, e pacientes com pneumonia por Pneu- mocystis não são isolados. P. jiroveci tem distribuição mundial. Estima-se que 70% das pessoas tenham sido infectadas. A maioria das crianças com mais de cinco anos de idade nos Estados Unidos possui anticor- pos para esse organismo. As infecções assintomáticas são muito comuns. Antes do advento da terapia imunossupressora, a pneu- monia por Pneumocystis foi raramente observadanos Estados Unidos. Sua incidência tem relação com o aumento da imunos- supressão e com o número de casos de Aids. A maioria das infecções de Pneumocystis em pacientes com Aids é recente quando comparada a uma reativação de infecções latentes. Essa conclusão é baseada na descoberta de que Pneu- mocystis obtidos de pacientes com Aids apresentam resistência a fármacos que o paciente não utilizou. Achados clínicos O aparecimento repentino de febre, tosse, dispneia e taquipneia é característico de pneumonia por Pneumocystis. Crepitações bi- laterais e roncos são ouvidos, e uma radiografia do tórax mostra uma pneumonia intersticial difusa com infiltrados bilaterais do tipo “vidro fosco”. Em crianças, a doença geralmente apresenta um desenvolvimento mais gradual. Infecções extrapulmonares de Pneumocystis ocorrem em estágios tardios de Aids e afetam principalmente o fígado, o baço, os linfonodos e a medula óssea. A taxa de mortalidade de pneumonia por Pneumocystis sem tra- tamento aproxima-se de 100%. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico é realizado pela descoberta de cistos típicos por meio do exame microscópico de tecido pulmonar ou fluidos obtidos por broncoscopia, lavagem bronquial ou biópsia pulmonar (Figura 52-7). A expectoração geralmente é menos apropriada. Os cistos podem ser visualizados com metenamina de prata, Giemsa ou ou- tros corantes de tecidos. A coloração com anticorpos fluorescentes também é comumente utilizada para o diagnóstico. Testes baseados em PCR que utilizam amostras do trato respiratório também são úteis. O organismo não se cora bem com a coloração de Gram. Não há testes sorológicos e o organismo não cresce em cultura. Tratamento O tratamento de escolha é uma combinação do trimetoprima- -sulfametoxazol (Bactrim, Septra). A pentamidina e a atovaquo- na são fármacos alternativos. Prevenção A trimetoprima-sulfametoxazol ou a pentamidina aerossolizada devem ser utilizadas como quimioprofilaxia em pacientes que têm contagem de CD4 abaixo de 200. TRYPANOSOMA O gênero Trypanosoma inclui três patógenos principais: Trypano- soma cruzi, Trypanosoma gambiense e Trypanosoma rhodesiense. 2 1. Trypanosoma cruzi Doença T. cruzi é o agente causador da doença de Chagas (tripanossomí- ase americana). Imagens das lesões realçadas em cor de laranja podem ser visualizadas na Galeria de Imagem disponível em http://www.langetextbooks.com/levinson/ gallery/. 2 Taxonomicamente, os dois últimos organismos são espécies morfologica- mente idênticas denominadas T. brucei gambiense e T. brucei rhodesiense, mas neste livro são utilizados os nomes abreviados. FIGURA 52-7 Pneumocystis jiroveci – a seta indica um cisto de Pneu- mocystis jiroveci no tecido pulmonar. (Figura cortesia do Dr. E. Ewing, Jr., Public Health Image Library, CDC.) 416 PARTE VI Parasitologia Características importantes O ciclo de vida do Trypanosoma cruzi é apresentado na Figura 52-8. O ciclo de vida envolve o inseto reduviídeo (Triatoma, barbeiro ou besouro-beijador) como vetor, e animais e humanos como hospedeiros reservatórios. Os reservatórios animais in- cluem gatos e cachorros domésticos e espécies selvagens, como tatu, guaxinim e ratos. O ciclo de vida no barbeiro inicia com a ingestão de tripomastigotas no sangue do hospedeiro reservató- rio. No intestino do inseto, eles multiplicam-se e diferenciam-se em epimastigotas e, então, em tripomastigotas. Quando o inseto pica novamente, o sítio é contaminado com fezes contendo tri- pomastigotas, que penetram no sangue da pessoa (ou outros re- servatórios) e formam amastigotas não flagelados no interior da célula hospedeira. Muitas células podem ser afetadas, mas células do miocárdio, da glia e reticuloendoteliais são os sítios mais fre- quentes. Para completar o ciclo, amastigotas diferenciam-se em tripomastigotas, os quais penetram no sangue e são adquiridos pelo barbeiro (Figuras 52-9A a C, e 52-10). Patogênese e epidemiologia A doença de Chagas ocorre principalmente nas regiões rurais das Américas Central e do Sul. A doença de Chagas aguda raramente ocorre nos Estados Unidos, mas a forma crônica que causa mio- cardite e insuficiência cardíaca congestiva é observada com pro- Doença de Chagas (tripanossomíase americana) (Trypanosoma cruzi) O inseto triatomíneo suga sangue (transmite tripomastigota metacíclico nas fezes, tripomastigotas entram pela ferida da picada ou por membranas mucosas, como a conjuntiva) Estágios do inseto triatomíneo Tripomastigotas metacíclicos penetram em várias células pela ferida da picada; no interior das células, eles transformam-se em amastigotas Estágios em humanos Os amastigotas multiplicam-se por fissão binária no interior das células dos tecidos infectados Tripomastigotas podem infectar outras células e transformar-se em amastigotas intracelu- lares em novos sítios de infecção; as manifestações clínicas podem resultar desse ciclo infectante Amastigotas intracelulares transformam-se em tripomastigotas e, então, rompem a célula e entram na corrente sanguínea O inseto triatomíneo suga sangue (ingestão de tripomastigotas) Epimastigotas no intestino médio Multiplicação no intestino médio Tripomastigotas metacíclicos no intestino grosso LEGENDA Estágio infectante Estágio de diagnóstico FIGURA 52-8 Trypanosoma cruzi. Ciclo de vida. O lado direito da figura descreve os estágios no interior do ser humano (setas roxas). Os hu- manos são infectados na Etapa 1, quando o triatomíneo (barbeiro) pica o humano e defeca próximo à picada. Tripomastigotas nas fezes entram na ferida da picada. Os amastigotas formam-se no interior das células, especialmente no músculo cardíaco e no tecido neuronal. O barbeiro é infectado na Etapa 5, quando ingere tripomastigotas no sangue humano. O lado esquerdo da figura descreve os estágios no interior do barbeiro (setas vermelhas). (Fonte: CDC/Dr. Alexander J. da Silva e Melanie Moser.) CAPÍTULO 52 Protozoários do Sangue e do Tecido 417 gressiva frequência em imigrantes da América Latina. A doença é observada principalmente em regiões rurais, onde o barbeiro vive nas paredes de casebres rurais e alimenta-se à noite. O bar- beiro pica preferencialmente ao redor da boca ou dos olhos, por isso a denominação “besouro-beijador”. Os amastigotas podem matar as células e causar inflamação, consistindo principalmente em células mononucleares. O mús- culo cardíaco é o tecido afetado com mais frequência e gravida- de. Além disso, o dano neuronal leva à arritmia cardíaca e à perda do tônus no colo (megacolo) e esôfago (megaesôfago). Durante a fase aguda, ocorrem tripomastigotas no sangue e amastigotas intracelulares nos tecidos. Na fase crônica, o organismo persiste na forma amastigota. Nos Estados Unidos, a doença de Chagas ocorreu em re- ceptores de transfusões de sangue ou de transplantes de órgãos oriundos de doadores infectados. O organismo também pode ser transmitido congenitamente da mãe infectada para o feto através da placenta. Achados clínicos A fase aguda da doença de Chagas consiste em edema facial e nó- dulo (chagoma) próximo ao local da picada, acompanhados por febre, linfadenopatia e hepatosplenomegalia. A picada ao redor do olho pode resultar em um inchaço da pálpebra denominado sinal de Romaña. A fase aguda regride em aproximadamente dois meses. A maioria dos indivíduos permanece assintomática, con- tudo, alguns progridem para a forma crônica, com miocardite e megacolo. A morte por doença de Chagas crônica muitas vezes é decorrente de arritmia e insuficiência cardíaca congestiva. Diagnóstico laboratorial A doença aguda é diagnosticada demonstrando-se a presença de tripomastigotas em esfregaços espessos ou delgados do sangue do paciente. Preparações coradas e a fresco devem ser examinadas, sendo as últimas realizadas para detecção de organismos móveis. Uma vez que os tripomastigotas não são numerosos no sangue, outros métodosde diagnósticos podem ser necessários, como (1) uma preparação corada de um aspirado de medula óssea ou bióp- sia muscular (que pode revelar amastigotas), (2) cultura do orga- nismo em meio especial, e (3) xenodiagnóstico, que consiste na utilização de um barbeiro criado em laboratório, não infectado, que se alimenta do sangue do paciente. Após algumas semanas, examina-se o intestino do inseto para detectar o organismo. Os testes sorológicos também podem ser úteis. O teste de fluorescência indireta com anticorpos é o primeiro a tornar-se positivo. Testes de hemaglutinação indireta e fixação de comple- mento também são disponíveis. O diagnóstico da doença crônica é difícil, já que há poucos tripomastigotas no sangue. Xenodiag- nóstico e testes sorológicos são utilizados. Tratamento O fármaco de escolha para a fase aguda é o nifurtimox, que mata tripomastigotas no sangue, embora seja menos eficaz contra amastigotas nos tecidos. O benzonidazol é um fármaco alternati- vo. Não há fármaco efetivo para a forma crônica. EDBA C FIGURA 52-9 A: Tripomastigota de Trypanosoma cruzi encontrado no sangue humano. (Aumento de 1.200 ×.) B: Amastigotas de T. cruzi encon- trados no músculo cardíaco. (Aumento de 850 ×.) C: Epimastigota de T. cruzi encontrado no inseto reduviídeo. (Aumento de 1.200 ×.) D: Tripomas- tigota de T. brucei gambiense ou rhodesiense encontrado no sangue humano. (Aumento de 1.200 ×.) E: Amastigotas de Leishmania donovani no interior de macrófagos do baço. (Aumento de 1.000 ×.) (O círculo com linha pontilhada interna representa uma hemácia.) FIGURA 52-10 Trypanosoma cruzi – amastigotas. A seta indica um amastigota (forma não flagelada) no citoplasma. (Figura cortesia do Dr. A.J. Sulzer, Public Health Image Library, CDC.) 418 PARTE VI Parasitologia Prevenção A prevenção envolve proteção contra a picada do barbeiro, me- lhoria nas condições de moradia e controle dos insetos. Não há fármaco profilático ou vacina. O sangue para transfusão é testado para a presença de anticorpos para T. cruzi. Sangue contendo an- ticorpos não deve ser utilizado. 2. Trypanosoma gambiense e Trypanosoma rhodesiense Doença Esses organismos causam a doença do sono (tripanossomíase africana). São também conhecidos como Trypanosoma brucei gambiense e Trypanosoma brucei rhodesiense. Propriedades importantes O ciclo de vida do Trypanosoma brucei é mostrado na Figura 52-11. A morfologia e o ciclo de vida das duas espécies são si- milares. O vetor é a mosca-tsé-tsé, Glossina, embora diferentes espécies de mosca estejam envolvidas para cada organismo. Os humanos são o reservatório de T. gambiense, enquanto T. rhode- siense possui reservatórios em animais domésticos (especialmen- te o gado bovino) e animais selvagens (p. ex., antílopes). O ciclo de vida de três semanas na mosca-tsé-tsé inicia pela ingestão de tripomastigotas em um repasto sanguíneo a partir do hospedeiro reservatório. Multiplicam-se no intestino do inseto e migram para as glândulas salivares, onde se transformam em epi- mastigotas, multiplicam-se novamente e formam tripomastigotas metacíclicos, que são transmitidos pela picada da mosca-tsé-tsé. Os organismos na saliva são injetados na pele, onde penetram na Doença do sono (tripanossomíase africana) (Trypanosoma brucei gambiense) (Trypanosoma brucei rhodesiense) A mosca-tsé-tsé suga sangue (injeta tripomastigotas metacíclicos) Tripomastigotas metacíclicos injetados transformam-se em tripomastigotas na corrente sanguínea, que são carreados para outros sítios Estágios na mosca-tsé-tsé Estágios em humanos Tripomastigotas multiplicam-se por fissão binária em vários fluidos corporais (p. ex., sangue, linfa e líquido espinal) Tripomastigotas no sangue A mosca-tsé-tsé suga sangue (tripomastigotas na corrente sanguínea são ingeridos) Tripomastigotas da corrente sanguínea transformam-se em tripomastigotas procíclicos no intestino médio da mosca-tsé-tsé; tripomastigotas procíclicos multiplicam-se por fissão binária Tripomastigotas procíclicos deixam o intestino médio e transformam-se em epimastigotas Epimastigotas multiplicam-se na glândula salivar e transformam-se em tripomastigotas metacíclicos LEGENDA Estágio infectante Estágio de diagnóstico FIGURA 52-11 Trypanosoma brucei. Ciclo de vida. O lado direito da figura descreve os estágios no ser humano (setas roxas). Humanos são in- fectados na Etapa 1, quando a mosca-tsé-tsé pica uma pessoa e injeta tripomastigotas em sua corrente sanguínea. A mosca-tsé-tsé é infectada na Etapa 5 quando esta ingere tripomastigotas presentes no sangue humano. O lado esquerdo da figura descreve os estágios no interior da mosca- -tsé-tsé (setas vermelhas). (Fonte: CDC/Dr. Alexander J. da Silva e Melanie Moser.) DICA DO PROFESSOR A respeito da malária, você sabe quais são os estágios da doença tanto no mosquito quanto no sangue humano? Sabe quais são as duas formas de transmissão da toxoplasmose? Confira no vídeo a seguir a resposta dessas e de outras questões fundamentais sobre as doenças estudadas nesta Unidade de Aprendizagem. EXERCÍCIOS 1) A doença de Chagas é causada pelo parasita: A) a) Barbeiro B) b) Anopheles C) c) Trypanossoma cruzi D) d) Plasmodium E) e) Schistosoma 2) O Toxoplasma gondii é responsável pela toxoplasmose. Sua transmissão ocorre via congênita, da mãe para o feto, e de forma adquirida, através de: A) a) Mosquito Anopheles B) b) Triatoma infestans C) c) Leveduras D) d) Fezes de gato E) e) Urina do rato 3) Lesões na retina e cegueira são complicações da: A) a) Doença de Chagas B) b) Malária C) c) Esquistossomose D) d) Tuberculose E) e) Toxoplasmose 4) A cloroquina é um fármaco utilizado para o tratamento da: A) a) Doença de Chagas B) b) Malária C) c) Toxoplasmose D) d) Esquistossomose E) e) Tricomoníase A fase crônica da doença de Chagas pode levar de 20 a 30 anos para ocorrer,5) podendo acometer principalmente: A) a) Fígado e baço B) b) Cérebro e rins C) c) Coração e intestino D) d) Ossos e intestino E) e) Coração e pulmões NA PRÁTICA Com relação aos sintomas, veja em quais partes do corpo humano eles se manifestam no caso da malária: SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Conheça a malária. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Notícias sobre o aplicativo que ajuda na identificação de espécimes de Triatomídeos - vetores para a Doença de Chagas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Compartilhar