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PARASITOLOGIA CLÍNICA PROF.A DRA. FABIANA NABARRO FERRAZ Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Felipe Veiga da Fonseca Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Eudes Wilter Pitta Paião Márcio Alexandre Júnior Lara Marcus Vinicius Pellegrini Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 6 1. PROTOZOÁRIOS DE INTERESSE MÉDICO .......................................................................................................... 7 1.1 LEISHMANIA SPP – LEISHMANIOSE TEGUMENTAR E VISCERAL ................................................................. 7 1.1.1 MORFOLOGIA ...................................................................................................................................................... 8 1.1.2 CICLO BIOLÓGICO ............................................................................................................................................. 9 1.1.3 ASPECTOS CLÍNICOS E PATOGENIA .............................................................................................................. 10 1.1.4 EPIDEMIOLOGIA E PROFILAXIA ..................................................................................................................... 12 1.1.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ....................................................................................................................... 13 1.2 TRYPANOSOMA CRUZI – DOENÇA DE CHAGAS .............................................................................................. 14 1.2.1 MORFOLOGIA .................................................................................................................................................... 14 INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA E PRINCIPAIS PROTOZOÁRIOS DE INTERESSE MÉDICO PROF.A DRA. FABIANA NABARRO FERRAZ ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PARASITOLOGIA CLÍNICA 4WWW.UNINGA.BR 1.2.2 CICLO BIOLÓGICO ........................................................................................................................................... 16 1.2.3 ASPECTOS CLÍNICOS E PATOGENIA ..............................................................................................................17 1.2.4 EPIDEMIOLOGIA E PROFILAXIA .................................................................................................................... 19 1.2.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL...................................................................................................................... 20 1.3 TRICHOMONAS VAGINALIS - TRICOMONÍASE ............................................................................................... 20 1.3.1 MORFOLOGIA ................................................................................................................................................... 21 1.3.2 CICLO BIOLÓGICO ........................................................................................................................................... 22 1.3.3 ASPECTOS CLÍNICOS E PATOGENIA ............................................................................................................. 23 1.3.4 EPIDEMIOLOGIA E PROFILAXIA .................................................................................................................... 24 1.3.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL...................................................................................................................... 24 1.4 GIARDIA DUODENALIS - GIARDÍASE ................................................................................................................ 25 1.4.1 MORFOLOGIA .................................................................................................................................................... 25 1.4.2 CICLO BIOLÓGICO ........................................................................................................................................... 26 1.4.3 ASPECTOS CLÍNICOS E PATOGENIA ............................................................................................................. 27 1.4.4 EPIDEMIOLOGIA E PROFILAXIA .................................................................................................................... 28 1.4.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ...................................................................................................................... 29 1.5 ENTAMOEBA HISTOLYTICA/ENTAMOEBA DISPAR – AMEBÍASE ................................................................ 29 1.5.1 MORFOLOGIA .................................................................................................................................................... 30 1.5.2 CICLO BIOLÓGICO ........................................................................................................................................... 31 1.5.3 ASPECTOS CLÍNICOS E PATOGENIA ............................................................................................................. 32 1.5.4 EPIDEMIOLOGIA E PROFILAXIA .................................................................................................................... 33 1.5.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ..................................................................................................................... 33 1.6 PLASMODIUM SPP. – MALÁRIA ....................................................................................................................... 34 1.6.1 MORFOLOGIA .................................................................................................................................................... 35 1.6.3 ASPECTOS CLÍNICOS E PATOGENIA .............................................................................................................40 1.6.4 EPIDEMIOLOGIA E PROFILAXIA .................................................................................................................... 42 1.6.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ..................................................................................................................... 42 1.7 TOXOPLASMA GONDII – TOXOPLASMOSE ...................................................................................................... 43 1.7.1 MORFOLOGIA ....................................................................................................................................................43 1.7.2 CICLO BIOLÓGICO ............................................................................................................................................ 45 1.7.3 ASPECTOS CLÍNICOS E PATOGENIA .............................................................................................................. 46 5WWW.UNINGA.BR 1.7.4 EPIDEMIOLOGIA E PROFILAXIA ..................................................................................................................... 47 1.7.5 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ...................................................................................................................... 48 1.8 CRYPTOSPORIDIUM, CYSTOISOSPORA, E CYCLOSPORA – PROTOZOÁRIOS EMERGENTES .................. 48 1.8.1 CRYPTOSPORIDIUM ........................................................................................................................................ 48 1.8.2 CYSTOISOSPORA BELLI .................................................................................................................................50 1.8.3 CYCLOSPORA CAYETANENSIS ...................................................................................................................... 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................ 54 6WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO “A parasitologia é a ciência que estuda os parasitos, seus hospedeiros e as relações existentes entre eles”. Na natureza, os organismos vivos e o ambiente vivem em uma inter-relação conhecida como ecossistema. Entre as relações, encontramos associações diversas, como o parasitismo. O parasitismo é a associação entre duas espécies diferentes, em que existe unilateralidade de benefícios. Deste modo, o parasito é o agressor e o hospedeiro é o que alberga o parasito, ou seja, o hospedeiro é o meio ecológico onde vive o parasito, ocorrendo assim uma relação de dependência metabólica de natureza nutritiva, na qual o parasito retira do hospedeiro todo ou quase todo material de que necessita para sobreviver, causando-lhe geralmente algum tipo de dano. Cada espécie de parasito possui seu próprio hospedeiro. Alguns parasitos necessitam de somente um hospedeiro (hospedeiro definitivo) durante seu ciclo de vida (ciclo monoxênico). Outros só completam seu ciclo de vida (ciclo heteroxênico) passando sucessivamente por mais de um hospedeiro (hospedeiro intermediário e definitivo), podendo ser este um artrópode, que funciona como um vetor de doenças, ou, ainda, animais domésticos ou silvestres que funcionam como reservatórios, nas chamadas zoonoses. Neste aspecto, os hospedeiros (definitivos e/ou intermediários) podem abrigar os parasitos, em suas diferentes formas evolutivas do seu ciclo de vida, em diferentes hábitats, por exemplo, quando infectam o hospedeiro, alguns parasitos podem alojar-se em hábitats pobres em oxigênio, como no caso dos parasitos intestinais, ou em locais com elevada oxigenação, como no caso dos parasitos sanguíneos ou aqueles parasitos que fazem migração pelos pulmões. Além disso, no ciclo de vida de um parasito, fatores como transmissão, ação patogênica, epidemiologia e profilaxia são extremamente complexos e envolvem mecanismos específicos associados à espécie do parasito e ao hospedeiro, assim como a fatores ambientais (temperatura, umidade e oxigenação) que são importantes para manter a viabilidade e dispersão do parasito. Para mais informações sobre os conceitos dos principais termos utilizados em parasitologia clínica (como os destacados em negrito na Introdução), realizar a leitura da “Parte 1 – Conceitos Gerais” do livro texto: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. Disponível na biblioteca da UNINGÁ. 7WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1. PROTOZOÁRIOS DE INTERESSE MÉDICO Os protozoários são organismos protistas, eucariotos, constituídos por uma única célula que, para sobreviver, realizam todas as funções mantenedoras da vida como, alimentação, respiração, reprodução, excreção e locomoção. Na classificação sistemática, segundo Lavine et al. (1980), os protozoários pertencem ao reino Protista e estão distribuídos em sete filos, constituído por um total de mais de 60.000 espécies, dos quais apenas algumas dezenas de espécies pertencentes a quatro filos, tem interesse em parasitologia humana. A tabela a seguir (Tabela 1) lista os principais filos e exemplos de espécies de protozoários de interesse médico que serão abordados nesta unidade. Tabela 1 – Classificação sistemática dos protozoários de interesse médico. Fonte: Lavine et al. (1980 apud NEVES, 2016). 1.1 Leishmania spp – Leishmaniose Tegumentar e Visceral Os agentes etiológicos das leishmanioses humanas são protozoários pertencentes à ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae e gênero Leishmania, transmitidos vetorialmente por fêmeas dos insetos hematófagos, conhecidos como flebotomíneos (Psychodidae da subfamília Phlebotominae, gênero Lutzomyia – são popularmente conhecidos como mosquito palha, birigui, mosquito-pólvora...). Assim, os parasitos do gênero Leishmania são agentes de zoonoses que infectam o homem em regiões tropicais e subtropicais, sendo os principais reservatórios do parasito roedores (silvestres e peridomésticos), canídeos (silvestres, peridométicos e domésticos), edentados (tatu, tamanduá...), marsupiais (gambá) e primatas. A taxonomia do gênero Leishmania ainda é assunto de considerável controvérsia, pois as espécies do gênero Leishmania são classificadas com uma enorme dificuldade, devido à grande semelhança morfológica entre elas. Apesar de suas semelhanças, as diferentes espécies causam doenças com características clínicas (cutânea, cutaneomucosa, cutânea difusa e visceral) e epidemiológicas tão distintas que não se pode atribuir sua etiologia a uma mesma espécie do agente patogênico. Esta variedade de manifestações clínicas depende da interação entre a resposta imune do hospedeiro vertebrado e o caráter invasivo, tropismo e patogenicidade do parasito. 8WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Atualmente a classificação taxonômica das espécies do gênero Leishmania baseia-se em características clínicas e epidemiológicas do parasito, associadas aos aspectos biológicos, imunológicos, bioquímicos e moleculares. Dependendo da espécie de Leishmania envolvida, a infecção pode resultar em uma doença cutânea, cutânea difusa, cutaneomucosas ou visceral. No Brasil, as principais espécies do gênero Leishmania, agrupadas nos subgêneros Viannia e Leishmania, que parasitam o homem estão listadas abaixo: • Leishmania (V.) braziliensis: causa lesões cutâneas e cutaneomucosas graves, podendo apresentar metástase. Possui ampla distribuição geográfica da América Central ao Norte da Argentina. • Leishmania (V.) guyanensis: causa predominantemente lesões cutâneas benignas, sem metástase. Ocorre na parte da América do Sul, restrita à Bacia Amazônica. • Leishmania (V.) laisoni: causa lesões cutâneas e ocorre no norte do Estado do Pará, na Região Amazônica do Brasil. • Leishmania (L.) amazonensis: causa lesões cutâneas e eventualmente difusas (anérgicas) e ocorre desde a América Central até o norte, o nordeste e o sudeste da América do Sul. • Leishmania (V.) naiffi: causa lesões cutâneas e ocorre no norte do Brasil e em outros países da América Latina como Guiana Francesa, Suriname e Equador. • Leishmania (L) infantum chagasi: causa a forma visceral com febre, anemia, hepatoesplenomegalia e emagrecimento. Ocorre do México ao norte da Argentina, com predomínio no nordeste brasileiro. 1.1.1 Morfologia O gênero Leishmania possui duas principais formas evolutivas (Figura 1). As amastigotas são formas intracelulares ovoides ou esféricas(medindo ente 1,5 e 3 x 3 e 6,5 µm), com pouco citoplasma, núcleo relativamente grande, redondo e excêntrico. O cinetoplasto (região especializada da única mitocôndria encontrada nos protozoários pertencentes à ordem Kinetoplastida) é bem visível, em forma de bastão e situado próximo ao núcleo, porém o flagelo, reduzido ao segmento intracelular, não é visível, não havendo flagelo livre. As promastigotas são formas alongadas cuja região anterior emerge um flagelo livre. Possui núcleo mediano e cinetoplasto próximo à extremidade anterior. O tamanho das formas promastigotas é variável, medindo entre 16 e 40 (comprimento) x 1,5 e 3 µm (largura). 9WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 1 – Formas amastigotas e promastigotas de Leishmania spp (esquema) e macrófago parasitado com amasti- gotas (corado com Giemsa; seta vermelha: núcleo e seta preta: cinetoplasto). Fonte: adaptado de Ferreira (2012) e CDC. 1.1.2 Ciclo biológico O ciclo de vida dos protozoários do gênero Leishmania é heteroxênico (Figura 2), envolvendo um hospedeiro mamífero e um inseto vetor. As diferentes espécies de Leishmania que causam as diferentes manifestações clínicas (doença cutânea, cutânea difusa, cutaneomucosas ou visceral) possuem ciclo de vida semelhantes, exceto que as células reticulo-endoteliais infectadas (principalmente macrófagos) encontram-se distribuídas no corpo do hospedeiro (baço, fígado, medula óssea, rins...) na leishimaniose visceral. Figura 2 – Ciclo biológico Leishmania spp. Fonte: adaptado de CDC. 10WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Os hospedeiros vertebrados (mamíferos) se infectam quando as formas promastigotas metacíclicas são inoculadas pela fêmea do inseto vetor (flebotomíneo), durante o repasto sanguíneo. Nesta ocasião, o inseto dilacera o tecido do hospedeiro com seu aparelho bucal, a saliva do inseto é inoculada e exerce papel anticoagulante, vasodilatador e antiagregante plaquetário, favorecendo o fluxo de sangue para alimentação do felbotomíneo e ao mesmo tempo imunossuprime a resposta do hospedeiro vertebrado, exercendo importante papel no sucesso da infectividade das promastigotas metacíclicas. A internalização do parasito se faz por endocitose mediada por receptores na superfície dos macrófagos. Após a internalização, o promastigota metacíclico é encontrado dentro do vacúolo parasitóforo, onde se transforma em amastigota e sofre os processos de multiplicações sucessivas (fissão binária). Esgotando sua resistência, a membrana do macrófago se rompe e as amastigotas liberadas serão, por mecanismos semelhantes, internalizadas por outras células fagocitárias. A infecção para o hospedeiro invertebrado (inseto vetor, flebotomíneo) ocorre pela ingestão de amastigotas, durante o repasto sanguíneo, de um indivíduo infectado. No intestino médio do inseto, todo o alimento é envolvido por uma membrana quitinosa secretada pelas células epiteliais do intestino, a matriz peritrófica. No interior dessa matriz, após cerca de 18-24 horas, as amastigotas se transformam em flagelados pequenos, ovoides, pouco móveis. Após 3-4 dias de multiplicação intensa (fissão binária), ocorre a transformação das formas promastigotas delgadas e longas. A matriz peritrófica se rompe, liberando os parasitos, que se ligam por meio do flagelo às microvilosidades intestinais do inseto, após aproximadamente 5 dias a diferenciação se completa e já são encontradas formas promastigotas flageladas migrantes no intestino médio. Estas formas migram para as porções anteriores do aparelho digestivo do inseto, atingindo probóscida. A grande multiplicação parasitária dificulta a ingestão de sangue pelo vetor. Assim, o flebotomíneo faminto é estimulado a picar e a sugar muitas vezes. Após esforço intenso para ingerir sangue, os músculos da sucção relaxam e causam a regurgitação do sangue aspirado junto com as formas promastigotas presentes na probóscida. Desse modo, fica assegurada a inoculação de formas infectantes em novos hospedeiros vertebrados, completando o ciclo. 1.1.3 Aspectos clínicos e patogenia As leishmanioses são caracterizadas pela variedade de manifestações clínicas. A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma enfermidade polimórfica da pele e das mucosas, variando de uma lesão autorresolutiva a desfigurante. Esta variação clínica está intimamente ligada ao estado imunológico do hospedeiro e à espécie de Leishmania que o parasita. Apesar da ampla variedade de formas clínicas, podemos agrupá-las em três principais tipos: • Leishmaniose cutânea: lesões ulcerativas se desenvolvem no sítio da picada (confinada a derme), indolores, únicas ou múltiplas (Figura 3). São causadas pelas espécies: L. braziliensis, L. amazonensis, L. guyanensis, L. laisoni. • Leishmaniose cutaneomucosa: esta forma clínica é conhecida como nariz de tapir ou de anta, o agente etiológico é a L. braziliensis. O curso da infecção nas fases iniciais ocorre com a forma cutânea. Meses ou anos após as lesões primárias, o parasito produz lesões destrutivas secundárias, envolvendo mucosas e cartilagens, decorrentes da disseminação hematogênica ou extensão direta da lesão primária (Figura 4 A). 11WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA • Leishmaniose cutânea difusa (LCD): o curso da infecção nas fases iniciais ocorre com a forma cutânea. Cerca de 40% dos pacientes parasitados com L. amazonensis desenvolvem a LCD. A LCD caracteriza-se por lesões difusas ulceradas por toda pele, resultado de metástase do parasito por meio de vasos linfáticos ou migração de macrófagos parasitados. Esta forma clínica está diretamente associada a uma deficiência imunológica do paciente, levando a um estado de anergia (não respondem ao antígeno de Montenegro) frente à infecção (Figura 4 B). Figura 3 – Leishmaniose tegumentar em paciente da Amazônia. Aspecto das lesões ulceradas antes e após cicatri- zação. Fonte: Ferreira (2012). Figura 4 – A) Caso de leishmaniose cutaneomucosa, com intensa destruição nasal. B) Caso de leishmaniose cutâ- nea difusa, observe as lesões nodulares distribuídas pelo braço. Fonte: adaptado de Neves (2016). Na patogenia da LTA, a lesão inicial é manifestada por um infiltrado inflamatório composto principalmente de linfócitos e de macrófagos da derme, estando esses últimos repletos de parasitos. As lesões iniciais são semelhantes, independentemente da espécie do parasito. Essa lesão progride, desenvolvendo-se em uma típica úlcera leishmaniótica que, por seu aspecto morfológico, pode ser reconhecida imediatamente. Trata-se de uma úlcera de configuração circular, bordos altos (em moldura), cujo fundo é granuloso, de cor vermelha intensa, recoberto por exsudato seroso ou seropurulento, dependendo da presença de infecções secundárias. A lesão pode se curar sem tratamento em uma questão de meses, mas geralmente deixa uma área cicatricial despigmentada, com uma leve depressão na pele, com uma fibrose sob a epiderme, que está fina (Figura 3). 12WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Pode ocorrer ainda, seguida ao aparecimento da lesão inicial, lesões secundárias por extensão direta de uma lesão primária, ou então, uma disseminação linfática ou hematogênica, produzindo metástases cutânea, subcutânea ou mucosa. As regiões mais comumente afetadas pela disseminação metastática são: o nariz, faringe e laringe. O comprometimento mucoso manifesta-se por eritema e infiltrado inflamatório com posterior processo ulcerativo e destruição de toda a estrutura cartilaginosa. A leishmaniose visceral é uma doença sistêmica causada por parasitos do complexo L. donovani na África, na Ásia, na Europa e nas Américas. Na Índia, é conhecida como Kala-Azar. É uma doença crônica, grave, de alta letalidade, se não tratada, e pode apresentar aspectos clínicos e epidemiológicosdiversos e característicos para cada região onde ocorre. Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença incluem a pobreza, desnutrição, uso de imunossupressores e a coinfecção com o HIV. A pele é a porta de entrada para a infecção. Alguns indivíduos podem desenvolver uma lesão local, quando ocorre, essa lesão é transitória e representada por reação inflamatória que determina a formação de um nódulo, o leishmanioma. O processo pode evoluir para a cura espontânea ou, a partir da pele, ocorrer a migração dos parasitos, principalmente para os linfonodos mais próximos, seguida da migração (disseminação linfática e/ou hematogênica) para as vísceras. O L. i. chagasi é um parasito das células do SFM, principalmente do baço, do fígado, do linfonodo e da medula óssea. Entretanto, no curso da infecção, outros órgãos e tecidos podem ser afetados, como o intestino, o sangue, os pulmões, os rins e a pele. Nas fases mais avançadas da doença, são raros os órgãos onde não se encontra parasito. Nas vísceras, os parasitos induzem uma infiltração focal ou difusa de macrófagos não parasitados, além de infiltrado de linfócitos e células plasmáticas. A relação parasito/hospedeiro na leishmaniose visceral assume caráter espectral, de maneira que é possível resultar em diferentes formas clínicas, desde uma forma assintomática, para uma forma aguda (período inicial da doença) ou até a forma crônica de evolução clássica. As formas sintomáticas têm início insidioso, com febre alta e intermitente. O quadro febril é acompanhado de astenia, mal-estar geral e perda de peso. No exame físico, são observadas hepatomegalia e esplenomegalia, sinais de desnutrição, com enfraquecimento geral. Progressivamente, no decorrer da infecção, o paciente pode apresentar anemia, epistaxes (hemorragia nasal), hemorragia gengival, edema, ascite, icterícia, sendo que a anorexia e a desnutrição aumentam a debilidade física. As hemorragias digestivas e a icterícia são indicativas de gravidade da infecção. A infecção mostra-se preocupante, principalmente, em indivíduos portadores de HIV, diabéticos e outras doenças crônicas, pois contribuem para o óbito antes mesmo do aparecimento dos principais sinais e sintomas clínicos. Nos pacientes coinfectados com HIV, a leishmaniose se manifesta como uma infecção oportunista, com detecção do parasito em locais atípicos associada a uma elevada mortalidade. 1.1.4 Epidemiologia e profilaxia As leishmanioses são endêmicas em 88 países, distribuídos na América, na África, na Ásia e na Europa, com cerca de 2 milhões de casos por ano. Nos últimos anos, a epidemiologia da leishmaniose tem-se alterado no Brasil. Com frequência cada vez maior, identificam-se novos focos de transmissão em áreas urbanas, decorrentes da adaptação do inseto vetor a esses ambientes. O ciclo de transmissão tem se adaptado aos ambientes peridomicilíares e a doença tem se espalhado em regiões não endêmicas como resultado da urbanização e do desmatamento, com animais domésticos funcionando como reservatórios em potencial, mostrando que as leishmanioses estão em franca expansão geográfica. 13WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Até o século XX, a leishmaniose visceral concentrava-se principalmente na região Nordeste, enquanto a transmissão de leishmaniose tegumentar estava relacionada preferencialmente em áreas com mata preservada, como a Amazônia e a faixa litorânea da Mata Atlântica. A urbanização da leishmaniose visceral, alastrando-se por cidades como Teresina, Belo Horizonte, Campo Grande e Araçatuba, é motivo de grande preocupação e um grave problema de saúde pública. As estatísticas do Ministério da Saúde relatam 12.690 casos de leishmaniose tegumentar e 3.200 casos de leishmaniose visceral no ano de 2016. A prevenção das várias formas de leishmaniose envolve o tratamento imediato das infecções humanas e o controle do hospedeiro-reservatório (por exemplo, o cão infectado que é o principal reservatório do parasito em área urbana) juntamente com o controle do inseto vetor. Esforços para a produção de vacinas eficazes contra a leishimaniose estão em andamento. 1.1.5 Diagnóstico laboratorial Os métodos mais utilizados para o diagnóstico laboratorial parasitológico da leishmaniose humana tomam como base a demonstração de formas amastigotas no tecido infectado, não sendo possível a diferenciação de espécies. Na LTA, o material a ser examinado é obtido por biopsia, punção ou escarificação de lesões cutâneas, principalmente de regiões das bordas da lesão, em local com tecido mais preservado. Na leishmaniose visceral, o material é obtido por aspiração da medula óssea ou, mais raramente, do fígado ou baço. O material obtido por punção ou escarificação é utilizado para o preparo de esfregaços, examinados após a coloração com Giemsa ou Leishman. Os mesmos procedimentos aplicam-se ao material coletado de medula óssea por aspiração ou biopsia, com a realização de esfregaços ou a inclusão em parafina e posterior coloração. O teste imunológico mais realizado no Brasil é o teste intradérmico de Montenegro. Este teste avalia a reação de hipersensibilidade retardada do paciente e é utilizado no diagnóstico. Nas formas cutâneas e cutaneomucosas o teste é positivo, com a formação de reação inflamatória, formando um nódulo ou pápula no local da aplicação do antígeno. Na forma cutânea difusa, a reação é negativa devido ao estado anérgico do paciente. Em pacientes tratados, a reação positiva do teste pode durar por anos. Na leishmaniose visceral o teste intradérmico de Montenegro é negativo durante o período de estado da doença, o que impede seu uso para o diagnóstico desta forma clínica. Outro teste imunológico muito utilizado para o diagnóstico é a reação de imunofluorescência indireta (IFI), sua sensibilidade é extremamente alta, no entanto, não é espécie-específico, ocorrendo reações cruzadas com outros tripanosomatídeos (por exemplo, Trypanosoma cruzi). O desenvolvimento de teste rápidos imunocromatográficos, aprovados pelo Ministério da Saúde, para diagnóstico rápido e tratamento precoce da leishmaniose visceral, vem sendo amplamente utilizado em regiões endêmicas, contribuindo para redução da letalidade desta enfermidade. Atualmente, métodos moleculares como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), tem se mostrado uma nova opção de diagnóstico, principalmente devido a sua elevada sensibilidade, sendo possível também, dependendo do protocolo utilizado, identificar a espécie do parasito. 14WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2 Trypanosoma cruzi – Doença de Chagas O Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas (tripanossomíase americana), é um protozoário flagelado, pertencente à ordem Kinetoplastida e à família Trypanosomatidae. Este protozoário e a doença foram descobertos e descritos pelo médico e cientista brasileiro Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas, em 1909. O ciclo de vida do T. cruzi inclui a passagem obrigatória por um hospedeiro vertebrado que pode pertencer a várias classes de mamíferos (animais silvestres – ratos, marsupiais, tatu... e animais domésticos – cães, gatos..., inclusive o homem) e insetos hemípteros da família Reduviidae, pertencentes principalmente aos gêneros Panstrongylus, Rhodnius e Triatoma (denominados popularmente como triatomíneos, barbeiros...). A doença de Chagas constitui uma zoonose endêmica nas Américas, sua área de transmissão abrange desde o sul dos EUA até a Argentina, e hoje também está presente em outros continentes em decorrência da imigração de latino americanos. Apesar dos avanços obtidos no seu controle, a Organização Mundial de Saúde classifica a doença de Chagas entre as treze doenças tropicais mais negligenciadas, constituindo um grande problema social e de saúde pública. 1.2.1 Morfologia Cada forma evolutiva do T. cruzi pode ser identificada com base em parâmetros como amorfologia geral da célula e as posições relativas do flagelo, do núcleo e do cinetoplasto. Nos hospedeiros vertebrados, são encontradas intracelularmente as formas amastigotas e extracelularmente as formas tripomastigotas no sangue circulante. Nos hospedeiros invertebrados, formas epimastigotas estão presentes em todo o intestino do inseto vetor e tripomastigotas metacíclicos presentes no reto. As amastigotas são formas arredondadas ou ovoides (3 a 5 µm de diâmetro), com um flagelo que ainda não emergiu do bolso flagelar e o cinetoplasto próximo ao núcleo. As amastigostas multiplicam-se por fissão binária no citoplasma das células infectadas (Figura 5 e 6). Os tripomastigotas são formas alongadas (15µm de comprimento), que apresentam um flagelo que emerge do bolso flagelar na parte posterior da célula e a percorre na direção longitudinal até a parte anterior, ligado à membrana, formando a membrana ondulante do parasito. No tripomastigota, o cinetoplasto está situado em posição posterior ao núcleo (Figura 5 e 6). Essa forma evolutiva é a principal forma de infecção do parasito. Na microscopia eletrônica, observa-se em todas as formas evolutivas do T. cruzi (amastigota, tripomastigota e epimastigota) uma organela, o cinetoplasto, que constitui uma mitocôndria modificada, rica em DNA. Essa organela dá o nome à ordem Kinetoplastida, na qual se inserem os tripanossomatídeos (lembre-se: esta estrutura também está presente nas formas evolutivas da Leishmania). 15WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Os epimastigostas são formas alongadas (20µm de comprimento), com o cinetoplasto situado em posição anterior e próximo ao núcleo. O flagelo também forma uma membrana ondulante, porém mais curta e menos evidente (Figura 5). Essas formas se multiplicam abundantemente por fissão binária no interior do intestino dos insetos triatomíneos. Figura 5 – Estágios evolutivos do T. cruzi. Fonte: Ferreira (2012). Figura 6 – A) Corte histológico que mostra ninho de amastigotas de T. cruzi na musculatura cardíaca. B) Tripo- mastigostas em esfregaço sanguíneo (coloração Giemsa). Fonte: Ferreira (2012). 16WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2.2 Ciclo biológico O ciclo de vida do T. cruzi é do tipo heteroxênico (Figura 7), passando o parasito por uma fase de multiplicação intracelular no hospedeiro vertebrado e extracelular no inseto vetor (triatomíneos). Figura 7 – Ciclo biológico do T. cruzi. Fonte: adaptado de CDC. As principais formas de transmissão da doença de Chagas são: a transmissão pela picada do inseto vetor (infecção ocorre pela penetração de tripomastigotas metacíclicos, eliminados nas fezes ou na urina de triatomíneos durante o hematofagismo, em solução de continuidade com a pele ou mucosa íntegra), transmissão oral (ocorre a penetração do parasito, pela mucosa da boca, íntegra ou lesada, devido, por exemplo, ao consumo de alimentos contaminados), transfusão sanguínea e transmissão congênita (transmissão ocorre quando existem ninhos de amastigotas na placenta da mãe infectada). Considerando o mecanismo natural de infecção pelo T. cruzi, os tripomastigotas metacíclicos eliminados nas fezes e na urina do triatomínio, durante ou logo após o repasto sanguíneo, penetram pelo local da picada e interagem com células do sistema mononuclear fagocitário (SMF) da pele ou mucosas. No interior dessas, ocorre a transformação dos tripomastigotas em amastigotas, que se multiplicam por fissão binária. A seguir, ocorre a diferenciação dos amastigotas em tripomastigotas, estes rompem a membrana plasmática da célula hospedeira, sendo liberados no meio extracelular. Os tripomastigotas podem invadir células vizinhas ou atingir a corrente sanguínea, disseminando-se para outros órgãos e tecidos (SMF-fígado, baço, medula óssea; músculo liso; músculo esquelético e cardíaco). Quando o hospedeiro desenvolve uma resposta imune eficaz, há a diminuição da parasitemia (número de parasitos na corrente sanguínea) e a infecção tende a se cornificar. Na fase crônica, o número de parasitos é menor na circulação sanguínea. A evolução e o desenvolvimento das diferentes formas clínicas (indeterminada, digestiva, cardíaca ou mista – cardiodigestiva) na fase crônica da doença de Chagas ocorrem lentamente, após 10 a 15 anos de infecção ou mais. 17WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Os triatomíneos vetores se infectam ao ingerir as formas tripomastigotas presentes na corrente circulatória do hospedeiro vertebrado durante o hematofagismo. No estômago do inseto, eles se transformam em formas epimastigotas. No intestino, os epimastigotas se multiplicam por fissão binária, sendo, portanto, responsáveis pela manutenção da infecção no vetor. No reto, porção terminal do tubo digestivo, os epimastigotas se diferenciam em tripomastigotas (infectantes para os vertebrados) e são eliminados nas fezes ou na urina durante ou após o repasto sanguíneo no hospedeiro vertebrado, completando o ciclo. 1.2.3 Aspectos clínicos e patogenia A doença de Chagas apresenta duas fases: aguda e crônica (indeterminada ou sintomática digestiva, cardíaca ou mista – cardiodigestiva). A fase aguda inicia-se no momento da infecção, pode ser sintomática (aparente) ou assintomática (inaparente). Ambas estão relacionadas com o estado imunológico do hospedeiro. A forma assintomática é a mais frequente independente da forma de transmissão. O quadro clínico da doença de Chagas aguda se instala geralmente nos primeiros dias ou meses após a infecção. Caracteriza-se por febre, edema localizado e generalizado, poliadenia, hepatomegalia, esplenomegalia e, às vezes, insuficiência cardíaca e perturbações neurológicas. As perturbações neurológicas são raras e consequência da meningoencefalite, ocorrem apenas em crianças e pacientes imunossuprimidos. Podem ser observados sinais associados à porta de entrada do parasito, como o sinal de Romaña (edema bipalpebral unilateral com linfadenopatia-satélite, que sugere penetração do parasito pela mucosa da conjuntiva) ou o chagoma de inoculação (lesão cutânea eritematosa e endurecida, porém indolor, que se desenvolve no sítio de penetração do parasito após picada do vetor - Figura 8). Para entender melhor o ciclo biológico do T. cruzi, assista ao vídeo com a animação sobre “O ciclo de vida do T. cruzi no homem” disponível no site do YouTube link: <https://www.youtube.com/watch?v=0N4eB1c2xI0>. 18WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 8 – Sinais de porta de entrada do T. cruzi. A) Sinal de Romaña e B) Chagoma de inoculação. Fonte: Neves (2016). Após a fase aguda, os sobreviventes passam por um longo período assintomático (10 a 30 anos). Cerca de 50% dos pacientes chagásicos que tiveram a fase aguda apresentam esta forma da doença. Esta fase é chamada de forma indeterminada e caracterizada pelos seguintes parâmetros: positividade de exames sorológicos e/ou parasitológicos; ausência de sintomas e/ou sinais da doença; eletrocardiograma convencional normal, e coração, esôfago e cólon radiologicamente normais. Apesar de assintomáticos e de apresentarem lesões muito discretas (cardite), tem sido registrado morte súbita de pacientes com esta forma da doença. Alguns indivíduos após permanecerem com a forma assintomática por vários anos, com o correr do tempo (20 a 30 anos) podem apresenta sintomatologia relacionada com o sistema cardiocirculatório (forma cardíaca), digestivo (forma digestiva), ou ambos (forma cardiodigestiva ou mista). Estudos demonstram que a forma clínica desenvolvida na doença de Chagas envolve uma relação multifatorial entre aspectos relacionados ao parasito (polimorfismo, genética, tropismo, constituintes antigênicos e carga parasitária) e ao hospedeiro (gênero, idade, reposta imune e constituição genética). A formacardíaca é a manifestação clínica mais grave e frequente da doença de Chagas crônica. Na cardiopatia chagásica crônica sintomática, o fato clínico principal é a insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e isto se deve a diminuição da massa muscular que se encontra muito destruída devido à substituição por áreas de fibrose interrompendo fibras e fascículos; a destruição do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático e o exsudato inflamatório são os responsáveis pelos sintomas (dispneia, insônia, congestão visceral, palpitações e edema dos membros inferiores). Pacientes com este quadro apresentam cardiomegalia intensa (Figura 9 A). Outro fator responsável pela cardiopatia chagásica é o aneurisma de ponta, ou seja, uma lesão encontrada no ápice dos ventrículos, na qual há pobreza de células musculares. Além da insuficiência cardíaca, devido ao retardamento da circulação e da hipóxia, são frequentes os fenômenos tromboembólicos. Os trombos cardíacos são frequentes e a partir destes trombos, desprendem-se êmbolos que podem originar infartos no coração, pulmões, rins, baço, encéfalo etc., causando assim a morte súbita. A morte súbita cardíaca é responsável por quase dois terços de todas as mortes na cardiopatia chagásica, seguida de insuficiência cardíaca e tromboembolismo. 19WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Na forma clínica gastrointestinal, o esôfago e cólon podem estar dilatados em graus variados (megas; Figura 9 B). As lesões do sistema nervoso entérico são fundamentais na patogênese da doença de Chagas digestiva e a estrutura frequentemente afetada é o plexo mioentérico de Auerbach (importante no controle do peristaltismo). As lesões neuronais ocorrem em graus variados, e leva à perda da coordenação motora e acalasia dos esfíncteres, impedindo o esvaziamento do órgão comprometido. Os sintomas principais do megaesôfago são, disfagia, regurgitação e dor retroesternal, além disso, a desnutrição pode ocorrer com a progressão da doença. O sintoma mais comum do megacólon é a obstipação intestinal. As complicações mais graves do megacólon são a obstrução intestinal e a perfuração, levando à peritonite. Figura 9 – A) Radiografia cardiomagalia crônica B) Radiografia de megacólon. Fonte: Neves (2016). 1.2.4 Epidemiologia e profilaxia Segundo a Organização Mundial de Saúde, calcula-se que 6 - 8 milhões de pessoas estão infectadas com T. cruzi em todo o mundo, principalmente na América Latina, onde a doença de Chagas é endêmica. As maiores prevalências da doença de Chagas foram relatadas na Bolívia (6,8%), Argentina (4,1%), El Salvador (3,4%), Honduras (3,1%) e Paraguai (2,5%). No entanto, Brasil e México com prevalências de cerca de 1%, juntamente com a Argentina, abrigam quase 60% de todas as pessoas infectadas com T. cruzi na América Latina. Estimativas recentes apontam 3 milhões de pessoas infectadas no Brasil, principalmente na fase crônica da infecção, com aproximadamente 6 mil mortes por ano. O Brasil é um dos países da América Latina que atingiu um nível de controle da doença de Chagas, reduzindo consideravelmente a transmissão vetorial. Em 2006, o Brasil recebeu o certificado de eliminação da principal espécie do vetor domiciliado, o Triatoma infestans. Também houve avanços consideráveis na profilaxia da transmissão por transfusão sanguínea. Cada vez mais, a prevalência da infecção tem sido menor na população mais jovem e crianças. No entanto, a infecção oral com T. cruzi representa atualmente a mais documentada via de transmissão no Brasil. Microepidemias de doença de Chagas aguda devido à ingestão de alimentos contaminados com triatomíneos infectados ou suas fezes (água, açaí, suco de cana- de-açúcar etc.) têm sido relatadas em vários estados brasileiros, incluindo o Rio Grande do Sul, Amazonas, Amapá, Santa Catarina e Bahia. 20WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Além disso, a presença crescente da doença de Chagas em áreas não endêmicas, principalmente devido à imigração, torna esta doença um problema de saúde não só de países endêmicos. Estima- se que mais de 300 mil pessoas infectadas com o T. cruzi vivem atualmente nos Estados Unidos e, embora relativamente limitado, os dados epidemiológicos da Europa estimam 59-108 mil casos de doença de Chagas, com números mais elevados na Espanha e Itália. Devido a situação atual, os EUA, França, Espanha e Reino Unido instituíram a triagem para detecção de T. cruzi nos bancos de sangue e órgãos para transplante. 1.2.5 Diagnóstico laboratorial Os métodos de diagnóstico laboratorial apresentam diferentes resultados quando aplicados na fase aguda ou crônica da infecção. Na fase aguda, observa-se alta parasitemia, presença de anticorpos inespecíficos e início de formação de anticorpos específicos (IgM e IgG). Nesta fase, recomenda-se: pesquisa direta (exame de sangue a fresco, exame de sangue em gota espessa ou esfregaço sanguíneo corado e métodos de concentração) e, se necessário, pesquisa indireta do parasito (xenodiagnóstico, hemocultura ou inoculação em animais de laboratório). Na fase crônica, observa-se baixíssima parasitemia e presença de anticorpos específicos (IgG). Recomenda-se, para o diagnóstico, métodos sorológicos (imunofluorescência indireta, ELISA, hemaglutinação indireta ou fixação de complemento) ou a pesquisa do parasito por métodos indiretos (xenodiagnóstico, hemocultura ou inoculação em animais de laboratório). Estes métodos de diagnóstico parasitológicos tomam-se necessários quando a sorologia é duvidosa ou quando se deseja verificar a eficácia de tratamento. Outra técnica recente que vem sendo amplamente utilizada é a Reação em Cadeia de Polimerase (PCR), esta consiste na amplificação in vitro de fragmentos de DNA de T. cruzi presentes em amostras de sangue, soro ou tecidos do paciente infectado. A PCR possui elevada sensibilidade e especificidade em detectar o DNA de T. cruzi, mesmo em casos de sorologia duvidosa ou negativa (capaz de detectar quantidades de DNA muito menores a de uma única célula do parasito). No Brasil, devido à ausência de protocolos definidos e de procedimentos operacionais padronizados, assim como de kits comerciais para uso na rotina da vigilância em saúde, a PCR não pode ser considerada um método de diagnóstico isolado para confirmação ou descarte de caso de doença de Chagas aguda ou crônica. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o diagnóstico sorológico da doença de Chagas seja realizado utilizando sempre dois testes sorológicos diferentes em paralelo, para a obtenção de resultados mais precisos. No caso de resultados duvidosos, devem-se empregar outras técnicas e repetir as reações. Se dois métodos apresentarem resultados contraditórios, realizar um terceiro método de princípio diferente. Se permanecer a dúvida, realizar um quarto método de imunodiagnóstico e se ainda permanecer a dúvida realizar um método de diagnóstico não-imunológico. No caso de banco de sangue, recomenda-se o uso de três técnicas imunológicas de princípios diferentes para assegurar a detecção da maioria dos casos. 1.3 Trichomonas vaginalis - Tricomoníase O Trichomonas vaginalis é um protozoário flagelado, agente etiológico da tricomoníase. Parasita o trato geniturinário de homens e de mulheres e pode ser transmitido sexualmente, sendo considerado uma DST (doença sexualmente transmissível) de origem não viral mais prevalente no mundo. 21WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Embora menos de 20% das mulheres parasitadas sejam sintomáticas, o parasito pode causar vulvovaginite e doença inflamatória pélvica. Entre os homens, aproximadamente de 14 a 60% dos parceiros de mulheres infectadas também albergam o parasito, sendo geralmente assintomáticos, mas podendo desenvolver uretrite ou prostatite. 1.3.1 Morfologia O T. vaginalis apresenta apenas o estágiode trofozoíto, este possui uma forma tipicamente elipsoide ou oval, medindo de 7-32 µm de comprimento por 5-12 µm de largura, dependendo das características físico-químicas do ambiente em que se encontra. Possui quatro flagelos livres que emergem do polo anterior, chamado canal periflagelar. Ainda pode ser observado outro flagelo que emerge fora desse canal e fica voltado para trás, formando uma membrana ondulante que se mantém aderida por toda extensão do corpo do parasito. Próximo a membrana ondulante encontra-se a costa, estrutura de sustentação, que consiste em um complexo feixe de filamentos. A movimentação do trofozoíto se dá pela ação dos flagelos livres e da membrana ondulante. Outra importante estrutura presente nesse parasito é o axóstilo, com forma de fita, formado por microtúbulos que percorrem toda a extensão do corpo até o polo posterior. A principal função do axóstilo é provavelmente o suporte de célula, mas pode também auxiliar no processo de divisão celular. O núcleo celular é relativamente grande, alongado e situado na metade anterior do corpo celular (Figura 10 e 11). Figura 10 – A) Morfologia do T. vaginalis. B) Ultraestrutura do T. vaginalis, com as principais organelas. Fonte: Ferreira (2012). 22WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 11 – Trofozoítos de T. vaginalis (setas) em amostra de secreção vaginal corada pelo Giemsa. Fonte: Ferreira (2012). 1.3.2 Ciclo biológico O ciclo de vida do T. vaginalis é do tipo monoxênico. Este parasito habita o aparelho geniturinário da mulher (mucosa vaginal e uretra) e do homem (prepúcio, uretra e próstata). É um parasito anaeróbio facultativo, que se desenvolve bem em ambientes com baixa tensão de oxigênio, com pH entre 5,0 e 7,5 e temperatura entre 20 e 40°C. A reprodução ocorre por divisão binária. Não há formação de cistos e podem resistir no ambiente (fora do hospedeiro) por algumas horas em temperaturas elevadas (40°C). O mecanismo de transmissão desse parasito é principalmente a relação sexual (Figura 12). Alguns autores afirmam que o T. vaginalis poderia ser transmitido por meio de roupas de cama, assentos sanitários, roupas íntimas, artigos de higiene, entre outros. Atualmente admite- se que a transmissão não sexual é incomum, mas pode ser aceita para explicar tricomoníase em crianças e virgens. Além disso, mães infectadas podem contaminar suas filhas durante o parto (2 a 17%). A vagina, em condições normais, é resistente à infecção pelo Trichomonas vaginalis, e a infecção estaria associada a modificações do meio. Entre as alterações, podemos citar modificação da flora bacteriana (redução de Lactobacillus), aumento do pH vaginal e descamações do epitélio. Esses fatores estariam relacionados a alterações hormonais ou a processos naturais de inflamação e de infecção bacteriana. 23WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 12 – Ciclo biológico do T. vaginalis. Fonte: adaptado de Neves (2016) e CDC. 1.3.3 Aspectos clínicos e patogenia A infecção por T. vaginalis está associada a um amplo espectro de manifestações clínicas, cuja intensidade depende de fatores genéticos do parasito e do hospedeiro, da interação entre organismos da flora vaginal e da fase do ciclo menstrual em que ocorre o contato com o parasito. Além disso, a interação do T. vaginalis com seu hospedeiro é um processo complexo, no qual estão envolvidos componentes associados à superfície celular do parasito e células epiteliais do hospedeiro e também componentes solúveis encontrados na secreção vaginal e uretral. Vários estudos mostram que pacientes com tricomoníase apresentem um risco de adquirir infecção pelo HIV seis vezes maior do que as mulheres não infectadas. Os mecanismos biológicos propostos para explicar esse achado são a ruptura do revestimento epitelial, que facilita a penetração do vírus em camadas celulares subjacentes e o acesso à corrente sanguínea, e o recrutamento de linfócitos CD4+ por T. vaginalis, células - alvo do HIV. A tricomoníase durante a gravidez pode resultar em ruptura prematura das membranas, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Além disso, predispõe mulheres à doença inflamatória pélvica, pois infecta o trato genital superior, causando resposta inflamatória que danifica as células ciliadas da tuba uterina, inibindo a passagem de espermatozoides e óvulos. Recentemente, estudos têm mostrado a associação da tricomoníase com tipos agressivos de câncer de próstata. 24WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Nas mulheres, o espectro clínico da tricomoníase varia de forma assintomática ao estado de vaginite aguda. A manifestação mais frequente é a leucorreia, que consiste em um corrimento vaginal abundante. Dependendo dos microrganismos associados, podem apresentar coloração, viscosidade, cheiro e aspecto diversos. Pode, dessa forma, variar de um corrimento esbranquiçado, sem sangue, a um corrimento esverdeado, bolhoso, de odor desagradável. A mucosa genital (vagina e cérvice), pode encontrar-se avermelhada, edemaciada e com pontos hemorrágicos (parede cervical com aspecto de morango), devido a um processo inflamatório associado, desencadeando vaginites, cervicites e vulvovaginites. O processo infeccioso é acompanhado por prurido, ardor e queimação, que se agravam à noite e durante as relações sexuais, além de dor ao urinar (disúria) e aumento da frequência miccional (poliúria). Os sintomas da tricomoníase são mais pronunciadas no período pós-menstrual e na gravidez. No homem, a infecção é geralmente subclínica. No entanto, T. vaginalis causa 3 a 17% das uretrites diagnosticadas em homens, com secreção pouco abundante, purulenta ou mucoide e mais frequente pela manhã. As complicações associadas à tricomoníase são: constrição uretral, prostatite, balanopostite e epididimite. 1.3.4 Epidemiologia e profilaxia A tricomoníase é uma doença cosmopolita, transmitida principalmente pelas relações sexuais, sendo considerada uma DST (doença sexualmente transmissível). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou, em 2008, uma incidência anual de 276,4 milhões de casos de tricomoníase no mundo. No Brasil, estima-se a ocorrência anual de 4,3 milhões de novas infecções por T. vaginalis. A incidência da infecção depende de vários fatores incluindo idade, atividade sexual, número de parceiros sexuais, outras DSTs, fase do ciclo menstrual, técnicas de diagnóstico e condições socioeconômicas. A perpetuação do protozoário depende da sobrevivência no hospedeiro, por não ter a forma cística, é suscetível à dessecação e às altas temperaturas, mas podem viver fora de seu habitat por algumas horas sob alta umidade. A profilaxia da tricomoníase é feita essencialmente com as estratégias utilizadas para as demais doenças sexualmente transmissíveis, com ênfase em hábitos de higiene pessoal e uso de preservativos. O diagnóstico e o tratamento precoce das infecções são medidas fundamentais para reduzir a fonte de infecção. Além disso, o tratamento dos parceiros de mulheres infectadas é outra estratégia importante para evitar reinfecções frequentes e assegurar a cura. 1.3.5 Diagnóstico laboratorial O exame microscópico convencional de preparação a fresco e de esfregaços fixados corados, junto com a cultura, são os procedimentos mais comumente empregados no diagnóstico da tricomoníase. Nas preparações a fresco, nos exames diretos das secreções urogenitais em salina, observam-se os trofozoítos, com tamanho aproximado de um leucócito, movimentando- se ativamente na amostra; quando o protozoário está em repouso, é possível ver seu batimento flagelar. Quando a análise das preparações à fresco e coradas são negativas, o diagnóstico deve ser complementado pela cultura do parasito. 25WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA O imunodiagnóstico por meio de reaçõesde aglutinação, métodos de imunofluorescência e técnicas imunoenzimáticas (ELISA) tem contribuído para aumentar o índice de certeza dos resultados. No entanto, estas técnicas não substituem os exames parasitológicos, mas podem completá-los quando negativos. Testes imunocroatográficos têm sido usados no diagnóstico da tricomoníase, são testes simples e rápidos, mais sensíveis que o exame a fresco, porém menos sensíveis que a cultura. Por apresentarem resultados falso-positivos em populações com baixa prevalência da infecção, estes testes são raramente utilizados na rotina laboratorial. 1.4 Giardia duodenalis - Giardíase O gênero Giardia inclui protozoários flagelados parasitos do intestino delgado de mamíferos, aves, répteis e anfíbios sendo nestes hospedeiros o agente etiológico da giardíase. Dentre as espécies descritas, Giardia duodenalis (= Giardia intestinalis = Giardia lamblia) é a única espécie que parasita o homem, podendo infectar outros mamíferos, incluindo animais domésticos como cães e gatos e uma variedade de animais silvestres. A giardíase em países em desenvolvimento é uma das causas mais comuns de diarreia, sobretudo em crianças, podendo impedir o desenvolvimento físico satisfatório. Entre indivíduos de países desenvolvidos G. duodenalis é principal parasito intestinal encontrado na população, sendo a causa mais frequentes de surtos epidêmicos de diarreias associadas a água para consumo. 1.4.1 Morfologia Giardia duodenalis apresenta duas formas evolutivas: trofozoíto e cisto (Figura 13 e 14). O trofozoíto é encontrado no intestino delgado, sendo a forma responsável pelas manifestações clínicas da infecção. No que se refere às características morfológicas esta forma evolutiva possui formato de pera (20µm de comprimento por 10µm de largura), com simetria bilateral e quatro pares de flagelo. A face dorsal é lisa e convexa, enquanto a face ventral é côncava, apresentando uma estrutura semelhante a uma ventosa, que é conhecida por disco ventral ou suctorial. Abaixo do disco, na parte ventral, é observada a presença de uma ou duas formações paralelas, em forma de vírgula, conhecidas como corpos medianos. No interior do trofozoíto, localizados na sua parte frontal, são encontrados dois núcleos. O Cisto, forma de resistência, responsável pela transmissão do parasito, possui forma oval (12µm de comprimento por 8µm de largura), quando corado, pode mostrar uma delicada membrana destacada do citoplasma. No seu interior, encontram-se dois ou quatro núcleos, axonemas de flagelos e os corpos escuros com forma de meia-lua situados no polo oposto aos núcleos. 26WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 13 - Representação esquemática do A) trofozoíto e B) cistos de G. duodenalis. Fonte: Ferreira (2012). Figura 14 - A) Trofozoíto de G. duodenalis em amostra de fezes corados com hematoxilina férrica e B) Cisto de G. duodenalis em amostra de fezes corados com hematoxilina férrica. Fonte: Ferreira (2012). 1.4.2 Ciclo biológico G. duodenalis possui um ciclo de vida do tipo monoxênico (Figura 15). A via normal de infecção do homem é a ingestão de cistos presentes na água (a cloração da água bem como o aquecimento a 60ºC não são suficientes para destruí-los) e alimentos contaminados (verduras cruas e frutas mal lavadas). Além da transmissão hídrica e por alimentos, a transmissão direta de pessoa a pessoa, por meio das mãos contaminadas, é comum em locais de aglomeração humana (creches, orfanatos, asilos, escolas etc.). São necessários de 10 a 100 cistos para que ocorra a infecção no homem. Após a ingestão dos cistos, o desencistamento é iniciado no meio ácido do estômago e completado no duodeno e jejuno. Os trofozoítos se multiplicam por divisão binária longitudinal, assim colonizam o intestino, onde permanecem aderidos à mucosa intestinal por meio do disco adesivo. O ciclo se completa pelo encistamento do trofozoíto e sua eliminação para o meio exterior juntamente com as fezes do hospedeiro (em caso de trânsito intestinal acelerado, pode ocorrer também a presença de trofozoítos nas fezes). A eliminação dos cistos não é contínua (intermitente), ocorrendo às vezes períodos de 7 a 10 dias durante as quais estão presentes em pequena quantidade ou ausentes. 27WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Os cistos podem permanecer viáveis por vários meses no meio ambiente, desde que em condições favoráveis de temperatura e umidade. Figura 15 - Ciclo biológico do G. duodenalis. Fonte: adaptado de CDC. 1.4.3 Aspectos clínicos e patogenia Em seres humanos, a infecção por G. duodenalis pode ser assintomática ou desenvolver quadros de diarreia, que variam de diarreia aguda e autolimitante a diarreia persistente com evidências de má absorção. Os fatores que possivelmente contribuem para esta variabilidade de formas clínica são: a virulência do parasito; idade e estado imunitário do hospedeiro no momento da infecção. As infecções previas por G. duodenalis produzem um certo grau de proteção imune em infecções subsequentes. Por isso, em áreas endêmicas a maioria das infecções sintomáticas ocorrem em indivíduos imunocomprometidos, como em crianças ou em viajantes não imunes, provenientes de áreas de baixa transmissão. A infecção assintomática ocorre tanto em adultos como em algumas crianças. A giardíase aguda caracteriza-se por ser uma doença diarreica com duração entre 2 e 4 semanas. Os sinais e sintomas mais comuns são a esteatorreia e o desconforto abdominal, podendo haver náuseas, vômitos e perda de peso. Embora a infecção seja autolimitada, indivíduos imunocomprometidos podem apresentar diarreia crônica com duração superior a 2 semanas. Em um quarto dos pacientes não imunes, os sintomas podem persistir por 7 semanas ou mais. Nesses casos, a perda de peso pode ser pronunciada devido as dificuldades de absorção de diversos nutrientes, como, vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), vitamina B12, ferro, ácido fólico, entre outros. 28WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Essas deficiências nutricionais raramente produzem danos sérios nos adultos, contudo em crianças, podem ter efeitos graves. Os mecanismos pelos quais a G. duodenalis causa diarreia e má absorção intestinal não são bem conhecidos. O parasitismo pode ocasionar mudanças na arquitetura da mucosa, observa-se que os trofozoítos aderidos ao epitélio intestinal podem romper e distorcer as microvilosidades do lado que o disco adesivo entra em contato com a membrana da célula. Além disso, há evidências que o parasita produz e libera substâncias citopáticas na luz intestinal, rompendo a integridade da membrana das células, além de processos inflamatórios desencadeados pelo parasito. Apesar dos vários estudos desenvolvidos, não há uma única explicação para a diarreia e a má absorção nas infecções por G. duodenalis. Na verdade, todo o processo parece ser multifatorial, envolvendo fatores associados às alterações da mucosa, do próprio ambiente intestinal e cepa do parasito. 1.4.4 Epidemiologia e profilaxia Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que haja 200 milhões de pessoas com giardíase sintomática no mundo. G. duodenalis tem sido referido como o parasito entérico mais frequentes nos inquéritos coproparasitológicos em diferentes regiões, sendo que esta situação é favorecida, pela facilidade com que estes cistos são acidentalmente ingeridos com água ou alimentos contaminados. A transmissão hídrica assume importância epidemiológica na transmissão da giardíase. Isso ocorre, porque os cistos, além da resistência as condições ambientais, resistem a ação de desinfetantes químicos, inclusive ao cloro empregado nas estações de tratamento de água. É também importante mencionar o papel de alimentos contaminados por manipuladores e dos insetos atuando como vetores mecânicos para o transporte de cistos deG. duodenalis. O contato pessoa-pessoa também são relevantes na transmissão, especialmente em instituições como creches e asilos. A transmissão pessoa-pessoa não se restringe necessariamente a situações em que as condições sanitárias são precárias. Explica-se, assim, em parte, a persistência da giardíase em comunidades com acesso adequado a água encanada e esgoto tratado, mesmo quando os demais parasitos intestinais se tornam raros. A importância do reservatório animal na infecção humana varia em diferentes contextos epidemiológicos. Em áreas urbanas da Austrália, proporções semelhantes de cães são infectadas com variantes de G. duodenalis, com potencial zoonótico e variantes exclusivamente caninas, sugerindo a possibilidade de transmissão de G. duodenalis entre animais de estimação e o homem. Como profilaxia da giardíase, são recomendadas medidas de higiene pessoal (lavar as mãos), destino correto das fezes (fossas, rede de esgoto), proteção e correta lavagem dos alimentos (frutas e verduras), tratamento correto da água (ferver), diagnosticar os animais domésticos infectados e trata-los (potencial zoonótico). 29WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.4.5 Diagnóstico laboratorial A giardíase é geralmente diagnosticada por meio de exame parasitológico de fezes. Em fezes diarreicas, geralmente, predominam trofozoítos do parasito, situação em que amostras recém-emitidas devem ser examinadas rapidamente por meio do método direto e coloração pela hematoxilina férrica ou pelo tricrômico. Nas fezes formadas predominam cistos. Para o diagnóstico, são geralmente necessárias técnicas de concentração, os métodos de sedimentação espontânea (Hoffman et al., 1934) e centrífugo-flutuação (Faust et al., 1938) são os mais utilizados. Como os cistos de G. duodenalis são eliminados intermitentemente nas fezes, sugerem-se a coleta e o exame de pelo menos três amostras fecais, colhidas ao longo de 1 semana, para aumentar a sensibilidade do exame parasitológico, evitando resultados falso negativos. Além disso, técnicas imunológicas de detecção de antígenos de G. duodenalis nas fezes (coproantígenos), empregando a técnica de ELISA, tem demonstrado resultados satisfatórios no diagnóstico desta parasitose (sensibilidade 85 a 95% e especificidade de 90 a 100%). 1.5 Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar – Amebíase Amebíase refere-se ao parasitismo humano por Entamoeba histolytica e E. dispar. É considerada um importante problema de saúde pública, que leva milhares de pessoas a óbito no mundo todo. Apesar da alta mortalidade, muitos casos de infecções assintomáticas são registrados. Embora durante quase um século a E. histolytica tenha sido aceita como única espécie associadas à amebíase humana, definem-se atualmente duas espécies morfologicamente idênticas, que diferem em características bioquímicas, imunológicas, genéticas e epidemiológicas: E. histolytica, patogênica, e E. dispar, não patogênica. No entanto, casos de amebíase sintomática, denominado colite não disentérica (ausência de invasão da mucosa intestinal), foram identificados como produzidos pela E. dispar. Outras espécies de amebas do gênero Entamoeba, amebas dos gêneros Iodamoeba e Endolimax, embora não apresentem patogenicidade, são consideradas importantes nos aspectos sanitários, tendo em vista sua transmissão intimamente relacionada às precárias condições de higiene e de saneamento. A presença de amebas comensais no intestino humano, apesar de não causarem enfermidades (comensais), é um importante parâmetro de avaliação dos aspectos sanitários de uma determinada região, visto que sua presença indica elevado potencial de transmissão de parasitos patogênicos via oral-fecal. 30WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Neste tópico estudaremos a E. histolytica/dispar, devido à sua patogenicidade em humanos. 1.5.1 Morfologia A E. histolytica/dispar apresenta como principais formas evolutivas: os trofozoítos (parasitam o intestino grosso, sendo a forma responsável pelas manifestações clínicas da infecção) e os cistos (formas de resistência do parasito e também as formas infectantes). Trofozoítos (Figura 16A e 17A) são pleomorficos, medem de 20-40µm, podendo chegar a 60µm, devido ao aumento da sua atividade fagocitária e ao acúmulo de vacúolos digestivos, que podem conter hemácias fagocitadas no seu interior (forma invasiva). Estas formas evolutivas possuem núcleo esférico, arredondado e vesiculoso, com a cromatina periférica, formada por pequenos grânulos justapostos e distribuídos regularmente na parte interna da membrana nuclear, lembrando uma roda de carroça; o cariossoma é pequeno, central ou excêntrico. O citoplasma se distingue em ectoplasma (claro e hialino) e endoplasma (granuloso). Cistos (Figura 16B e 17B) são esféricos ou ovais, medindo de 8-20µm de diâmetro. Apresentam divisão múltipla por esquizogônia; podem conter um a quatro núcleos. Os cistos imaturos, isto é, aqueles com um ou dois núcleos, apresentam uma estrutura cilíndrica conhecida como corpo cromatoide (ribossomos agrupados), podem apresentar também vacúolo de glicogênio como fonte de reservas energéticas que são consumidas no processo de maturação. Figura 16 - Representação esquemática do A) trofozoíto e B) cistos de E. histolytica/dispar. Fonte: Ferreira (2012). 31WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 17 - A) Trofozoíto (stea branca) e cisto (seta preta) de E. histolytica/dispar em amostra de fezes coradas com hematoxilina férrica e B) Cisto de E. histolytica/dispar com corpos cromatoides bem evidentes em amostra de fezes coradas com hematoxilina férrica. Fonte: Ferreira (2012). 1.5.2 Ciclo biológico O ciclo biológico da E. histolytica/dispar é do tipo monoxênico (Figura 18). O ciclo se inicia quando o hospedeiro ingere os cistos maduros, juntamente de alimentos ou água contaminados. Os cistos passam pelo estômago, resistindo à ação do suco gástrico, chegam ao final do intestino delgado ou ao início do intestino grosso, onde ocorre o desencistamento, com a saída do metacisto, por meio de uma pequena fenda na parede cística. Em seguida, o metacisto realiza sucessivas divisões nucleares e citoplasmáticas, dando origem a quatro e depois oito trofozoítos, chamados trofozoítos metacísticos. Estes trofozoítos migram para o intestino grosso, realizando a colonização desse local. Em geral, os trofozoítos ficam aderidos à mucosa do intestino, vivendo como um comensal, alimentando-se de detritos e de bactérias. Sob certas circunstâncias, já na massa fecal, algumas formas trofozoíticas reduzem sua atividade, deixam de emitir pseudópodes, de fagocitar e de formar vacúolos digestivos, desprendem-se da parede intestinal, sofrem desidratação, eliminam substâncias nutritivas presentes no citoplasma e se transformam em pré-cistos. Em torno das amebas pré-císticas, é segregado um envoltório resistente – a parede/membrana cística –, transformam-se em cistos, inicialmente mononucleados. Por meio de divisões nucleares sucessivas, se transformam em cistos tetranucleados, que são eliminados com as fezes normais ou formadas. Os cistos são tipicamente encontrados nas fezes formadas, enquanto os trofozoítos são encontrados nas fezes diarreicas. Os cistos, forma de resistência e responsáveis pela transmissão do parasito, apresentam paredes bastante resistentes e podem sobrevivem por dias ou por semanas no ambiente externo. 32WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 18 - Ciclo biológico E. histolytica/dispar. Fonte: Ferreira (2012). 1.5.3 Aspectos clínicos e patogenia Habitualmente, os trofozoítos de E. histolytica/dispar ficam aderidos à mucosa do intestino, vivendo como um comensal, alimentando-se de detritos e de bactérias. Nesses casos, os trofozoítos assumem uma forma não invasiva,com ciclo não patogênico que evolui de forma assintomática. Embora clinicamente esse hospedeiro não apresente sintomatologia, ele elimina cistos nas fezes, sendo, dessa forma, muito importante do ponto de vista epidemiológico. Em alguns casos, o equilíbrio parasito-hospedeiro pode ser rompido e os trofozoítos invadem a submucosa intestinal, preferencialmente por meio do epitélio interglandular, multiplicando-se ativamente no interior das úlceras. As amebas invasivas desencadeiam a morte das células do epitélio intestinal, mediante dois processos distintos: citólise, devido a produção de uma proteína produtora de poros e morte das células epiteliais por apoptose. Além disso, a migração de neutrófilos e outros leucócitos, atraídos pelos mediadores inflamatórios liberados, agrava a lesão epitelial. Na submucosa, as amebas podem progredir em todas as direções, determinando inicialmente a típica ulceração chamada “botão de camisa”, caracterizada pela necrose liquefativa. As úlceras variam de tamanho e de forma e podem se estender a grandes proporções do intestino grosso, com comprometimento de toda a parede intestinal, com consequente perfuração, levando à peritonite fecal. Ocasionalmente, os trofozoítos podem penetrar nos vasos sanguíneos e, por meio da circulação porta, atingir órgãos, como o fígado principalmente e, posteriormente pulmão, rim, cérebro ou pele causando a amebíase extraintestinal. 33WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA As formas assintomáticas enquadram a grande maioria das infecções humanas por E. histolytica/díspar, e a infecção é detectada pelo encontro de cistos no exame de fezes. As formas sintomáticas da amebíase apresentam uma variedade de manifestações clínicas, que acompanha quadros de manifestações intestinais: a) forma diarreica; b) forma disentéricas; c) amebomas; d) apendicite amebiana. Em alguns casos, podem ocorrer complicações da amebíase intestinal, que compreendem perfurações, peritonites, hemorragia, invaginação, colites pós-disentéricas e estenoses (estreitamento de um segmento do intestino). A forma diarreica é uma das formas clínicas mais frequentes, caracteriza-se por duas a quatro evacuações, diarreicas ou não, por dia, com fezes moles ou pastosas, às vezes contendo muco. Desconforto abdominal ou cólicas podem ocorrer. A maioria das amebas provenientes deste quadro clínico foi identificada como E. dispar. A disenteria amebiana aparece mais frequentemente acompanhada de muco ou de sangue, cólicas intensas, tenesmo, náuseas, vômitos, podendo haver calafrios e febre, provavelmente produzidas pela E. histolytica. Nas formas extraintestinais (produzidas pela E. histolytica, forma invasiva), a patogenia está relacionada ao órgão parasitado. Na amebíase hepática, observa-se uma doença aguda não supurativa, com abscesso hepático e/ou necrose coliquativa. As principais manifestações clínicas são: dor, febre e hepatomegalia. 1.5.4 Epidemiologia e profilaxia Estima-se que existam cerca de 650 milhões de pessoas infectadas com E. histolytica/dispar no mundo, das quais 10% apresentam a forma invasiva (intestinal e extraintestinal), provavelmente produzidas pela E. histolytica. Pesquisas recentes, que utilizam técnicas moleculares, sugerem que a E. dispar seja dez vezes mais frequente em indivíduos assintomáticos. No Brasil, a infecção por E. histolytica/dispar apresenta grande diversidade no número de indivíduos infectados ou com sintomatologia da doença, variando entre as regiões. No sul e sudeste do país, a prevalência varia de 2,5 a 11%, na região Amazônica atinge até 19%, e nas demais regiões em torno de 10%. Na região Amazônica, a amebíase difere das outras regiões do país, pois, além de ser mais prevalente, manifesta-se com mais gravidade, sendo frequentes as formas disentéricas e os abscessos hepáticos. A amebíase é uma doença de transmissão fecal-oral, sendo os cistos formas infectantes do parasito, capazes de permanecer viáveis no ambiente (ao abrigo da luz solar e umidade) durante um período de 20 dias. Assim, a profilaxia desta doença depende de condições sanitárias adequadas e de educação sanitária. O principal veículo de transmissão de cistos é a água contaminada, embora alimentos como vegetais e frutas contaminados também desempenhem um papel importante. A principal fonte de infecção são os indivíduos assintomáticos, que eliminam cistos por longos períodos sem procurar tratamento; os pacientes com disenteria amebiana são relativamente pouco importantes para a disseminação da infecção, pois eliminam predominantemente trofozoítos, que se degeneram ao cair no meio externo e, quando confirmado o diagnóstico, são tratados. 1.5.5 Diagnóstico laboratorial O diagnóstico laboratorial da amebíase intestinal é geralmente realizado por meio de exame parasitológico de fezes. Em fezes diarreicas e disentéricas, predominam as formas trofozoíticas, nas fezes formadas predominam, os cistos. O encontro de trofozoítos nas fezes exige o exame de amostra fresca ou preservada; se não fixados adequadamente até 30 min após a sua eliminação nas fezes, os trofozoítos degeneram-se. 34WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Para a identificação das características morfológicas, que permitem distinguir trofozoítos de E. hystolytica/E. dispar de trofozoítos de amebas comensais, as preparações devem ser coradas, geralmente com hematoxilina férrica ou tricrômico. A pesquisa de cistos, em fezes formadas, é geralmente realizada com o auxílio de métodos de concentração. Entre eles, os mais frequentemente utilizados são os métodos de Hoffmann et al., 1934 (sedimentação de elementos parasitários por ação da gravidade), e Faust et al., 1938 (centrífugo-flutuação das amostras de fezes). Como a eliminação dos cistos nas fezes é intermitente e irregular, aconselha-se a coleta de fezes em dias alternados, esse procedimento pode diagnosticar 80 a 90% das infecções. Os métodos sorológicos (ELISA, imunofluorescência, hemaglutinação indireta...) estão sendo cada vez mais empregados, principalmente no diagnóstico da amebíase extraintestinal, em que os exames de fezes podem ser negativos. Outro método promissor é a pesquisa de coproantígenos pelo ELISA, este pode diagnosticar, com certa segurança, a presença de cistos e trofozoítos nas fezes, mesmo em pequenas quantidades não diagnosticadas no exame de fezes. 1.6 Plasmodium spp. – Malária A Malária é uma doença infecciosa febril aguda, potencialmente fatal, cujos agentes etiológicos são protozoários do gênero Plasmodium e transmitidos por meio da picada da fêmea infectadas do mosquito do gênero Anopheles. No Brasil, três espécies estão associadas à malária em seres humanos: P. vivax, P. falciparum (é responsável pela maioria das mortes relacionadas com a malária) e P. malariae. Uma quarta espécie, o P. ovale, só é encontrada em áreas restritas do continente africano. Recentemente, uma quinta espécie, P. knowlesi, tem sido associada a casos clínicos de malária no continente asiático. A malária é considerada um dos principais problemas de saúde pública no mundo, estima-se que a doença afete cerca de 200 milhões de pessoas, resultando em aproximadamente 600 mil mortes a cada ano, na grande maioria, crianças. Na América Latina, o maior número de casos é verificado na Amazônia brasileira, com registro anual de 120 a 200 mil casos/ano. Além das amebas que parasitam o intestino humano, existem amebas de vida livre que podem causar doenças em humanos. As principais espécies são: Naegleria fowleri, Balamuthia mandrillaris e espécies do gênero Acanthamoeba. Para mais informações sobre a morfologia, biologia, patogenia e diagnósticos destes parasitos realizar a leitura do “Capítulo 16 – Amebas de vida livre” do livro texto: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. 35WWW.UNINGA.BR PA RA SI TO LO GI A CL ÍN IC A | U NI
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