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1Curso Ênfase © 2021 TEMAS ESPECIAIS PARA JUIZ FEDERAL DIREITO CONSTITUCIONAL Poder Judiciário. O STF 1. Supremo Tribunal Federal (STF) O STF é o órgão máximo da organização judiciária brasileira, exercendo, simultaneamente, as funções de Corte Constitucional e de órgão de cúpula do Poder Judiciário. Trata-se, também, do órgão judicial mais antigo do Brasil: foi criado em 1828, durante o regime monárquico, sob o nome de Supremo Tribunal de Justiça, conforme previsão, à época, do art. 163 da Constituição de 1824. Nesse sentido, o Decreto nº 848, de 11.10.1890, editado pelo Governo Provisório da República, organizou o STF nos termos dos arts. 55 e 56 da Constituição Republicana de 1891, sendo efetivamente instalado em 28.02.1891 (LENZA, 2019, p. 848). 1.1. Regras gerais Segundo o art. 101 da Constituição Federal de 1988 (CF/1988), o STF é composto por 11 ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de 35 e menos de 65 anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Assim, para tornar-se ministro do STF, deve-se cumprir cinco requisitos: 2Curso Ênfase © 2021 a) Requisito administrativo: ser indicado pelo presidente da República, obtendo, posteriormente, aprovação, após sabatina, pela maioria absoluta do Senado Federal. b) Requisito civil: ter mais de 35 e menos de 65 anos. c) Requisito jurídico: ser brasileiro nato (conforme art. 12, § 3º, inciso IV, da CF/1988). d) Requisito político: estar em pleno gozo dos direitos políticos. e) Requisito moral: ter reputação ilibada. É importante salientar que a nomeação dos ministros do STF compete ao presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal (sabatina). O presidente do STF, por sua vez, é eleito diretamente pelos seus membros para um mandato de dois anos, sendo vedada a reeleição. 1.2. Competências do STF O STF exerce, simultaneamente, as funções de Corte Constitucional e de órgão de cúpula do Poder Judiciário. Na condição de Corte Constitucional, o STF exerce a jurisdição constitucional. Como órgão máximo do Poder Judiciário, o STF atua como tribunal de última instância, atuando, em alguns casos, como instância originária (por exemplo, o julgamento de parlamentares federais). As competências do STF estão taxativamente previstas na CF/1988 e podem ser: a) Competências originárias: São as ações ajuizadas diretamente no STF. Destacamos dentro da competência originária do STF o julgamento das ações de controle concentrado de constitucionalidade (Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI, Ação Declaratória de 3Curso Ênfase © 2021 Constitucionalidade – ADC, Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF); o julgamento do presidente da República e do vice-presidente, membros do Congresso Nacional, ministros do STF e o procurador-geral da República por infrações penais comuns. b) Competências recursais: São ações que chegam ao STF em razão de recurso apresentado perante decisão de outro órgão do Poder Judiciário. Dois tipos de recursos chegam ao STF: i) recurso ordinário (RO); e ii) recurso extraordinário (RE). 1.3. Competências originárias As competências originárias do STF estão previstas no art. 102, inciso I, da CF/1988: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I – processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993.) O STF tem competência para realizar o controle concentrado- abstrato de constitucionalidade. Nesse sentido, a Corte processa e julga a ADI, a ADO, a ADC e a ADPF. b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; O STF processa e julga, originariamente, as altas autoridades da República, detentoras de foro especial. Os crimes comuns cometidos pelos presidente da República, vice-presidente, membros do Congresso, ministros do STF e 4Curso Ênfase © 2021 procurador-geral da República são processados e julgados pelo STF. Nos crimes de responsabilidade, tais autoridades serão processadas e julgadas pelo Senado Federal. c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999.) O STF processa e julga, originariamente, crimes comuns e de responsabilidade: a) os ministros de Estado e os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado quando os crimes de responsabilidade forem conexos com o do presidente da República; b) membros dos Tribunais Superiores; c) membros do Tribunal de Contas da União (TCU); d) chefes de missão diplomática de caráter permanente. d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas datacontra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; Nesse sentido: a) O STF processa e julga o habeas corpus (HC) quando o paciente for uma das autoridades das alíneas “b” e “c”. Assim, quando qualquer uma das pessoas julgadas pelo STF sofrer violação ou ameaça de violação à sua liberdade de locomoção, o HC será impetrado no STF. b) O STF processa e julga o MS e o habeas data (HD) contra 5Curso Ênfase © 2021 atos do presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do TCU, do procurador-geral da República e do próprio STF. Perceba, caro leitor, que a alínea “d” não faz qualquer referência à ação popular, tendo em vista que não há foro especial em ação popular. Assim, caso seja ajuizada ação popular contra o presidente da República, esta será processada e julgada na primeira instância. e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território; O STF tem competência para processar e julgar litígios envolvendo pessoas jurídicas de direito internacional – Estado estrangeiro ou organismo internacional – e a União, os estados, o Distrito Federal ou territórios. Nas causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional x município ou pessoa domiciliada e residente no País, será da competência dos juízes federais (art. 109, inciso II), com RO para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; Na CF/1988 não há qualquer menção aos conflitos federativos envolvendo municípios. Dessa forma, caso ocorram, serão de Atenção! Atenção! 6Curso Ênfase © 2021 competência da Justiça Federal. g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; O STF tem competência para processar e julgar, originariamente, a extradição passiva (aquela solicitada por Estado estrangeiro). h) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004.) O dispositivo revogado mencionava a “homologação de sentençasestrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias”. Com o advento da EC nº 45/2004, tal competência passou a ser do STJ. i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 22, de 1999.) Caso algum Tribunal Superior – STJ, Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Tribunal Superior do Trabalho (TST) ou Superior Tribunal Militar (STM) – cometa ato que viole a liberdade de locomoção de um indivíduo, será cabível HC perante o STF. j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; Cabe ao STF processar e julgar, originariamente, a revisão criminal e a ação rescisória de seus próprios julgados. l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; O STF tem competência para processar e julgar a reclamação constitucional. Trata-se de ação que pode ser utilizada para garantir a obediência às decisões do STF em sede de controle concentrado de constitucionalidade, bem como às Súmulas Vinculantes (consoante dispõe o art. 103-A da CF/1988, 7Curso Ênfase © 2021 O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela EC nº 45, de 2004.) m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais; Nas causas de competência originária do STF, caberá ao próprio a execução da sentença. n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados; A Suprema Corte tem competência para processar e julgar as ações em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados. Também cabe ao STF processar e julgar a ação em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam interessados. o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal; p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade; As medidas cautelares nas ações do controle concentrado- abstrato de constitucionalidade serão processadas e julgadas, originariamente, pelo STF. q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal; 8Curso Ênfase © 2021 É importante salientar que o mandado de injunção (MI) é cabível diante de omissões inconstitucionais. Quando a omissão for do presidente, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas dessas Casas Legislativas, do TCU, de um dos Tribunais Superiores e do STF, o MI será processado e julgado, originariamente, pelo STF. r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004.) A competência do STF para julgar as ações contra o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e contra o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) se limita às questões mandamentais (tipicamente constitucionais): mandado de segurança (MS), MI, HC e HD. Dessa forma, faz-se uma interpretação mais restritiva do art. 102, inciso I, alínea “r”. 1.4. Competência recursal a) Recurso ordinário (RO) O RO para o STF está disposto nas hipóteses do art. 102, inciso II, da CF/1998: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: (...) II – julgar, em recurso ordinário: a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas datae o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político; Ocorre a situação da alínea “a” quando, diante de ações constitucionais – HC, MS, HD e MI – um Tribunal Superior, no exercício de sua competência originária, profere decisão denegatória. Por exemplo: o MS contra ato de Ministro de Estado, de competência originária do STJ. Se o STJ negar a 9Curso Ênfase © 2021 segurança, caberá RO para o STF. A alínea “b” se refere ao crime político. A competência originária para processar e julgar os crimes políticos é dos juízes federais (art. 109, inciso IV, da CF/1988). Da decisão, caberá RO diretamente para o STF. b) Recurso Extraordinário (RE) O STF, por meio do RE, também realiza o controle difuso de constitucionalidade. Trata-se de instrumento processual apto a verificar a compatibilidade de uma decisão judicial com a CF/1988. As hipóteses de apresentação do RE estão previstas no art. 102, inciso III, da CF/1988: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: (...) III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004.) O ajuizamento de RE para a Suprema Corte demanda o cumprimento de certos requisitos: a) Decisão recorrida prolatada em última ou única instância. Para que seja admissível o RE, não deve caber qualquer RO. b) Prequestionamento: A matéria constitucional objeto do RE já deve ter sido discutida pelo órgão que prolatou a decisão 10Curso Ênfase © 2021 recorrida. Dessa forma, o debate constitucional já deve ter sido iniciado antes de chegar no STF. c) Existência de repercussão geral: A repercussão geral é uma espécie de “filtro”, que serve para impedir que o STF aprecie REs sem significância social, política, econômica ou jurídica. A exigência foi criada pela EC nº 45/2004. Nesse sentido, o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, a fim de que o STF examine a admissão do RE. O STF somente poderá recusar a repercussão geral pela manifestação de dois terços dos seus membros. Nesse sentido: Art. 102. (...) § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros. Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência dos temas em provas de concursos públicos. A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e podcasts. Todos os direitos reservados.
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