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A Psicologia Existencial

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DESCRIÇÃO
Psicologia Existencial como perspectiva e aproximação no contexto da Psicologia e seu diálogo
com diversos autores do Existencialismo; a influência em outras áreas da Ciência Psicológica,
como a Psicologia da Personalidade, a Psicologia da Motivação e a Psicopatologia.
PROPÓSITO
Contribuir para o aprendizado e o aprofundamento do conhecimento sobre a Psicologia
Existencial como perspectiva da Psicologia, e suas influências em diferentes áreas, como a
Psicologia Clínica, da Personalidade, da Motivação e a Psicopatologia.
PREPARAÇÃO
Use um dicionário de Filosofia para ampliar seu conhecimento na área. O Dicionário de
Filosofia Nicola Abbagnano é uma boa sugestão e está disponível virtualmente.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Definir o que é Psicologia Existencial a partir de suas relações com o Existencialismo
MÓDULO 2
Reconhecer o pensamento de Karl Jaspers e sua influência na Psicopatologia Fenomenológica
MÓDULO 3
Reconhecer o pensamento de dois dos principais representantes da Psicologia Existencial:
Viktor Emil Frankl e Rollo May
INTRODUÇÃO
Qual é o sentido da sua vida? Você é totalmente livre ou é fruto de determinantes sociais,
psicológicos e biológicos? Como você lida com o fato da sua finitude? Provavelmente, em
algum momento da vida, toda pessoa se depara com questões semelhantes a essas e, embora
possamos dizer que esses questionamentos estejam presentes na prática de muitos psicólogos
e abordados por diferentes correntes da Psicologia, é na Psicologia Existencial que eles
ganharam especial interesse e aprofundamento.
Apresentaremos a você o que é a Psicologia Existencial, quais são as influências recebidas do
Existencialismo, seus principais representantes e como ela ainda se mostra evidente na
Psicologia do século XXI.
Vamos incentivá-lo, ao longo do conteúdo, a tomar uma atitude existencial: não somente
entender os conceitos apresentados, mas vivenciá-los para que você tenha uma experiência
existencial.
MÓDULO 1
 Definir o que é Psicologia Existencial a partir de suas relações com o Existencialismo
O QUE É A PSICOLOGIA EXISTENCIAL?
“SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO”
Certamente você já escutou, ou escutará a frase acima em algum momento de sua vida. Esse
famoso dito, atribuído ao personagem Hamlet, de Shakespeare, está carregado da
preocupação sobre o existir.
 Estátua de Hamlet, Stratford-upon-Avon, Warwickshire, Inglaterra, Reino Unido, Europa.
A Psicologia Existencial e seus diversos autores se debruçarão sobre questões referentes ao
existir da pessoa, em como essa pessoa configura a sua vida e como ela lida com aqueles
aspectos centrais da existência: sofrimento, angústia, finitude, amor, esperança, sentido.
Pode-se perceber que as questões próprias da Psicologia Existencial, que também podemos
chamar de questões existencialistas, não se resumem a elucubradas perguntas filosóficas,
mas se encarnam no cotidiano do existir pessoal, ou seja, podem ser percebidas no dia a dia,
na vida comum de todos.
QUESTÕES EXISTENCIALISTAS
São as perguntas que o homem pode fazer diante de sua existência: Quem sou eu? Qual o
sentido da minha vida? Como encaro a finitude da vida?
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A Psicologia Existencial pode ser compreendida como uma aproximação a aspectos da vida do
homem desde uma perspectiva existencialista. Isso significa que a angústia, a culpa, a
esperança, a vontade, o amor serão compreendidos desde um ponto de vista existencial.
AMOR
Pensemos, por exemplo, no amor. Uma perspectiva biológica poderia reduzir a experiência
amorosa a um complexo de descargas hormonais e de neurotransmissores que inclusive
podem gerar dependência. Uma perspectiva da Psicologia Existencial, como a de Viktor Emil
Frankl, sobre quem estudaremos no módulo 3, afirma que o amor é uma atitude em que uma
pessoa é capaz de apreender a totalidade de outra pessoa, ou seja, o amor vê o mais profundo
do outro ser humano.
Sendo assim, temos o primeiro ponto da construção de uma definição de Psicologia
Existencial: É uma aproximação às categorias psicológicas, aos aspectos psicológicos
da pessoa, desde uma perspectiva existencialista.
Você sabe o que é uma perspectiva existencialista? Para ajudar na compreensão,
exploraremos o Existencialismo, visto que a Psicologia Existencial recebe inúmeras
contribuições de pensadores que se enquadram nessa perspectiva filosófica.
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EXISTENCIALISMO OU
EXISTENCIALISMOS? EIS A NOVA
QUESTÃO
Em linhas gerais, o Existencialismo tem como marca a preocupação e a busca por
compreender a existência concreta da pessoa; ou seja, em como o homem conduz e vive sua
vida no cotidiano: suas angústias, esperanças, seus sonhos, sofrimentos. Seu realce não é
teorizar sobre a existência, mas como se aproximar ao máximo da experiência do viver
particular da pessoa.
EXPERIÊNCIA DO VIVER PARTICULAR DA
PESSOA
Uma ótima forma de observar essa experiência do viver que o Existencialismo quer incentivar
é facilmente reconhecida no filme Gênio Indomável , na cena (considerada por muitos a
melhor do filme) em que Sean (Robin Willians) e Will (Matt Damon) estão sentados em um
banco, frente a um lago. Naquele breve diálogo entre eles, fica claro que o conhecimento
teórico não substitui a experiência concreta do viver.
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Jolivet (1953) afirma que o Existencialismo surge sobretudo como uma resposta ao Idealismo e
Realismo que imperavam no pensamento filosófico da época e que, na tentativa de explicar a
pessoa, acabavam por ignorar seu mistério; ou seja, acreditavam que era possível explicar
totalmente a pessoa.
VOCÊ ACREDITA QUE EXISTA ALGUMA
PERSPECTIVA QUE CONSIGA EXPLICAR A
PESSOA EM SUA TOTALIDADE?
Abbagnano (1998), em seu dicionário de Filosofia, define o Existencialismo como “um conjunto
de filosofias ou correntes filosóficas cuja marca comum não são os pressupostos e as
conclusões (que são diferentes), mas o instrumento de que se valem: a análise da existência”.
A leitura dos diversos representantes do Existencialismo permite verificar que suas conclusões
e aproximações nem sempre coincidem. Veja o exemplo a seguir:
Jean-Paul Sartre (1905-1980)
Um dos pontos fundamentais do pensamento existencialista é a afirmativa do filósofo Jean-
Paul Sartre: “a existência precede a essência.” Com isso, Sartre quer dizer que a nossa forma
de viver, o nosso comportamento, o que fazemos com aquilo que fizeram conosco, molda
nossa essência, ou seja, não possuímos uma natureza prévia.

Gabriel Marcel (1889-1973)
Ainda que a premissa de Sartre seja compartilhada por muitos existencialistas, existem alguns,
como Gabriel Marcel, que a questionam, acreditando que haveria sim uma essência, mesmo
que fosse uma que permitisse ser formada pela existência; ou seja, seria parte da essência da
pessoa que a existência fosse o seu fundamento.
Mesmo que o Existencialismo, como conjunto de filosofias da existência, tenha diferenças entre
seus teóricos, um ponto relativamente comum é que todos buscam compreender a existência
do homem a partir da análise das situações cotidianas que a permeiam e que podem ser
consideradas fundamentais na existência da pessoa. A análise da existência é, portanto, a
ferramenta utilizada para se aproximar do mistério da pessoa.
Mondin (1981) cita cinco características fundamentais do Existencialismo:
MÉTODO FENOMENOLÓGICO
Método utilizado pelo Existencialismo como forma de analisar a existência humana, sendo
caracterizado pela clarificação da experiência, conduzido não à luz dos princípios metafísicos,
mas no âmbito da própria experiência, por intermédio da observação objetiva da realidade
assim como ela se manifesta (MONDIN, 1981).
PONTO DE PARTIDA ANTROPOLÓGICO
A origem e o norte da reflexão filosófica é o homem e sua experiência concreta.
TENTATIVA DE INTEGRAÇÃO DAS DIMENSÕES
HUMANAS
Existe um esforço em analisar a realidade da pessoa de forma integral, considerando seus
pensamentos (razão), sentimentos, instintos e suas paixões.
SUBORDINAÇÃODA ESSÊNCIA À EXISTÊNCIA
Ainda que alguns existencialistas não manifestem apoio a tal premissa, a maior parte deles
acredita que o homem, em seu existir, constrói e configura sua essência.
CRITÉRIOS DE CONDUTA MORAL
Tais critérios não viriam de Deus (como os dez mandamentos), nem da natureza da pessoa,
mas sim da história, por meio do existir concreto de cada pessoa.
 RESUMINDO
Podemos afirmar que o Existencialismo engloba diferentes filosofias da existência que têm, em
comum, a análise da existência concreta como forma de aproximação ao mistério da pessoa.
Por isso, alguns autores preferirão falar de existencialismos (diferentes filosofias), enquanto
outros falarão de Existencialismo (referindo-se ao conjunto de todas elas).
Após essa breve definição do que seja o Existencialismo, podemos apresentar alguns
expoentes desse movimento. Abordaremos um pouco do pensamento de Soren Aabye
Kierkegaard (1813-1855) e Martin Heidegger (1889-1976), nomes importantes para a
Psicologia Existencial.
PSICOLOGIA EXISTENCIAL
Você poderá conhecer outros filósofos existenciais explorando as Referências. Aqui, optamos
por aqueles mais relevantes no âmbito de sua influência na Psicologia.
SOREN AABYE KIERKEGAARD (1813-1855)
De acordo com Penna (1985), Kierkegaard pode ser considerado o fundador do movimento
existencialista contemporâneo. Conforme afirma Jolivet (1953), o fracasso dos sistemas, a
angústia, o valor exclusivo da subjetividade e o drama da existência pessoal são alguns
dos temas principais do pensamento do filósofo dinamarquês.
 Soren Kierkegaard, Dinamarca, 1840.
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Compreender o Existencialismo de Kierkegaard envolve perceber três aspectos: a realidade
existencial desse pensador, o contexto intelectual de sua formação e a influência religiosa em
sua vida. Confira abaixo os detalhes de cada aspecto:
REALIDADE EXISTENCIAL
Pode-se dizer que sua doutrina surge de uma incansável busca pelo autoconhecimento, uma
constante reflexão sobre si e sobre sua existência. Os temas que perpassam o pensamento de
Kierkegaard são aqueles que permearam sua existência: a verdade, a angústia, a experiência
religiosa, a finitude. O filósofo buscou uma coerência em seu existir, não somente pensando,
mas vivendo de acordo com seus pensamentos.
O homem, para Kierkegaard, é o principal problema para si, e a Filosofia deve contribuir
para que esse homem tome, pouco a pouco, consciência profunda de sua própria
existência, buscando que ela seja autêntica e pesando as exigências advindas dessa
autenticidade.
A tomada de consciência traz ao homem maior liberdade, mas não o isenta de maior
responsabilidade. Nisso tem-se a vivência da angústia, que para Kierkegaard “é a realidade da
liberdade enquanto possibilidade para a possibilidade”.
Até aqui, do pensamento de Kierkegaard, nota-se:
A defesa de uma vida coerente, ou seja, de acordo com a verdade concebida como
sentido de vida.
A realidade da angústia que naturalmente nasce da tensão pela busca dessa vida
coerente e do exercício da liberdade.
O autoconhecimento como caminho a ser desenvolvido e explorado pela pessoa para a
sua compreensão, que ocorre quando ela existe e, mais do que isso, quando analisa seu
existir.
CONTEXTO INTELECTUAL DA ÉPOCA
Kierkegaard se apresenta como um combatente da lógica hegeliana, que tentava explicar por
meio da dialética toda a complexidade da realidade da pessoa. Nas palavras de Jolivet (1953),
“a dialética suprime o mistério”.
Kierkegaard se insurge com a tentativa de explicar a pessoa desde a rígida lógica, defendendo
que a existência sempre se sobrepõe a explicações universais. Dessa premissa, surgiram
pontos que influenciariam a concepção de homem partilhada por psicólogos existencialistas,
como a de que cada pessoa é única e que sua vida é singular, não existindo outra configuração
igual em toda a história.
INFLUÊNCIA RELIGIOSA
A influência religiosa em Kierkegaard vem, especificamente, do luteranismo. Jolivet (1953), ao
falar da influência do cristianismo no pensamento de Kierkegaard chega a afirmar que não é
possível saber se “é Kierkegaard que é cristão ou se é o cristianismo que é kierkegaardiano”,
referindo-se a essa adaptação íntima entre o pensamento do filósofo dinamarquês e o
cristianismo.
O aspecto do sofrimento foi apreendido por Kierkegaard, notadamente, o tema da angústia.
Para Kierkegaard, a angústia é o mais próprio da existência humana; ela nasce do fato de que
a pessoa é livre e, portanto, passível de falha. Deparar-se com essa realidade, tomar
consciência dela leva, naturalmente, à angústia e pode conduzir ao sofrimento; este leva o
homem a ser provado e o desafia a mostrar quem é.
Sendo assim, Kierkegaard prepara o solo para o que será o Existencialismo e influenciará
psicólogos existencialistas, como Rollo May, e outros filósofos que aderirão a premissas
existenciais, como Karl Jaspers e Martin Heidegger.
 Martin Heidegger, Alemanha, 1960.
MARTIN HEIDEGGER (1889-1976)
Uma boa forma de começar a falar sobre Heidegger é que para ele a vida autêntica reside no
desespero. Parece contraditório dizer que essa é uma boa forma de começar a falar sobre
Heidegger, mas o desespero é um tema marcante do Existencialismo e aparecerá na obra de
outro filósofos.
É importante contextualizar a vida de Heidegger, sobretudo considerar que o filósofo alemão
vivenciou os ápices do desespero do século XX: Primeira e Segunda Guerras Mundiais. O
historiador Max Hastings (2012) afirma que, ao tentar se aproximar da experiência de dezenas
de pessoas que vivenciaram a Segunda Guerra Mundial, recebia a mesma explicação: “um
verdadeiro inferno”.
A principal preocupação de Heidegger é com o ser, tema de sua principal obra Ser e Tempo ,
sendo que seu pensamento desenvolve uma Ontologia. Entretanto, Heidegger defende que a
melhor forma de estudar e se aproximar do ser não é por meio da análise geral do ser, mas
da análise específica do próprio ser, do ser-aí, do Dasein. De acordo com Jolivet (1953):
“pelo exame reflexivo deste existente, poder-se-á chegar a uma noção do sentido do ser em
geral”.
ONTOLOGIA
Ontologia é definida como a ciência que se debruça sobre o ser, sobre suas características
fundamentais.
DASEIN
Do alemão: existência, ser-aí. Termo heideggeriano que significa realidade humana, ente
humano, a quem somente o ser pode abrir-se. Mas como é ambíguo, correndo o risco de criar
uma brecha para o humanismo, Heidegger prefere usar o termo ser-aí. Na linguagem corrente,
Dasein significa existência humana, mas Heidegger procura pensar o que separa o homem
dos outros entes. Enquanto os entes são fechados em seu universo circundante, o homem é,
graças à linguagem, aí de onde vem o ser. Assim, o Dasein é o ser do existente humano
enquanto existência singular e concreta: “A essência do ser-aí (Dasein ) reside em sua
existência (Existenz ), isto é, no fato de ultrapassar, de transcender, de ser originariamente
ser-no-mundo” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008).
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Pode-se concluir que o método principal defendido por Heidegger é a análise da existência.
Da análise do Dasein , Heidegger retira duas conclusões:
A essência do ser, o que ele é, está determinada pela sua existência e, com isso, retoma
uma das premissas fundamentais do Existencialismo, ou seja, “a existência precede a
essência”.
Quando se fala do ser do Dasein , está se falando do ser particular do sujeito, ou seja, é
sempre o meu ser, não o ser em geral.
Dessas duas conclusões e dando continuidade à análise da existência, Heidegger (1997) vai
traçar as três características fundamentais do homem:
SER-NO-MUNDO
Todo homem está no mundo: ao olhar para o Dasein (ser-aí), para a existência concreta e
cotidiana do sujeito, percebo que ele se encontra em um mundo, ou seja, ele é um ser-no-
mundo, mas não está sozinho.
SER-COM-OS-OUTROS
Como o homem não está só, uma segunda característica que nasce é o ser-com-os-outros. O
homem serelaciona, tem cuidado com os outros e quando esse cuidar contribui para o
desenvolvimento do outro, significa coexistir.
SER-PARA-A-MORTE
Esse homem que tem como características ser-no-mundo e ser-com-os-outros se depara com
um dado do qual não pode fugir sem renunciar ao seu ser homem: a morte. Por isso,
Heidegger afirmará que o terceiro existencial do homem, o traço típico da pessoa, é o ser-
para-a-morte, a possibilidade permanente da existência.
Diante da realidade de que o ser-para-a-morte é uma possibilidade permanente da existência,
o homem se angustia. Entretanto, encarar e vivenciar essa angústia é necessário para a vida
autêntica.
PARA A EXISTÊNCIA AUTÊNTICA, O FUTURO É UM
VIVER-PARA-A-MORTE, QUE NÃO PERMITE QUE O
HOMEM SEJA ARRASTADO NAS POSSIBILIDADES
MUNDANAS.
(ANTISERI; REALE, 2006)
Da análise da existência de Heidegger, Ludwig Binswanger, psiquiatra suíço, desenvolverá a
análise existencial ou Daseinsanálise, sendo uma das abordagens da Psicologia Existencial.
DE VOLTA À PSICOLOGIA EXISTENCIAL:
RESOLVENDO A QUESTÃO
Após iniciar a tentativa de clarificar e conceituar a Psicologia Existencial, demos um passeio,
ainda que breve, pelo Existencialismo.
Você se lembra da definição de Psicologia Existencial que nos levou a esse passeio?
A Psicologia Existencial é uma aproximação às categorias psicológicas, aos aspectos
psicológicos da pessoa, desde uma perspectiva existencialista.
Em síntese, podemos dizer que essa perspectiva existencialista se baseia em uma
aproximação da realidade da pessoa desde a análise da existência, buscando esclarecer quem
é o homem desde a concretude do seu cotidiano. Podemos, agora, definir outras
características que contribuirão para entender o que é a Psicologia Existencial.
PRIMEIRA CARACTERÍSTICA
Ao mesmo tempo que é aclamada pelos psicólogos existenciais como uma virtude, é também
fonte de críticas. A Psicologia Existencial dá ênfase à subjetividade de cada pessoa como
caminho para seu autoconhecimento; entretanto, com isso, distancia-se, em parte, de um
modelo científico baseado em generalizações.
Como afirma Rollo May (1986), a Psicologia Existencial se esforça para compreender o homem
como experimentador, como aquele a quem acontecem as experiências. Essa ênfase, em certo
ponto, lançará mais luz sobre a experiência particular do que a busca por generalizações,
próprio do modelo científico moderno, o que gera críticas em relação à falta de cientificidade da
Psicologia Existencial.
Essas críticas, por exemplo, pontuam que a Psicologia Existencial não apresenta técnicas de
intervenção psicoterapêutica. Entretanto, conforme pontua Rollo May (1986), “não é um
conjunto de técnicas por si mesmas, mas é um interesse pela compreensão da estrutura do ser
humano e sua experiência que deve sustentar todas as técnicas.”
SEGUNDA CARACTERÍSTICA
Surge da premissa de que a existência precede a essência, o que na Psicologia Existencial
ocasiona a aproximação de que a pessoa é um ser em desenvolvimento e evolução, um
ser que pouco a pouco vai se autoconfigurando.
Em termos psicoterapêuticos, essa premissa se manifestará por uma resistência em acreditar
que fatos de nossa vida, por exemplo, relações infantis negativas, determinarão nosso
comportamento futuro. Para a Psicologia Existencial, sempre haverá espaço para a
mudança.
TERCEIRA CARACTERÍSTICA
É o diálogo com a Filosofia. Nesse sentido, Frankl (2011) afirma que toda psicoterapia tem
implicações metaclínicas e tais implicações são a visão de mundo (filosofia de
vida/cosmovisão) e visão de pessoa (visão de homem) que estão, na maioria das vezes,
implícitas nas teorias psicológicas.
A Psicologia Existencial, com base no Existencialismo, apresenta um fundamento filosófico
para suas premissas psicológicas sobre o comportamento e funcionamento humano, bem
como utiliza não somente o método científico, marcado pela experimentação e relação causal,
para compreender a realidade da pessoa, mas também o método fenomenológico.
QUARTA CARACTERÍSTICA
É a abertura para abordar temas como vontade e decisão, angústia, culpa, finitude,
transcendência, bem como as potencialidades da pessoa, a vivência do amor e a criatividade
que, não necessariamente, eram abordados de forma profunda por outras linhas da Psicologia
da época.
QUINTA CARACTERÍSTICA
Uma quinta característica se manifestará em um afastamento das categorias diagnósticas
como as do DSM-V (2014) e CID-10 (1994). Muitos psicólogos existencialistas acreditam que
as categorias diagnósticas acabam por engessar e dificultar a compreensão da pessoa. Além
disso, atrapalham a atitude fenomenológica, em que preconceitos e ideias anteriores devem
ser suspensos para se aproximar ao máximo do fenômeno estudado.
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MUDANÇA
Existem técnicas em Psicologia Existencial, como o diálogo Socrático, a Intenção Paradoxal e
a Derreflexão (essas últimas duas específicas da Logoterapia). Ainda que a Psicologia
Existencial defenda essa característica da pessoa quanto à autoconfiguração, ela não nega a
existência de condicionamentos. Essa assertiva pode ser vista em escritos de Viktor Frankl
quando ele pontua que a pessoa pode não ser “livre de que”, mas livre “para que”, ou seja, livre
para fazer algo com aquilo que fizeram com ela.
Após todas essas características, conseguimos chegar a uma conclusão do que seja a
Psicologia Existencial?
À nossa definição inicial, somamos mais algumas características que permitem compreender
que a Psicologia Existencial, mais do que um sistematizado corpo de técnicas e princípios, é,
na realidade, a proclamação de uma nova atitude e aproximação da pessoa no contexto da
Psicologia, influenciando diversas áreas como Psicologia Clínica, Psicologia da Personalidade,
Psicologia da Motivação.
Em síntese, a Psicologia Existencial é uma forma de ver o mundo, de ver o outro e de viver:
A PSICOLOGIA EXISTENCIAL, CONTUDO, NÃO É UMA
ESCOLA ESPECIAL – ISSO É IMPORTANTE. O
EXISTENCIALISMO É UMA ATITUDE, UMA
ABORDAGEM DOS SERES HUMANOS, NÃO UMA
ESCOLA OU UM GRUPO ESPECIAL.
(MAY, 1986)
EXISTENCIALISMO E PSICOLOGIA
EXISTENCIAL
Vamos aprofundar um pouco mais essa relação entre a Filosofia Existencialista e a Psicologia
Existencial.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Reconhecer o pensamento de Karl Jaspers e sua influência na Psicopatologia
Fenomenológica
ABORDAGEM EM PSICOPATOLOGIA
Imagine que você vá a um psiquiatra. Após entrar no consultório, o médico pergunta o motivo
de tê-lo procurado. Você relata que no último mês vêm experimentando dificuldade para dormir,
falta de apetite, tristeza, irritabilidade, pouca motivação para realização de atividades para as
quais anteriormente você tinha disposição, o que o leva ao isolamento.
O psiquiatra pega um livro escrito DSM-V (2014) e, após folheá-lo, aponta para uma página em
que está escrito Episódio Depressivo Maior; entrega-lhe uma receita de medicamentos e
pede para você voltar em um mês.
Esse pequeno exercício imaginativo representa uma abordagem em Psicopatologia. Essa
abordagem está ancorada no modelo médico, em que a preocupação está no conjunto de
sintomas da pessoa e sua consequente medicalização.
Antes de continuar, gostaríamos de saber:
O QUE VOCÊ ACHA DESSA ABORDAGEM?
Neste módulo, apresentaremos um importante nome da Psicopatologia e outra forma de
aproximação desenvolvida por Karl Jaspers, que sofreu grande influência de precursores do
Existencialismo, como Nietzsche e Kierkegaard.
KARL JASPERS E A PSICOPATOLOGIA
FENOMENOLÓGICA
Inicialmente, acreditamos ser importante pontuar que não existe uma única abordagem em
Psicopatologia. Desde uma explicação etimológica, Psicopatologia significa o estudo das
doenças da alma, sendo geralmente compreendida como o estudo das doenças mentais, suas
causas, sintomas e tratamentos.
Dalgalarrondo (2018) define a Psicopatologia como “um conjunto de conhecimentos referentes
ao adoecimento mental do ser humano. É um conhecimento que se esforça por ser
sistemático,elucidativo e desmistificante”.
 SAIBA MAIS
Existem diferentes abordagens dentro da Psicopatologia: descritiva, dinâmica, médico-
naturalista, psicanalítica, cognitivo-comportamental, entre outras.
Podemos dizer que a proposta de Psicopatologia defendida por Karl Jaspers é de uma
Psicopatologia existencialista, em que a pessoa é vista de forma única e singular.
Jaspers (1987), que junto com Heidegger pode ser considerado um dos principais nomes do
Existencialismo alemão, em sua importante obra Psicopatologia Geral , demarca a
diferenciação da Psicopatologia em relação à Psiquiatria, colocando-a como campo específico
do conhecimento, defendendo que a preocupação da Psicopatologia deve ser a pessoa como
um todo, completando que jamais se pode reduzir a pessoa a conceitos psicopatológicos.
 Karl Jaspers, Itália, 1946
QUANTO MAIS CONCEITUALIZA, QUANTO MAIS
RECONHECE E CARACTERIZA O TÍPICO, E QUE SE
ACHA DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS, TANTO MAIS
RECONHECE QUE, EM TODO INDIVÍDUO, OCULTA-SE
ALGO QUE ELE NÃO PODE CONHECER. COMO
PSICOPATOLOGISTA, BASTA SABER DA RIQUEZA
INFINITA DE TODO INDIVÍDUO, QUE NUNCA PODERÁ
ESGOTAR; INDEPENDENTEMENTE DISSO, PODERÁ,
COMO HOMEM, VER MAIS, OU QUANDO OUTROS
VEEM ESSE “MAIS”, QUE É ALGO INCOMPARÁVEL,
NÃO DEVE IMISCUIR-SE COM PSICOPATOLOGIA.
SOBRETUDO AVALIAÇÕES ÉTICAS, ESTÉTICAS,
METAFÍSICAS SÃO DE TODO INDEPENDENTES DE
AVALIAÇÕES E CLASSIFICAÇÕES
PSICOPATOLÓGICAS.
(JASPERS, 1987)
Essa importante passagem no início da obra já citada de Karl Jaspers abre espaço para
discussão de dois pontos muito atuais:
O cuidado com a rotulação e patologização da pessoa, ou seja, a pessoa é o seu transtorno.
A consideração da necessidade do conhecimento de outras áreas para melhor se aproximar da
realidade da pessoa.
Vejamos os detalhes de cada um a seguir.
Certamente você já deve ter escutado alguém dizer: sou depressivo, sou ansioso, sou bipolar,
ou ser descrito dessa forma. Essa tendência atual dialoga com um modelo psicopatológico que
deixou de levar em consideração a realidade pessoal que está para além do transtorno.
Essa atitude, além de ser uma evidência do esquecimento da realidade pessoal, favorece a
estigmatização, o preconceito e a consequente marginalização de todos aqueles que,
porventura, venham a sofrer com um transtorno mental crônico ou pontual.
Jaspers também vivenciava essa realidade em seu tempo, em que o preconceito com os
doentes mentais levava a contínuas intervenções discriminatórias, contribuindo para que
muitos vivessem à margem da sociedade. O modelo de Psicopatologia defendido por Jaspers
recoloca a pessoa e seu mistério em primeiro lugar, sendo necessário perceber essa realidade
para melhor compreender a doença e o transtorno que afeta aquela realidade pessoal.
Essa aproximação despatologizante também permite considerar toda a gama de elementos
positivos que cada pessoa encerra e que concretamente podem ser vistos em intervenções
como a de Nise da Silveira, ou seja, olhar para além da doença é olhar para todas aquelas
capacidades de transcendência (criatividade, amor, servir) que a pessoa possui.
NISE DA SILVEIRA
Nise da Silveira (1905-1999) foi singular na Psiquiatria brasileira. Pequenina e frágil, era uma
gigante em força e coragem com que defendeu e lutou por suas ideias no âmbito da Psiquiatria
institucional. Ela foi pioneira na terapia ocupacional, introduzindo esse método no Centro
Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro e, segundo suas próprias palavras, entrara na
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Psiquiatria “pela via de atalho da ocupação terapêutica, método então considerado pouco
importante para os padrões oficiais" (CÂMARA, 2002).
O segundo ponto diz respeito à compreensão de que o homem sempre transcende as
disciplinas e ciências e, por isso mesmo, compreendê-lo envolve levar em consideração outras
disciplinas. Ética, Filosofia, Antropologia, Neurociências, Sociologia, História são todo um
conjunto de áreas que se juntam para ajudar a se aproximar do mistério humano.
Para melhor apreender a realidade da pessoa, Jaspers, que era médico de formação, defende
a utilização de um método filosófico: a Fenomenologia. Jaspers reconhece que embora a
Psicopatologia esteja muito ligada à medicina somática, não deve prescindir dos “métodos que
se adquirem no ensino filosófico” (JASPERS, 1987).
Jaspers apresenta-se como um filósofo integrador, ou seja, busca unir o conhecimento das
ciências naturais e o da Filosofia na aventura por compreender o homem.
Muitos são os que tentaram dar uma definição de Fenomenologia; aqui apresentaremos uma
simples, que dialoga com a proposta de Jaspers: a Fenomenologia é um método, uma
atitude de pensamento, uma tentativa de apreender fenômenos de forma objetiva.
Voltando ao nosso exemplo inicial, a atitude fenomenológica não será resumida a categorizar
os sintomas e dar um rótulo à pessoa. Como discorre Jaspers (2005), a análise
fenomenológica será colocada em prática de três modos:
Pela imersão em gestos, comportamentos, expressões do paciente.
Pelo questionamento ao paciente sobre as vivências subjetivas dele.
Em autodescrições escritas.
Jaspers (2005) afirma que os fenômenos psicopatológicos necessitam de uma aproximação
fenomenológica que se debruçará mais na busca por bem ver e descrever o que está
ocorrendo em detrimento do estabelecimento de relações causais, ou seja, mais ver do que
explicar.
 RESUMINDO
A Psicopatologia Fenomenológica, portanto, busca na descrição dos fenômenos, por meio da
Fenomenologia, melhor compreender a vivência daquela pessoa única e singular. Não estamos
falando mais do depressivo e sim do “Carlos” que está acometido por uma depressão, que
possui uma história singular, um contexto particular, e naquele momento passa por uma
situação de adoecimento mental.
É interessante perceber que as formas pelas quais a análise fenomenológica é colocada em
prática se expressam não somente nas psicoterapias de base existencial – que têm, por
exemplo, como técnica muito difundida o diálogo socrático, uma forma de pouco a pouco
aprofundar em questionamentos sobre a vivência profunda do paciente –, mas também em
técnicas cognitivas muito utilizadas na Terapia Cognitivo-Comportamental, como o registro
de pensamentos automáticos, que consiste em estimular que a pessoa realize autodescrições
sobre pensamentos que a incomodam.
JASPERS (2005) RECONHECE O DESAFIO QUE
A FENOMENOLOGIA ENCONTRA,
NOTADAMENTE, QUANTO À QUESTÃO DA
PASSAGEM DA EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL PARA
A GENERALIZAÇÃO.
LEIA AQUI
"Sempre será custoso definir como se pode passar do caso individual para um entendimento
mais geral e uma delimitação mais completa. Deve-se ter em mente que as experiências de
pacientes individuais são infinitamente variadas, e que a fenomenologia extrai delas algumas
características gerais que podem ser igualmente achadas em outros casos e, portanto, podem
ser tomadas pela mesma característica, enquanto a infinidade de experiências individuais
continua mudando. Sustentamos, assim, que por um lado a fenomenologia efetua abstrações a
partir de uma infinidade de elementos em contínua mudança, e de outro lado é definitivamente
orientada ao perceptível e ao concreto, não ao abstrato." (JASPERS, 2005)
javascript:void(0)
A abordagem fenomenológica, portanto, não estará voltada para a criação de categorias
diagnósticas, mas para um contínuo aprofundar na experiência particular da pessoa acometida
por determinada patologia, sendo possível, dessas experiências, abstrair aspectos mais gerais,
um movimento semelhante ao de Martin Heidegger ao tentar abstrair conclusões sobre o ser, a
partir do Dasein .
A atitude fenomenológica demanda se livrar de preconcepções, ou seja, é uma tentativa de
aproximação do fenômeno suspendendo todo o conhecimento anterior sobre ele, para assim
se debruçar totalmente sobre esse fenômeno sem preconceitos que possam impedir sua
captação.
Até aqui, podemos ver algumas contribuições de Karl Jaspers para o campo daPsicopatologia:
Uma abordagem para além do transtorno, considerando a realidade da pessoa.
O reconhecimento de que a compreensão da realidade da pessoa vai para além do
conhecimento possível da Psicopatologia.
A utilização do método fenomenológico para o aprofundamento das questões psicológicas.
Além disso, três termos são importantes para Jaspers: situação, existência e
transcendência.
Ao se referir a situação (ou ser-em-situação), quer destacar o que considerou como aquilo que
é a base para a existência. Ou seja: é a realidade humana espaço-temporal; sua limitação
cotidiana, física e psíquica. Mas não caracteriza o ser verdadeiramente é. Daí a importância de
extrapolar essa condição, rumo à existência.
No que diz respeito à situação, Jaspers também terá a preocupação em se debruçar sobre a
verdadeira realidade do ser, como Heidegger, mas para além disso, entende a comunicação
como uma das principais características da existência.
O ato de comunicar, aqui não reduzido ao falar, significa a possibilidade de o homem ir além de
si mesmo, chegando à transcendência, que é própria da realidade humana, da situação
concreta do homem de estar no mundo.
Essa transcendência também ocorre no encontro de uma pessoa com a outra, do médico com
o paciente. De certo modo, Jaspers lança as bases do que, mais tarde, será explorado por
Binswanger em seu modelo de Psicopatologia Fenomenológica, em que o psiquiatra suíço
realça a importância do encontro terapêutico no processo de desvelar do outro e na
compreensão da Psicopatologia presente (MOREIRA, 2011).
A Psicopatologia Fenomenológica, influenciada por Jaspers e desenvolvida por Binswanger,
entende que o encontro entre o psiquiatra e o paciente é a possibilidade de que a presença do
sadio possa modificar a realidade do doente. Binswanger (2019) defende que a possibilidade
da psicoterapia ocorre somente devido a “um traço fundamental da estrutura do ser humano
como ser-no-mundo (Heidegger) em geral, justamente o ser-um-com-o-outro e o ser-um-para-
o-outro”.
O homem que está inserido em um mundo é dotado de consciência. Para Jaspers (1987),
abordar a consciência é abordar a experiência real de determinado acontecimento por parte da
pessoa, bem como a autoconsciência e a reflexão sobre si mesmo, retomando aqui
pressupostos existencialistas lançados por Kierkegaard, notadamente a importância da
autoconsciência, alcançada por meio da análise da existência.
 RESUMINDO
Em síntese, Karl Jaspers têm grande importância no campo da Psicopatologia, primeiramente
por separar essa disciplina da Psiquiatria, considerando-a como uma base importante para a
Psiquiatria e a Psicologia; por sublinhar a possibilidade e utilidade do método fenomenológico
para compreensão dos fenômenos mentais; e, em terceiro lugar, por contribuir para a
integração dos aspectos próprios do Existencialismo com a ciência médica, favorecendo o
diálogo frutífero entre esses dois campos do conhecimento na busca por compreender a
pessoa.
UM OLHAR DESPATOLOGIZANTE SOBRE O
INDIVÍDUO
Vamos conhecer um pouco mais das contribuições de K. Jaspers para a Psicologia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Reconhecer o pensamento de dois dos principais representantes da Psicologia
Existencial: Viktor Emil Frankl e Rollo May
EXPOENTES DA PSICOLOGIA EXISTENCIAL
No módulo anterior, abordamos um pouco dos conceitos e das formulações de Karl Jaspers e
sua influência na Psicopatologia Fenomenológica. Agora, abordaremos alguns expoentes da
Psicologia Existencial, dando ênfase a dois nomes.
Viktor Emil Frankl, expoente europeu da Psicologia Existencial e fundador da Logoterapia,
também conhecida como Terceira Escola Vienense de Psicoterapia;
 Viktor Frankl, Alemanha, 1965.
Rollo May, representante norte-americano da Psicologia Existencial.
 Rollo May, Universidade de San Diego, 1977.
O objetivo é que você consiga compreender os principais conceitos dos dois autores, tenha
referências de seus principais livros, bem como vislumbre na sua vida cotidiana elementos
abordados pelas teorias.
VIKTOR EMIL FRANKL (1905-1997) E A
LOGOTERAPIA
Se uma corrente de psicoterapia tem grande influência dos aspectos particulares da vida de
seu autor, no caso da Logoterapia poderíamos afirmar que a teoria teve na vida de Frankl uma
forma de comprovação, sendo que suas principais hipóteses e premissas foram
experimentadas na sofrível experiência do psiquiatra vienense em campos de concentração
durante a Segunda Guerra Mundial.
Nesse sentido, Xausa (2013) esclarece que “a Logoterapia não pode nem poderá ser
entendida na sua amplitude, sem o conhecimento da vida de seu autor”.
Viktor Emil Frankl nasceu em março de 1905 em Viena, tendo ao longo de sua formação
trocado cartas com Sigmund Freud e sido discípulo de Alfred Adler, dois grandes nomes da
nascente psicologia clínica e respectivamente fundadores da Psicanálise e Psicologia
Individual.
 Visão do campo de concentração de Auschwitz no inverno, onde Viktor Frankl foi
aprisionado pelos nazistas
Sendo judeu, Frankl (2010) sofreu a perseguição alemã, tendo sido levado para campos de
concentração acompanhado de esposa, mãe e pai. Foi o único a sobreviver às barbáries do
holocausto após quase três anos, com passagem por três campos de concentração. Frankl,
que já vinha desenvolvendo a Logoterapia desde 1926, teve na experiência dos campos seu
experimentum crucis , ou seja, pôde experimentar na concretude da existência a importância
do sentido para a vida.
Dentre um vasto número de obras, seu livro Em Busca de Sentido: Um Psicólogo no Campo de
Concentração apresenta-se como uma das mais importantes, considerado pela Biblioteca do
Congresso Americano um dos dez livros que influenciaram significativamente a humanidade.
Frankl, além de ser neurologista e psiquiatra, em sua formação teve contato com diversos
filósofos, como o existencialista Martin Heidegger e o fenomenólogo Max Scheler. A
Logoterapia apresenta uma rica contribuição de diferentes nomes, como bases para a
formulação teórica, e como opositores às ideias que se estavam formulando.
A Logoterapia é comumente conhecida como a psicologia do sentido da vida, ou mesmo como
a psicoterapia do sentido da vida. Frankl (2011) chegou a utilizar o termo análise existencial
para se referir à sua construção teórica; entretanto, ao perceber que Ludwig Binswanger (2019)
utilizava esse termo para se referir à Daseinsanálise, decidiu optar pela utilização principal do
termo Logoterapia.
Logoterapia tem como uma das raízes etimológicas a palavra logos , que para Frankl significa
sentido. Por isso, Frankl (2011, 2020), afirma que a principal motivação humana é a busca por
um sentido para sua existência, o que ele chama de vontade de sentido. Entretanto, este é
apenas um dos pilares da Logoterapia. Vamos nos aprofundar neles agora: liberdade da
vontade, vontade de sentido e o sentido de vida.
LIBERDADE DA VONTADE
Reflita e responda:
VOCÊ É LIVRE? OU MELHOR: VOCÊ ACREDITA
QUE É LIVRE?
Afirmar que a pessoa tem sua vontade livre é algo complexo. Nessa afirmação, vê-se dois
conceitos de ampla repercussão filosófica: liberdade e vontade, sendo que existem diferentes
aproximações teóricas para eles.
Como já vimos, esses dois termos são muito queridos pelos existencialistas e muitas filosofias
da existência abordam, de alguma forma, essa realidade da pessoa.
Frankl (2014) reconhece a dificuldade da Ciência em compreender a liberdade humana, mas
defende que o homem não é somente científico e, com isso, aventura-se a promover o
princípio de que a pessoa é livre.
Ao falar da liberdade da vontade Frankl (2011) estabelece um diálogo com a questão do
determinismo versus o pandeterminismo. Nesse sentido, a Logoterapia não defende uma
liberdade irrestrita. Essa defesa, certamente, seria ingênua visto que um breve olhar pelas
diversas ciências como a Biologia, a Genética, a Neurologia, a Sociologia, entre outras, permite
a conclusão de que existemcondicionantes, ou situações que influenciam o pensar, o sentir e o
agir.
A Logoterapia afirma que a pessoa é livre apesar de seus condicionamentos, podendo tomar
atitudes para além deles. Por isso, a posição da Logoterapia é contra o pandeterminismo, ou
seja, contra a afirmação de que somos totalmente determinados pelos aspectos biológicos,
psicológicos ou sociológicos. As palavras de Frankl são importantes nesse contexto do
determinismo versus pandeterminismo:
AFINAL, A LIBERDADE DA VONTADE SIGNIFICA A
LIBERDADE DA VONTADE HUMANA E ESTA É A
VONTADE DE UM SER FINITO. O HOMEM NÃO É LIVRE
DE SUAS CONTINGÊNCIAS, MAS, SIM, LIVRE PARA
TOMAR UMA ATITUDE DIANTE DE QUAISQUER QUE
SEJAM AS CONDIÇÕES QUE SEJAM APRESENTADAS
A ELE.
(FRANKL, 2011)
À liberdade da vontade, podemos relacionar outro conceito que integra a visão de pessoa para
Frankl (2014). Esse seria a responsabilidade, ou seja, para a Logoterapia, a pessoa é livre e
responsável.
Para a Logoterapia, o homem é livre para se autodeterminar, para se decidir, para se
autoconfigurar, como bem dizem os filósofos existencialistas; entretanto, por isso mesmo, em
última instância, é responsável por aquilo que se torna a cada dia.
Ser homem é sempre ser responsável. Essa responsabilidade acontece diante da consciência,
materializando-se na atitude diária, quando o homem é questionado pela vida sobre qual
atitude deve ter e as consequências que assumirá a partir delas. Essa característica torna a
existência humana ao mesmo tempo grandiosa e marcada por certo temor, ainda que tal temor
possa ser visto pelo lado positivo do assombro diante da magnitude do existir.
VONTADE DE SENTIDO
O segundo pilar da Logoterapia se relaciona especificamente com as teorias da motivação
humana: é a vontade de sentido.
Tanto a teoria psicanalítica quanto a psicologia individual, cujos dois grandes nomes são Freud
e Adler, tecem considerações sobre a motivação humana.
Frankl (2011) afirma que, para a Psicanálise, a vontade de prazer é o motivador principal e
que, para a Psicologia Individual, a vontade de poder é o motivador principal.
PARA A LOGOTERAPIA, O HOMEM MOVE-SE
PARA ALÉM DO PRAZER E DO PODER, ELE
MOVE-SE PARA O SENTIDO.
Frankl (2011) entende o prazer como uma das consequências da realização do sentido, sendo
que a fixação no prazer como busca principal constituiria um equívoco e poderia ser o caso de
uma neurose. De modo semelhante, Frankl entende o poder como uma forma de tentativa de
se alcançar o sentido e não como o objetivo em si, ou seja, ter certo poder pode auxiliar o
alcance do sentido, mas não é o sentido em si.
Na Logoterapia, o homem é visto como um ser que aponta para algo diverso dele mesmo,
sendo que o prazer e a felicidade não são sua meta principal e sim epifenômenos, ou seja,
consequências da realização de um sentido na vida.
Esse homem que é chamado para ir além de si mesmo na busca pelo sentido é dotado de dois
dinamismos: a autotranscendência e o autodistanciamento.
AUTOTRANSCENDÊNCIA
AUTODISTANCIAMENTO
AUTOTRANSCENDÊNCIA
Frankl (2011) quer significar essa capacidade do homem de ir além de si mesmo, seja para a
realização de uma obra (um trabalho), seja para amar alguém, seja para superar um sofrimento
inevitável.
AUTODISTANCIAMENTO
Frankl (2011) também defende a capacidade do homem de distanciar-se do mundo, para,
assim, vislumbrá-lo e adotar uma atitude em resposta frente às adversidades.
SENTIDO DE VIDA
O terceiro pilar da Logoterapia é o sentido de vida. Inicialmente, é importante sublinhar que a
Logoterapia não defende que o psicólogo possa dar um sentido de vida para o paciente: é
função deste e do logoterapeuta auxiliar a pessoa para que ela se abra a encontrar um sentido
para sua vida.
O sentido de vida é particular, diferindo de pessoa para pessoa, sendo uma resposta concreta
a situações específicas, colocadas pela vida como uma pergunta à pessoa. Com isso, o
sentido de vida para Frankl (2014) apresenta-se em um quadro que considera a pessoa como
um ser único e, portanto, sua atitude diante da vida também é única. Em seu livro A Vontade de
Sentido , Frankl (2011) traz uma esclarecedora definição sobre o sentido da vida.
LEIA AQUI
O ser humano é responsável por dar a resposta certa para as perguntas, encontrando o
verdadeiro sentido de uma situação. Sentido é algo a ser encontrado e descoberto, não
podendo ser criado ou inventado. Crumbaugh e Maholick apontam que a descoberta do sentido
de uma situação vivida se relaciona a uma percepção gestáltica. Essa hipótese se coaduna
com a afirmação de Wertheimer, um dos membros da escola da Gestalt: “Uma situação como 7
+ 7 = ? constitui um sistema portador de uma lacuna. É possível preencher esse espaço vazio
de várias maneiras. O complemento 14, no entanto, corresponde à situação, encaixa-se na
lacuna, atende ao que é estruturalmente exigido nesse sistema, nesse lugar, com sua função
no todo. Outros complementos, como 15, não se encaixam, não são os corretos. Chegamos
aqui, ao conceito de exigências da situação, a ideia de caráter de necessidade. Exigências de
tal ordem possuem uma qualidade objetiva.” (FRANKL, 2011)
Frankl, ao aprofundar o sentido de vida, pontua que ele pode ser encontrado, principalmente,
mas não exclusivamente, de três formas: criando um trabalho, ou praticando um ato;
experimentando algo ou encontrando alguém – sentido do amor –; pela atitude que tomamos
em relação ao sofrimento inevitável – sentido do sofrimento (FRANKL, 2014).
Frankl (2014) também aborda a falta de sentido na vida com que o homem pode se deparar,
vivenciando, assim, uma frustração da vontade de sentido. Essa frustração caracteriza-se,
sobretudo, por um “vazio existencial”, que, segundo o autor, pode ser visto no tédio e na
indiferença. O tédio representa, principalmente, a perda de interesse do sujeito pelo mundo, e a
indiferença, a passividade do sujeito diante da mudança e melhora da realidade.
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VOCÊ ACHA QUE O HOMEM DO NOSSO TEMPO
VIVENCIA UMA FRUSTRAÇÃO DO SENTIDO DA
VIDA?
Outro aspecto importante da Logoterapia é sua visão integradora da realidade humana. Para
Frankl (2020), o homem é um ser bio-psico-espiritual (ou noético). Espiritual na teoria
logoterapêutica não carrega o sentido religioso, mas sim antropológico. Refere-se à dimensão
própria do ser humano, aquela em que ocorrem os dinamismos fundamentais da
autotranscendência e autodistanciamento, bem como a consciência, a liberdade e a
responsabilidade.
Frankl (2020) afirma que a pessoa, em sua realidade concreta, não é regida por instintos ou
determinada por questões psicoemocionais não resolvidas. Ela é um ser que decide o que
fazer com seus instintos e com suas questões psicoemocionais não resolvidas. Essa decisão,
essa escolha, só é possível por causa da dimensão espiritual.
Para entender melhor, veja o exemplo a seguir:
EXEMPLO
Talvez o melhor exemplo seja dado pelo próprio Frankl em um de seus livros e que podemos
trazer para nossa realidade atual. Imagine um macaco que tivesse que tomar 20 agulhadas por
dia como parte de um experimento para testagem de uma vacina contra uma nova doença. Ele
sentiria dor física (dimensão biológica) e poderia desenvolver um pavor do aplicador da vacina
(dimensão psicológica). Entretanto, imagine que depois de algumas semanas se tenha
descoberto a cura para a doença. O macaco, diante de todo aquele sofrimento, teria
participado da cura dessa doença, mas nunca seria capaz de compreender o sentido de seu
sofrimento. Ao homem, foi dada a possibilidade de compreender, e isso é devido à sua
dimensão espiritual.
A Logoterapia continua sendo um advento no século XXI. Atualmente, tem sido retomada
senão em vários aspectos, ao menos em alguns de seus pressupostos, pela Psicologia
Positiva (SELIGMAN, 2002) e pelo Cognitivismo Existencial (PACCIOLLA; MANCINI, 2015).
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ROLLO MAY (1909-1994)
Se Viktor Frankl pode ser considerado o principal nome da Psicologia Existencial na Europa,Rollo May possui esse título no contexto norte-americano. Mas se, por algum motivo, esse
psicólogo existencial é pouco abordado em cursos de Psicologia, seu pensamento é
significativamente atual.
LEIA O TRECHO A SEGUIR E REFLITA: ESSE
RELATO GUARDA ALGUMA SEMELHANÇA COM
OS TEMPOS ATUAIS?
Rollo May (2004) desenvolve em sua prática as premissas existencialistas que já tivemos a
oportunidade de ver no módulo 1 e considera que o Existencialismo aporta a Psicologia e sua
tentativa de resolução dos problemas da pessoa.
No que diz respeito ao processo psicoterapêutico, alguns pontos do pensamento de Rollo May
são interessantes e dialogam com os dias atuais: a ansiedade e a culpa.
ANSIEDADE
May (1986) considera que toda pessoa é centrada em si mesma e, quando esse centro é
atacado, vivencia-se um ataque à própria existência. De certa maneira, esse ataque se
manifesta na percepção de que existe algo que pode destruir o ser da pessoa, sua existência.
Essa percepção leva ao estado de ansiedade, que May (2004) considera o mais presente no
homem de seu tempo, algo não muito distante do que atualmente vem sendo apresentado,
sendo a ansiedade um dos transtornos com maior índice de prevalência na população.
A ansiedade, para Rollo May, é a experiência de ameaça, a si mesmo ou a alguém que
avaliamos ser importante, originando uma constante atitude de defesa, de precaução, fechando
cada vez mais a pessoa em si mesma.
A pessoa ansiosa estará voltada para as possibilidades de ameaça do mundo, o que em nosso
tempo é potencializado por uma cultura que, em grande parte do tempo, exacerba as
possibilidades de risco, sendo que se May (2004) chamava sua época da era da ansiedade, a
nossa não deixa nada a desejar em relação a essa definição.
Rollo May acreditava que existia certo grau de ansiedade natural, ou seja, diante da
consciência de que somos livres e de que construímos nosso destino, a vivência de alguma
ansiedade seria um processo natural e, de alguma forma, indicaria uma abertura ao mundo,
uma aceitação de que a vida está batendo à nossa porta. Entretanto, existe também a
ansiedade patológica.
Essa ansiedade dialoga com outros males que May (2004) avalia fazerem parte de seu tempo:
a solidão e o vazio, já citados. Para Rollo May, a etiologia dessa condição está em uma
sociedade que se revolvia pela perda:
de valores.
do senso de self , ou seja, da dignidade e valor do ser humano.
da comunicação pessoal.
do senso trágico, em síntese, do sentido do sofrimento.
Novamente, a leitura de Rollo May dialoga em muitos aspectos com a nossa situação atual. A
relativização de valores, a dependência eletrônica que vem anulando as relações pessoais, o
constante ataque à dignidade da pessoa e um fechar de olhos ao sofrimento são
características que fazem parte de nossa sociedade.
O QUE É PRECISO FAZER PARA LIDAR COM
ESSAS QUESTÕES?
LEIA AQUI
O homem precisa redescobrir a si mesmo e, dando conta de sua existência, assumir a
liberdade e responsabilidades inerentes à vida humana. Rollo May acredita que cada um é
responsável por aquilo em que se transforma; é necessário que as pessoas tomem consciência
de aspectos como a inevitabilidade da morte, a importância de viver no presente e de que são
responsáveis por construírem o próprio destino para assim terem melhor saúde mental.
O processo terapêutico, portanto, deverá ajudar a pessoa a se tornar autoconsciente da
realidade em que está inserida, das ameaças que vem a perceber e, sobretudo, de que essa
realidade faz parte de seu mundo, podendo causar uma ação sua. Ajudar a pessoa a ver que
tem possibilidade de agir e, por isso, não é uma vítima da sua existência.
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CULPA
Além da ansiedade, Rollo May também aborda outra situação da existência humana: a culpa.
Para o psicólogo norte-americano, a culpa nasce quando não aceitamos nossas
potencialidades, quando não percebemos as necessidades das outras pessoas e quando nos
alienamos da natureza.
De alguma forma, a culpa é um fato do qual não temos como fugir completamente, sendo
importante não nos alienarmos diante dela, mas aceitarmos que somos seres falíveis e, com
isso, apontar para o autodesenvolvimento.
O autodesenvolvimento não acontece sozinho e aqui temos mais um aspecto da Psicologia
Existencial de Rollo May: somos seres que participam de outros seres. Esse ser-com-o-outro
faz parte do processo humano de desenvolvimento e crescimento e, portanto, da saúde
psíquica.
 RESUMINDO
Tanto a Logoterapia como a Psicologia Existencial de Rollo May partilham aspectos em comum
e são marcadas pelo Existencialismo. Em síntese, podemos apontar as seguintes
características de ambas as abordagens: a aproximação existencial a realidade da pessoa; a
consideração da necessidade de a pessoa enfrentar aspectos como morte, culpa e sofrimento;
uma compreensão de que a pessoa é um ser-com-o-outro, ou que se realiza na
autotranscendência, na saída de si para encontrar-se com outra pessoa.
CARACTERÍSTICAS DA LOGOTERAPIA
Aprofundaremos agora um pouco mais sobre a Logoterapia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreendemos um pouco mais a Psicologia Existencial, as influências do Existencialismo
nessa perspectiva da Psicologia, bem como o rico diálogo que pode nascer da relação
Psicologia-Filosofia.
Conhecemos Karl Jaspers, importante pensador no campo da Psicopatologia e que também
influenciou psicólogos existenciais. Sobretudo, pudemos tomar consciência de que a
compreensão da patologia mental não deve deixar de fora uma visão integral da pessoa.
Por fim, tomamos conhecimento de dois grandes nomes da Psicologia Existencial: Viktor Emil
Frankl e Rollo May. Ambos desenvolveram ricas contribuições para a Psicologia e ainda
influenciam outras abordagens psicológicas, como a Psicologia Positiva, a Terapia Cognitivo-
Comportamental e o Cognitivismo Existencial.
 PODCAST
Escute o professor José Augusto Rento Cardoso resgatando os temas importantes tratados em
Psicologia Existencial.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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ANTISERI, D; REALE, G. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad. Ivo
Storniolo. São Paulo: Paulus, v. 6, 2006.
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HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. Petrópolis: Vozes. 1997.
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XAUSA, I. A. M. A psicologia do sentido da vida. Campinas: Vide Editorial, 2013
EXPLORE+
Existem muitos filmes e livros sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Entretanto,
alguns permitem a aproximação da experiência concreta dos que vivenciaram esse trágico
momento da história. Sugerimos dois livros e uma série que o ajudarão a ter essa experiência
mais existencial do momento histórico que influenciou o Existencialismo e a Psicologia
Existencial do Século XX:
A Bailarina de Auschwitz , de Edith Eger, da editora Leya, 2020.
O diário de Anne Frank , de Anne Frank, publicado por várias editoras.
Band of Brothers , série norte-americana, produzida por Tom Hanks e Steven Spielberg,
entre outros, da HBO Home Video, 2002.
Você quer conhecer um pouco mais da Logoterapia desde a sua vivência no cotidiano? Leia O
mar me contou: A Logoterapia aplicada ao dia a dia , de Claudio Garcia Pintos, da editora
Cidade Nova, 2017.
Para saber mais sobre a impossibilidade de explicar de forma absoluta o comportamento
humano, pesquise na internet pelo vídeo Por que é impossível a previsão absoluta do
comportamento humano? , com o professor Gustavo Castañon.
Nada melhor do que o contato com o próprio autor para melhor conhecer a obra. Existem
entrevistas de Frankl muito interessantes e estão disponíveis no YouTube. Recomendamos a
pesquisa por duas:
Entrevista com Viktor Frankl – A descoberta de um sentido no sofrimento
Viktor Frankl 'Man Alive'
CONTEUDISTA
José Augusto Rento Cardoso
 CURRÍCULO LATTES
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