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DESCRIÇÃO Os experimentos na Psicologia que permitem tomadas de decisão amparadas por evidências na compreensão do comportamento humano. PROPÓSITO O domínio das bases e características da pesquisa experimental na Psicologia, assim como a aplicação dos seus princípios na investigação do comportamento permite compreender as pessoas, sem vieses e tendenciosidades. OBJETIVOS MÓDULO 1 Analisar as bases de uma pesquisa científica MÓDULO 2 Reconhecer as características do método experimental MÓDULO 3 Analisar experimentos que investigam a cognição humana INTRODUÇÃO Em nosso estudo, vamos revisitar alguns conceitos básicos do método científico, tais como a curiosidade do pesquisador, as formas de abordagens do conhecimento, as influências epistemológicas, dentre outros aspectos que influenciam pesquisas na Psicologia. Na sequência dessa pequena revisão de aspectos-chave, vamos investigar diversos exemplos que nos ajudarão a sistematizar a aplicação do método científico na investigação de fenômenos psicológicos e do comportamento. AVISO: orientações sobre unidades de medida. AVISO: ORIENTAÇÕES SOBRE UNIDADES DE MEDIDA Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por questões de tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das unidades. ANALISAR AS BASES DE UMA PESQUISA CIENTÍFICA MÓDULO 1 Analisar as bases de uma pesquisa científica javascript:void(0) À primeira vista, podemos dizer que um cientista, ou um pesquisador, é um curioso. É possível observar que as pessoas, em seu cotidiano, voltam sua atenção e curiosidade para as mais diversas questões. Ao escolher um smartphone, por exemplo, são curiosas acerca das suas características técnicas e as comparam com as de outros aparelhos. Isso vai determinar a tomada de decisão delas, ou seja, qual smartphone comprar. A maioria das pessoas, possivelmente, não pensa mais nisso após a compra do celular e, no geral, só se preocupa novamente com as características técnicas do aparelho em uma nova compra no futuro. A persistência em determinado assunto ou tema é um ponto que diferencia a curiosidade das pessoas, no senso comum, da curiosidade dos pesquisadores. Alguns cientistas pesquisam uma temática, uma tese, por boa parte de suas vidas e seguem toda uma sistematização de passos e procedimentos para suas tomadas de decisão, ou seja, para comprovar ou refutar hipóteses em delineamentos de pesquisa. ABORDAGENS DO CONHECIMENTO O método é mais uma característica que diferencia a curiosidade do senso comum da curiosidade do cientista/pesquisador. Vamos voltar ao exemplo do processo de escolha de um smartphone até a decisão da compra. Como a maioria das pessoas conduz esse processo? Algumas pessoas preferem ir até uma loja, outras optam por pesquisar o preço em várias lojas. Outros indivíduos fazem uma predileção pela internet pesquisando em sites específicos ou que comparem preços. Há quem, simplesmente, escolhe o aparelho pela dica de um amigo ou apenas pelo preço. Seja como for, o método para escolha do produto que será adquirido não é sistemático no senso comum. Normalmente, esse método é por conveniência. Já o método científico é sistemático, pois conduz a atitude dos pesquisadores a determinado campo de investigação da mesma maneira, permitindo que os achados das pesquisas possam ser comparados. Obviamente, existem diferentes modelos de ciência e múltiplos métodos de investigação. Não se trata de julgar o melhor ou pior método de investigação, tampouco estabelecer uma hierarquia no conhecimento científico. Neste e nos próximos módulos, vamos privilegiar e apresentar estudos e achados a partir de experimentos com construtos de interesse dos psicólogos. Abaixo, demonstramos os dois processos de abordagem do conhecimento: A que segue o senso comum e aquela que segue o método científico. Abordagem do conhecimento do senso comum. Abordagem do conhecimento do método científico. INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS, EPISTEMOLÓGICAS E PREMISSAS DO MÉTODO EXPERIMENTAL A seguir, abordaremos as relevantes influências do conhecimento filosófico e métodos de pesquisa que dão norte à aplicabilidade de ideias e investigações inerentes à profissão Psicologia. O OPERACIONISMO O operacionismo é um princípio que orienta determinados modelos científicos e, sem dúvida, o método experimental. Trata-se de construir uma linguagem científica com terminologias objetivas e precisas. Tal princípio embasa esforços na investigação de problemas que possam ser observados e demonstrados empiricamente. Nesse caso, a validade de uma descoberta científica depende das operações empregadas para evidenciar o fenômeno investigado/pesquisado. Deriva-se, então, o conceito de definição operacional, que significa explicar um conceito unicamente em termos dos procedimentos observáveis usados para produzi-lo e mensurá-lo (SHAUGHNESSY, et al., 2012). Por exemplo, uma definição operacional de aprendizagem em ratos pode ser relacionada à velocidade que o animal demora para sair de um labirinto ao qual já esteve exposto antes. O modelo científico não visa buscar verdades, tampouco as construir, mas atua na busca por evidências que possam demonstrar, empiricamente, como determinados fenômenos, ou determinadas variáveis, exercem influência sobre outras em condições específicas. Essas demonstrações empíricas precisam seguir as regras do método científico e, necessariamente, ser reproduzíveis, ou seja, outros pesquisadores precisam corroborar essas evidências por meio de experimentos, com os dados publicados em periódicos especializados (revistas científicas). O conhecimento científico é construído pelo acúmulo de evidências cuja quantidade e qualidade são demonstradas por diversos pesquisadores, em diferentes lugares, de determinado assunto, tema, tese, hipótese que estão sendo investigados. FALSEABILIDADE DA TEORIA O conceito da falseabilidade da teoria reforça a ideia de que a ciência não busca por verdades. Mas o que isso significa? RESPOSTA Quando propomos uma teoria, não buscamos comprovar a sua veracidade, e sim que ela está errada. Caso não se refute com evidências uma teoria ou uma hipótese, ela permanece até que, em algum momento, um pesquisador demonstre que está errada. É evidenciando os erros nas teorias que o conhecimento científico evolui. Diante do erro, precisamos colocar outra teoria no lugar e, assim, testar a sua falseabilidade. Uma boa teoria sobrevive aos testes de falseabilidade ao longo do tempo, demonstrando sua estabilidade (confiabilidade) para que possamos interpretar fenômenos e fazer tomadas de decisão a partir dela com mais segurança e estabilidade (BREAKWELL, et al., 2010). VARIÁVEIS DA PESQUISA O método experimental exige que as condições da pesquisa sejam controladas. Isso implica que busquemos maneiras de manter a nossa pesquisa dirigida apenas a duas variáveis básicas no delineamento experimental: a variável dependente e a variável independente. Variável dependente (VD) É aquela observada. São traços, características ou dimensões do fenômeno, do objeto de interesse. Variável independente (VI) A variável independente (VI) é a experimental, ou seja, são as condições manipuladas pelo pesquisador. Assim, o efeito da manipulação de uma variável independente sob uma variável de estudo, que é dependente, se traduz em um achado, ou seja, em uma evidência de determinada pesquisa. Portanto, os efeitos ou a influência de qualquer outra variável precisam ser eliminados ou controlados para podermos afirmar com segurança as evidências observadas. EXEMPLO Podemos estabelecer relações de causalidade pelo método experimental ou apontar correlações entre outras variáveis através de experimentos/estudos que apresentem um viés preditivo(correlacional). O importante, quando fazemos um experimento com variáveis, é evidenciar as relações sistemáticas entre elas, seja por delineamentos experimentais ou seja por delineamentos correlacionais. VARIÁVEIS DA PESQUISA Em dezembro de 2019, a humanidade se deparou com uma variação do coronavírus, trata-se do SARS- CoV-2 ou covid-19. No ano seguinte, constatou-se que estávamos em uma pandemia, ou seja, o vírus infectou expressivamente pessoas de diversos países em todo o planeta. A curiosidade persistente de pesquisadores, especialmente de microbiologistas, virologistas e afins, que dedicam suas vidas para estudar microrganismos causadores de doenças, logrou êxito em colocar à disposição das pessoas diversas vacinas. Este é o primeiro efeito da curiosidade do pesquisador: expertise em determinado assunto. Em outras palavras, são pessoas que, na coletividade, devem ser ouvidas e consultadas para tomadas de decisão em determinada área do conhecimento. O processo de construção de uma vacina não é o objetivo de nosso estudo, mas os testes para obtê-las com seres humanos e, também, o comportamento das pessoas frente à pandemia são de grande relevância para desenvolvermos algumas ideias associadas a experimentos. Por exemplo, no início da pandemia, um fenômeno foi observado em diversos países: a compra maciça de papel higiênico. O que motivou esse comportamento? Como vimos, é característica do senso comum tomar decisões por meio de observações casuais e não controladas. Qual o efeito dessas observações casuais e não sistemáticas? Uma possibilidade de resposta para essa pergunta é que a leitura dos eventos pelas pessoas, no início da pandemia, resultou em um fenômeno que a Psicologia nomeia de comportamento de manada, ou seja, na crise, devido à ausência de uma racionalização, compreensão dos dados e de evidências científicas, copia-se o comportamento do próximo. Aleatoriamente, alguém resolveu comprar uma quantidade exorbitante de papel higiênico. Podemos até supor que se tratava de um comerciante de uma pequena mercearia de bairro, aproveitando uma promoção de um grande atacadista, ou alguém preocupado com a higiene em razão da covid. O fato é que esse comportamento foi copiado indiscriminadamente e postado em redes sociais, ganhando atração por notícias falsas e colocando em ação o efeito manada. Outro aspecto observado no enfrentamento da pandemia foi uma enxurrada de notícias falsas, as chamadas fake news, circulando em redes sociais e na internet de modo geral. Essas notícias influenciaram, negativamente, o comportamento de várias pessoas. Lembremos, nesse momento, a forma da construção do conhecimento do senso comum, que são as fontes das fake news, e destacamos quatro aspectos: uma abordagem intuitiva, acrítica, tendenciosa e hipóteses não testadas. Em meio a uma pandemia, essa forma de analisar informações e tomar decisões é a receita do caos. Em alguns cenários, decisões foram tomadas pelas pessoas da mesma maneira como se estivessem comprando um smartphone, ou seja, por conveniência, de forma intuitiva e não sistemática, sem analisar rigorosamente os eventos e considerar os dados científicos que estavam sendo construídos e divulgados. Tomar ou não vacina? Usar ou não a máscara? Qual a melhor fonte para tomada de decisão diante dessas perguntas? Algumas pessoas repeliram as campanhas de vacinação e emitiram comportamentos meramente guiados por ideias que circulavam no senso comum ou, até mesmo, por pesquisadores isolados da comunidade científica. O que chamamos de pesquisadores isolados? Lembre-se de que o conhecimento científico é construído pela qualidade e quantidade de evidências que corroboram uma tomada de decisão. Enquanto 99% dos microbiologistas, virologistas, epidemiologistas e afins apontaram para a vacina e o uso de máscara como os principais meios de barreira para disseminação do vírus; 1% de pesquisadores se apoiaram em outras evidências, contrariando os demais. Não se trata da vitória da mera maioria, mas também da qualidade das evidências. Esses 1% de pesquisadores não seguiram um controle sistemático que permitissem as generalizações de protocolos de tratamento que defendiam e, ao longo da pandemia, se mostraram ineficazes. Já o método experimental, utilizado pelos outros 99%, necessitou de um rigoroso controle e fez generalizações com muita cautela e de forma mais confiável. COMENTÁRIO Não podemos aceitar o resultado de uma pesquisa de passivamente. Precisamos contar com alguns critérios que nos permitam avaliar melhor esses resultados. O CONTROLE DAS VARIÁVEIS NO MÉTODO EXPERIMENTAL Um experimento verdadeiro exige que duas condições sejam atendidas. Primeiro, é necessária uma condição de controle; Segundo, é preciso fazer a comparação com uma condição experimental. Durante a produção de uma vacina, um grupo de pessoas (grupo controle) é submetido a um placebo (um tratamento inerte, por exemplo, injeção de soro). Enquanto outro grupo, chamado de experimental, é submetido à vacina. Esses grupos são comparados e acompanhados em sua evolução clínica. Assim, após trabalhos estatísticos, pode-se evidenciar a eficácia da vacina quando comparada ao grupo controle. Nesse caso, a variável dependente é a resposta imunológica das pessoas, e a variável independente é a resposta à vacina. Nesse processo, também podemos observar variáveis estranhas e intervenientes. As variáveis estranhas expressam a ideia de que existem condições que os pesquisadores desconhecem. Podem no máximo inferir, mas não é fácil de isolar. As variáveis intervenientes podem explicar, conectar a variável independente com a dependente. Outros aspectos estão envolvidos para que os cientistas façam uma inferência causal, nesse caso, que a vacina é a causa de uma melhor resposta imune do organismo. Segundo Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012), são eles: Covariação das variáveis (demonstrada por trabalhos estatísticos). Uma relação temporal (evidências que a melhora da resposta imune ao vírus ocorreu depois da vacina). Evitar explicações alternativas (demonstrar que apenas a vacina foi responsável pela melhora da resposta imune). Durante o enfrentamento da pandemia, observou-se o emprego de protocolos e medicações que, após passarem por procedimentos de pesquisas similares, conforme o descrito, não sustentaram suas evidências, ou seja, não passaram por testes de falseabilidade. O COMPORTAMENTO SUPERSTICIOSO Indiscutivelmente, um dos principais objetos de estudo da Psicologia é o comportamento humano. Nesse ponto, destacamos que a variável dependente da Psicologia é o comportamento. Um conceito que vamos usar em nosso estudo é o de contingência. Em um sentido geral do método científico, contingência expressa a ideia da relação de variáveis de forma condicional (causalidade) em uma relação temporal. COMENTÁRIO Importante destacar que trabalhamos com conceitos, os quais não necessariamente expressam uma ideia da mesma forma que usamos a palavra em nosso cotidiano ou da maneira que é apresentada em um dicionário, por exemplo. A palavra contingência como um conceito do behaviorismo (comportamentalismo) passa a ser definida como uma probabilidade condicional que relaciona eventos, tais como estímulos (aspectos do ambiente) e respostas (aspectos do comportamento). São as condições sob as quais uma resposta (um comportamento) produz uma consequência (CATANIA, 1999). A ideia central é que comportamentos são mantidos por suas consequências, por exemplo, um reforço. Outro conceito relevante é o de contiguidade. Esse também expressa uma relação temporal entre variáveis, mas sem uma relação causal entre si. Comportamentos podem ser mantidos por consequências que sucederam a determinadas condutas, mas que não expressam uma causalidade, ou seja, existe contiguidade, mas não uma contingência. A esse tipo de comportamento nomeamos como supersticioso. Podemos reforçar tais condutas em nós mesmos e em terceirosatravés de comportamento verbal (PANETTA; HORA; BENVENUTI, 2007). Skinner, em 1947, demonstrou, em condições experimentais, comportamentos supersticiosos em pombos (MOREIRA; MEDEIROS, 2019). Em um dispositivo específico, as aves eram alimentadas em intervalos regulares (variável independente) por alguns minutos do dia, ou seja, não precisavam fazer nada para liberar a comida. Porém, sistematicamente, alguns pombos começaram a demonstrar comportamentos estereotipados, consistentemente, instantes antes do alimentador liberar a comida. Estudantes reproduzindo o experimento de Skinner Como isso aconteceu? Aleatoriamente, em algum momento, instantes antes de o mecanismo liberar o alimento, determinadas aves emitiram comportamentos (variável dependente) que sofreram um reforço arbitrário e, acidentalmente, guardaram uma relação de contiguidade com a liberação da comida, mas, obviamente, não uma contingência. Esses comportamentos de nada tinham a ver com a liberação da comida, ou seja, a emissão do comportamento supersticioso não guardava relação com a consequência (comer). Padrões similares foram demonstrados com seres humanos em centenas de estudos em condições experimentais, explicando, em parte, como nos comportamos, eventualmente, de maneira arbitrária, aceitando eventos que podem expressar contiguidade, mas não uma contingência. Durante a pandemia, algumas pessoas fizeram uso de medicamentos sem eficácia comprovada na prevenção da covid-19. De que modo esse comportamento foi reforçado embora não tenha sido respaldado em protocolos científicos, ou seja, que não tenham sido contingencialmente reforçados? Uma resposta simples, meramente com uma pretensão didática, é que algumas pessoas que fizeram uso do medicamento não contraíram a Covid-19, reforçando com seu comportamento verbal outros indivíduos a terem a mesma conduta. Isso apoia a ideia, arbitrariamente, de que o medicamento foi eficaz. E COMO PODEMOS COMPROVAR A FALSEABILIDADE DESSA TESE? Demonstrando que outras pessoas contraíram o vírus mesmo fazendo uso do medicamento. Por meio das falseabilidades dessas teses de protocolos de tratamento da pandemia, gradualmente, concluiu-se que apenas a vacina é capaz de mitigar (reduzir) o contágio entre as pessoas, associadas a outras práticas comportamentais, como lavar as mãos e o uso de máscaras. Muitas outras variáveis estão envolvidas nesse processo. Somente o método experimental é capaz de demonstrar uma inferência causal entre variáveis. Agora, munido dessas premissas, você será capaz de enxergar o mundo com mais crítica e analisar as ideias que são, muitas vezes, disfarçadas de ciência, mas que não cumpriram com as premissas básicas do método científico. Esperamos ter relacionado, de forma lúdica, alguns conceitos com as suas experiências cotidianas em uma análise de um evento que impactou o nosso tempo histórico e colocou a ciência nos lares das pessoas. O COMPORTAMENTO SUPERSTICIOSO E AS FAKE NEWS Neste vídeo, propomos uma reflexão sobre comportamento supersticioso e as fake news, destacando a diferença entre contingência e contiguidade. VEM QUE EU TE EXPLICO! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. O operacionismo / As definições operacionais O controle das variáveis no método experimental / As variáveis estranhas e intervenientes VERIFICANDO O APRENDIZADO VIDAS DEDICADAS À CIÊNCIA E AO ESTUDO DO COMPORTAMENTO O conhecimento científico é construído em um continuum histórico e por muitas pessoas de diferentes níveis de formação, por exemplo, bacharelado, especialização, mestrado e doutorado. Seja um aluno de graduação, em uma iniciação científica, apresentando painéis em congressos, ou os pesquisadores (doutores) que são referência para determinada comunidade científica, o universo de cientistas é muito amplo e diversificado na formação, nos objetos de pesquisa, nos métodos e, fundamentalmente, no fator de impacto de suas produções. FATOR DE IMPACTO Por fator de impacto entende-se o quanto determinada publicação é citada em artigos científicos e livros, influenciando outros pesquisadores. MÓDULO 2 Reconhecer as características do método experimental javascript:void(0) Vamos destacar, a seguir, três personalidades da Psicologia que se dedicaram ao estudo do comportamento. Por meio de seus estudos, vamos desvendar alguns desenhos experimentais e seus achados. SKINNER E SUA PROPOSTA DE UM BEHAVIORISMO RADICAL Burrhus Frederic Skinner, psicólogo e professor na Universidade de Harvard (dentre outras instituições de ensino Estadunidense), dedicou sua vida ao estudo do comportamento. O ponto central da produção científica desse autor foi demonstrar que todo comportamento está sujeito a contingências de reforço. Deriva-se da obra de Skinner conceitos como: reforço positivo; reforço negativo; punição positiva; punição negativa; contingência de três termos, dentre outras importantes teorias Burrhus Frederic Skinner (1904 – 1990) Em 1948, Skinner escreveu um romance utópico chamado Walden Two – Uma Sociedade do Futuro, no qual questiona veementemente o livre-arbítrio evidenciando determinismo ambiental. A CAIXA DE SKINNER Neste experimento, um rato privado de água por um tempo é colocado em uma caixa com dispositivos que permitem alguns experimentos. Por exemplo, ao pressionar a barra, o rato pode obter água ou evitar tomar um choque. No primeiro caso, temos um exemplo de reforço positivo, ou seja, o comportamento emitido de pressionar a barra resulta como consequência a apresentação da água. No segundo caso, temos um exemplo de reforço negativo. Ao entrar na caixa, o rato recebe choques elétricos, que são retirados uma vez que o animal pressiona a barra. Em ambos os exemplos, o comportamento de pressionar a barra é a variável dependente. As condições manipuladas pelo pesquisador, a apresentação da água e os choques elétricos são as variáveis independentes. Caixa de Skinner. Tanto no reforço positivo quanto no reforço negativo, a água e o choque aumentam a probabilidade do rato de pressionar a barra. Em outras palavras, o animal será modelado (modelagem) para fazê-lo. Esse aumento é comparado com os comportamentos a nível operante, que são naturais do comportamento do rato, tais como farejar, limpar-se ou levantar nos cantos e na parede da caixa (comportamento exploratório). E qual o objetivo deste experimento? RESPOSTA A caixa de Skinner é um exemplo de definição operacional, na qual um controle rígido das variáveis de estudo é possível. Dessa maneira, pode-se evidenciar um processo de modelagem e estabelecer as circunstâncias específicas em que a manipulação de variáveis independentes (as condições experimentais) afetam a variável dependente (o comportamento do rato). Conceitos desenvolvidos por Skinner foram amplamente replicados e empregados no estudo do comportamento humano. CONTINGÊNCIA DE TRÊS TERMOS Como explicar comportamentos complexos? Um comportamento operante é definido como aquele que produz mudanças no ambiente e pelas quais é afetado (MOREIRA; MEDEIROS, 2019). Desse modo, os elementos presentes no contexto em que o comportamento ocorre são chamados de operantes (ou estímulos) discriminativos, ou seja, selecionam determinado comportamento do repertório do organismo que foi reforçado anteriormente. Imagine que você está acompanhando uma novela na TV aberta, ou outro programa, que não esteja disponível em redes de streaming (distribuição digital pela internet). O horário dessa novela é um estímulo discriminativo para o seu comportamento de ligar a televisão e assistir ao novo capítulo. Vamos retornar à caixa de Skinner: imagine que o rato, já condicionado a apertar a barra, não logre êxito em algumas tentativas. O que está acontecendo? O pesquisador estabeleceu uma nova variável independente que é um sinal sonoro dentro da caixa. Eventualmente, o rato vai perceber que a barra só liberará a água quando o sinalsonoro for disparado. Isso traduz a ideia do estímulo discriminativo, ou seja, a condição que antecede e discrimina o comportamento de apertar a barra. CLARK LEONARD HULL E O ESTUDO DA MOTIVAÇÃO DO COMPORTAMENTO Clark Leonard Hull, psicólogo e professor na Universidade de Yale nos Estados Unidos, dedicou-se ao tema da motivação do comportamento, ou seja, ao impulso, e o tratou como uma variável interveniente. Ficou reconhecido por sua exigência e sistematização em sua obra. Criou um modelo matemático e mecanicista para estudar o comportamento. Na década de 40, foi o pesquisador mais citado nos artigos sobre aprendizagem e motivação (SCHULTZ; SCHULTZ, 2019). Clark Leonard Hull (1884 – 1952). A TEORIA DO IMPULSO DE CLARK HULL Para Hull, a motivação do comportamento, ou seja, o impulso, cumpre com o seu papel de “acalmar” as necessidades do organismo, por exemplo, em uma visão mais básica, fome, sede, sono etc. Vamos pensar em um experimento tradicional na Psicologia experimental utilizando a caixa de Skinner. Analisaremos esse experimento em perspectiva, ou seja, usando as premissas da teoria do impulso de Hull. Em um procedimento com uma caixa de Skinner, é imperioso que o sujeito experimental, o rato, fique privado de comida ou água. Nesse caso, vamos criar um motivo para sua participação no experimento, a fome (um estímulo). Podemos predizer, em termos de probabilidade, que o rato com fome terá uma maior chance de apertar a barra e aprender através de reforço positivo (a comida). Assim, apertar a barra (um hábito) resulta em alimento, que é a consequência desse comportamento. Podemos demonstrar que, se um comportamento (pressionar a barra) reduz o impulso que o originou (a fome), então um hábito é reforçado. Embora o impulso energize um comportamento, ele não o guia, pois os nossos hábitos são provenientes da aprendizagem (REEVE, 2006). Hull acreditava que a interação entre um estímulo e uma resposta ocorria em um contexto mais amplo e que não se podia definir, apenas, naquilo que se observava. O impulso (os motivos) tem origem em uma vasta gama de necessidades fisiológicas, por exemplo: fome, sede, sexo, dor, necessidades homeostáticas, como o controle de temperatura corporal. Portanto, as bases puramente físicas, na proposta de Hull, são os estímulos para a motivação humana. No ano de 1943, Hull elaborou uma fórmula para explicar esse pensamento (REEVE, 2006). SER = SHR X D Onde, “s” e “r” são os tradicionais estímulo e resposta. “E” significa o potencial excitatório e “H” a força do hábito. A letra “D” é o “drive” (o impulso). As letras “s” e “r” significam determinado estímulo ou resposta, respectivamente. O estímulo é o impulso (o “drive”), e a resposta é ao comportamento. Assim, “sEr” = a magnitude de uma resposta em relação à intensidade de determinado estímulo, ou seja, o potencial excitatório de uma relação entre o impulso e o comportamento. Resumindo, o comportamento observável é uma aprendizagem, um hábito. No caso do rato: “sEr” = Pressionar a barra ou explorar o ambiente ou buscar por alimento, dependendo do impulso (do estímulo que gerou o impulso). A fome é um estímulo que energiza um comportamento, logo é um impulso, um motivo para o comportamento, que visa reduzir a intensidade do estímulo no organismo. “sHr” = A força do hábito, ou seja, a força da aprendizagem traduz a probabilidade de uma resposta (o hábito) ocorrer na presença de um estímulo. No caso do rato, quanto mais apertar a barra e comer, poderá reduzir o impulso (a fome), pois à medida que esse comportamento diminuir o impulso, maior será a probabilidade de se criar um hábito que é a força da associação da aprendizagem. A letra “D” = drive (o impulso), em nosso exemplo, é a fome. Os construtos “sHr” e “D” são características inobserváveis do comportamento, mas Hull compreendia isso como um fenômeno físico, e não através de uma causação mental. Por analogia, um átomo também é inobservável e trata-se de um fenômeno manipulável. Podemos inferir que um organismo privado de comida ou sem se alimentar por muito tempo tenha fome, mas não a observamos diretamente, apenas o resultante, ou seja, o que esse organismo faz quando sente fome. Observamos o comportamento de apertar a barra (o rato), ou quando nós abrimos a geladeira para buscar o alimento ou vamos a uma lanchonete da esquina. Esse é um ponto de divergência com Skinner, pois, para esse autor, as relações entre os estímulos e as respostas são diretas, e não mediadas por componentes internos. Hull, no entanto, considerava variáveis intervenientes, por exemplo, a fome, dentre outras, e tais variáveis podiam ser quantificadas, tais como os fenômenos físicos. Posteriormente, em 1952, a proposta foi ampliada com a letra “K”, que significa a qualidade ou quantidade de estímulo. Tanto a letra “D” quanto a letra “K” expressam motivos, ou seja, estados motivacionais. A diferença é que “D” traduz um desequilíbrio interno do corpo, por exemplo, a fome. A letra “K” traduz algo externo ao organismo em relação à qualidade e quantidade de estímulo. EXEMPLO Estou com fome e preciso, naquele momento, de algo doce ou algo salgado para nutrir as necessidades do organismo (qualidade). Posso “matar minha fome” comendo, em um restaurante a quilo, 400g de comida ou necessito de 800g? (quantidade) Assim, a nova fórmula ficou: SER = SHR X D X K OS ESTADOS MOTIVACIONAIS NA COMPREENSÃO DA APRENDIZAGEM Neste vídeo, o especialista fala sobre a importância da consideração de variáveis não observáveis, como o impulso, hábito e qualidade e quantidade de estímulo, no estudo de um comportamento. Destacando as diferenças entre a proposta de Skinner e a proposta de Hull. BANDURA E A TEORIA SOCIAL COGNITIVA Albert Bandura, psicólogo e professor na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, postulou uma abordagem sociocognitiva do comportamento humano. Inicialmente, trabalhou com premissas do behaviorismo radical, mas ampliou o seu olhar ao notar que crianças e adolescentes imitavam comportamentos e, consequentemente, aprendiam por meio da observação. Diferenciou os seus achados da modelagem, via reforço, evidenciada por Skinner e apresentou o conceito de modelação, ou seja, uma aprendizagem observacional ou vicariante. Albert Bandura (1925 – 2021) APRENDIZAGEM VICARIANTE (MODELAÇÃO) Em 1961, Bandura e colaboradores conduziram um experimento para demonstrar a generalização da imitação de comportamentos agressivos para outras situações em que o modelo significativo (aquela pessoa que se imita) não está presente. Trabalharam com 72 crianças com uma média de idade de 52 meses (BANDURA, 2008). Bandura dividiu as crianças em três grupos: Um grupo controle. Um grupo de crianças que foram submetidas a modelos agressivos. Um grupo de crianças submetidas a modelos submissos e não agressivos. Todas as condições foram balanceadas em função do sexo, ou seja, os modelos eram de ambos os sexos e as crianças também foram analisadas em grupos masculinos e grupos femininos. Em todas das condições, as crianças eram instruídas a uma tarefa: desenhar, pintar, com o material disponibilizado. Nas condições experimentais, as crianças, além da tarefa de base, observavam um adulto recebendo a mesma instrução, ou seja, de desenhar e pintar. Agora vem uma divisão: no grupo de modelos agressivos, após um minuto do início do experimento, um boneco “João Bobo” inflável era chutado e agredido com socos e com ameaças verbais. O modelo adulto de não agressão, simplesmente, atendia à instrução e ficava em silencio desenhando. O resultado, quando comparados os três grupos, foi a reprodução de comportamentos violentos pelas crianças que observaram um modelo adulto violento. Imagens do experimento de Bandura. Podemos identificar as variáveis independentes como as condições do experimento que foram manipuladas pelo pesquisador, tais como o tempo da observação dos modelos adultos, os modelos agressivos e não agressivos,dentre outras condições que foram controladas. A variável dependente, como sempre, é o comportamento, nesse caso, das crianças. A operacionalização desse experimento foi através da observação e da experimentação que se traduz pelas condições em que uma criança é capaz de assimilar um comportamento violento e reproduzi-lo com pouco tempo de exposição. Um ponto de comparação interessante é que Bandura, por meio desse experimento, refutou Skinner na ideia de que a aprendizagem ocorria apenas por reforçadores por aproximações sucessivas, ou seja, por modelagem. Bandura apresentou evidências de que a aprendizagem podia ocorrer por imitação social. Nesse aspecto exclusivo, a teoria da modelagem de Skinner como a única forma de se aprender não resistiu ao teste de falseabilidade da teoria, ou seja, Bandura demonstrou que a teoria do Skinner estava incompleta e, nesse aspecto, parcialmente errada. Perceba, entretanto, que Bandura não refutou as premissas da modelagem, mas pela modelação demonstrou que aquela não é a única forma de aprendermos. VOCÊ SABIA Outros pesquisadores reproduziram essa premissa no modelo animal colocando pombos ingênuos para observarem pombos treinados no uso de um alimentador, tal qual Skinner fazia, ou seja, modelava pombos e ratos nos mais diversos comportamentos. Foi percebido que animais também são capazes de aprender por imitação. Os pombos ingênuos, mesmo não tendo passado pela modelagem, foram capazes de usar o alimentador da mesma maneira que os pombos treinados. Com esses exemplos, fica claro como o conhecimento científico evolui. Os esforços dos pesquisadores em buscar falhas nas teorias de outros pesquisadores resultam no aprimoramento de uma área do conhecimento, nesse caso nas teorias de aprendizagem. Parte das obras de Skinner vem, invariavelmente, resistindo aos testes de falseabilidade; já parte da sua teoria, não! Quando um erro é encontrado, um novo conhecimento preenche esse lugar, dando margem para outros pesquisadores buscarem o mesmo processo. Esse é o movimento que demarca a revolução cognitivista na década de 1950, que, em grande parte, critica o conhecimento acumulado na Psicologia até então. VEM QUE EU TE EXPLICO! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Contingência de três termos/ Os estímulos discriminativos e a aprendizagem de comportamentos complexos Aprendizagem vicariante (modelação)/ A diferença entre modelagem e modelação VERIFICANDO O APRENDIZADO A PROPOSTA DE APRENDIZAGEM LATENTE DE TOLMAN Edward Chace Tolman foi psicólogo e professor na Universidade da Califórnia em Berkeley. Como pós- graduando, estudou em 1912 com Kurt Koffka, um importante pesquisador da psicologia da Gestalt – um movimento da psicologia funcional alemã. Questionando o método introspectivo empregado na tradição da época, declarou-se aliviado com a proposta comportamentalista de Watson (SCHULTZ; SCHULTZ, 2019), embora tenha seguido um caminho diferente, tendo proposto um comportamentalismo intencional. Tolman, apesar de ser um comportamentalista, vivenciou em sua época o contexto no qual propiciou o que chamamos de uma revolução cognitivista. MÓDULO 3 Analisar experimentos que investigam a cognição humana Edward Chace Tolman (1886 – 1959). As explicações comportamentalistas não estavam mais sendo suficientes para responder a certos padrões de comportamento e/ou fenômenos que gradualmente, pela consolidação dos estudos behavioristas, foram sendo observados. A sistematização do conhecimento tem como resultado a busca por mais conhecimento. Uma vez que as respostas para as perguntas feitas em determinada época são encontradas, novas questões surgem. Um exemplo simples para entendermos essa dinâmica é que, uma vez evidenciada a modelagem como um mecanismo de aprendizado, e essa teoria tenha se consolidado, fatalmente os pesquisadores tentam aplicá-la para explicar tudo o que se refere ao aprendizado. Uma hora, porém, esbarram em um fenômeno cuja premissa anterior não foi capaz de explicar. Esse foi o caso de Bandura, que não encontrou uma forma de explicar um comportamento imitado pela modelagem e, assim, buscou evidências da modelação, entendendo que Skinner não conseguiu evidenciar, com eficácia, o contexto social da aprendizagem. Tolman, por exemplo, observou que algumas aprendizagens ocorriam na ausência de reforço e utilizou o conceito de aprendizagem latente para expressar tal fenômeno (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005). Como esse autor evidenciou essa observação? Em seu delineamento experimental, Tolman trabalhou com ratos divididos em três grupos: Um grupo controle. Um grupo continuamente reforçado. Um grupo reforçado tardiamente. E qual era a tarefa desses ratos? Percorrer um labirinto em busca de alimento. Experimento do labirinto de Tolman. O primeiro grupo, não reforçado, percorreu o labirinto aleatoriamente, vagando pelo labirinto. O segundo grupo foi reforçado em todas as tentativas, ou seja, cada vez que entravam no labirinto, uma caixa com comida estava à disposição e, assim, aprenderam a encontrar a caixa rapidamente. Já o terceiro grupo não foi reforçado nas primeiras dez vezes que entraram no labirinto, ou seja, similar ao grupo controle. Depois de dez entradas no labirinto, esse terceiro grupo foi reforçado nas tentativas subsequentes, ou seja, a caixa de comida foi disponibilizada. O achado impressionante foi que os animais desse grupo, mesmo tendo sido reforçado tardiamente, apresentaram uma curva de aprendizagem similar ao grupo que foi reforçado continuamente. O labirinto e as condições manipuladas pelo experimentador são as variáveis independentes, e o comportamento é a variável dependente. A curva de aprendizagem operacionalizou os achados do Tolman e lhe possibilitou concluir que os ratos, nas primeiras dez tentativas, estabeleceram um mapa cognitivo (uma representação visuoespacial do ambiente), o que propiciou serem efetivos na busca por alimentos. Mesmo na ausência do reforço, os animais aprenderam sobre o espaço que estavam percorrendo no labirinto. Os mecanismos da construção desse mapa mental não podem ser observados diretamente, mas, na conclusão do autor, os efeitos sob o comportamento podem ser observados e correlacionados a tais processos. O PROBLEMA DO TABULEIRO MUTILADO Vamos analisar um experimento? Ele é constituído de duas etapas: Na primeira etapa, um tabuleiro de xadrez é coberto por 32 peças de dominó, ocupando duas casas cada. Na segunda parte, duas casas são removidas do tabuleiro (em azul). Feito isso, vamos colocar um problema para você: É possível que as 62 casas que sobraram no tabuleiro sejam cobertas por 31 peças de dominó? Antes de continuar a leitura, responda a essa pergunta. O problema do tabuleiro de xadrez mutilado (EYSENCK; KEANE, 2017) compreende uma solução por insight. Inicialmente, quase todas as pessoas tentam cobrir, mentalmente, as casas com as peças de dominó e tentam concluir uma resposta. DICA Cada pedra do quadrado cobre uma casa branca e outra preta. Algumas pessoas se saem melhor com essa dica. E você? QUAL SERIA A SUA RESPOSTA A PARTIR DESSA DICA? Como as casas do tabuleiro que foram mutiladas são da mesma cor, não é possível cobrir todo o tabuleiro com as 31 peças. Agora, pense no tipo de estratégia que você adotou para responder à questão proposta. Se a sua resposta foi que não é possível, pois houve a retirada de duas casas brancas, automaticamente, você ativou sua percepção de que uma peça cobre uma casa branca e outra preta. Logo, você acabou de vivenciar uma solução de problemas por insight, mesmo que depois de receber a dica das peças. Porém, se você tentou cobrir, mentalmente, o tabuleiro com as peças, usou outra estratégia para resolver o problema. A maioria das pessoas, nesse caso, erra a resposta ou desiste, pois são mais de 700 mil combinações possíveis para os dominós sob o tabuleiro. O INSIGHT NO CÉREBRO No âmbito dasatividades cerebrais, para construir uma solução de um problema por insight, o cérebro humano desencadeia uma série de mudanças que permitem uma compreensão súbita sobre algo. Sabe- se, por meio de algumas correlações, que o hemisfério direito cerebral é mais ativado do que o esquerdo. O hemisfério direito é associado à criatividade, enquanto o giro temporal desempenha um papel no reconhecimento de conexões. O que é defendido por alguns pesquisadores ao evidenciarem que o cérebro tem um padrão específico de atividade cerebral no insight, com a ativação do giro temporal superior anterior, no hemisfério direito, o córtex do cíngulo anterior, uma área que é ativada quando temos conflitos cognitivos e a ativação do córtex pré-frontal, envolvido com processos cognitivos de níveis mais altos, por exemplo, as funções executivas como o planejamento psíquico, a execução, a tomada de decisão e a solução de problemas. FUNÇÕES EXECUTIVAS - CONTROLAMOS NOSSAS AÇÕES? Segundo Fuentes, as funções executivas podem ser definidas da seguinte maneira: AS FUNÇÕES EXECUTIVAS CORRESPONDEM A UM CONJUNTO DE HABILIDADES QUE, DE FORMA INTEGRADA, PERMITEM AO INDIVÍDUO DIRECIONAR COMPORTAMENTOS A METAS, AVALIAR A EFICIÊNCIA E A ADEQUAÇÃO DESSES COMPORTAMENTOS, ABANDONAR ESTRATÉGIAS INEFICAZES EM PROL DE OUTRAS MAIS EFICIENTES E, DESSE MODO, RESOLVER PROBLEMAS IMEDIATOS, DE MÉDIO E DE LONGO PRAZO. (FUENTES et al., 2014, p. 115) Uma discussão antiga na Psicologia é a do livre-arbítrio versus posições deterministas, seja o determinismo ambiental, conforme visto no behaviorismo, ou o determinismo mental, observado na psicanálise e por outros autores que postulam que nossas ações são governadas por processos não conscientes. Thomas Huxley (apud EYSENCK; KEANE, 2017) apresenta uma analogia de um apito de um trem a vapor: “O assobio nos fala algo sobre o que está acontecendo no interior da máquina, mas não apresenta um impacto causal no movimento do trem” (EYSENCK; KEANE, 2017, p. 686). Temos livre-arbítrio como algo natural ou precisamos apreender a controlar nossas ações? E esse controle inibitório, se apreendido, vai determinar processos decisórios, posteriormente, de modo não consciente, ou seja, por padrões sinápticos que são disparados na presença de determinados estímulos ou contextos? Para entendermos melhor o papel das funções executivas no nosso comportamento e possamos responder a esses questionamentos, vamos acompanhar um interessante estudo neste seguimento. O TESTE MARSHMALLOW O teste marshmallow é um estudo conduzido pelo psicólogo Walter Mischel (1930-2018) na Universidade de Stanford. Realizado com crianças em idade pré-escolar, o teste consistia em oferecer uma recompensa (um marshmallow) que poderia ser consumido de imediato. MARSHMALLOW Doce à base de açúcar tipicamente associado à cultura norte-americana. E como funcionava o experimento? A criança deveria aguardar sozinha em uma sala, por 20 minutos, com aquele marshmallow em um prato à sua frente. Se não comesse o doce enquanto esperasse, ganharia o dobro de marshmallow após transcorrido o tempo. Isso era informado para a criança, ou seja, um adulto entrava na sala, oferecia o doce e avisava que, se não o comesse, ganharia dois quando ele voltasse para sala. Na sala, a criança era exposta aos doces sendo convidada a escolher um. O doce era separado e uma campainha era disponibilizada para criança tocar, chamando o pesquisador, caso quisesse comer o doce de imediato. Se aguardasse os 20 minutos, o pesquisador entrava e escolhia o doce. Essas crianças foram acompanhadas até os 27 e 32 anos, em um estudo longitudinal. As crianças que haviam conseguido resistir na idade pré-escolar e não comeram o doce de imediato, na vida adulta, javascript:void(0) apresentaram um índice de massa corporal mais baixo e autoestima mais elevada. Elas também tiveram mais persistência e resiliência na busca por objetivos e mais resistência a frustação (MISCHEL, 2016). VOCÊ SABIA Embora o experimento tenha ficado conhecido como o teste marshmallow, a criança poderia escolher entre uma variedade de guloseimas. FUNÇÕES EXECUTIVAS NUCLEARES Adele Diamond, professora de Neurociências na Universidade de British Columbia, no Canadá, destaca que existem funções executivas nucleares (DIAMOND, 2013 apud FUENTES, 2014), sendo elas: MEMÓRIA OPERACIONAL Capacidade de sustentar temporariamente uma representação mental que será utilizada na realização de operações cognitivas. CONTROLE INIBITÓRIO Controle sobre interferências internas, externas e inibição de respostas prepotentes FLEXIBILIDADE COGNITIVA Capacidade de alternar planos de ação e encarar uma realidade a partir de diferentes perspectivas. Existem controvérsias acerca dos componentes inatos, hereditários, envolvidos na nossa capacidade de inibir impulsos. Mas podemos facilmente constatar, em nossa sociedade, que vamos encontrar, na maioria das pessoas, uma tendência a buscar satisfações imediatas ao invés de retardar recompensas. Precisamos oferecer às nossas crianças experiências que propiciem o desenvolvimento das funções executivas nucleares desde sempre. O nosso autocontrole e o adiamento da satisfação envolvem experiências que favoreçam um desenvolvimento emocional saudável, desconsiderando as discussões da hereditariedade nesse processo. Estudos demonstram que estados somáticos afetivos são programados e envolvem nossas tomadas de decisão. Damásio (1994, apud EYSENCK; KEANE, 2017) apresentou uma proposta para compreendermos as alterações socioafetivas. Quando uma escolha é seguida por uma consequência não satisfatória, ocorre uma reação emocional que fica associada a essa escolha. Quando a escolha é seguida de resultados satisfatórios, em momentos futuros, a reação ocorre antes que a escolha seja feita. Isso significa dizer que as melhores escolhas não são necessariamente de uma racionalização, mas baseadas em emoções boas ou ruins. Uma escolha racional, nessa perspectiva, é guiada por uma experiência emocional. Na prática, isso significa dizer que precisamos criar ambientes para nossas crianças, que estados afetivos satisfatórios sejam seguidos quando temos que adiar uma recompensa ou lidar com situações estressantes e, assim, desenvolver uma capacidade aprimorada de tomadas de decisão, perseverança, resiliência e de planejamento de metas e comportamentos objetivando ganhos futuros. O DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NUCLEARES Neste vídeo, o especialista propõe uma reflexão sobre como os estados somáticos afetivos e as experiências afetivas satisfatórias propiciam o desenvolvimento do controle inibitório e suas implicações. VEM QUE EU TE EXPLICO! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. A proposta de aprendizagem latente de Tolman / Experimento dos ratos no labirinto O problema do tabuleiro mutilado / Solução de problemas e o insight. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONSIDERAÇÕES FINAIS O método científico e o método experimental nos propiciam conhecer como determinadas variáveis se relacionam, assim como teorias são construídas e evidenciadas por testes empíricos. Não basta afirmarmos que estamos fazendo ciência, pois, acompanhada dessa palavra, também podemos encontrar pseudoargumentos científicos, ou seja, falsos. Conhecer as nuances do método científico e aplicar esse raciocínio na análise de ideias, hipóteses, teorias, são atitudes que nos permitem fazer tomadas de decisão mais criteriosas e seguras, principalmente, nos exercícios de nossas profissões. PODCAST Neste bate-papo, o especialista apresenta uma reflexão sobre a importância do método experimental na construção do conhecimento da Psicologia como ciência, ilustrando seu raciocínio através dos experimentos psicológicos clássicos. AVALIAÇÃO DO TEMA: CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BANDURA, A.; AZZI, R. G.; POLYDORO, S. Teoria Social Cognitiva. Conceitos Básicos. Porto Alegre, RS: Artmed, 2008. BREAKWELL, G. M.et al. Métodos de Pesquisa em Psicologia. Porto Alegre, RS: Artmed, 2010. CATANIA, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artmed, 1999. EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Manual de Psicologia cognitiva. Porto Alegre, RS: Artmed, 2017. FUENTES, D. et al. Neuropsicologia – teoria e prática. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014. GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON T. F. Ciência Psicológica. Mente, Cérebro e Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005. GOODMAN, Jarid. Place vs. Response Learning: History, Controversy, and Neurobiology. Frontiers in Behavioral Neuroscience, 2020. MISCHEL, W. O teste do marshmallow: Por que a força de vontade é a chave do sucesso. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 2016. MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. 2. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2019. NOLEN-HOEKSEMA, S. et al. Introdução a Psicologia: Atkinson & Hilgard. São Paulo, SP: Cengage Learning, 2018. PANETTA, P. A. B.; HORA, C. L. da; BENVENUTI, M. F. L. Avaliando o papel do comportamento verbal para aquisição de comportamento "supersticioso". Revista brasileira terapia comportamental e cognitiva, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 277-287, dez. 2007. REEVE, J. Motivação e Emoção. São Paulo, SP: LTC, 2006. SAMPAIO, A. A. S. et al. Uma introdução aos delineamentos experimentais de sujeito único. Interação em Psicologia, jun. 2008. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. Cengage Learning, 2019. SHAUGHNESSY, J. J.; ZECHMEISTER, E. B.; ZECHMEISTER, J. S. Métodos de pesquisa em Psicologia. Porto Alegre, RS: Artmed, 2012. EXPLORE+ Leia os artigos a seguir para ampliar a compreensão de aspectos abordados nesse material: SAMPAIO, A. A. S. et al. Uma introdução aos delineamentos experimentais de sujeito único. Interação em Psicologia, jun. 2008. SANTOS, G. M. dos; MICHELETTO, N. Relação entre comportamento supersticioso e estímulo reforçador condicionado: uma replicação sistemática de Lee (1996). Revista brasileira de terapia comportamental e cognitiva, v. 12, n. 1-2, p. 146-175, jun. 2010. CONTEUDISTA Roberto Sena Fraga Filho
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