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Impactos do El Niño na Corrente do Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
LEONARDO GALEÃO DA SILVA NASCIMENTO
LUCCA KRUSCHEWSKY PEDREIRA PASSOS
WALMIR PEREIRA LIMA FILHO
IMPACTOS DO EL NIÑO 1997/1998 SOBRE A DINÂMICA DA CORRENTE DO BRASIL
SALVADOR-BA
2022
LEONARDO GALEÃO DA SILVA NASCIMENTO
LUCCA KRUSCHEWSKY PEDREIRA PASSOS
WALMIR PEREIRA LIMA FILHO
IMPACTOS DO EL NIÑO 1997/1998 SOBRE A DINÂMICA DA CORRENTE DO BRASIL
Projeto final submetido ao curso de Engenharia Civil da Universidade Federal da Bahia como parte dos requisitos para obtenção de nota da disciplina Metodologia Científica.
Orientador: Prof. Paulo Gustavo Lins.
SALVADOR – BA
2022
 RESUMO
Mudanças climáticas vêm sendo motivo de grande preocupação considerando seus possíveis impactos na biodiversidade devido a alterações na temperatura dos oceanos, induzido pela temperatura da atmosfera e alterando padrões hidrológicos. O El Niño é um fenômeno de interação oceano-atmosfera amplamente estudado, pois as suas consequências possuem impacto global. É caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Pacífico Equatorial Oriental e Central. Esse evento em 1997–1998 foi considerado um dos mais poderosos da história, de acordo com a anomalia de temperatura na região do pacífico, que apresentou valores de até 5,5ºC acima da média climatológica. O que acabou resultando em secas generalizadas, inundações e outros desastres naturais em todo o mundo. Ele se caracteriza também por flutuações irregulares entre fases positivas (El Niño) e negativas (La Niña), com periodicidade de 2 a 8 anos.
Palavras-chave: El ninõ, águas, aquecimento, temperatura.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Efeitos gerais do EL NIÑO no Brasil........................................................ 13
Figura 2. Correntes Marítimas ............................................................................... 14
Figura 3. Anomalia de temperatura ……………...................................................... 16
Figura 4. Séries temporais das anomalias …………............................................... 18
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Anos do El niño …………….……………………………………………. 12
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 07
1.1. JUSTIFICATIVAS ..................................................................................... 08
1.2. OBJETIVOS ............................................................................................. 08
1.3. METODOLOGIA ....................................................................................... 09
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…….………………………………......................... 09
2.1. CONTEXTO HISTÓRICO DO EL NIÑO ………........................................ 10
2.2 EVOLUÇÃO DO EL NIÑO ……………………………………………………..11
2.3 EFEITOS GERAIS DO EL NINO NO BRASIL………………………………..12
2.4 CORRENTES MARÍTIMAS DO BRASIL……………………………………...13
4.2. COMO SE FORMAM ......................................................13
4.2.1.TIPOS ............................................................................ 14
3. MATERIAIS E MÉTODOS……………..…….…………………………………......... 14
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 17
5. CONCLUSÃO .......................................................................................................19
6. REFERENCIAS.....................................................................................................21
1. INTRODUÇÃO
 Nos oceanos e mares existem correntes oceânicas, ou seja, partes de água que se movem em diferentes direções. Essas correntes pouco são misturadas com a água por onde passam, mantendo as mesmas características de cor, salinidade e temperatura. Vários estudos demonstram que as correntes oceânicas são impulsionadas principalmente pelo vento..
Os oceanos desempenham um papel importante na regulação das mudanças climáticas por meio de processos dinâmicos e termodinâmicos que envolvem as complexas interações entre eles e a atmosfera. Isso ocorre porque os oceanos atuam como uma força para a atmosfera além de ocupar 71% da superfície terrestre e também para controlar as trocas de calor potenciais e percebidas. 
Portanto, a temperatura da superfície do mar nos oceanos têm um papel importante na variabilidade climática interanual e interdecenal, já que é a principal condição de contorno inferior do sistema climático que modula o clima global. As anomalias tropicais são mais influentes no Pacífico ocidental, onde a TSM média é muito alta e, portanto, uma pequena anomalia positiva pode produzir um grande aumento na evaporação, devido à pressão de vapor saturado com um aumento exponencial da temperatura.
Por continuidade de massa, o movimento ascendente da transição corpuscular requer convergência no nível baixo e divergência no alto. Como tal, consideramos os oceanos como um dos principais reguladores climáticos, devido à sua elevada capacidade calorífica. O Oceano Pacífico desempenha um papel importante nessas mudanças, pois é o maior oceano do planeta, e os fenômenos associados à sua variação térmica afetam direta e indiretamente todo o mundo.
O El Niño Oscilação Sul (ENSO) é caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Pacífico Equatorial Oriental e Central e é um típico fenômeno de teleconexão, ou seja, que conecta eventos atmosféricos entre regiões remotas e influência remotamente o padrão de ventos fortes subtropicais do Atlântico Sul, que é a característica que produz o Giro Subtropical do Atlântico Sul (GSAS). A Corrente Brasileira (CB) está presente na borda oeste do GSAS, sendo seu escoamento superficial diretamente influenciado por esta característica atmosférica.
1.1. JUSTIFICATIVAS
 O aquecimento das águas do pacífico se reflete na baixa troposfera, pois o ar e o mar são fluídos e, portanto, trocam energia. A circulação meridiana em latitudes mais baixas é alterada, pois condições oceânicas e atmosféricas mais homogêneas levam a uma diminuição dos gradientes barométricos e, portanto, ao enfraquecimento dos ventos predominantes nos trópicos. 
Essa mudança no balanço de energia também interfere na circulação zonal de Walker que, enfraquecida, altera as regiões típicas de elevação atmosférica (instável) e subsidência (estável), reorganizando a distribuição da precipitação. 
Durante um El Niño, há entre outros efeitos, ocorre subsidência da célula de Walker no norte e nordeste do Brasil, às vezes secas muito severas, e também a migração de áreas com chuvas foi maior para o oeste, trazendo mais chuva do que o normal para o sul da América do Sul. Em alguns registros desse fenômeno, observa-se uma mudança na posição da corrente de jato subtropical, causando bloqueio de sistemas extratropicais, mantidos em latitudes em torno de 300, causando condições mais secas ao norte dessa latitude, já que a gênese frontal é inibida. 
1.2. OBJETIVOS 
Este trabalho tem como objetivo identificar e quantificar a variação do transporte volumétrico e fluxo de calor por convecção de fluxo associado a Corrente do Brasil possivelmente influenciado pelo El Niño 97/98.
1.3. METODOLOGIA
Foi realizada revisão bibliográfica sobre o tema em livros, revistas, documentários, trabalhos acadêmicos e fontes obtidas a partir da internet. 
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. CONTEXTO HISTÓRICO DO EL NIÑO
Estudos paleoclimáticos indicam a existência de fenômenos ENOS muitos milênios antes da época atual, embora seu comportamento possa variar, conforme as condições climatológicas. Dado que os registros observacionais do El Niño duram pouco mais de um século, estudos do impacto do ENOS na América do Sul com base em registros históricos são importantes para obter uma visão mais ampla dos eventos, eventos e consequências usando dados históricos do Peru e do Equador para estabelecercronologia e classificação . Eventos de El Niño ocorreram desde a conquista espanhola, como a primeira grande onda da era pós-colombiana, que devastou o norte do Peru em 1578. Outra muito violenta, mais recente, que começou em 1876 e durou até 1878, teve um impacto globalmente e também na América do Sul, onde, além dos efeitos usuais, produziu os efeitos mais devastadores no nordeste do Brasil. Milhares de pessoas morreram de fome e doenças durante uma seca que começou em 1877.
A influência de ENOS no clima global, gerado pelas mudanças no aquecimento atmosférico tropical, altera a circulação atmosférica global, afetando significativamente sociedades e ecossistemas. Portanto, é importante planejar o ENOS com uma ou mais temporadas com antecedência. De fato, após os poderosos eventos de 1982/83, a previsão do ENOS foi um dos principais impulsionadores de vários programas internacionais de pesquisa.
Logo, acredita-se que os impactos do processo geofísico sejam conhecidos, porém sua origem ainda não está bem estabelecida. A hipótese mais aceita é que o Pacífico Tropical, dada sua extensão, tenha uma frequência natural de oscilação resultante da interação entre os campos de PNM, e ventos associados, e as águas do oceano. Devido às PNM altas na costa oeste da América do Sul, os ventos Alísios sopram forte de Leste para Oeste, arrastam as águas que se aquecem nesse trajeto e se acumulam na região Austrália/Indonésia, formando a chamada “piscina de água quente do Pacífico Ocidental”, associada a PNM mais baixas. 
2.2. EVOLUÇÃO DO EL NINÕ
O El Niño (1997/98) evoluiu rapidamente desde abril de 1997. Em janeiro de 1997, a situação observada no Pacífico equatorial era "La Niña", que é uma reversão do fenômeno. El Niño, ou seja, resfriamento das águas na região equatorial Pacífico, é observado desde outubro de 1995. Em dezembro de 1997, as anomalias de temperatura da superfície do mar no Pacífico Leste, próximo à costa do Peru e Equador, estavam entre 4ºC e 5.5ºC acima da média climatológica.
A variação da temperatura da superfície do mar (TSM) na região conhecida como Niño 3 está fortemente relacionada com os parâmetros atmosféricos no Brasil. Comparando esta situação com os anos de 1972/1973, 1982/1983, 1986/1987, 1991/1994, verifica-se que o desenvolvimento do presente evento é único na medida em que a anormalidade do SCT aumentou rapidamente. Desde 1950, o maior valor (média regional) observado para anomalias de TSM nesta região foi 3,6 ºC acima da média, em janeiro de 1983. Esse valor foi superado em novembro de 1997, atingindo 3,78 ºC acima da média climática. O pico desta onda ocorreu em dezembro de 1997 e o valor observado nesta região foi de 3,92 ºC.
Tabela 1: Anos do El niño
2.3 EFEITOS GERAIS DO EL NINO NO BRASIL
Os efeitos do El Niño no Brasil são diversos, há tanto benefícios como prejuízos, porém os prejuízos são mais acentuados, por isso o fenômeno é bastante temido principalmente para quem depende da agricultura. O El Niño é observado na região Sul brasileira com um considerável aumento na quantidade de chuvas, principalmente nos meses de primavera, fim do outono e começo de inverno. As temperaturas também mudam na região Sudeste onde é observado um inverno mais ameno. Em decorrência do aumento na temperatura nessas regiões, a agricultura é beneficiada por não sofrer com geadas tão severas. No setor leste da Amazônia e na região Nordeste ocorre uma diminuição de chuvas. No Nordeste brasileiro os prejuízos são maiores, englobam setores da economia, energia elétrica e abastecimento de água. Os problemas gerados são em todo o país, o que acaba prejudicando todos os setores, seja direta ou indiretamente. Para que os problemas causados por este fenômeno fossem amenizados, houveram fortes investimentos dos governantes na área de meteorologia, proporcionando um considerável crescimento dos estudos sobre o tema nas últimas décadas. Dentre outras atitudes, foi criado o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) e melhorada a infra-estrutura de pesquisa de alguns centros acadêmicos do país.
Figura 1: Efeitos gerais do EL NIÑO no Brasil
2.4 CORRENTES MARÍTIMAS DO BRASIL
As correntes marítimas são grandes massas de água que se movem pelos oceanos de um ponto a outro e têm características semelhantes de temperatura e salinidade. Eles são formados com base na diferença de densidade entre a água quente e a fria, devido aos efeitos do vento ou das marés, e podem ser classificados como quentes ou frios. As correntes oceânicas afetam diretamente os climas das áreas por elas banhadas e atuam na redistribuição de calor e umidade em todo o planeta, além de ter importantes implicações para os ecossistemas marinhos.
2.4.1 COMO SE FORMAM
As correntes marítimas podem ser formadas de três maneiras: pela influência das marés, pelos ventos e pelas diferenças de temperatura, densidade e salinidade da água do mar.
Maré é o nome dado ao movimento ascendente e descendente da água do mar, principalmente devido à força gravitacional da Lua, satélite natural da Terra, atuando na superfície do oceano juntamente com a rotação do planeta. As marés formam correntes oceânicas mais fortes em áreas mais próximas da costa. Sua velocidade pode ultrapassar oito nós, sabendo que cada nó equivale a 1,85 km/h.
Ventos e massas de ar movendo-se sobre a superfície dos mares e oceanos também são responsáveis ​​pelas correntes oceânicas. O movimento do ar também é responsável pelo que é conhecido como acreção costeira ou acreção, que é caracterizada pela ascensão de águas subterrâneas frias à superfície.
A água subterrânea é mais fria e tem maior salinidade do que a água nas camadas superficiais do oceano, fazendo com que se tornem mais densas. desce de águas frias e densas e a ascensão de águas quentes é menos salgada, criando assim o movimento característico das correntes oceânicas.É é importante notar que as correntes oceânicas giram em direções diferentes nos hemisférios norte e sul, o que ocorre devido à rotação do planeta. hemisfério sul, eles se movem no sentido anti-horário.
Figura 2: Correntes Marítimas
2.4.2 TIPOS
Correntes quentes: são formadas nos trópicos do planeta, próximo ao equador, área que recebe calor solar com maior intensidade. Eles são menos densos e, portanto, se movem através da camada superficial do oceano e a uma taxa mais alta do que as correntes frias. Deslocam-se em direção aos pólos, criando alta umidade para as áreas litorâneas por onde passam devido ao alto nível de transpiração.
Correntes frias: são formados nos pólos da Terra, correspondendo às regiões mais frias do planeta. Por esta razão, são correntes subsuperficiais mais densas e mais lentas que as correntes quentes. Eles estão indo para os trópicos.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Para realizar o estudo, foram analisados ​​dados de temperatura da superfície do mar (TSM) e radiação de ondas longas (ROL) emitidas pela Terra. Uma abordagem teórica foi utilizada para enriquecer o estudo dos aspectos físicos induzidos pelo El Niño na dinâmica do escoamento brasileiro, assim como dados de outros estudos, cuja sua utilização foi fundamental para o desenvolvimento deste trabalho.
Atualmente, anomalias no sistema climático mundialmente conhecidas como El Niño e La Niña representam mudanças do sistema oceano-atmosfera no Oceano Pacífico tropical, com consequências para o tempo e clima de todo o planeta. Nesta definição, consideramos não apenas a presença de águas quentes do córrego El Niño, mas também mudanças na atmosfera próxima à superfície oceânica, com atenuação dos ventos alísios (leste para oeste) na região equatorial. Com o aquecimento dos oceanos e o enfraquecimento do vento, começamos a observar mudanças na circulação atmosférica em baixas e altas altitudes, determinando mudanças nos modos de transporte de umidade em regiões tropicais, e de alta e média latitude. Em algumas regiões do globo, também é observado um aumento ou diminuição da temperatura.
Figura 3: Anomaliade temperatura
Os tons avermelhados indicam regiões com valores acima da média e os tons azulados as regiões com valores abaixo da média climatológica. Pode-se notar a região no Pacífico Central e Oriental com valores positivos, indicando a presença do El Niño.
O objetivo principal deste trabalho foi investigar se o El Niño 97/98 teve influência remota na variabilidade da Corrente do Brasil. Portanto, o índice MEI foi escolhido para caracterizar as fases do fenômeno. Para verificar matematicamente o grau de interdependência entre séries temporais de trânsito e RTCV com eventos El Niño, foram realizados cálculos de correlação cruzada.
Para relacionar as variabilidades nos transportes da CB com aquelas típicas de eventos ENOS, foi utilizado o MEI, um índice representativo do fenômeno ENOS. O MEI foi escolhido por representar o ENOS com base em variáveis oceanográficas e meteorológicas associadas ao fenômeno, como por exemplo, TSM, pressão ao nível do mar, temperatura do ar na superfície, dentre outras. A escolha desse índice dentre os outros foi pautada na informação disponibilizada pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA). Segundo eles, o MEI contempla 28% mais informações do que os outros índices e reflete o sistema oceano-atmosfera de forma mais satisfatória do que os demais. O NOAA disponibiliza para toda comunidade científica o MEI. Cientistas consideram o MEI o índice mais adequado para caracterizar os eventos, até mesmo pela natureza do ENOS, que por ser um fenômeno de interação oceano-atmosfera seria melhor representado por índices que considerem as alterações nos dois meios. Os autores concluíram também, que o MEI é menos vulnerável a erros do que os índices que utilizam apenas uma variável. Problemas na obtenção de dados ou uma amostragem com baixa qualidade afetaria a representatividade do índice de variável única de forma mais significativa. O MEI apresenta valores positivos que indicam o El Niño e negativos que indicam a La Niña. A aplicação do MEI neste trabalho considerou o que foi proposto pelo próprio NOAA. O MEI fornece valores bimestrais, porém como a atmosfera demora uma semana ou mais para responder às variações de TSM do Pacífico, os desenvolvedores da ferramenta, recomendam que o mês seja comparado com o índice (i-1). Isso significa, por exemplo, que as anomalias de janeiro foram comparadas com o valor do MEI para dezembro-janeiro do ano de referência
O método das correlações cruzadas permite relacionar matematicamente duas séries temporais e conhecer o atraso entre uma série e outra. O objetivo de utilizar a correlação cruzada neste trabalho é de avaliar se as séries de transportes de volume, calor e da tensão de cisalhamento do vento apresentam correlação matemática com o índice MEI. A outra finalidade era inferir o tempo de resposta das variáveis oceânicas e atmosféricas em relação ao evento de El Niño 97/98. De acordo com a SOPPA (2011), para realizar a correlação matemática entre duas séries temporais x e y, é necessário que uma delas fique fixa no tempo (x) e a outra se desloque no tempo (y). Pois, dessa forma, seria possível conhecer a correlação em cada ponto da série. O atraso entre as séries temporais é representado pelo lag, que pode ser negativo ou positivo e a unidade depende da resolução temporal dos dados utilizados (diário, mensal, anual). O lag negativo significa que a série deslocada ocorreu n tempos antes da série fixada. O lag positivo é o inverso, a série deslocada ocorreu n tempos depois da série fixada. 35 Os valores de correlação podem ser negativos ou positivos. Uma correlação positiva indica que, naquele ponto, as séries temporais eram diretamente proporcionais. Já os valores negativos representam uma relação de proporcionalidade inversa. 
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 
Por meio do tratamento estatístico dos dados referentes aos anos de 1997 e 1998, ano de ocorrência do fenômeno El Niño considerado o mais intenso da história, foi possível destacar desvios nos elementos temperatura do ar, contudo não houve grande oscilação nos elementos umidade do ar e precipitação, os quais apresentaram, durante o período analisado, picos de recuo consecutivos a picos de aumento. O elemento temperatura do ar apresentou desvios positivos (aumento nos valores típicos referentes a normal climatológica), tanto nas máximas quanto nas mínimas. No ano de 1997 este aumento foi pouco evidente, pois as máximas apresentaram aumento das médias mensais na ordem de 0,5°C a 2°C, com exceção dos meses de fevereiro e setembro, que apresentaram aumento de 3,5°C e 4,5°C, respectivamente. As mínimas apresentaram um progressivo acréscimo dos valores mensais, na casa dos 0,9°C a 1,7°C, demonstrando um ápice deste aumento nos meses finais do ano, setembro (2,1°C), outubro e dezembro (3,3°C). O desvio visto no elemento temperatura do ar se intensificou após o mês de setembro de 1997, prosseguindo no ano seguinte. No ano de 1998 as médias mensais da máxima temperatura do ar apresentaram aumento variando de 1,7°C (em maio) a 3,7°C (em julho). As mínimas apresentaram os maiores reflexos desta anomalia climática, com aumento entre 2,5°C (em julho) a 4,3°C (em agosto). Atenta-se neste ano o considerável aumento nas temperaturas máximas, mas principalmente, o intenso e contínuo aumento existente nas mínimas. Este desvio verificado no elemento temperatura do ar pode ser justificado, em parte, pelo aquecimento das águas superficiais do Pacífico Central. 
Figura 4: Séries temporais das anomalias
 A análise das séries de anomalias de transporte permite verificar se houve um aumento ou diminuição dos transportes nas seções. TORRES JR. (2005) constatou em seus estudos que as alterações decorrentes de fenômenos de El Niño aumentam os transportes da CB. Então, em tese, provavelmente o escoamento da CB seria intensificado frente aos cenários de El Niño. A anomalia de TC para a seção foi omitida por apresentar o mesmo comportamento de TV. As anomalias negativas presentes na série indicam que houve aumento nos transportes, em direção sul e a anomalia positiva indica redução nos transportes para sul. A ATV no início do período não apresentou um padrão bem definido, oscilando entre anomalias positivas e negativas, inclusive pode ser visto um pico de anomalia negativa em setembro/97, 6 meses após o início do El Niño 97-98. Provavelmente esse pico não foi influenciado pelo evento em análise, pois de acordo com os resultados da correlação, o menor valor de defasagem estatisticamente confiável encontrado foi de 9 meses. Logo, esse pico de anomalia negativa provavelmente não estaria matematicamente correlacionado ao El Niño 97-98. A partir de setembro/98, a ATV teve uma intensificação brusca até atingir o seu ápice, em novembro/98. Após o ápice, a ATV se intensificou, mas permaneceu negativa até novembro/99. A partir de dezembro/99, a anomalia oscilou entre valores positivos e negativos até ficar predominantemente positiva, provavelmente sendo influenciada por variabilidades que não foram abordadas neste trabalho. A ATC apresentou um comportamento similar à ATV, exceto em novembro/98, no momento do pico de anomalia, que a magnitude da ATC foi menor quando comparada com a ATV. A anomalia de TV demonstrou que houve um período que se manteve predominantemente negativo, isso significa que houve uma intensificação do TV. Esse período teve início em setembro/98, 18 meses após o início do El Niño 97-98, e se manteve até novembro/99, ou seja, 16 meses após o fim do El Niño 97-98. O tempo de duração desse período foi de 14 meses. O maior valor de anomalia de transporte foi encontrado em novembro/98, mesmo período do maior valor encontrado para a anomalia do RTCV, ou seja, 14 meses após o maior valor positivo reportado no MEI.
5. CONCLUSÃO
 O objetivo principal deste trabalho foi avaliar a variação da transferência de massa e calor da corrente brasileira sob a influência do El Niño 97/98 e o intervalo de tempo entre a ocorrência de anomalias de variáveis ​​atmosféricas ehidrográficas associadas ao ENOS no Pacífico equatorial e anomalias e variáveis ​​oceânicas no Sul Atlântico. Os resultados obtidos neste estudo mostram a ocorrência de variação anual no tráfego marítimo associado à Corrente Brasileira e sua potencial associação com o evento El Niño 97/98. As análises de ondaleta com o transporte de volume com os resultados do ROMS não apresentaram a variabilidade esperada para os fenômenos El Niño, ou seja, 2 a 8 anos. Os resultados mostram uma região de alta energia entre 8 e 16 meses, o que em teoria não seria característico desse fenômeno. No entanto, essa prática pode envolver uma pequena extensão da série de variáveis ​​analisadas (10 anos) para estudar um fenômeno com variabilidade de até 8 anos, o que pode afetar os resultados obtidos com o método utilizado. No entanto, a mesma análise foi realizada para os resultados do HadGEM2 ES e a região de alta energia foi encontrada entre 3 e 5 anos de idade. Indica que os resultados representam a variação associada ao fenômeno ENOS.
Considerando as análises das séries temporais das anomalias em conjunto com a análise da correlação cruzada permitiram estimar a defasagem entre o episódio de El Niño 97-98 e a possível resposta no TV, TC e RTCV. A resposta nos transportes, possivelmente, ocorreu após 18 meses do início do El Niño 97/98, isso significa que os transportes da Corrente do Brasil foram provavelmente influenciados pelo fenômeno após 2 meses do término dele e que permaneceram sob sua influência por 14 meses, quase o tempo de duração do El Niño 97-98 que foi de 16 meses. A ARTCV por mais que tenha permanecido negativa grande parte do período oscilou muito, provavelmente influenciada por outras variabilidades não abrangidas neste trabalho. Apesar desse fato dificultar a estimativa exata da intensificação é possível observar que junto ao pico da ATV e ATC houve também um pico de ARTCV, ou seja, o RTCV apresentou uma intensificação em conjunto com os picos de TV e TC. Na análise da correlação cruzada também foi possível identificar, além da defasagem entre as séries, a correlação entre elas. Foram encontrados valores de correlação entre ATV e ATC e o MEI variando entre 18-41% quando as séries estavam deslocadas no tempo entre 10- 20 meses. Para ARTCV e o MEI foram encontrados valores de correlação entre 18-27% quando as séries estavam defasadas 10-14 meses. Ou seja, os valores de defasagem encontrados nas análises das anomalias estão dentro dos limites encontrados com os cálculos de correlação.
Por fim, esse trabalho conseguiu estimar que as séries de transportes de volume e calor e do rotacional do vento apresentam uma relação de interdependência com o evento El Niño.
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Azeredo, Vivian Mendonça de.Impactos do El Niño 1997/1998 sobre a dinâmica da Corrente do Brasil. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dez-2017.

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