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1 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Intoxicações Exógenas Introdução e Passos Todo paciente intoxicado é um paciente grave e diante disso devemos realizar: ABCDE + MOVER o paciente. - A: avaliar se as vias aéreas estão pérvias; - B: avaliar se há lesões de tórax, se a expansibilidade está preservada, se há murmúrios vesiculares bem distribuídos, se há um som claro pulmonar à percussão; - C: avaliar se a pele está quente, se o tempo de enchimento capilar está < 3 segundos, se os pulsos estão cheios e simétricos e se há algum sinal de hemorragia; - D: deve-se realizar o Glasgow, bem como a avaliação pupilar. Posteriormente, devemos fazer uma história da exposição, através do Mnemônico 5W: - Who? Quem é o paciente; se há uso de medicações prévias; se há doenças prévias; está gestante? Se há uso prévio de drogas; - What? Qual foi a substância utilizada? - When? Qual foi o horário da exposição; avaliar se havia sintomas antes da exposição e o que exatamente ocorreu antes e após esta exposição; - Where? Qual foi o local de exposição; - Why? Existe motivo para exposição, se foi acidental ou situacional. Após coleta da história clínica direcionada, devemos realizar um exame físico mais minucioso, através de: - Avaliar se há odores característicos, como hálito etílico, odor de alho (organofosforados); - Avaliar se há achados cutâneos, como sudorese, secura de mucosas, hiperemia, palidez, cianose ou edema; - Avaliar se há alteração na temperatura; - Avaliar se há alterações pupilares: Miose: opoides, chumbinho, colinérgicos, antipsicóticos; Midríase: adrenérgicos, atropina, cocaína, LSD. - Avaliar se há alterações no nível de consciência; - Avaliar se há anormalidades neurológicas, como convulsão, síncope, alteração dos reflexos e tônus musculares, se há movimentos anormais; - Avaliar se há alterações cardiovasculares e respiratórias: bradicardia, taquicardia, hipotensão, bradipneia, taquipneia, presença de ruídos adventícios à ausculta; - Avaliar o aparelho digestório: se houve náuseas, sialorreia, hematêmese, diarreia, rigidez abdominal. A partir disso, podemos lançar mão de exames complementares, através da solicitação dos seguintes exames: - Exames laboratoriais gerais; - ECG; - Radiografia; - EDA. OBS: A solicitação de exame toxicológico será realizada apenas após a estabilização e descontaminação do paciente, com base na síndrome toxicológica. A escolha do exame deve ser baseada na toxisíndrome que o paciente apresenta O PACIENTE PRECISA AUTORIZAR! Posteriormente devemos realizar a descontaminação do paciente, com objetivo de remover o agente tóxico e interromper a exposição a este agente. Existem diversas formas de realizar a descontaminação, sendo elas: - Cutânea: deve-se retirar a roupa e lavar o paciente com água em abundância; 2 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Respiratória: deve-se remover o paciente do local e ofertar oxigênio; - Ocular: deve-se fazer a lavagem dos olhos com soro fisiológico a 0,9%; - Gastrointestinal: podemos lançar mão da lavagem gástrica, com ou sem administração de carvão ativado. Importante salientar que a lavagem gástrica não deve ser feita se ingesta de cáusticos, risco de perfuração e sangramento, ingestão tardia ou na impossibilidade de proteção da via aérea. Deve ser feita da seguinte maneira: Adultos: Através de sonda nasogástrica (18-20) com colocação de 250 ml de soro fisiológico até o retorno limpo ou 6 L totais de lavagem (o que ocorrer primeiro); Crianças: através de sonda nasogástrica (10-14) com alíquotas de SF 0,9% 10 ml/kg até volume total de 5 L em escolares, 3 L em lactantes e 500 mL em RN. Carvão ativado: deve ser feito em dose única, diluindo 50 g do carvão em 250 ml de soro fisiológico (adulto) e 1g/kg (crianças). Não se deve realizar em RN, gestantes. Complicações: constipação, vômitos, broncoaspiração e impactação intestinal. OBS: Antídotos: deve-se ser usados quando há clareza do agente causador da intoxicação. Além Disso, é de extrema importância realizar a hidratação do paciente com 10-20 ml/kg de soro fisiológico. Intoxicação pelo Fenobarbital Introdução: O fenobarbital é um anticonvulsivante eficaz que possui propriedades hipnóticas e sedativas. A intoxicação por este tipo de composto é considerada grave e fatal. A dose tóxica é considerada de 18 mg/kg em adultos e 10 mg/kg em crianças. Quadro Clínico: Os efeitos iniciam em 1-2 horas e possuem ação máxima de 6- 18 horas. Os principais sintomas estão relacionados ao SNC, sendo eles: - Disartria; - Ataxia; - Nistagmo; - Hipotermia; - Miose; - Confusão mental; - Perda de reflexos; - Apneia ou depressão respiratória. Podemos ainda notar depressão miocárdica, hipotensão, diminuição do tônus e motilidade intestinal. Tratamento: O tratamento para os pacientes intoxicados por Fenobarbital consiste em: - Monitorização respiratória e cardiovascular; - Oxigenação; - Proteção de vias aéreas IOT; - Sondagem vesical para redução da retenção urinária; - Lavagem gástrica: é eficaz em até 1 hora; - Uso de carvão ativado em múltiplas doses, a fim de reduzir a meia vida da droga e aumentar o clearance do Fenobarbital. 50 g diluído em 200 ml de SF de 4/4 horas por via nasogástrica; Deve-se avaliar a melhora através da melhora do nível de consciência. - Diálise método mais eficaz, podendo ser usado de maneira associada ao carvão ativado. Suas indicações são: Paciente em coma prolongado; Se hipotensão persistente apesar da ressuscitação fluida; Toxicidade persistente apesar do carvão ativado; Aumento da concentração do fenobarbital, apesar do carvão ativado; 3 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Se há necessidade de suporte ventilatório, pois indica uma dose alta de intoxicação. Intoxicações por Benzodiazepínicos Introdução: São medicamentos hipnóticos e ansiolíticos, sendo drogas relativamente seguras, mas tem sua toxicidade aumentada quando associados a outras substâncias, como álcool, antidepressivos tricíclicos, etc. Exemplos: - Alprazolam; - Clonazepam; - Diazepam; - Lorazepam; - Midazolam. Quadro Clínico: O quadro clínico está associado frequentemente a associação de outras drogas, de modo que os principais sintomas são: - Sonolência; - Ataxia; - Disartria; - Falta de coordenação motora; - Miose; - Hipotensão. Tratamento: O tratamento para as intoxicações com benzodiazepínicos consiste em: - Cuidados de suporte ABC + estabilização das vias aéreas; - Correção de instabilidade hemodinâmica com volume ou drogas vasoativas; - Lavagem gástrica: se até 1 hora; - Uso de carvão ativado em dose única 50 g em 200 ml de SF; - Uso de antídoto: Flumazenil. Suas indicações são restritas somente se risco de vida e intoxicações puras. POUCO UTILIZADO DEVIDO A DIVERSIDADE DE CONTRAINDICAÇÕES! Dose: 0,2-0,3 mg, IV, repetindo em 1 hora; Contraindicações: overdose mistas, principalmente se ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS e epilepsia (uma vez que o receptor estará ocupado pelo antídoto). Intoxicação por Antidepressivos tricíclicos Introdução: São agentes utilizados no tratamento de depressão, porém são medicamentos tóxicos e com diversos efeitos adversos, como sonolência, aumento de apetite e constipação. Exemplos: - Imipramina; - Amitriptilina; - Nortriptilina. Quadro Clínico: Os principais sintomas estão relacionados ao efeito depressor nos canais de sódio por esses medicamentos. Nestes casos iremos observar: - Efeitos anticolinérgicos: Sedação; Delírios; Confusão; Midríase (deixa o simpático agindo); Taquicardia; Secura da pele; Retenção urinária; - Efeitos cardiovasculares e respiratórios: Distúrbios de condução cardíaca; Arritmiascom QRS alargado; Hipotensão; Depressão respiratória. Tratamento: O tratamento para intoxicação por antidepressivos tricíclicos consiste em: - Proteção da via aérea e estabilização dos sinais vitais; - Descontaminação gastrointestinal: Lavagem gástrica se até 1 hora da ingesta; Carvão ativado em múltiplas doses; - Para retenção urinária: passagem de sonda vesical; - Para obstipação: usar medicamentos catárticos, como laxantes; - Sintomáticos e monitorização cardíaca; - Se convulsão: deve-se tratar rapidamente através de Benzodiazepínicos + PROFILAXIA COM BICARBONATO DE SÓDIO (1-2 mEq a 8,4%), com objetivo de alcalinizar o sangue (manter pH em 7,45-7,55) e diminuir a afinidade dos antidepressivos tricíclicos com os canais de sódio; Caso o bicarbonato falhe devemos utilizar a Emulsão Lipídica intravenosa em bolus 1-1,5 ml/Kg em 10 minutos e depois manter uma infusão contínua de 0,5 ml/kg/hora. 4 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Em casos de hipotensão: tratar agressivamente com volume ou drogas vasoativas. Intoxicações por Paracetamol Introdução: Representa um analgésico e antipirético mais utilizado no mundo, sendo um fármaco que gera insuficiência hepática. Quadro Clínico: O quadro clínico inicia-se após 24 horas, através de: - Dor em QSD; - Aumento de enzimas hepáticas e bilirrubinas; - Icterícia; - Encefalopatia hepática. Tratamento: O tratamento é feito a partir de 10 g de ingesta, sendo feito através de: - Uso de carvão ativado: se até 1 hora da ingesta; - Uso de lavagem gástrica se até 1 hora da ingesta; - Uso da N-acetil-cisteína, sendo indicado nas overdoses agudas. Dose VO: 140 mg/kg VO dose de ataque; 70 mg/kg 4/4 horas por 17 doses/ Dose IV: 150 mg/kg em 200 ml de SG5% em dose de ataque 15-60 minutos com posterior infusão contínua de 50 mg/kg em 500 ml SG5% em 4 horas com posterior 100 mg/kg em 1000 ml SG5% em 16 horas. Intoxicação por Álcool Introdução: No Brasil, é uma droga com propriedade depressora sobre o SNC. Geralmente a dose tóxica varia de indivíduo, mas no geral uma dose > 0,7 g/kg, já é considerada tóxica. Os exames que podem ser solicitados são: hemograma, eletrólitos, glicemia, gasometria, RX e função hepática e renal. Quadro Clínico: O quadro clínico da intoxicação por álcool depende do grau de intoxicação, podendo ir de redução dos reflexos, ataxia, confusão mental, hipoglicemia, até torpor. Tratamento: O tratamento para intoxicação aguda por álcool é de suporte, devendo-se realizar hidratação IV com SF ou ringer lactato. (Em geral não precisa de glicose, somente se doses muito altas de álcool e hipoglicemia detectada. A dose é de glicose 50% 50 mg, IV). Intoxicação por Opioides Introdução: Os principais agentes envolvidos com essa intoxicação são: codeína, morfina, tramadol e Fentanil. Quadro Clínico: A intoxicação por essas substâncias geram: - Redução do tônus simpático: bradicardia, hipotensão, pulsos fracos, náuseas e vômitos, retenção urinária e constipação; - Miose; - Redução do nível de consciência. Tratamento: O tratamento na intoxicação por opoides consiste em: - ABCDE + MOVER Lembre-se de priorizar a via aérea; - Antídoto: Naloxona 0,4-2 mg, IV, a cada 2-3 minutos (até 10 mg; - Reposição volêmica e/ou DVA. OBS: Deve-se solicitar: ECG, hemograma, gasometria arterial, eletrólitos, função renal e hepática e radiografia de tórax. Síndrome Simpatomimética Introdução: As principais substâncias envolvidas são cocaína, anfetamina (bala, por exemplo), cafeína. Quadro clínico: Os principais achados são: - Taquicardia; - Palpitações, podendo ter dor torácica associada; - Taquipneia; 5 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Pulsos rápidos e cheios; - Dispneia; - Medo e pânico; - Midríase; - Hipertensão; - Tremores e agitação. OBS: As principais complicações são arritmias, SCA, convulsão, AVC, rabdomiólise, IRA (HIPONATREMIA DILUICIONAL) e até mesmo morte súbita. Tratamento: O tratamento se dá por meio de suporte clínico do paciente (controle do ambiente, reposição volêmica cuidadosa, controle de temperatura).. - ABCDE + MOVER; - Medicações que devem ser utilizadas: Benzodiazepínico de ação curta: para a agitação; Diazepam 5-10 mg, 5/5 minutos, IV até sedação; Midazolan: 10 mg, IM, na falta de acesso venoso. Tratar a hipertensão: Hidralazina, 5 mg, IV a cada 30 minutos; Nitroglicerina 15-100 mcg/min, em casos de dor torácica. Se taquiarritmia supraventricular: Diltiazem 25-50 mg, IV, lento OU; Verapamil 5-10 mg, IV, lento. Se taquicardia ventricular: Bicarbonato de sódio 1-2 meq/kg, IV, em 30-60 minutos. OBS: Se agitação refratária: utilizar Haloperidol 2,5-5 mg, VO ou IM NÃO FAZER A DROGA VENOSA POR RISCO DE MORTE SÚBITA. OBS2: EVITAR BETABLOQUEADORES E SE IOT (EVITAR SUCCICILCOLINA). OBS3: Devemos solicitar os seguintes exames complementares: ECG, Radiografia de tórax, enzimas cardíacas e CPK, hemograma, eletrólitos, perfil renal e hepático. Síndrome colinérgica Introdução: As principais substâncias envolvidas são: organofosforados e Carbamatos (o famoso chumbinho). Quadro Clínico: Os principais achados são: - Miose; - Bradicardia e bradipneia; - Sialorreia; - Mucosas secas; - Sudorese. Tratamento: O tratamento se dá por meio de: - ABCDE + MOVER; - Lavagem gástrica em até 1 hora + carvão ativado em até 1 hora; - Antídotos: Atropina: 2-5 mg, IV, a cada 3-5 minutos até melhorar os achados pulmonares e sinais de atropinização, como ruborização facial e melhora dos sinais vitais; Pralidoxima: 30 mg/kg, IV, em 30 minutos PARA ORGANOSFORADOS. (SEMPRE ASSOCIAR À ATROPINA). OBS: Os exames solicitados são: ECG, radiografia de tórax, hemograma, Coagulograma, função renal e hepática, gasometria arterial e eletrólitos.
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