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CULTURA DE FEZES Profa. Patrícia L. Miorin Microbiota do Sistema Digestório •Saliva/mL: milhões de bactérias. •Estômago e intes;no delgado: poucos micro-organismos (103 UFC/mL). Ácido hidroclorídrico produzido no estômago e o movimento rápido do alimento no intes;no delgado. • Intes;no delgado: estafilicocos, estreptococos, lactobacilos, raramente bactérias anaeróbicas. • Intes;no grosso: 102 -104 UFC/mL: 500 espécies em 200 gêneros. Auxiliam na degradação enzimá;ca dos alimentos e sinte;ze de vitaminas. Anaeróbicos do gênero Bacteróides, Fusobactérias, Clostrídeos e Bifidobactérias. Anaeróbicos faculta;vos como gênero Lactobacillus, E. coli, Enterobacter, Klebsiella, Proteus e Estreptococos Lactobacillus Gram positivos Fusobacterium Gram neg. E.coli Massa fecal •Mais de 100 bilhões de bactérias por grama de fezes. •40% da massa fecal é material celular microbiano o restante das fezes é constituído por fibras, celulose e outros materiais não digeridos. •90% das bactérias são do gênero Bifidobacterium (Gram positivo, anaeróbico, probiótico). COPROCULTURA Em cultura de fezes habitualmente é pesquisado a presença de agentes mais comuns em nosso meio: Salmonella spp. Shigella spp. Alguns sorotipos de Escherichia coli Campylobacter spp. Outros agentes podem ser pesquisados, mas é importante que sejam mencionados na solicitação médica. Escherichia coli Gastroenterite •Grupos: •E. coli enterotoxigênica (ETEC) •E.coli enteroinvasiva (EIEC) •E.coli enteropatogênica (EPEC) •E.coli êntero-hemorrágica (EHEC) •E.coli enteroagregativas (EAggEC) •E.coli uropatogênica (UPEC) Escherichia coli Gastroenterite •E. coli enterotoxigênica (ETEC): Sítio de ação: intestino delgado. Período de incubação de um a dois dias e persiste por três a quatro dias. Diarréia do viajante. Diarréia do lactente. •Sintomas: cólicas, diarréia aquosa, náuseas, vómitos, febre baixa. •E.coli enteroinvasiva (EIEC): Sítio de ação: intestino grosso. Invasão e destruição das células epiteliais que revestem o cólon. •Sintomas: febre, cólica, diarréia aquosa seguida pelo desenvolvimento de desinteria com fezes sanguinolentas leucócitos. Escherichia coli Gastroenterite •E.coli enteropatogênica (EPEC): Sítio de ação: intestino delgado. Capacidade da bactéria aderir à membrana plasmática do enterócito e causar destruição das microvilosidades adjacentes. •Doença: febre, náuseas, vômitos, fezes não- sanguinolentas. Importante causa de diarréia infantil. •E.coli enteroagregativas (EAggEC): Local da ação: intestino delgado. Aderência agregativa mediada por plasmídeo. Impede absorção de líquidos. •Doença: diarréia do lactente nos países subdesenvolvidos: diarréia aquosa persistente, vômitos, desidratação e febre baixa. Escherichia coli Gastroenterite �E.coli êntero-hemorrágica (EHEC) sorotipo O157:H7: Final do intestino delgado e intestino grosso. Produção de citotoxinas que interrompem a síntese protéica. �Diarréia sanguinolenta, cólica abdominal intensa, febre baixa. Pode progredir para a síndrome hemolítica urêmica (rins afetados pela toxina: anemia hemolítica, trombocitopenia, insuficiência renal aguda, oligúria (vol baixo), anúria (ausência). Salmonella sp. Shigella sp. Enterobacteriaceae Salmonella sp. •Após sua ingestão e passagem pelo estômago. Aderência, invasão e multiplicação das células que revestem a luz da porção terminal do intestino delgado. •Necessário um grande inóculo para o desenvolvimento de doença (106 a 108 é a dose infectante). Dose menor devido a idade e imunocomprometidos. •Disseminação oro-fecal direta nas crianças. Incidência máxima em crianças menos de 5 anos e adultos mais de 60 anos. • Enterites: forma mais comum de salmonelose. Sintomas aparecem dentro de 6 a 48 horas após o consumo de água ou alimento contaminados. Manifestações iniciais de náuseas e diarreia. Cólicas abdominal, mialgias e cefaléia. Sintomas persistem de 2 dias a 1 semana antes da resolução espontânea. Shigella �S. sonnei e S. flexneri. �Shigelose: doença infantil, e mais da metade de todas as infecções ocorre em crianças de 1 a 10 anos de idade. �Surtos epidêmicos em creches, berçários. �Transmissão da shigelose por via oro-fecal: principalmente por mãos contaminadas e, com menos freqüência, pelo alimento ou água. �Sinais e sintomas clínicos de shigelose aparecem dentro de 1 a 3 dias após a ingestão dos bacilos. Os bacilos colonizam o intestino delgado e começam a multiplicar-se nas primeiras 12 horas. �Cólicas abdominais, diarréia aquosa, febre, fezes sanguinolentas e pus. Invasão da mucosa mediada por enterotoxina. Fezes com quantidades abundantes de neutrófilos, eritrócitos e muco. Yersinia enterocolítica • Isolada frequentemente em gastroenterite. •Habitante do intestino de muitos animais domésticos, frequentemente transmitido pela carne e leite. •Sintomas: diarréia, febre, cefaléia e dor abdominal. •Não sobrevivem nos neutrófilos, de modo que a infecção limita-se ao intestino e aos tecidos linfóides. Campylobacter jejuni •Bacilos Gram negativos, não fermentador de glicose, oxidase positiva, pequenos, móveis, formadores de esporos, curvos em forma de vírgula ou S e microaerófilos. •Parte da microbiota comensal intestinal de animais como aves e gado. Presente no leite não pasteurizado. Ingestão de alimentos mal cozidos (aves). Água mal tratada. •A gastroenterite por Campylobacter geralmente é causada pelo C. jejuni: febre, dores abdominais, cólica, diarréia ou desinteria com sangue e muco presente nas fezes. Vibrio spp. •São halofílicos (NaCl a 2% para um crescimento ótimo). •Bacilo Gram-negativo curvo (método de Gram) quando observado direto do material clínico. •Bacilo gram-negativo reto quando após isolamento em cultura. •Espécies de importância clínica: Vibrio cholerae seguida de Vibrio parahaemolyticus. •Sintomas: diarréia grave •Transmissão: água contaminada (doce e salgada) e frutos do mar. Aeromonas spp., Plesiomonas spp. •Bacilos gram-negativos que sobrevivem em diversas condições ambientais: água doce e salgada, solo. •Aeromonas : causa infecções intestinais (diarréia aquosa aguda, sem presença de leucócitos e eritrócitos nas fezes) ou infecções extra-intestinais, sendo mais comuns as bacteriemias e as infecções de feridas causadas por traumatismo. •Plesiomonas: infecções gastrointestinais e extra- intestinais Pesquisa de toxina de Clostridium difficile • Bacilo Gram positivo, forma endósporos e é comensal do sistema digestório. • Devido a um desequilíbrio da microbiota por antibióticos, ocorre a Liberação de toxinas responsáveis pela diarreia e colite pseudomembranosa no intestino grosso, (frequentemente associada ao uso de antibióticos por seis semanas). • Comum seu isolamento em pacientes hospitalizados (20% podem ser portadores assintomáticos), causa de diarréia de origem hospitalar. • Sintomas em casos típicos: diarréia intensa, aquosa, dor abdominal. Diarréia, febre, cólicas, leucocitose, perfuração intestinal e morte. • Doença mediada por duas toxinas: • Toxina A (enterotoxina): lesão tecidual da mucosa da parede intestinal (liberada em maior quantidade pelo agente). • Toxina B (citotoxina) (presente em baixas quantidades). • Tratamento: uso de antibióticos (vancomicina e metranidazol) remoção cirúrgica do cólon. Interatividade a. Causa diarreia através do consumo de carne de frango mal cozida. b. Faz parte da microbiota da galinha, ingestão de alimentos contaminados e transmissão oro-fecal. c. Causador da shigellose, doença comum em creches e berçarios, ocorre por transmissão oro-fecal. d. Agente causador da cólera é uma doença transmitida por água e alimentos contaminados como os frutos do mar. e. Causa diarréia hospitalar causada por uso prolongado de antibióticos. f. Infecção no intestino delgado através de água e alimentos contaminados. Diarréia do viajante. 1.Escherichia coli enterotoxigênica; 2. Salmonella sp.3. Shigella sp. 4. Campylobacter sp. 5. Vibrio colereae 6. Clostridium difficille Coprocultura Procedimento COLETA e TRANSPORTE Material biológico 1 a 2 g de fezes (colher de sobremesa). Início do quadro diarréico (5 a 7 dias): a positividade da cultura diminui com o tempo devido redução do número de bactérias eliminadas. Antes da antibioticoterapia. Frasco coletor SEM CONSERVANTE: transp. temp. amb. (20- 25oC) e semear até 1h após a coleta. Toxina de Clostridium difficile: fezes sem conservantes, refrigeradas até 12 h. Congelar se exceder o tempo. Frasco coletor COM CONSERVANTE: refrigeradas (2 a 8oC) por até 24 a 48h: GLICERINA TAMPONADA: para Salmonella spp e Shigella spp. (para Campylobacter spp e Vibrio spp. deve ser suplementado com CaCl2 100mg/l) Meio de transporte CARY-BLAIR: meio mais indicado para transporte. Meio de transporte CARY-BLAIR • Indicado para transporte de amostras fecais e swabs retais. • Não é indicado para toxina de Clostridium difficile. • Meio Stuart modificado (substitui glicerofosfato por fosfatos inorgânicos e ↑ de PH para 8.4), isso mantém a viabilidade de Salmonella e Shigella em amostras fecais. Interatividade Sobre a conservação das fezes até a realização da coprocultura associar: 1. Material biológico em frasco coletor sem conservantes. 2.frasco coletor com Glicerina tamponada. 3. Meio Cary Blair. 4. Toxinas de Clostridium dificilis Mais indicado para transporte. Transportar em temperatura ambiente. Fezes sem conservantes, refrigeradas até 12 h. Congelar se exceder o tempo. Transportar em temperatura ambiente (20-25oC) e semear até 1h após a coleta. Fezes refrigeradas (2 a 8oC) por até 24 a 48h. Meios de cultura utilizados para coprocultura Pesquisa de: Salmonella spp. Shigella spp. Escherichia coli (EPEC, EIEC) Campylobacter spp. Coprocultura - rotina Semeadura por esgotamento Semear 1 alçada de fezes em meio. MEIO DIFERENCIAl: MAcCONKEY (MC) Incubar em aerobiose a 35-37oC/18 a 24h. MEIO SELETIVO: Salmonella-Shigella (SS) (permite cresc. de Salmonella e Shigella e inibe outras bactérias) Semear 3 a 4 alçadas de fezes Caldo ENRIQUECEDOR: SELENITO ou TETRATIONATO Semeadura por esgotamento flambar alça entre estrias Salmonella ágar MC Ágar MacConkey (MC) •Diferencial e seletivo. • Crescimento de bacilos Gram-negativos. • Colônias rosas: utilizam a lactose presente no meio e produzem (E. coli). • Colônias incolores: não utilizam a lactose do meio (Salmonella spp e Shigella spp).Cor do meio âmbar devido redução do pH do meio. •Não ocorre crescimento de cocos Gram-negativos E. Coli MC Ágar SS •Destinado à coprocultura, visando o isolamento de Salmonella e Shigella. •Possui as mesmas finalidades do meio de Hektoen. Indicador de produção de sulfito de hidrogênio H2S (colônias pretas). Sais biliares como agente inibidor. •Cor do meio original: vermelho-alaranjado •Colônias transparentes pequenas : suspeitas de Shigella flexneri • Colônias transparentes com centro preto: Salmonella typhimurium •Colônias cor-de-rosa: suspeita de E.coli e Klebsiella spp. https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fmicrobeonline.com%2Fsalmonella-shigella-ss-agar-composition- principle-procedure- results%2F&psig=AOvVaw33sMFtIoBEU1YkWmzDYsjA&ust=1608216285812000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQj RxqFwoTCPiE-93e0u0CFQAAAAAdAAAAABAD Ágar SS COPROCULTURA Procedimento •Caldo de enriquecimento: •SELENITO: utilizado para o enriquecimento de amostras de fezes para o isolamento de Salmonella spp. e Shiella spp. Melhor para Salmonella spp. •TETRATIONATO: meio de enriquecimento para isolamento de Salmonella e inibição de E.coli. Colocar solução de Iodo a 30% antes de semear a amostra de fezes (melhor para Salmonella spp., exceto S. typhi e S.paratyphy) Coprocultura - rotina Após incubação Crescimento microbiano em MC e SS Identificação micro-organismo Semear e incubar em Rugai ou EPM-MILE das colônias suspeitas soroaglutinação Reportar o resultado Ausência de crescimento em MC e SS Semear caldo selenito SS SOROAGLUTINAÇÃO Reação antígeno ( bactéria suspeita) + Anticorpo obtido da imunização de coelho Soroaglutinação positiva Soroaglutinação negativa ligações antígeno-anticorpo formando um complexo aglutinado, visível a olho nu. Identificação de Campylobacter sp. •Meios de cultura seletivos: colônia acinzentada, brilhante, irregular. •AS Campy: base ágar com sangue de carneiro e solução de antibióticos. •Meio de Karmali: meio contendo carvão ativado e suplementado com antibióticos como cefoperazona e vancomicina. •Meio de Skirrow: base de ágar-sangue, soro lisado de cavalo e solução de antibióticos. Isolamento de Campylobacter sp. Semear uma alçada de fezes em meio seletivo para Campylobacter (semeadura por esgotamento). Jarra com gerador de microaerofilia a 42oC/ 48h. AS Campy ou Meio de Karmali ou Meio de Skirrow Crescimento microbiano: colônias suspeitas são acinzentadas, brilhantes, irregulares. Esfregaço em lâmina e corar com Fucsina ou safranina por 1 minuto. Morfologia sugestiva: bacilos rosas em forma de vírgula ou asa de gaivota. identificação do micro- organismo Isolamento de Campylobacter sp. TESTE DO HIPURATO: (teste rápido) Finalidade: determinar a habilidade do micro- organismo em hidrolisar o hipurato de sódio em glicina (aa) pela presença da enzima hipuricase. Pesquisa de Vibrio spp., Aeromonas spp., Plesiomonas spp. Fermentadores de Glicose Oxidase positiva Fonte: Plustil, Procediemntos Básicos em Microbiologia Clínica, 2010. Pesquisa de Vibrio spp., Aeromonas spp., Plesiomonas spp. • Iden%ficação: Ágar Tioglicolato/citrato/bile/sacarose (TCBS) • Incubar por até 48h antes de liberar o resultado como nega%vo. •Vibrio spp: colônias amarelas (Proteus colônias amarelas em TCBS). Aeromonas spp e Plesiomonas spp.: colônias azul esverdeado. •Vibrio spp: oxidase +, nitrato +, NaCl 6,5% +. •Aeromonas spp e Plesiomonas spp.: oxidase + nitrato -, NaCl 6,5% - TCBS ágar O Vibrio cholerae aparece como colônias de cor amarela, lisadas, com o centro opaco, após 24 horas de incubação. Incubar as placas por 35º C/24h. Pesquisa de toxina de Clostridium difficile •Amostra: fezes ou amostras de biópsia de cólon. Transporte: Recipiente estéril, sem conservante em refrigeração (2-8oC), processar em até 24 horas. •Detecção da enzima glutamato desidrogenase (GDH) produzida pela bactéria (98,0% de sensibilidade e 91,7% de especificidade). •Pesquisa das toxinas A e B de C. difficile nas fezes (técnica imunoenzimática: baixa sensibilidade (39% a 51%), porém elevada especificidade (99% a 100%). •PCR. •O isolamento do micro-organimo em cultura não é utilizado na rotina laboratorial.(Colônias sem produção de toxinas e método demorado: meio seletivo CCEY (cycloserine- cefoxitin-egg yolk agar): atmosfera anaerobiose por 48/72h. Reportar o resultado •Resultado negativo: •Cultura de fezes •Resultado negativo •Nota: Não houve crescimento de Salmonella spp., Shigella spp., E. coli enteropatogênicas (cita os sorogrupos pesquisados), E. coli enteroinvasiva (citar os sorogrupos pesquisados) na amostra analisada. •No caso de serem pesquisados outros agentes liberar: não houve crescimento de Yersinia spp. e não houve crescimento de Campylobacter spp. Reportar o resultado •Resultado positivo: •Cultura de fezes •Houve crescimento de Salmonella spp. •Nota: nessa amostra foram pesquisados: Salmonella spp., Shigella spp., E. coli enteropatogênicas (cita os sorogrupos pesquisados), E. coli enteroinvasiva (citar os sorogrupos pesquisados). •No caso de serem pesquisados outros agentes liberar: Houve crescimento de Yersinia spp. ou houve crescimento de Campylobacter spp. Reportar o resultado •Cultura de Vibrio spp. •Resultado negativo: não houve crescimento de Vibrio cholerae ou Vibrio parahaemolyticus •Resultado positivo: houve crescimentode Vibrio cholerae •Pesquisa da toxina de Clostridium difficile: •Negativo ou positivo para toxina A e B de C. difficile •Negativo ou positivo para toxina A de C. difficile Cultura de fezes conclusões •Não é possível muitas vezes isolar e identificar todos os patógenos presentes nas fezes, por isso se faz necessário informar o que foi pesquisado. •Na rotina de coprocultura devem ser pesquisados os agentes mais frequentes na sua população. •Não tem sentido pesquisar agentes raros, a não ser que haja suspeita clínica ou um surto (adicionar meio seletivo para isolamento do agente em questão). Questões para estudo 1. Na rotina laboratorial para realizar a coprocultura, quais são os principais agentes etiológicos isolados das infeções gastrointestinais? 2. Explique a coleta, transporte e conservação das fezes para a coprocultura. 3. Quais os meios de cultura utilizados na coprocultura? Explique o principio de cada um. 4. Cite um meio de cultura utilizado para o isolamento de Campylobacter sp. Qual a forma de incubação? 5. Exercício coprocultura. FIM
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