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DEPENDÊNCIA QUÍMICA 2

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AULA 2 
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL PARA 
DEPENDÊNCIA QUÍMICA E 
ADICÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Profª Silvia Helena Brandt do Santos 
 
 
2 
TEMA 1 – UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO USO DE SPAS 
Ao longo de toda a história da humanidade, houve o uso de substâncias 
psicoativas (SPAs). Desde os primórdios já eram usadas em cerimônias e rituais 
que buscavam prazer, diversão e experiências místicas. Tanto o vinho como a 
cerveja eram utilizados pelos egípcios no tratamento de saúde, bem como o ópio 
para os gregos e árabes, usado para aliviar a dor. O álcool foi meio de diversão 
em festividades de gregos e romanos e em rituais sagrados de índios. Algumas 
tribos do México consumiam também o cogumelo, o qual consideravam sagrado 
e induzia à alucinação. 
Ao compreender que as drogas eram utilizadas para rituais religiosos, para 
manter os costumes culturais (e também porque seus efeitos negativos eram 
desconhecidos), não traziam consigo conotação de risco social. 
McRae (2005) relata que, no fim do século XIX e início do século XX, com 
o contexto da industrialização e ascensão da ciência, a visão a respeito do uso de 
SPAs sai do campo religioso e ritualístico e passa a pertencer à ciência biomédica, 
que inicia a problematização sobre o uso e abuso de diversas drogas. 
Nos últimos 30 anos, as pesquisas acerca do assunto aumentaram, e os 
riscos oriundos do uso e abuso individual e social ganham evidência, e passam a 
pautar discussões acerca da implementação de políticas públicas de atenção aos 
problemas com drogas no Brasil. 
O aumento da violência a que a sociedade foi acometida em virtude do 
abuso de SPAs trouxe essa questão à tona, o que exige do governo e da 
sociedade civil uma união para encontrar uma possível prevenção e tratamento. 
É necessário que se trabalhe em rede, de forma profilática, com ações que 
perpassem pela promoção à saúde, com a divulgação e conscientização da 
população em geral acerca dos riscos do abuso de SPAs, e também o tratamento 
eficaz para quem já está envolvido. 
No cenário atual, vemos famílias sendo afetadas de forma drástica com o 
uso/abuso de SPAs, trazendo, além de sofrimento biológico ao usuário, um 
sofrimento bio-psico-sócio-cultural a ele e às pessoas mais próximas. Prejuízos 
ao corpo, que sofre com as substâncias tóxicas recebidas; prejuízo social, uma 
vez que, com o aumento do uso, a pessoa deixa de ter comprometimento com 
horários e responsabilidades assumidas. O aspecto psicológico entra em 
sofrimento tanto pelo uso em si quanto pelas consequências que vivencia a nível 
 
 
3 
biológico e social. Por conseguinte, o campo cultural também sofre, já que de 
forma dialética influencia negativamente, interrompendo a apreensão dos signos 
culturais e enviando mensagens negativas à cultura contemporânea. 
O tabaco e o álcool agravam vários problemas de saúde, gerando altos 
custos às políticas públicas, e a assistência social também observa um aumento 
de atendimento a esse público. 
Chama a atenção o número crescente do uso de crack. Em muitos 
aspectos, os problemas relacionados ao seu consumo não são diferentes do que 
acontece com outras drogas, porém, observa-se um nível de maior severidade no 
comprometimento com essa substância. 
Em relação às políticas públicas, é importante, tanto quanto o trabalho 
efetivo em rede, o conhecimento acerca do tema, por meio de pesquisas e cursos 
de capacitação. 
TEMA 2 – EXPERIMENTAÇÃO, USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE DROGAS 
Vimos que as SPAs estão presentes na vida da humanidade desde que 
conhecemos sua história. Quase sempre o valor moral ligado às drogas era 
permeado de crenças negativas que se atribuíam a quem as usava: “portadores 
de graves falhas de caráter”, “pessoas vagabundas, sem força de vontade”, 
“possuídos por forças do mal”, entre outras. À medida que a relação do sujeito e 
da cultura se modificava com o uso das substâncias, também o conceito objetivo 
(científico) e subjetivo (moral) se transformava. 
Nos últimos dois séculos, passou-se a discutir e a realizar pesquisas com 
as SPAs voltadas aos aspectos relacionados à saúde. O alcoolismo foi estudado 
no século XX nos EUA, principalmente por E. M. Jellinek. Ele recebeu apoio dos 
grupos de mútua ajuda recém-criados na época (1935 – Alcoólicos Anônimos – 
AA), que passaram a usar seus estudos. Tais conhecimentos influenciaram a 
Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Associação Médica Americana (AMA) 
também. 
Na década de 1960, houve encontros multidisciplinares, com 
representantes de todo o mundo, organizados pela OMS. O objetivo era estudar 
e organizar o conhecimento acerca das SPAs, a fim de otimizar os atendimentos 
a usuários de drogas, ampliando os recursos técnicos para diagnóstico, 
classificando transtornos mentais, dentre eles os ligados ao 
 
 
4 
uso/abuso/dependência de SPAs. Também se buscou padronizar os termos 
técnicos, o que auxiliou e motivou pesquisas na área. 
Esses encontros tiveram inúmeros resultados positivos, dentre eles a 
determinação de procedimentos para avaliação conjunta de entrevistas filmadas, 
bem como outros métodos de pesquisa sobre diagnóstico da dependência 
química. Tais resultados foram utilizados para a revisão da CID, o que auxiliou a 
produção da 8ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-8). 
A CID já passou por outras análises e estudos posteriormente, estando hoje 
em sua 10º revisão, utilizada pelo sistema de saúde pública brasileiro. Além da 
CID, temos o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM), 
da Associação Psiquiátrica Americana (APA), atualmente na 5ª revisão. 
Com base no estudo formal e com metodologia científica, avança-se na 
classificação tanto da dependência química quanto do usuário de SPA, 
ultrapassando o conceito de moralidade e compreendendo todo o contexto bio-
psico-sócio-cultural do sujeito, que o permite e/ou o leva a usar/abusar ou tornar-
se dependente. 
Tanto o CID quanto o DSM-IV trouxeram critérios para a dependência 
química propostos por Edward e Gross em 1976, que estabeleceram níveis de 
comprometimento ao longo de um processo contínuo, entre o nunca ter 
experimentado até o gravemente enfermo. 
Conforme os cientistas conceituaram, os principais sinais e sintomas de 
uma síndrome de dependência do álcool são os seguintes: 
 Estreitamento do repertório de beber: o uso torna-se mais persistente, 
não fazendo distinção de grupos ou parceiros para essas situações. 
Qualquer coisa se torna motivo para beber, independentemente de onde, 
com quem ou em que momento o sujeito se encontra. Isso o deixa cada 
vez mais ligado a um estereótipo de “bêbado”; 
 Saliência do comportamento de busca pelo álcool: a pessoa começa a 
organizar sua rotina em função da bebida, deixando as demais atividades 
em plano secundário; 
 Sensação subjetiva da necessidade de beber: a pessoa passa a ter um 
desejo forte e compulsivo de beber. Sente que perdeu o controle; 
 Desenvolvimento da tolerância ao álcool: a pessoa percebe que a 
mesma quantidade já não faz o mesmo efeito que antes, porque seu 
organismo precisa de quantidades cada vez maiores; 
 
 
5 
 Sintomas repetidos de abstinência: conjunto de sintomas que trazem 
desconforto quando o uso é interrompido; 
 Alívio dos sintomas de abstinência ao aumentar o consumo: essa 
característica pode dificultar o diagnóstico, uma vez que os sintomas não 
aparecem e a pessoa não admite o aumento do uso; 
 Reinstalação da síndrome de dependência: o padrão antigo de consumo 
pode se estabelecer rapidamente, mesmo após um longo período de não 
uso. 
Esse padrão foi estabelecido acerca do álcool, porém pode se repetir com 
outras SPAs. 
Importante ressaltar que, ao se estabelecer critérios objetivos, possibilitou-
se que o diagnóstico fosse feito com maior precisão antes de qualquer tratamento. 
Araújo e Latufo Neto (2014, p. 68-69) dizem que 
a formulação de um diagnósticopassa pela compreensão dos 
comportamentos que são tidos como inadequados, e isso requer a 
análise das contingências que os instalaram e que os mantêm. Nesse 
sentido, o uso de classificações categoriais é limitante, pois a topografia 
de um comportamento não é suficiente para a compreensão da sua 
função para um determinado indivíduo. A análise funcional do 
comportamento é imprescindível para o planejamento da intervenção 
clínica. 
No entanto, os autores informam que, apesar das limitações, o DSM-V 
permite obter informações importantes sobre indivíduos diagnosticados 
com determinado transtorno mental. É possível inferir que pacientes com 
o mesmo transtorno, dividindo traços semelhantes, possam apresentar 
comportamentos semelhantes. 
Da mesma forma, nomear classes de respostas pode auxiliar na 
identificação de comportamentos similares entre si. Além disso o uso do 
manual da Associação Psiquiátrica Americana viabiliza a comunicação 
entre profissionais fornecendo uma padronização na linguagem 
psiquiátrica e facilitando o diálogo entre as diferentes áreas. 
TEMA 3 – DEFINIÇÕES DO DSM E DO CID-10 
O DSM-V retirou de seu conteúdo a divisão que havia no DSM-IV entre os 
diagnósticos de “abuso e dependência de substâncias” e os agrupou como 
“transtorno por uso de substâncias”. 
Conforme apontam Araújo e Lotufo Neto (2014, p. 80-81), 
o transtorno por uso de substância somou os antigos critérios para abuso 
e dependência conservando-os com mínimas alterações: a exclusão de 
“problemas legais recorrentes relacionados à substância” e inclusão de 
“craving ou um forte desejo ou impulso de usar uma substância”. O 
diagnóstico passou a ser acompanhado de critérios para intoxicação, 
 
 
6 
abstinência, transtorno induzido por medicação/substância e transtornos 
induzidos por substância não especificados. O DSM-5 exige dois ou mais 
critérios para o diagnóstico de transtorno por uso de substância, e a 
gravidade do quadro passou a ser classificada de acordo com o número 
de critérios preenchidos: dois ou três critérios indicam um transtorno 
leve, quatro ou cinco indicam um distúrbio moderado, e seis ou mais 
critérios indicam um transtorno grave. 
A atual versão do manual passou a incluir os diagnósticos de abstinência 
de cannabis e abstinência de cafeína e excluiu o diagnóstico de 
dependência de múltiplas substâncias. O transtorno por uso de nicotina 
foi substituído pelo transtorno por uso de tabaco. O DSM-5 removeu os 
especificadores “com dependência fisiológica/sem dependência 
fisiológica” e reorganizou os especificadores de remissão, reconhecendo 
como “remissão precoce” um período de pelo menos três meses no qual 
nenhum dos critérios para o uso da substância (exceto o desejo) é 
atendido, e “remissão sustentada” quando o período é superior a doze 
meses. O manual também incluiu os especificadores que descrevem 
indivíduos “em um ambiente controlado” e aqueles que estão “em terapia 
de manutenção”. 
No DSM-IV-TR o jogo patológico era apresentado como parte dos 
transtornos do controle dos impulsos não classificados em outro local, 
mas as crescentes evidências de que alguns comportamentos, tais como 
jogos de azar, atuam sobre o sistema de recompensa com efeitos 
semelhantes aos de drogas de abuso, motivando o DSM-5 a incluir o 
transtorno de jogo entre os transtornos relacionados a substâncias e 
adicção. 
Quadro 1 – Definição de “uso”, “abuso” e “dependência” 
USO ABUSO DEPENDÊNCIA 
É a autoadministração de 
qualquer quantidade de 
substância psicoativa. 
O CID traz o termo “uso 
nocivo”, que resulta em dano 
físico ou mental (vide Quadro 
2). 
Padrão de uso que 
aumenta o risco de 
consequências prejudiciais 
para a pessoa. 
DSM: o abuso também 
gera consequências sociais 
(vide Quadro 2). 
 
No Quadro 3 é possível ver 
uma comparação entre os 
critérios de dependência 
expostos nas classificações do 
DSM-IV e do CID. Esses dois 
sistemas de classificação 
facilitam identificar o 
dependente de substância 
psicoativa. 
 
Quadro 2 – Comparação entre critérios de abuso e uso nocivo de acordo com a 
DSM-IV e CID-10 
DSM-IV CID-10 
Abuso Uso nocivo 
 Um ou mais sintomas adotados 
ocorrendo no período de 12 meses, 
sem nunca preencher critérios para 
dependência; 
 Uso recorrente em situações nas 
quais isso representa perigo físico; 
 Problemas legais recorrentes 
relacionados à substância; 
 Uso continuado, apesar de problemas 
sociais ou interpessoais persistentes 
ou recorrentes causados ou 
exacerbados pelos efeitos da 
substância. 
 Evidência clara de que o uso foi responsável 
(ou contribuiu consideravelmente) por dano 
físico ou psicológico, incluindo capacidade de 
julgamento comprometida ou disfunção de 
comportamento; 
 A natureza do dano é claramente identificável; 
 O padrão de uso tem persistido por pelo 
menos um mês e tem ocorrido repetidamente 
dentro de um período de 12 meses; 
 Não satisfaz critérios para qualquer outro 
transtorno relacionado à mesma substância 
no mesmo período (exceto intoxicação 
aguda). 
 
 
7 
Quadro 3 – Comparação entre os critérios para dependência de acordo com a 
DSM-IV e CID-10 
DSM-IV CID-10 
Padrão mal adaptativo de uso, levando a 
prejuízo ou sofrimento clinicamente 
significativos, manifestados por três ou mais 
dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer 
momento dentro de 12 meses: 
Três ou mais das seguintes manifestações 
ocorrendo conjuntamente por pelo menos um 
mês ou, se persistirem por períodos menores, 
devem ter ocorrido juntas de forma repetida 
em um período de 12 meses: 
1. Tolerância: definida por qualquer um dos 
seguintes aspectos: 
a. Necessidade de quantidades 
progressivamente maiores para 
adquirir a intoxicação ou efeito 
desejado; 
b. Acentuada redução do efeito com o 
uso continuado da mesma quantidade. 
1. Forte desejo ou compulsão para 
consumir a substância; 
 
2. Abstinência: manifestada por qualquer 
um dos seguintes aspectos: 
a. Síndrome de abstinência característica 
para a substância; 
b. A mesma substância (ou uma 
substância estreitamente relacionada) 
é consumida para aliviar ou evitar 
sintomas de abstinência. 
2. Comprometimento da capacidade de 
controlar o início, término ou níveis de 
uso, evidenciado pelo consumo frequente 
em quantidades ou períodos maiores que 
o planejado ou por desejo persistente ou 
esforços infrutíferos para reduzir ou 
controlar o uso. 
 
3. A substância é frequentemente 
consumida em maiores quantidades ou 
por um período mais longo do que o 
pretendido. 
3. Estado fisiológico de abstinência 
quando o uso é interrompido ou reduzido, 
como evidenciado pela síndrome de 
abstinência característica da substância ou 
pelo uso desta ou similar para aliviar ou 
evitar tais sintomas. 
4. Existe um desejo persistente ou esforços 
malsucedidos no sentido de reduzir ou 
controlar o uso. 
4. Evidência de tolerância aos efeitos, 
necessitando de quantidades maiores para 
obter o efeito desejado ou estado de 
intoxicação ou redução acentuada desses 
efeitos com o uso continuado da mesma 
quantidade. 
5. Muito tempo é gasto em atividades 
necessárias para obter e utilizar a 
substância ou se recuperar de seus 
efeitos. 
5. Preocupação com o uso, manifestado 
pela redução ou abandono das atividades 
prazerosas ou de interesse significativo 
por causa do uso ou do tempo gasto em 
obtenção, consumo e recuperação dos 
efeitos. 
6. Importantes atividades sociais, 
ocupacionais ou recreativas são 
abandonadas ou reduzidas em virtude do 
uso. 
6. Uso persistente, a despeito de evidências 
claras de consequências nocivas, 
evidenciadas pelo uso continuado quando 
o sujeito está efetivamente consciente (ou 
espera-se que esteja) da natureza e 
extensão dos efeitos nocivos. 
7. O uso continua, apesar da consciência 
de ter um problema físico ou psicológico 
persistente ou recorrente, que tende a ser 
causado ou exacerbado pela substância. 
 
 
 
 
 
8 
TEMA 4 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 
 Epidemiologia: é o ramo da medicinaque estuda os diferentes fatores que 
intervêm na difusão e propagação de doenças, sua frequência, seu modo 
de distribuição, sua evolução e a colocação dos meios necessários à sua 
prevenção. 
É uma ciência que estuda a ocorrência de fatos que acontecem com a 
população, buscando compreender o que se passa com o povo de forma 
geral. Por exemplo: 
 Quantas pessoas foram contaminadas pelo HIV? 
 Quantos fumantes são usuários de álcool? 
 Quantos ganham salário mínimo? 
 Prevalência: é a característica do que prevalece; superioridade, 
supremacia. Ao contrário da epidemiologia, que busca dados gerais, a 
prevalência busca conhecer um fato específico em um contexto (local e 
tempo). Por exemplo: 
 Quantas mulheres foram infectadas pelo HIV entre os moradores de 
Curitiba em 2018? Casos existentes – mulheres infectadas com HIV; 
população determinada – moradores de Curitiba; tempo determinado – 
ano de 2018. 
 Incidência: é o estudo de novas casualidades em uma população e um 
tempo determinado. Por exemplo: 
 Quantos novos casos de HIV houve entre mulheres que usam serviço 
público municipal de saúde no primeiro semestre de 2019? 
Agora, dê uma pausa na leitura e pesquise sobre a epidemiologia, a 
prevalência e a incidência das principais drogas em seu município e região. É 
importante que você conheça as SPAs mais consumidas pelos atuais e possíveis 
pacientes. 
 
 
 
9 
TEMA 5 – ASPECTOS SOCIOCULTURAIS DO USO DE ÁLCOOL E OUTRAS 
DROGAS 
Procurou o homem, desde a mais remota antiguidade, encontrar um 
remédio que tivesse a propriedade de aliviar suas dores, serenar suas 
paixões, trazer-lhe alegria, livrá-lo de angústias, do medo ou que lhe 
desse o privilégio de prever o futuro, que lhe proporcionasse coragem, 
ânimo para enfrentar as tristezas e o vazio da vida. 
(Lauro Sollero) 
Como já exposto, uma das razões para que o uso de drogas não fosse visto 
como ameaça perante a máquina de gestão social era sua relação com rituais 
coletivos e culturais. MacRae (2005, p. 1) nos informa que: 
Mesmo hoje, quando as regulações tradicionais da sociedade se 
mostram menos eficazes para enquadrar o consumo de substâncias 
psicoativas lícitas ou ilícitas, este ainda raramente ocorre de maneira 
desregulada. Isso continua a ser verdadeiro mesmo quando as regras 
que norteiam essas atividades desviam ou entram em conflito com as 
leis e os valores considerados hegemônicos. Portanto, para realizar um 
trabalho de prevenção ao abuso de drogas que seja efetivo, é necessário 
começar por procurar conhecer o contexto sociocultural em que ocorre 
o seu uso, buscando entender a sua lógica interna. 
Compreender a relação do sujeito com a SPA é importante, porque as 
crenças do usuário acerca de si mesmo, da sociedade em que se encontra, de 
sua família e da droga influenciam de forma direta na maneira como ele as usará. 
Corroborando a ideia exposta, podemos citar Becker (1976), um estudioso 
da dimensão sociológica das drogas. Ele chamou a atenção para a importância 
de um saber sobre as substâncias que se difunde entre seus usuários, expondo 
que suas ideias sobre a droga influenciam como eles as usam, interpretam e 
respondem a seus efeitos. 
O autor defende que a experiência derivada do uso dependerá do grau de 
conhecimento que lhe é disponível. Zinberg (1980) também concorda, afirmando 
que os efeitos do uso de SPA dependem das propriedades farmacológicas, das 
atitudes, da personalidade do usuário, do meio em que está inserido e no 
momento do uso. 
MacRae (2005, p. 2), acerca do conhecimento da população sobre a droga, 
complementa que, uma vez “que a divulgação desse saber é função da 
organização social dos grupos em que as drogas são usadas, os efeitos do uso 
irão, portanto, se relacionar a mudanças na organização social e cultural”. 
A família também apresenta importante influência no padrão de uso, uma 
vez que é a primeira referência do indivíduo, atua como mediadora entre o sujeito 
 
 
10 
e a sociedade, pois repassa os valores desta, criando ou reforçando crenças que 
serão a base para o modo como se percebe o mundo e se posiciona frente às 
situações que a vida apresenta. Apesar de não ser a única – pois todas as 
instituições de que o sujeito faz parte (escola, grupos esportivos, de artes, amigos 
etc.) contribuem com modos de ver o mundo (formadoras de crenças) –, é a maior 
responsável pela formação pessoal. 
A família e a influência cultural são fatores importantes na determinação 
do padrão do uso e consumo do álcool e outras drogas. Há várias 
evidências de que os padrões culturais têm papel significativo no 
desenvolvimento do alcoolismo. Sem, entretanto, ignorar as condições 
preexistentes de personalidade que podem favorecer a dependência de 
álcool e outras drogas. (Buchele; Marques; Carvalho, 2004) 
MacRae (2005, p. 5) expõe ainda a importância de reconhecer a “estrutura 
de vida” do sujeito para o tratamento. Essas estruturas seriam 
as atividades regulares, tanto as convencionais quanto as relacionadas 
à droga, que estruturam os padrões da vida quotidiana. Aí também se 
incluem as relações pessoais, os compromissos, obrigações, 
responsabilidades, objetivos, expectativas etc., mesmo que não 
primariamente direcionados à droga. Uma disponibilidade adequada das 
substâncias, que evitasse que a sua simples aquisição se tornasse o 
único foco de interesse do usuário, também seria importante para 
permitir o desenvolvimento das sanções e dos rituais sociais. As normas, 
regras e rituais determinariam e constrangeriam os padrões de uso da 
droga, evitando uma erosão na estrutura de vida […]. Uma vida 
altamente estruturada permitiria que o usuário mantivesse a estabilidade 
na disponibilidade da droga, essencial para a formação e manutenção 
de regras e rituais. A autorregulação do consumo de drogas e seus 
efeitos seriam, portanto, questão de um equilíbrio (precário) em uma 
corrente de retroalimentação circular. 
Em uma sociedade focada no consumo, na qual o importante é o “ter” e 
não o “ser”, as crenças que o sujeito cria acerca de si e do meio não raras vezes 
passam pelo prazer imediato, pela não tolerância à frustração e pela 
descartabilidade de bens, valores e até mesmo pessoas, trazendo uma sensação 
de vazio que pode, então, ser preenchida com a substância psicoativa. 
Prochaska e DiClemente (1986) acreditam que o consumo de drogas é uma 
forma de expressão e percepção de si mesmo, numa relação que inclui os outros 
e o ambiente em que se vive. Brandt (2016) complementa que tanto a 
dependência química quanto seu tratamento são fenômenos socialmente 
construídos, e que a abstinência do uso de SPAs pode se estabilizar se o 
dependente químico for um participante engajado em atividades comunitárias, as 
quais produzem efeito socializador, possibilitando a ressignificação de crenças e, 
com isso, a mudança de atitudes no indivíduo. 
 
 
11 
Novas atitudes e um novo modo de se portar no mundo permitem alterar a 
direção e o controle das tarefas, que mudam a atenção das drogas para outros 
valores, o que possibilita gerar novos padrões de ação e ressignificar a realidade 
prática e relacional do dependente químico. Além de conscientizar, essa 
participação desenvolve o pensamento reflexivo e crítico, e fortalece um 
compromisso cidadão. 
5.1 Tradições e usos distintos 
A influência cultural não se restringe apenas ao álcool ou a outras drogas 
lícitas. Observe, a seguir, algumas considerações sobre a planta da coca, matéria-
prima da cocaína, nos seus diferentes aspectos e no seu uso cultural, segundo 
Figueiredo (2002). 
Suas folhas são mastigadas há séculos, nas montanhas e altiplanos, 
pela população indígena. O hábito de mastigar a folha da coca – o 
chamado “coquear” – ocupa um lugar de destaque na cosmologia, na 
esfera comunitária e ritual dessas populações. 
“Coquear” faz parte de uma adaptação biológica e sociocultural em 
contexto geográfico e climático altamentedesfavorável que, 
evidentemente, não se deixa mudar por considerações meramente 
moralistas. Mastigar a folha da coca tem por objetivo, em primeiro lugar, 
evitar o cansaço considerável devido à altitude. Evitam-se, assim, a sede 
e a fome (ou pelo menos as suas sensações), e aguenta-se melhor o 
frio, às vezes, intenso. 
O seu valor cultural e mitológico é ressaltado, em particular, por meio do 
seu uso nos momentos do nascimento e da morte. Ela é aplicada no 
recém-nascido para a secagem do cordão umbilical, que, em seguida, é 
enterrado junto com as folhas de coca, representando, assim, um talismã 
para o resto da vida do indivíduo. Nas cerimônias funerais, acredita-se 
numa verdadeira convulsão dos espíritos (da coca), que devem ser 
apaziguados mediante certos rituais, para assegurar a tranquilidade no 
além, da pessoa falecida. 
Percebe-se, dessa forma, que o uso da coca parece ter algo de “sagrado”. 
Ele não se limita ao mastigar, como consequência de condições socioeconômicas 
difíceis. Se é altamente desejável melhorar as condições de vida dessa 
população, não quer dizer que se deva, para isso, destruir os seus valores 
culturais milenares (Senad, 2011). 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
APA – American Psychiatric Association. DSM-IV: diagnostic and statistical 
manual of mental disorders. 4. ed. Whashington, DC: APA, 1994. 
_____. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-5. 5. ed. 
Washington, DF: APA, 2013. 
ARAÚJO, A. C; LATUFO NETO, F. A nova classificação americana para os 
transtornos mentais – o DMS-5. Revista Brasileira de Terapia Comportamental 
e Cognitiva, São Paulo, v. XVI, n. 1, p. 67-82, 2014. 
BECKER, H. Consciência, poder e efeito da droga. In: BECKER, H. Uma teoria 
da ação coletiva. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. p. 181-204. 
BRANDT, S. H. et al. Psicologia em estudo: resultados de um processo de 
formação. Curitiba: CRV, 2016. 
BRASIL. Presidência da República. Legislação e políticas públicas sobre 
drogas no Brasil. Brasília, DF: SNPD, 2010. 
BUCHELE, F.; MARQUES, A. C. P. R.; CARVALHO, D. B. B. Importância da 
Identificação da cultura e hábitos relacionados ao álcool e outras drogas. In: 
_____. Atualização de conhecimentos sobre redução da demanda de drogas. 
1. ed. Brasília, DF: Ministério da Justiça, 2004. v. 1. p. 223-233. Curso a distância. 
MACRAE, E. A subcultura da droga e prevenção. 2005. Disponível em: 
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