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AULA 2 ATENDIMENTO EM REDE Prof. Paulo Sérgio Aragão 2 INTRODUÇÃO Neste momento, vamos nos dedicar mais atentamente ao que podemos chamar de aproximação de conceitos de redes, estabelecendo conexões com uma gama de autores que se alicerçam majoritariamente sobre uma base teórico- crítica. É perceptível, nas palavras de José Paulo Netto, em sua obra Marxismo Impenitente (2011), a afirmação de que “quem erra na análise erra na ação”, trazendo-nos a responsabilidade de sermos rigorosos nas fontes de interpretação dos fenômenos que se apresentam, para assim compreendermos os sentidos, intensidades e direções a que se dirigem. Assim, ao buscarmos uma aproximação ao conceito de rede de proteção social, devemos ter em mente que este objetivo se faz imperioso, no sentido de compreender corretamente as determinantes que nos permitem identificar, quantificar e estabelecer conexões mais sólidas para este tipo de intervenção social, o qual tem atraído o debate sobre a ação das políticas sociais ultimamente. Assim, neste momento, vamos intensificar nossas análises no sentido de compreender as características, tipologias e relevância de cada rede, concebendo ainda que o mais crucial são as suas intersecções. TEMA 1 – APONTAMENTOS SOBRE REDES DE PROTEÇÕES SOCIAIS Neves (2009), ao abordar o conceito de “rede”, parte do significado da palavra para indicar o seu conteúdo. A autora argumenta que tal significado vem do latim – retis – sendo descrito pela língua oficial portuguesa como uma estrutura que possui entrelaçamento de fios, composta de tal maneira que permite a formação de um tecido, com espaços mais ou menos regulares. De fato, ao nos apoiarmos sobre tal significado, revelamos coerência às tentativas de construção de sistemas que, de uma forma ou de outra, se apoiam reciprocamente em face de estabelecer mecanismos de proteções sociais que ultrapassem as iniciativas singulares institucionais. Com isso, partimos do pressuposto que uma rede requer assim conexões mais ou menos estáveis e regulares, que se auxiliam mutuamente em razão de objetivos comuns e específicos, proporcionando por meio de seus elos, uma teia, a qual serve a uma gama diversificada de fins. 3 Como definição básica, o termo rede origina-se do latim retis, e é definido pelos dicionários da língua portuguesa como o entrelaçamento de fios com aberturas regulares, capazes de formar uma espécie de tecido. A partir da noção de entrelaçamento, assim como da estrutura reticulada, a palavra rede foi ganhando novos significados, de modo a caracterizar- se diante das mais diferenciadas situações. (Neves, 2009, p. 148) A autora tece seus argumentos destacando que, mesmo em uma convergência na origem da palavra, é possível encontrar diferentes sentidos e composições de redes. Cita as redes enquanto definição de armadilhas para a pesca, a rede protetora e amortecedora de impactos, as redes ligadas ao campo da economia e dos negócios rentáveis, entre tantas outras formas de composição e sentidos do termo. Contudo, dá ênfase a uma característica interessante – que aqui nos serve de baliza. Argumenta que as redes não possuem um centro irradiador e definidor de sua trama, mas se constitui nas relações e nos vínculos que se estabelecem entre si, de forma não hierárquica e ainda em sua manifestação horizontal. Se apoiando em diferentes fontes, destaca que o sentido de redes vem se transformando ao longo da história, tomando matizes distintas a partir da década de 1980 respondendo as necessidades de flexibilidade, conectividade e descentralização na esfera da intervenções sociais, caminhando assim na direção da democracia. Gonçalves e Guará (2010) também solidificam esta concepção de redes, compreendendo que a sua denominação e sentido projetam estruturas que se arranjam por ligações que estabelecem entre si. No entanto, os autores advertem que quando tudo é denominado de rede, o conceito se empobrece, e obscurece seu potencial. Nos parecem plausíveis tais considerações, principalmente quando queremos delinear diferentes redes que se sustentam junto às intervenções de proteção social. Os autores buscam, deste modo, delinear a concepção de redes de proteção social, as quais eles descrevem: A rede da qual tratamos neste caderno é aquela que articula intencionalmente pessoas e grupos humanos, sobretudo como uma estratégia organizativa que ajuda os atores e agentes sociais a potencializarem suas iniciativas para promover o desenvolvimento pessoal e social de crianças, adolescentes e famílias nas políticas sociais públicas. (Gonçalves e Guará, 2010, p. 15) Convergimos na direção desta interpretação, compreendendo que as redes de proteção social se estabelecem por interconexões, reciprocidade, concepções da fragmentação especializada e da necessidade de união de pontos, a fim de 4 oferecer possibilidades de intervenção com fins de ampliar os êxitos no campo social. Assim, retomamos as concepções de Neves (2009), a qual concebe as redes sobre a seguinte conceituação: [...] caracterizam-se a partir de algumas definições, considerando as interrelações, associações encadeadas, interações, vínculos não hierarquizados, todos estes aspectos envolvendo relações de comunicação, assim como o intercâmbio de informações e trocas diversas. (Neves, 2009, p. 149) Acrescenta-se ainda a tais características suas determinações na busca de objetivos comuns aos diferentes atores sociais, sendo estes estabelecidos entre eles de forma não hierarquizada. Assim, temos que uma rede se constitui a um fim estabelecido em comum, indicando uma direção e movimento a qual sustenta suas justificativas de existência. É interessante notarmos que a questão de não-hierarquização, junto às experiências que emergem das redes de proteção social, possibilitam intervenções partilhadas sem a necessidade de imposição, mas mediada nas argumentações e nas relevâncias dos seus diferentes sujeitos, estabelecendo aqui um rompimento com a verticalização tão presente na sociedade do capital. Destaca-se a relevância dada a cada ator social quando da sua predisposição para integrar um sistema que manifesta responsabilidades recíprocas, interdependência e que necessita de estabelecer comunicações intensas a fim de proporcionar um fluxo que permita a ampliação da proteção social. Também, para Castells (1998) destaca-se que, mesmo sendo identificadas diferenças entre os sujeitos que compõem as diferentes estruturas de redes, estes se submetem a uma relação de interdependência para compor um sistema integrado. Este autor afirma ainda que são flagrantes os temores e receios de seus sujeitos, os quais, mesmo os possuindo, apostam nestas relações. As afirmações de Castells (1998) corroboram para ressaltar que as diferenças compositoras dos atores sociais não são obstáculos insuperáveis para o trabalho na perspectiva de redes. Assim, as especificidades de composição e atuação de cada ator deve ser considerada, e não aplainada, devendo incentivar suas singularidades, e atuar também no sentido de cooperação dirigida a fins específicos delineados conjuntamente. 5 Compreendemos ainda, nesta relação, o estabelecimento de confiança e cooperação que os sujeitos estabelecem entre si enfatizando que investir na estruturação de redes equivale a apostar nas relações humanas. Por todos estes conteúdos compreendemos que as redes sociais, ou seja, redes que atuam no cenário social podem ser definidas pela conjugação de esforços originados e coordenados coletivamente em prol de objetivos comuns. Devem preservar as especificidades de cada ator componente neste sistema horizontal e não-hierárquico, cuja relações de reciprocidade, confiança, estabelecimento de vínculos, solidificadas em relações humanas, proporcionam maiores êxitos em ações no tecido social. Esta visão, a qualfoi apoiada nos diferentes autores citados aqui, nos oferece uma base privilegiada para a estruturação de tais mecanismos, bem como em sua operacionalização. Assim, convergindo com Baptista (2013), bem como com Gonçalves e Guará (2010), vamos ainda identificar os diferentes perfis de redes, trazendo aqui suas diferentes características, composições e finalidades que se manifestam na contemporaneidade. TEMA 2 – ESBOÇO DE UMA TIPOLOGIA DE REDES – I Pois bem, já compreendida a questão das redes e sua conceituação, de forma abrangente, remetendo-nos a uma análise de suas características, funcionalidades, significados, ainda nos falta a delimitação de um esboço de classificação das diferentes composições de redes que se apresentam na sociedade. É sobre esta tarefa que vamos nos ater agora. Contudo, é fato que esta classificação nos serve tão somente de identificação dos diferentes sistemas que se apresentam na contemporaneidade. Com isso, não pretendemos aprisionar o leitor a uma formatação rígida, irreal e sem grande utilidade para o nosso objeto, afinal, buscamos aqui oferecer conceitos, características, vantagens e limites desta perspectiva de atuação no cenário social. Assim, vamos recorrer a Mirian Veras Baptista (2013) a qual destaca cinco tipos de redes que circulam na esfera social hodiernamente. A autora as classifica – alicerçada em diferentes autores – as redes sociais como espontâneas, como de serviços sócio comunitárias, as redes setoriais públicas, as redes setoriais privadas e as redes sociais movimentalistas. 6 2.1 Redes sociais espontâneas Para a autora, as redes sociais espontâneas se classificam como organizações que se manifestam no espaço local. Elas se constituem com laços espontâneos mais ou menos sólidos. São manifestas como vínculos constituídos nas suas relações sociais primárias, incluindo aqui as relações constituídas na família, nos laços de vizinhanças, no círculo de amigos próximos, no conjunto de pessoas que estão inseridas nos mesmos postos de trabalho, bem como nas relações constituídas nas religiões manifestas. Podemos perceber neste tipo de rede um círculo próximo que se estabelece em reações no universo do cotidiano, com suas expressões espontâneas, tal como na denominação de sua classificação. Destaca-se, ainda, que suas intervenções se dão mais nas relações imediatas, através de reciprocidade, troca de informações e ainda prestação de serviços. Também buscamos amparo em Gonçalves e Guará (2010) para quem este tipo de rede, é definido como redes primárias ou espontâneas: As redes primárias ou de proteção espontânea são aquelas que se organizam na perspectiva do apoio mútuo e solidariedade, como nas relações afetivas, de parentesco, de proximidade com amigos, vizinhos e nas relações entre os indivíduos de uma mesma comunidade. (Gonçalves; Guará, 2010, p., 23) Os autores também afirmam ser estas relações um tipo de conceito alargado de família, onde suas relações se dão de forma cotidiana. Registra-se assim que estes laços correm maiores riscos de esfacelamentos à medida das exposições das vulnerabilidades sociais. Isso equivale dizer que quanto maior a precariedade das estruturas e das proteções sociais manifestas nos territórios, tanto maior é a necessidade de intervenção para melhor aportar estas relações e evitar o seu desgaste. Destacamos, em comunhão com os autores, que este tipo de rede se sustenta sob a reciprocidade, estabelecendo assim um tipo de união informal que se abriga e oferece proteções mútuas. Ude (2002) destaca que alguns estudos vêm apontando que quando os indivíduos veem sua rede se fragilizar e romper, tendem a adoecer, revelando aqui uma condição imanente ao ser humano, a sua constituição social. Nos parece interessante acrescentar que o fato de estas redes espontâneas estarem mais submetidas à erosão em face das vulnerabilidades 7 sociais que são expostas, remete à ação de outras redes mais estruturadas que possam vir a trabalhar no sentido de seu fortalecimento e/ou reconstrução, registrando aqui uma relação à que se destina muitas de nossas estruturas de proteção social. 2.2 Redes de serviços sociocomunitários Baptista (2013) seguindo a classificação dos tipos de redes sociais registra as características das redes de serviços sociocomunitários. Para a autora, esta rede se constitui por serviços alicerçados na filantropia e nas organizações comunitárias estabelecendo relações com base mutualista como as de iniciativa de mutirões para manutenção e ampliação de equipamentos nos territórios. Destaca-se também as considerações a respeito da relação territorial que recorta este tipo de redes, manifestando coesão sobre suas conexões. Suas expressões se constituem na história do território, revelando as inciativas comunitárias e em grandes parcelas as expressões políticas de um conjunto de atores sociais. Acrescenta-se que o desenvolvimento e os êxitos dos serviços de políticas públicas dependem muito da interconexão entre estas redes. É hoje sobejamente conhecida a importância da relação próxima e participativa dessas redes para construir sentido de pertencimento e de comunidade. O grupo familiar e comunitário constitui a condição objetiva e subjetiva de pertença e não pode ser descartado quando se projetam processos de inclusão social. (Gonçalves; Guará, 2010, p. 24). Acrescenta-se aqui uma relação de necessidade recíproca entre as estruturas estatais e a manifestação da vida comunitária, que ultrapassa o terreno da relação intrafamiliar e transborda para um território convivido. Aqui, novamente, temos o apelo à interconexão de redes estabelecidas, em que diferentes organizações se favorecem mutuamente na busca de seus objetivos. TEMA 3 – ESBOÇO DE UMA TIPOLOGIA DE REDES - II 3.1 Redes movimentalistas Em seguida abordaremos as redes movimentalistas. Este tipo de rede se caracteriza pela ação de pressão e vigilância com a sociabilidade existente, estabelecendo uma postura de denúncia contra aquilo que considera de ameaça aos padrões por elas defendidos. 8 Sua constituição se dá perante grupos de atuação e natureza diversa, ligados por relações interpessoais possibilitando uma certa oxigenação nos processos junto as demandas sociais ao lançarem-se por vias de controle sociais e democratização das deliberações. Gonçalves e Guará (2010) destacam que este tipo de rede evidencia principalmente a presença das redes sócio comunitárias, estabelecendo, mesmo em suas diferentes bandeiras e pontos de lutas em comum. Como temos ressaltado, é cada vez mais perceptível que a classificação cumpre um papel descritivo, mas que no cotidiano se serve de relação interna que ultrapassa esta mesma divisão. Os autores acima nos possibilitam uma compreensão rica da relevância deste tipo de rede, quando expõem as suas vantagens para um aprimoramento dos serviços prestados à população. A existência dos “fóruns de direitos”, simpósios e debates, nos diferentes níveis de ação, são estratégias importantes para a rearticulação ou a articulação de redes sociais movimentalistas instituintes, que tornam visíveis e problematizam as novas demandas da realidade local ampliando as conquistas legais com a participação da sociedade civil. (Gonçalves; Guará, 2010, p. 26) 3.2 Redes setoriais públicas Também destacamos aqui as redes setoriais públicas, as quais se caracterizam pela presença do Estado nos territórios, sendo travejadas pelo princípio da legalidade se constituindo como direitos sociais garantidos perante um arcabouço de legislações. Este tipo de rede se modifica no Brasil a partir do pacto social estabelecido em 1988, o qual nos oferece uma via legal de maiores proteções sociais. Aqui temos a materialização das obrigações do Estado, que se manifestam em serviços de natureza pública, porém, nem sempre pela via estatal,sendo consolidada como as responsabilidades estatais perante o pacto estabelecido. Gonçalves e Guará (2010) nos alertam para a imobilidade, resistência e a verticalidade que este tipo de rede pode manifestar, entrando em contraste com as características não hierárquicas presentes até aqui. Tal estrutura pode servir a um risco quando da vontade política não se encontra motivações para romper com as burocracias estatais e circular um poder mais verticalizado acima das relações territoriais que devem servir. 9 Com isso, estas relações se manifestas de forma mais hierárquica e verticalizada corroem sua efetividade e não se propõem a considerar as dinâmicas que os diferentes territórios os impõem, podendo se efetivar em má gestão dos recursos oriundos do fundo público. As autoras acima ainda destacam que a prática de relações intersetoriais ainda é rara, o que embasa a concepção de território sobre as políticas públicas. Com isso, fica o apelo aos diferentes atores sociais, principalmente aqueles constituídos na esfera estatal que abandonem suas posturas verticalizadas e corroborem para um processo mais democrático de gestar o fundo público. 3.3 Redes setoriais privadas Baptista (2013) ainda destaca as redes setoriais privadas. Para esta autora: São redes que, por serem de caráter privado, seguem as leis do mercado, oferecendo seus serviços mediante pagamento. Embora acessíveis a uma parcela restrita da população, estas redes costumam estender-se, via convênios, aos trabalhadores do mercado formal. (Baptista, 2013, p. 61) Destaca-se que estas redes se constituem mais ricamente em zonas onde não se projetam vulnerabilidades em grande intensidade, estabelecendo uma estrutura onde registram-se consumidores e fornecedores dentro da cadeia produtiva. Tais estruturas nos ensinam que independente da natureza e da função dos atores, o mecanismo de redes se apresenta vantajoso. Esta gama de serviços se manifesta nos diferentes territórios e compõem a trama de vivência dinâmica destes. São serviços na área de educação, saúde, cultura, esportes que de uma forma ou de outra se entrelaçam as ofertas de caráter público. Assim, compreendemos as composições básicas de redes que nos interessa neste objeto ressaltando que mais importante que sua classificação em si, se dá a relevância das suas conexões e os aportes que se oferecem ao território. É nesta perspectiva que avançamos agora. TEMA 4 – CARACTERÍSTICAS DAS REDES E QUESTÕES FUNDAMENTAIS Ao compreender os diferentes tipos de rede, advertimos que mais relevante do que formular perfis distintos de estruturas que se conectam, faz necessário 10 compreender o processo associativa que parte da incompletude de organismos e instituições que exercem diferentes papeis junto ao cotidiano. Com isso, afirmamos que independente da classificação e de suas singulares características, estas redes estabelecem entre si uma interdependência que se manifesta nos territórios, compondo uma estrutura dinâmica que é requerida na contemporaneidade, uma vez que compreendemos que a proteção social no Brasil não está restrita aos aparatos estatais, mas sim a uma gama variada de atores. Gonçalves e Guará (2010) sinalizam que na contemporaneidade há uma reivindicação para as ações de corte mais democrático, o que por outro lado requer dos gestores sociais uma abertura para a interação com os diferentes. Afirma que esta forma de ação possibilita maior legitimação frente a seus atores. Pois bem, alicerçados nos autores acima destacamos aqui alguns elementos e características para a atuação em rede. Um dos pontos determinantes para a atuação em rede é a implantação de mecanismos que possibilitem uma intensa e contínua comunicação, a fim de que possa realizar a animação desta estrutura, afinal, como diz o dito popular, “água parada apodrece”. Tal mecanismo não pressupõem a quebra da horizontalidade desta relação, apenas instrumentalidade que integre, organize e transcreva as decisões coletivas. Como buscamos uma participação livre e consciente, o foco na atuação destas redes deve reger suas condutas, trazendo aqui a questão de uma ideia de força que impulsione os trabalhos. Ainda se destaca a necessidade de divisão de tarefas, sendo esta uma estratégia eficaz que garante participação e responsabilidades. Recomenda-se junto ao trabalho de redes possuir um animador, ou facilitador que possa agregar, motivar e impulsionar os trabalhos. Enquanto estratégia que consolida as diferentes responsabilidades, este animador pode ser assumido de forma temporária pelos diferentes responsáveis dos serviços na rede. É também de perceptível utilidade se valer de eventos que possam animar a rede. A realização de eventos de mobilização e de comemoração tem, nos processos de rede, uma incrível capacidade de agregação, manutenção da adesão e de promover maior visibilidade das ações da rede. Os eventos podem ocorrer no início, ao longo do processo e para celebrar 11 e divulgar diferentes resultados alcançados. (Gonçalves; Guará, 2010, p. 18) A compreensão sobre a relevância das diferentes redes de forma a se articularem na perspectiva do território tem se tornado mais relevante nos últimos anos. Este ponto merece atenção a fim de possibilitar redes estratégicas, como as redes sociocomunitárias. Os encontros também se revelam muito úteis à medida que devem se manifestar no sentido de composição e execução de uma agenda comum. Esta característica também assume uma grande relevância, à medida que a adesão a este processo requer identificação e relevância assumido pelos diferentes atores. Outro fator estratégico se referencia nos processos comunicativos no interior da rede. Este ponto não deve ser negligenciado, uma vez que é por meio deste que temos os impulsos que solidificam as ações desta estrutura. Recomenda-se abrir canais de comunicação que possam identificar ações de atores específicos como também processos conjuntos da iniciativa de rede. Ainda, nesta mesma vertente, uma atribuição de importância vital se concentra sob os registros de suas ações, devendo procurar alternância dos papeis dos relatores. Ademais, as redes se sustentam por relações humanas e institucionais, o que requer pensar que as ações não devem se centrara somente nas iniciativas pessoais, mas também contemplar-se nas dinâmicas institucionais. Compreendendo que as ações de redes não devem ser manifestas de forma episódica, requer-se objetivos estabelecido em comum, e destes se merecem aprofundamentos sob as circunstâncias e profundidades das situações que tendem a enfrentar. Neste sentido, a rede também é um local de aprofundamento de questões e estudos dirigidos, passando pela pesquisa e as formações de seus integrantes. Enquanto estrutura que se revela de intenção perene, é necessário que a rede assuma uma revisão contínua de sua composição, objetivos, fluxos e composição, a fim de absorver um caminho mais flexível em suas ações. No mesmo sentido, ao estabelecer uma gama variada de parcerias, busca-se ações de revitalização e/ou fortalecimento deste mecanismo. Abaixo, trazemos uma representação gráfica de rede intersetorial com perspectiva territorializada. 12 Figura 1 – Rede intersetorial Crédito: Aragão 2022/UT. TEMA 5 – RELEVÂNCIA DO TRABALHO EM REDE Tendo reconhecido os tipos de redes que se constituem assim no tecido social, compreendendo suas características formas de composição e conexões que lhes permite esta estrutura buscaremos agora analisar mais detalhadamente a relevância deste tipo de estrutura. Partimos de uma conceituação que oferece apoio para delimitar o que desejamos enquanto redes de proteção social. Refletimos anteriormente o apelo ao recorte territorial como forma de manifestação destas estruturas. Concebemos na dinâmicaterritorial as particularidades que cada espaço manifesta, sendo a rede e seus diferentes serviços se manifestando enquanto característica constituída naquele espaço. Não obstante, os serviços constituídos com o recorte territorial também se apresentam enquanto elemento constitutivo deste mesmo espaço, em uma relação dialética que se modificam mutuamente. Walter Ude (2002) também nos afirma que não é mais possível pensar e agir de forma fragmentada em um mundo de interconexões explícito hoje. Para isso adverte a necessidade de se estabelecer linhas de comunicação que prime pela escuta atenta dos diferentes pontos de vida que incidem sobre seus objetivos. O autor, destacando uma experiência vivenciada na cidade de Belo Horizonte – GIRARUA –, argumenta que o trabalho dos educadores sociais que CONSELHOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS E DEFESA DE DIREITOS TERRITÓRIO POTENCIALIDADES E VULNERABILIDADES ATORES SOCIAIS PÚBLICOS - ESTATAIS E NÃO ESTATAIS SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS REPRESENTAÇÃO TERRITORIAL USUÁRIOS 13 intervinham com crianças e adolescentes em vivência de rua se revelava de suma importância que se alinhassem objetivos em comum. Argumenta ainda que esta objetividade contribuía para manter a coesão e delinear as estratégias de intervenção. Também nos apoiamos em Neves (2009) para enfatizar a relevância de tais estruturas, compreendendo aqui a divisão de tarefas e responsabilidades de forma coordenada que impulsionam ao êxito dos objetivos perseguidos. Em tempo, também menciona o processo democrático, enquanto valor que exala da própria dinâmica de atuação em rede. As redes sociais, em suas diferentes configurações indicam uma nova forma de organizar e vivenciar espaços de poder e segundo as afirmações de Amaral (2007) a expressão denominada “horizontalidade das relações resulta em princípios, os quais devem se revelar através da gestão e nas relações caracterizadas pela descentralização, insubordinação, conectividade, multi-liderança, autonomia, transparência, cooperação e interdependência”. (Neves, 2009, p. 156) Ao pensar nas vantagens que emergem da postura de redes de proteção social registramos aqui um resultado que parte da relação intrínseca dos diferentes atores compositores desta estrutura, sendo que por meio da intensificação das comunicações teremos procedimentos claros para o acesso aos diferentes serviços. Isso pressupõe ações no sentido de ampliar as proteções sociais no caminho da integralidade das proteções sociais, uma vez que se parte do pressupostos da incompletude dos serviços frentes as demandas sociais, o caminhar na direção do outro, compreendendo suas especificidades em prol de objetivos comuns se estabelece como grande vantagens, principalmente se esta relação se faz por meio do recorte territorial. Neves (2009) ainda destaca a relevância de as posturas de redes serem definidas sem a imposição, mas sim, através da relevância deste processo aos diferentes atores. Redes deve caminhar assim enquanto postura livre e consciente, em uma relação horizontalizada, e não verticalizada. Assim, emanam desta estrutura contribuições como um processo alinhado as necessidades territoriais, tendo neste sua delimitação e suas justificativas de ação. Emergem assim, como relações que devem ser livres e de consciência de sua relevância, a fim de consolidar estruturas estáveis e comprometidas com o processo de desenvolvimento do espaço local. 14 Destacam-se também a intensificação de aspectos democráticos, uma vez que vocalizam diferentes atores em relações horizontais, deliberando conjuntamente sobre a dinâmica territorial de que são compósitos. Registra-se também a intensificação dos fluxos de comunicação que se estabelecem neste processo, contribuindo para a eficiência dos serviços e otimização dos recursos territoriais. Teremos mais contribuições que se estabelecem neste processo de trabalho em rede, que ao caminhar dos nossos estudos vão se desmistificando. 15 REFERÊNCIAS BAPTISTA, M. V. Planejamento Social: intencionalidade e instrumentação. 2. ed. São Paulo: Veras Editora, 2000. CASTELLS, M. Hacia el estado red? Globalización economica e instituciones políticas en la era de la informação. In: SEMINÁRIO SOCIEDADE E REFORMA DO ESTADO. Brasília: 1998. GONÇALVES, A. S., GUARÁ, I. Redes de proteção social na comunidade. 1. ed. São Paulo: Associação Fazendo História, NECA, 2010. Disponível em: <https://www.neca.org.br/wp-content/uploads/Livro4.pdf>. Acesso em: 24 maio 2022. NETTO, J. P. Marxismo Impenitente. Contribuição à história das ideias marxistas. São Paulo: Cortez. 2011. NEVES, M. N. Rede de Atendimento social: Uma ação possível? Revista da Católica, Uberlândia, v.1, n.1, p.147-165, 2009.