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Idade Média
Oficialmente vai de 476 d.C. a 1453
Idade Média
Mapa da Idade Média no Período Feudal
Idade Média – 476 d.C. a 1453
• Abrange um período de aproximadamente dez séculos, indo do século V ao
século XV.
• Foi nesse período que a cristandade floresceu na Europa.
Estrutura política e jurídica.
• Prevaleceu na Idade Média as relações de vassalagem e suserania (senhor
feudal).
• Vassalo deveria prestar fidelidade e ajuda ao seu suserano, em troca de
proteção e um lugar no sistema de produção.
Sociedade Medieval
• Sociedade com pouca mobilidade
social e hierarquizada (dividida em
camadas sociais bem definidas).
• A nobreza feudal - detentora de
terras e arrecadava impostos dos
camponeses.
• O clero (membros da Igreja Católica)
tinha um grande poder, pois era
responsável pela "proteção
espiritual" da sociedade.
• A terceira camada da sociedade era
formada pelos servos (camponeses)
e pequenos artesãos.
Economia Medieval
• Principalmente agricultura.
• Existiam moedas na Idade Média, porém eram pouco utilizadas.
• As trocas de produtos e mercadorias eram comuns.
• O feudo - base econômica deste período, quem tinha a terra possuía mais
poder.
https://www.google.com.br/imgres?imgurl=https://img.scoop.it/bv0LN2_eniy2hjOvemUYmzl72eJkfbmt4t8yenImKBVvK0kTmF0xjctABnaLJIm9&imgrefurl=https://www.scoop.it/topic/el-cristianismo-medieval&docid=VpRIH6LZo2keOM&tbnid=yvkWSEw3giETpM:&vet=10ahUKEwj52Nfuy6riAhXhLLkGHVGKCuYQMwhSKBMwEw..i&w=340&h=259&bih=603&biw=1239&q=cristianismo%20medieval%20&ved=0ahUKEwj52Nfuy6riAhXhLLkGHVGKCuYQMwhSKBMwEw&iact=mrc&uact=8
Religião na Idade Média
A Igreja Católica dominava.
• Detentora do poder espiritual.
• A Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de 
comportamento, também tinha grande poder econômico.
Revoltas Camponesas
• Após a Peste Negra, a população europeia diminuiu muito.
• Muitos senhores feudais resolveram aumentar os impostos, taxas e
obrigações de trabalho dos servos sobreviventes.
• Em muitas regiões da Inglaterra e da França, estouraram revoltas
camponesas contra o aumento da exploração dos senhores feudais.
Resumo Idade Média
Marcam este período o feudo como base econômica, certo estatismo social,
onde havia pouca mobilidade e uma forte hierarquia entre classes e o domínio
da Igreja no cenário religioso. Além disso, as guerras medievais e a peste negra
dizimaram boa parte da população da época.
O período da Idade Média também foi responsável por importantes avanços,
sobretudo no que diz respeito à produção agrícola: inventaram-se o moinho, a
charrua (um arado mais eficiente) e técnicas de adubamento e rodízio de terras.
Outra herança medieval são as universidades, que começaram a surgir na
Europa no século XIII.
Além disso, desenvolveram-se importantes movimentos artísticos, como o
românico e o gótico; viveram influentes filósofos, como Santo Agostinho e Santo
Tomás de Aquino; e, graças ao trabalho dos monges, preservou-se a cultura
greco-romana – o que possibilitaria, o surto de revalorização da Antiguidade
Clássica ocorrido durante o Renascimento.
 Apresenta um pensamento animado
por um vigoroso impulso em DIREÇÃO
AO DIVINO.
 Ela se prende à ideia de um itinerário
da mente para Deus, à noção de um
bem concebido como ADESÃO À
VONTADE DIVINA. Tal impulso não
constitui momento irracional, e sim,
humanismo anunciador de que: Criado
à semelhança de Deus, ele irá manter
sob controle a ordem natural,
impondo-se como DEVER a descoberta
das respectivas leis.
A FILOSOFIA
MEDIEVAL OU CRISTÃ
“[...]a virtude se define por nossa
relação com Deus e não com a
cidade (a polis), nem com os outros.
Nossa relação com os outros
depende da qualidade de nossa
relação com Deus [...], as duas
virtudes cristãs primeiras e condições
de todas as outras são a FÉ
(qualidade da relação de nossa alma
com Deus) e a CARIDADE (o amor
aos outros e a responsabilidade pela
salvação dos outros, conforme exige
a fé)”.
CARACTERÍSTICAS DA
ÉTICA MEDIEVAL (ou
Metafísica) nos conceitos
de interioridade
agostiniana e virtudes
teologais cristãs (fé,
esperança e caridade)
são:
“As duas virtudes são privadas, isto é,
são relações do indivíduo com Deus e
com os outros, a partir da intimidade e
da interioridade de cada um e em
segundo lugar, a afirmação de que
somos dotados de vontade livre – ou
livre-arbítrio – e que o primeiro impulso
de nossa liberdade dirige-se para o mal
e para o pecado, isto é, para a
transgressão das leis divinas. Somos
seres fracos, pecadores, divididos entre
o bem (obediência a Deus) e o mal
(submissão à tentação demoníaca)”.
“Em outras palavras, enquanto para os filósofos antigos a vontade era uma
faculdade racional capaz de dominar e controlar a desmesura passional de
nossos apetites e desejos, havendo, portanto, uma força interior (a vontade
consciente) que nos tornava morais, para o cristianismo, a própria vontade está
pervertida pelo pecado e precisamos do auxílio divino para nos tornarmos
morais.
Pergunta-se: Qual o auxílio divino sem o qual a vida ética seria impossível?”
“A lei divina revelada, que devemos obedecer obrigatoriamente e sem exceção.
O cristianismo, portanto, passa a considerar que o ser humano é, em si mesmo e
por si mesmo, incapaz de realizar o bem e as virtudes. Tal concepção leva a
introduzir uma nova ideia na moral: A IDEIA DO DEVER. Portanto, o cristianismo
introduz a ideia de interioridade e de dever.“ (CHAUI, 2000, p.441)
Quadro comparativo
Santo Agostinho e
São Tomás de Aquino
SANTO AGOSTINHO (354-430) SÃO TOMÁS DE AQUINO (CERCA DE 1224-1274)
OBRAS Confissões, A cidade de deus Suma contra os gentios; Suma teológica
REFERÊNCIAS Filosofia platônica (dualista e idealista) Filosofia aristotélica (empirista)
FRASES “É preciso compreender para crer, e
crer para compreender”
“A fé precede a razão”
“O objeto das virtudes teológicas é o próprio
Deus, que é a última finalidade de tudo e
acima do conhecimento da nossa razão.
Por outro lado, o objeto das virtudes morais
e intelectuais é algo compreensível à razão
humana”
SOBRE A 
BUSCA DA 
VERDADE
Nossa mente, criada à imagem e
semelhança de Deus, possui uma
centelha divina, a luz natural (lúmen
naturale), que nos dá a capacidade
de entender as verdades eternas.
Sendo a razão obra de Deus, poderíamos
alcançar essas verdades tanto pela fé como
pela razão. A fé e a razão seriam, muitas
vezes, rios que desembocam num mesmo
oceano.
SANTO AGOSTINHO (354-430) SÃO TOMÁS DE AQUINO (CERCA DE 1224-1274)
FÉ E RAZÃO A linha de pensamento de Santo
Agostinho girava em torno de
dualismos, herança de Platão e dos
maniqueístas orientais. Bem e mal,
corpo e espírito eram totalmente
separados. O filósofo condenava os
pecados da carne e alegava que a fé
era o essencial para a vida.
Colocando a razão em primeiro lugar.
Tentava até mesmo explicar a fé por meios
racionais, alegando que podia provar a
existência de Deus.
POLÍTICA Ideia de que a Igreja, como a
encarnação mundana da cidade de
Deus, deve ter supremacia sobre o
Estado.
Doutrinava que o homem é naturalmente
um ser político e procura estar em
sociedade. Este homem deve tributar
lealdade à Igreja e a Deus, mas tem,
também, que obedecer ao Estado
porquanto este, por sua vez, recebeu o
seu poder da Igreja
DOUTRINA Patrística - domina a primeira fase da
Idade Média (mais ou menos até o
século 11)
Escolástica - último período da história do
pensamento cristão, que vai do início do
séc. IX até ao fim do séc. XV
SANTO AGOSTINHO (354-430) SÃO TOMÁS DE AQUINO (CERCA DE 1224-1274)
HOMEM, DEUS E 
RAZÃO
O homem é inconstante e sujeito
ao erro, uma verdade imutável
não pode provir dele mesmo,
mas de Deus, que é a própria
perfeição.
Uma de suas ideias centrais é a rejeição do
absoluto antagonismo entre a razão e a fé.
Em sua Suma Teológica, o filósofo apresenta
cinco vias para demonstrar a existência de
Deus, ancoradas na filosofia aristotélica
MARCODE 
PENSAMENTO
Deus é todo-poderoso, criador
de tudo, ele também seria
criador do mal? Se Deus criou o
mal, como defender sua
bondade infinita? Se ele é
onipotente, seria ele responsável
pela miséria e infelicidade do
mundo? Se o bem vem de Deus,
o mal se origina da ausência do
bem e só pode ser atribuído ao
homem, por conduzir
erroneamente as próprias
vontades.
Em sua Suma Teológica, o filósofo apresenta
cinco vias para demonstrar a existência de
Deus, ancoradas na filosofia aristotélica.
Argumentava que tudo está em movimento e
todo movimento é causado por alguém;
desse modo, é preciso que haja uma causa
inicial, um “primeiro motor”, como chamava.
Além disso, constatou que é preciso que haja
um Deus para que o universo esteja em tão
perfeita harmonia.
A História da Filosofia Medieval
DESCRIÇÃO
A história da Filosofia medieval, conhecimento imprescindível para a entender o mundo moderno
e, em particular, de sua ordem jurídico-política liberal.
PROPÓSITO
Entender o sentido da Filosofia medieval, para fins de conhecimento da via moderna do
nominalismo e da gênese do direito “das gentes”, é importante para a sua formação, pois lhe
permitirá entender o arcabouço teórico do Direito e da política modernos.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o estudo deste tema, é importante ter à mão um bom dicionário de Teoria Política
ou mesmo de Filosofia. Sugerimos o Dicionário de Filosofia, de Abbagnano, e o Dicionário de
Política, de Bobbio, Matteucci e Pasquino, ambos disponíveis virtualmente.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Definir os conceitos de cidade e justiça em Santo Agostinho
MÓDULO 2
Reconhecer as características das virtudes morais cardeais, segundo Santo Tomás de Aquino
MÓDULO 3
Distinguir a novidade na concepção de lei no nominalismo e na Escola Ibérica em relação aos
pensamentos agostiniano e tomista
INTRODUÇÃO
Estamos iniciando um percurso que nos levará aos elementos fundamentais da história da
Filosofia medieval. Primeiro, entenderemos esse conceito, que consistiu em um diálogo entre a fé
religiosa e a razão grega. Em seguida, veremos suas etapas e seus principais expoentes:
A patrística – Com Santo Agostinho de Hipona (354 d.C.-430 d.C.). O termo é uma homenagem
a líderes cristãos cuja literatura floresceu a partir do ano 95 d.C. e que foram considerados os
“pais” da Igreja. Também se refere à Filosofia cristã daqueles primeiros séculos, mesmo quando
não escrita por líderes religiosos (POLESI, 2014).
A escolástica – Com Santo Tomás de Aquino (1225-1274).
No estágio final, de transição para a Filosofia moderna – com o nominalismo, de Guilherme de
Ockham (1285-1349), e a escolástica ibérica, de Francisco de Vitória (1483-1546), em
Salamanca, e Francisco Suárez (1548-1617), em Coimbra –, a razão filosófica foi se tornando
cada vez mais independente da revelação bíblica.
Nosso interesse será, sobretudo, a Filosofia prática (moral e política): como foram compreendidos
nestas três etapas, pelos principais expositores, os conceitos de sociedade, justiça, razão
prática, princípios morais, virtudes, comunidade política e lei. O entendimento dessas questões
também requer a indicação de algumas noções fundamentais da Filosofia do ser (metafísica) e da
Filosofia do conhecimento dos autores estudados.
Veremos, ainda, como se passou de uma concepção à outra, nesta ordem:
• Concepção mais estritamente teológica da moral, do direito e da política (a da patrística em
geral e de Agostinho em particular) – baseada no platonismo e na Bíblia, em que “Deus” era o
centro das reflexões.
• Concepção mais estritamente filosófico-metafísica (a da escolástica em geral e de Tomás em
particular) – baseada no aristotelismo e na Bíblia, em que a “essência” ou “razão” das coisas
passou a ocupar um lugar decisivo.
• Concepção jurídico-científica (no sentido moderno) – baseada na investigação da razão
empírica, à parte da teologia e da metafísica das essências.
A CIDADE DE DEUS E A JUSTIÇA
Em A Cidade de Deus, Agostinho (2006) defende que uma sociedade se forma a partir do amor de vários
indivíduos pelo mesmo objeto. Ele exemplifica com os espetáculos: os espectadores ignoram-se
mutuamente, mas, ao admirarem a performance do ator, também passam a nutrir simpatia uns pelos outros.
Atualmente, poderíamos ver algo semelhante nas competições esportivas: uma torcida de futebol, formada
por pessoas que não se conhecem, estabelecem um vínculo de simpatia por causa do time que as empolga.
Essa tese agostiniana vai ao encontro da tese de Aristóteles, segundo o qual a polis é o âmbito dos
“amigos”, dos que amam e odeiam as mesmas coisas. E contrapõe-se à teoria moderna de Hobbes, do
“contrato social”, que considera que o Estado nasce como um pacto para cessar a luta de todos contra
todos, para nos protegermos dos “vizinhos”, e não dos inimigos externos.
“Cidade” é o conjunto de homens unidos pelo amor comum a certo objeto. E haveria fundamentalmente
duas cidades:
A CIDADE DE DEUS
Unida pelo amor divino e que dirige sua existência temporal à glória de Deus.
A CIDADE DOS HOMENS
Unida pelo amor às coisas temporais, de costas para Deus.
É por isso que Agostinho preocupou-se com a arte
de governar, pois, para ele, a política deve
contemplar o homem em sua plenitude constituída
de corpo e de alma. Portanto, não haverá política
verdadeira se esta não estiver ligada a Deus.
Nesse contexto, dirigia-se aos que pretendiam
governar a “Cidade dos homens” para que não se
esquecessem desse princípio e, assim, fizessem
da cidade terrena uma antecipação da “Cidade de
Deus”: a Pátria Celestial.
Se os que governam não pensarem na política como uma arte e que esta não pode ser pensada
sem a presença de Deus, não haverá concórdia na cidade terrena. Assim, as virtudes não serão
praticadas e os vícios reinarão.
Em suas palavras:
ESCOLHE DESDE JÁ O TEU CAMINHO, A FIM DE PODERES TER GLÓRIA VERDADEIRA, NÃO EM TI,
MAS EM DEUS [...]. NÓS TE CONVIDAMOS, NÓS TE EXORTAMOS A VIR A ESTA PÁTRIA, PARA QUE
CONSTES NO NÚMERO DE SEUS CIDADÃOS, CUJO ASILO É, DE CERTO MODO, A VERDADEIRA
REMISSÃO DOS PECADOS. NÃO PRESTES OUVIDO AOS QUE DEGENERAM DE TI. [...] É QUE NOS
TEMPOS NÃO BUSCAM O REPOUSO DA VIDA, MAS A SEGURANÇA DO VÍCIO. [...] VOLTE-TE,
AGORA, PARA A PÁTRIA CELESTE. POR ELA TRABALHARÁS POUCO E NELA TERÁS ETERNO E
VERDADEIRO REINO. NÃO ENCONTRARÁS O FOGO DE VESTE NEM A PEDRA DO CAPITÓLIO, MAS
DEUS, UNO E VERDADEIRO, QUE NÃO TE PORÁ LIMITES AO PODER NEM DURAÇÃO A IMPÉRIO
[...]. NELA, A VITÓRIA É A VERDADE, A HONRA É A SANTIDADE, A PAZ É A FELICIDADE, E A VIDA É
A ETERNIDADE. [...] EVITA, POR CONSEGUINTE, COMUNHÃO COM OS DEMÔNIOS, SE QUERES
CHEGAR À CIDADE BEM-AVENTURADA.
Embora a Igreja Católica seja a realidade que encaminha a vida dos homens à Cidade de Deus
definitiva, a divisão entre esta e a Cidade dos homens não corresponde exatamente à divisão
entre Igreja e mundo, porque há quem esteja na Igreja com o corpo, mas com o coração no
mundo; e há quem esteja no mundo, mas ingressará na Igreja e na Cidade divina. O conjunto
dos homens que vivem em uma cidade é chamado de “povo” por Agostinho.
Há um fim comum a toda sociedade, seja qual for, e este fim é, segundo Agostinho, a “paz”. A paz
que as sociedades desejam é pura tranquilidade de fato, mas a paz verdadeira é a que satisfaz
plenamente as vontades de todos tão bem que, ao ser obtida, nada mais se deseja. Afinal, “uma
coisa não é a ventura da cidade e outra a do homem, pois toda cidade não passa de homens que
vivem unidos” (AGOSTINHO, 2006).
A condição fundamental para que a paz seja permanente é a ordem. Para que um conjunto
de partes concorde na busca de um mesmo fim, é preciso que cada qual esteja em seu lugar e
desempenhe sua própria função corretamente.
Assim:
• A paz do corpo é o equilíbrio bem ordenado dos apetites ou das paixões.
• A paz da alma racional é o acordo entre o conhecimento e a vontade.
• A paz doméstica é a concórdia dos moradores da mesma habitação quanto ao comando e à
obediência.
• A paz da cidade é a concórdiada família estendida a todos os cidadãos.
• A paz da cidade cristã é uma sociedade ordenada de homens que amam a Deus e se amam
mutuamente em Deus.
A paz, em tudo, é a tranquilidade da ordem, o bem soberano, assim como define o teólogo:
NA PAZ FINAL, ENTRETANTO, QUE DEVE SER A META DA JUSTIÇA QUE
TRATAMOS DE ADQUIRIR AQUI NA TERRA, COMO A NATUREZA ESTARÁ
DOTADA DE IMORTALIDADE, DE INCORRUPÇÃO, CARECERÁ DE VICIAS, E
NÃO SENTIREMOS NENHUMA RESISTÊNCIA INTERIOR OU EXTERIOR,
NÃO SERÁ NECESSÁRIO A RAZÃO MANDAR NAS PAIXÕES, POIS NÃO
EXISTIRÃO [...]. TAL ESTADO SERÁ ETERNO, E ESTAREMOS CERTOS DE
SUA ETERNIDADE. POR ISSO, NA PAZ DESSA FELICIDADE E NA
FELICIDADE DESSA PAZ, CONSISTIRÁ O SOBERANO BEM.
Obviamente, Agostinho considera a paz da Cidade dos homens uma paz aparente, uma
desordem. Por essa razão, ainda que seus ensinamentos expressem a transitoriedade da cidade
terrena e a definitiva paz na cidade celestial, ele chamava atenção daqueles que não praticavam
as virtudes. Assim, promoviam os vícios que desqualificam os sentidos da política terrena,
conforme destaca o trecho a seguir:
DEPOIS, OS SENADORES COMEÇARAM A SUBMETER O POVO AO JUGO DA
ESCRAVIDÃO, A DISPOR, À MODA DOS REIS, DA POSSE E DA VIDA, A PROIBIR-LHE A
ENTRADA NO CAMPO E A GOVERNAR SOZINHOS O IMPÉRIO, SEM PARA NADA CONTAR
COM OS DEMAIS. OPRIMIDO POR SEMELHANTES SEVÍCIAS E, DE MODO ESPECIAL,
PELA USURA, SUPORTANDO, ENTRE GUERRAS CONTÍNUAS, TRIBUTOS E, AO MESMO
TEMPO, ENCARGOS MILITARES, O POVO INSTALA-SE NOS MONTES SAGRADO E
AVENTIO E CONSEGUE QUE LHE DEEM TRIBUTOS DA PLEBE E OUTRAS GARANTIAS
LEGAIS. A SEGUNDA GUERRA PÚNICA PÔS FIM ÀS DISCÓRDIAS E PENDÊNCIAS ENTRE
AMBAS AS PARTES.
A justiça é a virtude que realiza a ordem, que dá a cada um o que é devido: subordina o inferior
ao superior, mantém a igualdade entre coisas iguais e dá a cada um o que lhe pertence. A
justiça deriva da lei eterna, que nos ordena conservar a ordem e impedir que ela seja
perturbada. Essa lei imutável ilumina nossa consciência moral como a luz do Mestre interior —
que é Cristo, “o Verbo que ilumina todo homem” — ilumina nossa inteligência.
Assim, também há em nós uma lei, chamada “lei natural”, que é como a “transcrição” da lei
eterna ou divina em nossa alma. A exigência fundamental da lei é que tudo esteja ordenado. E é
a justiça que estabelece no homem a ordem pela qual o corpo submete-se à alma e essa a Deus,
como declara Agostinho:
DAS COISAS TEMPORAIS DEVEMOS USAR, NÃO GOZAR, PARA MERECERMOS GOZAR
AS ETERNAS. NÃO COMO OS PERVERSOS, QUE QUEREM GOZAR DO DINHEIRO E USAR
DE DEUS, PORQUE NÃO GASTAM O DINHEIRO POR AMOR A DEUS, MAS PRESTAR
CULTO A DEUS POR CAUSA DO DINHEIRO.
Porém, apenas Deus pode dar ao homem a virtude da justiça e as demais virtudes.
Nos termos do teólogo:
A VERDADEIRA VIRTUDE CONSISTE, PORTANTO, EM FAZER BOM USO DOS BENS E
MALES E EM REFERIR TUDO AO FIM ÚLTIMO, QUE NOS PORÁ NA POSSE DA PERFEITA E
INCOMPARÁVEL PAZ.
Uma das maiores batalhas intelectuais de Santo Agostinho foi contra Pelágio (360 d.C.-420 d.C.),
que defendia que o homem poderia ser justo com seus próprios recursos, sua própria força.
Vamos, agora, aprofundar a importância da Patrística, em especial de Santo Agostinho,
para a concepção política da Idade Média
MÓDULO 2
Reconhecer as características das virtudes morais 
cardeais segundo Santo Tomás de Aquino
CONTEXTO HISTÓRICO
Santo Tomás de Aquino é o maior expoente do período escolástico da teologia e Filosofia católica, cujo
nome deriva das “escolas” monásticas ou catedralícias, nas quais eram ensinadas a teologia e as “artes
liberais”: TRIVIUM
Artes da linguagem (gramática, retórica e lógica).
QUADRIVIUM
Artes das relações numéricas (aritmética, geometria, astronomia, música).
O período escolástico teve início a partir do século IX, quando Alcuíno (735 d.C.-804 d.C.) promoveu a
reforma carolíngia no âmbito educacional, que foi impulsionada pelo imperador Carlos Magno (742 dC-814
d.C.), do recém-criado Sacro Império Franco-Romanol, após a chamada “Idade das Trevas”, provocada
pelas invasões bárbaras e pela queda do Império Romano (séculos V a VIII).
O “método” da escolástica madura era a disputatio, que consistia em um embate dialético de opiniões
contrárias e favoráveis a determinada tese. Ele foi inaugurado por Pedro Abelardo (1079-1142), no século
XII, iniciando-se a era das grandes “sumas”.
As “sumas” buscavam compendiar todo o saber teológico e filosófico, reunindo as teses dos padres da
Igreja e dos filósofos, confrontando-as entre si e com a Bíblia, e buscando a melhor solução para os
problemas filosóficos e teológicos.
À época de Aquino, já haviam sido fundadas as primeiras universidades do Ocidente, a Igreja havia atingido
o auge de seu poder temporal — quando reinava o Papa Inocêncio III (1161-1216) — e começava a se
mundanizar, com o apego dos eclesiásticos à riqueza e ao luxo.
Foi quando surgiram as ordens “mendicantes” dos “irmãos menores” ou franciscanos, de São Francisco de
Assis (1182-1226), e dos “pregadores”, de São Domingos de Gusmão (1170-1221), para pregar a pobreza
como ideal de vida cristã.
Também nesse momento, o Sacro Império, que havia passado das mãos dos francos à mão dos germanos,
tinha Frederico II (1194-1250) à frente, talvez o imperador no qual podemos identificar as primeiras
aspirações absolutistas, no auge da Idade Média. Ele havia iniciado a caçada violenta aos cátaros e tinha
conseguido da Igreja autorização para a Inquisição.
Tomás de Aquino, frade da Ordem dos Pregadores, ensinava em Paris, e os livros da ética e da metafísica
aristotélicas começaram a circular na Europa cristã — até então, era fundamentalmente adepta da obra
lógica conhecida de Aristóteles —, a partir das traduções e interpretações dos árabes, que haviam entrado
em contato com a tradição filosófica grega por meio dos cristãos da Síria.
Essas interpretações questionavam a visão cristã do mundo, porque Aristóteles era apresentado
como alguém que, por exemplo, negaria a criação do mundo ao afirmá-lo como eterno.
Santo Tomás solicitou traduções diretas do grego ao latim e pôs-se a comentar Aristóteles — a
quem chamava “O Filósofo” —, contrapondo às interpretações árabes um entendimento de
Aristóteles compatível com a verdade revelada do cristianismo.
Assim, o Aquinate defende que, sem o conhecimento revelado do início temporal do mundo no livro
de Gênesis, poderíamos dizer que o mundo foi criado desde toda a eternidade, porque o essencial
na criação é ter um princípio ontológico (de origem causal do ser), e não um princípio cronológico
(de início temporal do ser).
CÁTAROS
Adeptos do catarismo: movimento social e heresia gnóstica ou dualista, que negava a bondade
da matéria e era resistente ao casamento e à reprodução, bem como aos vínculos feudais, além
de incitar as pessoas ao suicídio.
INQUISIÇÃO
Tribunal eclesiástico instituído pela Igreja Católica, no qual os frades investigavam os erros
doutrinários dos supostos hereges. Ao Estado, era permitido torturar os réus considerados
culpados, condenando-os à pena capital da fogueira.
AQUINATE
Termo que expressa o conjunto das obras de Tomás de Aquino, somado aos estudos a partir dele.
ÉTICA DA LEI NATURAL E DAS 
VIRTUDES
Assim como para Agostinho, para Aquino (2011), a lei eterna de Deus é participada à mente
humana como “lei natural”, e o papel de tal lei — como de todas — é orientar o homem à sua
finalidade e felicidade, que é Deus. Como conteúdo, essa lei é um hábito — que Tomás também
chama de “sindérese” — dos princípios da vida moral.
Vejamos o primeiro desses princípios: “O bem é o que todos desejam”. Dele deriva o primeiro
preceito da lei natural: “O bem deve ser feito, e o mal, evitado”. A razão prática apreende como
bem as coisas para as quais o homem tem uma inclinação natural: seguir vivendo, propagar a
espécie e educar os filhos, buscar a verdade e viver em sociedade.
A virtude é definida por Aquino (2011) como “uma boa qualidade da mente pela que se vive
retamente,da qual ninguém usa mal, produzida por Deus em nós sem intervenção nossa”. Em
sentido lato, “virtudes” são aquelas humanas, que destinam-se aos fins da razão humana e que
podem ser obtidas pela reiteração dos atos.
Contudo, para Santo Tomás de Aquino a virtude em sentido próprio é a “infusa”, inseparável da
virtude teologal da caridade, com a qual Deus incrementa as virtudes humanas ou cardeais —
prudência, justiça, fortaleza e temperança — para o cumprimento do fim último e
sobrenatural da vida humana, que é o próprio Deus.
Vejamos um pouco sobre cada virtude cardeal, pois esse é um
conhecimento filosófico de grande densidade existencial:
PRUDÊNCIA
Esta é a virtude pela qual o homem aplica os princípios da sindérese
(hábito) ou lei natural à situação concreta. Por ela, conhecendo a
verdade dos princípios e da situação, o homem atua com justiça. O
querer e o agir devem ser conformes à verdade. A prudência não se
refere ao fim último, mas às vias que a ele conduzem, isto é,
ela não decide o que é a felicidade, mas apenas como chegar lá. A
unidade viva de sindérese e prudência é o que chamamos de
“consciência”.
A prudência é cognoscitiva e imperativa: apreende a realidade para,
depois, ordenar o querer e o agir.
O essencial na prudência é que o saber da realidade transforme-se
em império prudente, e este, em ação boa. Sem a vontade do bem
em geral, o esforço por descobrir o prudente e o bom aqui e agora
seria ilusório e vão.
JUSTIÇA
Esta é a constante e perpétua vontade de dar a cada um o seu direito. A matéria da justiça é a
operação exterior, enquanto esta, ou a coisa que por ela usamos, é proporcionada à outra
persona, à qual estamos ordenados pela justiça.
A justiça legal é a mais preclara (notável) entre todas as virtudes morais, na medida em que o
bem comum é preeminente sobre o bem singular de uma pessoa considerada individualmente.
A justiça particular também sobressai entre as outras virtudes morais por duas razões: a primeira
se toma pelo sujeito, porque se acha na parte mais nobre da alma, na vontade; a segunda razão
deriva de parte do objeto, porque o justo comporta-se bem a respeito de outro, e, assim, a justiça
é, de certo modo, um bem de outro.
FORTALEZA
Sua essência não é se expor a qualquer risco, mas entregar-se, de maneira razoável, ao
verdadeiro valor do real. A autêntica fortaleza supõe uma valoração justa das coisas, tanto das
que se arrisca como das que se espera proteger ou ganhar.
O bem do homem é a realização de si conforme a razão, e o bem da razão vem da prudência. A
justiça quer realizar esse bem. A fortaleza e a temperança o conservam (com primazia da
fortaleza).
Sem a “coisa justa”, não há fortaleza: a coisa é o que decide, e não o dano que se possa sofrer. 
Ser forte não é o mesmo que não ter medo: a fortaleza supõe o medo do homem ao mal, e sua 
essência é não deixar que o medo a force ao mal ou a impeça de realizar o bem.
O mais próprio da fortaleza é a resistência e a paciência, e não o ataque, pois o mundo real é de 
tal forma, que só o caso de extrema gravidade exige a mais profunda força anímica do homem.
TEMPERANÇA
O sentido da temperança é realizar a ordem no interior do homem, com absoluta ausência de
egoísmo. Dela brota a tranquilidade do espírito. A tendência natural ao prazer sensível que se
obtém na comida, na bebida e no deleite sexual manifesta as forças naturais mais potentes que
atuam na conservação do homem.
Essas energias vitais, que se puseram no ser para conservar no indivíduo e na espécie a
natureza, dão as três formas originais do prazer e destroem a ordem interior quando se
desordenam. Disso resulta que as funções mais específicas da temperança sejam a abstinência e
a castidade (ordenação do comer, do beber e da sexualidade segundo a razão).
Quando a exigência natural do homem de vingar uma injustiça desemboca em desatada cólera, é
destruído o que deveria ser edificado à base de mansidão e doçura. Inclusive a natural ânsia de
conhecer pode degenerar, sem temperança, em ansiedade ou em mania patológica. Santo Tomás
de Aquino chama essa depravação de “curiosidade” e a temperança que a modera, de
“estudiosidade”.
Castidade, sobriedade, humildade e mansidão, junto com a estudiosidade, são formas da
temperança. Luxúria, desenfreio, soberba e uma cólera irracional, junto com a curiosidade, são
formas da destemperança.
POLÍTICA
Para Aquino (2011), o homem é um “animal sociável e político”: desprovido de instrumentos que
lhe garantam automaticamente a sobrevivência, mas dotado de razão para buscar os meios da
existência, ele não pode, sozinho, encontrar tudo que necessita. Portanto, a vida social lhe é
natural.
THOMAS HOBBES
Filósofo inglês, segundo o qual, para construir uma sociedade, é necessário que cada indivíduo
renuncie a uma parte de seus desejos e chegue a um acordo mútuo para não se aniquilar com os
outros: um ‘contrato social’, no qual os direitos que o homem naturalmente possui sobre todas as
coisas são transferidos em favor de um soberano dotado de direitos ilimitados.
Ao contrário, a Filosofia política de Thomas Hobbes (1588-1679) afirma que o indivíduo, no
“estado de natureza”, é “o lobo do homem”, e o Estado é um artifício, o “Leviatã” que, por meio da
força, impõe a “paz”. Se o homem não pode viver sua vida a não ser em sociedade, é preciso
sobrepor o bem comum de todos aos bens particulares.
A política é a arte de dirigir a multidão à consecução do bem comum — e não meramente um
jogo de luta pelo poder —, para a qual é imprescindível a presença de um governante que saiba
harmonizar os interesses presentes na sociedade, subordinando-os aos interesses mais gerais.
Quando o governante busca seu bem privado, o governo é injusto e perverso, implicando:
• Tirania – Governo injusto de um só.
• Oligarquia – Governo injusto de alguns poucos ricos.
• Democracia – Governo injusto de muitos.
Os governos justos são:
• Politia – Governo da multidão.
• Aristocracia – Governo de poucos, porém virtuosos (os “melhores”).
• Realeza ou monarquia – o governo de um só (o rei).
DEMOCRACIA
Não há que se entender, aqui, a palavra no sentido moderno, mas como oposição à politeia,
como “demagogia”.
POLITIA
Transliteração latina de politeia.
A princípio, Tomás de Aquino diz preferir o governo do rei para realizar o objetivo primordial da
sociedade, que é a unidade da paz, precisamente porque considera que um só tem mais
condições de evitar o conflito. Depois, no entanto, Aquino (2016) inclina-se a um governo misto,
que combina os três regimes justos.
Em suas palavras:
ESTA É A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA MAIS PERFEITA, BEM MESCLADA DO REINO,
ENQUANTO UM PRESIDE; DA ARISTOCRACIA, ENQUANTO MUITOS EXERCEM O
PRINCIPADO SEGUNDO A VIRTUDE; E DA DEMOCRACIA, ISTO É, DO PODER DO POVO,
PORQUE DENTRE OS POPULARES PODEM SER ELEITOS OS PRÍNCIPES, E AO POVO
PERTENCE A ELEIÇÃO DOS PRÍNCIPES.
O fundamental no governo é a
orientação da sociedade ao bem
comum. O governante não pode
deliberar sobre este bem comum, mas
tão somente sobre os meios para
alcançá-lo. Nesse sentido, Tomás de
Aquino não veria com bons olhos uma
democracia que se entendesse, não
como método que faz a multidão
participar da eleição dos meios ou das
estratégias políticas, mas como fim do
próprio processo político.
É como se a noção do bem comum
pudesse ser constantemente refeita por
novas demandas.
Entre os regimes injustos, a “democracia” é o mais aceitável, porque os muitos governantes se
atrapalham, o que minimiza os estragos do regime. O pior é a tirania, pois busca-se somente o
bem de um.
Os tiranos esmeram-se para que seus súditos não sejam virtuosos ou magnânimos, perdendo,
assim, a capacidade de reagir a seu regime. Eles semeiam discórdias entre os súditos para que
não haja entendimento entre eles, e, assim, sua tirania possa se exercer mais facilmente.
Tomás de Aquino reconhece à sociedade o direito de destituir o governante instituído ou de lhe
refrear o poder, caso abuse tiranicamente dele. Ao tirano, cujo governo só se sustentapelo temor,
Deus não permite que reine por muito tempo.
Para compreender este “princípio da rebelião”, destacamos os dois princípios estabelecidos no
Tratado da Lei: o primeiro, de que uma lei humana é injusta, contradiz-se à lei natural; o segundo
afirma que a autoridade política pertence ao povo (ou a seus representantes).
Vejamos:
ORA, ORDENAR ALGO PARA O BEM COMUM COMPETE A TODA A MULTIDÃO OU A
ALGUÉM A QUEM CABE GERIR, FAZENDO AS VEZES DE TODA A MULTIDÃO. PORTANTO,
ESTABELECER A LEI PERTENCE A TODA A MULTIDÃO OU À PESSOA PÚBLICA À QUAL
COMPETE CUIDAR DE TODA A MULTIDÃO.
Esse segundo princípio não implica menosprezo da ideia bíblica de que “todo poder vem de
Deus”, precisamente porque a lei natural é uma participação na lei eterna, e a autoridade humana
é uma participação no domínio de Deus sobre os homens.
A política não significa uma ordem humana independente da ordem cósmica, mas inserida nela.
Com isso, podemos entender melhor a relação entre a vida política e o sentido religioso da vida
humana segundo Santo Tomás de Aquino.
O fim da sociedade humana é a vida virtuosa, mas o fim último do homem é a fruição divina.
Assim, o fim último da multidão também é chegar à fruição divina. Disso resulta que os
governantes humanos devam estar sujeitos à Igreja, que realiza a obra de Cristo de conduzir os
homens à bem-aventurança eterna.
Trata-se não de confusão entre Estado e Igreja (teocracia), mas de uma distinção sem
separação, com uma subordinação do Estado, não nos assuntos eminentemente políticos, e sim
naquilo que toca à salvação dos homens.
É nesse contexto que Santo Tomás de Aquino apresenta as três condições exigidas para uma
boa vida da multidão:
• A unidade da paz.
• O procedimento virtuoso dos cidadãos, isto é, a ação em conformidade com o bem moral que
se expressa na lei natural.
• A abundância do necessário para o viver bem.
MÓDULO 3
Distinguir a novidade na concepção de lei no nominalismo e na 
Escola Ibérica em relação aos pensamentos agostiniano e 
tomista.
GUILHERME DE OCKHAM
Com sua Filosofia “nominalista”, Guilherme (ou William) de Ockham iniciou o
processo fideísta e racionalista que caracteriza a Modernidade, com suas separações entre fé
e razão, graça e natureza, Igreja e Estado, as quais quebram a harmonia buscada por Agostinho
e Tomás de Aquino.
Ockham ensinou em Oxford, onde a investigação filosófica pendeu para o conhecimento empírico
da natureza, com as pesquisas de Roberto de Grosseteste sobre a natureza da luz e as
intuições de Roger Bacon sobre o que seria posteriormente o método científico moderno.
FIDEÍSTA
Crença religiosa que não busca o diálogo com a Filosofia.
RACIONALISTA
Pensamento filosófico que não busca o diálogo com a teologia.
ROBERTO GROSSETESTE
“Tido em geral como uma das principais figuras da Universidade de Oxford no século XII. Sua
importância é tanto mais significativa para o movimento cultural que se desenvolveu em torno
desta universidade quanto se pode incontestavelmente atribuir a ele certo número de
características que balizaram tal movimento por vários séculos: recurso às fontes neoplatônicas,
importância da matemática como chave do estudo da natureza, relevância da ótica como modelo
de conhecimento matematizado do mundo material” (NASCIMENTO, 1974).
ROGER BACON
Filósofo, cientista e teólogo inglês. Difusor e crítico de Aristóteles, Bacon adotou uma doutrina
dos universais de tipo conceitualista e propôs a "ciência experimental" como alternativa à
dialética escolástica. No entanto, tudo isso foi baseado em uma cosmovisão crente, segundo a
qual a ciência é baseada na teologia (dom divino), e a Filosofia — seu servo — vem da revelação
de Adão.
NOMINALISMO METAFÍSICO
TEOLÓFICO E EPISTEMOLÓGICO
No ambiente mais científico (em nosso atual sentido) e menos especulativo, Ockham
(MARCONDES, 2016) considerou que a razão não poderia conhecer com certeza a
transcendência e unicidade de Deus, a imortalidade da alma, tampouco existiria uma lei moral
natural. Deus, a alma e os deveres morais seriam assuntos exclusivos da Revelação.
Aos poucos, a teologia e a Filosofia/ciência tornaram-se estranhas, “sem assunto”: a Revelação
sobrenatural não seria mais o suplemento de uma busca natural pelo Criador, pela vida eterna e
pelo bem, e não faria mais sentido falar de “preâmbulos da fé” — os pontos máximos da Filosofia
metafísica ou “teologia natural”, que tangenciam os problemas da fé revelada.
Essa separação foi a base sobre a qual apoiaram-se Lutero (1483-1546) e a Reforma
Protestante, de sabor fideísta, e Descartes (1596-1650) e sua Filosofia, de sabor racionalista.
MARTINHO LUTERO
Sacerdote católico alemão de convicções intensas que representa, com sua concepção do
homem como um indivíduo isolado de Deus, da história e do mundo, um dos pilares sobre o qual
assenta a Modernidade. Foi Lutero que iniciou a Reforma Protestante, rejeitando a autoridade do
papa e enfraquecendo o poder da Igreja Católica.
RENÉ DESCARTES
Filósofo, físico e matemático francês. Depois do esplendor da Filosofia grega antiga e do apogeu
e da crise da escolástica na Europa medieval, os novos ventos do Renascimento e a revolução
científica que o acompanhou dariam origem, no século XVII, ao nascimento da Filosofia moderna.
COMO, EXATAMENTE, OCKHAM IMPULSIONOU ESSE PROCESSO?
O fideísmo e o racionalismo são do mesmo gênero: dá para explicar um pelo outro e o outro pelo
primeiro. Ockham coloca Deus tão acima da razão humana que a exclui de si mesma. De outra
parte, ele minimiza de tal modo o poder metafísico da razão, que esta necessariamente não
alcançará o que é propriamente espiritual e divino (que ficarão a cargo de uma fé desarrazoada).
A Onipotência, e não mais a Inteligência ou o “Logos”, torna-se o atributo divino por excelência.
Além disso, Deus é colocado tão acima da criação, que poderíamos dizer que a teologia fideísta
de Ockham termina gerando, por contraste, o deísmo racionalista que nega a Providência e a
Revelação (agnosticismo prático).
Trata-se de uma Onipotência suprarracional, pois Ockham considera que Deus não poderia se
submeter nem mesmo às chamadas "Ideias Eternas", pois seria uma espécie de
“constrangimento” para a liberdade divina.
Exatamente pelo fato de que o mundo não foi feito segundo uma Razão Eterna ou segundo
Razões Eternas, nele, não existem essências (quididades) imutáveis e universais, mas apenas
entes ou essências (coisas) singulares.
Assim, o problema do conhecimento é conduzido à
solução nominalista: os conceitos serão meros
“nomes" ou “símbolos” que agregarão realidades
similares, pois o “conceito universal” seria tão
somente uma apreensão “confusa” de uma realidade
única.
Por exemplo, “homem” é uma apreensão confusa de
“Sócrates”. Esse encaminhamento do problema
epistemológico abriu espaço para o desenvolvimento
do conhecimento matematizante típico da Ciência
moderna.
NOMINALISMO MORAL
No campo moral, desaparecendo o conceito de “essência” ou “natureza” universal (associado à
criação segundo paradigmas eternos), também desapareceu o conceito de “lei natural” e surgiu
uma “liberdade de indiferença”: o ato humano será moralmente bom ou mau na medida em que
se conformar ou não à obrigação legal imposta por Deus (que poderia nos mandar odiá-lo,
segundo Ockham).
A vida moral é marcada pela “obrigação”, e não pela “graça” ou “benevolência”, que permite
cumprir a lei. Assim, a moralidade foi separada do clássico (e bíblico) desejo de felicidade e, com
o tempo, os 10 Mandamentos — considerados arbitrários. Sem o suporte de uma fé vivida
existencialmente — senão transformada em mera instalação social, em uma cultura cada vez
mais secularizada (mundana) —, a moral cristã parecia um fardo.
A verdade é que essas concepções já haviam sido preparadas pelo estado de coisas
sociopolítico. A Inquisição inaugurou um procedimento intolerante com o espírito cristão e
católico. A fé não era vista como “graça”, mas reduzida a elemento do bem comum temporal,
podendo, assim, ser criminalizada pelo Estado — muitoalém daquelas heresias que poderiam
ser consideradas verdadeiras sedições (crimes), que foi o caso específico do catarismo.
Consequentemente, o Estado assumiu um papel religioso muito além da tradicional defesa da
realidade física dos fiéis e da Igreja ou do apoio logístico à evangelização. Assim, preparou-se,
com a cooperação imprudente da própria Igreja, a estatolatria moderna ou o ressurgir do espírito
do Império Romano pagão, ou o “Leviatã”, que o equilíbrio medieval entre o poder espiritual da
Igreja e o poder temporal do Sacro Império havia contido até então.
Na nova moral nominalista, não existia mais um “sentido” (a busca do bem) que envolve toda a
vida e todos os seus atos, mas atos individuais desconexos que poderiam ser perfeitamente
realizados na direção contrária, se Deus “mudasse de ideia”.
Essa moral da obrigação teve seu máximo expoente em Immanuel Kant (1724-1804), que reduziu
o cristianismo a esse papel moralizante. Foi repudiada pelo utilitarismo e pelo hedonismo,
perdendo-se, assim, de uma ou de outra forma, a conexão entre felicidade, lei (natural como
reflexo da eterna) e consciência.
Esta, portanto, converteu-se em legisladora de seus próprios imperativos. Em um primeiro
momento, pela instalação social, ela ainda foi condizente com os ideais cristãos, mas, com o
tempo, expressou apenas as próprias vontades e os próprios desejos.
Influenciada por essa perspectiva, a teologia
moral católica distanciou-se do Novo
Testamento, de Agostinho e de Tomás Aquino, e
converteu-se, na prática, em “teologia jurídica”,
com o surgimento do “casuísmo” dos teólogos
jesuítas e dos grandes manuais de teologia
moral, como o de Santo Afonso de
Ligório (1696-1787).
No campo religioso, as ideias de Ockham
influenciaram diretamente a reforma luterana, o
que excede nosso campo.
NOMINALISMO POLÍTICO
A obra Breviloquium (MARCONDES, 2016) é a síntese da Filosofia política de Ockham.
O Breviloquium divide-se em seis livros. No quinto livro discute-se a famosa passagem bíblica
das “duas espadas” (Lucas 22:38), afirmando que, em nenhuma parte da Escritura, está expresso
este sentido místico em que se afirma que as duas espadas devem ser entendidas como os dois
poderes: o temporal e o espiritual.
No sexto livro analisa-se a Donatio Constantini, considerando-a provavelmente apócrifa.
Segundo Ockham, só o povo romano poderia transferir para o papa a autoridade juntamente com
todas as suas competências. Alguém que fosse apenas um usuário delas (pessoa individual ou
moral) não poderia transferi-las ou doá-las. O imperador não poderia transferir autoridade ao
papa, em todo ou em parte, de onde decorre a ilegitimidade da donatio.
A seguir, Ockham indica as competências (em regime de uso) que poderiam, dentro desses
pressupostos, ser conferidas ao papa: entre elas encontram-se todas as que se referem ao
governo espiritual (no foro externo), mas não as competências em matéria estritamente temporal.
Estão sujeitas ao papa todas as coisas que visam ao culto de Deus e à estabilidade dos cristãos.
Como a donatio teria sido uma concessão de Constantino, movida por sua devoção e
fidelidade ao Papa Silvestre, os infiéis ainda poderiam ter um verdadeiro império ou poder
temporal, uma verdadeira jurisdição temporal e uma verdadeira potestade (supremacia) da
espada material.
A autoridade papal é puramente espiritual e religiosa, ainda que também tenha algum poder
temporal sobre determinados bens físicos ou materiais com vistas ao fim espiritual, e na medida
em que é necessário para o cumprimento de sua missão de salvação.
Porém esse poder temporal é de origem humana, e seu uso foi transferido ao papa pelo
imperador. O imperador, por sua vez, recebeu o poder do povo romano e somente pode transmiti-
lo dentro das limitações do mandato recebido.
Portanto, Ockham não impugna a instituição divina do papado nem seu direito a reger os
assuntos espirituais conforme a lei divino-positivo e o direito natural (como ele o entende), mas
opõe-se vigorosamente às pretensões da Cúria (corte papal) de intervir nos assuntos temporais
no imperium. Ele preconiza coordenação e cooperação de ambas as potestades.
ESCOLAS DE SALAMANCA E COIMBRA E O “DIREITO DAS GENTES”
APOCRIFA
Diz-se de obra religiosa destituída de autoridade canônica [que segue os dogmas da Igreja].
DONATIO CONSTANTINI
Suposto documento do imperador Constantino (306 d.C.-337 d.C.), que cede à Igreja Católica
propriedades ao então Papa Silvestre I (285 d.C.-335 d.C.).
SANTO AFONSO DE LIGÓRIO
Missionário e teólogo italiano que se dedicou à recristianização de Nápoles e sua região. Ele
criou a Congregação dos Redentoristas e desenvolveu um sistema de teologia moral a meio
caminho entre o rigor e o laxismo, que foi chamado de equiprobabilismo. Ele foi canonizado em
1839 e declarado doutor da Igreja em 1871.
A Universidade de Salamanca foi fundada em
1243 por Fernando III, o Santo (1201-1252), rei
de Leão e Castela. Foi uma das quatro grandes
universidades da cristandade medieval, junto
com Paris, Bolonha e Oxford.
A Universidade de Coimbra, fundada em 1290,
também merece destaque por manter-se como
uma das instituições mais antigas do mundo,
que, desde sua origem, ofereceu os cursos de
Artes, Direito Canônico, Direito Civil e Medicina.
Foi nessas universidades que nossos
personagens se destacaram.
FRANCISCO DE VITÓRIA
Francisco de Vitória (1483-1546) estudou em Paris, dedicando-se especialmente ao estudo da
Antropologia tomista. Foi um grande mestre universitário e criador de uma escola filosófico-
teológica que teria influência decisiva na Espanha e na América.
Suas obras De potestate civili, De indis e De iure belli expressam seu pensamento sobre a
origem da autoridade civil, os títulos legítimos e ilegítimos dos espanhóis para conquistar a
América, e o direito à guerra contra os nativos do novo continente.
Um ponto que deve chamar nossa atenção é o seguinte:
NA SUA ELABORAÇÃO DAS RELAÇÕES DE PODER E DE RADICAÇÃO DO PODER CIVIL DO
SOBERANO, É VISÍVEL A RUPTURA DE VITÓRIA COM A ESCOLÁSTICA MEDIEVAL – QUE DEFENDIA
A ORIGEM DIVINA DO PODER CIVIL E, POR ISSO, POSTULAVA A SUPREMACIA PAPAL EM
ASSUNTOS TEMPORAIS –, ESTABELECENDO QUE O PODER CIVIL DO PRÍNCIPE NÃO TINHA
ORIGEM EM DEUS, MAS ATRAVÉS DA ELEIÇÃO DO ESTADO.
Não há lugar para o anarquismo, nem existe nada de definitivo sobre as formas concretas de
organização política.
Todos os povos podem escolher para si mesmos a forma de governo que consideram idônea.
Toda república pode ser castigada pelo pecado do rei, segundo o princípio de solidariedade entre
o governante e os governados, que são corresponsáveis pelas culpas do governante.
Sobre a justificativa da guerra, Vitória aplica os critérios do “mal menor” e do “bem possível”. Isto
é, nenhuma guerra é justa caso verifique-se que se sustenta às custas de um mal maior do que o
bem e a utilidade da República, por mais que sobrem razões para uma guerra justa.
Vitória criou o direito das gentes (ius gentium), precursor de nosso Direito internacional, que
justifica, sobre a base da solidariedade internacional dos povos — e não sobre o direito natural,
como concebido classicamente por Agostinho e Tomás de Aquino —, uma espécie de
fraternidade universal dos homens entre si.
Sobre a conquista espanhola, Vitória estabeleceu sua conhecida relação de sete títulos ilegítimos
e de oito títulos legítimos.
Os sete títulos ilegítimos são:
• O imperador é senhor do mundo.
• A autoridade é do Romano Pontífice, que doou as Índias aos espanhóis.
• O direito provém do descobrimento.
• Os índios se obstinam em não receber a fé de Cristo, apesar de lhes ter sido proposta e os
terem exortado com insistência.
• Os pecados são dos próprios bárbaros — alguns contra natura (contra a natureza).
• A escolha é voluntária por parte dos nativos.
• Há uma especial doação por parte de Deus — como ocorreu no caso dos israelitas quanto à
sua Terra prometida.
Os oito títulos legítimos são:
• Os espanhóis têm direito a percorrer as terras americanassem serem molestados e sem
receber dano.
• A religião cristã pode ser propagada naquelas terras — no caso de os índios aceitarem
espontaneamente a fé católica, não haveria o direito a declarar guerra contra eles nem de
ocupar suas terras.
• Os nativos que se converteram à fé católica devem ser protegidos contra as perseguições de
seus próprios reis, ainda pagãos.
• Se boa parte dos nativos tivesse se convertido à fé católica, o papa poderia, com causa justa,
impor-lhes um príncipe cristão e destituir o príncipe infiel.
• Cabe à tirania de seus próprios senhores ou às leis desumanas que estes promulgam.
• A escolha por parte dos nativos deve ser verdadeira e voluntária.
• Essa escolha vale por razão de amizade ou aliança.
• Pela pouca “civilização e polícia” dos nativos, poderia ser imposto a eles um príncipe cristão
— este lhe parece um título duvidoso.
FRANCISCO SUÁREZ
Para Francisco Suárez (1548-1617), a lei natural é uma
verdadeira e autêntica lei divina e seu legislador é Deus. Em
Deus, supõe um juízo que Deus mesmo emite a respeito da
conveniência ou inconveniência de tais atos e a vontade de
obrigar os homens a cumprir o que dita a reta razão. Essa
vontade supõe um juízo a respeito da malícia, por exemplo,
da mentira ou de coisas semelhantes.
Entretanto, a autêntica proibição ou obrigação do preceito
não surge em virtude do mero juízo, uma vez que não se
pode entender isso independentemente da vontade. A lei
natural, portanto, não se limita a manifestar a
desconformidade natural de tal ato ou objeto com a natureza
racional, mas também é um signo da vontade divina que o
proíbe.
FRANCISCO SUÁREZ
Teólogo e filósofo jesuíta que ensinou na Universidade de Coimbra.
Para Suárez, no ato humano existe um tipo de bondade ou malícia em função do objeto em si
mesmo considerado, segundo esteja ou não de acordo com a reta razão. E o ato humano recebe,
de modo especial, o nome de pecado ou culpa para com Deus por razão da transgressão de
uma verdadeira lei dada pelo próprio.
Suárez interpreta essa específica malícia como a “prevaricação” de que fala São Paulo: “onde
não há lei, tampouco há prevaricação [transgressão].” O ato humano contrário à natureza racional
não teria esse caráter de “transgressão” ou “prevaricação”.
Aqui, observamos a mentalidade moderna de Suárez: uma sutil transposição da questão
da verdade divina da lei natural (como reflexo da “lei eterna”) para a vontade divina de impô-
la como lei natural. E a interpretação da passagem de São Paulo é forçada: “onde não há lei”, na
mente do apóstolo, é “onde há fé e a graça do amor”, isto é, onde a lei já está sendo cumprida e,
portanto, não pode haver transgressão.
Suárez distingue o direito “das gentes” do direito natural ao afirmar o seguinte:
[...] DIGA-SE ASSIM DO DIREITO DAS GENTES: DE MODO ÚNICO, É DIREITO QUE TODOS
OS POVOS E AS COLETIVIDADES DEVEM APLICAR ENTRE SI; DE OUTRO MODO, QUE É
DIREITO QUE AS CIDADES E REINOS OBSERVAM EM SEUS ÂMBITOS INTERNOS, QUE EM
RAZÃO DE SIMILITUDE E CONVENIÊNCIA SE CHAMA DE DIREITO DAS GENTES.
Assim, o direito “das gentes” não manda nada que seja por si mesmo necessário para a retidão
ou a conduta, nem proíbe nada que seja essencial e intrinsecamente mau. Tudo isso pertence ao
direito natural.
O direito “das gentes” não forma parte do direito natural tampouco distingue-se dele por ser um
direito específico dos homens. O direito “das gentes” é simplesmente humano e positivo, e seus
preceitos diferenciam-se dos preceitos do Direito civil pelo fato de não estarem formados por leis
escritas e sim por costumes, não deste ou daquele Estado, mas de todas ou quase todas as
nações.
Afinal, o direito humano é de duas classes: escrito e não escrito. O direito não escrito está
formado por costumes, e, se foi estabelecido pelos costumes de um só povo e a ele só obriga,
segue sendo Direito civil. Se, pelo contrário, foi estabelecido pelos costumes de todos os povos e
se a todos obriga, esse é o direito “das gentes” propriamente dito, segundo Suárez.
Com isso, o Direito internacional identifica-se com os costumes universais positivos e
compreende apenas o mínimo comum de práticas extremamente indispensáveis para a
manutenção de uma comunidade internacional pacificada.
Estamos, aqui, longe da necessidade (moral) de uma adequação universal aos costumes ideais e
conformes com a lei natural, que uma sociedade objetivamente mais justa poderia ter alcançado
e desejaria difundir (sem violência).
Portanto, estamos na origem de certo relativismo ético político, já que o indispensável são apenas
os costumes universais de fato, e não aqueles de direito (direito natural, entenda-se, na
concepção pré-moderna).
Conclusão
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As éticas agostiniana e tomasiana, como fundamentação do agir formalmente ético, são
inseparáveis da moral, como conteúdo concreto em que a forma da ética se realiza. De outra
parte, ética e moral têm uma fundamentação metafísica, pois estão ancoradas no próprio ser
da pessoa humana, em sua natureza ou essência, naquilo que a tradição clássica chamou de lei
(moral) natural. E a lei natural tem uma fundamentação teológica: é o reflexo em nossa
consciência da “lei eterna” divina.
Aqui, a palavra “natureza” tem o sentido clássico anterior à separação entre natureza e espírito,
ou natureza e história, ou natureza e cultura.
A lei natural nos dois maiores clássicos da Filosofia medieval não deve ser entendida como
alguma espécie de dado “espontâneo” ou meramente biológico, mas como a leitura ou
interpretação que a razão humana faz das inclinações naturais e a consequente promulgação dos
deveres/direitos daí decorrentes. Também, ou principalmente, a razão constitui a natureza da
pessoa humana.
Para Agostinho e Tomás de Aquino, a reflexão e a prática política
e jurídica são inseparáveis da ética e da religião: o exercício do
governo, as relações sociais, as leis e o bem comum devem estar
em harmonia com o que é considerado bom e justo para o
indivíduo, segundo a lei natural radicada na lei divina. Com
Ockham, ocorre uma separação entre as obrigações morais e a
lei divina, e a ética pende, agora, do conceito de “obrigação”.
Francisco de Vitória inauguraria a investigação do “direito das
gentes”, buscando ajuizar a conquista americana pelos
espanhóis, a partir da ideia de uma solidariedade internacional. E
Francisco Suárez separaria a lei natural do conceito de
“transgressão” ou “pecado”, e entenderia o direito das gentes
como um mínimo de costumes internacionais comuns. Com isso,
todo o arcabouço jurídico-político moderno já está montado para
ser edificado.
	Slide 1: Idade Média Oficialmente vai de 476 d.C. a 1453
	Slide 2: Idade Média Mapa da Idade Média no Período Feudal
	Slide 3: Idade Média – 476 d.C. a 1453
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	Slide 15: Quadro comparativo Santo Agostinho e São Tomás de Aquino
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	Slide 19: A História da Filosofia Medieval
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	Slide 24: A CIDADE DE DEUS E A JUSTIÇA
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	Slide 34: MÓDULO 2 Reconhecer as características das virtudes morais cardeais segundo Santo Tomás de Aquino
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	Slide 39: ÉTICA DA LEI NATURAL E DAS VIRTUDES
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	Slide 52: MÓDULO 3 Distinguir a novidade na concepção de lei no nominalismo e na Escola Ibérica em relação aos pensamentos agostiniano e tomista.
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	Slide 74: Conclusão
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