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2 DEFINIÇÃO DE PERSONALIDADE 
A origem da palavra personalidade vem do grego persona, que se refere as máscaras usadas pelos atores do teatro grego clássico, identificando o personagem. A palavra personalidade tem seu papel na descrição da identidade do indivíduo, conjunto único que diferencia um indivíduo de outro, atualmente a personalidade vai além dos propósitos de identificação e descrição de pessoas e preocupa-se também com sua função e estrutura, ela é uma interface para o relacionamento do sujeito com o ambiente e a sociedade, particularmente importante para as relações interpessoais, conforme NETO H; (2017). 
Cattel, durante a década de 1940, dividiu a personalidade em cinco grandes fatores, esses que ao decorrer de vários anos continuaram imutáveis, são eles o Neuroticismo (agrega os traços associados à expressão de afetos negativos e à instabilidade emocional), Extraversão (reúne os traços associados à expressão de afetos positivos, busca interação com o meio e com seus semelhantes), Conscienciosidade (descreve traços associados à adoção de escrúpulos morais, sentimentos de responsabilidade e preocupação com o futuro em oposição a um espirito livre, inconsequente e impulsivo), Cordialidade (representa o conjunto de traços que caracterizam a afabilidade, a tolerância e a cooperação em contraste com a agressividade e a competitividade) e a Abertura (reúne os traços que representam facilidade para aceitar novas ideias e raciocínio não convencional em oposição ao conservadorismo e ao apego às tradições), conforme NETO H; (2017).
Gray e Eysenck, durante as décadas de 1960 a 1970, defendem o modelo psicobiológico. Gray defende dois pilares para a personalidade de um indivíduo, inibição e de iniciação do comportamento. Eysenck com um pensamento semelhante, descreveu um fator de inibição ligado aos afetos negativos (neuroticismo) e outro de iniciação ligado aos afetos positivos (extraversão /extroversão), conforme NETO H; (2017). 
Futuramente se nota a emergir um fator não-independente dos afetos e relacionado à impulsividade e à não conformidade as regras (psicoticismo). Assim nasce o modelo tri-fatorial, uma base sólida na teoria psicobiológica da personalidade, três pilares, que conduzem e definem nossas expressões afetivas e reações comportamentais em um padrão de respostas emocionais, preferências e comportamentos motivados, conforme NETO H; (2017). 
Apesar de um modelo forte, ambas as teorias apresentam falhas, havendo a necessidade de uma nova teoria, na qual houvesse uma integração das duas, foram realizadas revisões onde Cloninger, Waller e Telengen se destacam, criando a visão moderno sobre a personalidade, dividindo-se em temperamento (porção que reúne as disposições inatas do indivíduo, que tem determinação predominantemente genética e estabilidade temporal), oposição ao caráter (condição que reúne traços derivados do aprendizado conceitual, moldado ao longo do desenvolvimento biográfico e que apresentam maior flexibilidade temporal, conforme NETO H; (2017). 
De acordo com NETO H; (2017), a maioria dos modelos atuais, contempla três fatores de temperamento e três fatores de caráter.
Fonte: faceres.com.br (Modelo de personalidade: fatores de temperamento e caráter).
2.1 Definição de transtorno de personalidade 
Kraepelin, acreditava que na personalidade residia os fatores pré - mórbidos dos transtornos psiquiátricos. Sua teoria defendia que haveria manifestações ao longo do desenvolvimento, mesmo que sutis, marcando um ponto de fragilidade, podendo se manifestar caso um agente ou contexto atuassem nesse ponto. Kraepelin acreditava que os transtornos de personalidade (TP), derivava de um continuum, onde a personalidade normal, o TP e a doença mental, estariam alinhadas, avançando do normal ao patológico, "uma perspectiva dimensional de que os transtornos da personalidade representam variantes mal-adaptativas de traços de personalidade que se fundem imperceptivelmente com a normalidade e entre si." (DSM-V), conforme NETO H; (2017). 
Com o surgimento da psicanálise e o behaviorismo, nos dois terços iniciais do sec. XX, conflitos com o próprio conceito de personalidade surgiram. Porem a consolidação clínica e teórica dos TPs surgiram, posteriormente, com Kurt Schneider, comprometido com a fenomenologia na década de 1970. Schneider definiu o conceito de personalidade anormal, que se difere de uma personalidade normal quantitativamente e de maneira extrema em algumas de suas características. Essa definição só se tornaria patológica se o indivíduo não fosse capaz de ajustar esse extremismo de sua personalidade ao meio, levando o mesmo ao sofrimento ou sofrimento de outras pessoas ao seu redor, sendo assim definida a personalidade psicopática, conforme NETO H; (2017). 
A partir do DSMIII em 1980, se atribuiu o conceito de TP ao construto de personalidade instituído por Schneider, até os dias atuais, com algumas modificações em edições futuras do DSM. Schneider optou por uma abordagem prototípica, diferente das classificações atuais que usam critérios operacionais, descrevendo dez perfis, conforme NETO H; (2017). 
A definição de acordo com o DSM-V: "Um transtorno da personalidade é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo”, conforme NETO H; (2017). 
3 TEORIA DE PERSONALIDADE DE AARON BECK 
No âmbito da Terapia Cognitiva busca-se entender a relação do que chamamos de personalidade com a adaptação do indivíduo ao meio. Nesse sentido, o entendimento da personalidade não pode prescindir das teorias sobre herança filogenética. Obviamente, assim como ocorreu com todas as espécies, as estratégias que favoreceram a sobrevivência e a reprodução foram mantidas pela seleção natural. 
Tais estratégias, pensando agora na espécie humana, contribuíram para que nós chegássemos até aqui. Que tivéssemos um domínio razoável da natureza, podendo manipulá-la, até certa medida, a nosso favor. O fato é que estratégias que favoreceram a sobrevivência e a reprodução devem estar na base do que chamamos personalidade, conforme MARTINS P; (2010). 
A discussão sobre personalidade dentro da Teoria Cognitiva avança desde estratégias baseadas na evolução, até uma consideração de como o processamento da informação, incluindo processos afetivos, antecede a operação destas estratégias (Beck & Freeman, 1993 apud MARTINS P; 2010). Uma vez que a demanda ambiental surja, o indivíduo avalia as necessidades específicas para lidar com tal demanda e automaticamente aciona uma estratégia que pode ou não ser adaptativa ao contexto. 
Para Beck, Shaw, Rush e Emery (2005 apud MARTINS P; 2010) a maneira como é avaliada uma situação depende, pelo menos em parte, das crenças relevantes subjacentes, as quais estão integradas em estruturas mais ou menos estáveis, denominadas “esquemas”, que selecionam e sintetizam informações. A sequência psicológica progride, pois, da avaliação para a estimulação afetiva e motivacional e, finalmente, para a seleção e implementação da estratégia relevante. 
A abordagem Cognitiva considera os esquemas como sendo as unidades fundamentais da personalidade. E a define como uma organização relativamente estável, composta de sistemas e moldes. Sistemas de estruturas (esquemas) interconectadas respondem pela sequência que se estende desde a recepção do estímulo até o ponto final da resposta comportamental, conforme MARTINS P; (2010). 
Segundo Beck et., al (2005 apud MARTINS P; 2010) traços de personalidade identificados por adjetivos tais como “dependente”, “isolado”, “arrogante” ou “extrovertido” podem ser conceitualizados como sendo a expressão manifesta dessas estruturas subjacentes. Por sua vez, os padrões comportamentais que atribuímos aos traços (honesto, tímido, comunicativo), representam as estratégiasinterpessoais desenvolvidas a partir da interação entre padrões genéticos e o ambiente. 
Todos os perfis de personalidade teriam sua raiz na história evolutiva de 
nossa espécie que, assim como todas as outras, sofreram os efeitos da 
seleção natural, permanecendo no ambiente os representantes de cada uma 
delas que fossem mais aptos a se manter vivos e reproduzir. O que 
chamamos de perfis de personalidade então, são o produto de estratégias 
mais eficazes que favoreceram a evolução da espécie humana (Beck & 
Freeman, 1993 apud MARTINS P; 2010).
 
O comportamento dramático que acaba por chamar a atenção na personalidade histriônica, pode ter suas raízes em ritos de exibição em animais não humanos; o antissocial, no comportamento predatório, e o dependente no comportamento de apego observado em todo o reino animal, (Beck & Freeman, 1993 apud MARTINS P; 2010). Todos os outros perfis têm correspondência em comportamentos que foram e muitas vezes ainda são extremamente importantes para a adaptação do indivíduo. 
Para Beck et al. (2005 apud MARTINS P; 2010) embora os organismos não tenham consciência do objetivo último dessas estratégias biológicas, eles a têm dos estados subjetivos que refletem seu modo de operação: fome, medo, estimulação sexual e recompensas ou punições. Todas elas orientadas para garantir a sobrevivência e a reprodução, ou seja, contribuindo para a adaptação do organismo. 
3.1 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade 
Partindo da ideia de que os perfis de personalidade são resultado de estratégias que foram importantes para a adaptação da espécie ao ambiente, resta responder como surgem os transtornos da personalidade. Estratégias que favoreceram a adaptação do indivíduo são também a base para Psicopatologias. Mais precisamente, neste caso, de transtornos da personalidade, conforme MARTINS P; (2010). 
Uma vez que os esquemas, essas estruturas que estariam na base da personalidade de cada um de nós, têm características estruturais como amplitude (estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação), e densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são energizados), pode-se afirmar que os esquemas nos transtornos de personalidade, seriam amplos, rígidos, densos e hipervalentes, conforme MARTINS P; (2010). 
Uma vez hipervalentes, os esquemas são facilmente ativados, mesmo que o estímulo seja inócuo. Esses esquemas inibem outros esquemas mais adaptativos ou mais apropriados e introduzem um viés sistemático no processamento da informação (Beck & Davis 2005 apud MARTINS P; 2010). Apesar da semelhança entre os esquemas dos transtornos de personalidade e os das síndromes sintomáticas, os primeiros operam sobre o processamento de informação em uma base mais contínua. 
Um esquema no transtorno de personalidade será ativado quase sempre e será parte do processamento da informação, normal e cotidiano, do indivíduo. Atualmente, existem 10 transtornos da personalidade específicos catalogados no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud OLIVEIRA B; et al., 2017), onde podem ser descritos e caracterizados conforme as suas características diagnósticas, desenvolvimento e curso, prevalência, fatores de riso, prognóstico, questões diagnósticas relativas à cultura e ao gênero e diagnóstico diferencial. São eles:
⮚ transtorno da personalidade paranoide, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
⮚ transtorno da personalidade esquizoide, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
⮚ transtorno da personalidade esquizotípica, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
⮚ transtorno da personalidade antissocial, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
⮚ transtorno da personalidade borderline, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
⮚ transtorno da personalidade histriônica, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
⮚ transtorno da personalidade narcisista, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
⮚ transtorno da personalidade evitativa, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
⮚ transtorno da personalidade dependente, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
⮚ transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). 
Segundo o DSM (APA, 2002 apud MARTINS P; 2010) o traço de personalidade é um padrão persistente de perceber, relacionar-se com e pensar sobre o ambiente e sobre si mesmo, que se manifesta em vários contextos sociais e pessoais. Esses traços, quando inflexíveis e desadaptativos, causam mal-estar subjetivo e prejuízo funcional significativo, caracterizando assim um transtorno de personalidade. 
Portanto, a personalidade humana considerada dentro da normalidade é constituída de vários traços (BECK; DAVIS; FREEMAN, 2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). Estes traços possuem características que influenciam diretamente uma variedade considerável de indicadores nos níveis individual, interpessoal e social, dentre eles: escolha, satisfação e desempenho profissionais; qualidade das relações familiares, amorosas e com colegas; felicidade, saúde física e psicológica; espiritualidade e identidade; envolvimento na comunidade, atividade criminosa e ideologia política. (OZER, 2006 apud MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). 
Dados sugerem que cerca de 15% dos adultos dos Estados Unidos apresentam no mínimo um transtorno de personalidade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (2014 apud OLIVEIRA B; et al., 2017) define um transtorno da personalidade como: 
[...] um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se 
desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e 
inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao 
longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo. (AMERICAN PSYCHIATRIC 
ASSOCIATION, 2014, p.684 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). 
Os transtornos da personalidade estão entre os transtornos mentais mais difíceis de diagnosticar e, principalmente, tratar. Isso se dá pela própria natureza dos sintomas, que são pouco diferenciados, com uma fronteira menos nítida com a normalidade e precisam ser avaliados em diversos contextos e de forma longitudinal. Outra dificuldade é a resistência para uma avaliação e posterior tratamento clínico especializado, pela maioria das características diagnósticas serem egossintônicas, o que faz com que o indivíduo tenha um insight pobre sobre si e suas dificuldades, considerando-as como parte do “seu jeito de ser”. (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). 
Pessoas com este tipo de transtorno pagam um preço significativo em suas vidas, pois suas relações sociais são diretamente afetadas. Beck, Davis e Freeman (2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017) apontam que pessoas com transtornos da personalidade têm sido descritas com palavras que denotam rotulação e permanência dos sintomas, como por exemplo: difícil, problemático e intratável. 
3.2 Critério Atuais: DSM 5 e CID -10 
A décima edição da Classificação Internacional de Doenças (CID -10) (OMS, 1992 apud MARTINS R; 2019), da Organização Mundial da Saúde, considera três categorias de transtorno de personalidade de ordem etiológica: transtornos específicos de personalidade (F60); alterações permanentes de personalidade, não atribuíveis a lesão ou doença cerebral (F62); e transtornos decorrentes de doença, lesão e disfunção cerebrais (F07); caracterizados pela mudança de personalidade em decorrência de acidentes vascular cerebral, tumores, quadros epiléticos, traumatismos entre outras, conforme MARTINS R; (2019). 
Os transtornos específicos da personalidade seriam consequência da constituição ambiental cujo critério desadaptativo está relacionado a padrões rígidos, comportamentais e cognitivos de ordem interpessoal e social, que sistematicamente afastaria do conceito mediano estabelecido em determinada cultura, conforme MARTINSR; (2019). 
Na CID 10 está relacionado a possibilidade de sujeitos sem transtorno prévio, sofrer permanente alteração comportamental em atributos característicos de sua personalidade, após doença psiquiátrica (F 62.0), ou na interpretação subjetiva de situação catastróficas (F 62.1); no DSM 5 o modelo encontra-se semelhante ao CID 10, porém considera a modificação da personalidade como parte integrante a uma condição médica geral (310.1), conforme MARTINS R; (2019). 
4 PERFIS COGNITIVOS ESPECÍFICOS 
Fonte: repositório.com - AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 - Critérios Gerais para Transtorno da Personalidade. 
De acordo com GOMES A; (2019), o diagnóstico de um transtorno de personalidade precisa ser feito baseado em duas determinações: 
1) uma avaliação de nível de prejuízo da personalidade, sendo essencial para o Critério A; conforme GOMES A; (2019) 
2) uma avaliação dos traços de personalidade patológicos, necessária para o Critério B. Os prejuízos no funcionamento da personalidade e a manifestação dos traços de personalidade são relativamente flexíveis e difusos, dentro de uma ampla faixa de situações, sendo abordado pelo Critério C; sendo estáveis ao longo dos anos, tendo seu início na adolescência (pelo menos) ou início da idade adulta (Critério D); não são melhor explicados por outro transtorno mental (Critério E); não estão relacionados com os efeitos de alguma substância ou condição médica (Critério F); e não são bem entendidos como normais para o estágio do desenvolvimento de um indivíduo ou para seu ambiente sociocultural (Critério G). Qualquer transtorno de personalidade da Seção III satisfazem esses critérios gerais, assim como os TP-ET (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud GOMES A; 2019). 
⮚ Transtorno de personalidade evitativo/esquiva: 
De acordo com Beck et al., (1993 apud OLIVEIRA D; 2009), pessoas portadoras do transtorno evitativo de personalidade possuem o seguinte conflito chave: elas gostariam de aproximar-se de outras pessoas e de conseguir desenvolver todo o seu potencial intelectual e vocacional, mas temem ser magoadas, rejeitadas ou fracassar. 
A visão que têm de si é que são vulneráveis à depreciação e à rejeição, que são socialmente incapazes e incompetentes. A visão que têm dos outros é que eles são críticos, depreciadores e superiores. Suas principais crenças podem ser vistas como: “é terrível ser rejeitado, rebaixado”, “se as pessoas conhecerem meu verdadeiro eu, me rejeitarão”, “não consigo tolerar sentimentos desagradáveis”, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: evitar situações sociais; evitar chamar a atenção sobre si mesmo; evitar revelar-se aos outros; desconfiar dos outros e evitar emoções negativas. As estratégias compensatórias subdesenvolvidas desse transtorno são aproximar-se dos outros; confiar na motivação positiva dos outros; procurar intimidade; pensar sobre situações e problemas perturbadores. 
Cramer, Torgersen e Kringlen (2006 apud OLIVEIRA D; 2009), em um estudo populacional sobre personalidade e qualidade de vida, mostraram que indivíduos com transtorno evitativo tiveram uma redução forte e ampla de qualidade de vida; esses autores descobriram que pacientes com transtorno evitativo tiveram pior ajustamento social e profissional comparativamente àqueles pacientes que apresentavam fobia social; os dados da pesquisa mostram que, quanto maior a pontuação apresentada no escores do transtorno evitativo, pior a qualidade de vida da pessoa, especialmente nas relações interpessoais, o que evidencia a dificuldade em lidar com o outro. 
⮚ Transtorno dependente de personalidade: 
De acordo com Beck et al., (1993 apud OLIVEIRA D; 2009), as pessoas com transtorno dependente de personalidade veem a si mesmas como indefesas e, portanto, tentam vincular-se a alguma figura mais forte, que lhes ofereça recursos para sua sobrevivência e felicidade. 
Têm uma visão de si como carentes, fracas, indefesas e incompetentes; uma visão idealizada dos outros como provedores, apoiadores e competentes; suas principais crenças são: “necessito das pessoas para sobreviver, ser feliz”, “necessito de um fluxo contínuo de apoio e de encorajamento”; sua principal estratégia seria cultivar relacionamentos de dependência, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias compensatórias tanto hiperdesenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: 
⮚ Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: confiar nos outros; evitar decisões; evitar resolver problemas com independência; tentar fazer os outros felizes; ser subjugadas por outros; ser tímida e submissa, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
⮚ Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: resolver problemas com independência; tomar de cisões; manter seu ponto de vista perante os outros, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
Os dados do estudo de caso descrito por Zanin e Valerio (2004 apud OLIVEIRA D; 2009) corroboram com os critérios da APA (2003 apud OLIVEIRA D; 2009) descrito no Quadro acima, em que a paciente estudada apresenta comportamentos de briga, dependência e esquiva baseados na sua percepção distorcida acerca de situações de insegurança em contexto social e a relacionamentos afetivo e interpessoal. 
Esses autores pontuam que o processo cognitivo disfuncional da paciente demonstra estar relacionado com sua história de vida, desenvolvimento de suas crenças centrais (sou incapaz; não consigo fazer nada sozinha; ...não sou amada...) e suas características compensatórias: solicitar aos outros para reassegurar que gostem dela; fazer tudo o que os outros pedem; solicitar aos outros que a ajudem no enfrentamento das dificuldades e esquivar- se de situações sociais e de desempenho, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
⮚ Transtorno obsessivo-compulsivo de personalidade: 
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) está incluído no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM) entre os transtornos de ansiedade. O seu início é gradual, uma vez em que ele esteja estabelecido, na maioria dos indivíduos irá ter um curso crônico de vaivém dos sintomas, tendo a sua piora quando relacionados ao estresse (MARTINS, 2010 apud OLIVEIRA D; et al., 2011). 
As causas do TOC podem ser várias, porém tem dois fatores que estão quase sempre presentes, um componente hereditário e conflitos internos, que podem ser por fatores de natureza psicológica que surgem depois de algum estresse psicológico, conflitos psíquicos que vão agravando os sintomas. Manifesta sob a forma de alterações do comportamento dos pensamentos e das emoções. Caracterizado pela presença de obsessões e compulsões, conforme OLIVEIRA D; et al., (2011). 
As obsessões são ideias, imagens, impulsos, pensamentos que invadem a 
mente de forma repetitiva, persistente e estereotipada que causam ansiedade 
e podem ser seguidos ou não de rituais (GONZALEZ, 1999 apud OLIVEIRA 
D; et al., 2011). 
As mesmas são criadas a partir de qualquer substrato da mente, tais como palavras, medos, preocupações, memórias, imagens e músicas. A pessoa tenta resistir a eles, ignorá-los ou suprimi-los com ações ou com outros pensamentos, reconhecendo-os, no entanto, não consegue controla-los. Os sintomas costumam iniciar antes dos 25 anos de idade, frequentemente na infância ou adolescência, conforme OLIVEIRA D; et al., (2011). 
Os sintomas obsessivos mais comuns são: medo de contaminar-se por germes, imaginar que tenha ferido ou ofendido outras pessoas, imaginar-se perdendo o controle, realizando violentas agressões ou até assassinatos, pensamentos sexuais urgentes e intrusivos, dúvidas morais e religiosas e pensamentos proibidos conforme OLIVEIRA D; et al., (2011). 
As compulsões por sua vez podem ser caracterizadas por comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, que a pessoaé levada a executar em resposta a uma obsessão ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os comportamentos ou atos mentais são destinados a prevenir ou reduzir a aflição gerada pela obsessão (CAMPOS et al., 2000 apud OLIVEIRA D; et al., 2011). 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias compensatórias tanto hiperdenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: 
De acordo com OLIVEIRA D; (2009) Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: controlar rigidamente a si mesmo e aos outros; criar expectativas exageradas; assumir muita responsabilidade; buscar a perfeição. Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: delegar autoridade; desenvolver expectativas flexíveis, exercitar controle somente quando apropriado; tolerar indecisões; agir espontaneamente e impulsivamente; procurar lazer e atividades agradáveis. 
Gallagher, South e Oltmanns (2003 apud OLIVEIRA D; 2009) em um estudo, verificaram que indivíduos com transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo (TPOC) possuem intolerância de incerteza; dificuldade na tomada de decisão; categorização; necessidade de repetição. 
Em um esforço constante para manter a ansiedade sob controle, esses indivíduos, presumivelmente, esforçam- se para manter um senso de controle e domínio das suas vidas. Isso corrobora com os dados da APA (2003 apud OLIVEIRA D; 2009) de que o estilo cognitivo do TPOC (preocupação com os detalhes, cognitiva rigidez pode facilitar uma sensação de controle. 
⮚ Transtorno paranoide de personalidade 
Conforme GOMES A; (2019), padrão de desconfiança e de suspeita tamanhas que as motivações dos outros são interpretadas como malévolas. De acordo com Beck et al., (1993 apud OLIVEIRA D; 2009), a palavra-chave para esse transtorno é a “desconfiança”, essa personalidade adota essa postura na maioria, ou em todas as situações. Pessoas com esse transtorno possuem uma visão de si mesmas como sendo indivíduos corretos, inocentes, nobre e vulnerável; uma visão das outras como pessoas como interferentes, maliciosas, discriminadoras e abusivas. Suas principais crenças são: “os motivos são suspeitos”, “esteja em guarda”, “não confie”. 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias compensatórias tanto hiperdesenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: 
Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: ser hipervigilante ao perigo; não confiar em ninguém; supor motivações obscuras; ter expectativas de ser manipulado, enganado e inferiorizado, conforme OLIVEIRA D; (2009).Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: confiar nos outros; relaxar; cooperar; acreditar em boas intenções, conforme OLIVEIRA D; (2009). Cramer, Torgersen e Kringlen (2006 apud OLIVEIRA D; 2009), em um estudo populacional sobre personalidade e qualidade de vida, observaram que indivíduos com altas pontuações no transtorno paranoide mostraram reduções fortes e amplas na qualidade de vida. Concluíram que, quanto mais a pessoa apresentava ideação paranoide, pior a qualidade de vida. Sastre, Vinsonneau, Chabrol e Mulle (2005 apud OLIVEIRA D; 2009) correlacionaram respostas do transtorno paranoide com alto nível de neuroticismo, indicando ansiedade e desajustamento emocional. 
⮚ Transtorno antissocial de personalidade 
O transtorno apresenta dificuldades características na identidade, no auto direcionamento, na empática e/ou na intimidade. Associado existe a presença de traços mal adaptativos específicos nos domínios do Antagonismo e da Desinibição personalidade, conforme GOMES A; (2019). 
De acordo com PEREIRA, M. L.; et al., (2012) transtorno de personalidade, usualmente vindo de atenção por uma disparidade flagrante entre o comportamento e as normas sociais predominantes, e caracterizado por: 
⮚ Indiferença insensível pelos sentimentos alheios, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). 
⮚ Atitude flagrante e persistente de irresponsabilidade e desrespeito por normas, regras e obrigações sociais, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). 
⮚ Incapacidade de manter relacionamentos, embora não haja dificuldade em estabelecê-los, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). 
⮚ Muito baixa tolerância à frustração e um baixo limiar para descarga de agressão, incluindo a violência, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). 
⮚ Incapacidade de experimentar culpa ou de aprender com e a experiência, particularmente punição, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). 
⮚ Propensão marcante para culpar os outros ou para oferecer racionalizações plausíveis para o comportamento que levou o paciente a conflito com a sociedade, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012).
 Pode também haver irritabilidade persistente como um aspecto associado. Transtorno de conduta durante a infância e à adolescência, ainda que não invariavelmente presente, pode ser maior suporto ao diagnóstico (OMS, 1993, p. 199- 200 apud PEREIRA, M. L.; et al., 2012). Morana, Stone e Abdalla-filho (2006 apud PEREIRA, M. L.; et al., 2012), caracterizam o antissocial pela insensibilidade aos sentimentos alheios e apontam que quando o grau dessa insensibilidade se apresenta elevado, o portador pode adotar um comportamento criminal recorrente definindo assim a consequência em assumir uma psicopatia. 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias compensatórias tanto hiperdenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: 
Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: mentir; manipular ou levar vantagem sobre os outros; ameaçar ou atacar os outros; resistir ao controle dos outros; agir impulsivamente, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: cooperar com os outros; seguir regras sociais; pensar sobre as consequências. 
Uma característica essencial do Transtorno de Personalidade Antissocial é a impulsividade, que poderia ser definida como uma tendência para escolhas de comportamentos que são arriscados, mal adaptados, pobremente planejados e prematuramente executados. Estudos epidemiológicos mostram que esse transtorno é comum, com 2% a 3% de comportamentos de risco durante a vida, causando sofrimento social significativo, como desagregação familiar, criminalidade e violência, (Del-Bem, 2005 apud OLIVEIRA D; 2009). 
⮚ Transtorno narcisista de personalidade 
O perfil narcisista engloba as pessoas que possuem um sentimento grandioso de sua própria existência. Assim como no transtorno histriônico, essas pessoas buscam por atenção exacerbada e geralmente exploram suas relações para benefício próprio (MAFFINI; CASSEL, 2020 apud FERNANDES J; 2020). Ainda há uma lacuna teórica no que se refere à relação entre a personalidade narcisista e a criminalidade, havendo poucos estudos e dados que tratam sobre a temática. 
Em comum com a personalidade antissocial, uma das principais características da personalidade narcisista que interessa ao Direito Penal é a falta de empatia. A ausência dessa característica é um ponto relevante que diferencia os portadores do narcisismo das pessoas comuns (OLIVEIRA, 2017; LAGOS; SCAPIN, 2017; MAFFINI; CASSEL, 2020; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). 
Outro aspecto similar entre a personalidade narcisista e a antissocial é que seus portadores são centrados em si mesmos, com expectativas irracionais de que devem ser tratados de forma especial. São indivíduos exploradores em suas relações pessoais, sendo capazes de tirar vantagens dos outros para atingir seus benefícios e desejos próprios (OLIVEIRA, 2017; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). 
Em face da existência de condutas inadequadas e pensamentos distorcidos na personalidade narcisista, caso seu portador esteja envolvido em algum ato ilícito, as características de sua personalidade devem ser analisadas pelo médico capacitado, para averiguar o grau de interferência na sua saúde mental (LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; BRASIL, 1940; GABRIEL et al., 2019apud FERNANDES J; 2020). 
No transtorno de personalidade narcisista, a terapêutica é essencialmente psicoterápica. Diferentes modalidades podem ser utilizadas, mas as principais são: psicanálise, terapia interpessoal, terapia cognitiva, terapia cognitiva comportamental, treinamento de habilidade, terapia baseada na mentalização e terapia em grupo. Um plano terapêutico deve ser elaborado e reavaliado com o tempo, envolvendo o paciente e aqueles com quem se relaciona, conforme FERNANDES J; (2020). 
A abordagem farmacológica deve ser sintomática, conforme o quadro apresentado (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2018; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). 
Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: exigir tratamento especial; ser hipervigilante ao tratamento comum (ou normal); punir os outros quando se sentirem insultados, diminuídos, disfóricos. Criticar, inferiorizar as pessoas, tentar competir e controla-las; tentar impressionar as pessoas com posses materiais, conquistas e amizades com pessoas de alto nível social, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: cooperar com os outros para alcançar um objetivo comum; trabalhar assiduamente, passo a passo, para alcançar as metas pessoais; tolerar inconveniências, frustrações, não reconhecimento; satisfazer as expectativas dos outros sem grande benefício para si próprio. 
Alguns estudos sobre pessoas com transtornos de personalidade narcisista corroboram com o APA (2003 apud OLIVEIRA D; 2009), mostrando que os sujeitos com esse transtorno apresentam um modelo inflado de autoconceito, avaliação negativa de outros, acreditam que os outros podem ameaçar seu ego (Bursten, 1982 In Joiner, Petty, Perez, Sachs-Ericsson & Rudd, 2008 apud OLIVEIRA D; 2009). Quando apresentam sintomas paranoides para manter o autoconceito elevado, geralmente associam com emoções negativas e atitudes de suspeita e raiva em direção à fonte de ameaça, possivelmente, com agressão, ansiedade e violência. 
⮚ Transtorno de personalidade histriônico 
Os portadores de personalidade histriônica são indivíduos que se comportam de forma dramática e extrovertida. Possuem facilidade de fazer amizades e conhecer pessoas novas, porém apresentam dificuldades de manter essas relações. Buscam sempre por atenção, tendendo à dramatização das emoções (SILVA; GERSEN, 2019; LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAIA et al., 2019 apud FERNANDES J; 2020). 
A personalidade histriônica apresenta excessiva emotividade, que pode interferir em uma variedade de contextos. Devido a suas características de teatralidade e expressão emocional exagerada, a atuação do psiquiatra forense é de extrema importância ao averiguar se o portador do transtorno, ao cometer o delito, teve sua capacidade de autodeterminação e auto entendimento afetada. Se constatado qualquer grau de perturbação da saúde mental, ela deverá ser documentada (SILVA; GERSEN, 2019; LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAIA et al., 2019 apud FERNANDES J; 2020). 
A forma como o histriônico se apresenta e se porta durante o exame psíquico já levanta suspeitas para o diagnóstico. Constantemente, ele utiliza sua aparência física para chamar a atenção; sua interação com os outros frequentemente se caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor, e seu discurso é excessivamente impressionista e carente de detalhes (SILVA; GERSEN, 2019; LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAIA et al., 2019 apud FERNANDES J; 2020). 
O tratamento é psicoterápico e não há hoje evidências de remissão com psicofármacos, contudo, estes podem ser usados como adjuvantes ou para tratar comorbidades. A abordagem farmacológica deve ser sintomática, conforme o quadro apresentado (ex: heteroagressividade – antipsicóticos; Síndrome depressiva antidepressivos) (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017; MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). 
Conforme OLIVEIRA D; (2009), estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: ser extremamente dramático; vestir, agir e falar de modo sedutor; divertir os outros, buscar elogios. 
Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: ser quieto, obediente; concordar com os outros; estabelecer padrões razoáveis de comportamento em relação aos outros pacientes; agir dentro dos limites normais, conforme OLIVEIRA D; (2009), 
Transtorno de personalidade histriônico, geralmente, é associado com aparência física. Em um estudo sobre esse transtorno, foram examinados critérios de atração entre as pessoas em um colégio; coerente com as expectativas, as mulheres com esse traço apresentaram-se mais atraentes do que os homens e do que as pessoas que não apresentam esse traço. Outro dado é que pessoas com esse transtorno tinham uma variada rede de suporte social, exibiram mais comportamentos negativos em relação a outras relações, mostraram maior uso de defesas imaturas, menos uso de distorção de imagem e autossacrificio (Bornstein, 1999 apud OLIVEIRA D; 2009). 
⮚ Transtorno de personalidade borderline 
Segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), transtorno de personalidade é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo, conforme GRILO M; et al., (2016).
As características mais marcantes do transtorno de personalidade Borderline estão relacionadas ao aspecto afetivo. Mudanças bruscas de humor fazem com que o indivíduo vivencie momentos de raiva e ira, que são direcionados a qualquer pessoa e/ou objetos (DALGALARRONDO; VILELA, 1999 apud GRILO M; et al., 2016). Esses episódios causam muito sofrimento e dor, levando essa pessoa a uma possível depressão e quadros de ansiedade. 
Dalgalarrondo e Vilela (1999 apud GRILO M; et al., 2016) destacaram também que a depressão vivida por pacientes com esse tipo de transtorno é resultado de um sentimento de rejeição muito forte, que faz com que o indivíduo se sinta solitário e queira se isolar cada vez mais. 
Para alguns autores, a personalidade borderline apresenta um grau de instabilidade emocional muito elevado, interferindo na capacidade de autocontrole do indivíduo, já que essa personalidade apresenta acentuada impulsividade, além de padrões de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização, conforme GRILO M; et al., (2016). 
Tal instabilidade afetiva, relacionada a um grau elevado de reatividade do humor, pode interferir na conduta da pessoa em dada circunstância. Portanto, essa raiva inadequada e intensa ou a dificuldade de controlá-la, de fato, pode interferir na sua capacidade de autodeterminação (SARMENTO et al., 2020; MAFFINI, 2020; LEITE; CAMPOS, 2016; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2018 apud FERNANDES J; 2020). 
O tratamento deve ser voltado para a psicoterapia e os fármacos podem ser usados como adjuvantes ou para tratar comorbidades. Conforme a necessidade, pode haver indicação do uso de antipsicóticos, estabilizadores do humor, benzodiazepínicos e antidepressivos. A internação também pode ser indicada quando há risco de suicídio e autoagressividade, lembrando que o encaminhamento precoce para profissionais da área da saúde pode trazer grandes benefícios (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017; MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). 
⮚ Transtorno de personalidade esquizotípica 
O transtorno de personalidade esquizotípica, conforme estudos realizados utilizando as pesquisas de Aaron Beck (BECK; FREEMAN, 1993 apud HOLANDA J; 2008), Harold Kaplan (KAPLAN, 1993 apud HOLANDA J; 2008), Michael Ebert (EBERT, 2002 apud HOLANDA J; 2008), dentre outros, é caracterizado por indivíduos que são considerados esquisitos ou estranhos, mesmo para pessoas leigas. 
Possuem o pensamento mágico (por exemplo,acreditar que um parente morto está presente ou que os outros sabem o que eles estão pensando), ilusões e desrealização fazem parte de seu mundo e apresentam noções peculiares e ideias de referência (como acreditar que acontecimentos não relacionados estão relacionados a eles de um modo significativo), ou seja, fazem interpretações incorretas de acontecimentos externos ou de incidentes casuais como se tivessem um significado particular e incomum direcionados a eles, conforme HOLANDA J; (2008). 
Essas ideias de referência devem ser diferenciadas dos delírios de referência. Alterações da percepção podem estar presentes. São indivíduos desconfiados, podendo ter ideação paranoide. Muitas vezes parecem interagir com os outros de maneira inadequada, rígida ou constrita, conforme HOLANDA J; (2008). 
Seu mundo interior pode estar pleno de relacionamentos imaginários vívidos, temores e fantasias infantis. Podem ter ilusões perceptuais ou macropsia (distúrbio visual em que o paciente vê um objeto com tamanho maior que o real). Além de poderem ser também supersticiosos ou declarar poderes de clarividência. Um paciente declarou certa vez acreditar ter o poder de curar pessoas de suas enfermidades e rezava impondo as mãos sobre estas pessoas, conforme HOLANDA J; (2008). 
Nesse transtorno, o pensamento e a comunicação estão perturbados, entretanto, as pessoas acometidas por ele podem não conhecer seus próprios sentimentos, mas serem extremamente sensíveis aos sentimentos dos outros. O discurso dessas pessoas pode ser estranho ou peculiar e ter significado apenas para elas. Mostram fracos relacionamentos interpessoais e podem agir de forma inadequada, devido a isto, são isoladas e possuem poucos ou nenhum amigo íntimo ou confidente, conforme HOLANDA J; (2008). 
Sentem desconforto na interação com outras pessoas e muitas vezes vivenciam esses relacionamentos como problemáticos. Interagem com os outros quando precisam, mas preferem ficar sozinhos, por acharem que são diferentes. Em situações pessoais que envolvem estranhos sentem-se muitas vezes ansiosos. Sua ansiedade social não cede com facilidade, mesmo passando mais tempo no contexto ou se familiarizando com as outras pessoas, porque a ansiedade tende a estar associada com suspeitas acerca das motivações dos outros, conforme HOLANDA J; (2008). 
Os aspectos mais marcantes desse transtorno são as esquisitices da 
cognição, mesmo sendo o isolamento social, o afeto contraído ou inadequado 
e o comportamento não usual as características do transtorno esquizotípico 
de personalidade. “As distorções cognitivas desse transtorno encontram-se entre as mais severas dentre todos os transtornos de personalidade” (BECK; 
FREEMAN, 1993, p. 103 apud HOLANDA J; 2008). 
Apesar dessas “esquisitices” serem similares às dos esquizofrênicos, e embora a personalidade esquizotípica seja algumas vezes observada em indivíduos com esquizofrenia antes deles adoecerem, a maioria dos adultos com uma personalidade esquizotípica não desenvolve esquizofrenia, conforme HOLANDA J; (2008). 
Pessoas com este transtorno frequentemente experimentam ilusões, como, por exemplo, pensar que estão vendo pessoas em sombras ou na estampa do papel de parede. Embora o discurso dessas pessoas seja coerente e não haja afrouxamento de associações, o indivíduo esquizotípico frequentemente é tangencial, circunstancial, tartamudo (gago) ou hiper elaborado, fazendo com que apareçam numa linguagem estranha esses tipos de cognição, conforme HOLANDA J; (2008). 
⮚ Transtorno de personalidade esquizoide (TPE) 
O transtorno da personalidade esquizoide é caracterizado por um padrão generalizado de distanciamento e desinteresse geral pelos relacionamentos sociais e uma gama limitada de emoções nas relações interpessoais. O diagnóstico é por critérios clínicos. O tratamento é com terapia cognitivo-comportamental, conforme msdmanuals: SKODOL A; (2018). 
De acordo com MAZER A; et al., (2016), o transtorno da personalidade Esquizoide caracteriza – se com estratégias de distanciamento das relações sociais e é uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais, que se manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contexto, são eles: 
⮚ Não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família, conforme MAZER A; et al., (2016). 
⮚ Quase sempre opta por atividades solitárias, conforme MAZER A; et al., (2016).
⮚ Manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com um parceiro, conforme MAZER A; et al., (2016). 
⮚ Tem prazer em poucas atividades, se alguma, conforme MAZER A; et al., (2016). 
⮚ Não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não sejam parentes em primeiro grau, conforme MAZER A; et al., (2016). 
⮚ Mostra-se indiferente a elogios ou críticas, conforme MAZER A; et al., (2016). 
⮚ Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo, conforme MAZER A; et al., (2016). 
No transtorno de personalidade esquizoide, a capacidade de se relacionar com os outros é significativamente limitada. Estima-se que cerca de 3,1% a 4,9% da população norte-americana geralmente têm transtorno da personalidade esquizoide. É ligeiramente mais comum entre os homens, conforme msdmanuals: SKODOL A; (2018). 
O transtorno da personalidade esquizoide pode ser mais comum nas pessoas com história familiar de esquizofrenia ou transtorno de personalidade esquizotípica. Comorbidades são comuns. Até metade dos pacientes tiveram pelo menos um episódio de depressão maior. Eles muitas vezes também têm outros transtornos de personalidade, mais comumente esquizotípica, paranoia, borderline ou esquivo, conforme msd manuals: SKODOL A; (2018). 
5 TERAPIA COGNITIVA FOCADA EM ESQUEMAS 
A Terapia dos Esquemas (TE), desenvolvida por Jeffrey Young é uma abordagem sistemática que amplia a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) clássica ao dar ênfase a investigação das origens dos problemas psicológicos na infância e adolescência, as técnicas emotivas, à relação terapeuta-pacientes e aos estilos desadaptativos de enfrentamento (YOUNG, KOSHO, WEISHAR, 2008 apud ISOPPO, 2012 apud SOUZA D; 2017). A TE é uma forma da TCC – terapia cognitivo comportamental de terceira onda e apresenta uma contribuição bastante relevante ao campo da personalidade e do desenvolvimento humano, e esse modelo utiliza elementos cognitivos, comportamentais, experienciais e técnicas interpessoais, através de uma forte e segura relação terapêutica para a intervenção a problemática do paciente. 
Dessa forma, trata-se de um modelo terapêutico que amplia as estratégias para o tratamento, como enfatizar a confrontação, a experiência afetiva, o relacionamento terapêutico como um veículo de mudança e a discussão de experiências iniciais da vida. (WAINER et al, 2016; KNAPP et al 2008, PAIM et al, 2012 apud SOUZA D; 2017). 
A TE é uma proposta inovadora e integradora que potencializa os tratamentos cognitivos comportamentais utilizando das escolas cognitivo-comportamental, de apego, da gestalt, de relações objetais, construtivista e psicanalítica em um modelo conceitual de tratamento, ela proporciona um novo sistema psicoterápico especialmente adequado a pacientes com transtornos da personalidade ou com problemas caracterológicos complexos, que eram considerados difíceis de se tratar. A TE pode ser breve, de médio ou de longo prazo, ela ajuda pacientes e terapeutas a entender seus problemas crônicos e a organizá-los de maneira compreensível, conforme SOUZA D; (2017). 
Portanto, a terapia do esquema teve seu surgimento calcado nas práticas cognitivo comportamentais e nas experiências clínicas de Jeffrey Young, que percebeu a necessidade de amplificar a visão de tratamento de questões relacionadas a padrões de comportamento de longa data e problemas emocionais, conforme ABREU E; (2019). 
A linha integra um recente grupo dentro das terapias cognitivo comportamentais que se dedicam prioritariamente para o entendimento biológicoe relacional do desenvolvimento de problemas caracterológicos crônicos (Young et al., 2008; Martin & Young, 2010 apud ABREU E; 2019). Dentre os principais conceitos da terapia do esquema, Young (2003 apud ABREU E; 2019) propõe que estejam seis construtos teóricos. Estes são:
⮚ Os esquemas iniciais desadaptativos, conforme ABREU E; (2019). 
⮚ Os domínios de um esquema, conforme ABREU E; (2019). 
⮚ A manutenção de um esquema, conforme ABREU E; (2019). 
⮚ A evitação de um esquema, conforme ABREU E; (2019). 
⮚ A compensação de um esquema, conforme ABREU E; (2019). 
⮚ Os modos esquemáticos, conforme ABREU E; (2019). 
Os esquemas correspondem a forma como o sujeito irá responder a situações e comportar-se no tempo e no espaço, vivenciando suas experiências de maneira significativa. Contudo, eles não precisam, necessariamente, manterem-se ativos durante todo o tempo, podendo apresentar-se de modo inativo por curtos ou longos períodos, mas sempre estarão presentes no modo com interpretamos as situações do cotidiano. São considerados como traços de nossa personalidade e conceituados também como um construto pessoal, que determina o modo como o indivíduo percebe a si e ao outro, conforme ABREU E; (2019). 
	
Estes esquemas são originados a partir das experiências pessoais 
relacionadas com o atendimento das necessidades emocionais 
fundamentais, e do modo com que estas são acolhidas (Young, 2003; Leahy, 2006; Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019).	
Fonte: repositorio.ucs.br - baseado em Young, 2003; Young et al., 2008 apud ABREU E; (2019). 
A necessidade de aceitação e reconhecimento foi fundamentada nos princípios propostos por John Bowlby (1979 apud ABREU E; 2019) na teoria do apego, visto que utiliza como base que para um desenvolvimento adequado da personalidade do sujeito, é preciso que este tenha estabelecido um vínculo saudável de apego com seus cuidadores. Essas formas de apego irão acompanhá-lo ao longo de sua vida. 
Elas são divididas em quatro categorias, sendo a primeira delas o apego seguro, o tipo mais adequado, visto que a criança precisa da presença de sua figura de referência, mas que consegue distanciar-se do mesmo e explorar o ambiente, mesmo que em um curto período de tempo. A segunda categoria é o apego ansioso ou ambivalente, no qual a criança fica extremamente mobilizada na ausência de seu cuidador, vendo o distanciamento deste como uma ameaça. A terceira categoria refere-se ao apego inseguro evitativo, no qual a criança desconsidera o distanciamento do cuidador, podendo substituí-lo por um estranho, sendo característico de indivíduos com esquemas em domínio de desconexão e rejeição, conforme ABREU E; (2019). 
Por fim, há o apego desorganizado, que ocorre principalmente nas situações de maus-tratos, no qual a criança recebe informações dúbias, visto que o cuidador é sua referência de apego e ao mesmo tempo comete delitos contra si, fazendo com que a mesmo passe a desconfiar dos relacionamentos que tem com os demais (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Vale destacar que estas tarefas estão intimamente relacionadas com as características biológicas e com o temperamento do indivíduo, que possuem impacto no desenvolvimento de alguns destes esquemas e as diferenças nos temperamentos, que fazem com que as crianças reajam diferentemente a circunstâncias de vida semelhantes. É a interação entre temperamento e eventos precoces da vida que produz diferentes estilos de enfrentamento (Young, 2003; Martin & Young, 2010 apud ABREU E; 2019). 
No que tange as contribuições da terapia do esquema para com o desenvolvimento da personalidade do indivíduo tem-se que, seja ela salutar ou patológica, o papel do temperamento inato é de extrema importância. A formação da personalidade ocorre de maneira genuína e autêntica, embasada na genética do indivíduo. Ou seja, com base nas heranças genéticas o temperamento é desenvolvido, e juntamente com o ambiente em que o sujeito está inserido, são originados os aspectos comportamentais, emocionais, cognitivos e motivacionais de cada sujeito (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019).
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O temperamento, para estudiosos da TE, é considerado como um determinante biológico da personalidade, que não poderá ser totalmente transformado através da interação e das influências do ambiente em que o sujeito está inserido. É tido como uma tendência genética que pode ou não ser amplificada, reduzida, encoberta ou expressa tal como é, mas que nunca será extinto. Além disso, é o temperamento que determinará a quantidade que o sujeito carece de suas necessidades emocionais fundamentais para cada uma de suas fases de desenvolvimento (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
Desta forma, a família ou os cuidadores primários do infante desempenham um papel primordial na formação de sua personalidade, já que as primeiras experiências são vivenciadas com os pais, com os irmãos (caso tenha), com os parentes, com os amigos mais próximos e, no início da vida escolar, com os professores. Contudo, é necessário frisar que a tarefa destes indivíduos é extremamente exigente, visto que para cada momento do desenvolvimento da criança, é necessário que uma necessidade diferente seja atendida de forma integral e adequada (Young et al., 2008; Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Outro importante conceito para a TE refere-se aos esquemas iniciais desadaptativos [EIDs], também chamados de esquemas desadaptativos remotos, que são concebidos por Young (2003 apud ABREU E; 2019) como as estruturas mais profundas da cognição. Relacionam-se com conteúdos estáveis e duradouros, elaborados desde o período da infância. Mesmo assim, ao longo da vida eles vão sendo perpetuados ou modificados, e, caso permaneçam disfuncionais, tem um grande impacto negativo na vida do sujeito. Eles são utilizados para enfrentar situações posteriores (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
Os EIDs apresentam algumas características relevantes, sendo considerados como “crenças e sentimentos incondicionais sobre si mesmo em relação ao ambiente” (Young, 2003, p.16 apud ABREU E; 2019). São julgados como verdades incontestáveis, tornando-se incondicionais e rígidos e, por excelência, são resultados das origens biológicas aliado ao não atendimento, ou de forma parcial ou inadequada, das necessidades emocionais fundamentais quando criança. São esquemas inconscientes, visto que são desenvolvidos em um nível emocional e apresentam uma elevada dificuldade de mudança, visto que estão inseridos no centro da personalidade do sujeito, constituindo-a. Graças a isso, durante o processo terapêutico, alguns indivíduos demonstram resistência em modificar seus EIDS, procurando invalidar as intervenções para manter os esquemas, conforme ABREU E; (2019). 
São os EIDs que estão na origem das respostas emocionais e 
comportamentais disfuncionais e para que eles sejam ativados, é necessário 
a ocorrência de uma situação desencadeante de efeito relevante, estando 
intimamente ligada ao afeto (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 
Os EIDS são identificados através dos sintomas atuais e da compreensão da origem destes e dos padrões cognitivos do sujeito e estão reunidos em cinco domínios, em concordância com as cinco necessidades não atendidas das crianças (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). Conceitualmente, domínios são períodos entre a infância e à adolescência, nos quais algumas exigências psíquicas precisam ser atingidas, seja pelos cuidadores do indivíduo ou pelo ambiente em que está inserido, visando o desenvolvimento e a promoção de esquemas mentais saudáveis (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
Estes estão descritos na Tabela abaixo:
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Fonte: Elaborada pela autora (baseada em Young, Klosko e Weishaar, 2008 apud ABREU E; 2019). 
Normalmente, os EIDs desenvolvidos no primeiro domínio estão relacionados às famílias de origem que apresentam características de vivências de relações instáveis, com presença de abusos de diferentes ordens, sem uma proximidade emocional, tratandoseus filhos com frieza e/ou rejeição. Este é o domínio no qual os pacientes costumam apresentar maiores danos, visto que, em função do modo com que aprenderam a se relacionar, vivenciam experiências autodestrutivas ou buscam isolar-se de relacionamentos íntimos (Young, 2003; Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
Já em relação aos EIDs do segundo domínio, percebe-se a presença de famílias típicas que costumam atender a todas as necessidades e vontades 
do indivíduo demasiadamente, superprotegendo-o, ou, em um número significativamente menor, não prestam a devida assistência a ele (Young, 
2003 apud ABREU E; 2019).
O traço marcante nas famílias nucleares dos EIDs do terceiro domínio é uma permissividade ou indulgência exacerbada. Já no quarto domínio, a característica central nas famílias de origem refere-se à falta de liberdade para seguir seus próprios desejos (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
Os EIDs desenvolvidos no quinto e último domínio, normalmente referem-se à presença de excessiva severidade, repressão e rigidez por parte de seus cuidadores, sendo que os mesmos passam a ver as situações de sua vida de modo negativo e triste, em função das características listadas anteriormente (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
Em suma, os esquemas iniciais, sejam eles adaptativos ou desadaptativos, são constituídos a partir do temperamento e da herança filogenética do indivíduo, do modo com que suas necessidades emocionais fundamentais foram atendidas, de sua exposição a experiências continuadas, sejam elas traumáticas ou positivas, e da influência de seus cuidadores (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). Os esquemas iniciais desadaptativos são conservados a partir de um mecanismo denominado de processos esquemáticos. Estes foram desenvolvidos a partir da melhor solução encontrada para sanar a situação desorganizadora vivenciada na infância, visando à adaptação do sujeito ao seu ambiente. Sendo assim, percebe-se que nosso cérebro utiliza o que conceituamos como economia psíquica, ou seja, lança mão de estratégias que funcionaram na infância para enfrentar situações ansiogênicas e desorganizantes na vida adulta. Porém, na maioria das vezes, não se obtém sucesso na nova fase, pois o ambiente relacional em que está inserido está modificado (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Ressalta-se que todos os mecanismos utilizados para enfrentar os esquemas ocorrem de forma inconsciente. Um destes processos é denominado como manutenção ou resignação. Como os EIDs são centrais para a organização da personalidade, o sujeito busca, através deste mecanismo, reforça-los e isso pode ocorrer de duas maneiras distintas: pelas distorções cognitivas e/ou pelos padrões de vida autoderrotistas, conforme ABREU E; (2019). 
É essa característica do esquema que explica a rigidez dos transtornos de personalidade (Arntz & Jacob, 2013 apud ABREU E; 2019). Nas distorções cognitivas, conceito que se originou no cognitivismo, o sujeito tem uma percepção equivocada das situações, dando ênfase ou suprimindo as informações, visando sempre confirmar seu esquema, sendo um processo que ocorre na esfera cognitiva. São exemplos de distorções a catastrofização, a desqualificação do positivo, a emocionalização e o uso de filtro mental. 
Nos padrões de vida autoderrotistas, o indivíduo recorre a situações ou relacionamentos, de forma inconsciente, que deem continuidade e reforcem esse EID, sendo um processo de ordem comportamental. Um exemplo comum é a escolha de um parceiro crítico e exigente, quando a pessoa possui um forte esquema de defectividade ou vergonha (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 
Outro processo esquemático que ocorre com os EIDs é a evitação. Ele é 
ativado visando minimizar a mobilização de elevados níveis de afeto, que 
normalmente ocorrem de maneira negativa. Com ele o sujeito evita situações, 
informações e/ou pessoas, através de processos cognitivos, afetivos ou 
comportamentais. Isso possibilita que o indivíduo não se depare com as 
consequências negativas desencadeadas pela ativação de seu EID (Martin & 
Young, 2010 apud ABREU E; 2019). 
Ainda podemos citar como um estilo de enfrentamento a um esquema inicial desadaptativo, o mecanismo de compensação. Ele é caracterizado por apresentar “comportamentos e cognições diametralmente opostos ao que seria esperado para o esquema” (Wainer & Rijo, 2016, p. 52 apud ABREU E; 2019), os quais são utilizados para compensá-lo. Pode ser empregado de forma funcional, visando o atendimento de necessidades que não foram contempladas anteriormente, contudo, na maioria dos casos, ocorre uma hipercompensação, adquirindo um caráter negativo de seu uso. 
Os EIDs podem ser identificados por meio de diversas técnicas. Uma das principais consiste no Questionário de Esquemas de Young (YSQ-S3), desenvolvido pelo criador da TE. Foi produzido em duas formas, sendo a primeira, denominada de forma longa, apresentando 205 perguntas a serem respondidas e a segunda, reduzida, contando com 75 perguntas, conforme ABREU E; (2019). 
Todavia, ambas apresentam a mesma função, que se concentra na descoberta dos principais esquemas presentes na personalidade daquele indivíduo. Outra técnica é chamada de “Flecha Descendente”, que através de questionamentos visa-se chegar ao esquema nuclear do sujeito, ou através da técnica de observação de consistência na forma como o indivíduo vê a si e aos outros (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 
Após a apresentação de alguns dos principais conceitos da TE, é importante salientar que a chance de que o sujeito venha a desenvolver um transtorno de personalidade está intimamente ligada à exposição ao estresse precoce na infância, seja qual a forma assumida por ele, ou a deficiência no atendimento a suas necessidades básicas, conforme ABREU E; (2019). 
As principais formas de estresse na infância são a ocorrência de abusos, sejam eles físicos, sexuais ou emocionais e a negligência física e emocional. Estes diferentes modos de maus-tratos acabam por maximizar os riscos de desenvolvimento de comportamentos de agressão e/ou impulsividade, ou de depressão e ansiedade (Young et al., 2008; Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Há ainda o conceito de modos esquemáticos para ser explorado, que foi desenvolvido a partir de estudos com pessoas diagnosticadas com transtorno de personalidade borderline. Devido à instabilidade dos traços – esquemas – e da labilidade emocional presente nestes indivíduos, optou-se por categorizar os diferentes modos de enfrentamento, como modelos de estado (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
5.1 Os esquemas e sua biologia 
Iremos abordar neste tópico uma visão biológica dos esquemas, que foram embasadas em pesquisas recentes referentes emoção e biologia do cérebro. Realçamos que se trata de hipóteses sobre possíveis mecanismos de desenvolvimento e modificação de esquemas, já que ainda não se concretizaram pesquisas para fundar se estas suposições são validas. Porém, pesquisas atualizadas sugerem que não existe apenas um sistema emocional no cérebro, e sim, diversos (LEDOUX apud YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). 
Diferentes emoções relacionam-se com distintas funções de sobrevivência – 
como responder ao perigo, encontrar comida, fazer sexo e encontrar 
parceiros, cuidar dos filhos, estabelecer laços sociais, - e cada uma delas 
parece mediada por sua própria rede cerebral (YOUNG; KLOSKO e 
WEISHAAR, 2008, p. 38-39 apud MACHADO L; 2016). 
Em momentos de transição do século XIX para o XX, foram apresentadas as derradeiras teorias neuropsicológicas das emoções, com destaque aos sentimentos de William James e Carl Lange, para os quais a experimento emocional individual constituiria em aparições comportamentais e fisiológicas (ou seja, se sorri é porque se esta alegre), bem como às ideias de Phillip Barde Walter Cannon que estabeleceram que o Sistema Nervoso Central determinasse tanto a experiência subjetiva quanto as aparições fisiológicas e comportamentais(ESPERIDIÃO et al, 2007 apud MACHADO L; 2016). 
Os sistemas cerebrais relacionados ao condicionamento do medo e trauma, em estudos sobre a biologia do cérebro apontam partes onde pode ocorrer acionamento de esquemas baseados em eventos traumáticos de infância, como abandono ou abuso. Em resumo da pesquisa sobre a biologia das memórias traumáticas, escreve durante uma situação de aprendizagem traumática, as memórias conscientes são estabelecidas por um sistema que envolve o hipocampo e as áreas corticais relacionadas, ao passo que as memórias inconscientes são estabelecidas por mecanismos de condicionamento do medo que operam por meio de um sistema baseado nas amígdalas. Esses dois sistemas operam em paralelo e armazenam diferentes tipos de informação relacionada à experiência, conforme MACHADO L; (2016). 
Quando os estímulos presentes durante o trauma inicial são encontrados 
mais tarde, cada sistema é potencialmente capaz de recuperar suas 
memórias. No caso do sistema amigdalino, a recuperação resulta na 
expressão de respostas corporais que preparam para o perigo e, no caso do 
sistema do hipocampo, ocorrem lembranças conscientes. Dessa forma, os 
mecanismos cerebrais que registram, armazenam e recuperam memórias da 
importância emocional de um evento traumático diferem dos mecanismos que 
processam memórias e cognições conscientes sobre o mesmo evento. A 
amígdala armazena a memória emocional, enquanto o hipocampo e o 
neocortéx armazenam a memória cognitiva. As respostas emocionais podem 
ocorrer sem a participação de sistemas de processamento superior do cérebro, 
envolvidos no pensamento, no raciocínio e na consciência (LEDOUX 
apud YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008, p. 39 apud MACHADO L; 2016). 
Utilizando destas pesquisas algumas implicações possíveis para teoria dos esquemas, desenvolvemos um esquema com um conjunto de memórias, emoções sensações corporais e cognições que giram em torno de um ponto na infância. Pode se definir a biologia cerebral de um esquema da seguinte forma, quando um indivíduo encontra estímulos reminiscentes dos eventos da infância que levaram ao desenvolvimento do esquema, as emoções e sensações corporais associadas ao evento são ativadas inconscientemente pelo sistema amigdaliano: se o indivíduo está consciente delas, as emoções e sensações corporais ativa-se mais rapidamente do que as cognições, conforme MACHADO L; (2016).
Essa ativação das emoções e sensações corporais é automática e, 
provavelmente constituirá uma característica permanente da vida do 
indivíduo, embora o grau de ativação possa ser reduzido com a cura do 
esquema. Por sua vez, as memórias e as cognições conscientes associadas 
ao trauma armazenam-se no sistema hipocampal e nos córtices superiores 
(YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008, p. 41 apud MACHADO L; 2016). 
Esperidião et al (2007 apud MACHADO L; 2016) apresenta que os sistemas das emoções parecem estar organizados em rede; onde não existem elementos que digam como ele funciona especificamente, ou seja, todos os meios desempenham papéis de desencadeamento semelhantes entre si. Compreendendo-se assim, que esses sistemas dependem da uniformidade de seus componentes de uma maneira complexa, não hierárquica, necessitando de mais estudos e esclarecimentos a respeito. 
Devido ao fato de aspectos emocionais e cognitivos da experiência traumática vivenciada, localizarem-se em diferentes sistemas cerebrais, pode-se explicar a impossibilidade de se alterarem os esquemas por meio do método cognitivo simples. Além disso, os componentes cognitivos de um esquema, muitas vezes, desenvolvem se mais tarde, após as emoções e as sensações corporais já estiverem registradas na amigdala (YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). 
As emoções mais “primitivas” e bem estudadas pelos neurofisiologistas com a finalidade de estabelecer suas relações com o funcionamento cerebral são 
a sensação de recompensa (prazer, satisfação) e de punição (desgosto, 
aversão), tendo sido caracterizado, para cada uma delas, um circuito 
encefálico específico (ESPERIDIÃO, 2007, p.58 apud MACHADO L; 2016). 
Vários esquemas se desenvolvem em uma etapa pré-verbal, originando-se antes que a criança adquira a linguagem. Os esquemas pré-verbais aparecem quando a criança ainda é muito pequena e tudo que esta armazenado são memórias, emoções e sensações corporais. As cognições aparecem posteriormente, quando a criança começa a pensar e falar palavras. Sendo assim, as emoções têm primazia em relação às cognições no trabalho com muitos esquemas (YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). 
Quando se ativa um esquema desadaptativo remoto, o indivíduo é inundado 
por emoções e sensações corporais. A pessoa pode conectar 
conscientemente ou não as emoções e sensações corporais à memória 
original. As memórias encontram-se no coração dos esquemas, mas, via de 
regra, não estão explícitas na consciência, mesmo sob a forma de imagens 
(YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016).		
Um entendimento global referente às bases biológicas e as influências diferenciadas tanto nas aprendizagens diretas como daquelas obtida pelos exemplos dos pais/cuidadores desde o nascimento até a adolescência. A terapia dos esquemas destaca a complexidade intrínseca a constituição de uma identidade individual funcional aos mais diversos contextos. Também denota a intensa tarefa de pais/cuidadores e familiares, uma vez que a cada um dos cinco momentos críticos do desenvolvimento da criança (DEs) há de se fornecer necessidades emocionais distintas e com graus diferenciados de acordo com a própria natureza do filho (WAINER et al, 2016 apud MACHADO L; 2016). 
5.2 Modos esquemáticos 	
Como um último conceito principal da TE, temos os modos esquemáticos, também chamados de modos dos esquemas. Estes são um conjunto de esquemas e de suas respostas de enfrentamento, que são utilizados quando um número elevado de esquemas é ativado e o sujeito torna-se resistente (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
O conceito de modo esquemático é definido como uma junção entre esquemas iniciais desadaptativos e de processos esquemáticos, que demonstram um modelo particular e específico de como um sujeito funciona, sendo ativados, principalmente, quando há a ocorrência de situações que envolvam elevado grau de afeto (denominadas situações de ativação emocional). Este modo compreende desde sentimentos e pensamentos, até as maneiras (saudável ou patológica) como que ele irá lidar com o cenário de seu cotidiano (Roedger & Stevens, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Os modos são os estados emocionais predominantes em um momento específico. Estes são utilizados de forma desadaptativa quando necessidades primordiais não cumpridas ativam e acionam os esquemas disfuncionais. Assim, funcionam como tentativas de evitar ou lidar com as frustrações do não preenchimento das necessidades emocionais fundamentais (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Eles estão divididos em quatro categorias, totalizando 10 modos de esquemas, como demonstra na imagem abaixo: 
 
Acerca do primeiro grupo, é válido destacar que para diminuir a ativação do modo criança zangada, é necessário identificar o modo criança vulnerável. Outro fato merecedor de destaque é de que quanto mais grave é o transtorno da personalidade, mais vezes os modos de enfrentamento desadaptativos serão acionados (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
A contribuição dos modos esquemáticos para a compreensão da dinâmica do casal é efetivada no entendimento consciente e emocional dos processos esquemáticos e dos EIDs presentes na relação conjugal, para que assim, seja possível identificar, explorar e expor as vulnerabilidades e necessidades presentes em cada parceiro, para que estes possam desenvolver estratégias adequadas para propor uma reparentalização assertiva, conforme ABREU E; (2019). 
Assim, acessando o modo criança vulnerável, os parceiros podem realizar essa identificação e atuar nomodo adulto saudável, sendo um agente reparentalizador de tal necessidade ou vulnerabilidade (Paim, 2016 apud ABREU E; 2019).
5.3 O Modelo Cognitivo das Psicopatologias 
De acordo com o modelo cognitivo das psicopatologias, as diferenças entre os transtornos estão no conteúdo dos esquemas e crenças mal-adaptativos e nas interpretações enviesadas associadas a cada transtorno. Enquanto na depressão os esquemas mal- adaptativos estão relacionados a uma visão negativista, por exemplo, na ansiedade estão relacionados à vulnerabilidade e ao medo de ameaças físicas ou psicológicas (A. Beck, 1976, conforme citado em Clark, A. Beck & Brown, 1989 apud PERES A; 2008). 
Os significados atribuídos aos eventos a partir da visão e temas negativistas idiossincráticos descobertos por meio de observações de pacientes deprimidos estão relacionados a questões sociais vitais, como fracasso e sucesso, aceitação e rejeição, respeito ou desdém (A. Beck, 1991 apud PERES A; 2008). 
Diversos modelos teóricos cognitivos de psicopatologias foram propostos e 
todos davam destaque ao papel fundamental da mediação cognitiva nas respostas comportamentais e afetivas. Os modelos diferenciam-se no 
que diz respeito à explicação dada a essa mediação (Clark e cols., 1989 apud PERES A; 2008). 
As abordagens psicoterápicas cognitivas pressupõem que fatores cognitivos específicos estão fortemente relacionados à etiologia, curso e tratamento dos transtornos psicológicos. Ainda, diversas pesquisas apontam que as variáveis cognitivas são importantes determinantes das disfunções emocionais (Ingram, Kendall, Smith, Donnel, & Ronan, 1987 apud PERES A; 2008). 
De acordo com Ingram e Kendall (1986, conforme citado em Clark e cols., 1989 apud PERES A; 2008) as variáveis cognitivas podem ser divididas, em sua maioria, em termos de estrutura e conteúdo, operação e produto do sistema de processamento de informações. Variáveis de estrutura e conteúdo referem-se, respectivamente, a forma de organização interna das informações (esquemas ou redes associativas, por exemplo) e aos conteúdos armazenados nessas estruturas. As variáveis de operação referem-se aos processos envolvidos no sistema de processamento de informações, enquanto produtos são as variáveis resultantes desses processos (pensamentos automáticos, crenças e imagens, por exemplo). 
Na visão da terapia cognitiva (A. Beck, 1967, 1976, 1987 apud PERES A; 2008), a mediação cognitiva envolve a interação das variáveis relacionadas à estrutura, tema, operação e produto num sistema de processamento de informações defectível. Em outras palavras, estruturas funcionais (esquemas) direcionam a seleção, codificação, organização e recuperação (memória) de estímulos (A. Beck e cols., 1982; Clark e cols., 1989 apud PERES A; 2008). 
5.4 Esquemas e Crenças 	
Nas psicopatologias, o sistema de processamento de informações defectível é ativado por estruturas (os esquemas) cognitivas mal adaptativas. Consequentemente, a consciência é dominada pelos produtos (crenças e imagens) resultantes desse processamento. Desta forma, a atribuição de significados constitui uma rede de símbolos, crenças, suposições, fórmulas e regras conectadas a memórias. Essas crenças são formadas cedo na vida e se encaixam em uma estrutura, denominada de esquema cognitivo, não apenas pelo seu conteúdo, mas pela valência, densidade, flexibilidade e permeabilidade (A. Beck, 1991 apud PERES A; 2008). 
Os esquemas cognitivos existem em um estado latente, considerando a continuidade do conteúdo das crenças a cada recorrência da psicopatologia. Além disso, quando esses esquemas são ativados por alguma experiência, eles precipitam a ocorrência do transtorno. Consequentemente, as interpretações de quaisquer experiências serão feitas de acordo com os esquemas cognitivos correspondentes (A. Beck, 1991 apud PERES A; 2008). 
Os esquemas podem ser caracterizados quanto ao seu conteúdo, que pode estar ligado a relacionamentos pessoais (outras pessoas ou o self) ou impessoais (objetos e tarefas, por exemplo). Podem ser concretos (objetos, por exemplo) ou abstratos (ética e moral, por exemplo). Os esquemas possuem qualidades estruturais como amplitude (estreita, moderada e ampla), flexibilidade ou rigidez (relacionada a sua capacidade de modificação) e densidade (seu papel central na organização cognitiva). Os esquemas também podem ser considerados em termos de sua valência ou nível de ativação (em um continuum de latente a hipervalente) (A. Beck & Freeman, 1993; A. Beck, Freeman & Davis, 2005 apud PERES A; 2008). Ainda, os esquemas se organizam de acordo com sua função e conteúdo, por exemplo: avaliação de si, avaliação dos outros, memórias. 
A. T. Beck e cols. (1982 apud PERES A; 2008) introduziram o conceito de esquemas na terapia cognitiva, creditando sua origem ao trabalho de Piaget (1950). No entanto, segundo Harvey e cols. (1961 apud PERES A; 2008) (conforme citado em Padesky, 1994 apud PERES A; 2008), A. T. Beck formulou um novo construto ao definir que esquemas são as estruturas que codificam e avaliam os estímulos submetidos ao organismo, organizando o ambiente em diversas facetas psicologicamente relevantes. É através dos esquemas que os indivíduos são capazes de categorizar e interpretar suas experiências. 
Em trabalhos posteriores de A. T. Beck e seus colaboradores definiram esquemas como padrões cognitivos estáveis e regras específicas que orientam o processamento de informações e o comportamento (Beck e cols., 1979, conforme citado em Padesky,1994; A. Beck & Freeman, 1993; A. Beck, Freeman & Davis, 2005 apud PERES A; 2008). 
Padesky (1994 apud PERES A; 2008) faz uma diferenciação, que considera clinicamente útil entre esquemas (crenças centrais), suposições adjacentes (crenças condicionais) e pensamentos automáticos. A pesquisadora considera que os dois tipos de crenças são teoricamente similares, conquanto sejam estruturas cognitivamente mais profundas que os pensamentos automáticos. 
As crenças fazem com que os indivíduos ignorem e não reconheçam dados contrários a própria crença e que, principalmente, foquem, de modo seletivo, dados que confirmem sua visão (J. Beck, 1997; 2005 apud PERES A; 2008). De acordo com a formulação cognitiva, os pensamentos automáticos resultam da interação de crenças (pensamentos) e situações simbólicas (imagens). 
No entanto, segundo Padesky (1994 apud PERES A; 2008), a avaliação e modificação de crenças centrais e de crenças condicionais requerem processos terapêuticos diferenciados. Enquanto o trabalho com crenças condicionais pode se beneficiar de estratégias comportamentais, o mesmo não ocorre com as crenças centrais, que devem ser alvo de técnicas cognitivas. Como já destacado, os esquemas cognitivos fazem parte do desenvolvimento cognitivo normal, como forma de entender e organizar o mundo, agrupando experiências em categorias. Assim, os esquemas não estão necessariamente relacionados a questões patológicas (Padesky, 1994 apud PERES A; 2008). 
As crenças centrais são os esquemas de maior interesse para a clínica cognitiva, já que estão relacionadas intimamente aos estados afetivos e aos padrões comportamentais. Esses esquemas desempenham um papel central na manutenção das psicopatologias e problemas psicológicos (Padesky, 1994 apud PERES A; 2008), uma vez que determinam a forma como iremos processar as informações. 
Os esquemas são mantidos mesmo quando expostos a evidências que os contradizem, pois provocam a distorção e a censura de informações contraditórias ou simplesmente as interpretam como exceções à regra esquemática e normativa imposta por eles (A. Beck & Freeman, 1993; A. Beck, Freeman & Davis, 2005; Padesky, 1994 apud PERES A; 2008). 
5.5 Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) 
Os esquemas iniciais desadaptativos são definidos como um conjunto de crenças referentes a temas centrais do desenvolvimento emocional que constituem repertórios comportamentais, cognitivos e emocionais para lidar com determinadosestímulos que surgirem no decorrer da vida do indivíduo, conforme BARBOSA E; (2019). 
É importante considerar que os EIDs não são resultados de traumas ou maus tratos, mas a partir de experiências inadequadas e continuadas na família (WAINER, et. al., 2016 apud BARBOSA E; 2019). Ademais, são formados por memórias, emoções e sensações corporais, relacionados a si e aos outros, desenvolvido na infância e adolescência, elaborado ao longo da vida do indivíduo (YOUNG et. al., 2008 apud BARBOSA E; 2019). 
Os esquemas primitivos são um conjunto de crenças profundamente enraizadas que fundamentam o autoconceito e o modelo de self. A manutenção destes esquemas também pode ser vista a partir de distorções no processamento de informações: “Portanto, as distorções cognitivas identificadas por A. Beck (1967) na TC são importantes mecanismos mantenedores do esquema, sendo as informações distorcidas para mantê-lo intacto no processo que Young denominou subordinação ao esquema (CALLEGARO, 2005 apud BARBOSA E; 2019) ”.
	
Young et. al., 2008, referem que os esquemas influenciam de forma 
significativa na maneira como os indivíduos pensam, sentem, agem e se 
relacionam socialmente. Os esquemas desenvolvidos são ativados quando a 
pessoa se depara com estímulos que remetem aos ambientes de sua infância 
que foram produtores desses esquemas. Ocorrendo isto, o indivíduo é 
tomado por intensos sentimentos negativos. Durante o desenvolvimento da 
personalidade, as diferentes influências serão repercutidas de formas 
diferentes, conforme o momento cronológico de vida do indivíduo. Existem 
momentos críticos e específicos ao longo da infância e adolescência que 
predispõe a formação de determinado esquema (YOUNG, 1999 apud 
WAINER, 2016 apud BARBOSA E; 2019). 	
De acordo com BARBOSA E; 2019, a esses períodos dá-se a denominação de domínios esquemáticos (DEs), que são intervalos temporais, em referências aos EIDs respectivos: 
DESCONEXÃO E REJEIÇÃO: Neste domínio, as necessidades básicas de amor, segurança, cuidado, afeto, proteção, expressão e compartilhamento de sentimentos, pertencimento social, espontaneidade, reconhecimento e respeito não foram satisfatoriamente supridas. Os esquemas pertencentes a este domínio são: Privação Emocional, Desconfiança/Abuso, Inibição Emocional, Defectividade/Vergonha, Isolamento/Alienação Social. A família típica de origem: emocionalmente desconectada e distante, fria, com falta de empatia, rejeitadora, crítica, negligente, solitária ou abusiva, conforme BARBOSA E; (2019). 
AUTONOMIA E DESEMPENHO PREJUDICADOS: Visão de si, dos outros e do ambiente prejudicadas, interferindo sobre a capacidade de agir de forma independente, de ser bem-sucedido no que se refere a conquistas pessoais/profissionais e de expressar seus próprios sentimentos e necessidades livremente. Está presente o medo de ser abandonado, ficar sozinho e acreditar que o mundo é perigoso, conforme BARBOSA E; (2019). 
Os esquemas pertencentes a este domínio são: Dependência/Incompetência, Abandono/Instabilidade, Vulnerabilidade ao Dano ou Doença, Emaranhamento / Self Subdesenvolvido, Fracasso, Subjugação/Invalidação. A família típica de origem: superprotetora, emaranhada, falha no reconhecimento das conquistas, altamente controladora, focada em perigos pouco comuns ou irrealistas e invalidante quando a criança expressa seus próprios sentimentos e necessidades, conforme BARBOSA E; (2019).
LIMITES PREJUDICADOS: Os indivíduos se percebem como tendo direitos especiais ou se auto engrandecem ou comportam-se de forma impulsiva e indisciplinada. Apresentam dificuldades em respeitar os direitos dos outros, de cooperar e controlar suas próprias emoções. Os esquemas pertencentes a este domínio são: Arrogo/grandiosidade, Autocontrole/autodisciplina insuficientes. A família típica de origem: Os pais normalmente não oferecem confrontação, disciplina, consequências negativas e limites, conforme BARBOSA E; (2019). 
PADRÕES E RESPONSABILIDADES EXCESSIVAS: Existe ênfase excessiva em atingir expectativas e regras rígidas a respeito do desempenho em muitos aspectos da vida. Assim como um foco exagerado na responsabilização pelo outro, deixando de cumprir suas necessidades em prol do outro. Os esquemas pertencentes a este domínio são: Autossacrificio, padrões inflexíveis/hipercriticismo, conforme BARBOSA E; (2019). 
A família típica de origem: exigente, crítica e às vezes punitiva, com padrões muito elevados; ou possuem a expectativa de que a criança deva sacrificar suas próprias necessidades na maior parte do tempo para cuidar dos outros. Além destes há também outros 3 esquemas que não estão em nenhum domínio devido a carência de mais estudos culturais para inserção deles, que são: busca de aprovação/ reconhecimento, negatividade/pessimismo, postura punitiva (SOUZA; DAMASCENO; OLIVEIRA, 2018 apud BARBOSA E; 2019). 
O suprimento das necessidades básicas, assim como o cuidado e amor dos pais terão impacto direto nas habilidades de conexão e autocuidado do indivíduo ao enfrentar fatores desencadeantes de estresse na vida adulta. Entretanto, há ainda uma visão romantizada na sociedade, de que a infância é a melhor fase do desenvolvimento, pois são livres de estresse e responsabilidades, sendo contrariada pelos diversos dados de abusos e maus-tratos ocorridos na infância, além de situações aversivas e conturbadas que podem ocorrer nos mais diversos contextos e podem ter sua relevância minimizada (WAINER, et. al., 2016 apud BARBOSA E; 2019). 
A literatura na área demonstra como os esquemas desadaptativos podem contribuir para o desenvolvimento de psicopatologias e situações de risco na fase adulta. Alguns deles são: uso de substâncias químicas (LIMA; FERREIRA, 2015); violência conjugal (PAIM, 2014 apud BARBOSA E; 2019), estresse pós-traumático (SUSIN; CARVALHO E KRISTENSEN, 2014 apud BARBOSA E; 2019); transtornos da Personalidade Borderline e Narcisista (YOUNG, 2008 apud BARBOSA E; 2019); entre outros. 
Em um estudo realizado por Sá, Bordin, Martin e Paula (2010 apud BARBOSA E; 2019) referente à fatores de risco para problemas de saúde mental na infância e adolescência, concluiu que mães que apresentam problemas de saúde mental como depressão, ansiedade e ideação suicida têm filhos que também apresentam problemas de saúde mental. Assim como, filhos que presenciam violência conjugal e sofrem de violências físicas apresentam maior risco a desenvolver transtornos. 
A partir do que foi exposto, compreende-se a relevante influência da família e figuras de cuidado no desenvolvimento dos esquemas adaptativos e desadaptativos dos indivíduos. No entanto, a instituição família vem sendo transformada constantemente em sua estrutura, havendo espaço para mais estudos que visem compreender as influencias destas mudanças em seus membros, considerando aspectos regionais e culturais, conforme BARBOSA E; (2019). 
5.6 Esquemas iniciais desadaptativos (EIDs) e Distorções cognitivas 
Como dito anteriormente, a TE foi desenvolvida a partir dos estudos de esquemas mentais desenvolvidos pela teoria Beckiana, sendo assim, se faz importante compreender que, uma vez que os EIDs são um conjunto de crenças nucleares formados desde a infância, os pensamentos disfuncionais contribuem para o desenvolvimento e perpetuação destes. As crenças nucleares que compõe essas estruturas cognitivas modelam o estilo de pensamento de um indivíduo, promovendo os erros/distorções cognitivas (KNAPP; BECK, 2008 apud BARBOSA E; 2019). 
As distorções cognitivas são entendidas como erros de processamentos da informação, que induzem à distorção dos fatos. Segundo Young et al. (2008, pg. 42): “Através de distorções cognitivas, o indivíduo percebe equivocadamente as situações, de maneira tal que o esquema é reforçado, acentuando a informação que o confirma ou negando a informação que o contradiz”. As distorções cognitivas são entendidas como erros de processamentos da informação que induzem à distorção dos fatos,conforme BARBOSA E; (2019).
5.7 Processos do Esquema 
A perpetuação e a cura são operações fundamentais dos esquemas. Todos os pensamentos, comportamentos, sentimentos ou experiências de vida relevantes para os esquemas ou o tornam mais elaborado e reforçado, perpetuando-o ou o enfraquecem, curando-o, conforme FIORAVANTE M; (2014). 
Três mecanismos básicos perpetuam os esquemas: as distorções cognitivas (percebe as situações equivocadamente de forma a reforçar o esquema, seja acentuando a informação a qual o confirma seja negando a informação que o contradiz), os padrões de vida autoderrotistas (inconscientemente, escolhe situações e relacionamentos mantenedores dos esquemas e evita aqueles que podem curá-los) e os estilos de enfrentamento dos esquemas. De maneira crônica, repetem padrões negativos oriundos da infância e recriam, involuntariamente, na vida adulta as condições prejudiciais da infância, perpetuando os esquemas (Young et al., 2008 apud FIORAVANTE M; 2014). 
A cura dos esquemas é o objetivo final da Terapia do Esquema e sua trajetória é árdua, longa e envolve a mudança comportamental, à medida que os pacientes aprendem a substituir estilos de enfrentamento desadaptativos por padrões comportamentais adaptativos. Entretanto, os esquemas nunca desaparecem por completo, apenas ativam-se com menor frequência e o sentimento associado não é tão intenso. Os pacientes têm, então, uma visão mais positiva de si mesmos, escolhem relacionamentos mais amorosos e respondem à ativação de seus esquemas de forma mais saudável (Young et al., 2008 apud FIORAVANTE M; 2014). 
Diante de situações de ameaça existem basicamente três respostas emitidas pelos organismos: a luta, a fuga e o congelamento (freezing) os quais, na Terapia do Esquema proposta por Young, Klosko e Weichaar (2008 apud FIORAVANTE M; 2014), correspondem, respectivamente, aos estilos de enfrentamento (copping styles) hipercompensação, evitação e resignação. Cabe salientar que nessa teoria a ameaça é entendida como uma falha em atender algumas necessidades emocionais básicas da criança e, além disso, ela pode incluir o medo das emoções geradas pela ativação de um determinado esquema.
Frente às ameaças, a criança responde com um dos três estilos de enfrentamento que, em princípio, é adaptativo ao meio, mas com a mudança de condições impostas pelo ambiente à medida que a criança cresce o estilo de enfrentamento – que é sempre o mesmo e visa perpetuar o esquema – torna-se desadaptativo. Esses estilos e respostas de enfrentamento às situações de ameaça são desenvolvidos desde cedo (na infância) como uma forma de se adaptar aos esquemas e sofrer menos com emoções intensas geradas por eles. É importante ressaltar que os esquemas compreendem “memórias, emoções, sensações corporais e cognições” (Young et al., 2008, p. 44 apud FIORAVANTE M; 2014) e, portanto, o comportamento não faz parte do esquema, mas dos estilos de enfrentamento. Os estilos de enfrentamento são ativados fora da consciência. 
No caso de resignação a um esquema, o paciente considera esse como verdadeiro e não luta nem tenta evitá-lo. Entretanto, como esses processos ocorrem inconscientemente, o paciente perpetua o esquema sem perceber e repete esse estilo quando se apresentam situações semelhantes à de sua infância, conforme FIORAVANTE M; (2014). 
O estilo de enfrentamento como evitação tem como propósito a fuga da dor gerada pela ativação do esquema. Como os pacientes evitam o esquema, em um processo automático, podem emitir comportamentos a fim de distrair-se, como manter comportamentos aditivos através do uso de substâncias psicoativas, por exemplo. Na hipercompensação os pacientes enfrentam o esquema “pensando, sentindo, comportando-se e relacionando-se como se o oposto do esquema fosse verdadeiro” (Young et al. 2008, p. 46 apud FIORAVANTE M; 2014). 
Com isso, suas reações tendem a ser o oposto das vividas na infância, o que pode ser considerado como uma tentativa saudável de ir contra o esquema. No entanto, a característica dos hipercompensadores é contra-atacar, utilizando-se de comportamentos exagerados, insensíveis e inadequados. 
5.8 As respostas de enfrentamento do esquema 
Para Young et al. (2008 apud BIZINOTO J; 2015), podemos pensar na ação do esquema como uma ameaça. Frente à ameaça, cada pessoa desenvolve diferentes respostas de enfrentamento para lidar com a ativação de emoções dolorosas, em diferentes etapas da vida. As respostas de enfrentamento são comportamentos que manifestam um dos estilos de enfrentamento (resignação, evitação e hipercompensação) considerados saudáveis na infância, já que ajudou a criança se adaptar às experiências prejudiciais. Com o passar do tempo, os estilos de enfrentamento tornam-se desadaptativos, mas ativos no paciente, perpetuando os esquemas e reduzindo a qualidade de vida do paciente. É importante atentar para o fato de que um estilo de enfrentamento não é específico de um determinado esquema, e sim, um mecanismo de enfrentamento produzido frente aos diferentes esquemas (Young et al., 2008 apud BIZINOTO J; 2015). 
No processo de resignação, há a manutenção do esquema, já que a pessoa 
avalia determinada situação como verdade, reforçando experiências da 
infância responsáveis pela formação dos EDIs. Um paciente com esquema 
de privação emocional, pode apresentar um comportamento passivo em 
relação a parceiros que o privam emocionalmente (Young et al., 2008 apud 
BIZINOTO J; 2015). 
No processo terapêutico, essas pessoas aprendem a lutar contra a negligência e maus tratos (Lockwood, 2009 apud BIZINOTO J; 2015). Ao utilizar a evitação, as pessoas evitam entrar em contato com pensamentos e imagens que podem ativar os EDIs. Em relação ao esquema de privação emocional, a pessoa pode evitar totalmente qualquer tentativa de relacionamento íntimo (Loose et al., 2013; Young, et al., 2008 apud BIZINOTO J; 2015). Nesse caso, o terapeuta ajudará o paciente a ter coragem para enfrentar situações dolorosas (Lockwood, 2009 apud BIZINOTO J; 2015). 
Quando hipercompensam, as pessoas comportam-se de maneira contrária ao esquema, precisam convencer a si a aos outros que o esquema não é verdadeiro. Assim, uma pessoa com esquema de privação emocional age de maneira exigente com o parceiro, muitas vezes sufocando-o (Loose et al., 2013; Young, et al., 2008 apud BIZINOTO J; 2015). O modelo terapêutico do esquema ensina o paciente a ser menos vulnerável aos efeitos do esquema desadaptativo (Lockwood, 2009 apud BIZINOTO J; 2015). 
É importante destacar crianças educadas em um mesmo ambiente, podem apresentar diferentes estilos de enfrentamento para aliviar a dor provocada pela ativação de um mesmo esquema. Segundo Loose (2010c apud BIZINOTO J; 2015), a escolha do estilo de enfrentamento pela criança depende de seu temperamento e da experiência de aprendizagem mediadas pelos modelos significativos (pais, cuidadores e educadores). 
Quando o paciente apresenta um padrão de comportamento mal adaptativo, o terapeuta não sabe ao certo qual esquema o desencadeou, já que se encontra mais de um esquema ativo em um paciente. Um determinado esquema ainda pode produzir diferentes padrões de comportamento, dependendo do estilo de coping de modos que o paciente usa em determinado contexto (Loose, 2010c apud BIZINOTO J; 2015). 
6 NEUROBIOLOGIA DOS ESQUEMAS PRIMITIVOS 
Idealmente, uma teoria psicoterápica necessita de suporte neurobiológico e das ciências do comportamento no que se refere às suas hipóteses testáveis. Uma abordagem psicoterápica também não poderia contradizer, nas suas formulações e hipóteses que aguardam verificação mais direta, a corrente principal (mainstream) do conhecimento científico e as evidências disponíveis até o momento em outras áreas estabelecidas do conhecimento humano, conforme CALLEGARO M; (2005). 
As teorias que não se preocupam com a aceitação da comunidade científica tendem a ficar enclausuradas em uma redoma de seguidores de caráter quase religiosoe, com o tempo, podem caminhar em direção ao isolamento e descrédito, conforme CALLEGARO M; (2005). 
A Teoria do Esquema está sintonizada com estas preocupações, embora um longo caminho tenha que ser percorrido até podermos dizer que apresenta um correlato neural consistente. Aliás, nenhuma teoria psicoterápica atual atingiu este padrão, que certamente trará prestígio científico. O status de deter um correlato neural é algo almejado por praticamente toda escola psicoterápica, inclusive a Psicanálise – tanto que em 2000 foi fundada em Londres a Sociedade Internacional de Neuropsicanálise, um esforço de psicanalistas e neurocientistas neste sentido, conforme CALLEGARO M; (2005). 
Como é natural, a própria complexidade do tema exige flexibilidade teórica para poder abrigar os nuances e sutilezas das interações humanas na saúde e nos transtornos mentais. Uma abordagem que se atenha somente aos aspectos atualmente verificáveis deixaria aspectos importantes de fora. Portanto, somente é possível traçar algumas aproximações entre as neurociências e a terapia, Jeffrey Young et al. (2003 apud CALLEGARO M; 2005) deixam claro que sua proposta de uma visão baseada na biologia do cérebro a respeito dos esquemas é composta por hipóteses ainda não corroboradas sobre possíveis mecanismos de desenvolvimento de esquemas e mudança humana. 
Young et al. (2003, p. 26 apud CALLEGARO M; 2005) apresentam um esboço de modelo neurobiológico para a Teoria do Esquema baseado essencialmente no trabalho do neurocientista Joseph LeDoux (1996 apud CALLEGARO M; 2005), expresso no clássico The Emotional Brain. 
As recentes pesquisas em neurociências têm mostrado que não existe um sistema emocional único, mas sim vários circuitos neurais encarregados de diferentes emoções, cada um deles envolvido em diferentes funções de sobrevivência - sistemas especializados que evoluíram por seleção natural para resolver problemas de adaptação, como reagir ao perigo, descobrir alimento, achar parceiros e reproduzir, cuidar da prole e estabelecer alianças sociais, por exemplo. O principal foco para a Teoria do Esquema são os circuitos cerebrais envolvidos na regulação do condicionamento do medo e trauma, conforme CALLEGARO M; (2005). 
De acordo com LeDoux (1996 apud CALLEGARO M; 2005) e Davis (1997 
apud CALLEGARO M; 2005), existem dois sistemas que operam em paralelo 
e estocam diferentes tipos de informação relevante para a experiência de 
aprendizagem de medo. Um dos sistemas é consciente, implicando em uma 
representação explícita ou declarativa, e é mediado pelo hipocampo e áreas 
corticais relacionadas. O outro é inconsciente, e se processa através da 
amígdala, gerando memórias implícitas ou não-declarativas. 
As memórias conscientes e inconscientes são recuperadas quando, mais tarde, encontramos os estímulos relacionados a uma experiência traumática. A memória consciente desemboca em lembranças da situação que o sujeito tem pleno acesso, enquanto a recuperação das memórias inconscientes converge para a expressão de mudanças corporais que preparam o organismo para o perigo, conforme CALLEGARO M; (2005). 
Existe uma memória emocional e uma memória cognitiva do mesmo evento traumático, e as respostas emocionais podem ser disparadas sem a participação dos centros superiores de processamento neural envolvidos no pensamento consciente e avaliação racional, conforme CALLEGARO M; (2005). 
7 ESQUEMAS MENTAIS 
Um esquema, para Beck (1982/1979 apud CALLEGARO M; 2005), refere-se a uma rede estruturada e inter-relacionada de crenças que podem ser ativadas ou desativadas conforme a presença ou ausência de experiências estressantes. Segundo Segal (1988 apud CALLEGARO M; 2005), um esquema pode ser definido como um conjunto de “elementos organizados de reações e experiências passadas que formam um corpo de conhecimento relativamente coeso e persistente, capaz de guiar a percepção e a avaliação subsequente” (p.147). Um esquema é uma estrutura cognitiva que processa informação e que, 
(...) filtra, codifica e avalia os estímulos aos quais o organismo é submetido...
com base na matriz de esquemas, o indivíduo consegue orientar-se em relação ao tempo e espaço e categorizar e interpretar experiências de 
maneira significativa. (Beck, 1967, p. 283 apud CALLEGARO M; 2005).
Segundo Beck (1967 apud CALLEGARO M; 2005), os esquemas podem explicar o fenômeno da repetição que os psicanalistas identificaram clinicamente, e sobre o qual Freud teorizou. As imagens, sonhos e associações livres apresentam temas recorrentes ligados aos esquemas, que podem ficar inativos e depois serem “energizados ou desenergizados rapidamente, como resultados de mudanças no tipo de input do ambiente” (p. 284). 
Os esquemas contaminam a arquitetura mental do sujeito e governam sua forma de interpretar os acontecimentos, resultando em uma percepção distorcida e tendenciosa, refletindo-se “nas típicas concepções errôneas, atitudes distorcidas, premissas inválidas, metas e expectativas pouco realistas” (p. 284 apud CALLEGARO M; 2005). 
Embora o uso do termo “inconsciente” tenha sido evitado por Beck e por outros teóricos de TC para designar os esquemas, podemos seguramente concluir que estes são mecanismos inconscientes, mas de um inconsciente cognitivo, não do inconsciente dinâmico da psicanálise. A razão principal que leva os teóricos a evitarem o termo é, provavelmente, o cuidado para evitar confusão conceitual ocasionada por um problema semântico o termo inconsciente praticamente subentende o inconsciente dinâmico concebido e popularizado por Freud, conforme CALLEGARO M; (2005). 
O terapeuta cognitivo Arthur Freeman (1998 apud CALLEGARO M; 2005) argumenta que os esquemas são mecanismos inconscientes que afetam nosso comportamento, cognição, fisiologia e emoções, e se tornam, com o passar do tempo, a própria definição da pessoa (individualmente e como parte de um grupo). Referindo se aos esquemas, Freeman acredita que “pode-se dizer que eles são inconscientes, usando-se uma definição do inconsciente como ideias das quais não temos consciência” (p. 32). Ou seja, os esquemas podem ser adequadamente descritos como mecanismos inconscientes, se adotarmos a noção de inconsciente cognitivo. 
A expressão “inconsciente cognitivo” foi cunhada pelo psicólogo John Kihlstrom em um artigo publicado na influente revista Science (Kihlstrom, 1987 apud CALLEGARO M; 2005). A teoria computacional, a Psicologia Cognitiva e as Ciências Cognitivas forneceram o substrato teórico para entender o funcionamento consciente e inconsciente, fundando-se no conceito de mente como mecanismo de processamento de informação. Os conteúdos conscientes provêm do processamento de informações, mas não estamos conscientes do processamento em si, somente do resultado final. 
O funcionamento mental envolve processos conscientes e inconscientes, e obviamente não podemos entender a mente sem contemplar o processamento inconsciente. O inconsciente cognitivo apresentou-se como um modelo alternativo sobre a mente inconsciente. A ideia central de Kihlstrom sobre o funcionamento do processamento inconsciente é a de que o cérebro efetua muitas operações complexas cujo resultado pode se transformar em conteúdo consciente, embora não tenhamos acesso às operações que originam este conteúdo (Kihlstrom, 1984, 1985; Kihlstrom & Cantor, 1984 apud CALLEGARO M; 2005). 
Os esquemas manifestam-se em padrões complexos de pensamentos, que são em geral empregados mesmo na ausência de dados ambientais, e podem servir como um mecanismo cognitivo que transforma os dados que chegam em conformidade com idéias preconcebidas (Beck, 1963; 1964; Beck & Emery, 1985 apud CALLEGARO M; 2005). Falhas características no processamento de informação mantêm esta distorção das experiências de vida, e Beck adotou o termo distorções cognitivas para descrever o conjunto de erros sistemáticos de raciocínio presentes durante o sofrimento psicológico (Beck, 1987; Beck, Rush, Shaw & Emery,1982/1979 apud CALLEGARO M; 2005). 
As crenças disfuncionais são perpetuadas através das distorções, modos mal adaptativos de processar informações como, por exemplo, a hipervigilância em relação a ameaças ambientais dos pacientes ansiosos ou a excessiva e indevida responsabilização pessoal pelas falhas e erros cometidos pelos sujeitos com depressão, conforme CALLEGARO M; (2005). 
Como poderíamos relacionar os modelos cognitivos da TC com o processamento inconsciente? Apesar de evitarem a utilização do termo “inconsciente” pela conotação psicanalítica que logo associamos à expressão, veremos a seguir que os modelos cognitivos podem ser extremamente úteis para compreender o processamento mental inconsciente (Hassin, Uleman & Bargh, 2005 apud CALLEGARO M; 2005) e inventivos para buscar técnicas e estratégias terapêuticas eficazes na modificação dos resultantes padrões disfuncionais cognitivos, comportamentais e emocionais. 
8 ESTRATÉGIAS EXPERIENCIAIS EM TERAPIA DO ESQUEMA Fonte:itc.br.com 
As buscas de evidências, de maior flexibilidade cognitiva, o monitoramento e correção das chamadas cognições disfuncionais, marcam o dia a dia dos terapeutas cognitivo-comportamentais. Pacientes com esquemas rígidos, porém, mesmo conseguindo observar evidências contrárias aos mesmos e tendo consciência da irracionalidade e inflexibilidade de suas crenças, podem não se beneficiar destes tipos de intervenções. 
Os pacientes entendem seus padrões disfuncionais intelectualmente, mas não emocionalmente: eles se identificam com os esquemas, desconhecendo outra realidade, descartando as evidências contrárias aos mesmos. Além disso, a ocorrência da evitação cognitiva e emocional dificultam o insight e a relação colaborativa entre paciente e terapeuta bem como a presença de cognições carregadas de afeto, as chamadas cognições quentes (hot cognitions). Desta forma, a modificação de pensamentos automáticos e a identificação de crenças disfuncionais pode não ser acessível pelo paciente, dificultando a mudança de crenças disfuncionais. Nas últimas décadas, novos conhecimentos no campo das ciências revolucionaram a psicologia cognitiva como a ênfase nas redes de distribuição neural, nos processos inconscientes, no processamento em paralelo das informações e na distinção entre os sistemas implícitos e explícitos de memória (Westen, 2000 apud Callegaro, 2011). 
Os elementos implícitos ganharam maior importância, pois estes formam parte da nossa subjetividade orientando nossos estados emocionais. (Siegel, 2012). Por serem formados no início do desenvolvimento, os esquemas envolvem justamente o sistema de memória implícita, podendo ser identificados através de sensações, percepções e de fortes reações emocionais. 
Apesar de não estarem necessariamente associados à recordação consciente do objeto ou da situação, os esquemas podem relacionar o acontecimento atual a uma determinada emoção ou sensação envolvendo partes do cérebro que não utilizam processamento consciente (Lent, 2005; Siegel, 2012). Questionar crenças explícitas através da lógica racional pode não ser útil para mudar sistemas implícitos de memória. 
A utilização de técnicas experienciais em TE tem como objetivo auxiliar o paciente a ultrapassar a simples compreensão racional de seus problemas, promovendo a ativação emocional através de experiências emocionais corretivas, maximizando assim os benefícios para os processos de mudança, pois nossa capacidade de processar informações tem demonstrado ser mais efetiva na presença das emoções (Young et al, 2003). 
A simples expressão das emoções, porém, pode não ser adequada em promover mudanças (Young et al., 2003). O sucesso em alcançar a ativação/expressão emocional seguida pela reflexão da experiência e o desenvolvimento de novos significados, tem se revelado importante fator de distinção de processos terapêuticos bem-sucedidos (Greenberg, 2002). Em relação ao tipo de procedimento experiencial realizado em TE, destaca-se o trabalho com imagens mentais a partir da adaptação de procedimentos de outras abordagens como Gestalt, Psicodrama e Análise Transacional, marcando o caráter integrativo da TE. 
Na fase de avaliação, as técnicas auxiliam na identificação dos esquemas, na verificação dos estímulos e situações que fazem com que estes sejam ativados na vida do paciente, na compreensão das origens dos esquemas na infância a partir das frustações recorrentes das necessidades emocionais básicas e de situações impactantes emocionalmente, permitindo ao paciente relacionar sua estória passada aos problemas atuais. 
As técnicas experienciais na fase de avaliação, juntamente com os procedimentos cognitivos, auxiliam o paciente na psicoeducação sobre o modelo da TE e na compreensão das suas dificuldades atuais, preparando-o para a fase de mudança. 
Nesta última fase, o uso das técnicas experienciais tem como objetivo principal promover distanciamento emocional dos esquemas do paciente através da mobilização emocional, com forte ênfase na relação terapêutica (reparação parental). Em síntese, as estratégias experienciais mudam a característica dos esquemas, de egossintônica para egodistônica, tornando o paciente mais preparado para quebrar os seus padrões comportamentais (estilos de enfrentamento) (Young et al., 2003). 
⮚ Imagens Mentais 
Apesar do uso de técnicas de imagens mentais nas terapias cognitivas não ser algo novo, é cada vez maior o interesse dos terapeutas em utilizá-las nas intervenções. Estudos recentes demonstraram que as imagens mentais possuem grande poder de influenciar as emoções: imaginar uma cena como pular de um penhasco, por exemplo, é uma experiência emocionalmente mais carregada do que apenas processar esta mesma informação verbalmente. Desta forma, a utilização de imagens na clínica é uma ferramenta poderosa e eficaz no trabalho com as emoções (Holmes et al., 2007; apud MENDES, FALCONE,2017). 
Os efeitos da ativação dos esquemas são semelhantes ao acionamento de memórias traumáticas gerando uma cascata de reações neuroquímicas relacionadas ao estresse (Behary, 2008). Reviver, desafiar e dar novos desfechos às imagens são formas eficientes de ressignificação do material traumático (Holmes et al., 2007 apud MENDES, FALCONE,2017). 
Young et al. (2003) consideram fundamental o trabalho com imagens na TE pois permitem a identificação dos esquemas centrais do paciente de forma vivencial, com grande carga afetiva, auxiliando na relação entre os problemas atuais e sua origem na infância. No trabalho com imagens, o terapeuta deve ter cuidado constante de não ser excessivamente sugestivo para não fomentar nenhuma espécie de falsa memória. 
As instruções devem ser mínimas (Young et al., 2003). Alguns pacientes, especialmente os que possuem características evitativas, podem também apresentar pensamentos automáticos disfuncionais quando o terapeuta sugere o trabalho com imagens mentais. O significado destes pensamentos pode estar relacionado à incapacidade, fracasso ou mesmo à falta de confiança e ao receio no resultado do procedimento. 
Um pequeno experimento como solicitar ao paciente que feche os olhos e relembre o seu percurso até o consultório ou mesmo o momento no qual entrou na sala, pode ser suficiente para flexibilizar estas cognições. Em alguns casos, porém, é importante respeitar o tempo do paciente para o estabelecimento do vínculo necessário para o início do trabalho com imagens. 
⮚ Construindo a imagem de um lugar seguro 
Young et al. (2003) sugerem que o início e o término do trabalho com imagens mentais deve ser precedidos pela construção de cenas positivas como as de um lugar seguro, em uma espécie de base para a qual o paciente possa retornar após o trabalho com imagens muito carregadas afetivamente. Isto é extremamente importante na prática com pacientes evitativos e inseguros. Quando o paciente tem um histórico tão disfuncional a ponto de não conseguir produzir imagens positivas, o terapeuta pode auxiliarsugerindo cenas tranquilas de natureza ou mesmo do próprio consultório. 
⮚ Acessando imagens significativas 
Geralmente inicia-se o trabalho pedindo ao paciente que deixe vir à mente uma imagem desagradável de sua infância com um dos pais ou com outras pessoas e situações significativas. Solicita-se que ele feche os olhos e descreva verbalmente a cena no tempo presente, como se esta estivesse acontecendo no momento, no aqui e agora (Young, 2003). 
O diálogo entre terapeuta e paciente permite identificar necessidades emocionais não atingidas relacionadas à cena em questão. Tais necessidades tornam-se mais evidentes quando o paciente, encorajado pelo terapeuta, revela a um de seus pais ou cuidador os comportamentos destes que o feriram emocionalmente, bem como apontam como estes deveriam agir para que o paciente se sentisse amado, protegido, orientado etc. (Ex. “Eu gostaria que você fosse mais afetuoso, compreensivo, que conversasse mais comigo, que não me punisse tanto, etc.”). Em seguida o terapeuta solicita que o paciente apague a imagem, mantendo a emoção ativada pela mesma, e crie outra imagem de uma experiência atual onde esta mesma emoção foi experimentada. Neste momento, a imagem atual se revela com as mesmas características daquela experimentada na infância. 
O paciente geralmente relata uma experiência com um cônjuge, chefe, amigo ou com alguém de sua interação atual, onde as suas necessidades emocionais não são atendidas e ele é tratado de forma fria, abusiva ou rejeitadora. Quando utilizada na fase de avaliação, essa estratégia permite a identificação dos esquemas mais relevantes do paciente. 
Na fase de mudança, o paciente é encorajado a confrontar os seus pais ou cuidador, assim como as pessoas de seu relacionamento atual. Esse procedimento tem a função de reafirmar os direitos da criança de ser tratada com respeito, amor, atenção e consideração, permitindo o resgate da satisfação de necessidades emocionais não atingidas, de forma adaptativa (Young et al., 2003). 
A estratégia experiencial também pode ser iniciada a partir de uma situação atual. Isso geralmente ocorre quando o paciente revela intensa emoção e não sabe o que a está ativando. O terapeuta solicita que o paciente se concentre nas emoções que está experimentando no momento e depois pede que este crie uma imagem na infância onde esta emoção se manifestou. Esse procedimento contribui para ajudar os pacientes a conectar as emoções e sensações corporais experimentadas no presente a memórias de infância. Após se tornar consciente de suas memórias de infância, emoções, sensações corporais, cognições e estilos de enfrentamento, o paciente começa a exercer algum controle sobre suas respostas, aumentando o seu livre-arbítrio em relação aos esquemas (Young et al., 2003). 
Em função do envolvimento das memórias implícitas nos EDRs, o foco nas sensações corporais do presente pode ser uma porta de acesso ao passado. Pacientes que trazem sensações incômodas e que não conseguem associá-las à alguma emoção ou situação podem assim serem solicitados a sentir este incômodo corporal ainda mais intensamente, para então buscar associá-los a situações significativas de suas vidas. 
As estratégias utilizadas para lidar com as situações disfuncionais da infância são na verdade adaptações, formas encontradas pelo paciente de sobreviver frente às adversidades, mas que, em função do ciclo auto perpetuador dos esquemas, não são colocadas sob revisão. 
Conforme mencionado anteriormente, o objetivo do trabalho com imagens mentais é permitir ao paciente viver e sentir os esquemas de forma emocional e visceral, para que estes sejam ativados e então desafiados (Falcone, 2011). Acessar diretamente o ambiente de formação dos esquemas, revisitando cenas carregadas de afeto e episódios marcantes, permitem ao paciente perceber as necessidades emocionais não-atendidas do seu passado e verificar o que tiveram que fazer com suas vidas para se adaptar à estas situações. 
No trabalho experiencial com imagens, os pacientes são incentivados também a finalmente expressar o seu descontentamento com o ambiente tóxico do passado, mobilizando especialmente a emoção da raiva para tornar os esquemas egodistônicos (Falcone, 2011). 
9 RELAÇÃO TERAPÊUTICA 
As terapias cognitivas da segunda geração têm em comum a característica de dar maior ênfase à relação terapêutica, e com a Terapia do Esquema não poderia ser diferente (Kellogg & Young, 2006; Lata K. McGinn & Young, 2012; L. K. McGinn et al., 1995; Schmidt et al., 1995; Spinhoven, Giesen-Bloo, van Dyck, Kooirnan, & Arntz, 2007; Young, 2003; Young et al., 2008 apud FIORAVANTE M; 2014). Seus terapeutas consideram a relação terapêutica vital para a avaliação e para a mudança de esquemas. Outro ponto importante é que existe mais foco nos esquemas do próprio terapeuta e em seus estilos de enfrentamento, em especial, quanto à relação terapêutica. 
A relação terapêutica cumpre um papel importante na educação de quase todos os pacientes sobre seus esquemas e estilos de enfrentamento, obtendo estes grandes benefícios com o reconhecimento de ativação de esquemas durante a própria sessão terapêutica. O terapeuta estabelece sintonia, formula a conceituação do caso, decide qual estilo de reparação parental limitada é apropriada e determina se seus próprios esquemas e estilos de enfrentamento têm chance de interferir nos rumos da terapia, conforme FIORAVANTE M; (2014). 
Dois aspectos dessa relação são característicos da terapia do esquema: a reparação parental limitada e a postura terapêutica de confronto empático. Com o desenvolvimento e a maturidade da terapia do esquema, atribuiu-se uma maior ênfase à reparação parental limitada com todos os pacientes, mas em especial com os que têm transtornos mais graves, conforme FIORAVANTE M; (2014). 
O conceito de reparação parental limitada, embora seja novo nas terapias cognitivas, não é uma ideia nova nas terapias psicológicas. Young apropria-se da ideia de “experiência emocional corretiva” de Alexander e French (Alexander & French, 1946 apud FIORAVANTE M; 2014) para dar formas ao seu construto. 
Alexander e French escreveram, em 1946, o livro (Psychoanalytic therapy: Principles and applications - Terapia psicanalítica: princípios e aplicações) que foi considerado o marco no desenvolvimento da psicoterapia breve e um rompimento com dramático com abordagem psicanalítica mais tradicional de sua época, sendo muito criticado por trazer diversas inovações à época da publicação. Neste livro, os autores mostram como o terapeuta torna-se ativo desde o encontro inicial com o paciente (Alexander & French, 1946; (Lowenkron, 2008 apud FIORAVANTE M; 2014). 
Eles desenvolveram a técnica denominada “Experiência Emocional Corretiva” que visa possibilitar que os conflitos antigos, não resolvidos, surjam na relação transferencial que se estabelece no tratamento, permitindo que a diferença entre as reações atuais do terapeuta e as reações das figuras parentais na relação primitiva seja o fator preponderante para produzir as mudanças, conforme FIORAVANTE M; (2014). 
Segundo os autores, essa experiência seria possível através da relação de transferência e de novas experiências de vida. Esta técnica não é a simples recordação de um acontecimento que cura um paciente de sua neurose, mas principalmente o ato de reviver uma experiência corretiva, que acaba por destruir o efeito da experiência anterior (Alexander & French, 1946; Lowenkron, 2008 apud FIORAVANTE M; 2014). 
Em outras palavras, a atitude do terapeuta, mais adequada e mais compreensiva, possibilitando ao paciente revivenciar, dentro do ambiente seguro do relacionamento terapêutico e em circunstâncias favoráveis, situações emocionais difíceis do passado, resulta numa experiência emocional que corrige a experiência primitiva. O papel do terapeuta é o de servir de catalisador no processo de mudança do paciente (re) criando uma nova experiência emocional na relação terapêutica(Alexander & French, 1946; Lowenkron, 2008 apud FIORAVANTE M; 2014). 
Influenciado por estas ideias, Young traz para a Terapia do Esquema o conceito de reparação parental limitada (RPL), cujo objetivo principal é oferecer aos pacientes aquilo que eles necessitavam, mas não receberam de seus pais durante a infância, constituindo como forma de interagir com o paciente de forma a curar seus EIDs. É chamada “limitada”, pois a aproximação entre o paciente e o terapeuta deve ser oferecida seguindo os limites éticos e profissionais, tomando o cuidado para não se tornar realmente pai/mãe e nem fazendo o paciente retornar à dependência de criança, conforme FIORAVANTE M; (2014). 
A RPL é muito importante em casos graves, como pacientes que tenham esquemas no domínio de desconexão e rejeição, ou seja, pacientes que sofreram abusos, privações emocionais ou rejeição na infância. Ou seja, quanto mais grave o trauma, mais importante se torna a RPL. De acordo com a gravidade, esses pacientes demandam contato extra, sob a forma de mais seções ou telefonemas entre as mesmas, conforme FIORAVANTE M; (2014). 
O conceito de reparação paternal limitada aparece no livro Terapia Cognitiva 
para transtornos de personalidade: uma abordagem focada no esquema 
(Young, 2003 apud FIORAVANTE M; 2014) onde ele explica como realizar 
as estratégias de mudança utilizando técnicas interpessoais, “Outra 
estratégia interpessoal é o terapeuta proporcionar um relacionamento 
terapêutico que se contraponha aos Esquemas Iniciais Desadaptativos. Em 
alguns aspectos, estamos defendendo um papel ‘re-parental limitado’ para o 
terapeuta (...) exortamos o terapeuta a tentar descobrir quais necessidades da criança não foram atendidas e a tentar atendê-las em um grau razoável – 
dentro do relacionamento terapêutico – sem violar as fronteiras do 
relacionamento terapeuta-paciente (p.53). ” 	
Embora fosse citada como importante técnica interpessoal na fase de mudança (Young, 1999; 1995; 2003 apud FIORAVANTE M; 2014) somente com o desenvolvimento da própria abordagem o conceito de Relação Parental Limitada ganhou o status atual de chave fundamental no processo terapêutico. 
O confronto empático é a postura terapêutica na terapia do esquema. O terapeuta assume esta postura durante a fase de mudança a fim de promover o crescimento psicológico do paciente. Manifestando compreensão sobre as razões pelas quais o paciente tem o esquema, ao mesmo tempo reconhecendo a importância desta mudança, o terapeuta enfatiza e confronta o esquema, esforçando-se por um equilíbrio entre confronto e empatia, conforme FIORAVANTE M; (2014). 
Para que isso ocorra, é essencial permitir que o paciente expresse seus pontos de vista, de maneira livre e “verdadeira”, compartilhando completamente seus pensamentos e sentimentos. Posteriormente, o terapeuta empatiza com os sentimentos do paciente, dada as perspectivas deste sobre a situação. Assim que o paciente sente-se compreendido e validado, o terapeuta avança para o teste de realidade, utilizando a lógica e as evidências empíricas para confrontar falhas no ponto de vista do paciente. Diante destas análises, o terapeuta apresenta uma visão alternativa diante do problema apresentado pelo paciente, conforme FIORAVANTE M; (2014). 
Ao observar as dificuldades atuais a partir do ambiente disfuncional da vida do paciente e dos estilos de enfrentamento dos esquemas, o terapeuta e o paciente percebem as necessidades emocionais básicas que não puderam ser satisfeitas e que acabaram resultando na formação dos EDRs. Estes esquemas, por sua vez, também aparecem na relação terapêutica tendo então uma dupla significação: ao mesmo tempo em que são verdadeiros obstáculos são também importantes para o processo de mudança, pois sinalizam sobre as dificuldades do paciente e sobre onde ele precisa focar para superar estes mesmos obstáculos. 
O terapeuta pode atuar de maneira a reparar dentro dos limites adequados e éticos da relação terapêutica, as necessidades emocionais não atendidas da infância, na chamada reparação parental limitada ou reparentalização (Young et al., 2003). Acima de qualquer técnica ou procedimento específico, a relação terapêutica é, para o paciente, a possibilidade real de viver uma relação saudável. 
Não há nada mais vivencial do que se relacionar com outro ser humano, dia a dia, momento a momento, aprendendo e experienciando estar diante do outro com suas fraquezas e angústias, se sentindo validado e acolhido emocionalmente e sendo confrontado empaticamente quando necessário, ou recebendo limites adequados. Young et al. (2003) descrevem a reparação parental limitada como um antídoto parcial aos EDRs, proporcionando assim experiências emocionais corretivas ao paciente. 
⮚ Rompendo padrões: Diálogos e Reparentalização 	
Quando ocorrem imagens de cenas traumáticas que refletem experiências negativas marcantes na vida do paciente, o terapeuta ou outra figura de apoio, que pode ser até mesmo o próprio paciente na idade atual, podem “entrar” na cena auxiliando então o paciente na expressão das emoções, reivindicando o direito à satisfação de suas necessidades básicas de afeto, carinho e proteção. Isto facilita o acesso às estruturas esquemáticas: emoções que não puderam ser expressas no passado podem ser então processadas integralmente, permitindo uma nova visão da situação, relacionando os problemas do passado ao presente e quebrando o ciclo auto perpetuador dos esquemas (Greenberg & Malcom, 2002; Young et al. 2003). 
Exemplo de caso clínico: 
Paciente Maria, sexo feminino, 30 anos, relatou problemas de adaptação e dificuldades de relacionamento no trabalho. Promovida recentemente para um cargo de diretoria, Maria é extremamente perfeccionista consigo mesma e com os outros. Foi acusada pelos seus funcionários de ser exigente em excesso e muito rude, além de passar por cima dos outros diretores. Por essa razão, seu chefe a chamou para conversar buscando melhorar a convivência entre ela e a equipe, o que foi interpretado por Maria como uma bronca, fazendo com que se sentisse humilhada. 
Na fase de avaliação da psicoterapia, o terapeuta sugeriu a presença do esquema de Desconfiança/Abuso e de Padrões Inflexíveis. O procedimento de imagem foi utilizado para a confirmação dos esquemas buscando ilustrar as relações entre as situações do passado e do presente. O diálogo abaixo ilustra o trabalho de imagem realizado com a paciente. 
Terapeuta: Podemos fazer um trabalho com imagens agora? Feche seus olhos e imagine que esta cena, a da bronca do seu chefe, esteja acontecendo com você neste momento (pausa). Isto. Enriqueça a cena. Coloque cores, os detalhes do local, o tom de voz do seu chefe (pausa). Agora me diga Maria. O que está acontecendo? 
Paciente: Ele está me chamando para conversar na sala dele. Eu estou andando para lá e todos estão me olhando. Parece que eles sabem que eu vou ganhar um esporro. É muita humilhação! 
Terapeuta: Continue... 
Paciente: Ele está falando duro comigo me acusando de ser uma carrasca, de ser grossa, de passar por cima de todo mundo. Eu estou congelada.
Terapeuta: O que você sente neste exato momento. Como este congelamento aparece no seu corpo? 
Paciente: Como assim? 
Terapeuta: Me descreva o que acontece no seu corpo nesta situação em que você se sente congelada ao receber esta bronca do seu chefe. 
Paciente: Sinto minhas mãos frias e meus braços duros... parece que estão grudados no meu corpo. Minha garganta parece que vai fechar. 
Terapeuta: Você pode aumentar estas sensações? (Foco nas sensações corporais) concentre a atenção na sua garganta. Procure aumentar esta tensão nos braços (pausa). Deixe aparecer agora, alguma cena da sua infância na qual você sentiu uma sensação parecida... (da situação recente para a infância) 
Paciente: (pausa...começa a falar com uma voz baixa e embargada). Eu estou na sala e meu pai está gritando com meu irmão chamando ele de burro. Eu estou sentindo muito medo (ativandoo esquema de desconfiança/abuso)
Terapeuta: Medo de que? 
Paciente: Medo. Não sei direito. Ele é muito estúpido. Como pode falar com uma criança deste jeito? Isto nunca acontece comigo porque sou ótima na escola. 
Terapeuta: (suavizando o tom de voz). Quer dizer Maria, que você é uma menina nota dez, que não dá trabalho? E se você não tirar uma nota boa? O que pode acontecer? 
Paciente: Ele vai gritar comigo (chorando)! Ele vai me bater! Eu tenho tanto medo! (Gritando e chorando). Não posso errar senão ele vai fazer o mesmo comigo! (Ativando o esquema de desconfiança/abuso e de padrões inflexíveis).
Terapeuta: Maria, o que faz quando sente este medo? 
Paciente: Estudo, cada vez mais. Fico quietinha. 
Terapeuta: E você não sente falta de brincar? De estar com seus amigos? De poder fazer um pouco de bobagem? 
Paciente: (longa pausa). Eu me sinto muito pressionada. 
Neste exemplo, a paciente parte da situação atual para cenas significativas da infância. A partir da descrição da imagem, o terapeuta busca primeiramente ampliar os impactos emocionais encorajando a paciente a detalhar a situação e a sentir as sensações corporais associadas para posteriormente. 
Solicitar que traga cenas com conteúdos emocionais semelhantes aos da infância: 
⮚ O terapeuta procura criar um ambiente seguro, adaptando a sua expressão de voz para entrar em contato com a criança da paciente. Esta, por sua vez, se permite sentir e vivenciar o ambiente de formação dos esquemas (no caso descrito, de Desconfiança/abuso e Padrões Inflexíveis), compreendendo como os seus padrões de rigidez e perfeccionismo atuais foram formas de adaptação originadas no passado com o objetivo de evitar consequências negativas, mas que acabaram se tornando disfuncionais no presente. Uma vez identificado o que “faltou” ao paciente, o terapeuta facilita o diálogo com os sujeitos responsáveis pela frustração das necessidades emocionais e situações traumáticas, auxiliando na expressão do descontentamento, pesar e raiva, realizando também a reparação parental limitada como na continuação do caso clínico de Maria: 
Terapeuta: Maria, qual é o nome do seu pai? E do seu irmão? 
Paciente: Luiz. Meu irmão é João 
Terapeuta: Maria, fala para o seu pai como você se sente. 
Paciente: Não posso. Eu tenho muito medo. 
Terapeuta: Você permite que eu entre nesta cena e te ajude? 
Paciente: Sim. 
Terapeuta: Ok. Eu estou do seu lado e não vou deixar o seu pai lhe bater. Fala para ele como você se sente (terapeuta entra na cena para proteger a paciente e auxiliá-la na expressão emocional). 
Paciente: (voz baixa e frágil). Pai... (pausa) ...ai…eu não consigo (chora compulsivamente). 
Terapeuta: (falando firme com o pai da paciente) Olha Luiz. Isto o que você está fazendo com o seu filho é um absurdo. Você não pode chamar uma criança de burra. Se ele está com dificuldade você precisa ajudá-lo e não xingá-lo. A sua filha Maria está morrendo de medo de você e não consegue nem brincar direito porque fica imaginando que se ela tirar uma nota ruim vai ganhar uma surra. Eles são crianças. Eles têm o direito de brincar. 
Terapeuta: (falando agora para o paciente) ... Maria, você pode entrar na cena agora como a mulher que você é hoje e ajudar estas crianças? Entre. Entre na cena e me diga o que está acontecendo (modo Adulto do paciente entrando na cena).
Paciente: Eu puxo o meu irmão e tiro ele de perto deste monstro. Meu pai está me olhando com raiva. 
Terapeuta: Fala Maria. Diga tudo o que você tem vontade agora.
Paciente: (com voz firme). Você é um monstro. Veja o que você fez com estas crianças. O João é um homem medroso e dependente até hoje de você. Eu não me divirto, não tenho amigos de verdade porque estou sempre pensando em trabalho e exigindo demais de mim e dos outros (relacionando os esquemas à situação atual). Não tive tempo ainda nem para ter um filho. Eu não vou mais deixar você fazer isto (pausa). 
Terapeuta: E o que está acontecendo agora? 
Paciente: Ele está quieto e eu estou abraçando as crianças (fazendo intuitivamente a reparentalização, pois o terapeuta ainda não havia orientado).
Terapeuta: Isto Maria. Abrace estas crianças. Sinta-se protegida, acolhida. Respire devagar (finalizando a reparentalização; longa pausa) .... Quando quiser, abra os olhos lentamente. As estratégias experienciais, através da reparação parental, facilitam a compreensão de como as experiências infantis se repetem na vida atual do paciente. 
Enquanto as estratégias cognitivas necessitam de várias repetições para que o paciente se distancie do esquema em um nível intelectual, as estratégias experienciais podem promover este distanciamento, em nível emocional, a partir de apenas uma experiência (Young et.al., 2003). 
Diálogos entre o lado do esquema e o lado saudável 
Os diálogos entre o lado representativo do esquema e o lado saudável do paciente são ferramentas de grande auxílio no rompimento das barreiras que impedem a mudança, especialmente na fase de mudança da TE. Os esquemas lutam para permanecer vivos e os processos evitativos fazem parte da manutenção do problema atual, com os pacientes apresentando dificuldades para experienciar formas alternativas e mais saudáveis de comportamento. 
O diálogo entre os dois polos pode ser utilizado como intervenção cognitiva ou experiencial (quando o diálogo entre os dois polos se dá na forma de imagens ou com dramatizações e role-plays) (Falcone, 2011). A adaptação da técnica da cadeira-vazia da Gestalt pode ser utilizada neste momento. Colocam-se duas cadeiras, uma representando o lado do esquema e outra o lado saudável: o paciente expressa opiniões e vivencia um dos lados, trocando de cadeira para emitir opiniões e se expressar no polo oposto (Young, 2003). Geralmente, este procedimento exige do terapeuta participação ativa e encorajadora, pois em função do caráter de filtragem das informações do ambiente, o paciente acaba desqualificando evidências contrárias ao esquema e sua própria capacidade de mudança. 
⮚ Cartas endereçadas às figuras significativas 
O terapeuta pode solicitar ao paciente que escreva cartas endereçadas às figuras significativas de sua vida e que estiveram relacionadas à formação dos EDRs. Nestas cartas, o paciente é solicitado a expressar totalmente seus sentimentos e emoções relacionadas às frustrações da infância (Young et al., 2003). As cartas não precisam ser entregues, podendo ser lidas no consultório em um procedimento vivencial. 
O terapeuta pode realizar um diálogo imaginário com duas cadeiras, no qual o paciente lê a carta, procurando vivenciar e sentir toda a emoção possível, imaginando e projetando a imagem da pessoa a quem está endereçando à carta na cadeira em frente. 
Seguem abaixo trechos da carta de uma paciente, Flora, 46 anos, com esquema de abandono, a partir de experiências infantis repetidas com as ausências do pai, que viajava e, embora prometendo voltar em 15 dias, ficava por tempo imprevisível. 
Flora também manifestava o esquema de Privação Emocional e Defectividade (pai crítico e rejeitador costumava depreciar a filha por tentar obter a sua atenção, chamando-a de “chata” e “chorona”). Mais tarde Flora descobriu que o pai tinha outra família em outra cidade (para uma revisão detalhada do caso de Flora, ver Malamut & Falcone, 2012). “...você nunca se preocupou comigo. Achava que poderia suprir a sua ausência me dando brinquedos e mais tarde dinheiro. Não, pai (poderia te chamar assim??), não poderia não. Poderia sim com carinho, perguntando como foi o meu dia.…” (p. 506) “... não escrevi esta carta para te provocar, mas sim para aliviar a dor que já me acompanha há muito tempo. Tempo esse que me manteve calada por fora e borbulhando de questões por dentro. Espero que você me entenda, mas espero mais ainda que você reconheça o que me causou...” (p. 506). 
Flora expressou sua vontade de entregar a carta ao pai, contrariando a sugestão de sua terapeuta. A entrega da carta gerou uma conversa franca,o que melhorou posteriormente a interação entre ambos. 
A experiência de entregar a carta ao pai foi positiva para a paciente, que se sentiu aliviada e satisfeita por ser honesta consigo mesma. Flora passou a diferenciar a voz do pai (de que ela era problemática e carente) de sua própria voz (o pai tinha dificuldades em expressar afeto, era egoísta e só se preocupava com o dinheiro e o trabalho). Nesse ponto, o caráter egossintônico de seus esquemas de abandono, privação emocional e defectividade, transformou-se em egodistônico (Malamut & Falcone, 2012). 
⮚ Carta aos pais 
Objetivo da técnica:	
1- Visa resumir aquilo que o paciente aprendeu sobre o pai ou sobre a mãe como resultado do trabalho cognitivo ou vivencial feito. 
2- Os pacientes utilizam as cartas como uma oportunidade de falar de seus sentimentos e de afirmar seus direitos. 
Temas a serem tratados: 
O que o pai ou a mãe fez (ou deixou de fazer) que foi prejudicial à infância do paciente. 
Como o paciente se sente a respeito 
O que ele esperava do pai ou da mãe na época 
O que ele espera agora. 
⮚ Trabalho com imagens mentais: 
Ajuda a identificar os esquemas mais fundamentais de cada paciente; Possibilita que o paciente vivencie os esquemas em nível afetivo; Ajuda o paciente a relacionar emocionalmente as origens de seus esquemas na infância e adolescência com os problemas atuais. 
⮚ Início do trabalho com imagens mentais 
Sempre iniciamos e finalizamos as sessões de trabalho com imagens e evocando o lugar seguro ou lugar agradável. O paciente precisa se sentir seguro para realizar o trabalho vivencial. As imagens mentais não são como pensar ou fazer associação livre, em que um pensamento leva a outro; elas são como assistir a um filme, mas mais do que assistir um filme, quero que você o vivencie tornando – se parte dele e vivendo todos os eventos que acontecerem. 
Ex: “Agora, feche os olhos e deixe que surja uma imagem. Não force as imagens, apenas deixe que uma delas venha à sua mente e diga o que vê. 
⮚ Imagens mentais da infância 
Diferentemente da Terapia Cognitiva tradicional, a Terapia do Esquema trabalha muito com as vivências infantis do paciente. A partir da Anamnese e História de Vida, bem como dos Inventários utilizados visando educar o paciente sobre seus esquemas, sempre fazendo-o entender que surgiram como resposta natural às suas vivências infantis. Os esquemas são formados de forma natural e reflete na forma como o paciente conseguiu ”sobreviver” ao desenvolvimento. 
O objetivo da técnica é observar o sentimento do paciente e os temas que vêm à tona com vistas a identificar esquemas e entender suas origens. Após explorar a imagem da infância, o terapeuta pede que o paciente evoque uma imagem do presente que lhe cause sentimentos similares aos experimentados no passado. Procuramos trabalhar apenas uma imagem a cada sessão. 
Tipos de imagens que devem ser trabalhadas: 
1- Qualquer imagem desagradável da infância 
2- Uma imagem desagradável de cada um dos pais 
3- Imagens desagradáveis de quaisquer outras pessoas importantes para o paciente, incluindo colegas e amigos que possam ter contribuído para a formação de um esquema. 
⮚ Reparação Parental 
Primeiro passo: o terapeuta pede permissão para participar da imagem e falar diretamente com a criança vulnerável; 
Segundo passo: o terapeuta faz a reparação parental com a criança vulnerável 
Terceiro passo: o adulto saudável do paciente, tendo o terapeuta como modelo, realiza a reparação parental da criança vulnerável. 
⮚ Reparentalização Limitada com Imagens 
Reparentalização Limitada significa dar ao paciente: 
• Segurança 
•Respeito 
• Validação de Sentimentos (empatia) 
• Sensibilidade aos Gatilhos que lhe disfuncionalizam 
• Paciência 
• Entendimento de sua vida 
• Suporte e conforto
• Consistência 
• Limites saudáveis e amorosos 
INSTRUÇÃO – Reparentalize a Criança Vulnerável no “aqui e agora”: ∙ Explique o conceito do Modo Criança Vulnerável. 
∙ Peça ao paciente que “feche seus olhos e busque uma imagem do (a) pequeno (a) ______”. - Onde ela/ele está? O que está acontecendo? - O que o (a) pequeno (a) _______ está pensando? O que está pensando? - Pode me colocar na imagem com o (a) pequeno (a) __________? - O que o (a) pequeno (a) _____ quer fazer? O que necessita de mim? - Tente fazer algo para lhe dar o que está necessitando. ABRA OS OLHOS. 
∙ Discuta como levar você (terapeuta) e o (a) pequeno (a) _______ para a vida do paciente fora das sessões.	
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