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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Disciplina: AIP II - Micologia Turma: T3 Curso: Medicina Componentes: Alice Cavalcante Souza (2022020007) Elisson Amorim Rodrigues (2022020014) Giovanna Beatriz André Lopes (2022020053) Tuffi Gomes de Lima (2022020079) Resenha sobre a Epidemiologia da Esporotricose Humana e Animal no Brasil Manaus-AM 2022 A esporotricose é uma micose subcutânea causada por uma infecção fúngica que causa evolução subaguda ou crônica. É causada por fungos do gênero Sporothrix, sendo a S. brasiliensis a espécie mais comum no Brasil. O Sporothrix schenckii é um fungo termodimórfico, que se encontra na forma filamentosa em temperatura ambiente e na forma leveduriforme em parasitismo. Essa infecção fúngica tem a capacidade de atacar a pele, tecido subcutâneo e vasos linfáticos, disseminando-se pelas vias linfática e/ou hematogênica, acometendo diversos órgãos, sendo uma infecção que se espalha pela circulação linfática, resultando em uma variedade de lesões na pele. Na Sporothrix schenckii em humanos este tipo de manifestação linfocutânea é a mais comum. A localização mais comum das lesões são nos membros inferiores, porém elas também podem afetar outros locais. Esses fungos podem ser encontrados no solo em climas temperados e tropicais úmidos, e são de dois tipos: micelial e levedura. As formas miceliais ocorrem em solos ricos em matéria orgânica, como sementes de árvores, frutos de arbustos e vegetação em processo de decomposição. As formas leveduriformes são encontradas parasitando humanos e animais. A doença é transmitida por inoculação direta de propagos fúngicos na pele através de traumas envolvendo plantas, palhas, lascas de madeira e a mordida ou arranhadura de um animal infectado como gato, tatu, peixe ou pássaros. O período de incubação pode ser de alguns dias a três ou até seis meses (em média três semanas). No âmbito da saúde, é de suma importância o levantamento de dados sobre a epidemiologia das doenças. De acordo com o Dicionário Online de Português (2022), a epidemiologia é a "subdivisão (ramo) da medicina capaz de analisar os distintos fatores que interferem na disseminação de doenças, na maneira como estas se propagam ou na forma como devem ser prevenidas e/ou tratadas". A epidemiologia exerce um importante papel ao se preocupar não apenas com o controle de doenças e de seus vetores, mas, sobretudo, com a melhoria da saúde da população. O primeiro caso de esporotricose humana no Brasil foi relatado em 1907 por Lutz e Splendore. Desde então, uma pandemia se espalhou pelos cinco continentes, tornando-se a segunda micose subcutânea mais comum na América do Sul. Como a micose é adquirida no solo, onde o Sporothrix schenckii vive em associação com restos vegetais, e como resultado, há uma dependência da relação do hospedeiro solo, o felino e outros animais domésticos desempenham um papel importante na transmissão da micose para humanos. A esporotricose tem uma distribuição geográfica mundial. A região sul do Brasil é uma zona endêmica, incluindo estudos de caso dos estados do Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O aumento da população felina e do contato individual em ambientes domésticos tem sido associado ao aumento de casos nos últimos anos. O maior número de diagnósticos e tratamentos de esporotricose humana é encontrado no estado do Rio de Janeiro, que vivenciou uma epidemia de esporotricose em animais domésticos, principalmente gatos, e é considerada uma das maiores zonas epidemiológicas por transmissão zoonótica do mundo. Gatos, cães, roedores, tatus e pássaros têm sido associados à transmissão zoonótica. Pequenos traumas, como arranhões ou mordidas por felinos, estão relacionados à transmissão zoonótica da espécie S. brasiliensis. Os gatos depois de infectados podem permanecer assintomáticos por vários meses, servindo de reservatório para os fungos. A transmissão entre gatos e de gato para humano ocorre de forma contínua resultando em um aumento territorial de casos. A transmissão entre humanos é incomum, visto que é pequena a quantidade de fungo presente nas lesões. A interação inter-humana já foi relatada como resultado da exposição recorrente e próxima à lesão aberta. A esporotricose em gatos foi documentada pela primeira vez na década de 1950 no Brasil. Foi descrito um possível caso de arranhadura de gato como causa de inoculação fúngica em um paciente de São Paulo em 1955. Fora registrado um caso de esporotricose em um gato no litoral norte de São Paulo, que se espalhou para três pessoas por inoculação através de arranhadura. Há relatos de casos em gatos e humanos em praticamente todos os estados do Brasil. Atualmente, existem relatos de casos em felinos e humanos em quase todos os estados do Brasil, e os casos de transmissão zoonótica já estão presentes em outros países da América do Latina como Argentina, Paraguai e Panamá. Estados menos urbanizados onde a forma de transmissão clássica por S. schenckii é descrita há anos, com grande relevância nessas localidades, como Amazonas e Pará, também parecem estar observando uma alteração na clínica e epidemiologia. Em Manaus, no período de novembro de 2020 a 31 de março de 2021, foram confirmados 28 casos de esporotricose animal, dos quais 27 casos ocorreram no Distrito de Saúde (DISA) Oeste e um caso no Norte e três casos de esporotricose humana, dos quais dois casos ocorreram no bairro Santo Antônio e um caso, no bairro da Glória, situados no DISA Oeste. No estado da Paraíba, inicialmente e mais especificamente na capital João Pessoa, desde janeiro de 2016 foram relatados e diagnosticados casos da doença em felinos, humanos e cães. Por ser uma doença relativamente nova no estado, há uma inexperiência por parte de profissionais da saúde e moradores a respeito do agente, transmissão, diagnóstico e tratamento da esporotricose, o que pode reforçar o crescimento de casos. Já no ano de 2019, os profissionais da área da saúde de Teresópolis-RJ relataram casos de aproximadamente 166 gatos e 26 cães acometidos por Esporotricose, sendo considerada uma área endêmica. O Rio de Janeiro tem o maior número de casos registrados na literatura; A transmissão zoonótica por felinos é documentada neste estado desde a década de 1990 e tem se tornado cada vez mais grave nas últimas décadas, principalmente quando o paciente apresenta infecção por HIV previamente. Em 2019, foram notificados 1.720 casos no estado do Rio de Janeiro, o que equivale a uma taxa de 9,96 casos para cada 100.000 habitantes. A partir de 2015, houve uma dissociação no aumento do número de notificações do estado e da capital, o que pode indicar internalização hiperendêmica para além dos limites anteriormente indicados. Com o surgimento de epidemias de casos em gatos e humanos, outros estados (Pernambuco, Minas Gerais, Paraíba) e municípios passaram a exigir notificação compulsória. Em fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde emitiu uma portaria exigindo que a doença fosse incluída na lista nacional de doenças, lesões e ocorrências de saúde pública que devem ser relatadas, no entanto, a medida foi revogada. A inclusão da esporotricose na lista de doenças negligenciadas forneceria mais provas para essa hiperendemia em constante disseminação, além de mais recursos para estudos científicos em larga escala para ajudar a controlar a disseminação da doença. Foi observado em estudos recentes um atraso no diagnóstico de esporotricose na atual condição de pandemia induzida por SARS-CoV- 2 e uma esporotricose hiperendêmica, recebendo vários pacientes com meses de evolução. A demora no início do tratamento leva a um aumento das infecções secundárias e também pode resultar em consequências mais graves devido à duração da doença.A predominância de formas disseminadas entre os óbitos confirma sua maior mortalidade por quadros graves, com acometimento de órgãos vitais como o sistema nervoso central. Além da infecção pelo HIV, o etilismo, a desnutrição e outras condições imunossupressoras, documentadas como causas secundárias em internações e obituários, podem tornar esses grupos mais vulneráveis, agindo como prognóstico de quadros graves. Nos pacientes do sexo masculino, as internações duram mais tempo. A maioria dos óbitos relatados eram de homens não brancos com baixa escolaridade, implicando uma população vulnerável com risco de desenvolver a doença de forma mais grave. De acordo com estudos realizados na região hiperendêmica do Rio de Janeiro, as mulheres são mais acometidas, enquanto os homens desenvolvem a doença de forma mais grave, provavelmente por infecções simultâneas de casos de HIV/AIDS e esporotricose. É perceptível que a esporotricose está presente em todas as regiões do Brasil, sendo que o estado do Rio de Janeiro tem um perfil clínico-epidemiológico muito grave de transmissão zoonótica. Esse estado encontra-se em evidência por mais de 12 anos, embora a maioria dos casos se manifesta de forma isolada. Além disso, o maior número de óbitos em uma população desfavorecida expõe a questão vulnerabilidade e da desigualdade social. Apesar do diagnóstico de esporotricose ser complexa e das dificuldades no tratamento, existe uma alta taxa de cura. Ações mais rigorosas por parte do poder público, em conjunto com o setor de saúde e o público em geral, são necessárias para o controle da doença hiperendêmica, levando em consideração uma abordagem “One Health” (Saúde Única - conceitua uma abordagem interdisciplinar para tópicos complexos, envolvendo as interações entre diferentes esferas da saúde global) para entender melhor as zoonoses e doenças infecciosas. A castração felina e o tratamento precoce podem limitar a transmissão entre animais e entre animais e humanos; ademais, é importante maiores investimentos para melhorias do saneamento básico, assim como oferecimento de suprimentos para pessoas de baixa renda, e também a intensificação da fiscalização de animais errantes. Referências COMANDANTE, Rua; LASMAR, Paulo; No; et al. DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA AMBIENTAL E EPIDEMIOLÓGICA. [s.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: <https://semsa.manaus.am.gov.br/wp-content/uploads/2021/05/Nota Tecnica_Fluxo_APS_e_Vigilancia_e_Ficha_de_Notificacao_da_Esporotricose_assin adas.pdf>. Acesso em: 21 de abril de 2022. FRANCISCO et al. ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA ESPOROTRICOSE NO MUNICÍPIO DE TERESÓPOLIS – RJ. Revista de Medicina Veterinária do UNIFESO, v. 1, n. 01, 2019. Acesso em: 21 de abril de 2022. SCHECHTMAN, Regina Casz et al. Esporotricose: hiperendêmica por transmissão zoonótica, com apresentações atípicas, reações de hipersensibilidade e maior gravidade. 2021. Anais Brasileiros de Dermatologia. Disponível em: http://www.anaisdedermatologia.org.br/en-pdf-S2666275221002812. Acesso em: 21 de abril de 2022. SHARMA Bunty, SHARMA Anil Kumar, SHARMA Ujjawal. Sporotrichosis: a Comprehensive Review on Recent Drug Based Therapeutics and Management. 2022. Current Dermatology Reports. Disponível em: https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/s13671-022-00358-5.pdf. Acesso em: 21 de abril de 2022. https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/s13671-022-00358-5.pdf
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