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Artigos 328 - 337-A

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DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Nos arts. 328 a 337-A – Capítulo do Título XI da Parte Especial – o Código Penal disciplina os crimes praticados por particular contra a Administração em geral.
São crimes comuns, pois podem ser praticados por qualquer pessoa, razão pela qual não se inserem no rol dos crimes funcionais. Consequentemente, é inaplicável o rito especial previsto nos arts. 513 a 518 do Código de Processo Penal.
É de ressaltar, contudo, que tais crimes também podem ser cometidos por funcionários públicos, desde que se apresentem na qualidade de particulares, ou seja, não estejam investidos na função pública desempenhada.
Usurpação de função pública
Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Conceito
O Estado tem interesse em preservar incondicionalmente a escolha e a investidura das pessoas a quem são confiados os cargos públicos e o exercício das funções públicas.
Destarte, não se admite o comportamento daquele que afronta esta Prerrogativa do Poder Público, sujeitando-se o infrator às sanções cabíveis. Entra em cena o crime de usurpação de função pública.
Usurpar o exercício de função pública é investir-se nela e executá-la indevidamente, arbitrariamente, sem possuir motivo legítimo para tanto.
Objetividade jurídica
O bem jurídico penalmente protegido é a Administração Pública, nos campos patrimonial e principalmente moral, pois o desempenho de função administrativa por pessoa estranha aos quadros públicos causa indiscutível descrédito ao Estado.
Objeto material
É a função pública – compreendida como qualquer atividade desempenhada pelo Estado para satisfazer as necessidades de interesse público – indevidamente exercida pelo agente.
Convém lembrar, entretanto, da advertência de Nélson Hungria:
Há casos em que o particular, independentemente de investidura oficial, pode exercer, ex vi legis, uma função pública, como quando, por exemplo, rende alguém surpreendido em flagrante delito. Além disso, há certas funções que, por seu caráter puramente material ou impessoal, podem ser delegadas a um particular pelo funcionário autêntico. Em tais hipóteses, como é óbvio, não poderia ser identificado o crime.
Núcleo do tipo
O núcleo do tipo penal é usurpar, no sentido de apoderar-se indevidamente ou exercer ilegitimamente uma função pública. Dessa forma, é imprescindível a execução de atos inerentes à função pública pelo usurpador. 
Como já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça:
Comete o delito previsto no art. 328 do Código Penal (usurpação de função pública) aquele que pratica função própria da administração indevidamente, ou seja, sem estar legitimamente investido na função de que se trate. Não bastando, portanto, que o agente se arrogue na função, sendo imprescindível que este pratique atos de ofício como se legitimado fosse, com o ânimo de usurpar, consistente na vontade deliberada de praticá-lo.
Com efeito, se o agente se limita a apresentar-se ilegalmente como funcionário público, não se pode falar no crime tipificado no art. 328 do Código Penal. No entanto, o fato não será irrelevante no campo penal, pois estará caracterizada a contravenção penal de simulação da qualidade de funcionário, prevista no art. 45 do Decreto-lei 3.688/1941 – Lei das Contravenções Penais: “Fingir-se funcionário público: Pena – prisão simples, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa”.
Sujeito ativo
	
A usurpação de função pública é crime comum ou geral, podendo ser cometido por qualquer pessoa. O crime é perfeitamente compatível com o concurso de pessoas, em suas duas modalidades (coautoria e participação).
Confira-se, a propósito, um interessante julgado do Superior Tribunal de Justiça:
Hipótese em que funcionários de uma copiadora utilizavam carimbos de autenticação pertencentes ao 4.º Ofício de Notas de Brasília/DF – fornecidos pelo próprio Tabelião –, em cópias de documentos, encaminhando-as, posteriormente, ao cartório, para a aposição de assinaturas por escreventes autorizados. O ora denunciado, embora não tenha praticado qualquer ato executório, concorreu de algum modo para a realização do crime, razão pela qual é forçoso reconhecer a figura do concurso de pessoas no presente caso.
O funcionário público pode ser autor do delito, desde que usurpe função distinta da sua, como no exemplo em que um escrivão realiza atos privativos do Delegado de Polícia. Em conformidade com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
O crime de usurpação de função pública, muito embora previsto no capítulo destinado aos crimes praticados por particular contra a Administração Pública, pode ser praticado por funcionário público, porquanto, quando o Código Penal se refere a particular é por que indica que os delitos ali (Capítulo II do Título XI), ao contrário do Capítulo I, são crimes comuns e não especiais (próprios).
Todavia, tratando-se do funcionário público titular da função, mas dela suspenso por decisão judicial, a ele será imputado o crime de desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito, definido no art. 359 do Código Penal. Entretanto, se a suspensão foi decretada por ato administrativo, o fato será atípico, subsistindo unicamente a falta disciplinar.
Sujeito passivo
É o Estado e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica lesada pela conduta criminosa.
Elemento subjetivo
É o dolo (animus de usurpar função pública), independentemente de qualquer finalidade específica. Não se admite a modalidade culposa.
Consumação
O crime é formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado: consuma-se com a simples usurpação da função pública, isto é, com a realização pelo agente de algum ato de ofício inerente à função da qual não é titular, em razão de não ter sido nela legitimamente investido. Não é preciso que o ato praticado tenha produzido efetivo dano patrimonial à Administração Pública, também não se exigindo a obtenção de qualquer tipo de vantagem pelo sujeito ativo.
Tentativa
É possível, em face do caráter plurissubsistente do delito, permitindo o fracionamento do iter criminis.
Figura qualificada: art. 328, parágrafo único
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
A pena é de reclusão, de dois a cinco anos, e multa, se do fato (usurpação de função pública) o agente aufere vantagem. Aqui, a usurpação de função pública é crime material.
Trata-se de qualificadora, pois a lei modifica os limites mínimo e máximo da pena. O fundamento do tratamento mais rigoroso repousa no fim de lucro que norteia o comportamento do agente, bem como na maior extensão do dano proporcionado à Administração Pública.
A vantagem pode ser de qualquer natureza (patrimonial, moral, política etc.), e pouco importa se é destinada ao proveito do usurpador ou de terceira pessoa. Veja-se que a lei não fala em vantagem “indevida”. Nem precisava, pois qualquer vantagem oriunda da usurpação de função pública só pode ser desta natureza.
Como nessa forma qualificada do delito há obtenção de vantagem ilícita pelo agente, fica absorvido eventual crime de estelionato praticado pelo usurpador.
Usurpação de função pública qualificada e estelionato: distinção
Os delitos de usurpação de função qualificada e de estelionato não se confundem, nada obstante tenham como nota comum a obtenção de vantagem ilícita. Aquele é crime contra a Administração Pública; este, contra o patrimônio. Entretanto, além da diversidade de objetividade jurídica, há outros pontos merecedores de destaque.
Na usurpação qualificada o agente obtém vantagem ilícita, emanada do exercício ilegal de uma função pública.
No estelionato, por sua vez, o sujeito não exerce nenhuma função pública, mas finge ser funcionário público (fraude) para em seguida induzir ou manter alguém em erro, obtendo vantagem ilícita em prejuízo alheio.
Além disso, no crime contra aAdministração Pública o agente realiza indevidamente algum ato de ofício, enquanto no crime patrimonial isto não ocorre, razão pela qual é correto afirmar que o estelionato é um minus quando comparado à usurpação de função pública qualificada.
Ação penal
A ação penal é pública incondicionada, em todas as modalidades do delito.
	
Lei 9.099/1995
A usurpação de função pública, em sua modalidade fundamental (art. 328, caput), é infração penal de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal e compatível com a transação penal e com o rito sumaríssimo, nos termos da Lei 9.099/1995.
Na forma qualificada (art. 328, parágrafo único), cuida-se de crime de elevado potencial ofensivo, vedando-se a incidência dos institutos contidos na Lei dos Juizados Especiais Criminais.
Classificação doutrinária - A usurpação de função pública é crime simples (ofende um único bem jurídico); comum (pode ser cometido por qualquer pessoa); formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (na modalidade simples, consuma-se com a prática da conduta criminosa, independentemente do efetivo prejuízo à Administração Pública) ou material (na forma qualificada); de dano (causa lesão à Administração Pública); de forma livre (admite qualquer meio de execução); comissivo; instantâneo (consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (pode ser praticado por um só agente, mas admite o concurso); e normalmente plurissubsistente.
Competência
A usurpação de função pública, em regra, é crime de competência da Justiça Estadual. Será competente a Justiça Federal, entretanto, quando praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, nos moldes do art. 109, inc. IV, da Constituição Federal.
Anote-se, porém, que o simples fato de o agente apresentar-se como servidor público federal não transfere automaticamente a competência para a Justiça Federal. É necessário o efetivo prejuízo aos interesses da União, de suas autarquias ou empresas públicas.
Assim já se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça:
Quando as pessoas enganadas, e efetivamente lesadas, pelas eventuais práticas das condutas criminosas são os particulares, ainda que tenha a União o interesse na punição dos agentes, tal seria genérico e reflexo, pois não há ofensa a seus bens, serviços ou interesses. Não obstante o acusado se apresente como agente público federal, esse fato, por si só, não configura lesão a bens, serviços e interesses da União, pois deve estar demonstrado o efetivo prejuízo causado para esse ente federado.
Usurpação de função pública e Código Penal Militar - O art. 335 do Decreto-lei 1.001/1969 – Código Penal Militar – tipifica o crime de usurpação de função, nos seguintes termos: Usurpar o exercício de função em repartição ou estabelecimento militar: Pena – detenção, de três meses a dois anos.
Resistência
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
Introdução
A resistência é uma forma mais grave de desobediência, crime tipificado pelo art. 330 do Código Penal, em razão do emprego em sua prática de violência ou ameaça. Esta é a razão de ser também conhecida como “desobediência belicosa”. Na clássica definição de Francesco Carrara, “é a luta dos particulares contra os agentes da força pública, com a finalidade de impedir um ato de justiça”.
Significa, pois, um ato de violência contra um ato da autoridade, isto é, um antagonismo entre duas forças físicas: a da autoridade pública e a do particular.
Representa, pois, uma violência contra a autoridade do funcionário público, que tem por finalidade submeter a autoridade do Estado dentro do âmbito de sua função.
Objetividade jurídica
O bem jurídico penalmente tutelado é a Administração Pública, relativamente à sua autoridade e ao seu prestígio, fundamentais para o regular exercício da atividade administrativa.
 
Contudo, também se protegem o poder de atuação do funcionário público na execução de atos legais, bem como a integridade física e moral do particular que lhe presta auxílio. Esta é a razão pela qual se fala em “tutela jurídica bifacial” no crime de resistência.
Objeto material
É o funcionário público competente para a execução do ato legal ou o particular que lhe presta auxílio.
Espécies de resistência
A resistência pode ser ativa ou passiva.
Resistência ativa (vis corporalis ou vis compulsiva) é a que se caracteriza pelo emprego de violência ou ameaça ao funcionário público ou ao particular que lhe presta auxílio, com o propósito de impedir a execução de ato legal. A conduta se amolda à descrição típica contida no art. 329, caput, do Código Penal, configurando o crime de resistência.
Resistência passiva (vis civilis), por sua vez, é a oposição à execução de ato legal sem a utilização de violência ou ameaça ao funcionário público ou a quem lhe auxilia, motivo pelo qual é também chamada de “atitude ghândica”. Não se verifica o crime de resistência, subsistindo, porém, o delito
de desobediência (CP, art. 330). Nas elucidativas palavras de Nélson Hungria:
A simples desobediência ou resistência passiva (vis civilis) poderá constituir outra figura criminal (art. 330), sujeita a penalidade sensivelmente inferior. Se não há emprego de violência (vis physica, vis corporalis) ou de ameaça (vis compulsiva), capaz de incutir medo a um homem de tipo normal, limitando-se o indivíduo à inação, à atitude ghândica, à fuga ou tentativa de fuga, à oposição branca, à manifestação oral de um propósito de recalcitrância, à simples imprecação de males (pragas), não se integra a resistência. Não a comete, por exemplo, o indivíduo que se recusa a abrir a porta de sua casa ao policial que o vai prender, ou se agarra a um tronco de árvore ou atira-se ao chão para não se deixar conduzir ao local da prisão.
Núcleo do tipo
O núcleo do tipo é “opor-se”, no sentido de impedir ou obstruir a execução de ato legal. Essa oposição deve apresentar um caráter militante, ou seja, reclama atuação positiva do sujeito ativo, pois se concretiza mediante o emprego de violência ou ameaça ao funcionário público competente ou a quem lhe preste auxílio.
Excepcionalmente, porém, o delito poderá ser cometido por omissão, quando o sujeito ostentar o dever de agir para impedir o resultado, nos termos do art. 13, § 2.º, do Código Penal, e dolosamente permanecer inerte.
Exemplo: Um policial presencia a agressão de uma pessoa ao fiscal da vigilância sanitária que buscava inspecionar um determinado local, dolosamente permanecendo inerte.
Violência é o emprego de força física (vis corporalis) contra alguém.
Exemplos: agredir com uma barra de ferro o policial responsável pelo cumprimento de mandado de prisão preventiva, desferir socos no oficial de justiça que tenta efetuar a citação etc.
Nada obstante o tipo penal fale apenas em “violência”, sem especificá-la,
prevalece em doutrina o entendimento segundo o qual o crime de resistência pressupõe a “violência contra a pessoa”. Logo, tratando-se de violência contra a coisa, poder-se-ia falar em dano qualificado (CP, art. 163, parágrafo único, inc. III). Disso discorda Nélson Hungria, para quem também é possível a resistência quando a violência contra a coisa funciona como meio de execução. 
São suas palavras: Até mesmo a violência sobre coisas, quando assume um caráter de oposição ativa contra o agente da autoridade ou quem lhe presta auxílio, pode constituir resistência, como, in exemplis, se é derribada a escada que o policial pretende galgar para executar um mandado ad capiendum, ou se é morto a tiro o cavalo do soldado de polícia que encalça um criminosoem fuga.
Com o devido respeito ao saudoso penalista, ousamos discordar. Para nós, a violência contra a coisa, nos exemplos citados, enseja o reconhecimento da ameaça, diante da sua finalidade nitidamente intimidatória, igualmente prevista pelo legislador como meio de execução do crime de resistência.
Ameaça, também conhecida como vis compulsiva, é a promessa de mal injusto, passível de realização e apto a amedrontar uma pessoa de tipo normal (homem médio ou homem standard).
Destarte, não se caracteriza o delito quando o sujeito se limita a rogar pragas contra o funcionário público ou o particular que lhe auxilia, pois não há possibilidade de concretização deste suposto mal.
A ameaça pode ser de duas espécies: 
(a) real (exemplo: apontar uma arma na direção de alguém); ou 
(b) verbal (exemplo: dizer a uma pessoa que irá matá-la em breve). Basta seja dotada de poder intimidatório, independentemente do seu grau, pois o tipo penal refere-se unicamente à “ameaça”, e não à “grave ameaça”, como preferiu o Código Penal em outros delitos, tais como o roubo, a extorsão e o estupro etc.
A promessa, verdadeira ou falsa, de oferecer representação contra o funcionário público perante seus superiores hierárquicos não pode ser compreendida como ameaça, uma vez que tal direito é assegurado a toda e qualquer pessoa, a teor do art. 5.º, inc. XXXIV, a, da Constituição Federal.
Resistência e momento do emprego da violência ou ameaça
No crime de resistência, a oposição do agente dirige-se à execução do ato legal. Em outras palavras, a violência ou ameaça devem ser empregadas contra o funcionário público competente ou quem lhe preste auxílio durante a prática do ato legal, buscando impedir seu aperfeiçoamento.
Em razão disso, se a violência ou ameaça forem utilizadas antes ou depois da execução do ato legal, não há falar em resistência, subsistindo algum outro delito, notadamente a lesão corporal (CP, art. 129) ou a ameaça (CP, art. 147).
E, adotando-se o princípio da especialidade para solução do conflito aparente de normas penais, se o indivíduo se vale da violência contra a pessoa para evadir-se ou tentar evadir-se depois de preso ou submetido a medida de segurança detentiva, a ele será imputado o crime de evasão mediante violência contra a pessoa, previsto no art. 352 do Código Penal, e não o de resistência.
Resistência, meio de execução e desacato
Em face de exigência explícita do art. 329, caput, do Código Penal, o crime de resistência necessita da violência ou da ameaça como meios de execução. Consequentemente, é vedado o reconhecimento deste delito quando o sujeito tem a intenção manifesta de humilhar o funcionário público, menosprezando a atividade estatal por ele exercida, ainda que para tanto se valha de vias de fato ultrajantes (exemplos: lançar fezes, cuspir em sua face etc.). Nesse caso, estará configurado o crime de desacato, tipificado no art. 331 do Código Penal.
Legalidade do ato: elemento normativo do tipo
O art. 329 do Código Penal possui um elemento normativo, representado pela expressão “ato legal”. A legalidade do ato deve ser analisada em dois planos distintos: 
(a) formal, relativamente à competência de quem o executa e à forma da sua emissão; e 
(b) material ou substancial, vinculado ao seu conteúdo.
De fato, não se pode obrigar uma pessoa a cumprir um ato formal e/ou materialmente ilegal. A oposição à execução de ato ilegal não abre espaço para o crime de resistência, em obediência ao princípio da legalidade, delineado no art. 5.º, inc. II, da Constituição Federal: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
Exemplificativamente, não há crime de resistência quando alguém se opõe, mediante violência ou ameaça a funcionário público, ao cumprimento de mandado de prisão temporária emitido por um Delegado de Polícia, em manifesta violação às disposições da Lei 7.960/1989, pois esta modalidade de prisão cautelar somente pode ser decretada por membros do Poder Judiciário. 
Também não se concretiza o delito na hipótese em que funcionário público incompetente procede à execução do ato, tal como na situação em que um perito judicial busca efetuar o cumprimento de um mandado de citação.
Confira-se, a propósito, um julgado proferido pelo Supremo Tribunal Federal afastando o crime de resistência em hipótese atinente à ilegalidade material do ato do funcionário público:
“A garantia constitucional do inciso XI do artigo 5.º da Carta da República, a preservar a inviolabilidade do domicílio durante o período noturno, alcança também ordem judicial, não cabendo cogitar de crime de resistência”.
Entretanto, não se pode confundir o ato ilegal com o ato injusto. Como se sabe, os valores de justiça e injustiça são variáveis e irrelevantes para os fins do art. 329 do Código Penal. O ato do Estado formal e materialmente legal deve ser fielmente executado, nada obstante classificado como injusto pelo seu destinatário. A título ilustrativo, verifica-se o crime de resistência quando uma pessoa se opõe à execução de ordem judicial de prisão, mediante violência ou ameaça a um policial, entendendo ter sido a sentença condenatória proferida com base em elementos de convicção manifestamente contrários à prova dos autos, e, portanto, injusta. Se legal o ato, eventual valoração do agente quanto à sua injustiça não tem o condão de afastar o delito.
Finalmente, é válido destacar a necessidade de o ato legal ser concreto e específico, ou seja, capaz de produzir efeitos imediatos e dirigido a pessoa ou pessoas determinadas.
Ato ilegal e teorias acerca do direito de resistência
Sempre se discutiu se existe ou não um direito de resistência contra o arbítrio da autoridade pública. Há três teorias sobre o assunto:
a) Teoria da obediência passiva ou absoluta - Para esta teoria, defendida no campo jurídico-filosófico por Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Immanuel Kant, Thomas Hobbes e Martinho Lutero, entre outros, a ilegalidade do ato estatal não justifica, em hipótese alguma, a rebeldia do particular contra a autoridade.
A atuação dos agentes públicos é amparada por uma presunção de legalidade, acarretando a irrestrita e incondicional submissão dos particulares aos representantes do Estado, ressalvado somente o direito de posterior reclamação perante as autoridades superiores ou perante os tribunais. 
Consequentemente, não há legítima defesa contra uma figura pública.
Atualmente, é indiscutível a inadmissibilidade desta teoria, outrora reinante em épocas marcadas pelo despotismo e fundada na premissa de que os funcionários do Estado eram delegados terrestres dos deuses, motivo pelo qual suas decisões eram insuscetíveis de impugnação pelos simples mortais.
b) Teoria Ultraliberal - Idealizada por John Locke e Jean Jacques Rousseau, esta teoria é diametralmente oposta à anterior (teoria da obediência passiva ou absoluta).
Sustenta a existência não apenas de um direito, mas de um dever de resistência à autoridade pública que age fora dos raios da lei.
Em sua ótica, quem se curva diante do arbítrio dos agentes públicos os estimula à prepotência, concorrendo assim para a disseminação de um mal.
Em face da atuação ilegal dos mandatários do Estado, o recalcitrante não defende somente a si próprio, mas a todos os seus concidadãos. Destarte, a oposição a um ato ilegal da autoridade pública reveste-se de licitude.
c) Teoria da obediência relativa, moderada ou conciliadora
Para solucionar o embate entre as teorias anteriores, ambas radicais, surgiu uma terceira teoria, universalmente aceita nos dias atuais.
Dentro de uma ótica moderada, ou conciliadora, a resistência é legítima quando a ilegalidade do ato oficial é manifesta, flagrante. Se existe dúvida sobre a ilegalidade, a abstenção de resistência impõe-se em obediência ao princípio da autoridade. Permitir a resistência quando não seja manifesta a ilegalidade do ato importa em incentivo à indisciplina social.
Esta teoria se ampara em uma razão de fácil compreensão. O funcionário público, quando se comportanotoriamente contra a lei, decai dessa qualidade, equiparando-se ao particular.
Por corolário, é perfeitamente possível a legítima defesa – causa excludente da ilicitude prevista no art. 25 do Código Penal – contra ato ilegal dos representantes do Poder Público.
Ato legal e excesso em sua execução
Quando o executor de um ato legal se excede no seu cumprimento, empregando injustificada violência, a reação proporcional do particular constitui legítima defesa (CP, art. 25).
Por seu turno, também age em legítima defesa o funcionário público que se vale de violência moderada contra aquele que resiste violentamente à execução regular de um ato legal.
Sujeito ativo
A resistência é crime comum ou geral. Pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo funcionário público, nas situações em que age como particular, isto é, sem se valer das prerrogativas inerentes à sua condição funcional.
Nada obstante seja esta a regra geral, o sujeito ativo não será necessariamente a pessoa que suporta a execução do ato legal. Em outras palavras, é possível seja a resistência exteriorizada por terceira pessoa, como na hipótese em que uma pessoa, ao perceber a prisão em flagrante de um amigo, agride com socos e pontapés o funcionário público responsável pela diligência.
Sujeito passivo
É o Estado e, secundariamente, o funcionário público competente para execução do ato legal ou o terceiro (particular) que lhe esteja prestando auxílio. Neste último caso, a especial proteção conferida ao extraneus decorre da circunstância de esta pessoa figurar como um assistente ou longa manus do Poder Público. A assistência pode ser prestada mediante requisição ou requerimento do agente público, ou espontaneamente, desde que com o consentimento deste.
Em qualquer hipótese, é imprescindível o efetivo acompanhamento do particular pelo funcionário público competente para a execução do ato legal, ou então a atuação em seu nome, pois caso contrário estará afastado o crime de resistência, mesmo sendo ele alvo da violência ou ameaça.
Vale a pena simplificar a explicação com um exemplo. Como se sabe, o art. 301 do Código Penal, ao lado do flagrante compulsório ou obrigatório, prevê o chamado “flagrante facultativo”, assegurando a qualquer do povo a possibilidade de prender quem se encontre em flagrante delito. Pois bem.
Imagine agora um particular que, sozinho (desacompanhado do funcionário público), efetua a prisão em flagrante de um criminoso, ocasião em que tem contra si dirigida violência para impedir a realização do ato. Há resistência? Não, pois o executor do ato não ostenta a condição de funcionário público, embora desempenhe função pública no caso concreto. Nada impede, contudo, a caracterização de outro crime (lesão corporal, tentativa de homicídio
etc.).
Resistência e oposição dirigida a vários funcionários públicos
Se o sujeito, no mesmo contexto fático, opõe-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a dois ou mais funcionários públicos igualmente competentes para realizá-lo, há um único crime de resistência contra a mesma vítima (Estado), pois o bem jurídico penalmente protegido é a Administração Pública, e não a atuação concreta dos seus agentes isoladamente considerados. Exemplificativamente, há um só delito na hipótese em que uma pessoa criminalmente condenada luta contra dois policiais responsáveis pelo cumprimento de um mandado de prisão contra ela endereçada.
Todavia, se as condutas forem praticadas em contextos diversos, estará configurado o concurso de crimes.
Exemplo: “A” agride um policial que, por considerá-lo em atitude suspeita, decidiu proceder à sua revista pessoal.
Uma semana depois, “A” efetua socos contra um oficial de justiça que se dirigiu à sua casa para citá-lo em uma ação de alimentos movida pela sua filha.
Elemento subjetivo
É o dolo, acompanhado de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico), consistente na intenção de impedir a execução de ato legal.
Consequentemente, não há crime quando o sujeito resiste ao ato do funcionário público ou de quem lhe preste auxílio em razão de dúvida legítima e fundada acerca da legalidade do ato ou da competência do funcionário público.
Não se admite a modalidade culposa.
Resistência, alteração de ânimos e embriaguez
A alteração de ânimos e a embriaguez não afastam a responsabilidade penal pelo crime de resistência.
No tocante à alteração de ânimos, é sabido que a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade penal (CP, art. 28, inc. I). Na mesma toada, o art. 28, inc. II, do Código Penal é peremptório ao afirmar que a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos, não elimina a imputabilidade penal.
No entanto, não será possível a responsabilização penal do agente pelo delito no caso de embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, que no caso concreto o torna inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em face da incidência da dirimente prevista no art. 28, § 1.º, do Código Penal.
Consumação
A resistência é crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado: consuma-se com o emprego de violência ou ameaça ao funcionário público competente para execução do ato legal ou a quem lhe esteja prestando auxílio, pouco importando se assim agindo o sujeito vem a impedir a atuação estatal.
Tentativa
A análise do conatus leva em conta o meio de execução da resistência.
Quando o crime é praticado mediante violência, a tentativa é cabível, em face do seu caráter plurissubsistente, permitindo o fracionamento do iter criminis.
Exemplo: O particular, que pretendia agredir o funcionário público com uma barra de, é imobilizado por outras pessoas.
Entretanto, se o delito for cometido por meio de ameaça, a tentativa somente será admitida na utilização de algum escrito. De fato, tratando-se de ameaça verbal (crime unissubsistente), será inviável o conatus.
Figura qualificada: art. 329, § 1.º
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
O art. 329, § 1.º, do Código Penal, contempla o exaurimento como qualificadora do delito, pois em razão da resistência o ato legal não se executa, justificando a elevação dos limites da pena em abstrato. O crime, nesse caso, é material ou causal.
O tratamento mais severo da resistência tem dois fundamentos:
(a) a lei é efetivamente descumprida; e
(b) a autoridade estatal é ridicularizada, fomentando igual atuação de rebeldia por outras pessoas.
A incidência da qualificadora reclama a não execução do ato legal com base unicamente na oposição violenta ou ameaçadora do sujeito, e não na inépcia ou desídia do funcionário público.
Concurso material obrigatório: art. 329, § 2.º
	
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
A resistência pode ser cometida mediante o emprego de violência ou ameaça.
Quando o crime é praticado com emprego de violência – contra o funcionário público competente para executar o ato legal ou contra quem lhe preste auxílio –, o art. 329, § 2.º, do Código Penal, prevê o concurso material obrigatório (sistema do cúmulo material), ou seja, o agente responde pela resistência (simples ou qualificada) e pelo crime resultante da violência, que em nenhuma hipótese será absorvido, qualquer que seja este (lesão corporal leve, grave ou gravíssima, homicídio etc.).
Esta regra somente se aplica, repita-se, na hipótese de resistência cometida mediante violência à pessoa. Fácil observar, portanto, que o crime de
ameaça é absorvido pela resistência, uma vez que funciona como seu meio de
execução e não há previsão legal de concurso material obrigatório.
Resistência, desobediência e desacato
Discute-se se a resistência absorve ou não a desobediência e o desacato, isto é, se há crime único ou concurso de delitos. Vejamos.
O crime de desobediência (CP, art. 330), se praticado no mesmo contexto fático do delito de resistência, resta por este absorvido.A razão desta conclusão é de fácil compreensão. A resistência envolve um crime de desobediência contra ato legal de funcionário público cometido com emprego de violência ou ameaça. Em outras palavras, não há como falar em resistência sem desobediência, pois este crime funciona como meio de execução daquele. Incide, portanto, o princípio da consunção para solução do conflito aparente de normas penais.
De outro lado, existe maior polêmica acerca da relação entre os crimes de resistência e desacato praticados nas mesmas condições de tempo e local. 
Deve o agente responder por um só crime (qual deles?) ou então por ambos os delitos, em concurso?
Há três posições sobre o assunto:
a) A resistência absorve o desacato, pois a ofensa física ou verbal ao funcionário público destina-se a impedir a execução de ato legal. É a posição majoritária em sede doutrinária, nada obstante a pena cominada à resistência (detenção de dois meses a dois anos) seja inferior à pena do desacato (detenção, de seis meses a dois anos, ou multa).
b) O desacato absorve a resistência, em razão da pena mais elevada.
c) Há concurso material entre resistência e desacato, nos moldes do art. 69, caput, do Código Penal. Ao contrário do que se verifica na desobediência, o desacato não é meio imprescindível para execução da resistência. Basta, no crime previsto no art. 329 do Código Penal, a utilização de violência ou ameaça para impedir a execução de ato legal pelo funcionário público competente, não sendo necessário menosprezar a relevante função pública por ele exercida. Portanto, os interesses da Administração Pública atingidos pela conduta criminosa são distintos. É a posição que adotamos.
Ação penal
A ação penal é pública incondicionada, em todas as modalidades do delito.
Lei 9.099/1995
Em sua forma simples (art. 329, caput), a resistência constitui-se em infração penal de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal e compatível com a transação penal e com o rito sumaríssimo, nos moldes da Lei 9.099/1995, pois o máximo da pena privativa de liberdade cominada é de dois anos.
De outro lado, a pena da resistência qualificada (art. 329, § 1.º) é de reclusão, de um a três anos. Trata-se, portanto, de crime de médio potencial ofensivo, admitindo o benefício da suspensão condicional do processo, desde que presentes os demais requisitos exigidos pelo art. 89 da Lei 9.099/1995.
Classificação doutrinária
A resistência é crime pluriofensivo (ofende mais de um único bem jurídico); comum (pode ser cometido por qualquer p e s s o a ) ; formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (na modalidade simples) ou material (na forma qualificada); de dano (causa lesão à Administração Pública); de forma livre (admite qualquer meio de execução); em regra comissivo; instantâneo (consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (normalmente praticado por um só agente, mas admite o concurso); e unissubsistente ou plurissubsistente.
Legislação Penal Especial
Resistência e Comissões Parlamentares de Inquérito
O art. 4.º, inc. I, da Lei 1.579/1952, contém uma modalidade específica de resistência no âmbito das Comissões Parlamentares de Inquérito:
Constitui crime:
I – Impedir, ou tentar impedir, mediante violência, ameaça ou assuadas, o regular funcionamento de Comissão Parlamentar de Inquérito, ou o livre exercício das atribuições de qualquer dos seus membros.
Pena – A do art. 329 do Código Penal.
Trata-se, em verdade, de lei penal em branco ao avesso, pois o preceito primário do tipo penal descreve uma conduta criminosa completa, mas o preceito secundário é incompleto, devendo ser complementado pelo art. 329 do Código Penal.
Resistência e Estatuto da Criança e do Adolescente
O Estatuto da Criança e do Adolescente define uma forma especial de resistência, relacionada ao desempenho de atividade vinculada à autoridade judiciária, ao membro do Conselho Tutelar ou ao membro do Ministério Público no exercício de função prevista na Lei 8.069/1990:
Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Pena – detenção de seis meses a dois anos.
Resistência e Código Penal Militar
Em conformidade com o art. 177 do Decreto-lei 1.001/1969 – Código Penal Militar –, responsável pela tipificação do crime de resistência mediante ameaça ou violência:
Opor-se à execução de ato legal, mediante ameaça ou violência ao executor, ou a quem esteja prestando auxílio:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Forma qualificada
§ 1.º Se o ato não se executa em razão da resistência:
Pena – reclusão de dois a quatro anos.
Cumulação de penas
§ 2.º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência, ou ao fato que constitua crime mais grave.
	
Desobediência
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Introdução
O crime de desobediência apresenta pontos em comum com o delito de resistência (CP, art. 329). Deste se diferencia, entretanto, pela ausência de emprego de violência ou ameaça ao funcionário público competente, daí resultando o tratamento menos severo dispensado pelo legislador.
Esta é razão pela qual a desobediência também é chamada de “resistência passiva”, enquanto a resistência é conhecida como “desobediência belicosa”. Nas insuperáveis lições de Nélson Hungria:
“A resistência encerra a desobediência, podendo mesmo denominar-se desobediência belicosa, enquanto a desobediência representa uma resistência passiva ou, quando comissiva, desacompanhada de força física ou moral”.
Objetividade jurídica
O bem jurídico penalmente tutelado é a Administração Pública, especificamente no tocante à autoridade e ao respeito devidos às ordens legais emitidas pelos funcionários públicos em geral.
Objeto material
É a ordem legal emanada do funcionário público, ou seja, a determinação dirigida a alguém para fazer ou deixar de fazer algo, e não um mero pedido ou solicitação. Como explica Julio Fabbrini Mirabete:
“Assim, em simples ofício em que se solicita providência, caso não respondido, não basta para a caracterização do ilícito”.
Esta ordem legal, na visão do Supremo Tribunal Federal, precisa ser direta e individualizada ao seu destinatário.
A expressão “ordem legal” revela a	 existência de um elemento normativo do tipo no crime de desobediência.
A legalidade da ordem deve ser apreciada sob um dúplice aspecto:
a) formal, é dizer, do ponto de vista da sua forma e da competência de quem a emite ou executa; e 
b) material ou substancial, vale dizer, relativamente à sua substância.
Com efeito, não se pode compelir uma pessoa a cumprir uma ordem formal e/ou materialmente ilegal. Em resumo, o descumprimento de ordem ilegal não configura crime de desobediência, em face do princípio da legalidade, insculpido no art. 5.º, inc. II, da Constituição Federal: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
Como exemplos deste raciocínio, no sentido de inocorrência do crime tipificado no art. 330 do Código Penal, podemos citar: 
(a) o morador que se recusa a permitir o cumprimento de mandado judicial em sua residência no período noturno; 
(b) o gerente de instituição financeira que não fornece dados bancários de um cliente à autoridade policial; e
(c) a pessoa que deixa de atender ordem judicial emanada de juízo manifestamente incompetente.
Nesse contexto, também não há falar em crime de desobediência em razão do desatendimento de ordens baseadas em portarias, resoluções ou atos análogos, pois somente o legislador é constitucionalmente dotado do poder legiferante, isto é, só ele tem competência para a edição de leis. A título ilustrativo, não se verifica o crime definido no art. 330 do Código Penal quando uma pessoa deliberadamente descumpre uma portaria emitida pela Justiça Eleitoralproibitiva da comercialização e do consumo de bebidas alcoólicas no dia das eleições.
Finalmente, é importante destacar que não se pode confundir a ordem ilegal com a ordem injusta. Os valores “justo e injusto” não devem nortear a interpretação do art. 330 do Código Penal. De fato, a ordem legal (formalmente em ordem e com conteúdo admitido pelo ordenamento jurídico) há de ser rigorosamente cumprida, ainda que considerada injusta pelo seu destinatário. Assim já decidiu o Supremo Tribunal Federal:
Ante ofício por meio do qual se solicita definição sobre a titularidade do uso da linha telefônica, em papel timbrado do Judiciário, subscrito por juiz e com referência a processo em curso, não cabe ao destinatário, a pretexto da necessidade de o ato ser praticado via carta precatória, desconsiderá-lo.
Ocorrência de justa causa, tendo em vista o crime de desobediência – artigo 330 do Código Penal.
Desobediência à decisão judicial e art. 359 do Código Penal
Em decorrência da utilização do princípio da especialidade para solução do conflito aparente de leis penais, incide o crime tipificado no art. 359 do Código Penal no tocante à desobediência à decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito, cuja redação é a seguinte:
Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial:
Pena – detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
Núcleo do tipo
O núcleo do tipo é “desobedecer”, no sentido de desatender ou recusar cumprimento à ordem legal de funcionário público competente para emiti-la. Não há emprego de grave ameaça ou de violência à pessoa do agente público ou de outra pessoa qualquer, sob pena de desclassificação para o crime de resistência (CP, art. 329). O sujeito, passivamente, limita-se a infringir o mandamento do representante do Poder Público.
A conduta pode ser praticada por ação, quando a ordem do funcionário público impõe a abstenção de um ato ao seu destinatário, mas este prefere agir.
Exemplo: Durante abordagem a diversas pessoas, um policial militar determina que todas elas fiquem imóveis, a fim de proceder à revista pessoal, mas um dos suspeitos foge.
Também é possível a execução do crime omissivamente, na hipótese em que o funcionário público ordena um comportamento positivo do sujeito, que livremente opta pela omissão. Veja o exemplo fornecido pelo Supremo Tribunal Federal:
Crime de desobediência. Estagiário que se recusou a abrir a pasta após ultrapassar detector de metais instalado no foro e que sinalizou a existência de metal. A recusa em abrir a pasta, a despeito de instado por policiais militares em serviço no local, configura, em tese, crime de desobediência (CP, art. 330).
O verbo “desobedecer” pressupõe o efetivo conhecimento da ordem legal do funcionário público pela pessoa sujeita ao seu cumprimento, seja porque expedida na sua presença, seja porque sua ciência restou demonstrada de modo inequívoco, sob pena de abrir espaço à responsabilidade penal objetiva em decorrência de corriqueiros erros de comunicação. De fato, somente se configura o delito de desobediência quando há descumprimento à ordem legal endereçada diretamente para quem tem o dever legal de cumpri-la.
No tocante às notificações encaminhadas pela via postal, é imprescindível a intimação pessoal do destinatário da ordem. Como já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça:
Não se configura o crime de desobediência na hipótese em que as notificações do responsável pelo cumprimento da ordem foram encaminhadas por via postal, sendo os avisos de recebimento subscritos por terceiros. Para caracterizar o delito de desobediência, exige-se a notificação pessoal do responsável pelo cumprimento da ordem, demonstrando a ciência inequívoca da sua existência e, após, a intenção deliberada de não cumpri-la.
Desobediência e cumulatividade com sanção de outra natureza
A doutrina e a jurisprudência firmaram-se no sentido de que, quando alguma lei comina determinada sanção civil ou administrativa para o descumprimento de ordem legal de funcionário público, somente incidirá o crime tipificado no art. 330 do Código Penal se a mencionada lei ressalvar expressamente a aplicação cumulativa do delito de desobediência. Incide na espécie o princípio da independência das instâncias civil, administrativa e penal.193 Em sintonia com o entendimento do Supremo Tribunal Federal:
A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que não há crime de desobediência quando a inexecução da ordem emanada de servidor público estiver sujeita à punição administrativa, sem ressalva de sanção penal. 
Hipótese em que o paciente, abordado por agente de trânsito, se recusou a artigo 238).
Exemplificativamente, o art. 219 do Código de Processo Penal assim dispõe:
“O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligência”. É, possível, nesse caso, a caracterização do crime previsto no art. 330 do Código Penal, em face da ressalva legal expressa. Igual raciocínio se aplica à recusa do jurado em comparecer à reunião do Tribunal do Júri, a teor do art. 442 do Código de Processo Penal.
De outro lado, não incide o art. 330 do Código Penal para a testemunha faltosa no juízo cível, pois o art. 412 do Código de Processo Civil institui sanções civis, deixando de fazer menção explícita ao crime de desobediência.
Desobediência e causas excludentes da ilicitude
Não se configura o crime de desobediência, em face da ausência de um dos seus elementos, quando o destinatário descumpre ordem legal emanada de funcionário público competente, amparado em qualquer causa excludente da ilicitude. Vejamos dois exemplos em que incide a eximente relativa ao estrito cumprimento de dever legal (CP, art. 23, inc. III, 1.ª parte):
a) não há desobediência para o médico que desatende ordem judicial para enviar dados sigilosos constantes do prontuário do paciente, pois assim agindo limita-se a cumprir o art. 102 da Resolução 1.246/1998, do Conselho Federal de Medicina; e
b) também não incide o crime definido pelo art. 330 do Código Penal na conduta do advogado que se recusa a prestar informações ou fornecer documentos acerca de fatos aptos a prejudicar seu cliente, em obediência ao art. 7.º, inc. XIX, da Lei 8.906/1994 – Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.
A vítima e seu dever de colaborar com a investigação criminal
A vítima pode ser responsabilizada pelo crime de desobediência quando se recusa a colaborar com a polícia judiciária na investigação criminal, em ato imprescindível para apuração da infração penal e incapaz de ofendê-la em sua integridade física ou moral.
Tome-se como exemplo o comportamento do ofendido que desatende ordem da autoridade policial para comparecer ao Instituto Médico Legal a fim de realizar exame de corpo de delito, medida indispensável para conclusão de inquérito policial instaurado para investigar crime de lesão corporal grave, possibilitando o desaparecimento dos vestígios materiais e a impunidade de delito de ação penal pública incondicionada.
Recusa em submeter-se à identificação criminal
A identificação criminal pode ser de duas espécies: 
(a) dactiloscópica, consistente na obtenção das impressões digitais do investigado; e 
(b) fotográfica. Sobre o assunto, estatui o art. 5.º, inc. LVIII, da Constituição Federal: “o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”.
Destarte, com exceção das hipóteses taxativamente previstas em lei, o portador de identificação civil não pode ser compelido à identificação criminal.
Portanto, a pessoa criminalmente investigada tem o direito de se recusar à identificação dactiloscópica ou fotográfica, sem que sua opção configure crime de desobediência.
De outro lado, se a lei impuser a identificação criminal (exemplos: art. 5.º da Lei 9.034/1995 – Crime Organizado e art. 3.º da Lei 12.037/2009 – Identificação criminal do civilmente identificado),o desatendimento injustificado a ordem legal de funcionário público ensejará a aplicação do delito disciplinado no art. 330 do Código Penal.
Sujeito ativo
A desobediência é crime comum ou geral, pois pode ser cometido por qualquer pessoa, desde que juridicamente vinculada ao cumprimento da ordem legal.
O funcionário público pode ser responsabilizado pelo crime tipificado no art. 330 do Código Penal, na hipótese em que atue como particular, isto é, quando a ordem recebida e descumprida não se inclua entre seus deveres funcionais, uma vez que a desobediência se insere entre os crimes praticados por particular contra a Administração em geral.
De fato, se o funcionário público deixa de cumprir algum ato de ofício, estará delineado o delito de prevaricação (CP, art. 319), se presente o especial fim de agir para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
Exemplificativamente, se um funcionário público, dirigindo seu automóvel em via pública, descumprir a determinação de parada de um comando policial, estará caracterizado o crime de desobediência; se o funcionário público, entretanto, deixar de cumprir uma liminar emitida em ação judicial, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, a ele será imputado o delito de prevaricação.
Desobediência e prefeito como sujeito ativo
Não incide o crime de desobediência (CP, art. 330) para os prefeitos, em face da existência de delito específico, contido no art. 1.º, inc. XIV, do Decreto-lei 201/1967: 
São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
XIV – negar execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixar de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente.
Sujeito passivo
É o Estado e, mediatamente, o funcionário público emissor da ordem legal injustificadamente descumprida.
Elemento subjetivo
É o dolo – abrangente do conhecimento da legalidade da ordem e da competência do funcionário público para emiti-la –, independentemente de qualquer finalidade específica.
Não se admite a modalidade culposa.
Desobediência e ordem do funcionário público que acarreta autoincriminação ou prejuízo ao seu destinatário Não há crime de desobediência, por ausência de dolo, nas situações em que alguém descumpre ordem de funcionário público (membro do Poder Judiciário ou do Ministério Público, Delegado de Polícia, parlamentar integrante de CPI etc.), em razão de considerá-la idônea a provocar sua autoincriminação ou de qualquer modo prejudicá-lo.
Quem se comporta desta maneira não tem a intenção de desobedecer ao representante do Estado; ao contrário, o sujeito busca preservar algum bem jurídico do seu interesse. Trata-se de manifestação do nemo tenetur se detegere, isto é, ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo. Para o Supremo Tribunal Federal, este princípio constitui-se em desdobramento lógico do direito ao silêncio, previsto no art. 5.º, inc. LXIII, da Constituição Federal como direito fundamental do ser humano.
Vale lembrar, ainda, que o art. 8.º, 2, g, do Pacto da San José da Costa Rica, incorporado ao direito pátrio pelo Decreto 678/1992, assim dispõe: “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa.
Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: (…) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”.
É o que se verifica, exemplificativamente, quando o motorista de um veículo automotor não se submete ao teste de alcoolemia (exame de sangue ou etilômetro, também conhecido como teste em aparelho de ar alveolar, popularmente chamado como “bafômetro”), bem como quando uma pessoa indiciada em inquérito policial se recusa a participar da reprodução simulada dos fatos (CPP, art. 7.º), também denominada “reconstituição”, de exame grafotécnico ou de qualquer outro meio de prova análogo. Confira-se o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal:
Diante do princípio nemo tenetur se detegere, que informa o nosso direito de punir, é fora de dúvida que o dispositivo do inciso IV do art. 174 do Código de Processo Penal há de ser interpretado no sentido de não poder ser o indiciado compelido a fornecer padrões gráficos do próprio punho, para os exames periciais, cabendo apenas ser intimado para fazê-lo a seu alvedrio. 
É que a comparação gráfica configura ato de caráter essencialmente probatório, não se podendo, em face do privilégio de que desfruta o indiciado contra a autoincriminação, obrigar o suposto autor do delito a fornecer prova capaz de levar à caracterização de sua culpa. Assim, pode a autoridade não só fazer requisição a arquivos ou estabelecimentos públicos, onde se encontrem documentos da pessoa a qual é atribuída a letra, ou proceder a exame no próprio lugar onde se encontrar o documento em questão, ou ainda, é certo, proceder à colheita de material, para o que intimará a pessoa, a quem se atribui ou pode ser atribuído o escrito, a escrever o que lhe for ditado, não lhe cabendo, entretanto, ordenar que o faça, sob pena de desobediência, como deixa transparecer, a um apressado exame, o CPP, no inciso IV do art. 174.200
Desobediência e exercício arbitrário das próprias distinções: distinção
Não há desobediência, mas exercício arbitrário das próprias razões, quando uma pessoa descumpre ordem legal de funcionário público com o propósito de fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, desde que este comportamento não seja legalmente permitido.
Imaginemos um exemplo: “A” teve seu carro furtado por “B”. Minutos depois, o larápio foi preso em flagrante pela Polícia Militar, que acionou a vítima para reconhecimento do bem e do criminoso. Os milicianos determinaram à vítima que permanecesse no local, para só posteriormente comparecer ao Distrito Policial para entrega do veículo. “A”, contudo, valendo-se da chave reserva, ingressou no automóvel e foi para casa, descumprindo a ordem legal dos funcionários públicos. Nesse caso, restou caracterizado o crime de exercício arbitrário das próprias razões, a teor do art. 345 do Código Penal.
Consumação
A ordem legal emitida pelo funcionário público pode consubstanciar um comportamento comissivo (o particular deve fazer algo) ou omissivo (o particular deve abster-se de fazer algo) da parte do seu destinatário.
Na primeira situação, o crime se consuma no momento em que o sujeito deixa de fazer o que fora determinado pelo funcionário público. Nessa hipótese, é preciso analisar se o agente estatal fixou prazo para realização do comportamento devido: em caso positivo, o delito estará aperfeiçoado quando, ultrapassado o interregno concedido, o destinatário não tiver cumprido injustificadamente a ordem legal; em caso negativo, ou seja, na ausência de prazo preestabelecido, o crime alcançará a consumação depois de superado um lapso temporal juridicamente relevante (aferido no caso concreto) indicativo do efetivo descumprimento da ordem.
Na última situação, o crime de desobediência é unissubsistente: consuma-se no instante em que o destinatário da ordem legal realiza a ação que deveria ser evitada.
Em ambas as situações, a desobediência é crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Consuma-se com a prática da conduta criminosa, independentemente da superveniência do resultado naturalístico. E, normalmente, é também crime instantâneo, pois atinge a consumação em um momento determinado, sem continuidade no tempo.
Desobediência como crime permanente
O crime de desobediência, quanto ao tempo da consumação, em regra é
Instantâneo.
Excepcionalmente, porém, o delito apresenta a nota da permanência, pois, dependendo da vontade do agente, seus efeitos podem prolongar-se no tempo. É o que se dá, exemplificativamente, quando um funcionário de uma empresa descumpre ordem judicial, em sucessivos meses, relativamente ao descontode pensão alimentícia dos vencimentos de um empregado.
Tentativa
É cabível somente na modalidade comissiva, pois nesse caso a desobediência é crime plurissubsistente, comportando o fracionamento do iter criminis.
Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
Lei 9.099/1995
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, em face do máximo da pena privativa de liberdade legalmente prevista (seis meses).
Incidem, portanto, a transação penal e o rito sumaríssimo, na forma estatuída pela Lei 9.099/1995.
Classificação doutrinária
A desobediência é crime simples (ofende um único bem jurídico); comum (pode ser cometido por qualquer pessoa ) ; formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (consuma-se com a prática da conduta criminosa, independentemente da produção do resultado naturalístico); de dano (causa lesão à Administração Pública); de forma livre (admite qualquer meio de execução); comissivo ou omissivo; em regra instantâneo, mas excepcionalmente permanente; unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (normalmente praticado por um só agente, mas admite o concurso); e unissubsistente ou plurissubsistente.
Legislação penal especial
Desobediência e Código Penal Militar
O art. 301 do Decreto-lei1.001/1969 prevê uma modalidade específica de desobediência: Desobedecer a ordem legal de autoridade militar: Pena – detenção, até seis meses.
Desobediência e Lei da Ação Civil Pública
O art. 10 da Lei 7.347/1985 tipifica uma figura especial de desobediência, inerente ao descumprimento injustificado de ordem do Ministério Público relativamente a elementos indispensáveis ao ajuizamento de ação civil pública:
Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional – ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
Desobediência e Estatuto do Idoso
Os arts. 100, inc. IV, e 101 da Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso – contêm formas especiais e mais graves do crime de desobediência:
Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei.
Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Desacato
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Introdução
Todo funcionário público, do mais humilde ao mais graduado, representa Estado, agindo em seu nome e em seu benefício, buscando sempre a consecução do interesse público.
Consequentemente, no exercício legítimo do seu cargo, o agente público
deve estar protegido contra investidas violentas ou ameaçadoras. Esta é a razão da criação do crime de desacato pelo art. 331 do Código Penal.
 
Vale destacar que, ao contrário da ideia consolidada no jargão popular, o
nome do delito é simplesmente “desacato”, e não “desacato à autoridade”. Qualquer funcionário público, pouco importando as atividades desempenhadas, pode ser desacatado, e não somente os mais graduados e dotados de patentes e insígnias destacadas. Nesse sentido, o tipo penal tutela de igual modo tanto as funções públicas de um lixeiro como os misteres relacionados ao Presidente da República.
Objetividade jurídica
O bem jurídico penalmente protegido é a Administração Pública, especialmente no tocante ao desempenho normal, à dignidade e ao prestígio da função exercida em nome ou por delegação do Estado. Secundariamente, também se resguarda a honra do funcionário público.
Objeto material
É o funcionário público contra quem se dirige a conduta criminosa.
Núcleo do tipo
O núcleo do tipo penal é “desacatar”, ou seja, realizar uma conduta objetivamente capaz de menosprezar a função pública exercida por determinada pessoa. Em outras palavras, ofende-se o funcionário público com a finalidade de humilhar a dignidade e o prestígio da atividade administrativa.
Cuida-se de crime de forma livre, compatível com os mais diversos meios de execução, tais como palavras (exemplo: chamar um juiz de Direito de
“fomentador da criminalidade”), gestos (exemplo: simular com as mãos a atitude do larápio perante um delegado de Polícia), ameaça (exemplo: prometer “pegar” o policial militar responsável pela prisão em flagrante), vias de fato (exemplo: esbofetear a face do oficial de justiça), lesão corporal (exemplo:
chutar levemente o fiscal de obras), bem como qualquer outro meio indicativo do propósito de ridicularizar o funcionário público.
Entretanto, é pressuposto do desacato seja a ofensa proferida na presença do funcionário público, pois somente assim estará evidenciada a finalidade de inferiorizar a função pública. Consequentemente, não se admite a execução do desacato mediante cartas, telefonemas ou e-mails, entre outros meios. Com efeito, a ofensa efetuada contra funcionário público e em razão das suas funções, mas na ausência deste, configura o crime de injúria agravada, nos termos do art. 140, caput, c/c o art. 141, inc. II, ambos do Código Penal, conforme estudado detalhadamente no item seguinte.
Anote-se, contudo, que a mencionada presença não se confunde com a colocação “face a face” do ofensor e do funcionário público desacatado. Exemplificativamente, há desacato, pois se considera presente o funcionário público, quando um juiz de Direito encontra-se sentenciando em seu gabinete, com a porta aberta, e um advogado, da sala de audiências, se refere a ele como “famigerado protetor dos devedores”.
A análise do art. 331 do Código Penal releva que a conduta criminosa pode ser praticada no exercício da função pública ou em razão dela.
Vejamos estas duas hipóteses:
a) No exercício da função (desacato in officio) O funcionário público encontra-se desempenhando sua função, isto é, realizando atos de ofício. Não é necessário que ele esteja no interior da repartição pública, bastando o efetivo
exercício funcional.
Exemplificativamente, um magistrado pode ser considerado no exercício da função tanto quando preside uma audiência no interior do fórum como quando está na residência de uma das partes em trabalho de inspeção.
Nesse caso, é irrelevante se a ofensa proferida contra o agente público tenha ou não ligação com sua posição funcional, pois no exercício da função pública o representante do Estado há de ser protegido contra ataques grotescos e inoportunos. Em qualquer caso, estará delineado o crime tipificado no art. 331 do Código Penal. A título ilustrativo, há desacato quando um cidadão, desafeto de um investigador de Polícia, reporta-se pejorativamente a ele como um “mal educado”, durante o desenrolar de uma diligência determinada no bojo de um inquérito policial.
b) Em razão da função pública (propter officium) Aqui, o funcionário público está fora da repartição pública e não desempenha nenhum ato de ofício. Nada obstante, a ofensa contra ele proferida vincula-se à sua função pública. Exemplo: Um fiscal de rendas, descansando na praia em seu período de férias, é chamado de corrupto por uma pessoa.
Como o agente público não se encontra no exercício da função pública, é indispensável a relação de causalidade entre a ofensa lançada e a atividade administrativa por ele desempenhada, pois somente assim o prestígio e a dignidade da Administração Pública serão atacados.
Se, exemplificativamente, um promotor de Justiça, durante seu período de licença-paternidade, é chamado de “cônjuge infiel”, estará caracterizado um crime contra a honra (injúria).
Desacato e injúria contra funcionário público: distinção
O crime de injúria pode ser cometido na presença ou na ausência da vítima. Basta que a ofensa chegue ao seu conhecimento,com potencialidade para arranhar sua honra subjetiva, é dizer, o juízo que cada pessoa faz de si própria.
Essa é a regra geral, excepcionada quando o ofendido é funcionário público.
Nesse caso, se a ofensa é realizada na presença do funcionário público, no exercício da função ou em razão dela, não se trata de simples agressão à sua honra, mas de desacato, arrolado pelo legislador entre os crimes contra a Administração Pública (CP, art. 331).
Nas palavras de Flávio Augusto Monteiro de Barros:
No desacato, a ofensa é irrogada na presença do funcionário, que dela toma conhecimento direto, por si próprio.
Quando o funcionário público está no exercício das funções (in officio) é irrelevante à tipificação do desacato o fato de a ofensa relacionar-se ou não com o exercício funcional. Estando, porém, fora do exercício funcional, o desacato está condicionado à relação da ofensa com o exercício funcional (propter officium).
Na injúria, por sua vez, a ofensa não é lançada na presença do funcionário público, relacionando-se, todavia, à função pública por ele exercida.
Vejamos alguns exemplos:
(1) se um particular vai à sala de audiências do fórum e chama o juiz de Direito de “desonesto”, o crime é de desacato; e 
(2) se o mesmo particular para em frente à casa do juiz de Direito, em um domingo, e grita “juiz desonesto”, fugindo em seguida, o crime é de
injúria.
Sujeito ativo
O desacato é crime comum ou geral. Pode ser praticado por qualquer
pessoa.
A questão do desacato cometido pelo funcionário público
Discutiu-se, durante muito tempo, se o funcionário público poderia ser autor de desacato. Surgiram três posições acerca do tema:
1.ª posição: O funcionário público jamais pode ser responsabilizado por desacato A justificativa desta corrente é extremamente simplista e centrada na interpretação geográfica (ou topográfica) e literal (ou gramatical) do Código Penal. Alega-se que, pelo fato de o desacato estar capitulado entre os “crimes praticados por particular contra a Administração em geral”, o funcionário público não pode figurar como seu sujeito ativo.
Destarte, a ofensa proferida por funcionário público contra outro funcionário público configura o crime de injúria, com a pena aumentada de um terço, nos termos do art. 141, inc. II, do Código Penal.
2.ª posição: O funcionário público somente pode ser responsabilizado por desacato quando ofende seu superior hierárquico
Para esta corrente, o funcionário público pode praticar desacato contra seu superior hierárquico, mas a recíproca não é verdadeira. Como sustenta Bento de Faria:
Se o ofensor for superior hierárquico, ou ocupar posição superior ao ofendido, haverá excesso de poder disciplinar e não desacato, dada a inexistência de agressão à autoridade (objetividade jurídica do delito). Se, porém, for inferior hierárquico ou, por outra forma, subordinado ao ofendido, subsistirá o desacato.
Com o devido respeito, esta posição, além de preconceituosa e autoritária, é inconstitucional, em face da violação do princípio da isonomia (CF, art. 5.º, caput). Ademais, sabemos ter o legislador incriminado o “desacato”, tutelando toda e qualquer função pública, e não somente o “desacato à autoridade”.
3.ª posição: O funcionário público pode ser responsabilizado por desacato De fato, ao ofender física ou moralmente um funcionário público o
sujeito se despe da sua condição funcional e se equipara ao particular.
Em verdade, entre as atribuições do funcionário público – pouco importando seja ele da mesma categoria ou de categoria diversa do ofendido – não se insere a agressão de qualquer natureza contra outro funcionário público. Logo, a ele deve ser imputado o crime de desacato, pois o bem jurídico tutelado é o prestígio da função pública, razão pela qual o sujeito passivo é o Estado e, secundariamente, o funcionário público ofendido.
Esta posição, correta e atualmente consolidada em sede doutrinária, há muito tempo também passou a ser adotada pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.205 O Superior Tribunal de Justiça possui igual entendimento.
Desacato, advogado e a Lei 8.906/1994
A Lei 8.906/1994 – Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil – dispõe em seu art. 7.º, § 2.º: O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer.
Aparentemente, o art. 7.º, § 2.º, da Lei 8.906/1994, conferiu imunidade aos advogados relativamente ao crime de desacato no exercício das suas atividades, tanto em juízo como fora dele. Assim agindo, o legislador ampliou o alcance do art. 142, inc. I, do Código Penal, cuja redação é a seguinte:
“Não constituem injúria ou difamação punível a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador”.
Entretanto, no dia 17.05.2006, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.127, declarou a inconstitucionalidade da expressão “ou desacato”, constante do art. 7.º, § 2.º, da Lei 8.906/1994. Entendeu-se que a imunidade assegurada aos causídicos pelo art. 133 da Constituição Federal somente poderia abranger os crimes contra honra (difamação e injúria), mas não os crimes contra a Administração Pública.
Em nossa opinião, agiu acertadamente o Supremo Tribunal Federal. No desempenho das suas atividades, talvez seja necessária ao advogado a prática de um fato que, em tese, poderia caracterizar difamação ou injúria. Exemplificativamente, não há crime na conduta do defensor que, no plenário do Tribunal do Júri, chama o promotor de Justiça de “moço jovem e ainda despreparado”, desde que o faça nos estritos limites da causa debatida em juízo.
Este raciocínio, contudo, não autoriza a concessão da imunidade quanto ao desacato. Nesse sentido, não poderia o advogado, no julgamento em plenário do Júri, cuspir na face do magistrado, por entendê-lo parcial e favorável à tese de acusação.
Em síntese, o advogado pode ser sujeito ativo do crime de desacato.
Sujeito passivo
É o Estado, titular do bem jurídico legalmente protegido. Mediatamente, também pode ser vítima a pessoa física (funcionário público) lesada pela conduta criminosa. Com efeito, o propósito do criminoso é menosprezar a função pública exercida pelo agente público, e somente em um plano secundário, a sua pessoa.
Não há desacato, mas crime de outra natureza (calúnia, difamação, injúria, lesão corporal etc.), na hipótese em que o ofendido, ao tempo da conduta, já não ostentava a condição de funcionário público. Nesse caso, há lesão ao particular, e não aos interesses da Administração Pública.
Desacato e ofensa dirigida a vários funcionários públicos Imaginemos um exemplo: “A”, autor de uma ação de cobrança, inconformado com a lentidão do trâmite processual, dirige-se ao cartório judicial, pede a atenção de todos os funcionários e os chama de “vagabundos”. Questiona-se: Quantos crimes de desacato devem ser imputados ao agente?
E a resposta é a seguinte: um só crime de desacato. Vejamos.	
O sujeito passivo imediato do crime tipificado no art. 331 do Código Penal é o Estado. Logo, o bem jurídico foi atingido uma única vez. Entretanto, a
maior reprovabilidade da conduta deve ser utilizada pelo magistrado na dosimetria da pena-base, como circunstância judicial desfavorável, a teor do art. 59, caput, do Código Penal. Estará presente o concurso de crimes, todavia, se os funcionários públicos forem ofendidos em contextos fáticos diversos, como no exemplo em que o sujeito ativo comparece a repartições públicas distintas, em datas variadas, e ofende diferentes pessoas.
Elemento subjetivo
É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de causar desprestígio à função pública, ofendendo a dignidade do cargo público ocupado pelo agente público. Para o Supremo Tribunal Federal: “No crime de desacato, o elemento subjetivo do tipo é a vontade livre e consciente de agir com a finalidade de desprestigiara função pública do ofendido”.
Em nossa opinião, prescinde-se do elemento subjetivo específico, uma vez que o núcleo “desacatar” já torna manifesta a intenção da lei em exigir o desprezo da função pública como ponto central da conduta criminosa. Dessa forma, se o agente empregar violência à pessoa ou grave ameaça com o propósito de opor-se à execução de ato legal do funcionário público, e não de menosprezar suas funções, estará caracterizado o crime de resistência (CP, art. 329).
No crime de desacato, o dolo deve abranger o conhecimento da qualidade de funcionário público, bem como a circunstância de encontrar-se ele no exercício da função pública ou de ser a ofensa lançada em razão desta. O erro (ou ignorância) acerca de uma ou mais destas condições implica a desclassificação para outro delito (calúnia, difamação, injúria, lesão corporal etc.). É o que se dá, exemplificativamente, quando um particular ofende um homem trajando terno e gravata no recinto do Fórum, acreditando ser um advogado, quando na verdade trata-se do magistrado.
Não se admite a modalidade culposa.
Desacato e exceção da verdade
Ao contrário do que se verifica na calúnia e na difamação, não se admite 
no crime de desacato, em nenhuma hipótese, a exceção da verdade, por duas razões:
(a) falta de previsão legal; e
(b) o bem jurídico tutelado é o prestígio da função pública, e não a honra do funcionário público.
Desacato, críticas à conduta funcional, falta de educação e repulsa imediata
Como o desacato pressupõe a intenção de humilhar a função pública exercida pelo agente estatal, não há crime nos comportamentos que, embora enérgicos, mas não ultrajantes, se esgotam em críticas ao comportamento funcional, mesmo porque a todo cidadão é assegurado o direito de fiscalizar a Administração Pública e a prestação dos serviços públicos.
Exemplificativamente, não há falar em desacato na atitude do pai de família que se exalta perante o Secretário Municipal de Educação em decorrência da ausência de vaga para seu filho em creche da rede pública de ensino.
De igual forma, inexiste desacato na atitude que se limita a revelar a falta de educação ou o temperamento agressivo da pessoa, como falar alto ou reclamar publicamente da postura do funcionário público, desde que sem ofendê-lo no exercício das suas funções ou em razão dela.
Finalmente, não há crime de desacato quando o funcionário tenha dado causa ao ultraje, de modo que este se apresente como uma repulsa justificada, tal como no caso de resistência à execução de ordens ilegais ou executadas com desnecessária violência.
Desacato, embriaguez e exaltação de ânimos
Sustentou-se, durante longo período, a exclusão do crime de desacato nas hipóteses de condutas praticadas em estado de embriaguez ou em momentos de exaltação de ânimos. Esse raciocínio ancorava-se no seguinte fundamento: o núcleo do tipo “desacatar” exige o propósito de humilhar a função pública exercida pelo agente estatal, finalidade incompatível tanto com a embriaguez como também com a ausência de ânimo calmo e refletido.
Com o passar do tempo, esta posição foi perdendo espaço.
Atualmente, subsiste apenas a título de reminiscência histórica. Com efeito, prevalece o entendimento no sentido de que a pessoa embriagada pode e deve ser responsabilizada penalmente pelo crime de desacato, até mesmo porque delitos desta estirpe muitas vezes são praticados por ébrios, e não seria lícito à lei penal conferir a tais pessoas uma procuração genérica para livremente ofenderem a dignidade e o prestígio da Administração Pública.
De fato, é sabido que, nos termos do art. 28, inc. II, do Código Penal, a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos, não exclui a imputabilidade penal.
No entanto, não será possível a responsabilização penal do agente pelo crime de desacato no caso de embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, que no caso concreto o torna inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em face da incidência da causa excludente da culpabilidade prevista no art. 28, § 1.º, do Código Penal.
Igualmente, a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade penal (CP, art. 28, inc. I). Estará configurado o crime de desacato nas situações em que o sujeito se encontra acometido de um estado de cólera ou de ira, até porque é justamente nesses momentos de descontrole que as pessoas em regra se revelam e atentam contra bens jurídicos alheios.
Consumação
Dá-se no momento em que o agente pratica atos ofensivos ou dirige palavras ultrajantes ao funcionário público, com o propósito de menosprezar as
relevantes funções por ele exercidas.
Tratando-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado, é indiferente se o agente público sentiu-se ou não ofendido, pois a lei tutela a dignidade da função pública, e não a honra de quem a exerce. Em síntese, basta a potencialidade ofensiva da conduta, independentemente do juízo de valor que dela faz o funcionário público, até mesmo porque o crime é de ação penal pública incondicionada.
A publicidade da ofensa não é elementar do delito. Por corolário, subsiste o desacato mesmo na situação em que a conduta não seja presenciada por outras pessoas. É suficiente a presença do funcionário público.
Tentativa
Não se admite o conatus de desacato cometido verbalmente, em face
do caráter unissubsistente do delito.
Entretanto, a doutrina diverge acerca da possibilidade de tentativa nos demais casos. Magalhães Noronha, favorável à tese, assim se manifesta: “Não assim se houver um iter, se a ofensa for cindível ou reparável, como se uma pessoa, ao atirar imundície sobre um funcionário, é obstada, quer por ter seu braço seguro, quer por haver o arremesso sido desviado etc. Tentativa haverá quando alguém for impedido de agredir o servidor”.
‘Damásio E. de Jesus, a nosso ver acertadamente, tem posição diversa. São seus ensinamentos:
O crime, por exigir a presença do sujeito passivo, torna-se unissubsistente, não admitindo a tentativa. Não convencem os exemplos que os autores dão como de crime tentado, como o arremesso de imundície com erro de alvo, tentativa de agressão física etc. 
Nesses casos, segundo entendemos, o crime é consumado. Assim, se o sujeito lança excremento contra a vítima, errando o alvo, sua atitude já configura desacato.
No outro exemplo, em que o sujeito dá um soco na direção da vítima, sendo seu braço desviado por terceiro, há também delito consumado. Não se pode esquecer que a lei pune a atitude do autor, que pode consistir em simples gesto.
Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
Lei 9.099/1995
Em face do limite máximo da pena privativa de liberdade cominada (dois
anos), o desacato é classificado como infração penal de menor potencial
ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal e compatível com a
transação penal e o rito sumaríssimo, nos moldes da Lei 9.099/1995.
Classificação doutrinária
 desacato é crime simples (ofende um único bem jurídico); comum (pode ser cometido por qualquer pessoa); formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado (consuma-se com a prática da conduta criminosa, independentemente da produção do resultado naturalístico); de dano (causa lesão à Administração Pública); de forma livre (admite qualquer meio de e xe c uç ã o ) ; comissivo; instantâneo (consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (normalmente praticado por um só agente, mas admite o concurso); e unissubsistente ou plurissubsistente (dependendo da concepção doutrinária adotada).
Desacato e Código Penal Militar
Os arts. 298, 299 e 300 do Decreto lei 1.001/1969 – Código Penal Militar – contêm três espécies de desacato: Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade: Pena – reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. Agravação de pena Parágrafo único. A pena é agravada,

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