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DIREITO CONSTITUCIONAL AULA 6 Prof. Silvano Alves Alcantara A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Na aula de hoje, falaremos de assuntos diversos também tratados pela Constituição da República de 1988. Abordaremos a defesa do Estado e das instituições democráticas para sabermos como o Estado pode agir para manter a segurança e a ordem pública. Estudaremos outra questão muito importante e que faz parte de nosso cotidiano que é a tributação. Ainda veremos as disposições constitucionais sobre a ordem econômica, financeira e social. E ao final falaremos sobre as funções essenciais para a promoção da justiça. TEMA 1 – DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS Determina a Constituição Federal de 1988 que quando for necessário preservar ou restabelecer a ordem pública ou a paz social em virtude de estarem ameaçadas por grave ou iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza, o Presidente da República poderá decretar estado de defesa. Silva (2017, p. 50) diferencia a defesa do Estado do estado de defesa: Defesa do Estado e estado de defesa: o primeiro significa uma ordenação que tem por fim específico e essencial a regulamentação global das relações sociais entre os membros de uma dada população sobre um dado território; o segundo, segundo o art. 136, consiste na instauração de uma legalidade extraordinária, por certo tempo, em locais restritos e determinados, mediante decreto do Presidente, para preservar a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. Ressaltamos que o Presidente da República deverá, antes de decretar o estado de defesa, ouvir os Conselhos da República e de Defesa Nacional. Ainda existe a possibilidade, a depender da situação, da decretação do estado de sítio nos casos indicados pelos incisos do art.137 da Constituição de 1988 (Brasil, 1988): “[...] I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira”. Como na decretação do estado de defesa, o Presidente da República deverá ouvir o Conselho da República e o Conselho de Defesa A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 3 Nacional, mas aqui ainda existe a obrigatoriedade de solicitar autorização ao Congresso Nacional. Estando em estado de sítio em razão dos fatos do inciso I do art. 137 (Brasil, 1988), algumas medidas podem ser tomadas contra as pessoas, de acordo com o art. 139 da Carta de 1988 (Brasil, 1988): [...] I - obrigação de permanência em localidade determinada; II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; IV - suspensão da liberdade de reunião; V - busca e apreensão em domicílio; VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; VII - requisição de bens. São medidas extremas que o Estado poderá tomar em razão de situações graves para garantir a segurança de todos e a estabilidade institucional. TEMA 2 – TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO A tributação e o orçamento estão dispostos na Constituição Federal a partir de seu art. 145 (Brasil, 1988). Particularmente sobre a tributação, podemos entender que as disposições constitucionais e legais dizem respeito ao tributo e suas espécies. Paulsen (2014, p. 606), ao caracterizar o Sistema Constitucional Tributário tal como concebido, afirma que o conceito de tributo pode ser extraído da própria Constituição Federal: A Constituição Federal, ao estabelecer as competências tributárias, as limitações ao poder de tributar e a repartição de receitas tributárias, permite que se extraia do seu próprio texto qual o conceito de tributo por ela considerado. Cuida-se de prestações em dinheiro exigidas compulsoriamente, pelos entes políticos, de quem revele capacidade contributiva ou que se relacione direta ou indiretamente à atividade estatal específica, com vista à obtenção de recursos para o financiamento geral do Estado ou para o financiamento de atividades ou fins realizados e promovidos pelo próprio Estado ou por terceiros no interesse público, com ou sem promessa de devolução. Tais características se evidenciam quando da leitura do Capítulo “Do Sistema Tributário Nacional”. A outorga de competência se dá para que os entes políticos obtenham receita através da instituição de impostos (arts. 145, I, 153, 154, 155 e 156), taxas (arts. 145, II, e 150, V), contribuições de melhoria (art. 145, III), empréstimos compulsórios (art. 148) e contribuições especiais (arts. 149 e 195). Em todas as normas A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 4 ali existentes, verifica-se que estamos cuidando de obrigações em dinheiro, tanto que há diversas referências à base de cálculo e à alíquota, bem como à distribuição de receitas e reservas de percentuais do seu produto para aplicação em tais ou quais áreas. Além dessa interpretação, a legislação também conceitua o tributo, assim descrito pela Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional), em seu art. 3º: “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. Em relação às espécies tributárias também não há mais dúvidas, sendo elas: os impostos; as taxas; as contribuições de melhoria; os empréstimos compulsórios e as contribuições especiais, todas versadas pela Constituição de 1988, nos artigos trazidos na citação acima, cada uma delas com suas características e seus fatos geradores. Se a Constituição Federal de 1988 determina como o Estado pode arrecadar, distribuindo competências a cada um dos entes tributantes, impõe, também, que seus gastos devam atender aos ditames constitucionais e legais. Hack (2012, p. 187) informa que “As despesas do Estado devem estar todas previstas em lei. Assim, existe o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei do Orçamento Anual (LOA)”. TEMA 3 – ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA Diz a Constituição Federal em seu art. 170 (Brasil, 1988) que a ordem econômica tem como alicerces o trabalho humano e a livre iniciativa. Seu objetivo é assegurar dignidade a todos, dentro da justiça social, baseada nos princípios: da soberania nacional; da propriedade privada; da função social da propriedade; da livre concorrência; da defesa do consumidor; da defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; da redução das desigualdades regionais e sociais; da busca do pleno emprego e do tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 5 constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país. Para entendermos alguns desses princípios, trazemos nosso entendimento em Alcantara (2016, p. 30-40): Princípio da soberania nacional A soberania é o baluarte para a própria existência da República Federativa do Brasil como Estado Democrático de Direito, no qual existe um respeito aos poderes e às instituições constituídas, aos direitos fundamentais e à hierarquia das normas jurídicas, prevista como o primeiro dos princípios fundamentais que sustentam nossa Constituição da República/88 em seu artigo 1º.Princípio da propriedade privada [...] De maneira geral, é claro que qualquer pessoa pode dispor de sua propriedade da maneira que lhe convier, dentro dos parâmetros legais e, especialmente, em relação ao empresário, utilizando-a a bem de sua atividade econômica, para que a mesma possa lhe trazer os frutos desejados, e pelo princípio da propriedade privada, sem a interferência de ninguém, nem mesmo do Poder Público, se sua atividade não requerer autorizações especiais [...] Princípio da livre concorrência A atividade econômica pode e deve ser explorada pelo particular, sem que o Poder Público interfira ou faça grandes exigências, como autorizações especiais para toda e qualquer atividade – é claro, atendendo aos requisitos mínimos exigidos por lei. (grifos nossos) Observados todos estes princípios, na visão da Constituição, a ordem econômica no Brasil estará preservada. TEMA 4 – ORDEM SOCIAL O art. 194 da Constituição da República (Brasil, 1988) declara que a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência, sendo estes, portanto, os grandes pilares da seguridade social brasileira. O art. 195 (Brasil, 1988) estabelece que o financiamento da seguridade social seja feito por toda a sociedade, de forma direta ou indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Há ainda as chamadas contribuições sociais, isto é, dos empregadores, das empresas e das entidades a ela equiparadas sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados à pessoa física que lhes preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício, o A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 6 faturamento e o lucro; dos trabalhadores e outros segurados da previdência social e sobre a receita de concursos de prognósticos. Dentro da Ordem Social, ainda determina a Constituição Federal de 1988 que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, sendo também dever do Estado fomentar as práticas desportivas e assegurar a todos o exercício de seus direitos culturais. Determina ainda que a família tenha especial proteção, bem como a criança, o adolescente e o idoso. Afirma que o meio ambiente equilibrado é direito de todos e reconhece os direitos dos grupos indígenas. TEMA 5 – DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA Você precisa de um advogado ou de um defensor público? O Ministério Público é importante para defender os interesses da sociedade? Estamos falando do que a Constituição de 1988 considera como funções essenciais à justiça. Estão nesse rol o Ministério Público, a Advocacia Pública, a Advocacia e a Defensoria Pública. O Ministério Público existe para fazer a defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, possuindo autonomia e independência funcional e administrativa, sendo fiscal da lei como custus legis, também devendo promover ação penal pública, como dominus litis. Informa a Carta de 1988 (Brasil, 1988): Art. 128. O Ministério Público abrange: I - o Ministério Público da União, que compreende: a) o Ministério Público Federal; b) o Ministério Público do Trabalho; c) o Ministério Público Militar; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II - os Ministérios Públicos dos Estados. A Advocacia Pública é exercida pela Advocacia-Geral da União, que patrocina os interesses da União na esfera judicial e extrajudicial, no âmbito do Poder Executivo. Ainda fazem parte da Advocacia Pública: a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, que tem como incumbência atender aos interesses da União nos processos tributários, bem como exigir do contribuinte o pagamento de A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 7 créditos tributários que estejam em dívida ativa; os procuradores dos Estados e do Distrito Federal. Ao falar da advocacia, diz a Constituição (Brasil, 1988): “Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”. Advogado é o bacharel em Direito, devida e regularmente inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), sendo o único profissional com capacidade postulatória, ou seja, é o único capaz de praticar os atos processuais em juízo. A Defensoria Pública é exercida por advogados que são admitidos por meio de concurso público para darem orientação jurídica, promoverem os direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos, gratuitamente, àqueles mais desprovidos e necessitados. NA PRÁTICA Um motorista desatento ultrapassa um cruzamento sem perceber que o sinal de trânsito estava com a luz vermelha para ele. Após alguns dias, ele recebeu em seu endereço uma notificação do Poder Público informando-lhe da infração cometida, com foto de seu veículo, data e horário do fato, dando-lhe um prazo para eventual defesa. O motorista tentou de todas as formas impedir que a multa fosse cobrada, primeiramente impugnando o auto de infração, posteriormente, com os recursos cabíveis, mas infelizmente ao final teve que pagar a multa de trânsito. A chamada “multa” de trânsito paga pelo motorista infrator é um tributo? FINALIZANDO Vimos nesta aula alguns temas relevantes dispostos na Constituição da República de 1988. Pudemos estudar e refletir sobre como o Estado pode atuar para manter a segurança e a ordem pública, a partir do estudo do estado de sítio e do Estado de defesa. Estudamos as disposições sobre a tributação, trazendo o conceito de tributos e as espécies tributárias, todas elas disposta na Constituição de 1988. A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 8 Falamos ainda sobre a ordem econômica, financeira e social. E no final abordamos as funções essenciais para a promoção da justiça, entre elas, o Ministério Público, a Advocacia Pública, a Advocacia e a Defensoria Pública. A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com 9 REFERÊNCIAS ALCANTARA, S. A. Direito empresarial e direito do consumidor. Curitiba: InterSaberes, 2016. BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. _____. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Código Tributário Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 out. 1966. HACK, É. Direito constitucional: conceito, fundamentos e princípios básicos. Curitiba: InterSaberes, 2012. PAULSEN, L. Direto tributário: constituição e código tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 16. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014. SILVA, J. A. da. Curso de direito constitucional positivo. 40. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. A luno: N ivaldo José F erreira E m ail: kairos84.ctba@ gm ail.com
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