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0 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3 1 ATENDIMENTO NO TRAUMA ................................................................... 3 1.1 Atendimento inicial ao politraumatizado ............................................... 6 1.2 Significado das Letras XABCDE .......................................................... 7 2 CONTRIBUIÇÃO DO ENFERMEIRO DE UTI NA ASSISTÊNCIA DO PACIENTE POLITRAUMATIZADO ........................................................................... 10 3 HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO INICIAL ......................................... 13 4 COMPLICAÇÕES DO POLITRAUMATIZADO EM UMA UTI ................... 14 4.1 Complicações relativas as lesões fisárias .......................................... 15 5 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUMAS LESÕES ESPECÍFICAS ........... 16 5.1 Fraturas do fêmur distal ...................................................................... 18 5.2 Fraturas da tíbia distal ........................................................................ 20 5.3 Fraturas do rádio e ulna distais .......................................................... 22 5.4 Fraturas da tíbia proximal ................................................................... 23 5.5 Fraturas de Pelve ............................................................................... 24 5.6 Lesões da cartilagem trirradiada ........................................................ 24 5.7 Lesões fisárias nos quirodáctilos e nos pododáctilos ......................... 25 6 PERSPECTIVAS ...................................................................................... 25 6.1 Transplante de cartilagem de crescimento ......................................... 25 7 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUNS TRAUMAS ESPECÍFICOS .......... 26 7.1 Trauma musculoesquelético ............................................................... 26 7.2 Trauma de tórax ................................................................................. 30 7.3 Pneumotórax simples ......................................................................... 31 7.4 Pneumotórax hipertensivo .................................................................. 31 7.5 Pneumotórax aberto ........................................................................... 32 7.6 Tórax instável ..................................................................................... 32 7.7 Hemotórax maciço ............................................................................. 32 7.8 Trauma abdominal ............................................................................. 33 7.9 Trauma Cranioencefálico (TCE) ......................................................... 34 7.10 Trauma Raquimedular (TRM) ......................................................... 35 7.11 Cuidados de enfermagem com ênfase nos traumas ....................... 36 8 EXAMES QUE AUXILIAM NO DIAGNÓSTICO ........................................ 38 9 CHOQUES ................................................................................................ 39 9.1 Estágios do choque ............................................................................ 40 9.2 Manifestações clínicas dos tipos de choques ..................................... 41 9.3 Intervenções de enfermagem empregadas nos casos de choques ... 43 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 45 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos. 3 1 ATENDIMENTO NO TRAUMA Trauma é definido pela National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT) como “um evento nocivo que advém da liberação de formas específicas de energia ou de barreiras físicas ao fluxo normal de energia”. Insta salientar que a exposição aos diferentes tipos de energia - mecânica, química, térmica, elétrica ou por irradiação - é decorrente de ação intencional ou não intencional. O termo trauma refere-se a todos os distúrbios que são causados brutalmente por um agente físico, de etiologia, natureza e extensão muito variadas, que podem ser localizados em diferentes partes do corpo. (COBRALT, 2018). Entre as causas de trauma, incluem-se os acidentes e a violência, que podem ser acidentais e ou intencionais e configuram um conjunto de agravos à saúde que podem ou não levar a óbito. Esse conjunto de eventos consta na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), sob a denominação “Causas externas” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1993). No meio internacional e nacional, o trauma corresponde à terceira causa de morte, superado pelas doenças cardiovasculares e neoplasias. Devido a esse contexto, o Ministério da Saúde organizou a Linha de Cuidado ao Trauma na Rede de Atenção às Urgências e Emergências no Sistema Único de Saúde com o objetivo de minimizar a morbimortalidade pelo trauma, através de ações de vigilância, prevenção e promoção da saúde, com acesso humanizado, hierarquizado, estruturado, referenciado e integral ao paciente, desde a ocorrência do evento até a fase de reabilitação. O enfermeiro é a integrante chave da equipe responsável pela assistência à vítima politraumatizado. Dessa forma, torna-se necessário o aprimoramento contínuo de seus conhecimentos em relação às habilidades de liderança e atualização através dos moldes estabelecidos pelos programas educativos específicos, para prestar atendimento nesta área (PEREIRA, 2011). 4 O trauma ocorre quando a quantidade de energia envolvida é suficiente para provocar dano tecidual, com o consequente aparecimento imediato de sinais e/ou sintomas inflamatórios. (VIEIRA,2021). As mais elevadas taxas de morbimortalidade ocasionadas pelo trauma estão associadas ao perfil dos atingidos, em sua maioria do sexo masculino e de faixa etária condizente à fase economicamente produtiva da vida. Isso causa um elevado custo em assistência e reabilitação e gera sérios danos sociais, muitas vezes irreversíveis, com o relevante impacto na diminuição do número de anos de vida potencial perdida, ocasionando alto ônus global. A fragilidade das vítimas de trauma, principalmente em regiões mais industrializadas, está vinculada a padrões socioculturais e comportamentais que expõem essas pessoas a acidentes, agressões e eventos também associados ao abuso de substâncias como álcool e drogas. A maioria das lesões traumato-ortopédicas não apresenta muita gravidade. As ações emergenciais a serem adotadas devem ser versáteis e de fácil aplicação, com agressão mínima do tecido ósseo e das partes moles. A avaliação e o atendimento a esses pacientes devem ser prestados por uma equipe multidisciplinar, visando a identificar e tratar primeiramente o que expõe a vida ao risco. (VIEIRA,2021). A mais frequente causa de morte e invalidez na infância é o trauma, superandoaté mesmo as principais doenças em crianças. Nas crianças, geralmente as menores, a cabeça é relativamente maior em relação ao corpo o que acarreta em um maior risco de lesão craniana no caso de trauma, assim como a manifestação à perda volêmica pode ser tardia, não ocorrendo alterações imediatas dos sinais vitais. Portanto, o indicador da pressão arterial não é efetivo para avaliar a resposta cardiovascular, diferentemente da perfusão cutânea, na avaliação do tempo de enchimento capilar. O trauma se apresenta como a sétima maior causa de morte nos idosos, sendo antecedido por: • Doenças cardíacas; • Neoplasias; 5 • Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); • Acidente vascular cerebral (AVC); • Diabetes; e • Pneumonia. Ainda que os idosos possuam uma chance menor de sofrerem um trauma, em comparação aos adultos jovens e crianças, o óbito em idosos possui elevados índices, geralmente, por causa da gravidade das lesões, características fisiológicas no envelhecimento, comorbidades, uso de muitos medicamentos para o tratamento de doenças crônicas e falta de compreensão quanto às necessidades e especificidades de grande parte dos profissionais que os atendem. No atendimento a vítima do sexo feminino, é preciso que se considere uma provável gravidez, deve-se então analisar aspectos próprios. (Exemplo: data da última menstruação e resultados de exames laboratoriais, que auxiliam na avaliação.) Nas gestantes, o trauma resulta na atenção às duas vidas, no binômio mãe- filho. Porém, existe a tendência de priorizar a condição materna, até mesmo para garantir a sobrevivência da criança, de acordo com a situação. A variação da posição do útero nas diferentes idades gestacionais ocasiona mudanças na compressão de órgãos. O aumento uterino gera morosidade no esvaziamento gástrico, risco de refluxo e broncoaspiração. A compressão do diafragma complica o posicionamento corporal e causa hiperventilação. O aumento do volume circulante e a anemia fisiológica retardam as manifestações na hipovolemia. O trauma é considerado uma doença e apresenta distribuição específica, possuindo três picos distintos, em relação à mortalidade. Primeiro período As mortes imediatas se sucedem logo após o trauma, com reduzidas possibilidades de intervenção, por graves lesões cerebrais, medulares ou de grandes vasos. 6 Segundo período As mortes, em minutos ou horas após o trauma, são frequentemente causadas por lesões e hematomas cranianos, rupturas de vísceras e hemorragia significativa. Nesse período, a atenção ao atendimento se traduz em importantes resultados na sobrevivência do indivíduo. Terceiro período As mortes tardias podem ocorrer após dias ou semanas, em consequência de infecções e falência de órgãos. Nessa distribuição, desde o início, a atenção qualificada influência nos bons resultados e maiores chances de sobrevivência, posteriormente. 1.1 Atendimento inicial ao politraumatizado A atenção primária ao paciente politraumatizado deve ser rápida, sistemática e sem pular etapas, de modo que não negligencie a condição do paciente nem os riscos relacionados ao atendimento. Sendo assim, o primeiro passo para iniciar o atendimento é estruturar o tipo de conduta a ser feita, iniciando-se pelo que leva o paciente a óbito mais rápido. Fonte: //br.pinterest.com/ 7 1.2 Significado das Letras XABCDE (X) - Exsanguinação De acordo com PHTLS, 2018 apud SANAR, 2020, a hemorragia externa grave deve ser contida mesmo antes do manejo das vias aéreas, pois, apesar de epidemiologicamente, a obstrução de vias aéreas ser responsável pelos óbitos em um curto período de tempo, são as hemorragias graves, as maiores causas de mortes, em casos de traumas. A (Airway) - Vias aéreas e proteção da coluna vertebral Na opinião de Rodrigues, Santana e Galvão (2017) a obstrução das vias aéreas, ocasionadas por traumas, são responsáveis por 66-85% das mortes evitáveis, no atendimento pré-hospitalar, na avaliação das vias aéreas, é fundamental a técnica correta, para sua manutenção. Utiliza-se assim das seguintes técnicas: “chin lift” (elevação do queixo), uso de aspirador de ponta rígida, “jaw thrust” (anteriorização da mandíbula), cânula orofaríngea (Guedel). A proteção da coluna cervical também é objetivo no A do referido protocolo, a equipe socorrista, diante de uma vítima em estado consciente, deve aproxima-se da mesma, sempre pele frente, evitando assim, que ela realize movimentos com a cabeça para os lados, durante a abordagem, evitando lesões medulares, toda a coluna deve ser imobilizada, utilizando uma prancha rígida, e em vítimas que apresentam traumatismos multisistêmicos, a equipe deve sempre considerar uma lesão da coluna cervical (GIANOTTO-OLIVEIRA, 2015). B (Breathing) - Boa Ventilação e Respiração A análise do padrão respiratório da vítima deve ser realizada de forma detalhada e, para que seja possível, é necessário expor o tórax do paciente para 8 realizar a inspeção, palpação, ausculta e percussão, os parâmetros analisados nessa fase são: frequência respiratória, movimentos torácicos, presença de cianose, desvio de traqueia e observação da musculatura acessória (SANAR, 2020). C (Circulation) - Circulação com Controle de Hemorragias A circulação e a pesquisa por hemorragia são os principais parâmetros de análise nesta fase do protocolo e, como já mencionado, a hemorragia é a principal causa de morte em casos de trauma. O procedimento de imediato a ser adotado é o estancamento da mesma, por meio de compressão direta no foco (SANAR, 2020). A diferença entre o “X” e o “C” é que o X faz referência a hemorragias externas, ou seja, grandes hemorragias. Já o “C” refere-se a hemorragias internas, sendo preciso e fundamental averiguar a perda de volume sanguíneo não visível, avaliando os principais pontos de hemorragia interna no trauma, sendo eles pelve, abdome e membros inferiores, e avaliar os sinais clínicos dessa hemorragia como, tempo de enchimento capilar lentificado, pele fria e pegajosa e nível e qualidade de consciência comprometidos (GIANOTTO-OLIVEIRA, 2015). A solução isotônica de escolha para reposição volêmica é o Soro Ringer com Lactato, entretanto, soluções cristaloides não repõem hemácias e deste modo, não recupera a capacidade de carrear O2 ou as plaquetas necessárias no processo de coagulação e controle de hemorragias (SANAR, 2020). D (Disability) - Disfunção Neurológica Nessa fase do protocolo, o profissional vai analisar o nível de consciência da vítima, bem como o tamanho e reatividade das pupilas, presença de hérnia cerebral, sinais de lateralização e o nível de lesão medular (RODRIGUES; SANTANA; GALVÃO, 2017, p. 1). 9 O principal objetivo é minimizar as chances de lesão secundária, pela manutenção da perfusão adequada do tecido cerebral, é fundamental aplicar a escala de goma de Glasgow atualizada (SANAR, 2020). Fonte: portalenf.com E (Exposure) - Exposição Total do Paciente Ao realizar a exposição do paciente, o profissional deve considerar o controle da hipotermia, na fase “E” do protocolo, realiza-se a análise da extensão das lesões, com controle do ambiente, a fim de prevenir a hipotermia, devem ser analisados sinais de trauma, sangramento, manchas na pele, etc, o socorrista deve se atentar à parte do corpo que não está exposta, a qual pode esconder a lesão mais grave que acomete o paciente (SANAR, 2020). 10 2 CONTRIBUIÇÃO DO ENFERMEIRO DE UTI NA ASSISTÊNCIA DO PACIENTE POLITRAUMATIZADO Os enfermeiros que atuam em unidades de emergência devem ter o “conhecimento científico, prático e técnico para poder tomar decisões rápidas e concretas, transmitindo segurança a toda equipe e principalmente diminuindo os riscos que ameaçam a vida do paciente" O objetivo do tratamento do pacienteno cuidado intensivo é salvar a vida, assim como proporcionar um resultado funcional ideal. Existem, no entanto, ocasiões em que as ações são ineficazes ou, por escolha do paciente e da família, o objetivo é redirecionado para facilitar a decisão de final de vida. Muitos indivíduos possuem um documento prévio recusando o cuidado habitual ou a ventilação tenham de ser tomadas pela família, com base em sua interpretação da vontade do paciente. (NAYDUCH,2011). Apesar da condição crítica dos pacientes que estão na UTI, a reabilitação não pode ser ignorada ou adiada. A consulta inicial ao fisiatra é essencial para projetar um plano de reabilitação a ser iniciado nessa unidade e para que evolua à medida que o paciente se recupere. Mobilizar, posicionar, prevenir a lesão da pele, nutrir, manter o funcionamento intestinal e urinário são componentes do programa de reabilitação que pode ser iniciado na UTI a partir da admissão. Os exercícios com amplitude de movimento podem ser realizados pelo enfermeiro ou fisioterapeuta. O terapeuta ocupa sob ventilação mecânica. Transferir o paciente da cama para a poltrona também promove sua estimulação e previne complicações como a lesão de pele e a pneumonia. Mesmo em suas formas mais simples, as atividades de reabilitação devem começar na chegada e ser adaptadas a capacidade, estabilidade e necessidades específicas do paciente. (NAYDUCH,2011). A atuação do enfermeiro é essencial para conduzir à equipe de enfermagem em locais onde à decisão deve ser breve e a assistência sincronizada, exigindo conhecimento científico e aptidão clínica. É fundamental que esses profissionais sejam continuamente atualizados e capacitados, pois cuidar exige muito conhecimento e 11 liderança de equipe, prática na tomada de decisão, eficácia no desempenho e humanização durante todo o processo. (OLIVEIRA et al, 2018). Pacientes politraumatizados necessitam de monitoramento, controle e cuidados intensivos por uma equipe qualificada e treinada, capaz de detectar problemas e estabelecer prioridades, preservando funções fisiológicas espaço a assistência a esse paciente deve ser rápida, atendendo a todos os ferimentos, em ordem de importância como: 12 Portanto, o papel do enfermeiro na assistência ao paciente traumatizado é crucial. A abordagem e a atenção às vítimas de politraumatismo devem ser mais eficazes e isto perpassa a integração dos sistemas de atendimento: prevenção, atendimentos pré-hospitalar e hospitalar, e reabilitação. Além disso, as vítimas de politraumatismo requerem atenção especial e permanente, desde o atendimento inicial, admissão em serviços de emergência e alta hospitalar. (MATTOS; SILVÉRIO, 2012). 13 Pacientes politraumatizados, em sua maioria com lesões sistêmicas, necessitam de tratamento especial, como por exemplo: mobilização em bloco, manutenção de alinhamento centralizado da coluna vertebral, uso de dispositivos de imobilização etc. Conforme mencionado anteriormente, o protocolo ATLS (Advanced Trauma Life Support) foi criado para padronizar o atendimento ao traumatizado na porta de entrada da emergência do hospital, utilizando um sistema de classificação XABCDE e ações baseadas nos problemas de maior risco à vida do paciente (ATLS, 2019) No entanto, no serviço hospitalar segundo a portaria nº 1.366, de 8 de julho de 2013 do ministério da saúde. Estabelece a organização dos centros de trauma integrantes da rede de atenção a urgência e emergência, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, em seu Art. 5º Os Centros de Trauma têm as seguintes finalidades: I - Diminuição da mortalidade dos pacientes vítimas de trauma; II - Redução das sequelas dos pacientes vítimas de trauma; e III - Padronização do atendimento ao paciente vítima de trauma. (BRASIL, 2013). A equipe de enfermagem, ao realizar o exame primário e secundário da vítima de politraumatismo, necessita atuar de forma ágil e eficaz, com o intento de reduzir a gravidade das lesões e as taxas de mortalidade por esta causa. Na avaliação primária, realiza-se a busca de lesões que ofereçam risco iminente à vida do indivíduo. Esta avaliação é desenvolvida por meio de exame físico rápido, seguindo de tratamento imediato, a fim de restabelecer o padrão hemodinâmico da vítima (MATTOS et al., 2012). 3 HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO INICIAL O papel do enfermeiro torna-se essencial no cuidado a esses pacientes, exigindo maior habilidade para obter a história do paciente, realizar o exame físico e intervir imediatamente, com foco imediato na sobrevida (PEREIRA et al., 2011). A abordagem humanizada da atenção primária ao paciente politraumatizado envolve vários aspectos do estudo, incluindo a relação com o paciente, o eixo central deste estudo, a equipe assistencial e a tecnologia. Nesse sentido, é importante 14 ressaltar que as vítimas atendidas neste serviço não são patológicas ou objeto de investigação científica, são o sujeito e a justificativa do tratamento proposto (NASCIMENTO et al., 2015). Na Itália, um estudo de satisfação do paciente com os cuidados de enfermagem em departamentos de emergência mostrou um alto nível de satisfação geral, principalmente no que diz respeito aos cuidados de enfermagem. No entanto, há a necessidade de melhorar a comunicação com os pacientes, informando-os sobre situações de emergência criando uma lista de espera, além de atender melhor as orientações de cuidados pós-alta e ouvir dúvidas e necessidades, mesmo se tratando de um atendimento clínico. ( MESSINA, et al, 2015). O enfermeiro é um membro ativo do atendimento pré-hospitalar móvel, responsável por atender as vítimas, antecipar suas necessidades, estabelecer prioridades de atendimento, intervir na estabilização e avaliação do estado geral e orientar as vítimas para tratamento através de transporte rápido e eficiente. Nessa avaliação, o enfermeiro é responsável por realizar uma série de tarefas, tais como: reavaliar os comportamentos realizados durante a avaliação primária; exame médico completo e completo; A instalação de sondas nasogástricas e vesicais (MATTOS; SILVERIO, 2012) 4 COMPLICAÇÕES DO POLITRAUMATIZADO EM UMA UTI O enfermeiro desempenha um papel importante no cuidado ao paciente traumatizado, participando ativamente da avaliação e tratamento inicial, avaliação secundária e tratamento definitivo. Ao realizar suas ações ao paciente traumatizado, em todas as etapas do atendimento, o enfermeiro deve tomar medidas para prevenir as complicações mais comuns do trauma. A ressuscitação é o primeiro desafio do centro de trauma. No entanto, as mortes por trauma podem ocorrer tanto no local quanto durante a ressuscitação ou, ainda, posteriormente por complicações. Os indivíduos com o maior potencial para complicações são os que exigem cuidados intensivos. 15 O paciente luta para curar as lesões, ao mesmo tempo em que a equipe dedica esforços na prevenção de complicações que poderiam mudar o resultado de longo prazo do paciente. (NAYDUCH,2011). Prevenir infecções hospitalares, utilizando e favorecendo a utilização de técnica asséptica e materiais adequados no manuseio do paciente, tubos, sondas e drenos. 4.1 Complicações relativas as lesões fisárias Aceleração do crescimento. Apesar de rara, é uma complicação possível nas lesões fisárias. Costuma ocorrer nos primeiros seis a 18 meses após o trauma inicial, e o hipercrescimento é de pequena monta. (HEBERT,2017). Alguns casos podem necessitar de intervenção cirúrgica com epifisiodese para manter a proporcionalidade, em especial nos membros inferiores. Se a diferença for acima de 6 cm, o que é ainda mais raro, procedimentos maiores como os alongamentos ósseos podem ser necessários nos membros inferiores. Parada de crescimento: A parada completa ou parcial de crescimento pode causardiscrepâncias de comprimento, dependendo da idade do paciente. Quanto mais jovem for, maiores são os potenciais complicações decorrentes da parada de crescimento. (HEBERT,2017). A lesão completa da fise é mais rara do que a lesão parcial, a qual pode ser periférica ou central. As lesões parciais decorrem da formação de pontes ósseas (ou barras ósseas) ligando a epífise à metáfise por meio da cartilagem de crescimento. A localização dessa ponte óssea vai determinar a deformidade observada clinicamente. Dessa maneira, uma ponte óssea através da porção medial da fise distal do fêmur gera o aparecimento em caráter progressivo de joelho varo. Uma barra lateral acarretaria um joelho valgo, e uma barra óssea na porção anterior da fise proximal da tíbia pode acarretar um joelho recurvato. Dependendo do tamanho da barra óssea e de sua localização, é possível a ocorrência de outras deformidades. Uma barra óssea no centro da fise distal da tíbia pode gerar um tipo de deformidade conhecida como tornozelo em cúpula. 16 Além da deformidade, é preciso considerar também a presença do encurtamento, que não é tão acentuado quanto na lesão completa da fise, mas está presente em maior ou menor grau. Dependendo da idade e da fise acometida, além de corrigir as deformidades, pode ser necessário tratar a discrepância de comprimento. As lesões dos tipos III e IV de Salter-Harris podem acarretar irregularidades articulares, com osteoartrose pós-traumática. LANGENSKIÖLD (1981) descreveu a cirurgia de ressecção da barra óssea com interposição de gordura. Para que os resultados da ressecção sejam bons, a barra deve ter origem traumática e menos de 50% da área total da fise, e a criança deve ter potencial de crescimento de pelo menos dois anos. No planejamento dessas operações, a TC tem papel importante na localização precisa da barra e na avaliação da sua área total. A técnica não é indicada nas barras formadas após quadro infeccioso. Nas barras cuja área total ultrapassar 50% da área da fise, outros métodos devem ser realizados, por exemplo, as correções com osteotomias. 5 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUMAS LESÕES ESPECÍFICAS Fraturas: Fratura é a perda da continuidade óssea, que pode ser completa ou não. Conforme Simon e Sherman (2013), uma fratura ocorre quando a força aplicada excede a resistência plástica do osso e vai além do seu limite de resistência. As fraturas podem ser traumáticas ou atraumáticas, podendo resultar de traumas de alta energia (como, por exemplo, uma queda de altura) ou de traumas de baixa energia, quando houver doença subjacente, como osteoporose ou câncer ósseo. Segundo Simon e Sherman (2013), a fratura pode ser classificada, quanto ao traço da lesão, em transversa, longitudinal, oblíqua exposta e desviada e espiral, além de em fratura simples e comunicativa. A fratura pode ser classificada, ainda, como fechada, aberta (há rompimento da pele), complicada (associada a lesões vasculares, 17 neurológicas, articulares ou viscerais), não complicada ou simples (pouca associação com outras estruturas). Segundo (BRASIL, 2003), suspeita-se de fratura ou lesões articulares quando houver: • Dor intensa no local e que aumente ao menor movimento (essa dor pode estar bem localizada, mas pode ser difusa se houver muitos tecidos moles associados); • Edema local; • Crepitação ao se movimentar (som parecido com o amassar de papel); • Hematoma (rompimento de vasos, com acúmulo de sangue no local) ou equimose (mancha de coloração azulada na pele e que aparece horas após a fratura); • Paralisia (lesão de nervos); • Deficiência funcional. 18 5.1 Fraturas do fêmur distal Para tais situações correspondem a 5% de todas as fraturas fisárias. O desvio da fratura no plano sagital pode causar comprometimento neurovascular na fossa poplítea. Costumam ser fraturas instáveis que necessitam de fixação. Os desvios no plano coronal (valgo-varo) são mais estáveis e é incomum que gerem lesões neurovasculares. (HEBERT,2017). Ao exame clínico, a coxa pode estar angulada e encurtada. Dor, edema e derrame articular podem ser muito acentuados. A hemartrose é mais intensa nas fraturas dos tipos III e IV de Salter-Harris. 19 Deve-se realizar um exame neurovascular cuidadoso, observando se há abolição ou diminuição dos pulsos periféricos, além de testar a integridade dos nervos tibial posterior e fibular. As lesões da fise distal do fêmur podem causar deformidades angulares. Alguns graus de angulação são aceitáveis; além disso, angulações posteriores de até 20° podem remodelar-se em crianças menores de 10 anos. Angulações em valgo e varo são aceitáveis em até 5°. ATENÇÃO! O tratamento varia conforme a gravidade da lesão. As lesões dos tipos I e II de Salter-Harris podem ser tratadas com redução incruenta e gesso, desde que sejam estáveis. É frequente que as dos tipos III e IV necessitem de redução cruenta anatômica e fixação interna. As complicações incluem a parada de crescimento parcial ou total, com deformidades angulares e/ou encurtamento progressivos em 30 a 80% dos pacientes. De acordo com RISEBOROUGH (1983) e colaboradores, cerca de 50% dos casos de lesões dos tipos I e II no fêmur distal evoluem com distúrbios de crescimento. Como a incidência de distúrbio de crescimento é alta, uma discrepância de comprimento maior que 2 cm pode acometer até um terço dos indivíduos. As deformidades angulares e a discrepância de crescimento estão mais associadas à gravidade do desvio inicial do que à qualidade da redução obtida. Uma deformidade angular de mais de 5° pode se desenvolver em até um terço dos pacientes. A deformidade angular no plano coronal pode não se corrigir de modo espontâneo com o crescimento. ARKADER (2007) e colaboradores consideram que a classificação de Salter- Harris e o desvio da fratura são importantes para o prognóstico da lesão da fise no comprometimento do fêmur distal. 20 O método de tratamento também pode alterar o prognóstico. Os autores encontraram maior incidência de complicações quando a fise foi atravessada por material de síntese. ATENÇÃO! Não hesitar em fazer a redução aberta quando a incruenta não for satisfatória. Os pinos ou parafusos devem ser posicionados paralelos à fise. Sempre que possível, evitar cruzar a cartilagem de crescimento. Avaliar com cuidado o estado neurovascular do membro acometido. Avisar aos pais do paciente sobre a possibilidade de alterações no crescimento. Iniciar a movimentação articular em período precoce para evitar rigidez. 5.2 Fraturas da tíbia distal É frequente o envolvimento da fise nas fraturas distais da tíbia em crianças. A importância dessas fraturas relaciona-se com o fato de que podem provocar deformidades angulares, encurtamentos, incongruência na superfície articular ou mesmo uma combinação dessas lesões. (HEBERT,2017). A fratura triplanar e a fratura de Tillaux são dois tipos diferentes que acometem a tíbia distal. Na classificação da fratura triplanar, há dois tipos de fraturas: em duas e em três partes. Uma fratura em duas partes é do tipo IV de Salter-Harris, que ocorre quando a porção medial da fise distal da tíbia já está fechada. As fraturas em três partes são uma combinação dos tipos II e III de Salter-Harris, que ocorre quando apenas a porção média da fise distal da tíbia está fechada. Tal lesão envolve uma fratura na porção anterolateral da epífise distal da tíbia (semelhante à fratura de Tillaux) e uma fratura de um grande fragmento posterior composto das porções medial e posterior da epífise da tíbia e um fragmento metafisário de tamanho variável. 21 A fíbula também pode estar fraturada. Essas lesões ocorrem, em geral, um pouco antes do fechamento da fise e são devido a forças de rotação externa. As fraturas de Tillaux são do tipo III de Salter-Harris,envolvendo a porção anterolateral da epífise distal da tíbia. Isso ocorre porque a fise distal da tíbia se fecha primeiro na sua porção média; depois, fecha-se a porção medial, e a porção lateral é a última a se fechar. A fratura de Tillaux ocorre nos adolescentes, após o fechamento das porções média e medial da fise, antes que a porção lateral esteja fechada (geralmente entre os 12 e 15 anos). Como essas lesões ocorrem em adolescentes, já no final de seu crescimento, as complicações devido à parada de crescimento são raras e, quando presentes, têm pouco significado clínico. Por outro lado, como são fraturas articulares, necessitam de redução anatômica para evitar incongruência articular. O tratamento das fraturas dos tipos III e IV de Salter-Harris na tíbia distal costuma ser operatório. As lesões podem acarretar parada de crescimento caso a redução não seja anatômica. As deformidades em varo, secundárias a uma ponte óssea na porção medial da fise, são as mais frequentes. Os encurtamentos vêm a seguir, como o segundo problema que pode decorrer dessas lesões. KLING (1984) e colaboradores, avaliando fraturas da tíbia distal com lesão fisária que necessitaram de redução cirúrgica, deram destaque à importância da redução anatômica para diminuir as complicações de desvios angulares e encurtamentos. IWINSKA-ZELDER (1999) e colaboradores consideram que a RM é fundamental para o diagnóstico preciso dessas lesões, sendo superior às imagens obtidas com as radiografias e a TC. A síndrome compartimental na panturrilha e no pé pode ocorrer após uma fratura fisária na tíbia distal. Deve-se evitar o diagnóstico tardio dessa complicação, pois a falta de tratamento adequado e precoce pode favorecer sequelas graves. 22 YEAP (2001) e colaboradores reportaram sobre um menino de 14 anos com síndrome compartimental após uma fratura Salter-Harris tipo II na tíbia distal. O caso evoluiu com infecção grave após a fasciotomia e terminou com amputação. Fonte:img.pebmed.com.br 5.3 Fraturas do rádio e ulna distais HEBERT (2017) elucida em relação as lesões fisárias na ulna distal são menos frequentes do que no rádio distal. Quando ocorrem, estão associadas à alta incidência de parada de crescimento. Como a fise distal da ulna responde por 70 a 80% de seu crescimento longitudinal, essas lesões podem ter complicações importantes. A fise distal do rádio é a mais envolvida em lesões na criança, as quais ocorrem, em geral, na faixa etária dos 6 aos 10 anos. O mecanismo característico é a queda sobre a mão espalmada. A maioria das lesões é dos tipos I e II de Salter-Harris. Como as fises distais do rádio e da ulna são responsáveis por 70 a 80% do crescimento do antebraço, o potencial de remodelação de eventuais deformidades é grande. LEE (1984) e colaboradores encontraram distúrbios de crescimento em 7% dos pacientes com fraturas fisárias do rádio distal. Os distúrbios de crescimento nas 23 fraturas fisárias da ulna distal devem ocorrer nessa mesma proporção ou talvez até em maior porcentagem. Nos traumas de alta energia, nas fraturas expostas e nos casos em que várias tentativas de redução incruenta foram realizadas, a possibilidade de distúrbio de crescimento no rádio e na ulna distal é maior. Recomenda-se o seguimento cuidadoso desses pacientes. Os familiares devem ser informados dessa possibilidade. O grau de desvio que pode ser aceitável nas fraturas fisárias do rádio e da ulna distais não é bem conhecido. Entretanto, sabe-se que desvios de até 50% remodelam por completo em um ano e meio. Wilkins (2005) discorre sobre o potencial de remodelação das crianças. Uma complicação que pode ocorrer nas fraturas com grande desvio do tipo II de Salter-Harris no rádio distal é a compressão do nervo mediano. Nesses casos, a redução incruenta deve ser realizada no momento mais precoce possível. Geralmente, há retorno completo da função do nervo sem deixar sequelas. 5.4 Fraturas da tíbia proximal Para HEBERT (2017) embora as fraturas da tíbia e fíbula sejam as mais frequentes nos membros inferiores na criança, as fraturas fisárias da tíbia proximal são muito raras. Porém, quando ocorrem, apresentam alta incidência de complicações. Nos casos com desvio, a artéria poplítea está vulnerável, já que na região da metáfise tibial ela se encontra imediatamente posterior ao músculo poplíteo. MOORE e MACKENZIE (1996) referem que, das lesões do tipo I de Salter- Harris, metade é sem desvio, sendo diagnosticadas nas radiografias com estresse. As lesões do tipo I ocorrem em idade precoce, em média aos 10 anos. As do tipo II são as mais comuns, sendo um terço sem desvio. As do tipo III, em geral, acometem o côndilo lateral ou estão associadas à lesão do ligamento colateral medial (ou seja, o trauma é em valgo). As lesões do tipo IV costumam causar deformidades angulares. As do tipo V, em geral, são diagnosticadas mais tarde. Quando a porção anterior da fise se fecha, a deformidade em joelho recurvato pode ser acentuada. 24 As complicações incluem lesões vasculares e nervosas (paralisia transitória do nervo fibular). As fraturas com desvio podem evoluir com síndrome compartimental. 5.5 Fraturas de Pelve A imobilização e a mobilização adequadas são fundamentais para prevenir a principal complicação de uma fratura de ossos da pelve: a hemorragia e consequentemente o choque. Devido ao espaço existente dentro dessa cavidade, o sangramento pode acontecer com poucos sinais externos. Um choque não esclarecido inicialmente deve remeter à investigação de uma fratura de quadril. Diante dessa possibilidade, um acesso venoso calibroso, ou, sempre que possível, mais de um, passa a ser um cuidado prioritário. (SOARES,2020). 5.6 Lesões da cartilagem trirradiada As lesões da cartilagem trirradiada são lesões raras que podem evoluir com displasia acetabular progressiva e subluxação do quadril. Os ossos da bacia na criança têm grande quantidade de cartilagem, o que confere alta resistência e capacidade de absorver energia. Quando ocorrem fraturas da bacia na criança, mesmo sem desvio, deve-se entender que o trauma envolveu grande quantidade de energia. (HEBERT, 2017) Assim, além de pesquisar a presença de eventuais lesões associadas (tórax, abdome, etc.), pode-se esperar a possível parada de crescimento na cartilagem trirradiada. Quanto menor for a idade da criança por ocasião do trauma, maior a possibilidade do desenvolvimento de uma displasia acetabular. Quando a lesão da cartilagem trirradiada ocorre em crianças acima dos 12 anos, a anormalidade de crescimento acetabular é mínima. Durante a adolescência, as possíveis alterações na morfologia acetabular e na congruência articular são de natureza leve. 25 Por outro lado, em crianças abaixo dos 10 anos, a parada de crescimento do acetábulo é frequente e pode acarretar displasias semelhantes às encontradas nas sequelas de displasia do desenvolvimento do quadril. Visto que a displasia piora durante o crescimento da criança, a deformidade acetabular resultante pode necessitar de correção cirúrgica. 5.7 Lesões fisárias nos quirodáctilos e nos pododáctilos Já as lesões fisárias nos quirodáctilos e nos pododáctilos, no entender de HEBERT (2017) são lesões por traumas diretos nas extremidades dos pododáctilos. A cartilagem de crescimento da falange distal pode apresentar uma fratura do tipo I ou II de Salter-Harris. Como a fise da falange distal está logo abaixo da matriz ungueal, esta pode romper-se e formar um hematoma subungueal. É considerada fratura exposta e, quando ocorre nos pododáctilos, é conhecida como fratura de Pinckney. Na mão, essas lesões da falange distal são conhecidas como fraturas de Seymour. HOCHHOLZER e SCHÖFFL (2005) chamam a atenção para as fraturas dos dedos em crianças e adolescentes que praticam escalada. O estresse repetidoao qual os dedos das mãos são submetidos pode provocar fraturas dos tipos II e III de Salter- Harris. Essas lesões são consideradas como fratura de fadiga, provocam dores e até osteoartrose precoce. 6 PERSPECTIVAS 6.1 Transplante de cartilagem de crescimento Para HEBERT (2017) muitas experiências têm sido realizadas para avaliar a eficácia de materiais para interposição nos defeitos da fise após a ressecção de barras ósseas (cera de osso, gordura, cartilagem, silicone, polimetilmetacrilato). 26 Nenhum desses materiais mostrou-se superior aos demais no sentido de prevenir a recidiva da barra óssea. A cartilagem pode ser o material ideal, com diversas fontes doadoras. Entretanto, muitas dificuldades estão associadas a cada uma dessas áreas doadoras. • A cartilagem das apófises pode não ter o potencial de crescimento da fise • A cartilagem das apófises pode não ter o potencial de crescimento da fise. • O aloenxerto de cartilagem ainda não é uma opção viável. • A transferência da cartilagem de uma área para outra envolve difícil decisão sobre qual seria a melhor área doadora. Talvez o implante de células-tronco seja uma possibilidade viável. AHN (2002) e colaboradores têm relatado pesquisas nesse sentido. JOUVE (1998) e colaboradores mostraram os resultados com cultura de condrócitos em coelhos. A engenharia de tecidos tem pesquisado a cartilagem articular, com Mason e colaboradores mostrando sua experiência nesse campo. Talvez esses métodos possam representar um papel importante na substituição da cartilagem de crescimento no futuro. 7 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUNS TRAUMAS ESPECÍFICOS 7.1 Trauma musculoesquelético Entre as causas externas, a lesão musculoesquelética é definida como o conjunto de patologias que afetam ossos, músculos, tendões, ligamentos, articulações, nervos, discos vertebrais, cartilagens, vasos sanguíneos ou tecidos moles associados, podendo ser causada ou agravada pela prática de atividade física. Sobretudo pela quantidade de áreas que podem ser afetadas, esse problema precisa de assistência de profissional urgente e especializada, visando ao diagnóstico e à intervenção precoces e, ainda, à promoção da qualidade de vida, ao autocuidado e à 27 prevenção de complicações evitando ou minimizando as incapacidades. (VIEIRA, 2021). As lesões variam de simples entorses e distensões dos ligamentos e tendões até fraturas expostas graves e hemorragias. Proximal a cada osso, existe um nervo, uma artéria e uma veia controlando o movimento, a nutrição e a oxigenação. Isso ressalta a importância de não desvalorizar o trauma, que demanda urgente realização de intervenções para a prevenção de agravos que possam comprometer o membro afetado. Entorses: Em uma entorse, os ligamentos que reforçam a articulação são estirados ou rompidos. A região lombar da coluna vertebral, o tornozelo e o joelho são locais comuns de entorses. Ligamentos parcialmente rompidos são reparados de forma natural, mas cicatrizam lentamente devido à sua pouca vascularização. As entorses tendem a ser dolorosas e imobilizantes (MARIEB; HOEHN, 2009). As entorses podem ser leves, moderadas ou graves. Segundo Simon e Sherman (2013), as entorses leves, também chamadas de entorses de primeiro grau, consistem na ruptura de algumas fibras e são caracterizadas por edema mínimo, nenhuma incapacidade funcional e movimento articular normal. Já as moderadas, também chamadas de entorses de segundo grau, consistem na ruptura parcial do ligamento e apresentam edema, sensibilidade dolorosa, incapacidade funcional e movimentos dentro da normalidade. Por fim, as entorses graves, também chamadas de entorses de terceiro grau, consistem na ruptura total do ligamento e apresentam movimento anormal da articulação, edema e dor Distensões musculares: A distensão muscular ocorre quando um músculo ou o tendão que se prende ao osso é submetido a um esforço que rompe algumas ou muitas fibras musculares e os vasos sanguíneos que as irrigam, dando origem a um hematoma acompanhado de inflamação local. Segundo Simon e Sherman (2013), a distensão pode ocorrer em qualquer ponto dentro do músculo, mas a mais comum é na junção musculotendínea distal. As distensões são classificadas da seguinte forma. ✓ 1º grau: dor localizada leve, câimbra, ou rigidez com movimento, mas o paciente consegue deambular. 28 ✓ 2º grau: o edema e a equimose estão mais frequentes, junto com sensibilidade à dor e espasmos. Se a lesão for em extremidade inferior, limita a deambulação. ✓ 3º grau: ruptura completa do músculo, dor, espasmos, equimoses, edema e hematomas intensos. Contusão muscular: A contusão é um tipo de lesão muscular frequente nas modalidades esportivas coletivas, mas também acomete praticantes de esportes individuais ou acidentes decorrentes de atividades comuns ou outros acidentes. O traumatismo direto desencadeia um processo inflamatório imediato, com dor localizada, edema, presença ou não de hematoma (contusão superficial com lesão de capilares pode apresentar equimose, se for mais profunda; com ruptura de vaso de calibre maior, pode apresentar hematoma), impotência funcional, com limitação da força e da mobilidade articular, rigidez e dor ao alongamento passivo. Os músculos mais frequentemente acometidos por contusões são o quadríceps e os gastrocnêmicos. As contusões do músculo quadríceps podem ser classificadas conforme os graus de restrição funcional (LAURINO, 2017). Veja a seguir. ✓ Leve: dor localizada, amplitude de movimento articular maior do que 90°, marcha normal. ✓ Moderada: dor e edema moderados, amplitude de movimento articular 45°, marcha antálgica, impotência ao subir escadas e ao levantar-se de uma cadeira sem dor. ✓ Grave: dor e edema intensos, amplitude de movimento articular Luxação: Luxação é o deslocamento repentino, parcial ou completo, das extremidades dos ossos que compõem uma articulação. Isso quer dizer que um osso se separa do outro e desaparecem os pontos de contato entre eles, o que pode provocar lesões nas estruturas próximas (ligamentos, vasos sanguíneos, etc.) (BRASIL, 2003). O deslocamento das extremidades dos ossos que compõem uma articulação provoca dor intensa, limitação nos movimentos, deformidade visível, inchaços e hematomas. 29 Laceração ou rotura muscular: A laceração ou rotura muscular é a lesão mais grave, também a mais rara, em que há o estiramento brusco do músculo em um período, com quebra ou não de tendões. Essa situação normalmente exige cirurgia. Laurino (2017) considera três graus de rotura muscular. Veja a seguir. ✓ 1º grau: fibrilares ou microrroturas. ✓ 2º grau: fasciculares. ✓ 3º grau: rotura completa. Segundo Laurino (2017), na rotura muscular parcial ou de segundo grau, as dores são mais intensas e ocorrem em condições semelhantes ao estiramento muscular. As dores são localizadas e surgem durante uma corrida com velocidade máxima ou em movimento brusco de impulsão corporal. Na rotura de terceiro grau, ao exame clínico, as dores são intensas e localizadas à palpação e há o surgimento de impotência funcional intensa e espasmo muscular acentuado. Nas 24-48 horas subsequentes, haverá aumento de volume do segmento corporal atingido, devido ao edema pós-traumático ou à hemorragia. É importante, assim, ter atenção especial aos danos vasculares que acontecem nesses episódios. De acordo Monsanto et al. (2019), a maioria das complicações relacionadas à lesão muscular (distensão/contusão) tem origem no hematoma da lesão, o qual pode aumentar de tamanho e causar uma síndrome compartimental (Quadro 4) ou evoluir para um hematoma encapsulado. Caso o paciente tenha alguma infecção em outro sítio, pode haver contaminação e supuração, sendo indicada drenagem cirúrgica. Ainda segundo Monsanto et al. (2019), pode haver ruptura ou afrouxamento da fásciamuscular, possibilitando o extravasamento de parte do ventre muscular pela abertura da fáscia. Isso causa dor e alteração da função, o que leva à perda da elasticidade do músculo, predispondo à dor crônica e a episódios de lesões recidivantes. 30 7.2 Trauma de tórax O trauma torácico pode ser classificado como fechado ou penetrante. A lesão causada pelo trauma torácico fechado é o resultado da compressão súbita ou positiva que atinge a parede do tórax. Há dois tipos de lesões no trauma fechado: ✓ cisalhamento - resultado de rápida variação de velocidade de um órgão ou estrutura em relação a órgãos e estruturas subjacentes; ✓ compressão - resultado de uma pressão direta de órgão ou estrutura sobre outros órgãos ou estruturas. O trauma penetrante, por sua vez, ocorre a partir da penetração de um objeto estranho na parede do tórax, sendo as causas mais comuns para esse tipo de trauma os ferimentos ocasionados por arma branca ou arma de fogo. Nesse tipo de lesão, o 31 aspecto externo da ferida pode dar falsa impressão, pois mesmo um pequeno orifício aparente pode esconder danos internos importantes. O ferimento por arma de fogo pode causar alterações fisiopatológicas, já que apresenta a lesão do orifício de entrada, lesões internas por todo o trajeto percorrido e, muitas vezes, lesão no orifício de saída do projetil. De acordo com o American College of Surgeons (2012) e Santos e Silva (2019), entre as lesões provocadas por um trauma de tórax estão o pneumotórax simples, o pneumotórax hipertensivo, o pneumotórax aberto, o tórax instável, o hemotórax maciço e o tamponamento cardíaco. 7.3 Pneumotórax simples O pneumotórax pode acontecer de forma espontânea, secundário à patologia clínica, ou por trauma, tanto penetrante quanto fechado. O vazamento de ar para o espaço pleural por lesão pulmonar rompe a força de adesão entre as pleuras e resulta em alteração na ventilação/perfusão. O tratamento mais indicado é a drenagem do tórax, o qual, de modo geral, tem bom prognóstico. Porém, é importante se atentar para o fato de que um pneumotórax simples pode evoluir para um pneumotórax hipertensivo se não for identificado e tratado de forma adequada. (PEREIRA,2019). 7.4 Pneumotórax hipertensivo O pneumotórax hipertensivo ocorre quando há entrada de ar, que pode ser do pulmão ou da parede torácica para o espaço pleural, criando um sistema de válvula unidirecional que pode causar pressão contralateral, colabamento do pulmão do lado afetado e diminuição do retorno venoso pelo deslocamento do mediastino. O tratamento deve ser imediato e a punção torácica para descompressão é indicada como medida de emergência. (PEREIRA,2019). 32 7.5 Pneumotórax aberto Os ferimentos que causam abertura no tórax provocam um equilíbrio entre as pressões intratorácica e atmosférica. Quando a abertura é de um tamanho maior que dois terços da traqueia, o ar entra pela lesão, tornando a ventilação não efetiva. No atendimento inicial a essa situação, a primeira indicação é colocar sobre a lesão um curativo estéril, não poroso, fixado com fita adesiva em três pontas até que seja providenciado o fechamento definitivo do orifício. Esse curativo bloqueia a entrada de ar na inspiração, mas permite a saída de ar durante a expiração. O fechamento definitivo, de modo geral, é cirúrgico. (PEREIRA,2019). 7.6 Tórax instável O tórax instável é causado por duas ou mais fraturas de arcos costais em locais diferentes, resultando em grave prejuízo aos movimentos ventilatórios e consequente hipóxia. No tórax instável, o movimento do tórax é assimétrico e descoordenado, além disso, durante um exame de palpação, pode-se perceber crepitação decorrente de fraturas. (PEREIRA,2019). 7.7 Hemotórax maciço O hemotórax maciço é o acúmulo de sangue e líquidos (volume igual ou maior que 1,5 L ou 1/3 do sangue total do paciente) em um lado da cavidade torácica, causando, além de prejuízo à ventilação, um risco potencial de choque hipovolêmico. O hemotórax pode estar acompanhado de um pneumotórax hipertensivo e necessita de intervenção rápida e adequada. A descompressão da cavidade afetada deve ser realizada concomitantemente à reposição de volume. (PEREIRA,2019). Tamponamento cardíaco O tamponamento cardíaco tem como causa mais comum a lesão penetrante, embora também possa ser causado por trauma contuso. Sua instalação pode ser lenta ou ocorrer rapidamente, de qualquer maneira, é necessário realizar intervenções imediatas. O diagnóstico é feito pela presença da 33 tríade de Beck (elevação da pressão venosa, diminuição da pressão arterial e abafamento de bulhas cardíacas). 7.8 Trauma abdominal A avaliação do abdome, assim como da pelve, é um dos grandes desafios na avaliação inicial de um paciente traumatizado. Ruptura de vísceras ocas e sangramento interno no abdome podem ser difíceis de diagnosticar diante do trauma fechado, sendo assim, vítimas de traumas torácicos por desaceleração brusca ou ferimentos penetrantes devem ser considerados portadores de lesão abdominal até que se prove o contrário (AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS, 2012). Em algumas situações, pode haver ruptura do diafragma (trauma toracoabdominal) e os órgãos da cavidade abdominal podem subir para a cavidade torácica, nesses casos, a ventilação pulmonar e a função respiratória são comprometidas. Por outro lado, lesões, principalmente de impacto, na parte inferior do abdome podem causar fratura de pelve, com consequente lesão de bexiga e intestino (SAAD JÚNIOR; GONÇALVES, 2012). Assim como o trauma torácico, o trauma abdominal também pode ser classificado como fechado ou penetrante. Para a avaliação do trauma abdominal, é importante expor a região afetada e associar os achados à história da cinemática do trauma. Os traumas fechados podem causar esmagamento, compressão e deformação de vísceras ocas e órgãos sólidos. Os traumas penetrantes, em geral causados por arma de fogo ou arma branca, causam lesões adicionais em decorrência de sua trajetória (SANTOS; SILVA, 2019). A identificação dos órgãos afetados pode não ser feita com precisão nos primeiros momentos do atendimento da emergência, entretanto, em pacientes traumatizados e com sinais de choque, lesões abdominais devem ser consideradas, pois a cavidade abdominal pode conter um volume grande de sangue sem alterar sua dimensão ou mesmo apresentar sinais de irritação peritoneal. (PEREIRA,2019). 34 7.9 Trauma Cranioencefálico (TCE) Das vítimas de trauma, as que apresentam lesão encefálica são as que parecem impor maior desafio, tanto à equipe médica como à de enfermagem. Muitas vezes, não há evidência externa de lesão, e o paciente está agitado, confuso e até mesmo agressivo. A história do trauma pode ser fundamental para uma desconfiança inicial de lesão encefálica. A atenção a esses pacientes deve ser global, pois o nível de consciência é apenas uma das manifestações, sendo que todos os sinais vitais podem alterar-se rapidamente (ver Fig. 1.15). A avaliação do nível de consciência de um paciente com TCE pode ser feita usando-se a escala de coma de Glasgow. Embora a determinação da pontuação seja atribuição do médico ou do enfermeiro, é importante que toda a equipe de enfermagem tenha conhecimento dessa escala a fim de determinar alterações e compreender a importância de uma avaliação competente. (SOARES,2020). Geralmente, os comas são classificados como: o Severo, ECG ≤ 8 o Moderado, ECG de 9 a 12 35 o Leve, ECG ≥ 13 A aplicabilidade da escala é limitada em crianças menores de 36 meses. 7.10 Trauma Raquimedular (TRM) Uma lesão de coluna vertebral poderá ou não causar lesão de medula espinal. A lesão de medula espinal pode ocorrer por aplicação de uma força que cause compressão ou em consequência de uma lesão de coluna, quando fragmentosósseos interrompem o fluxo sanguíneo ou causam laceração ou corte no tecido medular. A movimentação ou imobilização inadequada de uma coluna fraturada ou de um paciente com lesão medular despercebida pode ter como consequências a tetraplegia e mesmo PCR. Pode-se pensar em lesão medular diante de manifestações como dor no pescoço e/ou nas costas em repouso, com a palpação ou em movimento, deformidade 36 na coluna, defesa ou contratura muscular do pescoço ou das costas, parestesias, paresias, plegias, diminuição da sensibilidade tátil em membros superiores ou inferiores, priapismo ou sinais de choque neurogênico. (SOARES,2020). 7.11 Cuidados de enfermagem com ênfase nos traumas O atendimento aos pacientes de trauma deve obedecer aos protocolos estabelecidos, sendo necessário julgamento adequado para determinar as prioridades. A abordagem de emergência, seja no pré ou intra-hospitalar, deve reconhecer e tratar de forma prioritária as situações que implicam risco à vida e/ou que causam a morte mais rapidamente. (PEREIRA,2019). O enfermeiro de emergência tem um papel fundamental na organização dos processos de cuidado. A organização e a disponibilidade dos materiais, o quantitativo de profissionais e a seleção de profissionais capacitados para o atendimento de emergência são exemplos que minimizam a perda de tempo no atendimento. Uma equipe de profissionais que atuam em emergência deve estar alinhada, além disso, cabe a todos o reconhecimento da situação e a evolução do quadro clínico do paciente. Mesmo na sala de emergência, a equipe deve trabalhar de forma multi e interprofissional, de modo a suprir as necessidades, como fisioterapia respiratória precoce, manutenção do estado nutricional, apoio emocional, entre outros cuidados que devem ser estabelecidos assim que for possível. (PEREIRA,2019). Os aparelhos, como desfibriladores e monitores; os instrumentais, como aspiradores, tubo, AMBU, seringas, gel para pás; os medicamentos, como adrenalina e atropina, entre outros; e os EPIs devem estar em excelentes condições de uso e em local acessível e conhecido por toda a equipe. Outros cuidados também deverão ser executados logo que possível, como: • Remover roupas, para que possa ser realizado um exame físico total. • Fixar eletrodos no paciente e ligar o monitor multiparâmetro. • Atentar para a frequência cardíaca e o tipo de onda que aparece no monitor. 37 • Manter alarmes ligados. • Manter todos os instrumentos, drogas e materiais em local acessível. As situações de trauma poderão variar desde uma simples fratura até o politraumatismo, ou seja, indivíduos com múltiplas lesões traumáticas ou com lesão grave que ponham em risco a vida. Muitas lesões, como fraturas ou luxações em extremidades, podem ser desconsideradas em um primeiro momento de atendimento caso o paciente apresente um quadro clínico que precise ser restabelecido prioritariamente, como choque ou PCR. As circunstâncias em que ocorreu o acidente, conhecidas como cinemática do trauma, e as manifestações apresentadas pelo paciente podem determinar maior ou menor gravidade da situação, bem como os locais de maior risco para a presença de lesões. Deve-se manter o paciente em posição confortável, mantendo o membro alinhado ao corpo, sem forçar mobilização. (SOARES, 2020). Recentemente, o tratamento da glicemia, incluindo o paciente de trauma, se tornou o componente central do cuidado intensivo da hiperglicemia. Em geral, é definida para o paciente critico como maior que 200 mg/dL, e tem sido associada com maior mortalidade e maiores taxas de infecção. O estresse do trauma e as doenças graves causam maior produção de glicose hepática e captação diminuída de glicose. 38 Essas mudanças causam a hiperglicemia e as complicações infecciosas resultantes, além de hospitalizações mais longas e períodos prolongados no ventilador mecânico. (NAYDUCH,2011). 8 EXAMES QUE AUXILIAM NO DIAGNÓSTICO A radiografia é o exame preferencial a ser realizado na suspeita de uma lesão fisária. Não se deve realizar outros tipos de exames antes da obtenção de radiografias de boa qualidade. Em geral, são suficientes para o diagnóstico preciso e para orientar o tratamento a ser realizado. Algumas vezes, o diagnóstico com radiografias simples pode ser difícil devido às características de contorno irregular das fises e de sua natureza cartilaginosa. Em especial no tipo I de Salter-Harris, o exame pode mostrar apenas um pequeno alargamento da fise. Nesses casos, as radiografias comparativas podem auxiliar muito o diagnóstico. ATENÇÃO! As radiografias com manobras de estresse em valgo ou varo podem estar indicadas em algumas situações especiais. A relação custo-benefício deve ser considerada, uma vez que essas manobras podem agravar a lesão fisária. Em alguns casos de traumas graves, com o paciente apresentando muita dor, pode-se ter dificuldade em obter radiografias apropriadas. Pode-se realizar primeiro uma imobilização provisória para conforto do paciente e, então, fazer o exame. Quando as radiografias de boa qualidade não puderem ser obtidas pela dificuldade de posicionar o paciente com traumatismos graves ou politraumatismos, a tomografia computadorizada (TC) deve ser considerada. Em algumas situações especiais, o diagnóstico preciso e o planejamento do tratamento são realizados apenas após a realização da TC. Entretanto, as tomografias nem sempre estão 39 disponíveis e o custo é alto. Portanto, sua utilização correta requer bom senso do ortopedista que está tratando o paciente. A TC auxilia muito na compreensão do traço de fraturas muito cominutivas envolvendo a metáfise e a epífise e nas fraturas em mais de um plano (como nas fraturas triplanares do tornozelo). A ressonância magnética (RM) ainda é pouco utilizada nas lesões fisárias. É um exame de alto custo, que requer certo tempo para a realização e, a exemplo da TC, nem sempre está disponível. Por outro lado, mostra o edema da medula óssea que não é detectado pelas radiografias ou pela TC. As imagens da RM demoram para ser obtidas, o que, em uma criança, pode ser um fator limitante. Dependendo da sua idade, a criança pode necessitar de sedação para a realização da RM. A ultrassonografia, apesar de auxiliar no diagnóstico de fraturas em crianças, não é utilizada para o diagnóstico das lesões fisárias.7 A cintilografia, embora tenha sido utilizada no passado para diagnosticar lesões da fise não identificadas nas radiografias, foi substituída pela TC e pela RM. (NAYDUCH,2011). 9 CHOQUES O choque é entendido como uma condição clínica na qual existe um iminente risco de vida. Ele é caracterizado pela deficiente perfusão dos tecidos e órgãos do corpo humano, podendo resultar em morte celular. Sua progressão não é linear e muito menos previsível. De acordo com Hinkle e Cheever (2015), durante o processo de choque, as células do corpo sofrem uma turgência e a membrana celular se torna mais permeável, o que permite que os líquidos e os eletrólitos entrem e saiam das células. Nesse caso, as mitocôndrias e os lisossomos são lesionados, o que leva à morte celular. Existem três tipos de choques: o hipovolêmico, o cardiogênico e o circulatório (HINKLE; CHEEVER, 2014). Hipovolêmico: A sequência de eventos nesse tipo de choque inicia com a diminuição do volume intravascular, fato que resulta em uma diminuição do retorno venoso de sangue para o coração e, consequentemente, na diminuição do enchimento 40 ventricular. A consequência do enchimento ventricular diminuído é a diminuição do volume sistólico e do débito cardíaco. Com o débito cardíaco baixo, há o abaixamento da pressão arterial (PA) e a não perfusão adequada dos tecidos. Cardiogênico: Nesse tipo de choque, o débito cardíaco se mostra comprometido. Semelhante ao que ocorre no choque hipovolêmico,há um baixo aporte sanguíneo para os tecidos e órgãos. Com a perfusão tecidual cardíaca comprometida, o coração tem a sua capacidade de bombeamento prejudicada, com isso, o ventrículo não ejeta totalmente seu volume de sangue na sístole. Esse fato leva a um acúmulo de líquido nos pulmões. Circulatório: Em todos os tipos de choque circulatório, as dilatações arterial e venosa maciça promovem o represamento periférico do sangue. A dilatação arterial reduz a resistência vascular sistêmica. Em princípio, o débito cardíaco pode ser alto, tanto a partir da redução na pós-carga, quanto em decorrência do esforço aumentado do músculo cardíaco para manter a perfusão, apesar da vasculatura incompetente. O represamento de sangue na periferia tem como consequência um retorno venoso diminuído, resultando em volume sistólico e débito cardíaco também diminuídos. 9.1 Estágios do choque Dependendo dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente ou da gravidade geral da disfunção orgânica, o choque pode ser classificado como precoce ou tardio. A sobrevida desse paciente se dará de acordo com a natureza e a agilidade das intervenções prestadas pela equipe de socorristas. De acordo com Hinkle e Cheever (2014), os estágios do choque são: compensatório (estágio 1), progressivo (estágio 2) e irreversível (estágio 3). Estágio compensatório: A sua principal característica é a normalidade da PA. Nesse estágio, ocorre o aumento da vasoconstrição, da frequência cardíaca (FC) e da contratilidade do coração, fatores que, quando estão associados, contribuem para manter o débito cardíaco adequado. No estágio compensatório, os pacientes demonstram a resposta de fuga ou luta, ou seja, seu corpo desvia o sangue dos demais órgãos, buscando suprir adequadamente os órgãos vitais. 41 Estágio progressivo: Nesse estágio, o mecanismo que regula a PA não consegue mais compensar a perda sanguínea, logo, a PA média fica abaixo dos limites normais e, consequentemente, os pacientes se mostram clinicamente hipotensos. Estágio irreversível (refratário): A lesão orgânica é tão intensa nesse estágio que o paciente não responde a nenhum tratamento. Nesse caso, a morte é iminente. Apesar das tentativas de tratamento, a PA se mantém baixa. Há uma acidose metabólica avassaladora devido às insuficiências renal e hepática decorrentes da liberação das toxinas dos tecidos necróticos. 9.2 Manifestações clínicas dos tipos de choques De acordo com o tipo de choque, o paciente apresentará sinais e sintomas específicos, entretanto, existem achados comuns a todos eles. Por isso, compreender a fisiopatologia e as principais características dos tipos de choques é de grande importância para os profissionais de saúde. Nessa perspectiva, o primeiro passo é perceber as manifestações clínicas e entender a diferença entre os chamados choques hipodinâmicos (frios) e hiperdinâmicos (quentes). Os primeiros são representados pelos choques hipovolêmico, cardiogênico e obstrutivo, enquanto os outros são representados pelos distributivos. As principais manifestações clínicas dos tipos de choques, segundo Hinkle e Cheever (2015), estão listadas a seguir e também podem ser vistas no Quadro 2. Choque hipovolêmico: nele, observa-se queda da pressão venosa, elevação da resistência periférica, taquicardia, pele úmida e fria, palidez, sede e sudorese. Há, ainda, a alteração do sensório, oliguria, acidose metabólica e taquipneia. Choque cardiogênico: os principais sinais incluem PA baixa e pulso fraco e rápido, arritmias, angina, instabilidade hemodinâmica, fadiga e sensação de morte iminente. Choque séptico: no primeiro momento, observa-se o aumento da FC e da frequência respiratória, débito cardíaco elevado, hipertermia acompanhada por pele quente e ruborizada. Além desses sinais, há elevação da contagem de leucócitos, da proteína C reativa e dos níveis de procalcitonina. À medida que o choque séptico 42 progride, tem-se o débito cardíaco baixo com vasoconstrição, queda da PA, da FC e da frequência respiratória rápida e a presença de anúria. Choque neurogênico: os seus principais sintomas são pele quente e seca e presença de bradicardia. O choque neurogênico secundário a lesão de medula é resultado de diversos déficits neurológicos causados pela lesão. Ao contrário do choque hipovolêmico, o paciente apresenta vasodilatação, a pele fica quente e seca. (SOARES,2020). Choque anafilático: os sinais e sintomas costumam surgir entre 5 e 30 min após a exposição ao antígeno, fato que não exclui a possibilidade de, em alguns casos, as reações se apresentarem depois de várias horas. Suas principais reações são: cefaleia, tontura, náuseas, vômitos, dor abdominal aguda, prurido, sensação de morte iminente, eritema difuso e rubor generalizado, dificuldade para respirar, arritmias cardíacas e hipotensão. Na anafilaxia grave, observam-se o início rápido da hipotensão, o comprometimento neurológico, a angústia respiratória e, até mesmo, a parada cardíaca. 43 9.3 Intervenções de enfermagem empregadas nos casos de choques Prevenir o choque é um foco essencial na assistência de enfermagem, sendo assim, reconhecer os principais sinais e sintomas que antecedem qualquer tipo característico de choque é uma prerrogativa dos profissionais da enfermagem. Segundo Hinkle e Cheever (2015), as principais intervenções de enfermagem nos mais variados tipos de choques são: choque hipovolêmico - Pode ser evitado ao monitorar os pacientes em risco de déficits de líquido ou ao garantir a reposição volêmica antes que se deplete o volume intravascular. A enfermagem, nesse caso, busca garantir a administração segura dos líquidos e medicamentos prescritos, além de monitorar, rigorosamente, as complicações e os efeitos colaterais da terapia, relatando imediatamente a ocorrência de alterações. Administração de sangue e líquidos - A administração de sangue é uma das mais importantes intervenções da enfermagem em pacientes com choque hipovolêmico. Nas situações de emergência, é fundamental que haja análise e teste da prova cruzada do sangue antes das transfusões. Uma transfusão de hemoderivados deve ser monitorada rigorosamente para que seja possível prevenir os efeitos adversos que o paciente venha a apresentar. As complicações da reposição de líquido em um paciente podem acontecer frequentemente ao administrar grandes volumes com rapidez. Nesse caso, monitora-se o paciente para detectar a ocorrência de sobrecarga cardiovascular, sinais de dificuldade respiratória e edema pulmonar. choque cardiogênico - Deve-se promover a oxigenação adequada do músculo cardíaco e diminuir a carga de trabalho do coração, para essa finalidade, busca-se conservar a energia do paciente, aliviando a angina e administrando oxigênio suplementar. choque séptico - Ao cuidar de pacientes, os profissionais de enfermagem devem sempre ter em mente a possibilidade de ocorrer uma sepse. Todos os procedimentos invasivos devem ser realizados com a técnica asséptica depois da correta lavagem das mãos. Além disso, as linhas intravenosas, os locais de punção arterial e venosa, as incisões cirúrgicas, as feridas traumáticas, os cateteres urinários 44 e as lesões por pressão devem ser cuidadosamente monitoradas quanto a sinais de infecção. choque neurogênico - É de fundamental importância elevar e manter a cabeceira do leito pelo menos a 30° para prevenir o choque neurogênico em pacientes que recebem anestesia espinal ou epidural. Essa elevação ajudará a evitar a disseminação do agente anestésico para a região acima da medula espinal. Nos casos suspeitos de lesão raquimedular o choque poderá ser evitado com a imobilização do paciente para evitar o dano adicional da medula. choque anafilático - A principal análise desse tipo de choque na enfermagem deve ser a possibilidade de o paciente apresentaralergias ou reações prévias aos antígenos. É, portanto, necessário observar o paciente quando há administração de um novo medicamento, principalmente em se tratando de antibióticos, β-bloqueadores, inibidores da angiotensina, bloqueadores dos receptores de angiotensina, ácido acetilsalicílico e agentes anti-inflamatórios não esteroides. Além disso, a equipe deve ser instruída sobre os sinais clínicos da anafilaxia, empreendendo a ação imediata quando houver sinais e sintomas, bem como estar preparada para uma possível reanimação cardiopulmonar. Fonte: minutoenfermagem.com.b 45 REFERÊNCIAS AHN JJ, Rho JY, Canale T. Mesenchymal stem cells therapy in growth plate cartilage injury. Annual Meeting Bulletin – POSNA; 2002. p. 81. ALVAREZ, F. S. et al. Lesões músculo-esqueléticas. In: ALVAREZ, F. S. et al. (org.). Protocolos de trauma. Rio de Janeiro: Secretaria de Saúde e Defesa Civil, 2010. AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. Committee on trauma: advanced trauma life support for doctors: student course manual. 7th ed. 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