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LESÃO RENAL AGUDA SOI IV | APG 14 - SISTEMA RENAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1. Estudar a etiologia, epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas, complicações, diagnóstico e tratamento da lesão renal aguda (pré, intra e pós-renal); 2. Entender as características dos acidentes ofídicos. LESÃO RENAL AGUDA Anteriormente denominada insuficiência renal aguda, a lesão renal aguda (LRA), representa um problema de saúde pública mundial com altas taxas de morbimortalidade, além de apresentar altos custos para a saúde, com maior tempo de internação e possibilidade de evolução para doença renal crônica em longo prazo. A LRA caracteriza-se por redução abrupta (em horas a dias) da taxa de filtração glomerular, resultando na inabilidade de o rim exercer suas funções básicas de excreção das escórias nitrogenadas e manutenção da homeostase hidroeletrolítica do organismo. Frequentemente, é reversível, podendo se manter por tempo variável. EPIDEMIOLOGIA A IRA é uma complicação em cerca de 5% das hospitalizações e até 30% das internações em UTI. A Necrose Tubular Aguda (NTA) é responsável por mais de 50% da IRA em pacientes hospitalizados e mais de 76% dos casos nos pacientes em UTI, sendo a sepse a condição mais comumente associada. A incidência de IRA aumenta com a idade (3,5 vezes maior nos pacientes acima de 70 anos): perda progressiva da TFG (taxa de filtração glomerular) com a idade, associada à maior prevalência de comorbidades como Diabetes mellitus, Hipertensão arterial e hiperlipemia. Pacientes que já possuem insuficiência renal crônica (IRC) tem chance maior de evoluir com rim terminal após episódio de agudização da insuficiência renal. CLASSIFICAÇÃO Causas: - Redução do fluxo sanguíneo sem lesão isquêmica; - Lesão isquêmica, tóxica ou obstrutiva dos túbulos renais; - Obstrução das vias urinárias distais. Classificação: - Pré-renais (55%) - Intrarrenais (40%) - Pós-renais (5%) LESÃO PRÉ-RENAL Tipo mais comum de insuficiência renal aguda. Ocorre redução acentuada do fluxo sanguíneo renal. É reversível quando a causa pode ser detectada e corrigida antes que ocorra lesão dos rins. > ETIOLOGIA: 2 - Depleção grave do volume vascular (p. ex., hemorragia, perdas de volume do líquido extracelular); - Redução da perfusão renal em consequência de insuficiência cardíaca e choque cardiogênico; - Redução do enchimento vascular por ampliação da capacitância vascular (p. ex., anafilaxia ou sepse). - Idosos têm risco alto (predisposição à hipovolemia e à prevalência alta de doenças vasculares renais). > FISIOPATOLOGIA Normalmente, os rins recebem entre 20 e 25% do débito cardíaco. Volume necessário para que os glomérulos removam as escorias metabólicas e regulem os líquidos e os eletrólitos do corpo. O rim normal pode tolerar reduções relativamente grandes do fluxo sanguíneo, antes que ocorra lesão renal. Mas se houver redução além disso, ocorre o seguinte: A insuficiência pré-renal é evidenciada por: - Redução aguda do débito urinário, pela diminuição da TFG (um dos primeiros sinais da LRA); - Elevação desproporcional do nível de ureia sanguínea em comparação com a concentração sérica de creatinina. > MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sede; Hipotensão ortostática; Redução de pressão venosa jugular; Sinais de desidratação. Buscar a causa base: Insuficiência cardíaca avançada; Sepse; Hepatopatia crônica com hipertensão portal; Causas de diminuição do volume sanguíneo efetivo; Avaliar o uso de IECA e AINEs. LESÃO INTRARRENAL > ETIOLOGIA - Isquemia associada à insuficiência pré-renal; - Lesão tóxica das estruturas tubulares dos néfrons; - Obstrução intratubular; - Glomerulonefrite aguda; - Pielonefrite aguda. Nesse tipo de LRA, ocorrem lesões das estruturas existentes dentro do rim. Algumas dessas estruturas do parênquima renal que podem estar são: glomérulos, vasos sanguíneos, túbulos e interstício. Causas da redução da filtração glomerular e lesão epitelial: - Vasoconstrição intrarrenal; - Redução da pressão hidrostática dos glomérulos; - Alterações do tônus arterial por feedback tubuloglomerular; - Diminuição da permeabilidade capilar dos glomérulos; 3 - Aumento da pressão hidrostática tubular secundária à obstrução e fluxo retrógrado do filtrado glomerular para dentro do interstício. *Lesões das estruturas tubulares do néfron são as causas mais comuns (origem isquêmica ou tóxica). > FISIOPATOLOGIA Lesão ou necrose tubular aguda (NTA): Destruição das células do epitélio tubular com supressão súbita da função renal. Pode ser causada por: isquemia, sepse, efeito nefrotóxicos dos fármacos, obstrução tubular, toxinas liberadas de um foco infeccioso maciço. As células epiteliais tubulares são especialmente sensíveis à isquemia e também são suscetíveis às toxinas. A lesão tubular subsequente geralmente é reversível. Mais comum nos pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos de grande porte, hipovolemia grave, sepse (desencadeia uma combinação de vasodilatação sistêmica e hipoperfusão intrarrenal e acarreta a formação de toxinas, que sensibilizam as células tubulares renais aos efeitos deletérios da isquemia). A TFG (taxa de filtração glomerular) não aumenta com a recuperação do fluxo sanguíneo renal dos pacientes com insuficiência renal aguda causada por NTA isquêmica (ou lesão tubular aguda). Alguns fármacos estruturalmente diversos e outros agentes nefrotóxicos causam lesão tubular porque induzem diferentes combinações de: vasoconstrição renal; lesão direta dos túbulos renais e obstrução intratubular. O rim é especialmente suscetível à lesão nefrotóxica em razão de sua irrigação sanguínea profusa; capacidade de concentrar toxinas em níveis altos na região medular. Os efeitos tóxicos, que causam necrose mais branda, geralmente se limitam ao túbulo proximal. Risco de lesão renal causada pelos contrastes radioativos é maior nos adultos e nos pacientes com Doença renal (preexistente); Depleção de volume; Diabetes mellitus (preexistente); Exposição recente a outros agentes nefrotóxicos > MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS IRA renal isquêmica: Costuma se manifestar como complicação de hipoperfusão grave. IRA renal nefrotóxica Exige extensa revisão das medicações em uso e dos procedimentos realizados pelo paciente. Apesar da IRA renal nefrotóxica e isquêmica corresponderem à maioria dos casos, deve-se buscar informações que poderiam levar ao diagnóstico de outras causas: - Dor no flanco (fibrilação atrial ou IAM recente pensar em oclusão de veia ou artéria renal); - Nódulos subcutâneos, placas retinianas, livedo reticularis, isquemia digital, manipulação recente da aorta (pode ser indício de ateroembolização); - Sedimento urinário ativo, edema, hipertensão e oligúria (glomerulonefrite); - Hipertensão grave com cefaléia, retinopatia, papiledema (hipertensão maligna); - Ingestão recente de drogas, febre, exantema ou artralgias (nefrite intersticial aguda). - LESÃO PÓS-RENAL > ETIOLOGIA 4 > FISIOPATOLOGIA Causada por obstrução da drenagem da urina produzida nos rins. A obstrução pode ocorrer: - No ureter (cálculos e estenoses); - Na bexiga (tumor ou bexiga neurogênica); - Na uretra (hiperplasia da próstata) - é a causa primária mais comum. > MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Dor suprapúbica ou em flanco associada à bexiga palpável; - Dor no flanco em cólica que se irradia para a bexiga pode sugerir obstrução ureteral; - Nictúria, polaciúria e hesitação costumam ocorrer na síndrome prostática. O diagnóstico propriamente dito ocorre com a rápida melhora da função renal após a desobstrução e realização de exames radiológicos que comprovem a obstrução. DIAGNÓSTICO Detectar pacientes em risco de desenvolver insuficiência renal aguda, inclusive os que têm disfunção renal e diabetes preexistentes: - Suscetíveis a desenvolver insuficiência renal aguda causada por: Fármacos nefrotóxicos (p. ex., aminoglicosídeos e contrastes radioativos); ou Fármacos que alteram a hemodinâmica intrarrenal (p. ex., AINE). - Os idosos estão sujeitos a todos os tipos de insuficiênciarenal aguda, em consequência dos efeitos do envelhecimento nas reservas renais. - O monitoramento cuidadoso do débito urinário é essencial aos pacientes em risco de desenvolver insuficiência renal aguda. > EXAMES LABORATORIAIS Exames de urina: osmolalidade urinária, concentração de sódio, excreção percentual de sódio. * Uma das primeiras manifestações de lesão tubular é a incapacidade de concentrar a urina. EAS: Analisar proteinúria, hemoglobinúria, cilindros e cristais. Exames de sangue: obter informações quanto à capacidade de remover escórias nitrogenadas do sangue. Dosar: ureia e creatinina. * Excluir a existência de obstrução urinária. 5 > EXAMES RADIOLÓGICOS São muito úteis na exclusão da IRA pós-renal. A dilatação pelvicalicial tem sensibilidade de 98% na presença de obstrução do trato urinário; Radiografia simples de abdome e ultrassonografia (USG) de rins e vias urinárias devem ser realizados nos casos de IRA. A radiografia raramente é útil mas pode mostrar cálculos. USG é o exame de escolha para analisar inicialmente obstrução do trato urinário. A tomografia de rins e vias urinárias pode mostrar dados não visualizados na USG como alguns cálculos e obstruções, e ainda na fase contrastada, a tomografia pode mostrar pielonefrites agudas ou tromboses venosas. Angioressonância pode ser de grande auxílio no caso de lesões vasculares TRATAMENTO Definir e reverter a causa básica da obstrução para que o fluxo de urina possa ser restabelecido antes que ocorra lesão irreversível dos néfrons. Manter o volume de líquidos e as concentrações dos eletrólitos nas faixas normais. Mudanças na dieta: Deverá ser feita uma restrição alimentar e de líquidos. O objetivo é reduzir a acumulação de toxinas que são normalmente eliminadas pelos rins. Uma dieta rica em carboidratos e pobre em proteínas, sal e potássio é geralmente recomendada. ● Alimentos com menos potássio. Exemplos incluem maçãs, couve, feijão verde, uvas e morangos. O excesso de potássio no sangue pode baixar a pressão arterial; ● Evitar produtos com adição de sal. O excesso de sódio no sangue pode elevar a pressão arterial; Medicamentos: Antibióticos podem ser prescritos para tratar ou prevenir todas as infecções que podem estar causando ou agravando a insuficiência renal. Diuréticos podem ser usados para ajudar os rins a eliminar líquidos. Cálcio e insulina podem ser receitados para ajudar a evitar uma acumulação perigosa de potássio no sangue. Diálise: Esse procedimento envolve o desvio de sangue para fora do seu corpo em uma máquina que filtra os resíduos. O sangue limpo é então devolvido ao seu corpo. Se os níveis de potássio são perigosamente altos, a diálise pode salvar vidas. A diálise pode ser necessária, mas não é sempre necessária. É usada se houver mudanças em seu estado mental ou se você parar de urinar. A diálise também pode ser necessária em casos de pericardite, uma inflamação do coração. A diálise também pode ajudar a eliminar resíduos de produtos de nitrogênio do corpo. Hipercalemia é uma emergência médica pelo risco aumentado de arritmias e quando as medidas clínicas não são suficientes o paciente pode ser encaminhado à hemodiálise. ACIDENTES OFÍDICOS As serpentes do gênero Crotalus (cascavéis) distribuem-se de maneira irregular pelo país, determinando as variações com que a frequência de acidentes é registrada. Responsáveis por cerca de 7,7 % dos acidentes ofídicos registrados no Brasil, podendo representar até 30% dos acidentes em algumas regiões. Apresentam o maior coeficiente de letalidade dentre todos os acidentes ofídicos (1,87%), pela frequência com que evoluem para lesão renal aguda (LRA). AÇÕES DO VENENO Ação neurotóxica: Fundamentalmente produzida pela crotoxina, uma neurotoxina de ação pré-sináptica, que atua nas terminações nervosas, inibindo a liberação de 6 acetilcolina. Esta inibição é a principal responsável pelo bloqueio neuromuscular, do qual decorrem as paralisias motoras apresentadas pelos pacientes. Ação miotóxica: Produz lesões de fibras musculares esqueléticas (rabdomiólise), com liberação de enzimas e mioglobina para o sangue, que são posteriormente excretadas pela urina. Não está perfeitamente identificada a fração do veneno que produz esse efeito miotóxico sistêmico, mas há referências experimentais de ação miotóxica local da crotoxina e da crotamina. A mioglobina excretada na urina foi erroneamente identificada como hemoglobina, atribuindo-se ao veneno uma atividade hemolítica in vivo. Estudos mais recentes não demonstraram a ocorrência de hemólise nos acidentes humanos. Ação coagulante: Decorre de atividade do tipo trombina que converte o fibrinogênio diretamente em fibrina. O consumo do fibrinogênio pode levar à incoagulabilidade sanguínea. Geralmente não há redução do número de plaquetas. As manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas. QUADRO CLÍNICO Manifestações Locais: Podem ser encontradas as marcas das presas, edema e eritema discretos. Não há dor, ou se existe, é de pequena intensidade. Há parestesia local ou regional, que pode persistir por tempo variável, podendo ser acompanhada de edema discreto ou eritema no ponto da picada. Procedimentos desaconselhados como garroteamento, sucção ou escarificação locais com finalidade de extrair o veneno, podem provocar edema acentuado e lesões cutâneas variáveis. Manifestações Sistêmicas - Gerais: Mal-estar, sudorese, náuseas, vômitos, cefaléia, secura da boca, prostração e sonolência ou inquietação, são de aparecimento precoce e podem estar relacionados a estímulos de origem diversas, nas quais devem atuar o medo e a tensão emocional desencadeada pelo acidente. - Neurológicas, decorrentes da ação neurotóxica do veneno: Apresentam-se naS primeiras horas e caracterizam o "fácies miastênica” (fácies neurotóxica de Rosenfeld) evidenciadas por ptose palpebral uni ou bilateral, flacidez da musculatura da face, há oftalmoplegia e dificuldade de acomodação (visão turva) ou visão dupla (diplopia) e alteração do diâmetro pupilar (midríase). Com menor frequência pode aparecer paralisia velopalatina, com dificuldade à deglutição, diminuição do reflexo do vômito, modificações no olfato e no paladar. As alterações descritas são sintomas e sinais que regridem após 3 a 5 dias. - Musculares, decorrentes da Atividade Miotóxica: Caracterizam-se por dores musculares generalizadas (mialgias), de aparecimento precoce. A urina pode estar clara nas primeiras horas e assim permanecer, ou tornar-se avermelhada (mioglobinúria) e progressivamente marrom nas horas subsequentes, traduzindo a eliminação de quantidades variáveis de mioglobina, pigmento liberado pela necrose do tecido muscular esquelético (rabdomiólise). Não havendo dano renal, a urina readquire a sua coloração habitual em 1 ou 2 dias. Distúrbios da Coagulação: Pode haver aumento do Tempo de Coagulação (TC) ou incoagulabilidade sanguínea, com queda do fibrinogênio plasmático, em aproximadamente 40% dos pacientes. Raramente há pequenos sangramentos, geralmente restritos às gengivas (gengivorragia). Manifestações Clínicas pouco frequentes: Insuficiência respiratória aguda, fasciculações e paralisia de grupos musculares têm sido relatadas e interpretadas como decorrentes das atividades neurotóxicas e miotóxicas do veneno. Com base nas manifestações clínicas, os acidentes crotálicos são classificados em leves, moderados e graves. a. Leves: Sinais e sintomas neurotóxicos discretos, de aparecimento tardio, fácies miastênica discreta, mialgia discreta ou ausente, sem alteração da cor da urina. b. Moderado: Sinais e sintomas neurotóxicos: fácies miastênica evidente, mialgia discreta ou provocada ao exame. A urina pode apresentar coloração alterada. c. Grave: Sinais e sintomas neurotóxicos evidentes: fácies miastênica, fraqueza muscular, mialgia intensa e urina escura, podendo haver oligúria ou anúria, insuficiência respiratória. Complicações: - Locais: Raramente parestesias locais duradouras, porém reversíveis após algumas semanas. - Sistêmicas: Lesão renalaguda (LRA) com necrose tubular, geralmente de instalação nas primeiras 48 horas.
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