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TÓPICO 1 A psicologia educacional e da aprendizagem não pode dizer a você, como futuro professor, o que fazer, mas pode fornecer os princípios a serem usados para tomar uma boa decisão e uma linguagem para discutir suas experiências e pensamentos. Os psicólogos educacionais realizam pesquisas sobre a natureza dos alunos como aprendizes e sobre métodos eficazes de ensino, a fim de ajudar os educadores a compreenderem os princípios da aprendizagem e dar-lhes as informações de que precisam para pensar criticamente sobre seu ofício e tomar decisões de ensino que funcionarão para seus alunos. O QUE FAZ UM BOM PROFESSOR? Todo mundo sabe que o bom ensino é importante. Mas o que torna um bom professor eficaz? É cordialidade, humor e capacidade de se preocupar com os alunos e valorizar sua diversidade? É planejamento, trabalho árduo e autodisciplina? E quanto à liderança, entusiasmo, um amor contagiante pelo aprendizado e habilidade para falar? Mas essas qualidades não são suficientes. A maioria das pessoas concordaria que todas essas qualidades são necessárias para ser um bom professor, e certamente estariam corretas. Mas essas qualidades não são suficientes. De modo geral, o conhecimento de como transmitir informações e das habilidades é pelo menos tão importante quanto o conhecimento das próprias informações e desenvolver tais habilidades. Para um ensino eficaz, o conhecimento do conteúdo não é uma questão de ser uma enciclopédia ambulante. O que torna os professores eficazes é que eles não apenas conhecem suas disciplinas, mas também sabem comunicar seus conhecimentos aos alunos. DOMÍNIO DE HABILIDADES PEDAGÓGICAS A instrução eficaz não é uma simples questão de uma pessoa com mais conhecimento transmitir esse conhecimento para outra. As tarefas mencionadas – motivar os alunos, administrar a sala de aula; avaliar o conhecimento prévio; comunicar ideias de maneira eficaz; levar em consideração as características dos alunos; avaliar os resultados da aprendizagem e revisar as informações – devem ser realizadas em todos os níveis de ensino, dentro ou fora das escolas. A maneira como essas tarefas são realizadas, entretanto, difere amplamente de acordo com a idade dos alunos, os objetivos da instrução e outros fatores. O que torna bom um professor é a capacidade de realizar todas as tarefas envolvidas em uma instrução eficaz. Calor humano, entusiasmo e carinho são essenciais assim como o conhecimento do conteúdo e a compreensão de como as crianças aprendem, mas é a realização bem-sucedida de todas as tarefas de ensino que contribui para a eficácia instrucional. O BOM ENSINO PODE SER ENSINADO? Algumas pessoas pensam que bons professores nascem assim. Professores excelentes, às vezes, parecem ter uma magia, um carisma que meros mortais nunca poderiam esperar alcançar. Ainda assim, a pesquisa começou a identificar os comportamentos e habilidades específicas que tornam um professor “mágico”. Um professor excelente não faz nada que outro professor não possa fazer – é apenas uma questão de conhecer os princípios do ensino eficaz e como aplicá-los. O bom ensino deve ser observado e praticado, mas existem princípios do bom ensino que os professores precisam saber e que podem ser aplicados em sala de aula. O PROFESSOR INTENCIONAL Não existe uma fórmula para um bom ensino, nem sete passos para o ser o Professor do Ano. O ensino envolve planejamento e preparação e, em seguida, dezenas de decisões a cada momento. No entanto, um atributo parece ser característico de professores notáveis: a intencionalidade. Intencionalidade significa fazer as coisas por uma razão, com um propósito. Os professores intencionais pensam constantemente sobre os resultados que desejam para seus alunos e sobre como cada decisão que tomam move as crianças em direção a esses resultados, os professores intencionais sabem que o aprendizado máximo não acontece por acaso. as crianças aprendem de maneiras não planejadas o tempo todo, e muitas aprenderão até mesmo com a aula mais caótica. Mas para realmente desafiar os alunos, para obter seus melhores esforços, para ajudá-los a dar saltos conceituais e organizar e reter novos conhecimentos, os professores precisam ser intencionais: propositais, atenciosos e flexíveis, sem nunca perder de vista seus objetivos para cada criança. No entanto, na prática, é difícil garantir constantemente que todos os alunos estejam envolvidos em atividades que levem a resultados de aprendizagem importantes. Alguns professores do Ensino Médio passam a maior parte do período de aula repassando os deveres de casa e da aula e acabam ensinando muito pouco o novo conteúdo. Esses professores, é claro, podem ser excelentes em outros momentos, mas, às vezes, perdem de vista o que estão tentando alcançar e como o farão. Os professores intencionais estão constantemente se perguntando quais objetivos eles e seus alunos estão tentando alcançar. Cada parte da aula é apropriada para o conhecimento, habilidades e necessidades dos alunos? Cada atividade ou tarefa está claramente relacionada a um resultado acadêmico valioso? Cada minuto de instrução é sabiamente bem utilizado? Um professor intencional que tenta desenvolver as habilidades no uso de sinônimos com alunos pode fazê- los trabalhar em pares para dominar um conjunto de sinônimos em preparação para questionários individuais. Um professor intencional pode fazer com que todos os alunos trabalhem em um determinado problema enquanto um trabalha no quadro, para que todos possam comparar respostas e estratégias juntas. Um professor intencional pode rapidamente dar respostas da tarefa de casa para que os alunos verifiquem por si mesmos, pedir que levantem as mãos para verificar as respostas corretas e, em seguida, revisar e voltar a ensinar apenas os exercícios que tiveram erros por muitos alunos, a fim de economizar tempo para ensinar novos conteúdos. Um professor intencional usa uma ampla variedade de métodos de ensino, experiências, tarefas e materiais para ter certeza de que as crianças estão alcançando todos os tipos de objetivos cognitivos, do conhecimento à aplicação à criatividade, e que, ao mesmo tempo, as crianças estão aprendendo objetivos afetivos importantes, como amor pelo aprendizado, respeito pelos outros e responsabilidade pessoal. Um professor intencional reflete constantemente sobre suas práticas e resultados. Um professor intencional, aquele que acredita fortemente em sua eficácia, tem mais probabilidade de fazer um esforço consistente, de persistir em face de obstáculos e de continuar tentando incansavelmente até que todos os alunos tenham sucesso A pesquisa descobriu que um dos indicadores mais poderosos do impacto de um professor sobre os alunos é a crença de que o que ele faz a diferença. Essa crença, chamada de crenças de eficácia dos professores, está no cerne do que significa ser um professor intencional. Os professores que acreditam que o sucesso na escola se deve quase inteiramente à inteligência inata das crianças, ao ambiente doméstico ou a outros fatores que os professores não podem influenciar, provavelmente não ensinarão da mesma forma que aqueles que acreditam que seus próprios esforços são a chave para o aprendizado das crianças. Os professores intencionais alcançam um senso de eficácia avaliando constantemente os resultados de sua instrução; tentando novas estratégias se sua instrução inicial não funcionar; e buscando continuamente ideias de colegas, livros, recursos on-line, revistas, workshops e outras fontes para enriquecer e solidificar suas habilidades pedagógicas. O senso de eficácia é um dos principais fatores por trás dos professores que são inovadores e abraçam a mudança. A eficácia coletiva pode ter um impacto particularmente forte no desempenho dos alunos.Grupos de professores, como todo o corpo docente de uma escola de Ensino Fundamental ou todos os professores do departamento acadêmico, podem atingir eficácia coletiva trabalhando juntos para examinar suas práticas e resultados, buscando desenvolvimento profissional e ajudando uns aos outros a ter sucesso. Os países que são particularmente bem-sucedidos em ajudar todas as crianças a terem sucesso são aqueles que oferecem oportunidades para os professores trabalharem juntos e assumirem responsabilidade coletiva por seus alunos. os professores intencionais estão constantemente combinando seu conhecimento dos princípios da psicologia educacional e da aprendizagem, sua experiência e sua criatividade para tomar decisões instrucionais e ajudar as crianças a se tornarem alunos entusiasmados e eficazes. Muitos estudos analisaram as diferenças entre professores experts e novatos e entre professores mais e menos eficazes. Um tema perpassa esses estudos: professores experts são pensadores críticos. Os professores intencionais estão constantemente atualizando e examinando suas próprias práticas de ensino, lendo e participando de conferências para aprender novas ideias e usando as respostas de seus próprios alunos para orientar suas decisões de ensino. Há um velho ditado que diz que existem professores com 20 anos de experiência e existem professores com 1 ano de experiência 20 vezes. Os professores que melhoram a cada ano são aqueles que estão abertos a novas ideias e que olham para o seu próprio ensino de forma crítica. Talvez o objetivo mais importante deste livro seja criar o hábito de usar a reflexão informada para se tornar um dos professores experts de amanhã. A importância do ensino intencional e do pensamento crítico torna-se ainda mais clara quando você reflete sobre as mudanças que ocorrerão no ensino nos próximos 10 a 20 anos. Em 2030 ou 2040, o trabalho dos professores estará totalmente transformado. Durante sua carreira de professor, haverá mudanças dramáticas no papel da tecnologia, especialmente à medida que o acesso à internet se torna universal. Novas formas de escolarização além da escola física, e formas de ensino que mesclam o ensino tecnológico com o tradicional, já estão aqui e irão se expandir. O papel da pesquisa certamente crescerá e, nos próximos anos, os professores poderão escolher entre uma variedade de programas, cada um dos quais terá sido avaliado cientificamente e considerado eficaz. Novos modelos de preparação de professores e de oferta de serviço se tornarão comuns em. Os professores estão sendo cada vez mais responsáveis pela aprendizagem de seus alunos. Todas essas mudanças significam que os professores nos anos de 2030 e 2040 terão que ser flexíveis, resilientes e capazes de usar novas abordagens para novos problemas. Por muito tempo, os professores sempre puderam recorrer a suas próprias experiências como alunos e ensinar como seus próprios professores lhes ensinaram. Esses dias acabaram. HABILIDADES DO SÉCULO XXI Quando a nossa geração era criança, esperava-se que o século XXI fosse totalmente diferente do século XX. Os Jetsons lançado em 1962. Projetaram uma imagem de carros voadores, robôs em todas as casas e todos os tipos de tecnologia incrível. Futurologistas sérios esperavam mais ou menos o mesmo. A realidade acabou se revelando um pouco mais prática, mas, no entanto, os desenvolvimentos na tecnologia e na globalização mudaram dramaticamente aspectos-chave de nossa economia e sociedade. Em particular, a segurança econômica, tanto para indivíduos quanto para nações, depende mais do que nunca de inovação, criatividade e design. A capacidade de trabalhar cooperativamente com outras pessoas, de ver muitas soluções para os problemas e de ser flexível e responsivo a mudanças rápidas estão se tornando a chave para o sucesso, à medida que os empregos tradicionais de "costas fortes" desaparecem e são substituídos por carreiras de "mente forte". Todas essas mudanças têm um significado profundo para a educação. Elas levam os educadores a valorizar as habilidades, atitudes e formas de trabalho que mais se assemelham às novas condições da força de trabalho. Nem é preciso dizer que os alunos precisam de ampla experiência com tecnologia, mas isso não é suficiente. Eles também precisam de ampla experiência de trabalho em grupos, resolvendo problemas e aprendendo a ler criticamente e pensar criativamente. O que mudou é que essas ideias não são mais opcionais, porque correspondem muito às necessidades de hoje. Além disso, essas habilidades agora são necessárias para todos, do escritório executivo ao chão de fábrica. Uma educação do século XXI significa dar aos alunos as habilidades que precisam para ter sucesso neste novo mundo e ajudá-los a aumentar a confiança para praticar essas habilidades. Com tantas informações disponíveis para eles, as habilidades do século XXI se concentram mais em dar sentido a essas informações, compartilhando-as e usando-as de maneiras inteligentes. Consistente com esta linha de raciocínio, a Partnership for 21st Century Skills (P21) foi criada para promover políticas que definem e apoiam os resultados dos alunos que se alinham com as necessidades de hoje. A P21 criou uma estrutura que organiza as habilidades do século 21 em quatro categorias: criatividade; pensamento crítico; comunicação; e colaboração. Esses quatro temas não devem ser entendidos como unidades ou mesmo disciplinas, mas como temas que devem ser superpostos a todo o mapeamento curricular e planejamento estratégico. Eles devem fazer parte de todas as aulas da mesma forma que o letramento e numeramento. A criatividade é pensar nas informações de novas maneiras, fazer novas conexões e encontrar soluções inovadoras para os problemas. O pensamento crítico trata de analisar informações e criticar afirmações. Comunicação é entender as coisas bem o suficiente para compartilhá-las claramente com outras pessoas. Colaboração é trabalho em equipe e a genialidade coletiva de um grupo que é mais do que a soma de suas partes. Existem outras habilidades que são importantes, que se enquadram nessas quatro áreas. O empreendedorismo pode ser considerado uma habilidade própria. A investigação e a resolução de problemas são essenciais. A inteligência emocional (IE) é uma das chaves mais importantes para um trabalho e relacionamentos bem-sucedidos. A educação precisa ter como foco o empoderamento dos alunos com habilidades transferíveis que resistirão a um mundo em rápida mudança e não com conteúdo prescrito que foi escolhido por sua relevância no passado. QUAL É O PAPEL DA PESQUISA EM PSICOLOGIA EDUCACIONAL? Os professores que são pensadores críticos intencionais tendem a entrar nas salas de aula equipados com conhecimentos sobre pesquisas em psicologia educacional e da aprendizagem. Todos os anos, psicólogos educacionais descobrem ou refinam princípios de ensino-aprendizagem que são úteis para professores em atividade. Alguns desses princípios são apenas bom senso apoiado em evidências, mas outros são mais surpreendentes. Um problema que os psicólogos educacionais enfrentam é que quase todo mundo tem ideias sobre o conteúdo da psicologia educacional. A maioria dos adultos passou muitos anos nas escolas observando o que os professores fazem. Adicione a isso certa quantidade de conhecimento da natureza humana, e voilà! Todos se tornam um psicólogo educacional amador. Por esta razão, psicólogos educacionais profissionais são frequentemente acusados de estudar o óbvio. No entanto, como aprendemos penosamente, o óbvio nem sempre é verdade. Por exemplo, a maioria das pessoas presume que, se os alunos são atribuídos a turmas de acordo com suas habilidades, a gama mais estreita de habilidades resultante em uma turma permitirá que o professor adapte a instrução às necessidades específicasdos alunos e, assim, aumente o desempenho do aluno. Essa suposição é falsa. Muitos professores acreditam que repreender os alunos por mau comportamento melhorará a sua conduta. Muitos alunos realmente responderão a uma repreensão comportando-se melhor, mas, para outros, a repreensão pode ser uma recompensa por seu mau comportamento, o que, na verdade, acaba aumentando- o. Algumas verdades “óbvias” até entram em conflito umas com as outras. Por exemplo, a maioria das pessoas concordaria que os alunos aprendem melhor com as instruções de um professor do que trabalhando sozinhos. Essa crença apoia estratégias de instrução direta centradas no professor, nas quais o professor trabalha ativamente com a turma como um todo. No entanto, a maioria das pessoas também concordaria que os alunos geralmente precisam de uma instrução adaptada às suas necessidades individuais. Essa crença, também correta, exigiria que os professores dividissem seu tempo entre indivíduos, ou, pelo menos, entre grupos de alunos com necessidades diferentes, o que faria com que alguns alunos trabalhassem independentemente enquanto outros recebessem sua atenção. Se as escolas pudessem fornecer tutores para todos os alunos, não haveria conflito; instrução direta e individualização podem coexistir. Na prática, entretanto, as salas de aula costumam ter de 20 a 30 alunos; como resultado, uma instrução mais direta (a primeira meta) quase sempre significa menos individualização (a segunda meta). Sua tarefa como professor intencional é equilibrar esses objetivos concorrentes de acordo com as necessidades de alunos e situações específicas. O OBJETIVO DA PESQUISA EM PSICOLOGIA EDUCACIONAL O objetivo da pesquisa em psicologia educacional é examinar cuidadosamente as questões que parecem "óbvias" e as menos que óbvias, usando métodos objetivos para testar ideias sobre os fatores que contribuem para a aprendizagem. Os produtos desta pesquisa são princípios, leis e teorias. Um princípio explica a relação entre fatores, bem como os efeitos de sistemas alternativos de notas na motivação dos alunos. As leis são simplesmente princípios que foram exaustivamente testados e se aplicam a uma ampla variedade de situações. Uma teoria é um conjunto de princípios e leis relacionados que explica um amplo aspecto da aprendizagem, do comportamento ou outra área de interesse. Sem teorias, os fatos e princípios descobertos seriam como manchas desorganizadas em uma tela. As teorias unem esses fatos e princípios para nos dar uma visão geral, no entanto, os mesmos fatos e princípios podem ser interpretados de maneiras diferentes por diferentes teóricos. Como em qualquer ciência, o progresso na psicologia educacional é lento e desigual. Um único estudo raramente é um avanço, mas, com o tempo, evidências se acumulam sobre um assunto e permitem que os teóricos refinem e estendam suas teorias. Provavelmente é verdade que o conhecimento mais importante que os professores adquirem é aprendido no trabalho – em estágios, enquanto os acadêmicos ensinam ou durante os primeiros anos na sala de aula. No entanto, você, como professor, toma centenas de decisões todos os dias, e cada decisão tem uma teoria por trás dela, independentemente de você estar ciente disso. A qualidade, precisão e utilidade dessas teorias determinam, em última análise, o seu sucesso. Por exemplo, um professor pode oferecer uma recompensa ao aluno com a melhor assiduidade, baseado na teoria de que recompensar a assiduidade a aumentará. Outro professor pode recompensar o aluno cuja assiduidade teve maior melhora, com base na teoria de que são os alunos com mais dificuldades que precisam de maiores incentivos para vir às aulas. Um terceiro professor pode não recompensar ninguém pela frequência, mas, em vez disso, tenta aumentá-la ministrando aulas mais interessantes. Qual plano de professor tem mais chances de sucesso? Isso depende em grande parte da habilidade de cada professor em compreender a combinação única de fatores que moldam o caráter de sua turma e, portanto, aplicar a teoria mais adequada. O objetivo da pesquisa em psicologia educacional é testar as diversas teorias que norteiam as ações dos professores e demais envolvidos na educação. Existem muitas situações comuns, como o exemplo a seguir, em que um professor pode usar psicologia educacional. Vejamos a seguinte situação hipotética. O professor Haroldo ministra aula de História no oitavo ano. Ele tem um problema com o aluno Thomas, que frequentemente se comporta mal. Hoje, quando o professor Haroldo virou as costas, Thomas fez um avião de papel e o atirou para voar pela sala de aula para o deleite de toda a turma. O que o professor Haroldo deve fazer? Como um professor intencional, ele considera uma série de opções para resolver esse problema, cada uma delas proveniente de uma teoria sobre por que Thomas está se comportando mal e o que o motivará a se comportar de maneira mais adequada. AÇÕES E SUAS RESPECTIVAS TEORIAS Ação Teoria 1. Repreenda o Thomas. 1. A reprimenda é uma forma de punição. Thomas vai se comportar bem para evitar punições. 2. Ignore o Thomas. 2. A atenção pode ser gratificante para Thomas. Ignorá-lo o privaria dessa recompensa. 3. Envie o Thomas à sala da supervisora. 3. Ser mandado para a sala da supervisora é punitivo. Também priva Thomas do (aparente) apoio de seus colegas de classe. 4. Diga à turma que é responsabilidade de todos manter um bom ambiente de aprendizagem e que se algum aluno se comportar mal, 5 minutos serão subtraídos do recreio. 4. Tomas está se comportando mal para chamar a atenção de seus colegas. Se toda a turma perder quando ele se comportar mal, a turma o manterá na linha. 5. Explique à turma que o comportamento de Thomas está interferindo nas aulas que todos os alunos precisam saber e que seu comportamento vai contra as regras que a turma estabeleceu para si mesma no início do ano 5. A turma possui padrões de comportamento que conflitam tanto com o comportamento de Thomas em sala de aula quanto com a reação da turma a ele. Ao relembrar a classe de suas próprias necessidades (aprender o conteúdo da aula) e de suas próprias regras estabelecidas no início do ano, o professor pode fazer com que Thomas veja que a turma realmente não apoia seu comportamento. Cada uma dessas ações apresentadas no Quadro é uma resposta comum ao mau comportamento. Mas qual teoria (e, portanto, qual ação) seria a correta? A chave pode estar no fato de que seus colegas riem quando Thomas se comporta mal. Essa resposta é uma pista de que Thomas está procurando sua atenção. Se o professor Haroldo repreender o aluno, isso pode aumentar o status dele aos olhos de seus colegas e, assim, recompensar seu comportamento. Ignorar o mau comportamento pode ser uma boa ideia se um aluno estiver agindo para chamar sua atenção, mas, neste caso, é aparentemente a atenção da turma que Thomas está procurando. Mandar este aluno para a sala da supervisora priva-o da atenção de seus colegas de classe e, portanto, pode ser eficaz. Mas, e se o Thomas estiver procurando uma maneira de sair da aula para evitar a tarefa? E se ele ficar ostentando que enfrentou os poderes constituídos, com a aprovação óbvia de seus colegas? Tornar toda a classe responsável pelo comportamento de cada aluno provavelmente privará Thomas do apoio de seus colegas e melhorará seu comportamento; mas alguns alunos podem pensar que é injusto puni- los pelo mau comportamento de outro aluno. Por fim, lembrar à turma (e ao Thomas) seu próprio interesse em aprender e seus padrões usuais de comportamento pode funcionar se a turma, de fato, valorizar o desempenho e o bom comportamento. A pesquisa em educação e em psicologia influencia diretamente na decisão que o professor Haroldodeve tomar. A pesquisa sobre desenvolvimento humano indica que, à medida que os alunos entram na adolescência, o grupo de pares torna-se muito importante para eles, e eles tentam estabelecer sua independência do controle adulto, muitas vezes desrespeitando ou ignorando as regras. Pesquisas básicas sobre teorias de aprendizagem comportamental mostram que, quando um comportamento é repetido muitas vezes, alguma recompensa deve encorajá-lo e que, para que o comportamento seja eliminado, a recompensa deve primeiro ser identificada e removida. Esta pesquisa também sugere que o professor Haroldo considere os problemas com o uso de punição, como a repreensão, para impedir um comportamento indesejável. Pesquisas sobre estratégias específicas de gerenciamento de sala de aula já identificaram métodos eficazes para usar tanto na prevenção de um mau comportamento como o de Thomas, quanto para lidar com seu mau comportamento quando ele ocorrer. Finalmente, pesquisas sobre o estabelecimento de regras e padrões de sala de aula indicam que a participação do aluno no estabelecimento de regras pode ajudar a convencer cada aluno de que a classe como um todo valoriza o desempenho acadêmico e o comportamento adequado, e que essa crença pode ajudar a manter os alunos individuais na linha. De posse dessas informações, o professor Haroldo pode escolher uma resposta ao comportamento com base no entendimento do porquê Thomas está fazendo o que está fazendo e quais estratégias estão disponíveis para lidar com a situação. Ele pode ou não fazer a escolha certa, mas porque ele conhece várias teorias que poderiam explicar o comportamento de Thomas, ele será capaz de observar os resultados de sua estratégia e, se for ineficaz, aprender com isso e tentar algo diferente que funcionará. A pesquisa não oferece ao professor uma solução específica; isso requer sua própria experiência e julgamento. Mas a pesquisa oferece ao professor Haroldo conceitos básicos do comportamento humano para ajudá-lo a entender as motivações de Thomas e uma série de métodos comprovados que podem resolver o problema. Usar a pesquisa para ajudá-lo a tomar decisões pedagógicas é uma maneira de Haroldo ter uma noção de sua própria eficácia como professor. Como o caso do professor Haroldo ilustra, nenhuma teoria, nenhuma pesquisa, nenhum livro poderão dizer aos professores o que fazer em uma determinada situação. Ainda assim, você pode legitimamente desacelerar e despender muito tempo em um conceito que é particularmente crítico ou pode permitir que os alunos descubram um princípio matemático por conta própria. Normalmente, leva menos tempo ensinar, diretamente, habilidades ou informações aos alunos do que deixá-los fazer descobertas por si próprios, porém, se você quiser que os alunos tenham uma compreensão mais profunda de um tópico ou aprendam como encontrar informações ou descobrir as coisas por si mesmos, as descobertas da pesquisa sobre o ritmo podem ser temporariamente arquivadas. Tomar as decisões certas depende do contexto em que o problema surge, dos objetivos que você tem em mente e de muitos outros fatores, todos os quais devem ser avaliados à luz do bom senso. Por exemplo, pesquisas em ensino de matemática geralmente descobrem que um ritmo rápido de instrução aumenta o desempenho. Ainda assim, você pode legitimamente desacelerar e despender muito tempo em um conceito que é particularmente crítico ou pode permitir que os alunos descubram um princípio matemático por conta própria. Normalmente, leva menos tempo ensinar, diretamente, habilidades ou informações aos alunos do que deixá-los fazer descobertas por si próprios, porém, se você quiser que os alunos tenham uma compreensão mais profunda de um tópico ou aprendam como encontrar informações ou descobrir as coisas por si mesmos, as descobertas da pesquisa sobre o ritmo podem ser temporariamente arquivadas. A questão é que, embora a pesquisa em psicologia educacional possa, às vezes, ser traduzida diretamente para a sala de aula, é melhor aplicar os princípios com uma boa dose de bom senso e uma visão clara do que está sendo ensinado a quem e com qual propósito. A pesquisa em psicologia educacional fornece evidências não apenas sobre os princípios da prática eficaz, mas também sobre a eficácia de programas ou práticas específicas. Por exemplo, no caso apresentado no início deste tópico, Lídia Weber usa uma abordagem específica para o ensino da escrita criativa que foi avaliada extensivamente como um todo. Em outras palavras, há evidências de que, em média, as crianças cujos professores usam esses métodos aprendem a escrever melhor do que aquelas cujos professores usam abordagens mais tradicionais. Há evidências sobre a eficácia de dezenas de programas amplamente usados, desde métodos em disciplinas específicas até estratégias para reformar escolas inteiras. Um professor intencional deve estar ciente das pesquisas sobre programas para sua disciplina e nível de escolaridade e deve estar disposto a buscar oportunidades de desenvolvimento profissional em métodos conhecidos por fazer a diferença para as crianças. Ensino como tomada de decisão Se não houvesse problemas educacionais para resolver, não haveria necessidade de os professores atuarem como profissionais. Os profissionais se diferenciam dos não profissionais em parte pelo fato de que devem tomar decisões que influenciam o curso de seu trabalho. Você deve decidir: (1) como reconhecer problemas e questões, (2) como considerar as situações de múltiplas perspectivas, (3) como usar conhecimento profissional relevante para formular ações, (4) como tomar a ação mais apropriada, (5) como julgar as consequências. Diante disso, reflita sobre a seguinte situação: a professora Mara tem uma aluna chamada Anita em sua aula de geografia. Na maioria das vezes, Anita é bastante quieta e retraída. Suas notas indicam considerável habilidade acadêmica, mas um observador casual nunca saberia disso. A professora Mara faz a si mesma as seguintes perguntas: 1. Que problemas eu percebo nesta situação? Anita está entediada, cansada, desinteressada ou tímida, ou sua participação pode ser inibida por algo que eu ou outros estamos fazendo ou não? Que teorias da psicologia educacional devo considerar? 2. Eu me pergunto o que Anita pensa sobre estar nesta turma. Ela se sente excluída? Ela se preocupa com o conteúdo? Ela está preocupada com o que eu ou outras pessoas pensamos sobre sua falta de participação? Por que ou por que não? Que teorias de motivação me ajudarão a tomar uma decisão? 3. O que sei da teoria, pesquisa ou prática que pode guiar minhas ações para envolver a Anita mais diretamente nas atividades de aula com a turma? 4. O que eu realmente posso fazer nesta situação para aumentar o envolvimento de Anita? 5. Como saberia se tive sucesso com Anita? Se a professora Mara perguntar e tentar responder a essas perguntas – não apenas no caso de Anita, é claro, mas também para outros alunos – ela aumentará suas chances de aprender sobre seu trabalho ao fazer o seu trabalho. O filósofo John Dewey, ensinou que os problemas enfrentados pelos professores são os próprios estímulos naturais para a investigação reflexiva. Os professores intencionais aceitam desafios e pensam de forma produtiva sobre eles. O IMPACTO DA PESQUISA NA PRÁTICA EDUCACIONAL Muitos pesquisadores e educadores lamentaram o impacto limitado da pesquisa em psicologia educacional nas práticas dos professores. Na verdade, a pesquisa em educação não tem um impacto tão grande na prática educacional quanto a pesquisa em medicina tem na prática médica. No entanto, a pesquisa em educação tem um impacto indireto profundo na prática educacional, mesmo que os professores não tenham consciência disso. A pesquisa afeta políticas educacionais, programas de desenvolvimentoprofissional e materiais pedagógicos. Por exemplo, estudos como os de Finn, Pannozzo e Achilles, sobre a quantidade de alunos em uma única turma revelaram que há o tamanho das turmas nas séries iniciais gera efeito no desempenho dos alunos. Tais pesquisas tiveram impactos diretos nas propostas estaduais e federais para a redução do tamanho das turmas, nacional e internacionalmente. Pesquisas sobre o início da leitura, por exemplo, transformaram dramaticamente o currículo, a instrução e o desenvolvimento profissional para esse conteúdo. É importante que você se torne um consumidor inteligente de pesquisa e não tome todas as descobertas ou declarações de todos os especialistas como verdades absolutas. Como ser um consumidor inteligente de pesquisas em psicologia educacional. Digamos que você esteja procurando um carro novo. Antes de gastar seu dinheiro, você provavelmente revisará as descobertas de vários relatórios de pesquisas de consumo. Você pode querer saber algo sobre o desempenho de vários carros em testes de colisão, quais carros têm o melhor consumo de combustível ou quais são os valores de troca de modelos específicos. Antes de embarcar neste grande investimento, você quer se sentir o mais confiante possível sobre sua decisão. Se você já esteve nessa situação antes, provavelmente se lembra de que toda a sua pesquisa o ajudou a tomar uma decisão informada. Agora que você está prestes a entrar na profissão de professor, deve aplicar uma orientação semelhante ao consumidor em sua tomada de decisão. Como professor, você será chamado a tomar centenas de decisões todos os dias. Sua decisão de compra de carro é influenciada por uma combinação de achados de pesquisas sólidas e bom senso, e suas decisões sobre ensino e aprendizagem devem seguir esse mesmo padrão. Ensino- aprendizagem é parte de conceitos complexos sujeitos a uma ampla variedade de influências, portanto, seu conhecimento de pesquisas relevantes servirá para orientá-lo na tomada de decisões informadas. Como o conhecimento da fórmula simples de: pesquisa + senso comum = ensino eficaz, pode ajudá-lo a ser um consumidor mais inteligente da pesquisa em psicologia educacional? As recomendações a seguir mostram como você pode colocar essa fórmula em prática: 1. Seja um consumidor de pesquisas relevantes. Como profissional, você deve manter um conhecimento prático de pesquisas relevantes. Além dos textos do curso, que serão excelentes recursos para você no futuro, você deve se familiarizar com as revistas profissionais da sua área. Periódicos orientados para professores, sites especializados em educação e aprendizagem devem ser constantemente consultados. Além disso, não subestime o valor do networking com outros professores, cara a cara ou via internet. O exemplo de Eliane Medeiros e Lídia Weber é uma excelente ilustração de como a colaboração pode expandir seu conhecimento sobre o que funciona. 2. Ensine intencionalmente. Conforme declarado anteriormente neste tópico, não há receita para os ingredientes que constituem uma abordagem de bom senso para o ensino. 3. No entanto, comportamentos consistentes com ser um professor intencional são o mais próximo que podemos chegar. 4. Os professores intencionais são atenciosos. Como o professor Haroldo, você deve considerar várias perspectivas sobre as situações da sala de aula. Quando você agir, seja determinado e pense sobre o porquê você faz o que faz. Como outros professores intencionais, você pode acompanhar suas ações com reflexão cuidadosa, avaliando se suas ações resultaram nos resultados desejados. Você provavelmente aprendeu sobre o “método científico” em algum momento durante o ensino médio. Os professores intencionais empregam esse método no ensino, formulando uma hipótese de trabalho com base em observações e conhecimento antecedente, coletando dados para testar a hipótese, organizando e analisando os dados de maneira eficaz, tirando conclusões sólidas com base nos dados e tomando um curso de ação com base nas conclusões. 5. Para muitos professores experientes, esse ciclo se torna automático e internalizado. Quando aplicadas de forma sistemática, essas práticas podem servir para validar pesquisas e teorias e, como resultado, aumentar o seu crescimento profissional com base no conhecimento. 6. Compartilhe suas experiências. Ao combinar conhecimento de pesquisa com seu bom senso profissional, você se verá engajado em práticas mais eficazes. Conforme você e seus alunos experimentam o sucesso, compartilhe suas descobertas. As vias de disseminação são infinitas. Além de publicar artigos em fontes tradicionais, como periódicos profissionais e boletins informativos organizacionais, não negligencie a importância de preparar demonstrações e oficinas para a própria a escola, artigos para conferências profissionais estaduais e nacionais e apresentações para conselhos escolares. Além disso, através da internet, você poderá acompanhar notícias e se envolver em discussões contínuas sobre seu trabalho. RESUMO DO TÓPICO Neste tópico, você aprendeu que: Bons professores conhecem o assunto e dominam habilidades pedagógicas. Professores eficazes realizam todas as tarefas envolvidas em uma instrução eficaz com calor humano, entusiasmo e carinho. Professores intencionais usam os princípios da psicologia educacional em suas decisões e ensino, combinam pesquisa e bom senso. A psicologia educacional é o estudo sistemático dos alunos, aprendizagem e ensino. A pesquisa em psicologia educacional concentra-se nos processos pelos quais informações, habilidades, valores e atitudes são comunicados entre professores e alunos em sala de aula e nas aplicações dos princípios da psicologia às práticas de ensino. A pesquisa em psicologia educacional molda as políticas educacionais, os programas de desenvolvimento profissional e os materiais pedagógicos. Você pode desenvolver ainda mais suas habilidades como professor intencional procurando mentores, buscando desenvolvimento profissional e conversando com colegas e amigos sobre suas experiências.
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