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CÁLCULO: LIMITES DE FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL E DERIVADAS Cristiane da Silva Continuidade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir continuidade de uma função por limites. � Resolver situações matemáticas que envolvem funções contínuas e descontínuas. � Justificar a continuidade de uma função. Introdução A definição de continuidade por limites será subsequente à compreensão de funções descontínuas – aquelas em que há uma interrupção, repre- sentada, em alguns casos, por uma bolinha aberta na curva do gráfico. Veremos que uma função pode ser contínua em alguns pontos e descon- tínua em outros. Além disso, observaremos a aplicação de continuidade e descontinuidade em exemplos práticos. Ao longo do capítulo, serão apresentadas interpretações gráficas e exemplos de resolução de situações matemáticas por meio de limites. Assim, para justificar a continuidade de uma função, como das funções polinomiais, das funções racionais, de composições de funções, de fun- ções trigonométricas e inversas, conheceremos algumas propriedades de continuidade discutidas por meio de teoremas e exemplificações. Continuidade de uma função por limites Nesta seção, você verá o que caracteriza uma função como contínua, sendo as representações gráficas os elementos que contribuirão para esse entendimento. A palavra “contínua” supõe não ter quebras ou interrupções. Graficamente, podemos ilustrar uma função em uma curva inteira como contínua, conforme mostrado na Figura 1, a seguir. Figura 1. Curva inteira contínua: f(x) é contínua em x = c. Fonte: Rogawski (2008, p. 63–64). Por outro lado, uma quebra nessa curva é denominada uma descontinuidade, como mostra a Figura 2. Continuidade2 Figura 2. g(x) tem uma descontinuidade em x = c. Fonte: Rogawski (2008, p. 63–64). Rogawski (2008, p. 64) define continuidade em um ponto da seguinte forma: “[...] suponha que f(x) esteja definida num intervalo aberto contendo x = c. Então, f é contínua em x = c se . Se o limite não existir, ou se existir, mas for diferente de f(c), dizemos que tem uma descontinuidade (ou que é descontínua) em x = c”. É importante destacar que uma função pode ser contínua em alguns pontos e descontínua em outros. A seguir, veremos exemplos de uma função contínua em todos os pontos de um intervalo e todos os pontos do seu domínio. Se f(x) for contínua em todos os pontos do intervalo I, então dizemos que f(x) é contínua em I. Supondo I um intervalo [a, b] ou [a, b) que inclua a como extremidade esquerda, exigimos que . Analogamente, postulamos que se I incluir b como extremidade direita. Se f(x) for contínua em todos os pontos do seu domínio, dizemos apenas que f(x) é contínua. Exemplo: Mostre que as seguintes funções são contínuas. 3Continuidade a) f(x) = k sendo k qualquer constante. Como f(x) = k para qualquer O limite existe e é igual ao valor da função, portanto f(x) é contínua em x = c para todo c. Observe a Figura 3. Figura 3. Gráfico de f(x) = k. Fonte: Rogawski (2008, p. 64). b) g(x) = x para qualquer x. O limite existe e é igual ao valor da função, portanto g(x) é contínua em c para todo c. Observe a Figura 4. Figura 4. Gráfico de g(x) = x. Fonte: Rogawski (2008, p. 64) Continuidade4 Além de conhecer a definição de continuidade, é interessante saber que existem aplicações práticas. As descontinuidades, por exemplo, podem sinalizar a ocorrência de fenômenos físicos. A Figura 5a traz um gráfico da voltagem versus o tempo para um cabo subterrâneo que é acidentalmente cortado por uma equipe de trabalho no instante t = t0. A voltagem caiu para zero quando a linha foi cortada. A Figura 5b mostra o gráfico de unidades em estoque versus tempo para uma companhia que reabastece o estoque com y1 unidades quando o estoque cai para y0 unidades. As descontinuidades ocorrem nos momentos em que acontece o reabastecimento. Figura 5. Exemplo de interrupção de cabo subterrâneo. Uma conexão malfeita num cabo de transmissão pode causar uma descontinuidade no sinal elétrico transmitido. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 111). Anton, Bivens e Davis (2014) definem continuidade em um intervalo por meio da explicação de que, se uma função for contínua em cada ponto de um intervalo aberto (a, b), dizemos que ela é contínua em (a, b). O mesmo ocorre para intervalos abertos infinitos (a, +∞), (–∞, b) e (–∞,+∞). Sendo que, quando a função for contínua em (–∞, +∞), dizemos que ela é contínua em toda parte. Além disso, Anton, Bivens e Davis (2014) argumentam que uma função será contínua em uma extremidade de um intervalo se o valor ali for igual ao limite lateral adequado naquele ponto. 5Continuidade Figura 6. Função y = f(x) Observe que a função da Figura 6 é contínua na extremidade direita do intervalo [a, b] porque: Mas não é contínua na extremidade esquerda porque: Em geral, dizemos que uma função é contínua à esquerda no ponto c se: E é contínua à direita no ponto c se: Fonte: Anton, Bivens, Davis (2014, p. 112). Dessa forma, uma função f é dita contínua em um intervalo fechado [a, b] se as seguintes condições são satisfeitas: � f é contínua em (a, b); � f é contínua à direita em a; � f é contínua à esquerda em b. Continuidade6 Funções contínuas e descontínuas Nesta seção, acompanharemos exemplos de resolução de funções contínuas e descontínuas. Abordaremos interpretações gráficas, bem como funções definidas por partes na resolução de situações matemáticas. Exemplo 1 O que pode ser dito sobre a continuidade da função ? Solução: como o domínio natural dessa função é o intervalo fechado [–3, 3], precisamos investigar a continuidade de f no intervalo aberto (–3, 3) e nas duas extremidades. Se c for um ponto qualquer do intervalo (–3, 3), então (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014): provando que f é contínua em cada ponto do intervalo (–3, 3). A função f é também contínua nas extremidades, uma vez que: Logo, f é contínua no intervalo fechado [–3, 3]. Observe a Figura 7. 7Continuidade Figura 7. . Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 112). Exemplo 2 Mostre que o polinômio p(x) =3x3 – x + 5 é contínuo no ponto x = 1 (HOFF- MANN et al., 2018). Solução: precisamos verificar se os três critérios de continuidade são satisfeitos. É evidente que p(1) é definida, já que p(1) = 7. Além disso, existe e . Assim: como necessário para que p(x) seja contínua em x = 1. Exemplo 3 Discuta a continuidade das seguintes funções (HOFFMANN et al., 2018): a) b) c) Continuidade8 Solução: a) Essa é uma função racional, portanto é contínua em todos os pontos em que está definida, ou seja, em todos os pontos nos quais o deno- minador é diferente de zero. é definida em todos os pontos, exceto x = 0, portanto é contínua para qualquer valor de x ≠ 0, como mostra a Figura 8. Figura 8. Contínua para x ≠ 0. Fonte: Hoffmann et al. (2018, p. 71–72). b) Essa é uma função racional, portanto é contínua em todos os pontos em que está definida, ou seja, em todos os pontos nos quais o denominador é diferente de zero. Como x = –1 é o único valor de x para o qual g(x) não é definida, g(x) é contínua para qualquer valor de x ≠ –1, como mostra a Figura 9. 9Continuidade Figura 9. Contínua para x ≠ –1. Fonte: Hoffmann et al. (2018, p. 71–72). c) Essa função é definida em duas partes. Começamos verificando a conti- nuidade em x = 1, sendo o valor de x comum às duas partes. Verificamos que não existe, já que h(x) tende a 2 pela esquerda e a 1 pela direita. Assim, h(x) não é contínua em x = 1, como mostra a Figura 10. Como os polinômios x + 1 e 2 – x são contínuos para qualquer valor de x, h(x) é contínua para qualquer valor de x ≠ 1. Figura 10. Contínua para x ≠ 1. Fonte: Hoffmann et al. (2018, p. 71–72). Continuidade10 Os exemplos desta seção tiveram como propósito analisar a continuidade de algumas funções e resolver, por meio de limites, situações matemáticas envolvendo continuidade. Continuidadede uma função Nesta seção você estudará a continuidade dos polinômios, das funções ra- cionais, de composições de funções, de funções trigonométricas e inversas. Algumas propriedades de continuidade das funções trigonométricas e inversas serão discutidas. Anton, Bivens e Davis (2014) abordam um procedimento para mostrar que uma função é contínua em toda parte a partir da verificação da continuidade em um ponto arbitrário. Se considerarmos p(x) um polinômio e a um número real qualquer, então . Isso mostra que os polinômios são con- tínuos em toda parte. Cabe destacar que as funções racionais são quocientes de polinômios, e, portanto, as funções racionais são contínuas nos pontos em que o denominador não se anula, e que nesses zeros há descontinuidades. Ainda segundo os autores, outra análise importante dá-se por meio do entendimento do cálculo do limite da composição de funções. Pode-se afirmar que um símbolo de limite pode passar pelo sinal de função desde que o limite da expressão dentro desse sinal exista e que a função seja contínua. Podemos eluci- dar essa explicação pelo teorema a seguir: “[...] se e a função f for contínua em L, então , ou seja, . Essa igualdade permanece válida se todos os forem trocados por um dos limites , , , ” (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014, p. 114). Considera-se, também, o caso especial do teorema em que f(x) = |x|. Como |x| é contínua em toda parte, temos que sempre que existir . 11Continuidade Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 114). Agora, veremos a continuidade da composição de funções em um ponto específico e em toda parte, de acordo com o teorema. � Se a função g for contínua em um ponto c, e a função f for contínua no ponto g(c), então a composição f ∘ g será contínua em c. � Se a função g for contínua em toda parte, e a função f for contínua em toda parte, então a composição f ∘ g será contínua em toda parte. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 115). Observe que, para provar que a composição f ∘ g é contínua em c, é preciso mostrar que os valores de f ∘ g e de seu limite são os iguais em x = c. Continuidade12 Vimos que |x| é contínua em toda parte, assim, se g(x) for contínua no ponto c, a função |g(x)| deverá ser contínua no ponto c. Sendo assim, podemos dizer que o valor absoluto de uma função contínua é uma função contínua (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014). O polinômio g(x) = 4 – x2 é contínuo em toda parte, assim, podemos concluir que a função |4 – x2| também é contínua em toda parte, como mostra a Figura 11. Figura 11. Função y = |4 – x2|. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 115). Veremos que as funções sen x e cos x são contínuas. Para tanto, vamos considerar c um ângulo fixo e x um ângulo variável, medidos em radianos. Como mostra a Figura 12, quando o ângulo x tende ao ângulo c, o ponto P(cos x, sem x) move-se no círculo unitário em direção ao ponto Q(cos c, sen c), e as coordenadas de P tendem às correspondentes coordenadas de Q (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014). e 13Continuidade Figura 12. Quando x tende a c, o ponto P tende ao ponto Q. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 121). Anton, Bivens e Davis (2014) mostram, portanto, que: sen x e cos x são contínuos em um ponto arbitrário c, e essas funções são contínuas em toda parte. Além disso, as seis funções trigonométricas básicas são contínuas em seus domínios, como pode ser visto no teorema a seguir: se c for qualquer número no domínio natural da função trigonométrica enunciada, então: Continuidade14 Em quais pontos a função é contínua? Solução: o quociente será uma função contínua em todos os pontos em que o numerador e o denominador forem ambos funções contínuas, e o denominador não for zero. Como arc tg x é contínua em toda parte, e ln x é contínua com x > 0, o numerador é contínuo se x > 0. O denominador, sendo um polinômio, é contínuo em toda parte, de modo que o quociente é contínuo em todos os pontos, tais que x > 0 e o denominador for não nulo. Assim, f é contínua nos intervalos (0, 2) e (2, +∞). No que diz respeito à continuidade de funções inversas, cabe lembrar-se de que os gráficos de uma função injetora f e sua inversa f–1 são uma reflexão do outro pela reta y = x. Assim, se o gráfico de f não tem quebras ou buracos, tampouco o gráfico de f–1 terá. Como a imagem de f é o domínio de sua inversa f–1, permite-se chegar ao seguinte teorema: “[...] se f for uma função injetora que é contínua em cada ponto de seu domínio, então f–1 será contínua em cada ponto de seu domínio, ou seja, f–1 será contínua em cada ponto da imagem de f” (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014, p. 122). Prove que arc sen x é contínua no intervalo . Solução: lembre-se de que arc sen x é a função inversa da função seno restrita, cujo domínio é o intervalo e cuja imagem é o intervalo [-1, 1]. Como sen x é contínua no intervalo , isso implica que arc sen x é contínua no intervalo [–1, 1]. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014). 15Continuidade ANTON, H.; BRIVES, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. HOFFMANN, L. D. et al. Cálculo: um curso moderno e suas aplicações. 11. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. ROGAWSKI, J. Cálculo. Porto Alegre: Bookman, 2008. v. 1. Continuidade16
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