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ENTENDER A ANATOMIA, HISTOLOGIA E FISIOLOGIA DO PÂNCREAS ENDÓCRINO ANATOMIA O pâncreas é ao mesmo tempo uma glândula exócrina e uma glândula endócrina. Em sua função endócrina, o pâncreas secreta insulina e glucagon. Em sua função exócrina, ele produz a maioria das enzimas que digerem os alimentos no intestino delgado. O pâncreas que é secundariamente retroperitoneal, situa-se nas regiões do epigástrio e hipocôndrio esquerdo do abdome. Ele apresenta uma cabeça, corpo e cauda; sua cabeça situa-se na curvatura em forma de C do duodeno e sua cauda se estende para a esquerda até tocar o baço. O ducto pancreático se estende por todo o comprimento do pâncreas. Esse ducto se une ao ducto colédoco e forma a ampola hepatopancreática, desembocando no duodeno na papila duodenal maior. Um ducto pancreático acessório situa-se na cabeça do pâncreas e drena no ducto principal ou diretamente no duodeno. Vasos e nervos: O pâncreas recebe sangue pelos ramos dos vasos hepáticos, esplênicos e mesentéricos superiores. Seus nervos autônomos são provenientes do plexo celíaco. O estímulo simpático provém dos nervos esplâncnicos torácicos e o parassimpático, do nervo vago. (Acrescentar drenagem ) HISTOLOGIA As enzimas da parte exócrina do pâncreas são armazenadas e secretadas por células da porção exócrina, arranjadas em ácinos. Os hormônios da parte endócrina, são sintetizados em grupamentos de células epiteliais endócrinas conhecidos como ilhotas pancreáticas (Ilhotas de Langerhans). As ilhotas de Langerhans são micro-órgãos endócrinos localizados no pâncreas, onde são vistos ao microscópio como grupos arredondados de células de coloração menos intensa, incrustados no tecido pancreático exócrino. Pode haver mais de 1 milhão de ilhotas no pâncreas humano, e há uma pequena tendência para ilhotas serem mais abundantes na região da cauda do pâncreas. As ilhotas são constituídas por células poligonais, dispostas em cordões, em volta dos quais existe uma abundante rede de capilares sanguíneos com células endoteliais fenestradas. Há uma fina camada de tecido conjuntivo que envolve a ilhota e a separa do tecido pancreático restante. As ilhotas são constituídas por células poligonais, dispostas em cordões, em volta dos quais existe uma abundante rede de capilares sanguíneos com células endoteliais fenestradas. Há uma fina camada de tecido conjuntivo que envolve a ilhota e a separa do tecido pancreático restante. FISIOLOGIA As células beta constituem cerca de 60% de todas as células das ilhotas, são encontradas no centro de cada ilhota e secretam insulina e amilina, hormônio que é, com frequência, secretado em paralelo com a insulina. As células alfa, em torno de 25% do total, secretam glucagon. As células delta, cerca de 10% do total, secretam somatostatina. A célula PP está presente em pequenas quantidades nas ilhotas e secreta hormônio de função incerta, chamado polipeptídeo pancreático. A insulina inibe a secreção de glucagon, a amilina inibe a secreção de insulina e a somatostatina inibe a secreção tanto de insulina como de glucagon. INSULINA A insulina afeta o metabolismo de lipídios e proteínas quase tanto como o metabolismo dos carboidratos. A secreção de insulina está associada à abundância de energia, ou seja, quando existe grande abundância de alimentos muito energéticos na dieta, em especial quantidades excessivas de carboidratos, a secreção aumenta. A insulina desempenha um papel importante no armazenamento do excesso de energia. No caso de excesso de carboidratos, a insulina faz com que sejam armazenados sob a forma de glicogênio, principalmente no fígado e nos músculos. Além disso, todo o excesso de carboidrato que não pode ser armazenado na forma de glicogênio é convertido sob o estímulo da insulina em gordura e armazenado no tecido adiposo. No caso das proteínas, a insulina exerce efeito direto na promoção da captação de aminoácidos pelas células e na sua conversão em proteína. Além disso, ela inibe o catabolismo das proteínas que já se encontram nas células. Química e síntese da insulina: A insulina é uma proteína pequena. É formada por duas cadeias de aminoácidos conectadas por meio de ligações dissulfeto. Quando as duas cadeias de aminoácidos se separam, a atividade funcional da molécula de insulina desaparece. A insulina é sintetizada nas células beta pelo modo usual como as proteínas são sintetizadas começando com a tradução do mRNA da insulina por meio dos ribossomos ligados ao retículo endoplasmático, para formar uma pré- proinsulina. Essa pré-proinsulina inicial é então clivada no retículo endoplasmático, para formar a proinsulina e consiste em três cadeias de peptídeos A, B e C. A maior parte da proinsulina é novamente clivada no aparelho de Golgi, para formar insulina composta pelas cadeias A e B, conectadas por ligações dissulfeto e peptídeo cadeia C, denominado peptídeo conector (peptídeo C). A proinsulina e o peptídeo C não têm atividade insulínica. Porém, o peptídeo C se liga à estrutura da membrana, mais provavelmente um receptor da membrana acoplado à proteina G e elicita a ativação de, ao menos, dois sistemas enzimáticos, sódio-potássio adenosina trifosfatase e oxido nítrico sintetase endotelial. Pacientes com diabetes tipo 1, incapazes de produzir insulina, têm normalmente níveis substancialmente diminuídos de peptídeo C. Quando a insulina é secretada na corrente sanguínea, ela circula quase inteiramente em sua forma livre. Uma vez que sua meia vida plasmática é de aproximadamente, apenas 6 minutos, assim, ela é eliminada da circulação dentro de 10 a 15 minutos. Com exceção da porção da insulina que se liga aos receptores nas células -alvo, o restante é degradado pela enzima insulinase, em sua maior parte no fígado e em menor quantidade nos rins e músculos e, menos ainda, na maioria dos outros tecidos. Essa rápida remoção do plasma é importante, porque, às vezes, sua pronta desativação bem como sua ativação são fundamentais para o controle das funções da insulina. Ativação dos receptores das células - alvo pela insulina e os efeitos celulares: O receptor de insulina é a combinação de quatro subunidades que se mantêm unidas por meio de ligações dissulfeto: duas subunidades alfa, que se situam inteiramente do lado externo da membrana celular e duas subunidades beta, que penetram através da membrana, projetando-se no citoplasma celular. A insulina se acopla às subunidades alfa do lado externo da célula, mas, devido às ligações com as unidades beta, as porções dessas subunidades que se projetam para o interior da célula são autofosforiladas. Assim, o receptor de insulina é exemplo de um receptor ligado à enzima. A autofosforilação das subunidades beta do receptor ativa uma tirosina cinase no local causando fosforilação de diversas outras enzimas intracelulares, inclusive do grupo chamado substratos do receptor de insulina (IRS). ->>ùÚïÓï..... A insulina dirige a maquinaria metabólica intracelular, de modo a produzir os efeitos desejados no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. Os principais efeitos são: • Em segundos depois que a insulina se acopla a seus receptores de membrana, as membranas de cerca de 80% das células do organismo aumentam acentuadamente sua capacitação de glicoses. Isso ocorre, de modo especial, nas células musculares e adiposas. • A membrana celular fica mais permeável a muitos dos aminoácidos, a íons potássio e fosfato. • Efeitos mais lentos ocorrem durante os 10 a 15 minutos seguintes, para modificar os níveis de atividade de muitas das enzimas metabólicas intracelulares. • Efeitos ainda mais lentos continuam a ocorrer horas e até mesmo dias depois. Efeito da insulina no metabolismo dos carboidratos: Imediatamente após uma refeição rica em carboidratos, a glicose absorvida para o sangue causa secreção rápida de insulina. A insulina, por sua vez, fazia pronta captação, armazenamento e utilização daglicose por quase todos os tecidos do organismo, mas em especial pelos músculos, tecido adiposo e fígado. Durante grande parte do dia, o tecido muscular depende não somente da glicose como fonte de energia, mas também dos ácidos graxos. O principal motivo dessa dependência de ácidos graxos consiste no fato de que a membrana muscular em repouso só é ligeiramente permeável à glicose, exceto quando a fibra muscular é estimulada pela insulina; entre as refeições, a quantidade de insulina secretada é insuficiente para promover a entrada de quantidades significativas de glicose nas células musculares. Entretanto, sob duas condições os músculos utilizam grande quantidade de glicose. Uma delas é durante a realização de exercícios moderados ou intensos. Essa utilização de glicose não precisa de grande quantidade de insulina, porque a contração muscular aumenta a translocação da molécula transportadora de glicose 4 (GLUT 4) dos depósitos intracelulares para a membrana celular, o que, por sua vez, facilita a difusão da glicose na célula. A segunda condição para a utilização muscular de grande quantidade de glicose ocorre nas poucas horas seguintes à refeição. Nesse período, a concentração de glicose no sangue fica bastante elevada, e o pâncreas está secretando grande quantidade de insulina. Essa insulina adicional provoca transporte rápido da glicose para as células musculares. A insulina promove a captação, o armazenamento e a utilização da glicose pelo fígado: Um dos mais importantes de todos os efeitos da insulina é fazer com que a maioria da glicose absorvida após uma refeição seja armazenada rapidamente no fígado sob a forma de glicogênio. Então, entre as refeições, quando o alimento não está disponível e a concentração de glicose sanguínea começa a cair, a secreção de insulina diminui rapidamente, e o glicogênio hepático é de novo convertido em glicose, que é liberada de volta ao sangue. O mecanismo pelo qual a insulina provoca a captação e o armazenamento da glicose no fígado inclui diversas etapas quase simultâneas: • A insulina inativa a fosforilase hepática, a principal enzima que leva à quebra do glicogênio hepático em glicose. • A insulina causa aumento da captação de glicose do sangue pelas células hepáticas mediante aumento da atividade da enzima glicocinase. Depois de fosforilada, a glicose é temporariamente retida nas células hepáticas porque a glicose fosforilada não pode se difundir de volta, através da membrana celular. • A insulina também aumenta as atividades das enzimas que promovem a síntese de glicogênio, inclusive, de modo especial, a glicogênio sintase, responsável pela polimerização das unidades de monossacarídeos, para formar as moléculas de glicogênio. A glicose é liberada do fígado entre as refeições: Quando o nível da glicose no sangue começa a baixar entre as refeições, ocorrem diversos eventos que fazem com que o fígado libere glicose de volta para o sangue circulante: • A redução da glicose sanguínea faz com que o pâncreas reduza sua secreção de insulina. • A ausência de insulina, então, reverte todos os efeitos relacionados anteriormente para o armazenamento de glicogênio, interrompendo, essencialmente, a continuação da síntese de glicogênio no fígado e impedindo a captação adicional da glicose do sangue pelo fígado. • A ausência de insulina ativa a enzima fosforilase, que causa a clivagem do glicogênio em glicose fosfato. • A enzima glicose fosfatase, inibida pela insulina, é então ativada pela ausência de insulina e faz com que o radical fosfato seja retirado da glicose. Cerca de 60% da glicose da refeição é armazenada, dessa maneira, no fígado e, então, retorna posteriormente para a corrente sanguínea. A insulina promove a conversão do excesso de glicose em ácidos graxos e inibe a gliconeogênese no fígado: Quando a quantidade de glicose, que penetra as células hepáticas é maior do que a que pode ser armazenada sob a forma de glicogênio ou do que pode ser utilizada para o metabolismo local dos hepatócitos, a insulina promove a conversão de todo esse excesso de glicose em ácidos graxos. Esses ácidos graxos são subsequentemente empacotados sob a forma de triglicerídeos em lipoproteínas de densidade muito baixa e, dessa forma, transportados pelo sangue para o tecido adiposo, onde são depositados como gordura. A insulina também inibe a gliconeogênese. Esse efeito é, em parte, causado por ação da insulina, que reduz a liberação de aminoácidos dos músculos e de outros tecidos extra- hepáticos e, por sua vez, a disponibilidade desses precursores necessários para a gliconeogênese. A falta do efeito da insulina na captação e utilização da glicose pelo cérebro: A maioria das células neurais é permeável à glicose e pode utilizá-la sem a intermediação da insulina. Consequentemente, é essencial que o nível de glicose sanguínea se mantenha sempre acima do nível crítico, o que é uma das funções mais importantes do sistema de controle da glicose sérica. Quando o nível da glicose cai muito, na faixa compreendida entre 20 e 50 mg/100 mL, desenvolvem-se os sintomas de choque hipoglicêmico, caracterizados por irritabilidade nervosa progressiva que leva à perda da consciência, convulsões ou até mesmo o coma. O efeito da insulina no metabolismo das gorduras: O efeito em longo prazo da falta de insulina é, especialmente, dramático porque provoca aterosclerose extrema, muitas vezes levando a ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e a outros acidentes vasculares. Em primeiro lugar, a insulina aumenta a utilização da glicose pela maioria dos tecidos do corpo, o que automaticamente reduz a utilização da gordura, funcionando assim como um poupador de gordura. Entretanto, a insulina também promove a síntese de ácidos graxos. Quase toda essa síntese ocorre nas células hepáticas, e os ácidos graxos são, então, transportados do fígado pelas lipoproteínas plasmáticas para serem armazenados nas células adiposas. Os diferentes fatores, que levam ao aumento da síntese dos ácidos graxos pelo fígado, incluem os seguintes: • A insulina aumenta o transporte da glicose para as células hepáticas. A glicose é, em primeiro lugar, transformada em piruvato, na via glicolítica, e o piruvato é, subsequentemente, convertido em acetilcoenzima A (acetil-CoA), que é o substrato a partir do qual os ácidos graxos são sintetizados. • O ciclo do ácido cítrico produz excesso de íons citrato e de íons isocitrato, quando quantidades excessivas de glicose estão sendo utilizadas como fonte de energia. • A maior parte dos ácidos graxos é, então, sintetizada no interior do fígado e utilizada para formar triglicerídeos, que é a forma usual de armazenamento da gordura. A insulina ativa a lipoproteína lipase nas paredes dos capilares do tecido adiposo, que quebra os triglicerídeos, formando outra vez ácidos graxos. A deficiência de Insulina aumenta o uso da gordura como fonte de energia: Quando a secreção de insulina é mínima, mas é extrema nos doentes com diabetes melito. O efeito mais importante é que a enzima lipase hormônio- sensível nas células adiposas fica intensamente ativada. Isso leva à hidrólise dos triglicerídeos armazenados, liberando grande quantidade de ácidos graxos e de glicerol no sangue circulante. Consequentemente, a concentração plasmática dos ácidos graxos livres começa a aumentar dentro de minutos. Esses ácidos graxos passam a ser o principal substrato de energia utilizado, essencialmente, por todos os tecidos do organismo, com exceção do cérebro. Insulina causa cetose e acidose: A ausência de insulina também forma quantidades excessivas de ácido acetoacético nas células hepáticas, em consequência do seguinte efeito: na ausência de insulina, mas, na presença de grande quantidade de ácidos graxos nas células hepáticas, o mecanismo de transporte da carnitina, para levar os ácidos graxos para as mitocôndrias, fica cada vez mais ativado. Nas mitocôndrias, abetaoxidação dos ácidos graxos ocorre rapidamente, liberando quantidades extremas de acetil-CoA. Grande parte desse excesso de acetil- CoA é, então, condensada, de modo a formar o ácido acetoacético que é liberado no sangue circulante. A maior parte do ácido acetoacético passa para as células periféricas, onde é novamente convertido em acetil-CoA e utilizado como energia na forma usual. A ausência de insulina também deprime a utilização de ácido acetoacético nos tecidos periféricos. Assim, o ácido acetoacético é liberado pelo fígado que não pode ser metabolizado pelos tecidos. Parte do ácido acetoacético também é convertido em ácido b-hidroxibutírico e acetona. Essas duas substâncias, junto com o ácido acetoacético, são chamadas corpos cetônicos, e sua presença, em grande quantidade nos líquidos do corpo, é chamada cetose. No diabetes grave, o ácido acetoacético e o ácido b- hidroxibutírico podem causar acidose grave e coma, podendo levar à morte. A insulina promove a síntese e o armazenamento de proteínas: • A insulina estimula o transporte de muitos dos aminoácidos para as células. Assim, a insulina divide com o hormônio do crescimento a capacidade de aumentar a captação de aminoácidos nas células. • A insulina aumenta os processos de tradução do RNA mensageiro, formando, dessa maneira, novas proteínas. • Em intervalo maior de tempo, a insulina também aumenta a transcrição de sequências genéticas selecionadas de DNA no núcleo celular, formando, assim, quantidade aumentada de RNA e síntese ainda maior de proteínas. • A insulina inibe o catabolismo das proteínas, reduzindo, dessa forma, a liberação de aminoácidos das células, em especial das células musculares. • No fígado, a insulina deprime a gliconeogênese. A deficiência de insulina causa depleção de proteínas e aumento dos aminoácidos plasmáticos: Toda a reserva de proteínas cessa quando não há disponibilidade de insulina. O catabolismo das proteínas aumenta, a síntese de proteínas cessa e uma grande quantidade de aminoácidos é lançada no plasma. A concentração de aminoácidos plasmáticos aumenta consideravelmente e a maior parte do excesso de aminoácidos é utilizada diretamente como energia e como substratos para a gliconeogênese. Essa degradação dos aminoácidos também leva ao aumento da excreção da ureia na urina. O resultante consumo de proteínas é um dos efeitos mais graves do diabetes melito; pode levar à fraqueza extrema, bem como à alteração de diversas funções dos órgãos. Mecanismo de secreção da insulina: As células beta contêm um grande número de transportadores de glicose, que permitem influxo de glicose proporcional à concentração plasmática na faixa fisiológica. Uma vez nas células, a glicose é fosforilada pela glicocinase em glicose-6-fosfato. A glicose-6-fosfato é, subsequentemente, oxidada, de modo a formar trifosfato de adenosina (ATP), que inibe os canais de potássio sensíveis ao ATP da célula. O fechamento dos canais de potássio despolariza a membrana celular, abrindo consequentemente os canais de cálcio dependentes de voltagem, que são sensíveis às alterações da voltagem da membrana. Isso produz influxo de cálcio, que estimula a fusão das vesículas que contêm insulina, com a membrana celular e a secreção da insulina, no líquido extracelular por meio de exocitose. Alguns hormônios, como o glucagon e o peptídio insulinotrópico dependente de glicose (peptídio inibidor gástrico) e a acetilcolina, elevam os níveis de cálcio intracelular por outras vias de sinalização e aumentam o efeito da glicose, embora eles não apresentem efeitos importantes na secreção da insulina, na ausência de glicose. Outros hormônios, incluindo a somatostatina e a norepinefrina (por meio da ativação de receptores a- adrenérgicos), inibem a exocitose da insulina. O aumento da glicose sanguínea estimula a secreção de insulina: Nos níveis normais de glicose de jejum, entre 80 e 90 mg/100mL, a secreção de insulina é mínima da ordem de 25 mg/min/kg de peso corporal, nível que apresenta apenas ligeira atividade fisiológica. • A concentração de insulina plasmática aumenta quase em 10 vezes, dentro de 3 a 5 minutos, depois da elevação aguda da glicose no sangue. • Iniciando por volta de 15 minutos, a secreção da insulina aumenta pela segunda vez e atinge novo platô depois de 2 a 3 horas. Inter-relação de feedback entre a concentração de glicose sanguínea e a taxa de secreção de insulina: A resposta da secreção da insulina à concentração elevada de glicose plasmática forma um mecanismo de feedback extremamente importante para a regulação da concentração da glicose sanguínea, ou seja, qualquer elevação da glicose sanguínea aumenta a secreção de insulina, e a insulina, por sua vez, aumenta o transporte da glicose para o fígado, para os músculos e para outras células, reduzindo, consequentemente, a concentração plasmática da glicose de volta até o seu valor normal. GLUCAGON O glucagon que é hormônio secretado pelas células alfa das ilhotas de Langerhans quando a concentração da glicose sanguínea cai, tem diversas funções que são diametralmente opostas às da insulina. A mais importante dessas funções é aumentar a concentração da glicose sanguínea, efeito que é oposto ao da insulina. Apenas 1 mg/kg de glucagon é capaz de elevar a glicose sanguínea em torno de 20 mg/100 mL de sangue (aumento de 25%), em aproximadamente 20 minutos. Por esse motivo, o glucagon é também chamado hormônio hiperglicêmico. Efeitos no metabolismo da glicose: Os principais efeitos do glucagon no metabolismo da glicose são (1) a quebra do glicogênio hepático (glicogenólise); e (2) o aumento da gliconeogênese no fígado. O glucagon provoca glicogenólise e aumento da concentração da glicose sanguínea: • Glucagon ativa a adenilil ciclase na membrana da célula hepática. • Essa ativação leva à formação de monofosfato cíclico de adenosina. • Que ativa a proteína reguladora da proteína cinase; • Que ativa a proteína cinase. • Que ativa a fosforilase cinase b. • Que converte a fosforilase b em fosforilase a. • Que promove a degradação do glicogênio em glicose-1- fosfato. • Que é, então, desfosforilada, e a glicose é liberada das células hepáticas. COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA DO DIABETES MELLITUS TIPO 1 O DM tipo 1 resulta de interações de fatores genéticos, ambientais e imunológicos que acabam acarretando a destruição das células beta pancreáticas, assim como uma deficiência de insulina. O DM tipo 1 pode surgir em qualquer idade, porém desenvolve-se mais comumente antes dos 20 anos de idade. A maioria dos indivíduos com DM tipo 1 tem evidência de autoimunidade dirigida contra as ilhotas pancreáticas. Acredita-se que esses indivíduos desenvolvam uma deficiência de insulina por mecanismos não imunes desconhecidos e possam ser propensos à cetose; muitos são de ascendência negra ou asiática. Nos indivíduos suscetíveis, acredita-se que o processo autoimune seja desencadeado por um estímulo infeccioso ou ambiental. Na maioria dos pacientes, autoanticorpos contra antígenos de células beta aparecem depois desse evento desencadeante, seguidos de perda progressiva da secreção de insulina. A taxa de declínio da função das células beta varia amplamente entre os indivíduos, e alguns pacientes progridem rapidamente para o diabetes clínico. As características do diabetes só se tornam evidentes após a ocorrência de uma perda limiar da secreção de insulina e da massa de células beta. Nesse ponto, existem células beta funcionantes residuais, porém o seu número e qualidade são insuficientes para manter a tolerância à glicose. Os eventos que induzem a transição da intolerância à glicose para o diabetes franco estão associados, com frequência, a maiores demandas de insulina, como poderia ocorrer durante infecções ou na puberdade. Após a manifestação clínica inicial do DM tipo 1, pode seguir-se uma fase de “lua de mel”, durante a qual o controle glicêmico é conseguidocom doses moderadas de insulina ou, raramente, a insulina não é necessária. Entretanto, essa fase transitória de produção endógena de insulina pelas células beta residuais desaparece, e o indivíduo torna-se deficiente em insulina. Muitos indivíduos com DM tipo 1 de longa duração produzem uma pequena quantidade de insulina (refletida pela produção de peptídeo C), enquanto outros com 50 anos de DM tipo 1 apresentam células positivas para insulina no pâncreas à necrópsia. 👉 PATOGÊNESE 👉 FISIOPATOLOGIA Do ponto de vista patológico, as ilhotas pancreáticas apresentam infiltração modesta de linfócitos (um processo denominado insulite). Após a destruição das células beta, acredita-se que o processo inflamatório diminua, e as ilhotas se tornam atróficas. Estudos do processo autoimune em seres humanos e em modelos animais de DM tipo 1 (camundongo NOD e rato BB) identificaram as seguintes anormalidades nos ramos humoral e celular do sistema imune: (1) autoanticorpos contra células das ilhotas; (2) linfócitos ativados nas ilhotas, nos linfonodos peripancreáticos e na circulação sistêmica; (3) linfócitos T que proliferam quando estimulados por proteínas das ilhotas e (4) liberação de citocinas dentro da insulite. As células beta parecem ser particularmente suscetíveis ao efeito tóxico de algumas citocinas (fator de necrose tumoral α [TNF-α], γ- interferona e interleucina 1 [IL- 1]). Os mecanismos precisos da morte das células beta são desconhecidos, mas podem envolver a formação de metabólitos do óxido nítrico, apoptose e citotoxicidade direta da célula T CD8+. A destruição das ilhotas é mediada por linfócitos T, e não pelos autoanticorpos dirigidos contra células das ilhotas, pois esses anticorpos, em geral, não reagem com a superfície celular das células das ilhotas e não são capazes de transferir o DM para os animais. As moléculas das ilhotas pancreáticas que funcionam como alvo para o processo autoimune incluem insulina, descarboxilase do ácido glutâmico ICA-512/IA-2 (homologia com tirosina- fosfatases) e um transportador de zinco específico da célula beta (ZnT-8). As vias e processos de estresse que surgem na célula beta podem exacerbar a autoimunidade por meio do desenvolvimento de proteínas modificadas ou “neoantígenos”, que atuam como alvos imunes adicionais. FATORES AMBIENTAIS Os supostos fatores ambientais desencadeantes incluem vírus (Coxsackie, rubéola, enterovírus de modo mais proeminente), proteínas do leite de vaca, compostos de nitrosureia, deficiência de vitamina D e toxinas ambientais. Há um interesse crescente no microbioma e diabetes tipo 1. FATORES GENÉTICOS O principal gene de suscetibilidade ao DM tipo 1 fica localizado na região HLA no cromossomo 6. Os polimorfismos no complexo HLA são responsáveis por 40 a 50% do risco genético para o surgimento de DM tipo 1. A maioria dos indivíduos com DM tipo 1 possui o haplótipo HLA DR3 e/ou DR4. Os aperfeiçoamentos na genotipagem dos loci HLA mostraram que os haplótipos DQA1*0301, DQB1*0302 e DQB1*0201 estão mais fortemente associados ao DM tipo 1. Esses haplótipos estão presentes em 40% das crianças com DM tipo 1, em comparação com 2% da população norte-americana normal. No entanto, a maioria dos indivíduos com haplótipos predisponentes não desenvolve diabetes. FATORES IMUNOLÓGICOS Os autoanticorpos contra as células das ilhotas (ICAs) são uma combinação de diferentes anticorpos dirigidos contra moléculas das ilhotas pancreáticas, como GAD, insulina, IA-2/ICA-512 e ZnT-8, e funcionam como marcadores do processo autoimune do DM tipo 1. Dispõe- se no comércio de ensaios para autoanticorpos contra GAD-65. Os testes para ICAs podem ser úteis na classificação do DM tipo 1 como realmente tipo 1 e na identificação dos indivíduos que não são diabéticos e que correm risco de vir a desenvolver DM tipo 1. Os ICAs estão presentes na maioria dos indivíduos (> 85%) diagnosticados com DM tipo 1 de início recente, em uma minoria significativa de indivíduos com DM tipo 2 diagnosticados recentemente (5-10%) e ocasionalmente em indivíduos com DMG (< 5%). Os ICAs estão presentes em 3 a 4% dos parentes de primeiro grau dos indivíduos com DM tipo 1. Em combinação com a secreção prejudicada de insulina após o teste de tolerância à glicose IV, eles permitem prever um risco superior a 50% de desenvolver DM tipo 1 em 5 anos. Números crescentes de autoanticorpos estão associados a um risco aumentado de desenvolvimento de diabetes. Em crianças com múltiplos autoanticorpos, cerca de 70% desenvolveram DM tipo 1 depois de 10 anos de acompanhamento, enquanto 80% desenvolveram diabetes depois de 15 anos de acompanhamento. Atualmente, a mensuração dos ICAs em indivíduos que não são diabéticos constitui um instrumento de pesquisa, pois nenhum tratamento foi aprovado para prevenir a ocorrência ou a progressão. EXPLICAR O QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E COMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS TIPO 1 QUADRO CLÍNICO • Poliúria / nictúria. • Polidipsia/bocaseca. • Polifagia. • Emagrecimento rápido. • Fraqueza/astenia/letargia. • Prurido vulvar ou balanopostite. • Diminuição brusca da acuidade visual. • Achado de hiperglicemia ou glicosúria em exames de rotina. • Sinais ou sintomas relacionados às complicações do DM: proteinúria, neuropatia periférica, retinopatia, ulcerações crônicas nos pés, doença vascular aterosclerótica, impotência sexual, paralisia oculomotora, infecções urinárias ou cutâneas de repetição, etc. ANAMNESE Questionar sobre: • sintomas (polidipsia, poliúria, polifagia, emagrecimento), apresentação inicial, evolução, estado atual, tempo de diagnóstico; • exames laboratoriais anteriores; • padrões de alimentação, estado nutricional, evolução do peso corporal; • tratamento(s) prévio(s) e resultado(s); • prática de atividade física; • intercorrências metabólicas anteriores (cetoacidose, hiper ou hipoglicemia, etc.); • infecções de pés, pele, dentária e geniturinária; • úlceras de extremidades, parestesias, distúrbios visuais; • IAM ou AVE, no passado; • uso de medicações que alteram a glicemia; • fatores de risco para aterosclerose (hipertensão, dislipidemia, tabagismo, história familiar); • história familiar de DM ou outras endocrinopatias; • histórico gestacional; • passado cirúrgico. EXAME FÍSICO • Circunferência da cintura e do quadril para cálculo da razão cintura-quadril - RCQ, (RCQ normal: homens, até 1; mulher, até 0,85). • Exame da cavidade oral (gengivite, problemas odontológicos, candidíase). • Avaliação dos pulsos arteriais periféricos e edema de membros inferiores - MMII. • Exame dos pés: lesões cutâneas (infecções bacterianas ou fúngicas), estado das unhas, calos e deformidades. • Exame neurológico sumário: reflexos tendinosos profundos, sensibilidade térmica, táctil e vibratória. • Medida da PA, inclusive em ortostatismo. • Exame de fundo de olho com pupila dilatada. • Peso e altura - o excesso de peso tem forte relação causal com o aumento da pressão arterial e da resistência insulínica. Uma das formas de avaliação do peso é através do cálculo do índice de massa corporal (IMC), dividindo- se o peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Esse indica- dor deverá estar, na maioria das pessoas, entre 18,5 e 25,0 kg/m2. • Palpação da tireóide. DIAGNÓSTICO Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, o diagnóstico laboratorial do diabetes mellitus (DM) pode ser realizado por meio de glicemia de jejum, glicemia 2 horas após teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e hemoglobina glicada (HbA1c). 👉 Glicemia Após a coleta de sangue, a glicose é metabolizada pelos eritrócitos, o que ocasiona queda dos seus níveis em torno de 10% por hora. Se forem utilizados tubos de soro, é preciso dar especial atenção ao processamento rápido da amostra após a coleta. Se for utilizado um inibidor de metabolização, como o fluoreto de sódio (NaF), ainda assim ocorre glicólise dentro do tubo, mas de forma mais lenta (cercade 10% a cada 3 horas). Os tubos com fluoreto, por sua estabilidade discretamente maior, são muito utilizados no TOTG, visto que, muitas vezes, as amostras de jejum serão processadas com as demais, devendo-se somar o tempo de duração do teste àquele já previsto para o transporte das amostras. A glicose é geralmente determinada por métodos enzimáti- cos, como glicose-oxidase e hexoquinase. Um dos mais aplicados atualmente é o método da hexoquinase, no qual a glicose é fosforilada por essa enzima na presença de trifosfato de adenosina (adenosine triphosphate, ATP). Dessa reação se originam produtos como glicose-6-fosfato e difosfato de adenosina (adenosine di- phosphate, ADP). A glicose-6-fosfato, por sua vez, é oxidada por glicose-6-fosfato desidrogenase (G6P-DH), sendo transformada em gluconato-6- fosfato, que ocasiona a redução de NAD+ para NADH. Essa reação causa aumento da absorbância a 340 nm, que é o parâmetro diretamente analisado pelo método, por ser diretamente proporcional à concentração de glicose. 👉 Hemoglobina glicada A HbA1c é dosada em sangue total, sendo coletada em tubo com anticoagulante EDTA (tampa roxa), e apresenta estabilidade consideravelmente maior do que a glicemia. Esse aspecto, inclusive, é apontado como uma das grandes vanta- gens de sua utilização no diagnóstico de DM. O jejum não é necessário e a amostra pode ser coletada em qualquer horário do dia. Apresenta baixa variabilidade biológica individual e não é afetada por estresse agudo. Uma vez coletadas, as amostras de sangue são estáveis em temperatura ambiente por até 24 horas e por até 7 dias sob refrigeração. O congelamento da amostra, entretanto, torna-a inviável para análise. Segundo o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão arterial e ao Diabetes mellitus, o diagnóstico de DM pode ser feito diante das seguintes situações: • sintomas clássicos de DM e valores de glicemia de jejum iguais ou superiores a 126 mg/dl; • sintomas clássicos de DM e valores de glicemia realizada em qualquer momento do dia, iguais ou superiores a 200 mg/dl; • indivíduos assintomáticos, porém com níveis de glicemia de jejum iguais ou superiores a 126 mg/dl, em mais de uma ocasião; • indivíduos com valores de glicemia de jejum menores que 126 mg/dl e, na segunda hora, após uma sobrecarga com 75 g de glicose via oral, iguais ou superiores a 200 mg/ dl. COMPLICAÇÕES CETOACIDOSE DIABÉTICA A cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperosmolar hiperglicêmico (EHH) são as duas complicações agudas relacionadas a hiperglicemias mais relevantes. Representam de 4 a 9% das internações hospitalares em pacientes com DM, com o EHH representando < 1% das internações hospitalares em pacientes com DM, com os outros casos associados à CAD. No EHH temos uma importante hiperglicemia com desidratação e aumento da osmolaridade; já na CAD, além da alteração do metabolismo temos também alteração do metabolismo lipídico com produção de cetoácidos e consumo de bicarbonato. A CAD é definida pela tríade: • Glicemia maior que 250 mg/dL: embora raramente, em pacientes em jejum prolongado podem ocorrer euglicemia e até hipoglicemia. • pH arterial < 7,3 (excluídas outras causas de acidose). • Cetonemia positiva (na indisponibilidade da cetonemia, podemos inferir sua presença por cetonúria fortemente positiva). O EHH, por sua vez, é definido por: • Glicemia > 600 mg/dL. • Osmolaridade > 320 mosm/kg. • pH arterial > 7,3. A CAD é precipitada por uma ausência absoluta ou relativa da insulina. Assim, o quadro é mais esperado em pacientes com DM do tipo 1, mas tem sido cada vez mais frequente em pacientes com DM tipo 2. A CAD pode ser precipitada por infecção ou outros fatores estressores. Neste caso, ocorre uma resistência à ação insulínica extrema causada pelos hormônios contrarreguladores, como o hormônio do crescimento, cortisol e catecolaminas, que levam, por sua vez, ao aumento de glucagon e lipólise. A indisponibilidade da glicose para servir de substrato para produção de energia intracelular e a alteração da relação insulina/glucagon levam a um aumento na gliconeogênese (produção de glicose através de outros substratos como gorduras e proteínas) e glicogenólise (quebra de glicogênio em glicose). Desta forma, o paciente apresenta-se com glicemias progressivamente maiores, ocorrendo assim o processo de diurese osmótica levando a desidratação e aumento da osmolaridade. A acidose se soma ao quadro quando há alteração do metabolismo dos lipídios. Isso ocorre quando a ausência relativa de insulina for absoluta ou quase absoluta, pois mesmo pequenas quantidades de insulina são capazes de suprimir toda a produção de glucagon por efeito parácrino nas ilhotas pancreáticas. Nestas circunstâncias, com o aumento do glucagon, diminui a produção de uma enzima denominada malonil coenzima A, que tem a função de inibir a produção da carnitina-palmitil-transferase. Com a diminuição da malonil coenzima A ocorre o aumento da já citada carnitina-palmitil-transferase, que faz o transporte de ácidos graxos para as mitocôndrias hepáticas. Desta forma, há produção de energia usando como substrato os lipídeos. O problema é que esse processo produz ácido aceto-acético, ácido beta- hidróxibutírico e acetona, estabelecendo o quadro de cetoacidose. Há consumo da reserva alcalina e diminuição posterior do pH sanguíneo. No EHH, ao contrário da CAD, a deficiência de insulina é apenas relativa, de forma que não ocorre uma elevação tão importante do glucagon, e assim a alteração do metabolismo lipídico não ocorre com produção de cetoácidos. Entretanto, esses pacientes se apresentam com desidratação muito maior. A diurese osmótica pela hiperglicemia leva à perda importante de eletrólitos e perda ainda maior de água livre, de forma que a osmolaridade aumenta significativamente. O diagnóstico de CAD e EHH é baseado em critérios laboratoriais. Assim, é necessária a coleta de glicemia, gasometria, corpos cetônicos e sódio para avaliação da presença de acidose, cetonemia e aumento da osmolaridade. Ocorre também uma grande produção de lipídeos e triglicérides, podendo inclusive ser desencadeadas complicações da hipertrigliceridemia como a pancreatite. São frequentes discretas elevações de amilase e lipase na CAD. CONHECER O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO E ACOMPANHAMENTO PARA O DIABETES MELLITUS TIPO 1 As preparações de insulina comerciais diferem em diversos aspectos, como diferenças nas técnicas de produção por DNA recombinante, sequência de aminoácidos, concentração, solubilidade e tempo de início e duração de sua ação biológica. Principais tipos e duração de ação das preparações de insulina: Há quatro tipos principais de insulina injetáveis: (1) de ação rápida, com início muito rápido e curta duração; (2) de ação curta, com rápido início de ação; (3) de ação intermediária; (4) de ação longa, com início lento; As insulinas de ação rápida e de ação curta injetáveis são apresentadas na forma de soluções transparentes em pH neutro e contêm pequenas quantidades de zinco para melhorar a sua estabilidade e o prazo de validade. As insulinas NPH de ação intermediária injetáveis foram modificadas para se obter uma ação prolongada e são apresentadas na forma de suspensão turva em pH neutro, com protamina em tampão de fosfato (insulina com protamina neutra Hagedorn [NPH]). A insulina glargina e a detemir são solúveis e transparentes de ação longa. A meta da insulinoterapia por via subcutânea consiste em reproduzir a secreção fisiológica normal de insulina e repor a insulina basal (noturna, em jejum e entre as refeições), bem como a insulina em bolo ou prandial (durante as refeições). A terapia convencional consiste em injeções de misturas de insulinas de ação rápida ou curta e de ação intermediária em doses fracionadas. 1. Insulina de ação rápida: Dispõe-se, comercialmente, de três análogos de insulina de ação rápida injetáveis – insulina lispro, insulina asparte e insulinaglulisina. As insulinas de ação rápida permitem uma reposição prandial mais fisiológica de insulina, em virtude de seu rápido início de ação e ação máxima precoce, que simulam melhor a secreção prandial normal de insulina endógena do que a insulina regular. Além disso, têm o benefício adicional de permitir a administração de insulina imediatamente antes da refeição, sem sacrificar o controle da glicose. Sua ação raramente passa de 4 a 5 horas. Quando injetada por via subcutânea, a lispro dissocia-se com rapidez em monômeros e sofre rápida absorção, com início de ação em 5 a 15 minutos e atividade máxima em apenas 1 hora. O tempo levado para exercer a ação máxima é relativamente constante, não dependendo da dose. A asparte possui absorção e perfil de atividade semelhante aos da lispro; além disso, exibe maior reprodutibilidade do que a insulina regular, porém apresenta propriedades de ligação, características de atividade e mitogenicidade semelhantes às da insulina regular, além de uma imunogenicidade equivalente. A glulisina possui absorção, ação e características imunológicas semelhantes àquelas de outras insulinas de ação rápida injetáveis. 2. Insulina de ação curta: A insulina regular é uma insulina zíncica cristalina solúvel, de ação curta, atualmente obtida por técnicas de DNA recombinante para produzir uma molécula idêntica à da insulina humana. Seu efeito aparece dentro de 30 minutos após injeção subcutânea, atinge um pico entre 2 e 3 horas e, em geral, dura 5 a 8 horas. A consequência clínica, quando a insulina regular é administrada nas horas das refeições, consiste em uma elevação mais rápida do nível de glicemia do que de insulina, com consequente hiperglicemia pós-prandial precoce e risco aumentado de glicemia pós-prandial tardia. Por conseguinte, a insulina regular deve ser injetada 30 a 45 minutos ou mais antes das refeições para minimizar o desequilíbrio. A absorção tardia, a duração da ação dependente da dose e a variabilidade de absorção (cerca de 25%) da insulina humana regular com frequência resultam em um desequilíbrio entre a disponibilidade de insulina e sua necessidade, de modo que o seu uso está diminuindo. Todavia, a insulina solúvel regular de ação curta constitui o único tipo de insulina passível de administração por via intravenosa, visto que a diluição determina a dissociação imediata da insulina hexamérica em seus monômeros. Mostra-se particularmente útil na terapia intravenosa no tratamento da cetoacidose diabética, bem como em casos nos quais a necessidade de insulina modifica-se rapidamente. 3. Insulina de ação intermediária e de ação longa: 3.1 Insulina NPH (protamina neutra Hagedorn ou isófana) - A insulina NPH tem ação intermediária, com absorção e início de ação retardados pela combinação de quantidades apropriadas de insulina e protamina. A insulina NPH tem início de ação de cerca de 2 a 5 horas e duração de 4 a 12 horas; em geral, é misturada com insulina regular, lispro, asparte ou glulisina e administrada 2 a 4 vezes ao dia para reposição do hormônio. A dose regula o perfil de ação; especificamente, pequenas doses apresentam picos mais baixos e mais precoces e curta duração, observando-se o inverso com o uso de grandes doses. A ação da insulina NPH é imprevisível, e a variabilidade de absorção é de mais de 50%. 3.2 Insulina glargina - A glargina é um análogo de insulina de ação longa, solúvel e “sem pico”. A glargina apresenta início de ação lento (1 a 1,5 hora) e alcança um efeito máximo depois de 4 a 6 horas. Essa atividade máxima é mantida por 11 a 24 horas ou mais. Em geral, a glargina é administrada uma vez ao dia; todavia, alguns indivíduos muito sensíveis à insulina ou resistentes a ela beneficiam-se de doses fracionadas (2 vezes ao dia). Para manter a solubilidade, a formulação é extremamente ácida (pH de 4), e a glargina não deve ser misturada com outra insulina. É preciso utilizar seringas separadas para minimizar o risco de contaminação e perda subsequente da eficácia. O padrão de absorção da glargina parece não depender do local anatômico de injeção, e esse fármaco está associado a menor imunogenicidade do que a insulina humana em estudos realizados em animais. 3.3 Insulina detemir - Trata-se do análogo de insulina de ação longa mais recentemente desenvolvido. A detemir é a que tem o efeito mais reproduzível entre as insulinas de ação intermediária e de ação longa, e o seu uso está associado ao menor grau de hipoglicemia do que a NPH. A detemir tem um início de ação dependente da dose de 1 a 2 horas, com duração de ação de mais de 12 horas. É administrada duas vezes ao dia para obten- ção de um nível basal uniforme de insulina. 4. Mistura de insulinas: Como as insulinas NPH de ação intermediária necessitam de várias horas para alcançar níveis terapêuticos adequados, seu uso em pacientes diabéticos geralmente exige suplementos de insulina de ação rápida ou de ação curta antes das refeições. Para maior conveniência, essas insulinas são, com frequência, misturadas na mesma seringa antes da injeção. As insulinas lispro, asparte e glulisina podem ser misturadas de forma aguda (i.e., imediatamente antes de sua injeção) com insulina NPH, sem afetar a sua absorção rápida. A glargina e a detemir precisam ser administradas em injeções separadas. Não podem ser misturadas, nem adminis- tradas em uma preparação pré-misturada com qualquer outra formulação de insulina. ACOMPANHAMENTO Depois de definido o tratamento medicamentoso, é importante que a pessoa com DM mantenha o acompanhamento pela equipe multidisciplinar para avaliar a evolução da doença e a adesão às orientações, de acordo com uma estratificação de risco. DISCUTIR OS IMPACTOS DO DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELLITUS TIPO 1 PARA O PACIENTE E A FAMÍLIA Os fatores psicossociais são as influências mais importantes que afetam o cuidado e o tratamento do Diabetes Mellitus (DM). A psicologia tem colaborado com outras áreas de pesquisa em saúde para obter uma melhor compreensão dos fatores comportamentais, afetivos e cognitivos que influenciam o autocuidado do DM além de desenvolver uma abordagem integral e centrada na pessoa com DM, estabelecendo estratégias de avaliação e intervenção. O DM representa um desafio constante para muitas pessoas com dificuldade em aderir ao estilo de vida e às mudanças comportamentais necessárias para promover o controle eficaz da glicemia e prevenção de suas complicações. A comunicação centrada na pessoa tem sido associada à melhora no conhecimento a respeito da doença, no autocuidado, no controle glicêmico, e na qualidade de vida1. É importante incorporar uma avaliação psicossocial no atendimento de rotina e fazer os encaminhamentos necessários, em vez de esperar que ocorra uma deterioração do estado metabólico ou psicológico. Essa mudança de paradigma impacta inicialmente a família, que passa a mudar sua rotina e dedica cuidados intensivos a criança diabética, que conforme seu crescimento, enfrenta dificuldades como a não aceitação da doença, limitações físicas e alimentares, bullying na escola, isso repercute para que esta criança, muitas vezes, cresça estigmatizada e com problemas de aceitação de sua própria condição patológica. O que mostra a necessidade de acompanhamento multiprofissional destinado ao cuidado de pacientes portadores de DM1, visto que as alterações não ocorrem apenas no âmbito fisiológico, mas sim de forma holística, ou seja, em âmbito biopsicossocial (DiMegli, et al., 2018). A administração da medicação do DM tipo 1 é subcutânea, o que implica em procedimentos, que apesar de rápidos e simples, são invasivos e devem ser realizados várias vezes ao dia, bem como a aferição da glicemia capilar periférica. Este conjunto de ações, deve ser realizada inicialmente pelos cuidadores, visto que devido a precocidade das manifestações a criança é incapaz de apresentar autocuidado. Além desta problemática, as alteraçõesfisiológicas decorrentes de problemas microangiopáticos são mais comuns em pacientes portadores de DM1, visto que sua manifestação precoce predispõe maior tempo de cronicidade da doença e, consequentemente, maiores chances de desenvolvimento de alterações vasculares capazes de lesionar órgãos alvo, como a retina, nervos periféricos e o sistema renal. Tal realidade evidencia o quão importante é, além do acompanhamento multiprofissional (nutricionista, médico, psicólogo e educador físico), acompanhamento multidisciplinar, visto que, especialidades médicas como nefrologista e oftalmologistas também são importantes para o desenvolvimento do cuidado para com pacientes diabéticos, pois, o DM além de alterações metabólicas locais é capaz de desencadear alterações do funcionamento de órgãos a nível sistêmico (Zaremba et al., 2020). Nessa ótica as diversas aplicações de insulina ao longo do dia, junto com a aferição constante dos níveis de glicemia capilar periférica acabam por gerar estresse e ansiedade na vida do paciente portador de DM1, visto que, são procedimentos invasivos e que devem ser realizados de forma constante, o que gera a não aceitação da condição individual podendo resultar em não adesão ao tratamento ou surgimento de sintomas depressivos e de desvalorização pessoal. Por conta disso, o tratamento do DM1 deve visar a melhora global do indivíduo e avaliação não apenas de resultados laboratoriais, mas sim da qualidade de vida do paciente, pois sua patologia crônica necessita de cuidados constantes, mas o paciente deve ser visto como um ser humano e a partir disso entender que o autocuidado é necessário, mas que sua identidade não se resume a uma condição patológica (Goethals et al., 2017). REFERÊNCIAS: 👉 OBJETIVO 1: • Marieb, Elaine. Anatomia humana-- São Paulo : Pearson Education do Brasil, 2014. • Junqueira, Luiz Carlos Uchoa. Histologia básica: texto e atlas – 13. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. • Hall, John E. (John Edward), 1946- Tratado de fisiologia médica / John E. Hall. - 13. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2017. 👉 OBJETIVO 2 e 3: • J. Larry Jameson... [et al.] ; Medicina interna de Harrison [recurso eletrônico]– 20. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2020. • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica : diabetes mellitus / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013. • Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes Sociedade brasileira de diabetes 2019-2020. • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Plano de reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus: hipertensão arterial e diabetes mellitus / Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 👉 OBJETIVO 4: • Farmacologia básica e clínica [recurso eletrônico] / Organizador, Bertram G. Katzung ; Organizador Associado, Anthony J. Trevor ; [tradução: Ademar Valadares Fonseca ... et al. ; revisão técnica: Almir Lourenço da Fonseca]. – 13. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2017. 👉 OBJETIVO 5: • MARCELINO, Daniela Botti; CARVALHO, Maria Dalva de Barros. Reflexões sobre o Diabetes tipo 1 e sua relação com o emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2005, 18 (1), pp 72-77. Disponível em: <https:// www.scielo.br/j/prc/a/ZdsTW5hTzFqFyytgZmb7kvL/?lang=pt&format=pdf >. Acesso em 23 Abr. 2023.
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