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Assistência a mulher no puerpério. Prof. Ms. Luanny Oliveira Conceitua-se puerpério o período do ciclo grávido puerperal em que as modificações locais e sistêmicas, provocadas pela gravidez e parto no organismo da mulher, retornam à situação do estado pré-gravídic O puerpério inicia-se uma a duas horas após a saída da placenta e tem seu término imprevisto, pois enquanto a mulher amamentar ela estará sofrendo modificações da gestação (lactância), não retornando seus ciclos menstruais completamente à normalidade. Pode-se didaticamente dividir o puerpério em: imediato (1 ° ao 10° dia), tardio (11 ° ao 42° dia), e remoto (a partir do 43° dia). A primeira e segunda horas após o delivramento devem ser passadas no Centro Obstétrico ou sala de PPP, pois neste período podem ocorrer hemorragias. Corresponde ao chamado Quarto Período do parto. Passado este período inicial, estando a puérpera equilibrada hemodinamicamente e formado o globo de segurança de Pinard (útero ao nível da cicatriz umbilical e firmemente contraído), poderá ser encaminhada ao alojamento conjunto, após serem seus sinais vitais avaliados e anotados. Involução uterina A involução uterina ocorre após a dequitação da placenta , o corpo uterina forma um “Tumor” muscular duro, cujo o ápice fica entre o umbigo e sínfise púbica. Nos dias seguintes, diminui rapidamente de tamanho, de modo que no 10.º dia, já não da mais para se palpar o útero acima da sínfise púbica, o que algumas vezes pode ocasionar cólicas. Ao término de 5 e 6 semanas após o parto, o útero atinge seu tamanho normal. O peso uterino após o parto é de 1.000gr, uma semana depois é de 500gr e no final do puerpério é de 40 a 60 gr. Involução uterina Modificações no puerpério A puérpera pode apresentar ligeiro aumento da temperatura axilar (36,8° - 37,9°) nas primeiras 24 horas, sem necessariamente ter um quadro infeccioso instalado. Podem ocorrer ainda calafrios, mais freqüentes nas primeiras horas após o parto. O sistema cardiovascular experimenta, nas primeiras horas pós-parto, um aumento do volume circulante, que pode se traduzir pela presença de sopro sistólico de hiperfluxo. Também neste período a puérpera tem seu padrão respiratório restabelecido, passando o diafragma a exercer funções que haviam sido limitadas pelo aumento do volume abdominal. A volta das vísceras abdominais à sua situação original, além da descompressão do estômago, promove um melhor esvaziamento gástrico. Os esforços desprendidos no período expulsivo agravam as condições de hemorróidas já existentes. Esta situação causa desconforto e impede o bom esvaziamento intestinal. Traumas podem ocorrer à uretra, ocasionando desconforto à micção e até mesmo retenção urinária, situação atenuada pelo aumento da capacidade vesical que ocorre normalmente neste período. A puérpera pode experimentar nos primeiros dias pós-parto um aumento do volume urinário, pela redistribuição dos líquidos corporais. Alterações do humor, com labilidade emocional, são comuns no puerpério. Entretanto, o estado psicológico da mulher deve ser observado, uma vez que quadros de profunda apatia ou com sintomas de psicose puerperal devem ser identificadas precocemente O útero atinge a cicatriz umbilical após o parto e posteriormente regride em torno de 1 cm ao dia, embora de forma irregular. Inicialmente surgem os Lóquios sangüíneos (até o 3° dia), em volume variável, semelhante a uma menstruação. A partir do 4° dia, torna-se serossanguíneo, por volta do 10° dia seroso, a partir do 21° albicans. A recuperação do endométrio inicia-se a partir do 25º dia pós-parto. O colo uterino, logo após o parto, fica edemaciado e pode apresentar lacerações e, em torno do 10° dia, estará fechado. A vagina apresenta-se edemaciada e atrófica, iniciando sua recuperação após o 25° dia de puerpério, mais tardia nas mulheres que amamentam. A vulva e o assoalho pélvico sofrem também modificações decorrentes do trabalho de parto. Cuidados de enfermagem Estimular a deambulação; Iniciar alimentação precoce; Orientar quanto à higiene corporal; Orientar quanto à higiene perineal; Estimular o aumento da ingesta hídrica; Avaliar mamas; Avaliar involução uterina; Avaliar loquiação; Avaliar genitália; Administrar gelo perineal; Estimular interação mãe/bebê; Estimular a amamentação; Orientar quanto à pega e posição das mamadas; Observar sinais de alterações de humor materno; Hemorragia grave (especialmente durante e depois do parto): 27% Hipertensão na gestação: 14% Infecções: 11% Parto obstruído e outras causas diretas: 9% Complicações de abortos: 8% Coágulos sanguíneos (embolias): 3% Principais causas de morte materna A hemorragia pós-parto é caracterizada pela perda de sangue superior a 500ml no parto normal e 1000ml no parto cesáreo. Os profissionais de saúde têm que estar familiarizados com o tratamento do choque hipovolêmico puerperal. As três principais causas de sangramento puerperal são a atonia uterina, as lacerações de trajeto e a retenção de fragmentos placentários. Ocorrem em aproximadamente 5% dos partos. Embora possam ser evitadas e tratadas, elevam significativamente a morbimortalidade materna. Outras causas incluem o acretismo placentário (Placenta Acreta), a rotura, a inversão uterina e os distúrbios da coagulação. Complicações hemorrágicas O manejo ativo do 3°período do trabalho de parto previne cerca de 2/3 das HPP, sendo o elemento principal do manejo ativo, o uso de uterotônicos. Uso de Ocitocina: 02 ampolas (10 UI) por via intramuscular, logo após a liberação do ombro anterior do recém-nascido, independente da via de parto. Em caso de paciente com venóclise, administrar 02 ampolas diluídas no soro. A ocitocina não deve ser administrada em bolus EV, pelo risco de arritmia cardíaca e hipotensão arterial. Ações preventivas: Infecção puerperal Segundo a OMS, só é considerado infecção puerperal o aumento de temperatura de 38º C, verificado pelo menos 4 vezes ao dia durante 2 dias, isto contando os 10 primeiros dias do puerpério, com exceção das primeiras 24 horas. Fogem à regra as puérperas acometidas de infecção limitada à ferida operatória (episiotomia ou cesariana) que raramente apresentam quadro febril. Agentes etiológicos mais comuns: Streptococos, Gnococos e Bacilos. Uso de técnicas assépticas Acompanhamento pré-natal Uso de material estéril Pessoal paramentado na sala de parto; Cuidados específicos à gestante com bolsa rota (A partir de 18h de bolsa rota deverá ser iniciada a antibioticoterapia como profilaxia para infecção intrautero). Tratamento: Antibioticoterapia Prevenção: Orientações Gerais... Não se deve dar alta sem checar a tipagem sanguinea da mãe, sorologia para sífilis e HIV. A revisão puerperal deve ser marcada em torno do 7 ao 10° dia de puerpério em unidade de saúde mais próxima da residência da mulher. Nova avaliação deverá ser realizada entre 30° e o 42° dia pós-parto. Nestes momentos de pós-parto é fundamental o incentivo, o apoio, o acolhimento nas questões referentes ao aleitamento materno. Orientar quanto a contracepção. Alta obstétrica: salvo intercorrências, pode ser autorizada após 48 horas. Em se tratando de parto vaginal, admite-se antecipá- la quando, além de evolução puerperal fisiológica em parto eutócico, constata-se ausência de comorbidade materna. Atividade sexual: liberada respeitado o conforto e desejo da mulher. Transformações psíquicas O processo de transformação psíquica que uma mulher precisa passar no ciclo gravídico-puerperal envolve três grandes momentos que englobam pequenas etapas vividas de forma diferentes para cada sujeito. A transformação da filha em mãe, a transformação da autoimagem corporal e a relação entre a sexualidade e a maternidade. Cada um destes temas requer uma reordenação psíquica que incide sobre as vivências de cada mulher. A mentalidade, de que a chegada de um filho é isenta de ambiguidade, tende a dificultar o auxílio que estas mães precisam receber. Algumas mulheres não conseguem admitir para si mesmas que merecemajuda, escondendo dos cônjuges e da família seu estado. Alterações do humor, com labilidade emocional, são comuns no puerpério. Entretanto, o estado psicológico da mulher deve ser observado, uma vez que quadros de profunda apatia ou com sintomas de psicose puerperal devem ser identificadas precocemente. Nestas situações, um tratamento adequado deve ser instituído rapidamente. Nas mulheres que tiveram um óbito fetal, atenção especial deve ser dada, pois a perda do filho pode provocar um sentimento de luto que necessita de tempo e algumas vezes de ajuda para superá-lo. Nestes casos, recomenda-se instalar estas mulheres em alojamentos sem a presença de crianças, para não provocar lembranças e comparações. Na Psicose Puerperal encontramos perda do senso de realidade, delírios, alucinações (por volta 0,2 % de casos). Não é recomendável aleitamento. Nos transtornos psíquicos mais graves há que se acionar a rede social da gestante antes do nascimento, para que alguém se incumba de responder às necessidades emocionais do bebê. Para a mulher em surto o bebê não existe enquanto tal. Ele passa a ser espaço vazio preenchido por elementos do psiquismo da mãe. Por vezes, as fantasias são ocultadas pela paciente, pois ela se encontra em delírio paranóide. No caso da psicose a angústia é da ordem do insuportável, podendo aparecer rituais obsessivos e pensamento desconexo. Um histórico psiquiátrico com surtos anteriores traz fortes indícios de risco nestes casos. A Tristeza Materna (baby blues), por sua vez, acomete até 80% das mulheres, mas devido ao tabu pode se imaginar um índice até maior. É um estado de humor depressivo que costuma acontecer a partir da primeira semana depois do parto. Este humor é coerente com a enorme tarefa de elaboração psíquica citada anteriormente (transformação da filha em mãe, a transformação da auto-imagem corporal, a administração da relação entre a sexualidade e a maternidade).