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[Imagem de Capa] BIOGRAFIA DE MAHOMMAH G. BAQUAQUA, UM NATIVO DE ZUGU, NO INTERIOR DA ÁFRICA (Um Convertido ao Cristianismo) COM UMA DESCRIÇÃO DAQUELA PARTE DO MUNDO; INCLUINDO AS Maneiras e Costumes dos Habitantes, AS SUAS NOÇÕES RELIGIOSAS, FORMA DE GOVERNO, LEIS, APARÊNCIA DO PAÍS, EDIFICAÇÕES, AGRICULTURA, MANUFATURAS, PASTORES E VAQUEIROS, ANIMAIS DOMÉSTICOS, CERIMÔNIAS DE CASAMENTO E FUNERAIS, ESTILOS DE VESTIMENTAS, NEGÓCIOS E COMÉRCIO, MODOS DE BATALHA, SISTEMA DE ESCRAVIDÃO, ETC, ETC. O INÍCIO DA VIDA DE MAHOMMAH, A SUA EDUCAÇÃO, A SUA CAPTURA E ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA OCIDENTAL E NO BRASIL, A SUA FUGA PARA OS ESTADOS UNIDOS, DE LÁ PARA O HAITI, (PARA A CIDADE DE PORTO PRÍNCIPE). A SUA RECEPÇÃO PELO REV. W. L. JUDD, MISSIONÁRIO BATISTA; A SUA CONVERSÃO AO CRISTIANISMO, O SEU BATISMO E RETORNO AO SEU PAÍS, AS SUAS VISÕES, OBJETIVOS E META. Escrito e revisado a partir das suas próprias palavras Pelo ilustríssimo senhor SAMUEL MOORE, Exeditor da "North of England Shipping Gazette," Autor de Várias Obras Populares, e Editor do Sundry Reform Papers DETROIT Impresso para o Autor, Mahommah Gardo Baquaqua, POR GEO. E. Pomeroy & Co., Tribune Office 1854 1854. Verso da página Registrado, segundo o Ato do Congresso norteamericano do ano de 1854, por MAHOMMAH GARDO BAQUAQUA, na Repartição do Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito do Michigan. BIOGRAFIA DE MAHOMMAH GARDO BAQUAQUA CAPÍTULO 1 O sujeito desta memória nasceu na cidade de Zugu, na África Central, cujo rei era vassalo do rei de Bergu. A sua idade não é conhecida com exatidão, já que os africanos têm, em geral, um modo diferente de dividir o tempo e calcular a idade, mas se supõe que ele tenha cerca de 30 anos de idade, pela lembrança de certos eventos que ocorreram, e a partir do conhecimento que ele adquiriu dos números, nos últimos tempos. Porém, como isto não é uma questão muito importante na sua história, deixamola aqui na sua própria obscuridade sem crermos, nem por um momento sequer, terá o seu interesse diminuído por causa da falta deste número específico. Ele afirma que os seus pais eram de países diferentes, o seu pai um nativo de Bergu (de origem árabe) e de pele não muito escura. A sua mãe era uma nativa de Kashna e de pele muito escura, era completamente negra. Os costumes do seu pai eram rígidos e quietos; a sua religião, o Maometanismo. Como o interior da África é, comparativamente, pouco conhecido, um breve esboço só poderia se mostrar muito interessante para a maioria dos nossos leitores; dessa forma, passaremos os detalhes segundo eles foram apresentados pelo próprio Mahommah. O seu modo de devoção é algo que segue o seguinte estilo: O meu pai — diz Mahommah — levantavase todas as manhãs às quatro horas para fazer as suas orações, depois disso ele voltava para a cama, no nascer do sol ele realizava os seus segundos exercícios devocionais, ao meio dia ele voltava a fazer a sua adoração, e novamente ao por do sol. Uma vez por ano é feito um grande jejum, que dura um mês, durante este tempo não se come nada durante o dia, mas à noite, depois da realização de algumas cerimônias, é permitido comer; depois de se comer, a adoração é permitida nas suas próprias casas e, então, assembleias para culto público são feitas. O lugar de adoração era um pátio amplo e agradável pertencente ao meu avô, o meu tio era o sacerdote oficiante. As pessoas mais velhas se colocam em fileiras com o sacerdote de pé diante delas, os mais velhos próximos a ele, e assim por diante, organizandose em ordem, de acordo com a idade. O sacerdote começa a devoção curvando a sua cabeça em direção ao chão e dizendo as seguintes palavras: "Alahákubar" — e as pessoas respondem — "Alahá kubar," que significa: "Deus, ouve a nossa oração, responde a nossa oração". O sacerdote e o povo, então, ajoelhamse e pressionam a testa na terra, o sacerdote repete passagens do Alcorão, e o povo responde como [vimos] anteriormente. Depois que esta parte da cerimônia é terminada, o sacerdote e as pessoas sentadas no chão contam as suas miçangas (*rosário muçulmano), o sacerdote, ocasionalmente, repete passagens do Alcorão. Elas, então, oram pelo seu rei, para que Alá lhe ajuda a conquistas os seus inimigos, e para que ele preserve o povo da fome, dos gafanhotos devoradores, e para que ele lhes conceda chuva na devida estação. No término das cerimônias de cada dia, os adoradores do profeta vão para as suas respectivas casas, onde o melhor de tudo está providenciado para a refeição da noite. Esta mesma adoração é repetida diariamente ao longo de trinta dias, e termina com um imenso encontro em massa. O rei vem à cidade nessa ocasião e grandes multidões de todas as cercanias do país que, junto com os cidadãos, reunemse no local indicado para adoração, chamado Guigerah, um pouco afastado da cidade. Este lugar consagrado à adoração do falso profeta é um dos "Primeiros Templos de Deus". Ele consistia de várias árvores muito grandes, que formavam uma sombra muito extensa e bela, o solo arenoso e completamente desprovido de relva é mantido perfeitamente limpo, muitos milhares podem ficar confortavelmente assentados debaixo daquelas árvores, e por estarem a céu aberto, a aparência de assembleia tão majestosa é extremamente imponente, os assentos são meramente tapetes espalhados pelo chão. Um monte de areia (esta areia difere da areia do deserto: ela é uma areia vermelha grossa misturada com terra e pequenas pedras e pode facilmente ser transformada em um grande monturo) é feito para o sumo sacerdote porse de pé enquanto se dirige às pessoas. Nestas ocasiões ele está vestido com uma túnica preta e larga, que chega quase aos seus pés, e é servido por quatro sacerdotes auxiliares, que se ajoelham ao seu redor, segurando a barra da sua túnica, balançandoa de um lado para o outro. Eventualmente, o sumo sacerdote "agachase como um sapo," e quando ele se levanta, eles retomam a operação de balançar a sua túnica. Estas cerimônias terminam com as pessoas retornando para casa para oferecerem sacrifício (sarrah) pelos mortos e pelos vivos. Assim termina a festa anual. CAPÍTULO 7 O Início da Vida de Mahommah, Etc. Agora, prosseguiremos, sem demora, à parte mais importante da obra, descrevendo a história inicial, a vida, as provações, os sofrimentos e a conversão de Mahommah ao Cristianismo; a sua chegada à América; a sua viagem e permanência no Haiti e o retorno a este país; as suas visões, objetivos e propósitos. Os seus pais, como anteriormente declarado, eram de tribos ou nações diferentes. O seu pai era de religião maometana, mas a sua mãe não tinha religião nenhuma. Ele declara: "A minha mãe era como muitos cristãos bons daqui, que gostam de serem cristãos nominais, mas não gostam muito de adorar a Deus. Ela gostava muito do Maometanismo, mas não se importava muito com as questões que envolviam a adoração". Os maometanos são adoradores muito mais fervorosos do que os cristãos, e adoram com zelo e devoção mais aparente. A família consistia de dois filhos e três filhas, além de gêmeos que morreram na infância. Os africanos são muito supersticiosos com gêmeos; eles imaginam que todos os gêmeos são mais inteligentes que todos os outros filhos, e também com relação ao filho que nasce depois dos gêmeos. Eles são considerados conhecedores de quase tudo, e são tidos em alta estima. Se os gêmeos sobrevivem, uma imagem deles é feita a partir de uma madeira específica, uma decada um deles, e eles são ensinados a dar comida para elas, ou ofertar comida toda vez que têm alimento; se eles morrem, o filho que nasceu depois deles passa a tomar conta da imagem feita deles, e é sua obrigação alimentálas, ou ofertar comida para elas. Mahommah era o filho que nasceu depois dos gêmeos, e estas pequenas obrigações ele executava com fidelidade. Supunhase que as imagens os guardavam do mal e os protegiam na guerra. Ele era, consequentemente, altamente estimado por conta do seu nascimento; supunhase que ele jamais dissera nada errado, e tudo o que ele desejava era feito para ele no instante. Esta, sem dúvida, era a razão porque a sua mãe o amava tão afetuosamente, e era a causa da sua imprudência juvenil. Eles jamais o barraram ou o controlaram, a sua mãe era a única pessoa que ousava confrontálo; o seu amor pela sua mãe era muitissimo grande. O seu tio era um homem muito rico, ele era ferreiro do rei, e desejava que Mahommah aprendesse aquele ofício, mas o seu pai o destinou para a mesquita, na intenção de criálo com um dos fieis seguidores do profeta. Com este propósito ele foi enviado à escola, mas por não gostar muito da escola, ele foi morar com o seu tio e aprendeu a arte de fazer agulhas, facas e toda a sorte destas coisas. O seu pai, mais tarde, voltou a colocálo na escola, mas ele logo fugiu de lá; ele não gostava da restrição que o seu irmão (o professor) impunha sobre ele. O seu irmão era um leal maometano e bem instruído na língua árabe. Mahommah não progredia muito bem no aprendizado, tendo um receio natural a ele. A forma de ensino é bem diferente de outros países: os africanos não possuem livros, nem papeis, mas um quadro chamado Walla, no qual é escrita uma lição que o aluno deve aprender a ler e escrever antes de outra ser passada; quando essa lição é aprendida, o quadro é apagado e uma nova lição é escrita. Os estudantes não têm permissão de se ausentar sem a permissão especial do professor; se o aluno gazeia aulas, ele recebe punição. Nenhuma taxa é cobrada até que a educação seja terminada. A inspeção escolar é feita da seguinte maneira: Uma grande casa de reunião, geralmente uma mesquita, é selecionada, onde os alunos se reunem junto com os professores, que precisam abrir vinte capítulos do Alcorão, e se o aluno ler os vinte capítulos inteiros, sem errar uma única palavra, a sua educação é considerada terminada e as taxas de instrução são imediatamente pagas. O tio de Mahommah tinha propriedade em Salgar, para onde ele seguia para comprar ouro, prata, bronze e ferro para os propósitos do seu negócio. O ouro e a prata ele transformava em braceletes, para os braços, e brincos e anéis: os africanos são muito afeitos a este tipo de ornamento. As agulhas, na África, são feitas à mão, o processo é muito tedioso; em primeiro lugar o ferro é endurecido ou convertido em algo como o aço, ele é, então, tranformado em arame fino, por meio de um processo de martelamento, e cortado nos tamanhos adequados, conforme necessário, quando ele é, novamente, batido e afiado na ponta por meio de limagem e, finalmente, polido à mão pela fricção de uma pedra macia. A partir desta descrição da confecção de uma agulha, pode ser claramente vista a quantidade de trabalho que precisa ser empregada em todos os ramos da manufatora, por falta de ferramentas e maquinário melhores. Um fole africano merece a nossa atenção. Costumase dizer: "A necessidade é a mãe da invenção;" todo aquele que duvidar deste fato, que leia atentamente o seguinte, e se negar esta posição, certamente terá que admitir que a invenção do fole na África, certamente teve um "pai". O fole é composto de um couro de cabra retirado por completo, uma estaca atravessa do pescoço até as patas traseiras, onde ele é preso por uma ideia engenhosa. As pernas são movidas para cima e para baixo pela mão, e um velho cano de mosquete é usado como tubo. Enquanto o seu tio estava em Salgar para negócios, ele morreu, e deixou a sua propriedade para a mãe de Mahommah. Ele, então, trabalhou por um curto período com outro parente. É trabalho árduo a manufatura de implementos e ferramentas agrícolas. Maquinário é muitíssimo necessário na África, a falta dele é uma grande desvantagem para as manufaturas daquela região. O ferro é de primeira qualidade, muitissimo superior ao ferro da América. O ferro, o cobre e o bronze são transformados em anéis, que são usados como ornamentos nos tornozelos e braços. Há centenas e milhares de homens no mundo que se alegram em fazer o bem, e que estão procurando meios de empregar o seu tempo e os seus talentos. Para estes que examinam atentamente as páginas desta obra, a dica aqui lançada não poderá ser perdida. Um vasto campo de utilidade se apresenta naquela parte muito negligenciada do mundo, onde devem ser encontrados homens que somente precisam de ensinamentos para virarem bons cidadãos, bons mecânicos, bons fazendeiros, bons homens e bons cristãos. Para aqueles que direcionariam os seus esforços em favor de tal nação, nenhuma dúvida resta, senão que Deus abençoaria os seus trabalhos; as suas ações os louvariam, e milhões que ainda não nasceram os chamariam de bemaventurados. Ide, portanto, vós, filântropos, homens e mulheres cristãos, até estes povos obscurecidos, ofereceilhes a mão de assistência e erguei lhes ao padrão dos seus companheiros, e dai todo o consentimento que puderes aos seus esforços rumo à utilidade e bondade, jamais se importando com a zombaria e com as carrancas de um mundo frio e indiferente; que as vossas obras possam ser de tal natureza que todos os homens bons possam falar bem de vós, e as vossas próprias consciências lhes dê aprovação. A África é rica em todos os aspectos (exceto no conhecimento). O conhecimento do homem branco é necessário, mas não os seus vícios. A religião do homem branco é necessária, mas mais dela, mais do espírito da verdadeira religião, tal como a Bíblia ensina: "Ama a Deus e ama ao homem". Quem irá até a África? Quem levará a Bíblia para lá? E quem ensinará aos pobres africanos obscurecidos, as artes e as ciências? Quem fará tudo isso? Que a resposta seja pronta, que ela seja cheia de vida e energia! Que a ordem do Salvador seja obedecida. "Ide a todo o mundo e pregai o evangelho". Salvai a todos os que estão perecendo por falta de conhecimento, pois à falta daquele conhecimento, vós tendes o poder de transmitilo. Não mais hesiteis, pois esta é a hora, o tempo aceitável: "vem a noite, quando homem nenhum pode trabalhar," e o dia (o nosso dia) e o dia declina rapidamente. Ó, amigos cristãos, levantaivos e passai a agir. O irmão de Mahommah era uma espécie de sortista que, quando o rei estava prestes a sair para a guerra, era consultado por ele, para saber se a questão da guerra seria a seu favor ou não; isto era feito por sinais e figuras feitas na areia, e tudo o que ele predizia era totalmente crido como algo que ocorreria, de modo que pelo seu próprio poder misterioso ele era capaz, tanto de fazer com que o rei fosse à guerra, quanto de colocar um fim à questão. Ele, certa vez, foi a Bergu, que ficava a leste de nós, a uma certa distância, onde permaneceu por dois anos. Uma grande guerra foi travada durante aquele tempo e ele foi tomado como prisioneiro, mas foi liberto pela sua mãe, a qual pagou uma redenção, quando ele retornou de volta para casa. Ele, então, foi para Daboyya, que ficava bem longe, na direção sudoeste de Zugu, do outro lado de um rio muito grande. Naquele lugar, uma grande quantidade de artigos de manufaturaeuropeia poderiam ser encontrados, tais como garrafas de vidro, copos, pentes, calicôs, etc., porém as construções eram, na sua maioria, semelhantes às de Zugu, mas a cidade não era rodeada por muralhas, como esta última. Aqui também o rei estava em guerra e convidou o meu irmão. A causa dessa guerra era que o rei havia morrido, e uma disputa havia surgido (como costuma ser o caso) entre dois irmãos, [sobre] qual deveria ser o rei; eles adotaram tais meios para dedicir quem deveria suceder, e aquele que conseguisse reunir as maiores forças seria o sucessor. O candidado mal sucedido se colocaria dabaixo da proteção de um rei vizinho, até que conseguisse reunir forças suficientes para poder vir exitosamente à guerra e, desse modo, arrancar o reino do seu irmão. Depois do irmão de Mahommah ter permanecido um certo tempo com o rei, o próprio Mahommah foi para lá com muitos outros para carregar grãos, já que estes ali haviam se tornado escassos por conta da guerra. Durava cerca de dezessete dias a viagem desde Zugu, a forma da viagem sendo a pé, com as sacas de grão sobre a cabeça; um modo um tanto tedioso e desagradável de viajar e transportar mercadorias, considerando as facilidades para tais propósitos proporcionadas na América e na Europa. Eles chegaram com segurança em um sábado, e ouviram que a guerra seria travada naquele dia, mas ela não foi retomada até o dia seguinte. O rei recebeu palavra do seu conselheiro para sair e encontrar o inimigo no bosque, mas não fez assim. Ele, então, foi até a casa do Rei, e depois de fazer o desjejum na manhã seguinte, os mosquetes começaram a se fazer ouvir, e a guerra prosseguiu de forma séria. Mosquetes foram usados por eles nessa ocasião, muito mais do que arcos e flechas. A guerra ficou demasiadamente quente para o rei, quando ele, junto com o seu conselheiro, fugiram para salvar as suas vidas. Os meus companheiros — diz Mahommah — e eu mesmo corremos para o rio, mas não o conseguimos atravessar; nós nos escondemos no mato alto, mas o inimigo veio e nos encontrou, e fez de nós todos prisioneiros. Eu fui amarrado com muita força; colocaram uma corda ao redor do meu pescoço e me levaram com eles. Nós viajamos através de um bosque e chegamos a um local que eu jamais esquecerei, cheio de mosquitos! Só que eram mosquitos de verdade, nada destas pequenas moscas, maruins ou bichos do gênero, que as pessoas da América do Norte chamam de mosquitos, mas bichos realmente famintos, com ferrões e sugadores capazes de drenar cada gota de sangue do corpo de um homem de uma única vez. Eles vinham zumbindo, zumbindo perto dos nossos ouvidos e nos picavam, cheios de irada vingança. Eu jamais desejo estar naquele lugar novamente, nem em nenhum outro semelhante; foi verdadeiramente horrível. Enquanto viajava pelo bosque, nós encontramos o meu irmão, mas nenhum de nós falou ou pareceu conhecer um ao outro; ele se virou para outro caminho sem levantar qualquer suspeita; e, então, seguiu para um lugar e conseguiu uma pessoa para me comprar. Caso se soubesse quem ele era, eles teriam insistido num grande preço pela minha redenção, mas foi necessária somente uma pequena soma para a minha soltura. Deveria ser mencionado que a cidade foi destruída, as mulheres e crianças expulsas. Quando as guerras irrompem subitamente, as mulheres e crianças não têm meios de escapar, mas são tomadas como prisioneiras e vendidas à escravidão. Depois da minha compra e soltura, o meu irmão me enviou de volta para casa com alguns amigos, na minha volta para casa, eu fiz uma vista ao nosso rei. Ele era parente da minha mãe. Alguns dias depois, enquanto estava em casa, o rei mandou me chamar e disse que queria que eu morasse sempre com ele, assim, eu permaneci na sua casa, e ele me designou como um Cherecoo, isto é, uma espécie de guarda costas do rei. Eu era somente o terceiro a partir do rei, Magazee e Waroo, estando somente os dois acima de mim em patente, depois do próprio rei. Magazee era um homem velho, e Waroo, um jovem. Eu ficava com o rei dia e noite, comia e bebia com ele, e era o seu mensageiro dentro e fora da cidade. O rei não residia na cidade, mas a alguns quilômetros dela. (Os africanos têm uma forma curiosa de calcular as distâncias, eles levam as cargas sobre a cabeça e seguem até cansar, que é chamado Lochafau, e em inglês, significa uma milha!) O rei (continua Mahommah) não guardava nada de mim mas, às vezes, quando ele tinha assuntos muito importantes em mãos, ele consultava Magazee, que era mais experiente. Os reis são chamados Massasaba, e governam vários lugares, e, a exemplo dos Faraós da antiguidade, todos são chamados de Massasaba. Quando o rei da cidade morre, os Massasabas são convocados a decidirem quem os sucederá. Se a guerra selhes sobrevém, ele é encontrado, antes de tudo, entre os bravos; a sua residência é, geralmente, em um denso matagal, edificada segundo o costume do país, mas guarnecida na parte externa com mármore. Há dois tipos de mármores lá, um muito branco, e o outro vermelho; estes mármores são triturados até virarem um pó fino, apesar da argamassa que é usada na construção de casas ser macia, pedaços de mármore são retirados e prensados nela, em todos os formatos e figuras fantásticas que se possa imaginar, o que torna a parede mais firme e proporciona à construção, depois de terminada, uma aparência bela e ornamental. O pilão no qual as mulheres moem os inhames e o Harnee até se transformarem em farinha, mencionado anteriormente nesta obra, exige uma atenção semelhante, por ser muito interessante. Um número de homens adentroa a floresta e seleciona uma árvore muito grande de uma espécie específica que é usada para este propósito, derrubaa, e corta uma tora com cerca de um metro e vinte; ela é, então, perfurada e polida delicadamente e, quando tudo está pronto, o rei convida um grande número de homens, que o rolam à mão até à sua casa e o põe onde se deseja que ele permaneça. Este pilão é, geralmente, tão grande em circunferência que dez ou quinze pessoas podem ficar de pé para trabalhar ao seu redor de uma só vez. Massasaba era um homem generoso e dado à hospitalidade — consequentemente, [ele] tinha muita companhia. Eles amam as festas na Áfria, bem como em qualquer outra parte do mundo, e quando os reis fazem banquetes, tudo o que o país pode proporcionar é servido. Isto os torna muito populares com as pessoas. Mahommah não consegue afirmar distintamente quanto tempo ele viveu com o rei, mas foi um período considerável de tempo; enquanto ali esteve ele se tornou muito ímpio. Porém — afirma ele — naquela época, eu pouco sabia o que era a impiedade; as práticas dos soldados e guardas, hoje estou convencido, eram, verdadeiramente, muito más, pois tinham plenos poderes e autoridade da parte do rei para cometer toda sorte de depredação que desejassem sobre o povo sem temer a sua desaprovação, ou punição. Todas as vezes, quando eles estavam curvados à maldade, ou imaginavam que precisavam de alguma coisa, eles se lançavam sobre o povo e tomavam deles tudo o que escolhiam, já que a resistência estava totalmente foram de questão e era inútil, sendo conhecido o decreto do rei ao longo de todo o país. Estes privilégios eram concedidos às tropas militares em lugar de pagamento, de modo que saqueávamos para fins de sobrevivência. Se o rei necessitava de vinho de palmeira para um banquete, ou para qualquer outra ocasião eleme enviada; e eu levava alguns dos seus escravos comigo, e sabendo por qual rota do país as pessoas carregadas com vinho chegavam até a cidade, eu, junto com os escravos, escondiame no capim alto, enquanto um do nosso grupo subia em uma árvore alta, e ficava de vigia, esperando qualquer um que passasse. Tão logo ele espiasse uma mulher com uma cabaça sobre a cabeça — as mulheres somente carregam o vinho para o mercado — ele nos informava, e nós, instantaneamente a cercávamos e tomávamos o vinho. Se o vinho fosse bom, ela o perdia; se fosse ruim, nós o devolvíamos a ela, já que o rei jamais bebia vinho ruim, mas com a advertência de que ela não deveria contar a ninguém que os guardas estavam em emboscada, do contrário não poderíamos mais atacar outras pessoas, e o rei ficaria sem o seu vinho. Dessa forma, um pedágio é cobrado de todos que carregam vinho para dentro da cidade, toda vez que o rei necessita dele. Se uma mulher não carrega vinho suficiente para o uso do rei, outras são abordadas da mesma maneira até que [vinho] suficiente seja obtido; outros artigos também são apreendidos toda vez que o rei deles necessita. Na frente da casa, ou do palácio, do rei havia um pátio muito amplo, formosamente sombreado por árvores majestosas; em um lado deste pátio havia três ou quatro árvores, debaixo das quais um trono rústico foi construído de terra lançada em um monturo e coberto com argamassa, sendo unido de árvore a árvore, que tinha vários palmos de altura, e ascendia por degraus do mesmo material. No trono havia um assento, almofadado, e coberto com couro vermelho, feito com pele de Bahseh, a qual não era usada para outro propósito. Em cada um dos lados, havia assentos para as suas duas jovens esposas, que eram ocupados por duas das suas favoritas na sua ausência. O meu assento era aos pés do trono, em um dos lados dos degraus, e o de Waroo no outro; mais além ficava o assento ocupado por Magazee. O rei bebia na presença das suas esposas, mas não comia. Toda vez que ele bebia, uma das suas esposas ou favoritas se ajoelhava diante dele e colocava as suas mãos debaixo do seu queixo, de modo a impedir que qualquer sobra de bebida pudesse pingar sobre a sua pessoa. Na ausência delas, essa obrigação recaía sobre mim. Toda vez que o rei precisava de mim para alguma coisa, ele dizia: "Gardowa". Eu respondia: "Sabee" (um termo usado somente diante do rei) e imediatamente corria em direção a ele, caindo com o rosto em terra diante dele, em uma atitude que demonstrava o máximo da atenção respeitosa. Ele, então, declarava o que ele precisava, e eu saía a toda velocidade para obedecer as suas ordens, o caminhar não era permitido quando se tratava dos negócios do rei. Quando ele desejava alguma coisa de Magazee, ele me chamava, para comunicar a ele a sua vontade. Assim, eu era mantido correndo da manhã até a noite, enquanto os seus banquetes seguiam. Era um trabalho muito árduo atender aquele rei, posso assegurar a vocês, caros leitores. Nos banquetes do rei, todas as principais figuras se reuniam e jantavam com ele, os mais importantes se entretiam na casa de Magazee, e os demais nas outras casas, de modo que os convidados ficavam espalhados em todo o redor. É a obrigação das mulheres preparar a comida, etc. Sem dúvida, seria altamente interessante para a maioria dos nossos leitores apresentar uma descrição mais completa das maneiras e costumes do povo, e nos daria grande prazer fazêlo, caso os limites da presente obra nos permitissem; só que de momento, esperamos que eles se contentem e se agradem com o que já foi visto e escrito para eles, esperase que eles se beneficiem com a leitura minuciosa. Em alguma outra ocasião, caso o público considere adequado prestigiar estas poucas folhas avulsas, pode ser que um volume maior e mais extenso possa ser editado pelo autor da presente obra, no qual será passado com mais detalhes todo o seu conhecimento da África e dos africanos. Agora, finalmente, passaremos à parte mais interessante da história de Mahommah, que trata da sua captura na África e subsequente escravidão. Apresentaremos a questão, praticamente, nas suas próprias palavras. Como já foi dito, quando qualquer pessoa apresenta evidência de ter conquistado uma posição de eminência no país, ela é imediatamente invejada, e são tomadas medidas para removêla do caminho; assim, quando foi visto que a minha situação era de lealdade e confiança diante do rei, eu fui, obviamente, logo, separado como objeto adequado de vingança por uma classe invejosa dos meus compatriotas, atraído para uma cilada e vendido para a escravidão. Eu fui à cidade um dia para visitar a minha mãe, quando fui seguido por um músico (tocador de atabaques) e chamado pelo meu nome. O atabaque batia ao ritmo de uma música que havia sido composta, aparentemente, em honra a mim, supunha eu, por causa da minha posição elevada diante do rei. Isto muito me agradou, e eu me senti altamente lisonjeado, ficando muito generoso, dei ao povo dinheiro e vinho, [enquanto] eles cantavam e gesticulavam o tempo todo. A cerca de um quilômetro e meio da casa da minha mãe, onde uma bebida forte chamada Bahgee, era feita de um grão chamado Harnee; para lá fomos, e quando eu havia bebido quantidade excessiva de Bahgee, fiquei muito intoxicado, e me persuadiram a ir com eles até Zaracho, a cerca de um quilômetro e meio de Zugu, para visitar um rei estranho, o qual eu jamais havia encontrado anteriormente. Quando nós chegamos lá, o rei nos exaltou a todos, e um grande banquete foi preparadoo, e muito bebida me foi dada, na verdade todos pareciam beber muito livremente. Na manhã quando eu acordei, descobri que era prisioneiro, e todos os meus companheiros haviam partido. Ó horror! Descobri, então, que havia sido traído [e lançado] nas mãos dos meus inimigos, e vendido como escravo. Eu jamais esquecerei os meus sentimentos naquela ocasião: as lembranças da minha pobre mãe me perturbavam sobremaneira, e a perda da minha liberdade e da minha posição honorável diante do rei me angustiava muito severamente. Lamentei amargamente a minha insensatez ao ser tão facilmente enganado, sido levado a afogar toda a cautela numa taça. Não tivessem os meus sentidos sido tirados de mim, havia chance de eu ter escapado das suas ciladas, pelo menos daquela vez. O homem, em cuja companhia eu me vi largado pelos meus cruéis companheiros era uma pessoa cuja tarefa era livrar o país de todas as pessoas semelhantes a mim. A forma como ele me prendeu, foi a seguinte: Ele tomou um galho de árvore que tinha dois dentes, e cortou de forma que ele se atravessasse na minha nuca, ele foi, então preso pela parte frontal com um ferrolho; a estaca tinha cerca de 1,80 metros de comprimento. Confinado, assim, fui levado em marcha até o litoral, a um lugar chamado Aru zo, que era uma grande aldeia; ali encontrei alguns amigos, que muito lamentaram a minha situação, mas não tinham meios para me ajudar. Nós somente ficamos ali somente por uma noite, já que o meu senhor queria apressar as coisas, pois eu lhe havia dito que fugiria e iria para casa. Ele, então, levoume para um lugar chamado Chirachuri, ali eu também tinha amigos, mas não pude encontrálos, pois ele mantinha vigilância muito atenta sobre mim, e sempre em lugares preparados para o propósito de manter os escravos em segurança; havia furos nos muros nos quais os meus pés foram colocados (uma espécie de armazém [de escravos]). Ele,então, levoume para um lugar chamado Chammah — depois de passar por muitos lugares estranhos (cujos nomes não consigo me lembrar) onde me vendeu. Nós havíamos estado, então, cerca de quatro dias longe de casa e viajado muito rapidamente. Eu permaneci somente um dia, quando fui, novamente, vendido para uma mulher, que me levou para Efau; ela tinha junto com ela alguns moços, em cujo encargo eu fui entregue, mas ela viajou conosco; estivemos vários dias a caminho de lá; eu sofri muito caminhando no meio da mata, e não vi um ser humano a viagem toda. Não havia um caminho pronto, mas precisávamos abrir passagem da melhor forma que podíamos. Os habitantes do entorno de Chammah vivem principalmente da caça de animais selvagens, que são muito numerosos por lá; eu vi vários naqueles dois dias, mas não sei os seus nomes em inglês; o povo anda quase nu e são da mais rude descrição. A região pela qual passamos depois de deixar Chirachiri era bem montanhosa, com muita água de boa qualidade, as árvores eram muito grandes; não sofremos nada com o calor na região, já que o clima era bem fresco e agradável; ali seria uma terra saudável e aprazível, caso fosse cultivada e habitada por pessoas civilizadas; as flores são várias e belas, as árvores, cheias de pássaros, grandes e pequenos, alguns cantam de forma muito agradável. Nós atravessamos vários cursos d'água, os quais, caso não fosse a estação seca, teriam sido muto profundos, pois tal como estavam foram facilmente transpostos, não havendo mais do que noventa centímetros de água em alguns lugares. Havia grandes quantidades de aves aquáticas brincando por lá; vimos cisnes em abundância, tentamos matar alguns, mas achamos muito difícil, já que os seus movimentos são muito rápidos sobre a água; eles têm uma aparência exuberante quando estão em voo, com o pescoço e asas estendidos no ar, eles são perfeitamente brancos, jamais voam muito alto e nem muito longe; a sua carne é adocicada e boa, e é considerada um grande prato. Depois de passar pela mata, chegamos a um pequeno lugar, onde a mulher que havia me comprado tinha alguns amigos; aqui fui muito bem tratado, na verdade, durante o dia, porém, à noite foi duramente confinado, pois temiam que eu fugisse: não consegui dormir a noite toda, pois mantido a duras amarras. Depois de permanecer ali pelo período de dois dias, nós começamos a nossa viagem de volta, viajando dia após dia; a região pela qual passamos continuava bastante acidentada e montanhosa; passamos por algumas montanhas muito altas, as quais creio serem chamadas de montanhas de Kong. O clima continuou ameno e agradável o tempo todo, a água era encontrada em grande abundância, de qualidade muito excelente, as estradas, em alguns lugares, onde a terra era plana, eram bastante arenosas, mas somente por curtas distâncias. A região era pouquíssimo povoada ao longo de todo o caminho desde Chammah, a mata ao longo da rota não era muito vasta, mas grandes extensões de terra, cobertas com um mato muito alto. Nós passamos por alguns lugares onde o fogo havia consumido o mato, algo semelhante às pradarias do sul e sudoeste da América do Norte. Descreverei aqui a maneira de incinerar o mato na África. O mato, ao ficar muito alto, é um refúgio ou esconderijo para animais selvagens, que são abundantes naquela região, e quando se decide colocar fogo no mato, todas as pessoas são avisadas a quilômetros em redor, e os caçadores vêm preparados com arcos e flechas e se posicionam ao redor ao longo de quilômetros e formam um grande círculo; quando o fogo é feito em um ponto, a parte oposta logo percebe e imediatamente ateia fogo na sua porção, e assim por diante, em redor de tudo até que tudo esteja ardendo; o fogo pega por dentro, em direção ao centro, jamais se espalhando fora do círculo; os caçadores seguem as chamas e, estando preparados com ramos de árvores, com folhas grandes, lançamnos ao chão diante deles, para que sobre eles possam ficar de pé, para poder lançar as suas flechas sobre os animais aterrorizados, que fogem diante do elemento devorador para o centro do fogo; os caçadores, obviamente, seguindo a sua caça em derredor por fora da massa ardente, matando tudo diante deles enquanto avançam; pois são excelentes atiradores, e as pobres criaturas apavoradas têm pouquíssima chance de sobreviver nestas horas; números imensos são mortos, assim como serpentes em grandes quantidades. Porém, retornando [à nossa viagem]: Enquanto passávamos por estes lugares que haviam sido recentemene incendiados, a nossa viagem era muito mais rápida, sem muito para impedir o nosso avanço, mas onde o mato se punha como parede nos dois lados, tínhamos que seguir de modo muito cauteloso, temendo que animais selvagens pudessem dar o bote e cair sobre nós. O povo da América não conhece nada sobre mato alto, tal como existe na África; o mato alto das pradarias americanas é como uma criança do lado de um gigante, em comparação com o mato da zona tórrida. Ele cresce, geralmente, a pouco mais de 3,5 metros de altura, mas, às vezes, muito mais alto e nada que esteja muito próximo de você pode ser visto de tão grosso e fechado que ele é; ainda mais fechado que os bosques baixos de madeira deste país. Finalmente chegamos a Efau, onde fui novamente vendido; a mulher parecia triste em ter que se despedir de mim e me deu um pequeno presente quando me separei do grupo. Efau é um lugar muito grande, as casas eram de construção diferente daquelas de Zugu, e não tinham uma aparência tão boa. O homem para quem fui novamente vendido era muito rico e tinha um grande número de esposas e escravos. Eu fui colocado no comando de um velho escravo; enquanto uma grande dança foi feita e fiquei com medo de que fossem me matar, pois havia ouvido falar que assim faziam em alguns lugares, e imaginei que a dança fosse somente uma parte preliminar da cerimônia; de qualquer forma, eu não me senti nem um pouco confortável com aquela questão. Estive em Efau por várias semanas e fui muito bem tratado durante aquele tempo; mas como não gostei do trabalho que me atribuíram, eles perceberam que eu estava insatisfeito, e como ficaram temerosos em me perder, trancafiavamme todas as noites. A região ao redor de Efau era muito montanhosa, e da cidade as montanhas, ao longe, tinha uma aparência nobre. Depois de sair de Efau, não fizemos parada até que chegamos a Dohama; permanecemos na mata à noite e viajamos durante o dia, pois havia bestas selvagens em grande abundância, e éramos forçados a fazer grandes fogueiras à noite para manter afastados os animais ferozes que, de outra sorte, teriam se lançado sobre nós e nos feito em pedaços, podíamos ouvilos uivando em derredor durante a noite; havia um [animal] específico ali ao redor que as pessoas temiam sobremaneira; ele tinha a forma de um gato com um corpo comprido, alguns eram todos de uma cor só, outros com pintas muito bonitas; os seus olhos brilhavam como orbes de chamas brilhosas à noite, ele é ali chamado de Gunu. Eu presumo, pela descrição, que deva ser o que aqui se conheça como o leopardo, pois pelo que entendo, a descrição é aproximadamente a mesma. Dohama fica a cerca de três dias de viagem de Efau, e é uma cidade bem grande; as casas eram construídas de modo diferente do que eu havia visto anteriormente. A região ao redor é plana e as estradas são boas; ela é mais densamente povoada do que qualquer outra partepela qual eu havia passado, embora não tanto quanto Zugu, os costumes do povo também, eram, no geral, diferentes de tudo que eu já tinha visto anteriormente. Eu estava sendo conduzido pela cidade, e à medida que passávamos ao largo dela, fomos encontrados por uma mulher e o meu guardador, que estava comigo, imediatamente pôsse de pé e voltou correndo o mais depressa que pôde. Fiquei de pé paralisado, sem saber o significado daquilo; ele viu que não tentei seguilo, nem me mover para ou lado nem para outro, e me chamou na língua de Efau para acompanhálo, o que fiz, ele, então, contoume, depois de descansarmos, que a mulher que havíamos encontrado era a mulher do rei, e que é sinal de respeito correr toda vez que ela é vista por qualquer um dos seus súditos. Havia portões na sua cidade, e um pedágio era exigido para que eles fossem atravessados. Eu permaneci ali somente por um curto período, mas aprendi que aquele era um grande lugar para um uísque e que as pessoas eram muito afeitas às danças. Neste lugar eu vi laranjas pela primeira vez na minha vida. Fui informado, enquanto ali estive, que a casa do rei era ornamentada pelo lado de fora com crânios humanos, mas não vi isto. Quando nós chegamos aqui eu comecei a perder todas as esperanças de um dia retornar para o meu lar, mas havia alimentado esperanças, até este momento, de poder implementar a minha fuga e, de uma forma ou de outra, rever o meu lugar nativo, mas, finalmente, a esperança caía por terra; o [seu] último raio parecia desaparecer, e o meu coração se sentia triste e exausto dentro de mim, quando pensava na minha casa, na minha mãe, a quem eu amava com ternura suprema, e a ideia de jamais fitála com o meu olhar acrescentava muito mais às minhas perplexidades. Eu me sentia triste e solitário, toda vez que andava errante, com o coração apertado dentro de mim ao pensar nos "velhos amigos de casa". Algumas pessoas supõem que o africano não possui nenhum dos sentimentos mais sublimes da humanidade dentro do seu peito, e que o leite da bondade humana não corre através da sua constituição; isto é um erro, um erro da pior espécie: os sentimentos que animaram toda a raça humana, vivem dentro das criaturas negras da zona tórrida, tanto quanto nos habitantes das zonas temperada e fria; os mesmos impulsos levamnos à ação, o mesmo sentimento de amor se movimento no seu seio, as mesmas afeições maternais e paternais estão lá, as mesmas esperanças e temores, aflições e alegrias, na verdade tudo está ali como no resto da humanidade; a única diferença está na sua cor, e isto foi preparado por aquele que criou o mundo e tudo o que nele há, os céus, e as águas do poderoso abismo, a lua, o sol e as estrelas, o firmamento e tudo o que foi criado desde o princípio até agora, portanto, por que alguém deveria desprezar as obras das suas mãos, as quais foram criadas e formadas segundo a força do Todopoderoso, na plenitude da sua bondade e da sua misericórdia. Ó vos desprezadores das suas obras, olhai para vós mesmos, e atentai; que aquele que pensa se por de pé, atentai para que não caiais. Nós, então seguimos para Grafe, uma viagem que durava cerca de um dia e meio; a terra pela qual passamos era muito densamente povoada e, no geral, bem cultivada; mas não me lembro de termos passado por nenhum curso d'água depois de entrarmos nesta região de terra plana. Em Grafe, eu vi o primeiro homem branco, o qual, você pode ter certeza, chamou muito a minha atenção; as janelas das casas também pareciam estranhas, já que esta era a primeira vez na minha vida que via casas com janelas. Eles me levaram para a casa de um homem branco, onde permanecemos até a manhã, quando o meu café da manhã me foi trazido, e imagine a minha surpresa ao descobrir que a pessoa que serviu o cafédamanhã era um velho conhecido, que também vinha do meu lugar. Ele não me reconheceu logo de cara, mas quando ele me perguntou se o meu nome era Gardo, e eu confirme que era, o pobre companheiro ficou maravilhado e tomou me pelas mãos e me sacudiu violentamente de tão feliz que ficou em me encontrar: o seu nome era Wuru, e ele era de Zugu, tendo sido feito escravo há cerca de dois anos; os seus amigos não sabiam o que havia acontecido com ele. Ele me perguntou sobre os seus amigos de Zugu, perguntoume se eu havia vindo recentemente de lá, olhou na minha cabeça e observou que eu tinha o mesmo tipo de raspagem de pelos que eu tinha quando andávamos juntos em Zugu; eu lhe disse que tinha. Pode ser importante observar aqui que na África, as nações das diferentes partes da região têm difentes modos de cortar os pelos da cabeça e, a partir destas marcas se sabe de que parte da região a pessoa vem. Em Zugu, os cabelos são raspados nos dois lados da cabeça, e no alto da cabeça, da testa até a nuca, o cabelo é deixado crescer em três lugares, em formato redondo, os quais se deixa crescer até o cabelo ficar muito comprido; os espaços intermediários são raspados bem próximos; não há dificuldade para uma pessoa familiarizada com os diferentes tipos de raspagem conhecer de que parte [da África] vem um homem. Wuru parecia muito ansioso para que eu permanecesse em Grafe, mas eu estava destinado a outras partes; esta aldeia fica situada junto a um grande rio. Depois do cafédamanhã, desceramme até o rio e me colocaram a bordo de um barco; o rio era muito grande e se repartia em duas direções diferentes, antes de desaguar no mar. O barco no qual os escravos eram colocados era grande e impulsionado por remos, embora ele tivesse também velas, porém não sendo os ventos suficientemente fortes, remos eram também usados. Nós estivemos duas noites e um dia neste rio, quando chegamos a um local muito bonito cujo nome não me lembro; não ficamos ali por muito tempo, mas tão logo os escravos foram todos reunidos e o navio preparado para velejar, não perdemos tempo em nos lançarmos ao mar. Enquanto estivemos neste local, todos os escravos foram colocados em um curral, de costas para uma fogueira, e receberam ordens para não olhar ao redor para nós e, para assegurarse da obediência, um homem foi colocado na frente com um chicote na sua mão pronto para golpear o primeiro que ousasse desobedecer às ordens; outro homem, então, andava em redor com um ferro quente e nos marcava com o ferro quente (estigma) da mesma forma que faziam com a tampa dos barris, ou outros objetos ou mercadorias inanimadas. Quando todos estavam prontos para subir a bordo, fomos acorrentados juntos, e amarrados com cordas ao redor do pescoço e fomos, assim, puxados para baixo até a beiramar. O navio estava fundeado a uma certa distância. Eu nunca tinha visto um navio antes, e a ideia que eu fazia dele era que se tratava de algum objeto de adoração do homem branco. Eu imaginei que nós seríamos todos massacrados; e estávamos sendo levados para lá para este propósito. Sentime alarmado pela minha segurança, e o desânimo quase tomou posse de todo o meu ser. Uma espécie de festa foi feita em terra naquele dia, e aqueles que remaram os barcos ficaram fartamente regalados com uísque, e os escravos receberam arroz e outras coisas em abundância. Eu não estava ciente de que aquela deveria ser a minha última festa na África. Eu não sabia do meu destino. Feliz de mim, que não sabia. Tudo o que eu sabia era que eu era um escravo acorrentado pelo pescoço, e que deveria pronta e voluntariamente me submeter, viesse o que viesse, o que eu considerava ser o máximo que eu tinha o direito desaber. Por fim, quando chegamos à praia e nos pusemos de pé sobre a areia, ó como eu quis que aquela areia se abrisse e me engolisse ali mesmo. Não consigo descrever a minha miséria. Ela vai além do que se pode descrever. O leitor pode imaginar, mas qualquer coisa que se aproxime do esboço dos meus sentimentos ficaria ainda muito aquém da realidade, para ser honesto. Havia escravos trazidos para ali de todas as partes da região, e levados para bordo do navio. O primeiro barco havia chegado até o navio com segurança, apesar do vento forte e do mar bravio; porém o último barco que se aventurou acabou virando, e todos que estavam nele se afogaram, à exceção de um homem. O número dos que se perderam foi de cerca de trinta pessoas. O homem que se salvou era fisicamente muito robusto, e estava na proa da embarcação com uma corrente na sua mão, a qual ele agarrou com muita força a fim de estabilizar a embarcação; e quando o barco virou de lado, ele foi lançado ao mar junto com o restante dos homens, mas ao subir [o barco], de algum modo, debaixo do barco, conseguiu fazêlo girar novamente e, assim, salvouse ao lançarse sobre ele, quando ele se retornou à posição correta. Isto exigiu grande força, e ser um homem forte lhe deu vantagem sobre os demais. O próximo barco que foi lançado ao mar, foi o barco no qual eu fui posto; mas Deus considerou apropriado me poupar, talvez por algum bom propósito. Eu fui, então, posto naquele que é o mais horrível de todos os lugares, O NAVIO NEGREIRO Os seus horrores, ah! Quem poderá descrever? Ninguém poderá representar tão verdadeiramente os seus horrores como o pobre infeliz, miserável desgraçado que foi confinado dentro dos seus portais. Ó amigos da humanidade, tenham piedade do pobre africano, que foi ludibriado e vendido do convívio dos seus amigos e do seu lar, e enviado para o porão de um navio negreiro, para esperar por mais horrores e misérias em uma terra distante, no meio dos religiosos e benevolentes. Sim, exatamente no meio deles; mas rumo ao navio! Fomos lançados no porão do navio em estado de nudez, os homens espremidos de um lado e as mulheres do outro; o porão era tão baixo que não conseguíamos ficar de pé, mas éramos obrigados a nos agachar sobre o piso ou a nos sentarmos; dia e noite eram a mesma coisa para nós, o sono nos era negado pela posição de confinamento dos nossos corpos, ficamos desesperados com o sofrimento e fadiga. Ó! A asquerosidade e imundície daquele lugar horrível jamais desaparecerão da minha memória; não, enquanto a minha memória tomar lugar neste cérebro distraído me lembrarei daquilo. O meu coração ainda hoje adoece quando penso naquilo. Que os indivíduos humanos que são a favor da escravidão somente se permitam tomar o lugar do escravo no porão fétido de um navio negreiro, só por uma viagem da África para a América, e sem falarmos nos horrores da escravidão que vão além disso, se eles não saírem dali como abolicionistas, então, nada mais tenho a declarar a favor da abolição. Porém, considero que as suas visões e sentimentos acerca da escravidão serão modificados em certo grau; do contrário, que continuem no curso da escravidão, e que passem o seu tempo em um campo de algodão ou arroz, ou outra plantação e, então, se não disserem: "parem, basta!" Creio que eles devem ser feitos de ferro, não possuindo coração nem alma. Imagino que só possa existir um lugar mais horrível em toda a criação do que o porão de um navio negreiro, e este lugar é onde os senhores de escravos e os seus lacaios muito provavelmente se encontrarão algum dia, quando, ai deles, será tarde demais para se falar "ai deles"! A única comida que tínhamos durante a viagem era milho cozido mergulhado em água. Não consigo dizer quanto tempo ficamos confinados daquela maneira, mas pareceu um período muito longo. Nós sofremos muitíssimo com a falta d'água, mas nos era negado tudo o que precisávamos. Meio litro por dia era tudo o que era permitido, e nada mais; e um grande número de escravos morreu na travessia. Houve um pobre companheiro que ficou tão desesperado pela falta d'água, que tentou retirar de supetão a faca do homem branco que trazia a água, quando foi levado para o convés, no alto, e eu jamais soube o que sucedeu a ele. Suponho que ele tenha sido lançado ao mar. Quando qualquer um de nós se rebelava, a sua carne era cortada com uma faca, e pimenta e vinagre eram esfregados a fim de nos tornar dóceis (!) Inicialmente eu sofri, junto com o restante de nós, muito de enjoo do mar, mas isso não provocava nenhuma preocupação nos nossos brutais proprietários. Os nossos sofrimentos eram só nossos, não tínhamos ninguém com quem compartilhar as nossas aflições, ninguém para cuidar de nós, nem para nos falar uma palavra de consolo. Alguns eram lançados ao mar enquanto ainda tinham fôlego nos seus corpos; quando se pensava que uma pessoa não conseguiria viver, eles se livravam dela dessa forma. Só duas vezes durante a viagem tivemos permissão para subir ao convés para nos lavarmos uma vez em alto mar e outra vez um pouco antes de entrarmos no porto. Chegamos em Pernambuco, na América do Sul, de manhã cedo, e o navio passeou pela região durante o dia, sem chegar a lançar âncora. Durante todo aquele dia nós não comemos nem bebemos nada, e fizeramnos entender que deveríamos permanecer em perfeito silêncio, sem fazer nenhum tipo de alarde, do contrário as nossas vidas estariam em perigo. Porém, quando "a noite lançou o seu manto negro sobre terra e mar" a âncora foi lançada e tivemos permissão para subir ao convés para sermos vistos e apalpados pelos nossos futuros senhores, que tinham vindo a bordo da cidade. Nós atracamos a algumas milhas da cidade, na casa de um fazendeiro, que era usada como uma espécie de mercado de escravos. O fazendeiro tinha grande quantidade de escravos, e não demorou muito para eu vêlo usar o chicote tranquilamente sobre um menino, o que causou uma profunda impressão na minha mente, já que, obviamente, eu imaginava que aquele seria o meu destino em breve e, ó, muito em breve. Ai de mim! Caso os meus temores viessem a se realizar! Quando cheguei à praia, sentime grato à Providência por ter, uma vez mais, tido a permissão de respirar o ar puro, desejo este que quase absorvia todos os outros. Eu pouco me importava de ser um escravo: a minha mente só pensava em ter escapado do navio. Alguns dos escravos a bordo conseguiam falar o português. Eles já moravam no litoral com famílias portuguesas, e costumavam servir de intérpretes para nós. Estes não foram colocados no porão com o restante de nós, só desciam de vez em quando para nos dizer uma coisa ou outra. Estes escravos nunca souberam que seriam traficados, até que foram colocados a bordo do navio. Eu permaneci neste mercado de escravos cerca de um ou dois dias, antes de ser novamente vendido para um negociante de escravos na cidade, o qual, mais uma vez, vendeume para um homem no interior, que era padeiro, e residia não muito longe de Pernambuco. Quando um navio negreiro chega, a notícia se espalha como fogo incontrolável, e todos os interessados na chegada do navio com a sua carga de mercadorias vivas vêm e escolhem a partir da variedade, aqueles que são mais adequados aos seus diferentes propósitos, e compram os escravos exatamente da mesma forma que bois e cavalos seriam comprados em um mercado; porém se não houver o tipo de escravo apropriado às necessidades e desejos dos compradores no presente carregamento, um pedido é feito ao comandante da embarcação com [detalhes] dos tipos específicos que [o comprador] necessita, os quaissão fornecidos para se fazer o próximo pedido na próxima vez que o navio chegar ao porto. Muita gente faz um grande negócio desta compra e venda de carne humana, e não vivem de outra coisa, dependendo inteiramente deste tipo de tráfico. Eu havia planejado, enquanto atravessava no navio negreiro, reunir um pouco de conhecimento da língua portuguesa, com os homens que anteriormente mencionei, e porque o meu senhor era um português e eu conseguia compreender muito bem o que ele desejava, e fazialhe entender que eu faria tudo o que ele desejava da melhor forma que eu fosse capaz, diante do que ele parecia bastante satisfeito. A sua família consistia dele mesmo, esposa, dois filhos e uma mulher que lhes era aparentada. Ele tinha quatro outros escravos além de mim. Ele era um católico romano, e fazia adoração familiar regularmente duas vezes por dia, que era algo conforme descreverei a seguir: Ele tinha um grande relógio de pé na entrada da casa no qual estavam algumas imagens feitas de barro, que eram usadas na adoração. Todos nós tínhamos que nos ajoelhar diante delas; a família na frente, e os escravos atrás. Fomos ensinados a cantar algumas palavras cujo significado não conhecíamos. Nós também tínhamos que fazer o sinal da cruz várias vezes. Enquanto adorava, o meu senhor tinha um chicote na mão, e aqueles que mostravam sinais de desatenção e sonolência, eram imediatamente trazidos à consciência pela aplicação abrupta do chicote. Isto acontecia principalmente com o grupo das escravas mulheres que, normalmente pegavam no sono, apesar das imagens, sinais da cruz e outras diversões semelhantes. Não demorou para eu ser colocado em trabalho árduo, do tipo que cabe a ninguém mais além dos escravos e cavalos. Na época em que aquele homem me comprou, ele estava construindo uma casa, e precisava retirar pedras de construção do outro lado do rio, uma distância considerável, e eu era forçado a carregar pedras que eram tão pesadas que eram necessários três homens para erguêlas sobre a minha cabeça. Esta carga eu era obrigado a carregar por pelo menos 400 metros, até o local onde o barco estava. Às vezes a pedra era tão pesada sobre a minha cabeça que eu era obrigado a lançála ao chão e, então, o meu senhor ficava muito irritado e, na verdade, dizia que o "cassuri" (cachorro) havia atirado a pedra no chão, quando eu pensava, no meu coração, que ele era o pior dos cachorros; só que isso não passava de um pensamento, pois eu não ousava expressálo em palavras. Logo aprimorei o meu conhecimento da língua portuguesa enquanto ali estive e, em pouco tempo, já era capaz de contar até cem. Fui, então, enviado para vender pães para o meu senhor, primeiramente indo em redor da aldeia, depois saindo para o interior, e à noite, depois de retornar para casa, vendia no mercado até às nove da noite. Por ser muito honesto e perseverante, eu geralmente vendia tudo, mas, às vezes, eu não era tão bem sucedido e, então, o chicote era a minha porção. Os meus companheiros de escravidão não eram tão estáveis quanto eu, sendo muito mais dados à bebida, de modo que não eram tão lucrativos para o meu senhor. Eu tirava vantagem disso, para me elevar no seu conceito, sendo muito atento e obediente; mas tudo era sempre a mesma coisa, fizesse o que eu fizesse, eu descobria que tinha um tirano para servir, nada parecia satisfazêlo, de sorte que também comecei a beber como eles, assim todos ficamos parecidos: senhor mau, escravos maus. As coisas iam de mal a pior, e eu estava muito ansioso para trocar de senhor, por isso tentei fugir, mas logo fui apanhado, amarrado e levado de volta. A seguir, tentei ver de que me serviria ser infiel e indolente; assim, um dia quando fui mandado para vender pão como de costume, eu só vendi uma pequena quantidade, tomei o dinheiro e gastei com whisky, que bebi desmedidamente, e fui para casa bem bêbado, quando o meu senhor foi contabilizar o dia, tomando a minha cesta e descobrindo o estado das coisas, fui severamente espancado. Eu disse a ele que ele não deveria mais me chicotear, e fiquei muito irritado, pois veio à minha mente a vontade de matálo e, depois, destruir a mim mesmo. Por fim, resolvi me afogar pois preferia morrer a viver como escravo. Corri, então, para o rio e atireime dentro dele, mas fui visto por algumas pessoas que estavam em um barco, e fui resgatado do afogamento. A maré estava baixa naquele momento, do contrário os seus esforços, provavelmente, teriam sido inúteis, e apesar da minha determinação, eu agradeci a Deus por minha vida ter sido preservada, e por uma obra tão maligna não ter sido consumada. Ela me levou a refletir seriamente que "Deus se move de um modo misterioso," e que todos os seus atos são atos de bondade e misericórdia. Na época, eu não passava de um pobre pagão, quase tão ignorante quanto um hotentote, e não havia conhecido e Deus verdadeiro, tampouco qualquer um dos seus divinos mandamentos. Embora fosse ignorante e escravo, a escravidão eu abominava, principalmente, suponho eu, por ser eu mesmo sua vítima. Depois dessa tentativa contra a minha vida, fui levado para a casa do meu senhor, que amarrou as minhas mãos atrás do meu corpo, e pôs os meus pés juntos e me chicoteou da forma mais impiedosa, e me surrou na região da cabeça e do rosto com um pesado porrete, depois me sacudiu pelo pescoço e bateu a minha cabeça contra as vigas da porta, o que me cortou e me feriu na região das têmporas, cujas marcas de tão selvagem tratamento são visíveis ainda hoje, e seguirão comigo enquanto eu viver. Depois de toda esta crueldade, ele me levou à cidade, e me vendeu a um negociante, onde ele me havia tomado anteriormente, mas os seus amigos o alertaram, então, para não se livrar de mim, pois consideravam mais vantajoso para ele me manter consigo por seu eu um escravo lucrativo. Eu não relatei nem um décimo do sofrimento cruel que enfrentei enquanto estive a serviço deste desgraçado em forma humana. Os limites da presente obra não me permitirão apresentar mais do que um rápido vislumbre às diferentes cenas que se sucederem na minha breve carreira. Eu poderia contar mais do que seria aprazível a "ouvidos refinados," e poderia, talvez, não fazêlos bem. Eu poderia relatar ocorrências que "fariam gelar o teu sangue jovem, atormentariam a tua alma, e fariam com que cada um dos seus fios de cabelo ficassem com os espinhos do porcoespinho assustado;" todavia isso não passaria da repetição dos mil e um relatos normalmente contados sobre os horrores do cruel sistema de escravidão. O homem a quem voltei a ser vendido era, na verdade, muito cruel. Ele comprou duas mulheres na época que me comprou; uma delas era uma moça muito bonita, e ele a tratava com barbaridade chocante. Depois de algumas semanas ele me despachou de navio para o Rio de Janeiro, onde permaneci duas semanas, antes de ser novamente vendido. Havia ali um homem de cor que desejava me comprar, mas por uma ou outra razão ele não completou a compra. Eu somente menciono este fato para ilustrar que a posse de escravos é gerada no poder, e qualquer pessoa que tenha os meios de comprar o seu companheirocriatura, com o "lixo desprezível" [ref. ao dinheiro?], pode se tornar um proprietário de escravos, não importa a sua cor, o seu credo ou o seu país, e que o homem de cor iria também escravizar o seu companheiro homem tal como o homem branco, caso tivesse o poder. Eu fui, finalmente, vendido a um comandante de um navio que era o que pode ser chamado de um "caso complicado". Ele me convidou para ir conhecera sua Senhora (esposa). Prestei a minha melhor reverência a ela, e logo foi instalado no meu novo ofício, o de esfregar os talheres de cobre do navio, limpando as facas e garfos, e fazendo outras pequenas tarefas necessárias a serem desempenhadas na cabine. Inicialmente, eu não gostei da minha situação; mas à medida que fui me ambientando com a tripulação e com o restante dos escravos, fui me saindo muito bem. Em pouco tempo fui promovido para o posto de subcriado de bordo. O criado de bordo preparava a mesa, e carregava as provisões para o cozinheiro e servia às mesas; por ser muito inteligente, eles me davam muita coisa para fazer. Pouco tempo depois, o comandante e o criado de bordo se desentenderam, e ele abandonou o seu posto na criadagem, foi quando as chaves do seu aposento me foram confiadas. Eu fazia tudo ao meu alcance para agradar o meu senhor, o comandante, e ele, em troca, depositava a sua confiança em mim. A mulher do comandante era tudo, menos uma mulher bondosa; ela tenha um temperamento perverso. O comandante a havia trazido de Santa Catarina, bem quando ela estava a ponto de se casar, e eu acredito que ele jamais se casou com ela. Ela frequentemente me levava à desgraça diante do meu senhor e, então, era certo que as chicotadas se sucederiam. Às vezes ela fazia de tudo para que eu fosse açoitado, e, outras, ela interferia e impedia, dependendo de como estava o seu humor. Ela era uma estranha mistura de humanidade e brutalidade. Ela sempre ia ao mar com o comandante. A nossa primeira viagem foi para Rio Grande; a viagem em si fora suficientemente aprazível caso eu não tivesse sofrido de enjoo do mar. O porto de Rio Grande é bastante raso e, ao entrar, nós encalhamos, pois era maré baixa, e tivemos grande dificuldade e fazer o navio flutuar novamente. Por fim, conseguimos, e trocamos a nossa carga por carne seca. Nós, então, fomos para o Rio de Janeiro e logo conseguimos nos livrar da carga. Nós, então, rumamos para Santa Catarina para obter farinha, uma espécie de componente do pão usado principalmente pelos escravos. De lá, retornamos novamente para o Rio Grande e trocamos a nossa carga por óleo de baleia e nos lançamos novamente ao mar, em direção ao Rio de Janeiro. Com o navio pesadamente carregado, passamos por momentos muito difíceis; todos esperávamos que nos perderíamos, mas ao aliviar o navio de parte da sua carga, o que nós fizemos lançando ao mar uma quantidade, o navio e todas os marujos foram, mais uma vez, salvos das mandíbulas devoradoras do elemento destrutivo. Ventos de proa foram predominantes e embora tivéssemos o porto à vista por vários dias, não conseguíamos chegar ao porto, com todos os nossos esforços. Enquanto estive na posição duvidosa acerca da perda ou não da nossa vida, ocorreume que a morte não seria mais do que uma libertação da minha escravidão e, neste sentido, mais bemvinda do que outra coisa. Na verdade, eu dificilmente me atrevia a me preocupar de modo algum. Eu não passava de um escravo, e eu me sentia uma pessoa sem esperança ou perspectiva de libertação, sem amigos ou liberdade. Eu não tinha qualquer esperança neste mundo e não conhecia nada sobre o mundo por vir; tudo era trevas, tudo era temor. O presente e o futuro eram uma coisa só, sem marco divisório, uma labuta! Labuta! Crueldade! Crueldade! Não havia fim, só morte para todas as minhas aflições. Eu não era cristão até então; não conhecia o amor de um Salvador, não conhecia nada da sua graça salvadora, do seu amor pelos pobres pecadores perdidos, da sua missão de paz e boavontade para com todos os homens, tampouco havia ouvido sobre aquela boa terra tão formosamente descrita pelo poeta: "uma terra de puro deleite onde habitam os santos imortais," e para cuja terra prometida o cristão está diariamente encurtando a viagem. Não! Estas "notícias de grande alegria" não haviam, ainda, sido transmitidas para a minha mente obscurecida, e tudo era negro desespero. Porém, quando ouvi as palavras do Salvador: "vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos darei descanso". Eu o busquei e o encontrei, o que foi como um bálsamo para as minhas feridas, como um consolo para a minha alma aflita. Quando penso em tudo isso e considero o passado, fico contente com as lutas deste mundo no cumprimento da minha missão aqui e na execução da obra que me foi entregue para fazer. Ó Cristianismo! Tu [és] o mitigador dos sofrimentos do homem, tu [és] o guia do cego, e a força do fraco, vai tu na tua missão, fala as notícias pacíficas da salvação por toda parte e alegra o coração do homem, "então o deserte se alegrará e florescerá como a rosa". Então, a escravidão, com todos os seus horrores, finalmente, terá fim, pois ninguém possuindo o teu poder e sob a tua influência poderá perpetuar um chamado em discrepância tão aberta, e tão repugnante, a todas as tuas doutrinas. Depois de grande labor e sofrimento desembarcamos em perfeita segurança. Durante esta viagem eu enfrentei mais castigos corporais do que jamais enfrentei na minha vida. Um colega, um companheiro perfeitamente bruto, ordenoume, um dia, que lavasse todo o navio e, depois de eu terminar, ele apontou para um local onde, segundo ele, havia uma mancha, e, rogando uma praga, ordenoume a esfregar tudo de novo, o que fiz, mas como ele não estava no seu melhor humor, ele exigiu que eu o fizesse uma terceira vez, e assim por diante, mais uma vez. Quando descobri que tudo era somente por capricho seu que ali não havia mais mancha nenhuma a ser esfregada eu, acabei me recusando a continuar esfregando, quando ele levantou um cabo de vassoura para mim, e eu, tendo em mãos um escovão, também levanteio para ele. O senhor viu tudo o que estava acontecendo, e ficou muito irado comigo por eu tentar atingir um companheiro. Ele ordenou que um dos marujos cortasse um pedaço de corda para ele; ele me disse que eu deveria ser açoitado, e eu respondi: "muito bem". Porém, continuei o meu trabalho com um olho continuamente fito em sua direção, acompanhando os seus movimentos. Quando eu havia preparado o café da manhã, ele veio por trás de mim antes que eu pudesse sair da sua frente e me atingiu com a corda acima dos meus ombros, e por ser ela comprida, sua ponta ricocheteou e atingiu o meu estômago de forma muito violenta, o que me provocou um pouco de dor e sofrimento; a força com que o golpe foi dado me derrubou por completo e, depois disso, ele me surrou enquanto estive no convés da forma mais brutal possível. A minha senhora interferiu nessa ocasião e me salvou de mais violência. Nós ficamos no Rio de Janeiro quase um mês. Enquanto estivemos ali ocorreu um incidente, o qual relatarei como ilustração do sistema escravagista. Um dia foi necessário que eu fosse à terra com o meu senhor como um dos seus remadores, e enquanto lá estive eu bebi vinho desmedidamente, e ao ver o meu senhor prestes a retornar para o barco fui até o local onde ele estava, e por estar bastante confuso pela bebida, bem como agitado ao ver o meu senhor, eu caí na água, mas como o local era raso, eu nada sofri além de um bom caldo pela minha embriaguez. Eu fui facilmente retirado dali. Enquanto remava [para] o meu senhor, a minha cabeça estava bastante alta com os efeitos do licor que eu havia bebido e, consequentemente, eu não remava com muita regularidade, foi quando o meu senhor, ao ver o estado deplorável em que eu me encontrava, perguntoume qual era o problema e eu lhe disse: "Nada, senhor." Ele voltou a dizer: "Você bebeu?" Eurespondi: "Não, senhor!" De modo que por ser maltratado eu aprendi a beber, e daí aprendi a mentir e, sem dúvida, devo ter ido, passo a passo, de mal a pior, até que nada mais me parecesse suficientemente mal, e tudo isso no meio deste horrível sistema de escravidão. Porém, sou feliz em dizer que pela graça de Deus fui levado a abandonar os meus caminhos maus. Quando a carga foi descarregada, um mercador inglês, que tinha uma quantidade de café para ser despachada para Nova York, e estando o meu senhor envolvido neste propósito, e conforme fora combinado, depois de algum tempo, eu deveria acompanhálo, junto com vários outros para servir a bordo do navio. Todos havíamos ouvido que em Nova York não havia escravidão; que lá era um país livre e que se conseguíssemos chegar lá nada mais teríamos a temer dos nossos cruéis senhores de escravos, e todos estávamos muitíssimo ansiosos para lá chegar. Antes da hora do navio levantar velas, fomos informados que estávamos indo para uma terra de liberdade. Eu disse, então, que vocês jamais me verão depois que eu chegar lá. Fiquei radiante de alegria com a ideia de ir para um país livre, e um raio de esperança brilhou sobre mim: de que não estava muito longe o dia em que eu seria um homem livre. Na verdade, eu já me sentia livre! Quão formosamente o sol brilhou naquela manhã tumultuada, a manhã da nossa partida para aquela terra de liberdade da qual tanto tínhamos ouvido falar. Os ventos também nos eram favoráveis, e logo a vela se armou diante da brisa estimulante, e o nosso navio partiu em direção àquela terra feliz. As obrigações do ofício, naquela viagem, pareceram leves para mim, na verdade, pela expectativa de ver a terra bondosa, e absolutamente nada parecia me incomodar. Eu obedecia todas as ordens alegremente e com espontaneidade. Aquela foi a época mais feliz da minha vida, mesmo hoje o meu coração dispara com o alegre deleite que me sobrevêm ao pensar nesta viagem, e creio que o Deus de todas as misericórdias ordenou tudo para o meu bem; quão grato eu estava. Os ventos sopraram favoravelmente vários dias para uma travessia rápida, depois do que experimentamos um clima muito agitado e tempestuoso que, de certa forma, retardou o nosso progresso, e nos pôs em risco de sermos enviados "para aquela fronteira donde nenhum viajante jamais retorna" à medida que os temores pela nossa segurança eram considerados. Certa noite, durante a viagem, soprou um perfeito furacão a noite toda, e pouco antes do romper do dia, as lamparinas da bitácula se apagaram com o movimento lateral brusco do navio. Recebi ordem para acendêlas, mas por causa do vento forte, depois de várias tentativas eu fracassei por completo. — Aham, disse o comandante, meu jovem, você não consegue acender o bináculo, não é mesmo? O homem no timão disse que havia luz suficiente, que ele conseguia [guiar a embarcação], ele conseguia ver a bússola muito bem; porém as ordens foram dadas, fossem as luzes desejadas ou não, elas precisavam ser obedecidas; portanto, três outros marujos foram chamados e um lençol foi colocado ao redor do bitácula para protegêla do vento, quando eles conseguiram, finalmente, acendêla, mas eu não entendi como fazer aquilo e não consegui acendêla, mesmo tendo tentado repetidas vezes. Depois disso, o comandante levantou do seu leito, vestiuse e me deu ordens para acender a sua lamparina; quando eu fui até ele, ele tomou um pesado porrete para me bater, com objetivo de golpear a minha cabeça. Levantei o meu braço para impedir que a minha cabeça fosse atingida, ele disse para eu abaixar a minha mão. Eu fiz isso, mas quando o golpe foi novamente desferido, voltei a erguer a mão e consegui impedir que o meu crânio fosse rachado; ele não queria bater na minha mão, já que isso me impediria de fazer o meu trabalho, mas se a minha cabeça estivesse quebrada ou não, eu teria que continuar fazendo o meu trabalho de rotina. Ele, então, disseme para eu me virar para que ele pudesse bater nas minhas costas. Eu disse a ele para me bater em tudo o que quisesse. Ele estava muito irritado e me bateu aleatoriamente, na cabeça, pelo corpo, onde lhe ocorria fazêlo. E lhe desafiei a fazer pior, a fazer o que ele podia e liberar totalmente a sua vingança sobre um ser miserável como eu. Ele, então, chamou três dos marujos e ordenoulhes que me amarrassem ao canhão. Eu pensei em pular na água, mas não estava muito satisfeito em fazer isto sozinho; se eu pudesse ter o prazer de leválo comigo eu estaria disposto a fazer isto. Os três homens me amarraram e me colocaram em cima do canhão, com o rosto para baixo; eles, então, receberam ordens para me açoitar, o que fizeram sem demora; ele, então, exigiu que eu demonstrasse submissão e implorasse por misericórdia, mas isso eu não faria. Eu disse a ele que me matasse se isso lhe fosse agradável, mas por misericórdia das suas mãos eu não clamaria! Eu também disse a ele que quando eles me soltassem do canhão ele deveria se cuidar naquele dia, pois quando eu olhei para o meu corpo dilacerado e ensanguentado, refleti que embora eu estivesse contundido e rasgado, o meu coração não fora subjugado. Tão logo fui solto, dirigime até o comandante, que deu ordens para que os homens me colocassem em segurança na proa do navio e não deixasse que eu voltasse a me aproximar dele. Fiquei tão machucado com as contusões e cortes que não consegui fazer nada por vários dias. O comandante, durante a minha doença, enviavame bons mantimentos da sua própria mesa, sem dúvida para se reconciliar comigo depois das cruéis ofensas que ele cometeu contra mim, mas aquilo era em vão. Eu não tinha pressa alguma de retornar ao trabalho, já que ele costumava — em ocasiões anteriores — fazer com que eu fosse açoitado por não fazer o serviço que caberia a três homens comuns, de modo que agora eu me sentia inclinado a deixálo sem nenhum outro serviço da minha parte. A escravidão é ruim, a escravidão é errada. Este comandante fazia muitas coisas cruéis que seriam horríveis de se relatar; ele tratava escravas mulheres com muitíssima crueldade e barbaridade; tudo era do seu jeito, não havia ninguém que pudesse tomar parte; ele era, naquela hora "o monarca de todos que ele inspecionava;" "o rei da casa flutuante," ninguém ousava questionar o seu poder ou controlar a sua vontade. Porém, está chegando o dia em que o seu poder será revestido por outro, e dos seus criados ele terá que prestar contas; ai dele, que contas poderá ele prestar pelos crimes cometidos contra os corpos contorcidos dos pobres e desgraçados indignos de piedade que ele tinha sob o seu comando, quando cessar o seu reinado e a grande prestação de contas for convocada; como ele responderá por isso? E qual será o seu destino? Isto somente será conhecido quando o grande livro for aberto. Que Deus possa perdoálo (na sua infinita misericórdia) pelas torturas infligidas sobre as criaturas que eram seus companheiros, embora de diferente cor de pele. A primeira palavra do inglês que os meus dois companheiros, e eu mesmo, aprendemos foi Free (Livre); quem nola ensinou foi um inglês a bordo, e ó quantas vezes eu a repeti, muitas e muitas vezes. Este mesmo homem me contou muito sobre a Cidade de Nova York (ele sabia falar o português). Ele me contou como as pessoas de cor em Nova York eram todas livres, e isto fez com que eu me sentisse feliz, e ansiava pelo dia em que pudesse estar lá. Este dia, finalmente, chegou, mas não era uma questão simples para dois moços e uma moça, que somente sabiam falar uma única palavra em
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