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UNIDADE 1
Semantics definition
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Definir semântica.
Identificar os principais objetivos da pesquisa semântica. Relacionar a semantica aos
estudos gramaticais.
Introdução
Não é raro nos depararmos com enunciados contendo palavras ou expres sões cujo
significado desconhecemos, o que, muitas vezes, compromete nossa compreensão em
relação ao sentido do enunciado como um todo. Quando estamos lidando com uma língua
estrangeira, como o inglês, essa situação é particularmente comum. Em qualquer idioma, o
sucesso da comunicação depende da forma como nos relacionamos com os significados
das palavras, frases e expressões que compõem o sentido da mensagem que está sendo
transmitida. A ciência que explica os significados linguísticos é chamada de semântica.
Neste capítulo, você estudará a noção de semântica, seus objetivos e a maneira como se
relaciona à gramática e outros campos da análise linguística.
Semântica
Sem dúvida, você já reparou que algumas palavras de nossa lingua apresentam um sentido
diferente do habitual quando dispostas em determinada ordem ou contexto, muitas vezes,
formando expressões de uso frequente dos falantes do português. Um exemplo disso é a
palavra coração em "coração partido". Não é difícil identificar que a expressão não faz
referência à condição do órgão
do corpo humano responsável pela circulação sanguínea, e sim a um estado emocional. O
mesmo fenômeno pode ser observado em inúmeras expressões inglesas, como cold feet,
bad apple e a expressão equivalente em tradução ao exemplo dado em português, broken
heart. Esse fenômeno é conhecido como metáfora e é explicado pela semântica.
O termo semântica foi utilizado pela primeira vez pelo filólogo francês Michel Bréal
(1832-1915), no ensaio intitulado Les lois intellectuelles du langage (BRÉAL, 1883) "As leis
intelectuais da linguagem", que ficou conhecido como o texto fundador da semântica como
disciplina. Derivada do grego antigo, semantikós (sema: signo; aquilo que significa), a
semântica pode ser entendida como o estudo do significado dos signos. A Figura 1
apresenta uma imagem de Bréal.
Em linguagem coloquial, a semântica normalmente se refere a um problema de
interpretação, que pode estar associado à escolha lexical ou à conotação das palavras, por
exemplo, na metáfora inglesa "I've got cold feet", em que a interpretação literal de cold feet
torna inviável a compreensão do sentido do enunciado. Nesse caso, a expressão grafada
evoca uma associação que orienta para uma extensão do sentido literal das palavras cold e
feet. Portanto, além dos componentes básicos e essenciais dos significados que são
transmitidos pelo uso literal (conceptual meaning) de uma palavra, as conotações
(associative meaning) também são objeto de estudo da semântica (YULE, 2016).
Cientificamente, parte-se do pressuposto de que as palavras são unidades de significação
(ou unidades linguísticas), pois carregam conteúdo semântico, isto é, são significantes e
transmitem um significado convencional. É essa convenção que permite, por exemplo, a
produção e a compreensão de metáforas como a que você viu no parágrafo anterior. Assim,
a semântica é o subcampo da linguística que trata desses significantes quanto à sua
representação. Dessa maneira, um significante pode ser entendido como um signo: uma
unidade representativa, dotada de significado (SAUSSURE, 2012); e a semântica, como o
estudo da relação dos signos com seus significados, bem como a relação de sentido
existente entre diferentes unidades linguísticas. Nesse sentido, a semântica analisa o
significado das unidades da língua.
Há diferentes teorias semânticas aplicadas ao estudo da Língua Inglesa. Entre as
abordagens mais tradicionais, destacam-se algumas, que serão des critas a seguir.
Semántica composicional (compositional semantics)
É direcionada ao estudo da relação de sentido existente entre unidades linguís ticas, à
medida que se ocupa dos processos de construção de significado de unidades redutíveis,
como frases e textos, a partir da combinação das unidades irredutíveis que as compõem,
como as palavras. Nessa abordagem, a maneira como combinamos unidades de sentido
menores para formar unidades maiores é estudada. Essa vertente é baseada no princípio
da composicionalidade (the principle of compositionality) e é um método de análise
semântica que considera a sintaxe da língua, pois entende que o significado de uma frase é
determinado pela combinação dos significados de suas palavras e/ou expressões, a partir
de "regras" orientadas pela estrutura sintática da frase (PELLETIER, 1994). Um exemplo de
análise semântica composicional é o que propõe a teoria da semântica conceitual
(conceptual semantics), elaborada pelo linguista
norte-americano Ray Jackendoff, em 1976. Segundo o autor, um método de decomposição
é necessário para estudar os elementos conceituais que per mitem aos falantes
compreenderem palavras e frases, a ponto de fornecer o que autor chamou de uma
representação semântica explicativa (explanatory semantic representation). O objetivo
dessa teoria é caracterizar esses elementos, também chamados de conceitos lexicais, os
quais combinam o significado semântico do léxico e a representação conceitual de seu
referente no mundo (JACKENDOFF, 1976).
A composicionalidade também está presente na linguística desenvolvida pelo matemático e
filósofo norte-americano Richard Montague, que ficou conhecida como Gramática de
Montague (Montague gramar) e deu origem à semântica formal. A semântica formal é uma
teoria altamente formalizada da semântica da lingua, que busca entender o significado
linguístico por meio de modelos matemáticos precisos. Esses modelos são elaborados a
partir de princípios que servem de base para os falantes definirem a relação existente entre
as expressões de uma língua e o mundo, isto é, a realidade que sustenta o significado
presente no discurso.
Saiba mais
O princípio de composicionalidade, também chamado de principio de Frege, serve não
apenas aos estudos semânticos, mas também aos estudos matemáticos e filosóficos. De
acordo com o dicionário de termos linguisticos, sua contribuição para a semântica afirma
que o significado de uma expressão complexa é determinado pelo significado das partes
mais simples que a constituem e da maneira como elas são combinadas para formar a
expressão. Esse principio pode ser observado em detalhes na gramática elaborada por
Montague, conhecido como o pai da semântica formal.
Outra teoria formal refere-se à condição de verdade (truth-conditional semantics), descrita
pelo filósofo norte-americano Donald Davidson, em 2001. Essa teoria busca definir o
significado de uma frase reduzindo-a às suas condições de verdade. Nesse caso, o
significado da frase equivale às condições sob as quais ela se faz verdadeira, sendo
descrito por meio da metalinguagem (DAVIDSON, 2001). Por exemplo, já que a neve é
branca é verdade se, e somente se, a neve for branca, o significado de a neve é branca é a
neve é branca.
Semântica estrutural (structural semantics)
Esta teoria também se preocupa com a forma como o significado se constrói a partir de
unidades menores. No entanto, considera que a construção do significado é regrada por
interações sociais fora das quais a língua nada significa e não pela sintaxe. O método mais
utilizado nessa abordagem é a análise de componentes (componential analysis), a qual não
investiga o significado das palavras em si, mas os componentes do significado das
palavras, a partir de conjuntos de traços semânticos dados como "presente" (present),
"ausente" (absent) ou "indiferente" (indifferent with reference to feature) (BUSSMANN,
1996). Traços como +humano ou -humano, +masculino ou -masculino, +adulto ou -adulto
podem ser considerados básicos para distinguir o significado de uma palavra em relação às
demais. Por exemplo, a análise de componentes mostrada no Quadro 1 permite inferir que
o significado da palavra girl envolve os componentes+humano, -masculino e -adulto (ser
humano, não ser masculino e não ser adulto).
Quadro 1. Exemplo de análise de componentes semânticos de algumas palavras do inglês
Highlight
Semântica lexical (lexical semantics)
Abrange a relação dos signos com seus significados à medida que estuda o significado das
unidades lexicais (lexical item). Unidades lexicais são palavras ou conjuntos de palavras
que comportam um sentido próprio, recebendo, por tanto, o status de signos linguísticos
(LEWIS, 1997). São exemplos de unidades lexicais do inglês: dog, traffic lights, get out of e
by the way. Nessa abordagem, são analisados os padrões de associação, culturalmente
reconhecidos e exis tentes entre as unidades lexicais da língua, que recebem o nome de
relações lexicais (lexical relations). Entretanto, também pode ser aplicada para analisar o
significado do léxico em relação à organização sintática da linguagem. De modo geral, a
semântica lexical interessa-se por classificar as unidades lexicais, investigar as diferenças e
semelhanças na estrutura semântica lexical entre as línguas e relacionar o significado
lexical ao significado da frase e/ou à sintaxe.
Semântica cognitiva (cognitive semantics)
Parte do pressuposto de que a linguagem advém da capacidade cognitiva humana, por
meio da qual só é possível descrever os significados experien ciados a partir da forma como
cada pessoa concebe o mundo e as coisas no mundo, o que, por sua vez, é fruto da cultura
na qual elas estão inseridas (CROFT; CRUSE, 2004). Por serem criadas a partir das ideias
que as pessoas fazem do significado das palavras e da forma como se relacionam com elas
e com o mundo, as figuras de linguagem são um objeto frequente nos estu dos semânticos
cognitivistas. A metáfora, por exemplo, é considerada pelos cognitivistas uma parte
integrante da linguagem e do pensamento, porque se apresenta como uma forma de
experimentar o mundo, exercendo influência sobre uma ampla gama de comportamentos
linguísticos. Portanto, a semântica cognitiva atribui à metáfora um papel central no
pensamento e na linguagem (LAKOFF; JOHNSON, 2003).
Inicialmente, essa abordagem surgiu e se desenvolveu em oposição à semân tica formal,
contudo, estudos recentes vêm buscando reconciliar as duas teorias.
Saiba mais
A semántica cognitiva também contribui para o estudo das relações lexicais com a chamada
teoria dos protótipos (prototype theory). A teoria dos protótipos foi desenvol vida pela
norte-americana Eleanor Rosch, professora de psicologia da Universidade da Califórnia,
especialista em psicologia cognitiva. Sua pesquisa (ROSCH, 1975) apresenta a noção de
protótipo como um modelo de categorização, provando que alguns membros de
determinada categoria são mais centrais do que outros. Por exemplo, quando solicitados a
dar um exemplo do conceito de "mobiliário", os entrevistados citaram "cadeira" com uma
frequência muito maior do que "banco".
Estudo da semântica
O estudo do significado passa a ser cada vez mais relevante, pois muitas áreas humanas
se concentram nessa noção, como a comunicação, que é um fator crucial na organização
social; e a cognição, que está centrada no estudo da mente humana e seus processos de
pensamento e conceituação, que estão fortemente ligados à maneira como categorizamos e
transmitimos nossa visão de mundo por meio da linguagem (LEECH, 1981). Além da
linguística, que toma a semântica para estudar a linguagem, áreas como a filosofia e a
filologia também têm demonstrado forte interesse na disciplina ao longo dos anos. A
primeira, a toma para estudar a psique humana; já a segunda, para estudar a construção de
conhecimento, de pensamento e da verdade.
A relação entre as muitas abordagens semânticas disponíveis para os pesquisadores, por
vezes, é difícil de estabelecer com clareza. A própria definição de semântica parece fazer
voltar seu questionamento para si mesma, considerando que a semântica é o estudo do
significado. Contudo, você deve estar se perguntando, mas, afinal, o que é o significado?
Há muitas formas de compreender o significado e isso fica claro quando consideramos as
diferentes abordagens semânticas.
Para o propósito desta seção, a semântica será tomada apenas como uma subárea da
linguística, que é o estudo da língua e da linguagem. Porém, é possível sugerir o diálogo
com outras subáreas do campo para as quais os estudos semânticos parecem contribuir de
uma forma ou de outra. A sintaxe e a fonologia, por exemplo, abordam o aspecto estrutural
das possibilidades de expressão dos signos linguísticos. À medida que a semântica estuda,
em última análise, o sentido expresso nessas estruturas, a metodologia dessas áreas tem
um ponto de intersecção. Enquanto os métodos envolvidos nos estudos gramaticais e
fonológicos consideram apenas o aspecto conceitual ou cogni tivo do significado, deixando
de lado os aspectos conotativos e associativos, a semântica observa todos os aspectos
envolvidos na noção de significado e as relações entre eles, portanto, oferece subsídios
para o estudo da sintaxe e da fonologia (LEECH, 1981).
A partir daí, podemos formular o primeiro objetivo da pesquisa semântica, que é relacionar o
significado do signo à sintaxe de modo a formular uma teoria geral a respeito de como a
linguagem significa. Para isso, idealmente, caberia à semântica dar conta dos significados
das palavras, das frases e da forma como estão relacionados.
Do mesmo modo, a pragmática, que, em resumo, estuda o sentido a partir da intenção do
falante, também se beneficia dos estudos semânticos, à medida
que o significado dos signos linguísticos não pode ser tomado completamente fora de seu
uso na linguagem. Assim, pode-se dizer que a semântica tem por objetivo, ainda,
estabelecer alguma relação entre o significado do signo e a pragmática, de modo a explicar
como ocorre a construção de sentido na comunicação.
Por fim, não se pode negligenciar a importância do estudo do signifi cado das unidades
lexicais para a pesquisa em linguística, porque a unidade lexical é um signo linguístico, e
são as unidades lexicais, em combinação com outros signos da língua, que estruturam a
linguagem. Dessa maneira, prever padrões de associação de sentido entre as unidades
lexicais (como sinônimos, antônimos, hiperônimos, etc.) de uma lingua é um importante
objetivo dos estudos semânticos. O número de associações dessa natureza que pode ser
feito na linguagem é, em princípio, infinito, entretanto, a pesquisa semântica visa prever
essas associações em direção a um número finito de normas (LEECH, 1981).
Lugar da semântica na gramática
Para compreender o lugar da semântica na gramática, é necessário que se opte por uma
concepção de gramática que sirva somente a esse propósito. Há linhas teóricas que
sugerem uma separação entre a gramática e a lexicologia, por exemplo, sendo esta
entendida como o campo de estudo do léxico e, consequentemente, do significado lexical.
Nessa perspectiva, a semântica lexical não dialogaria com os estudos gramaticais, pois seu
objeto estaria deslocado do que se compreende como a natureza gramatical. Assim,
consideraremos a lexicologia como complementar à noção de gramática, e não à parte dela.
O léxico compreende a totalidade das palavras de uma língua que representam uma
organização da realidade, isto é, do mundo de maneira particular. Portanto, o objeto da
lexicologia se estende ao extralinguístico, mas não se restringe a ele, pois também é de
competência da lexicologia estudar as unidades lexicais e as relações entre elas, que
formam o sistema da língua. Fazendo uma ponte com a definição de semântica que você
viu no início deste capítulo, podemos dizer, então, que, ao léxico, relaciona-se o estudo
semântico concernente ora ao significado da unidade, ora ao significado que lhe é
designado na linguagem.
Já a gramática pode ser entendida como o conjunto de regras estruturais que governam a
composição de orações, frases e palavras da língua. Dessa maneira, você deve entender
que há um conjunto de regras internalizadas
orientam o falantequanto ao emprego da língua, isto é, o que é possível dizer e o que não é
em termos de estrutura. Porém, se a forma como a linguagem está estruturada
desempenha um papel no significado das unidades lexicais que estão empregadas nessa
estrutura, logo, essas regras também orientam o falante quanto aos sentidos que podem, ou
não, serem formulados pela língua em questão. Isso quer dizer que a gramática é
necessariamente semântica. O que cabe debater, nesse caso, são as relações que se pode
estabelecer entre a semântica e as disciplinas diretamente associadas aos estudos
gramaticais, como a fonologia, a morfologia e a sintaxe, que costumam estar
frequentemente associadas à fonética e à pragmática.
Como você pode ver, a semântica é um campo bem-definido na linguistica, entretanto, seu
estudo se cruza com muitos outros campos de investigação. Porém, existem duas
disciplinas com as quais a semântica mantém uma relação intima, que não pode ser
ignorada por aquele que se debruça sobre a questão do significado das línguas e/ou da
linguagem: a sintaxe e a pragmática. Veja, agora, o que cada uma delas, sendo
consideradas parte essencial ou complementar à gramática, compartilha com os estudos
semânticos.
Entende-se que a sintaxe é a parte da gramática responsável pelo estudo da disposição das
frases e palavras na linguagem, assim como da relação lógica entre as frases que formam o
discurso. É o estudo das regras, dos princípios e dos processos que governam a forma
como as palavras são relacionadas e combinadas entre si na construção dos significados
que são transmitidos na linguagem. Desse modo, as unidades sintáticas constituem
unidades semân ticas, à medida que constituem cada qual um significado, que, por sua vez,
constitui exclusões de maneira implícita. Por exemplo, ao selecionar uma unidade sintática
de qualquer tipo de acordo com seu conteúdo semântico, fica implícito que o significado de
todas as outras do mesmo tipo há de ser excluído. Nesse sentido, enquanto a sintaxe é o
sequenciamento de elementos linguísticos no discurso, a semântica faz a seleção desses
elementos, que são, semanticamente, distintos entre si.
Já a pragmática pode ser entendida como o subcampo linguístico respon sável pelo estudo
das formas pelas quais o contexto em que as unidades da língua estão empregadas
contribui para o significado das unidades. Portanto, é competência dos estudos pragmáticos
explicar como a linguagem signi fica no uso concreto da comunicação linguística. À medida
que assumem um significado contextual, os elementos linguísticos também são unidades
pragmáticas, pois, nesse contexto, o falante tem um papel fundamental, que se encontra
com o papel da sintaxe da língua, e é o meio pelo qual o falante organiza sua concepção de
mundo. Nesse sentido, enquanto a pragmática é
essa interação entre o conhecimento do falante sobre o mundo e as dimensões
sintático-semânticas (visto que, como você viu no parágrafo anterior, elas se
inter-relacionam), a semântica, por meio do falante, seleciona o modelo pragmático que
toca toda a estrutura sintática da linguagem.
Você pode concluir, portanto, que não há como tomar a linguagem como objeto,
considerando as unidades sintáticas para além de seu significado, e nem o significado para
além da intenção do falante. A linguagem, entendida como o uso da língua, implica,
simultaneamente, a sintaxe, a semântica e a pragmática (OLLER JUNIOR, 1972). Por essa
razão, muitos linguistas defendem que esses três aspectos linguísticos são
interdependentes, podendo ser compreendidos apenas quanto às relações entre eles.
Link
O artigo On the relation between syntax, semantics and pragmatics, de John W. Oller Jr.,
professor e chefe do De partamento de Distúrbios Comunicativos da Universidade do
Sudoeste da Louisiana, busca definir a inter-relação entre as noções de sintaxe, semântica
e pragmática por meio de uma série de exemplos demonstrativos. Confira no link ou código
a seguir.
https://goo.gl/D4H1ir
The naturalist, conventionalist and philologists views
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Highlight
Descrever as características de cada ponto de vista. Reconhecer os diferentes pontos de
vista acerca da problemática
do significado. Contrastar sobre as aproximações e os distanciamentos teóricos.
Introdução
Você já deve ter percebido que os estudos sobre a linguagem compreen dem um grande
volume de produções, porque sua ciência é coberta não só pelas subáreas da linguística,
mas também por áreas afins, como a psicologia, a filologia e a filosofia. Cada uma dessas
grandes áreas do conhecimento contribui de maneira significativa para que as pessoas
recebam o maior número de informações possível sobre o assunto, para auxiliar nos seus
estudos e objetivos profissionais como pesquisador.
Neste capítulo, você estudará as noções de linguagem e significado a partir de três pontos
de vista distintos-o naturalista, o convencionalista e o filológico a fim de compreender como
eles estão relacionados e em que aspectos se tocam e/ou se distanciam entre si.
Naturalismo e visão naturalista do significado
Do ponto de vista filosófico, o naturalismo é um movimento que parte do pressuposto de
que o mundo, concebido em relação às noções de realidade e experiência, é realizado
apenas por meio de leis e/ou forças ditas naturais, opondo-se às crenças sobrenaturais e
espirituais acerca dos acontecimentos
físicos. Para os naturalistas, as leis naturais são as normas que governam tanto a estrutura
como o comportamento do universo, no qual qualquer mudança resulta delas. O filósofo
britânico David Papineau explica que o naturalismo pode ser dividido em um componente
ontológico e um metodológico (PAPI NEAU, 1993).
O naturalismo ontológico diz respeito ao estudo filosófico da natureza da realidade. Nessa
perspectiva, ele é comumente associado às crenças do materia lismo, as quais refutam
qualquer noção de "real" em que não há um propósito claro na natureza. Por exemplo,
princípios materiais como as propriedades físicas e químicas podem explicar seus aspectos
e, portanto, são reais, já as divindades não o poderiam e, por isso, não são reais. Por essa
caracteristica de crer absolutamente no naturalismo, o componente ontológico é comumente
chamado de naturalismo metafísico.
Já o naturalismo metodológico não considera o naturalismo como uma verdade absoluta.
Nessa perspectiva, tem-se uma filosofia de aquisição de conhecimento com base em um
paradigma que é assumido pelo naturalista. Em outras palavras, o naturalismo metafisico
refere-se a uma abordagem ontológica que toma a existência per se, e o metodológico tem
por base cien tífica o empirismo.
Fique atento
O naturalismo ontológico é outra maneira de se referir ao metafísico, sua nomencla tura
mais comumente utilizada, e deve ser considerado em oposição ao naturalismo
metodológico
Highlight
O movimento filosófico naturalista também teve impacto na linguística, o que ocorreu,
originalmente, devido às contribuições de Platão (428-348 a.C.), para quem, entre cada
palavra e seu significado, haveria uma motivação in trínseca, em que as palavras
"pertenceriam" naturalmente aos conceitos e às ideias que representam. Isso compreendia
duas noções centrais: o naturalismo e a representação. Dessa maneira, as teorias do
significado originadas a partir desse movimento visam explicar o fenômeno da
representação dentro de uma estrutura naturalista.
Essa visão naturalista do significado pertence às visões não convencio nalistas do
significado, logo, opõe-se integralmente à visão de que o uso da
lingua seria completamente baseado em convenções - a qual você verá em detalhes na
próxima seção. Assim, ela mantém que os significados lexicais sejam estabelecidos
individualmente (DAVIDSON, 1985). Hoje em dia, a maioria dos especialistas e estudiosos
da linguagem refuta essa visão, em geral com fundamentação em pontos essenciais que
não permitem assumir outra coisa exceto que a linguagem é convencional. Por exemplo,tomando-a como uma interação dialógica, envolvendo necessariamente mais de um agente,
há de existir determinadas "convenções de cooperação" (conventions of cooperation)
servindo de base para o entendimento (WEIGAND, 1998, p. 25). Desse modo, exceto
algumas possíveis exceções, como a onomatopeia, não mais se assume que a associação
entre uma palavra e seu referente esteja fundamentada na sua natureza intrínseca pelo
contrário, quase todos os filósofos da linguagem acreditam que essa associação seja
arbitrária, por isso, é de comum acordo que a linguagem seja convencional. A questão que
se coloca, então, é o que se entende por convenção, a qual será analisada na seção sobre
convencionalismo.
Naturalismo metodológico de Chomsky
Com o advento da linguística moderna, o paralelo entre os processos linguisti cos e a
ciência cognitiva ganhou um novo status, no qual estudar a representação dos significados
na linguagem sem considerar sua representação na cadeia do pensamento passou a ser
considerado incompleto. Como você aprendeu, as palavras e as frases são, sim,
representativas, assim como estados mentais. Logo, de modo geral, as teorias naturalistas
do significado passaram a tomar a representação mental como básica, que serve de base
para a representação linguística, a qual se entende como sendo derivativa, em que a
representação das palavras e das frases deriva da mental. Assim sendo, grande parte das
teorias modernas que tomam a linguagem pelo viés naturalista buscam, em primeiro lugar,
explicar o poder de representação dos estados mentais, para depois explicar as
propriedades representativas das palavras e das frases na linguagem, as quais, nessa
perspectiva, seriam expressões dos estados mentais.
De acordo com o filósofo norte-americano Noam Chomsky (Figura 1), a quem a ciência
cognitiva deve grande parte da sua revolução desde meados da década de 1960, o estudo
da mente humana implica na investigação de determinados aspectos do mundo natural
(CHOMSKY, 1994, p. 153). Nesse processo investigativo, tudo o que for relacionado aos
fenômenos comu mente considerados de natureza mental, eventos, processos ou estados
da
mente humana, é mais bem explicado por uma abordagem naturalista, mais precisamente,
pelo naturalismo metodológico. Chomsky (2004, p. 60) define a mente humana por meio da
ideia de um nível apropriado de abstração de certas propriedades "físicas" do cérebro, no
qual reside a capacidade de es tabelecer ligações cognitivas, de aprender. Já a linguagem é
definida como sendo uma "propriedade da espécie humana", que é central para o
pensamento e a compreensão. Dessa forma, o uso concreto da linguagem envolve habili
dades intelectuais humanas da mais alta ordem, sendo, portanto, evidente a contribuição
significativa de seu estudo para a compreensão da natureza e do funcionamento da mente
humana.
Figura 1. Noam Chomsky, conhecido como o pai da linguistica moderna.
Fonte: Coveney (2014).
As teorias de Chomsky sobre a relação entre a linguagem e a mente humana sob o viés
naturalista se baseiam na premissa de que os problemas encontra dos no mundo natural (p.
ex., no mundo "real") só podem ser solucionados pelas ciências ditas naturais se assumir
que há uma convergência entre as propriedades do mundo natural e da mente humana
(CHOMSKY, 1994). Isso
significa que a habilidade científica de os solucionar ocorre uma vez que os entende nos
termos de certa orientação cognitiva que se detém. Por essa razão, Chomsky rejeita o
naturalismo metafisico, afirmando que o plano fisico do mundo não oferece as bases
necessárias para o uso livre e criativo da lingua gem, que está ligado ao aspecto cognitivo
da mente humana e requer uma substância integralmente diferente, responsável pelas
propriedades mentais as quais também fazem parte do mundo. Assim, se as propriedades
mentais, particulares aos seres humanos, são reais, constituem, então, elas próprias um
fato sobre o mundo natural, que, como qualquer outro, deve ser compreendido em termos
naturalistas. Em suma, o naturalismo metodológico é visto por ele como a única forma
viável de naturalismo e não deve ser entendido como uma doutrina metafísica.
Dessa maneira, o naturalismo metodológico envolve a visão da linguagem como um
fenômeno natural, pois o estudo dos fenômenos mentais (e linguís ticos) deve ser abordado
da mesma forma que se aborda outros aspectos do mundo natural, e o objetivo desse
estudo é formular teorias cujos princípios se baseiem em dados empíricos, visando fornecer
algo mais do que apenas uma descrição dos fenômenos e buscando explicar o fenômeno
da linguagem e não apenas descrevê-lo.
Pensar a semântica à luz das ideias de Chomsky implica em considerar o estudo das
faculdades da linguagem, bem como seus estados e suas interações com outras partes do
cérebro e/ou da mente humana, quando se deseja saber algo sobre o significado (meaning).
Na perspectiva chomskyana, tem-se uma noção de semântica integrada à de sintaxe,
porque esta passa a ser entendida, de modo geral, como o estudo de regras e princípios
para a construção de sentenças e frases, envolvendo o estudo de outras representações
mentais. De acordo com Chomsky, grande parte da discussão sobre "semântica da
linguagem natural" a compreende, de fato, como um fenômeno que ocorre em relação às
propriedades de certo nível de representação sintática, que pertence à sintaxe amplamente
compreendida estendida ao estudo das representações e computações mentais
(CHOMSKY, 1975, p. 38). Sua semântica, assim como sua teoria da gramática, é
internalista, portanto, não pretende explicar a conexão entre a linguagem e o mundo ou a
linguagem na comunicação, de modo que tais noções como verdade, referência e intenção
do falante estão claramente fora de seu escopo. Porém, como o significado é entendido?
Chomsky (2004 p. 173) explica que uma expressão qualquer da Língua Inglesa, ou de
qualquer língua natural, equivale a um par <PHON, SEM>, em que cada uma das partes
contém informações relevantes
sentido da expressão, respectivamente. Assim, PHON é a informação sobre o seu som, já
SEM se trata da informação sobre o sentido que ela expressa. Essas interfaces fornecem
instruções para os sistemas de desempenho referentes ao som (o aparelho vocal, a
audição, etc.) e as faculdades mentais relacionadas à parte semântica, envolvidas no
pensamento e na ação. A interface semântica é um sistema simbólico que consiste em
"valores semânticos", os quais não são entidades externas, mas, sim, objetos puramente
sintáticos. A ideia é que parte da faculdade da linguagem fornece instruções para os
sistemas de desempenho interpretarem a lingua. Essas instruções de como entender os
significados das expressões são uma propriedade do léxico e, como tais, completamente
internalizadas.
Ao que parece, atinge-se com muito mais facilidade as informações concre tas sobre o
aspecto sonoro das expressões do que sobre o semântico. Por essa razão, o próprio autor
reconhece que suas reflexões no âmbito da semântica estão longe de formar uma teoria
completa sobre o significado na linguagem natural.
Convencionalismo e visão convencionalista do significado
De modo geral, a teoria convencionalista amplia o papel de decisões, ou livre seleção entre
as alternativas igualmente possíveis, provando que o que parece ser objetivo ou fixo por
natureza é, na verdade, um artefato da convenção humana. Assim, pode-se supor que a
própria moral se deve mais à convenção social do que a qualquer coisa imposta de fora. Na
filosofia, o convenciona lismo é a crença de que certos tipos de princípios fundamentais são
baseados em acordos sociais (sejam ele explícitos ou implícitos), e não na realidade
externa, extralinguística. Embora haja abordagens teóricas mais recentes acerca da noção
de significado que defendem ser impossível separar algo objetivo ou empírico daquilo
convencional ou linguístico, o objetivo desta seção é apresentar os elementos básicos que
configuram a visão convencionalista tradicional do significado.
Tendo sua origem nas ideiasde Aristóteles (384-322 a.C.), o qual susten tava que a
conexão entre o som e o sentido na linguagem é completamente arbitrária, o
convencionalismo linguístico explica essa relação como uma questão de convenção social e
acordo prévio entre os falantes.
A tarefa filosófica central colocada diante do convencionalismo reside em definir o que se
entende por convenção e de que formas ela se afasta da noção de regularidade, por
exemplo, uma ação e um processo cognitivo. Uma convenção social se enquadra na noção
de regularidade somente se esta for amplamente observada por um grupo de agentes (ou
uma comunidade linguística), contudo, nem toda regularidade é uma convenção. Todas as
pessoas comem, dormem e respiram, mas isso não se trata de convenções; em contraste, a
maneira como se vestem de acordo com a natureza das interações humanas (uma
celebração ou uma reunião de negócios, etc.) é uma convenção. Desse modo, considerar
um fenômeno como sendo de natureza convencionalista é simplesmente assumir, embora
possa parecer o contrário, que ele ocorre a partir de ou é determinado por uma convenção,
um acordo entre as partes envolvidas.
A noção de convenção adotada por determinada teoria geralmente é for mulada em relação
ao que se está contrastando o ser convencional: ao que é natural, objetivo, universal,
factual, independe da mente, ou, ainda, se avalia como "verdadeiro". Nessa altura, faz-se
pertinente distinguir a noção de convenção do que se entende por regra, a qual pode ser
observada como sendo independente do falante; uma norma ao qual ele está submetido,
como a estrutura sintática das frases ou a ordem morfológica das palavras. Já a convenção
é, por definição, um princípio que depende do falante ou de um grupo, de uma comunidade
linguística. Em última análise, as convenções não são pré-definidas e podem sofrer
variação de acordo com as circunstâncias; já as regras de morfologia e sintaxe, por
exemplo, estão definidas e fixas a uma instância que foge aos poderes do falante ou da
comunidade.
Por ter um foco no papel do falante, essa definição de convenção se aproxima mais da
pragmática que da semântica e foi bastante desenvolvida e difundida pelo filósofo
norte-americano David Lewis, o qual forneceu a primeira teoria sistemática de como a
convenção social gera um significado linguístico, sugerindo que ela, sendo uma orientação
para um grupo de falantes, é uma questão de escolha (LEWIS, 1969).
Lewis (1975) define uma língua pela função de atribuir condições de ver dade a proposições
enunciadas por meio de suas normas. Mais precisamente, uma língua (L) é o mapeamento
capaz de atribuir a cada proposição (P) um conjunto de mundos possíveis na relação (L/P).
Assim, uma (P) é "verdadeira em (L)" se o "mundo real" estiver descrito na relação (L/P).
Uma (L) é usada por uma determinada comunidade linguística (C) caso prevaleça nela uma
convenção de veracidade e confiança em (L), sustentada por um interesse
comunicativo, em que um falante é "verdadeiro em (L)", se ele evitar pro nunciar as P que
não sejam verdadeiras em (L); ao passo que um ouvinte está "confiando em (L)" se ele
acreditar que as P enunciadas pelos seus falantes são verdadeiras em L. Como essa
convenção prevalece, os falantes, com a intenção de se comunicar, têm motivos para se
curvar a ela, o que, por sua vez, a perpetua. Em resumo, embora Lewis não elabore com
precisão o signi ficado do falante em sua análise, o autor enfatiza de que maneira ele
emerge da relação entre as intenções comunicativas do falante e as expectativas do ouvinte
a partir de uma convenção permanente de veracidade e confiança. Sua hipótese está, de
fato, comprovada em inúmeros estudos fundamentados na interação dialógica.
Há, entretanto, uma divergência quanto ao papel dessa visão convencio nalista para o
esclarecimento do problema do significado; muito ainda se discute se a teoria das
convenções de Lewis seria suficiente para explicar o funcionamento significante da
linguagem.
Saiba mais
Outros filósofos da Língua Inglesa, subsequentes às ideias de Lewis, os quais ofere cem
relatos baseados em uma noção particular de convenção, incluem os britânicos Jonathan
Bennett (1976) e Simon Blackburn (1984), bem como os norte-americanos Wayne Davis
(2003), Ernie Lepore e Matthew Stone (2015), Brian Loar (1976) e Stephen Schiffer (1972).
Signo linguístico de Saussure
O reconhecimento do caráter científico dos estudos em torno do problema da linguagem se
deve aos esforços do linguista genebrino Ferdinand de Saussure (1857-1913) (Figura 2),
por ter fornecido uma descrição detalhada dos funda mentos da linguística como disciplina.
O centro do seu trabalho (SAUSSURE, 2012) sugere que as palavras de uma língua são
uma unidade de interpretação, não de representação, e a partir dessa ideia, Saussure
(1916) define a língua como um sistema de signos linguísticos em que o signo linguístico
(ou a unidade linguística, um conceito que abrange, entre outros termos, a noção de
palavra) obedece ao princípio básico da arbitrariedade.
Segundo Saussure, dizer que as palavras têm simplesmente a função de re presentar
linguisticamente os objetos no mundo, que, nesse caso, lhes serviriam como referentes, é
assumir que as linguas não passam de uma nomenclatura. Se assim fosse, cada palavra de
determinada língua teria um equivalente exato em sentido em todas as outras, e você sabe
que, na prática, isso não ocorre
Saussure explica que não se pode supor que há ideias preexistentes às palavras, uma vez
que o pensamento não tem uma forma constante e, por conseguinte, nele, nada se
reconhece antes de sua expressão por meio dos signos sem esse recurso, o ser humano
seria incapaz de fazer uma distinção clara entre duas ideias quaisquer. Entretanto,
Saussure alerta que o papel de uma lingua (L) não é o de fornecer um som para que cada
pensamento (P) seja finalmente expresso, mas, sim, as bases para que se forme, enfim, um
pensamento-som (SAUSSURE, 1916, p. 131) distinto e, portanto, verdadeiro em (L). Essa
forma (a qual não deve ser tomada como substancial) que a com binação pensamento-som
assume é o que Saussure chama de signo linguístico.
Então, um signo é uma unidade combinada por um significado (pensamento ou ideia) e um
significante (som, também chamado de imagem acústica). Nesse ponto, Saussure (1916, p.
81) afirma que "o laço que une um significado a um significante é arbitrário", ou
simplesmente que "o signo linguistico é arbitrário". Isso significa que não há nada no mundo
que justifique o fato de um som se referir à determinada ideia, por exemplo, não há nada
nela que se possa fazer do objeto "mesa" que justifique sua forma linguística table, em
inglês. Se não fosse assim, a palavra usada para se referir ao objeto "mesa" em todas as
linguas naturais seria idêntica ou muito semelhante, o que não ocorre. Portanto, fica
estabelecido que a união de uma ideia ao seu som é resultado de uma convenção, por isso,
a teoria de Saussure é reconhecida como uma visão convencionalista do significado.
Contudo, de acordo com Saussure (1916, p. 83), o caráter arbitrário do signo não quer dizer
que o significado de uma palavra dependa da livre escolha do falante, uma vez que não
está ao alcance de um único membro de uma comunidade linguistica determinar qualquer
aspecto sobre um signo, ao passo que, por definição, este está estabelecido em um grupo
linguístico.
O objeto da linguística saussuriana é a lingua como um sistema de signos, e não como
expressão. Esse estudo da lingua configura uma sincronia, e seu maior objetivo não é
satisfazer a questão da linguagem como meio de expressão de ideias e/ou pensamentos,
mas antes explicar seu funcionamento significante, o qual, nessa perspectiva, somente
pode ser entendido a partir do estudo da relação entre as formas.
Filologia versus linguistica - uma breve delimitação
A filologia é o estudo da linguagem por meio de bases documentais que podem ser de
natureza literária, histórica ou linguística (PEILE, 1880). Está comumente associada ao
estudo diacrônicoda linguagem (em oposição ao sincrônico proposto por Saussure), que é
objeto da linguística histórica, e ao comparativo das línguas indo-europeias, cujo objeto se
trata da relação entre as linguas em questão. De modo geral, ela olha para as mudanças
nos estados de língua ao longo do tempo, já a linguística propriamente dita atenta-se aos
estados de língua em si e às relações coexistentes.
Para os filólogos, a linguagem se trata, antes de tudo, de uma herança social e histórica, de
modo que um entendimento completo de seu mecanismo somente pode ser dado por meio
da pesquisa diacrônica (BASSETO, 2001). Para tanto,
os estudos filológicos dispõem de diferentes metodologias de análise a fim de satisfazer os
diferentes objetivos que estão por trás da investigação filológica da linguagem. Além do
método histórico-comparativo, os estudos linguistico -filológicos também contam com as
contribuições das linguísticas geográfica, geológica e espacial, bem como da lexicologia
social, entre outras. Todavia, é da filologia comparativa que se extrai algo do debate acerca
do problema do sentido nas línguas, em que se nota um enorme esforço da etimologia em
dar conta da questão do significado das palavras, porém, nenhum estudo etimológico
poderia ser elaborado fora da metodologia histórico-comparativa.
Nesse aspecto, boa parte dos estudos filológicos se desenvolveu sob a in fluência do
filósofo alemão Wilhelm von Humboldt (1767-1835), o qual sugere que, para compreender o
mecanismo da língua, é necessário considerá-la na junção entre a forma e a substância. O
estudo da forma estaria relacionado aos processos evolutivos das línguas, já o da
substância relacionaria "de um lado, o som propriamente dito, de outro, a totalidade das
impressões sensoriais e dos movimentos autônomos do espirito que antecedem a
construção dos conceitos com o auxílio da língua" (HUMBOLDT, 2006, p. 111-112). Você
pode ver na subseção seguinte como Saussure explica a condição da língua apenas como
forma, e não como forma mais substância, por meio da comparação da lingua com um jogo
de xadrez.
A abordagem humboldtiana deu origem ao que ficou conhecido, em filologia românica,
como método idealista, o qual postula, em linhas gerais, a língua como uma criação, e não
um produto, pois é resultante do espírito humano. Nele, não caberia à lingua representar os
conceitos como estão dispostos no mundo, mas, sim, representáá-los a partir da forma
como são idealizados pelo falante. Aqui, as bases filológicas não se restringem apenas às
condições do ser humano e do mundo real, mas também à cultura.
De maneira geral, quanto ao debate sobre o problema da significação, a filologia chama a
atenção para a distinção entre a noção de significado (meaning) e a de conceito (concept),
na qual este abrangeria a totalidade do conhecimento que se adquire sobre uma palavra a
partir do mundo real, e o significado seria uma categoria da linguagem em si. Na linguística
propria mente dita, por sua vez, a preocupação maior consiste, com frequência, em
estabelecer as diferenças entre o significado de uma palavra e sua referência no mundo
real. Sobre esse ponto de vista, pode-se dizer que o significado de uma palavra é
apreendido a partir da relação de oposição que ela estabelece com as outras da mesma
língua, ou do mesmo sistema; e a referência aponta para a relação da palavra com os
conceitos do mundo real.
Metáfora do xadrez
A comparação que Saussure oferece da lingua com uma partida de xadrez serve para
esclarecer algumas reflexões centrais da sua teoria, por exemplo, a noção da língua como
forma em oposição à sua noção como substância (ou como forma e substância), e a relação
entre a linguística sincrônica e a diacrônica. Para satisfazer os objetivos desta seção, você
deve se atentar principalmente à distinção entre as noções linguisticas de forma e
substância. Para tanto, lembre-se de que, para Saussure, a lingua é um sistema de signos
linguísticos, de formas linguísticas.
Em primeiro lugar, você deve pensar que o jogo de xadrez traduz um sistema semelhante
ao da língua, no qual a forma é entendida a partir de uma rede de relações com outras
formas dentro dele. Depois, pense que as regras do jogo refletem as relações entre as
peças, as quais são definidas de acordo com elas; o mesmo ocorre com a língua, porque o
significado de uma palavra se trata da sua relação, estabelecida intrassistema, com o
significado de outras palavras.
Por fim, pense no material, nas características substanciais das peças, como irrelevante
para que o jogo se estabeleça não importa se elas são de madeira ou de vidro, por
exemplo, inclusive, você pode até substitui-las por qualquer outro objeto, como uma tampa
de garrafa, sem prejudicar o sistema, certo? Isso porque o que faz uma peça de xadrez ser
reconhecida como tal é uma convenção entre os jogadores, desde que haja um acordo, ela
pode ser substancialmente substituída, uma vez que são as relações entre as peças e as
regras do jogo que importam.
No sistema da língua não é diferente, para que ela funcione, basta que os falantes estejam
de acordo em relação ao significado das palavras e expres sões. Isso é o que permite a
palavra "mesa" ser corretamente interpretada na expressão "por as cartas na mesa", sem
se referir ao objeto do mundo real comumente designado pelo som das letras m-e-s-a. A
substância/os conceitos não fazem parte do jogo do mesmo modo que o fazem as formas,
pois a parte substancial das peças, das palavras, é acidental. Sendo assim, a essência da
língua são as formas, e não os conceitos.
Fique atento
As visões naturalista e convencionalista do significado abrangem uma variedade de teorías
que nem sempre tomam os conceitos teóricos que as caracterizam como tendo origem no
naturalismo ou no convencionalismo pelo mesmo viés. Portanto, você deve entender que há
variações em cada ponto de vista. Por exemplo, nem todos os naturalistas são
chomskyanos, assim como pode haver convencionalistas seguidores das ideias de Lewis e
outros puramente saussurianos, etc. O que se buscou neste capítulo foi apresentar as
variações mais conhecidas dentro de cada visão.
UNIDADE
2
Lexical semantics of verbs
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Definir a semântica lexical.
Identificar o limite da semântica lexical em relação à semântica. Reconhecer as questões
semânticas inerentes aos verbos.
Introdução
Semântica lexical é um subcampo da semântica linguística e seu objeto é o significado
linguístico, ou seja, está centrado na palavra e nos diferentes tópicos relacionados a ela.
Entretanto, outros campos de estudo também têm como objeto o significado, o que torna
necessária a delimitação entre essas possibilidades. Além de não haver uma única
semântica, também não há uma única semântica lexical. Existem diferentes abordagens, e
cada uma tratará o significado de uma forma, assim como fará interface com diferentes
campos de conhecimento.
Independentemente da abordagem a se adotar, a semântica lexical permite uma
compreensão mais aprofundada, ou mais fina, dos verbos. O tratamento dos verbos dentro
da semântica lexical permite que se relacione a sua estrutura argumental com a estrutura
sintática e as pro priedades sintáticas das sentenças.
Neste capítulo, você estudará o que é semântica lexical, principal mente no viés de sua
contribuição para a análise e entendimento de verbos.
Semântica lexical
A semântica lexical permite compreender certos detalhes da lingua. De modo geral, é
possível dividir a semântica lexical em dois grandes grupos, de acordo com Cruse (2003),
holismo e localismo. Na abordagem holística, o significado de uma palavra é
essencialmente relacional, isto é, a relação de uma palavra com as demais é contextual. Na
abordagem localista, também chamada de atomista, o significado de uma palavra está
contido nela mesma, sendo passível de descrição independentemente de outras palavras.
Conforme afirma Cançado (2013), em semânticas lexicais há diferentes abordagens,desde
as que enfocam nas mudanças no sentido de uma palavra em uma relação
histórico-filológica, até as que enfocam em protótipos, metáforas conceituais e semântica de
frames em uma relação cognitiva (e que seriam holísticas). Ainda de acordo com essa
autora, o que essas abordagens têm em comum quanto ao significado é a relação entre a
lingua e sua representação mental, sem se preocupar com o aspecto extralinguistico
("mundo público") envolvido na comunicação linguística.
Léxico é o conjunto de palavras com informação necessária para sua aplicação adequada
às regras gramaticais. Apesar de palavra ser de identi ficação intuitiva para o falante de
uma língua, na teoria não há uma única definição, muito menos uma que seja satisfatória
para as diferentes linguas. Em sentido amplo, as palavras consistem em unidades básicas
que têm forma e significado. Como o nome sugere, a semântica lexical aborda o léxico, das
palavras aos afixos, às relações entre palavras, a relação entre os significados e os
conceitos, entre outros, sem, entretanto, se limitar à noção de "depósito de palavras"
(JACKENDOFF, 2013).
Uma dessas possibilidades é a análise da relação de sentido das palavras com a sintaxe,
como é o caso da decomposição lexical em predicados pri mitivos. Nela "os conceitos
lexicais devem ter uma estrutura composicional, e a f-mente do aprendiz da palavra junta
significados de partes menores" (JACKENDOFF, 2003, p. 334), algumas das quais podem
servir como possíveis significados de palavras.
Assim, é possível que sejam identificados certos elementos que compõem o significado de
uma palavra, o significado desses elementos e sua relação com a sintaxe.
Fique atento
Af-mente (F-mind) é caracterizada como a organização e atividade funcional do cérebro,
nas quais pode ou não haver consciência.
Exemplo
Considere, por exemplo, os verbos break e shatter nas frases a seguir.
1. a) Daisy broke her arm.
b) The car is broken.
c) Daisy broke the glasses.
2. a) Daisy shattered her arm.
b) The car is shattered. c) Daisy shattered the glasses.
Nesses conjuntos de exemplos, há ambiguidade e diferença de graduação fina nos
significados de ambos. No que diz respeito a esta, break e shatter estão em uma relação de
graduação, uma vez que o segundo denota um estrago maior e mais violento do que o
primeiro. Ambos predicam dois argumentos, um argumento externo, causador de uma
mudança de estado; e um argumento interno, afetado por essa mudança, como indicado na
análise de decomposição no quadro de exemplos a seguir. O argumento externo
corresponde à posição de sujeito e o argumento interno de complemento do verbo. Em (le)
e (2c), Daisy é o agente, isto é, o elemento que causa a mudança fisica de estado em uma
coisa, glasses, o paciente. Portanto, os verbos trazem informações sobre componentes
semânticos (tornar em pedaços e em muitos pedaços pequenos) e sobre a estrutura
sintática (número de argumentos) e a relação entre eles (agente e paciente).
Ainda sobre esses conjuntos de exemplos, há ambiguidade em (la), quanto ao papel
semântico de Daisy, podendo ser agente e paciente ou apenas pa ciente. No primeiro caso,
Daisy teria causado a si mesmo a mudança, já no segundo, seria apenas o elemento
afetado por ela. Em (1b) nota-se a mesma
o estudo do significado das línguas. Ela pode ter como unidade de análise o conteúdo
proposicional da sentença ou o léxico. Quando seu objeto é o conteúdo proposicional,
pode-se adotar a abordagem da semântica referencial, também chamada de semântica
formal ou semântica das condições de verdade. Alguns dos tópicos que você viu na seção
Highlight
anterior encontram paralelos no estudo do significado da proposição, como a relação de
hiponímia com acarretamento, sinonímia com paráfrase, antonímia com contradição.
A semântica referencial tem como objeto a relação entre o conteúdo propo sicional
(significado da sentença) e seu referente no mundo. Essa abordagem se aproxima da
lógica, pois mantém interesse sobre raciocínio válido, isto é, se a conclusão é verdadeira ou
não, diferentemente da semântica lexical em que não há relevância sobre a verdade ou
falsidade de uma proposição e nem sobre o referente no mundo.
Uma das noções importantes dentro da semântica é a de implicação, que é um processo
pelo qual, a partir de premissas, se pode chegar a uma conclusão. Implicação está
associada ao raciocínio e pode, portanto, também ser estudada por uma perspectiva
cognitiva. Há três tipos de implicação: acarretamento, pres suposição e implicatura. A
primeira é estritamente semântica, não considerando conhecimentos extralinguístico e nem
contexto; a segunda é uma implicação que liga conteúdo lexical com conhecimento
extralinguístico; e a terceira é uma implicação pragmática e depende de conhecimento
extralinguístico.
As noções descritas fazem parte da semântica referencial (ou formal), para qual é
fundamental a noção de referente no mundo, aquilo (ou quem) a que a palavra se refere. De
acordo com Chierchia (2003, p. 37), "à referência contrapõe-se significado e sentido. Por
significado ou sentido entende-se aquilo que tem a ver com o conteúdo informativo do
signo, a maneira como ele é interpretado (qualquer que seja a sua interpretação)". Ela se
difere, assim, da semântica lexical que se volta sobre a palavra.
Por ser uma abordagem formal, a semântica referencial se aproxima mais da lógica,
estabelecendo relações por meio das condições de verdade. Condições de verdade dizem
respeito à possibilidade de se dizer se algo é verdadeiro ou falso, como ocorre com
acarretamento e pressuposição. Já a semântica lexical não se compromete com a noção de
verdade, pois se volta para significado cognitivo (uma vez que trata de conceitos) em torno
da relação entre a lingua e construtos mentais que integram o conhecimento semântico do
falante, con forme Cançado (2013). Veja no Quadro 1 uma comparação entre a semântica e
a semântica lexical.
Semântica lexical dos verbos
Nesta seção, você estudará questões relevantes sobre o aspecto semântico lexical dos
verbos e como ela se relaciona com a estrutura sintática. Ao estudar o aspecto semântico
dos verbos, é importante estudar o que eles denotam, mas não somente isso. A interface
entre semântica, sintaxe e léxico permite explorar a relação entre a estrutura argumental
dos verbos e a estruturação de propriedades sintáticas das sentenças, como Jackendoff
(2013, p. 139) argumenta. Em outras palavras, as características lexicais dos verbos irão
impactar o restante da sentença:
Estudando a semântica das palavras, imediatamente somos forçados a nos confrontar com
a forma como as palavras impõem sua estrutura ao resto da sentença em que ocorrem. O
caso clássico são os verbos, cuja estrutura argumental semântica (Agente, Paciente,
Objetivo, etc.) tem um maior papel na determinação dos padrões sintáticos nos quais as
palavras aparecem.
Exemplo
1. a) We helped our parents to build a new home.
b) They wish to built their dream home. c)/built some cupboards in my garage.
d) We want to build a solid relationship. e) It was so cold he had to build a fire.
O verbo build precisa de sujeito e objeto. Nos exemplos (la) a (le), apenas em (1c) o sujeito
está expresso (marcado na sentença pelo pronome "/"), nos demais, ele está no infinitivo
(por uma questão sintática de integrar uma sentença complexa). A princípio, é preciso que
alguém inicie por vontade a ação expressa pelo verbo, gerando, como consequência, um
produto, isto é, "someone builds something". Esse produto é o objeto (complemento verbal).
"Build" é um verbo de dois lugares, isto é, ele predica (pede/precisa) dois argumentos.
A estrutura argumental dos verbos consiste no número de argumentos que um verbo
predica, se é um verbo pessoal (que pede sujeito), se é um verbo intransitivo (que não tem
objeto), se é um verbo transitivo (que pede um objeto ou mais). Há dois tipos de
argumentos verbais: argumento externo e argumento interno. O argumento externo
corresponde ao sujeito, o que significa que o verbo é pessoal.O argumento interno
corresponde ao com plemento verbal (objeto), o que significa que é um verbo transitivo.
Assim, no exemplo de (1c), temos dois argumentos-argumento externo "I", sujeito; e
argumento interno, "some cupboards". Nos demais, apenas o argumento interno está
expresso(la) "a new home"; (lb) "their dream home"; (d) "a solid relationship"; (le) "a fire".
A classificação dos verbos se dá a partir de quantos argumentos ele predica,
bem como o tipo deles. Os verbos podem ser classificados em: acusativos
(accusative), inacusativos (unaccusative), ergativos (ergative) e inergativos (unergative).
Verbo acusativo: é aquele que normalmente predica um objeto, mas que pode ser usado
como intransitivo sem que o significado seja afetado.
Exemplo
1. a) Mike are a pie
b) Mike ate.
2. a) Emily read the Stephen King's new book.
b) Emily reads a lot.
3. a) I see you at the beach.
b) / see.
4. a) My team won the homecoming. b) My team won.
Verbo inacusativo: é aquele que não predica um objeto (intransitivo) e cujo sujeito não é
agente, ou seja, o sujeito não inicia a ação ou não é responsável por ela. Para esse tipo de
verbo, é fundamental a ausência de volição, isto é, a pessoa ou animal não inicia
voluntariamente algo. Quando o sujeito é expresso por coisas, será sempre inacusativo.
Exemplo
1. Overbo "be" com adjetivos.
She is tall.
The bag is heavy.
2. Verbos cujo sujeito é paciente.
Burn, fall, sink, float, flow, slip, slide, shake, stumble, succumb, boil, dry, sway, wave, lie
(involuntary), bend (involuntary).
Melt, freeze, evaporate, solidify, darken, rot, wither, collapse, break, increase, germinate,
die, suffocate, crack, split, disappear, disperse, explode.
The leafs fell.
The new guy died.
The sun burned my skin.
■The ice melted. The car broke.
3. Predicados de existência e acontecimento. Exist, happen, occur, arise, ensue, tum up.
■The meeting happened last Thursday.
4. Verbos involuntários de aparência, som, cheiro, etc. ■Shine, sparkle, clink, snap
(involuntary), pop, smell (bad), stink.
■The room stinks.
5. Predicados aspectuais.
Begin, start, stop, continue, end.
■The show began.
■The rain stopped.
6. Durativos.
Last, remain, stay, survive.
■ I will survive.
Um verbo ergativo é aquele que pode ser transitivo ou intransitivo, e cujo sujeito, quando
intransitivo, corresponde ao objeto quando transi tivo. A importância de verbos ergativos é
que eles possibilitam que não apenas que se omita o agente como também que se
represente a parte afetada como causa de forma da ação pela qual é afetada.
Exemplo
1. The sauce is cooking.
2. The vase was broke.
3. The problem solved itself.
Verbo inergativo: é um verbo transitivo, cujo sujeito é agente, isto é, inicia voluntariamente a
ação.
Highlight
Exemplo
1. Mary ran.
2. He talks to much.
3. He resigned last week.
Essa estrutura argumental é, conforme Chierchia (2003), impactada por outra, a estrutura
de evento. A estrutura de eventos de verbo distingue estados, processos, transições e
adota uma análise sub-eventual, de acordo com Chishman (2000). Ela se refere a
argumentos implícitos, que permitem explicar propriedades acionais, temporais e
aspectuais.
Conforme Pustejovsky (1991), estado (state) indica um único evento, que não é avaliado em
relação a nenhum outro evento, como nos verbos be sick (be + adjective), love, know;
processo (process) indica uma sequência de eventos identificando a mesma expressão
semântica, como nos verbos run, push, drag; transição (transition) indica um evento
identificando uma expressão semântica, que é avaliada em relação à sua oposição, como
em give, open, build, destroy. Cançado (2013) acrescenta que essa estrutura apresenta
noções de movimento e locação, estrutura causal e estrutura aspectual, conforme você
pode observer a seguir.
Exemplo
1. I got flu last week. -
State
2. I got my glasses on. - Process→ Durativo: for an hour, an entire
3. I received your message - Transition → Delimitado: in an hour
day
Em (1), é indicado o estado e não há uma ação. Eventos de processo, como em (2), podem
ser modificados por advérbios durativos, ao passo que os de transição não. Eventos de
transição, como em (3), podem ser modificados por advérbios que delimitam sua duração.
De acordo com Chierchia (2003, p. 279), alguns desses processos lexicais "(i) afetam uma
ampla classe de palavras, (ii) são interlinguisticamente recorrentes e (iii) apresentam uma
contrapartida sintática".
Cançado, Godoy e Amaral (2013) destacam quatro classes de verbos: de mudança
(transition) de estado, de mudança de estado locativo, de mudança de lugar e de mudança
de posse, que podem ser expressas nas seguintes representações de predicados
primitivos:
mudança de estado - [[X (VOLITION)] CAUSE [ BECOME Y <STATE>]]
mudança de estado locativo-[[X VOLITION] CAUSE [ BECOME Y<STATE> IN Z]] mudança
de lugar -[[X VOLITION] CAUSE [BECOME Y IN
Highlight
Highlight
Highlight
<PLACE>] mudança de posse - [[X VOLITION] CAUSE [BECOME Y WITH <THING>]]
Cada par de colchetes indica um subevento (enquanto o conjunto é o evento), assim, no
primeiro temos o subevento cause e, dentro dele, o subevento be come. Cause, become,
state, thing são metapredicados (predicados dentro de predicados). X, Y e Z representam
argumentos que se projetam na estrutura sintática. X representa o argumento externo e
ocupa a primeira posição argu mental do metapredicado cause. Cause está associado à
mudança, por exemplo, fill, break, store, install, ou seja, há um certo estado inicial que será
alterado por algo. Esse argumento é, ou pode ser, associado ao modicador volition, e,
nesse caso, indica uma característica agentiva (capacidade de agir por vontade própria) do
argumento externo.
Exemplo
Veja os exemplos a seguir, em que o sujeito inicia voluntariamente um processo.
1. Mary filled the glass with wine. 2. He broke the code.
3. He stored the box in the garage.
4. He installed the grill near the house.
Y ocupa a posição de argumento externo (objeto), assim como Z, sendo, nesse caso,
bitransitivo. O metapredicado become (ficar/tornar-se) indica o sentido de mudança.
Considere os exemplos dados anteriormente.
Em (1), a estrutura de eventos seria a seguinte: fill: [Mary VOLITION ] CAUSE [BECOME
glass <full>WITH <WINE>]], ocorrendo mudança de estado e de posse.
Em (2), essa estrutura seria: broke [[He VOLITION] CAUSE [ BECOME code <broked>]],
um caso de mudança de estado. Em (3), store: [[HE VOLITION ] CAUSE [BECOME box IN
<garage>]], é
um caso de mudança de lugar.
Em (4), install: [[HE VOLITION] CAUSE [ BECOME grill <locate and ready
for use> IN near the house]], é um caso de mudança de estado locativo.
Além de afetar o número de argumentos, essa construção determina os pa péis que seus
argumentos desempenharão, como você já viu, que são chamados de papéis temáticos.
"Papel temático pode ser definido, grosso modo, como a relação semântica que se
estabelece entre um predicado e seus argumentos" (CANÇADO; GODOY; AMARAL, 2013,
p. 114).
Considere as variáveis X, Y e Z, já apresentadas. O argumento que tiver como modificador
a propriedade volição terá a função de agente, ou seja, a pessoa ou animal iniciou
voluntariamente algo, como no argumento X (Se X VOLITION => X é agente). Se um
argumento X não tiver esse modificador, terá o papel de causa, como em The wind broke
the window (Se[X]CAUSE =>X é causa). O argumento que é afetado ou alterado é paciente,
como o argumento
Highlight
Y nos exemplos (Se BECOME Y => Y é paciente). O último papel temático,
considerando os tipos de verbos de mudança citados por essas autoras, é
locativo. O papel temático locativo indica um local (Se [IN Z]=>Z é locativo).
Q
Fique atento
Há outros papéis temáticos, mas alguns não são relevantes para a análise argumental dos
verbos.
Instrumento: o meio pelo qual a ação é desencadeada.
1. Paul broke the vase with a hammer.
■Tema: a entidade deslocada por uma ação.
2. The ball hit my head.
☐ Experienciador: ser animado que mudou ou está em determinadoestado mental,
perceptual ou psicológico.
3. Paul loves Mary.
■Beneficiário: a entidade que é beneficiada pela ação descrita.
4. Paul paid Mary for the broken vase.
■ Objetivo (ou objeto estativo): a entidade a qual se faz referência, sem que ela
desencadeie algo ou seja afetada por algo. 5. Emily read the Stephen King's new book
■ Alvo: a entidade para onde algo se move, tanto no sentido literal como no
metafórico. 6.
Paul told Mary a joke.
Fonte: a entidade de onde algo se move, tanto no sentido literal como no sen tido
metafórico.
7. I came from my parents' house
Fonte: Cançado (2012, p. 107-108).
A estrutura aspectual tem relação temporal e apresenta pelo menos três tipos: state,
process e events, que pode ser subdividido em accomplishment e achievement events
(PUSTEJOVSKY, 1991).
State é o aspecto em que não há mudança, nem referência a um período inicial ou final.
Process é o aspecto denotado por atividade cuja duração é indefinida, como os hábitos.
Accomplishment events tem um início, meio e fim, nesse tipo há uma informação que
Highlight
Highlight
Highlight
Highlight
restringe sua duração. Achievement event denota uma mudança que ocorre
instantaneamente.
Exemplo
1. State-Mary got sick in the weekend.
2. Process-Mary drinks wine.
3. Accomplishment events-Mary read for an hour.
4. Achievement event-The new guy died.
Exemplo
Pustejovsky (1991, p. 52) apresenta os exemplos a seguir para resumir a estrutura
aspectual.
a) Processes: walk, run
b) Accomplishments: build, destroy c) Achievements: die, find, arrive
d) States: sick, know, love, resemble
Semantic relationships between words: synonyms (denotative, connotative)
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
■Listar os tipos de relações sinonímicas presentes no uso da linguagem. Descrever a
relação entre denotação e conotação.
Identificar as relações sinonímicas desde o léxico até o texto.
Introdução
Neste capítulo, você estudará sinonímia, denotação e conotação. Há diferentes tipos de
relação de identidade entre palavras e sentenças, sendo uma dessas a sinonimia, que
consiste na equivalência semântica entre palavras e sentenças. Essa equivalência pode ser
absoluta, quando há maior similaridade possível entre duas expressões (sinônimos
absolutos); ou aproximada, mantendo um mesmo núcleo significativo e apresen tando
traços semânticos diferentes, o que permite sua co-ocorrência com negação de uma e
afirmação de outra (sinônimo aproximado). Há ainda a sinonimia entre sentenças,
paráfrase, em que a equivalência se dá entre o conteúdo proposicional. Sinônimos desse
tipo são chamados de proposicionais.
Highlight
A denotação e a conotação estão ligadas à sinonímia, pois a primeira permite o
conhecimento lexical e a segunda uma adequação, conside rando fatores extralinguísticos.
A denotação diz respeito ao significado. das palavras e sua ligação aos objetos com os
quais se relaciona. É co nhecida também como significado literal. A conotação diz respeito a
um significado figurado ou valor positivo ou negativo de uma palavra ou expressão, como as
metáforas, o eufemismo e os disfemismos.
Sinonímia - uma relação de identidade
Relações de identidade são formas como as palavras estão inter e correlacio nadas. Essas
relações ajudam a definir uma palavra, indicando a que classe pertence (hiperonímia —
hiperonymy ou superordinate — e hiponímia — hyponymy), se faz parte de algo
(meronimia-meronymy), se tem significado similar/equivalente (sinonímia - synonymy), se
tem significado contrário (antonímia), etc. Essas relações permitem determinar a identidade
de uma palavra. Considere "scalding" e "scorching", "cat" e "kitten", "wheel" e "car",
"scorching" e "freezing". As duas primeiras indicam temperatura elevada e podem figurar em
uma lista de sinônimos, porém "scalding" é usada para líquidos e "scorching", para sólidos
(ou clima). De modo similar, "car" e "kitten" podem ser intercambiáveis em certas situações,
já que todo "kitten" é um "cat" (mas não o oposto), ou seja, o primeiro é hipônimo do
segundo e este, hiperônimo daquele. É possível usar o terceiro par como sinônimos
também, "wheel" é parte integrante de "car", relação chamada de meronímia. Por último,
"scorching" e "freezing" são usados para falar de clima, mas com significado opostos,
antonímia.
Exemplo
1. a) My mother gave me a dog cub.
b) My mom gave me a puppy.
c) My mum gave me a dog cub.
d) My mommy gave me a bow wow. e) I won a puppy from my mother.
Todas essas frases falam a mesma coisa, ainda que de formas diferentes. Em (la) há uma
frase bem formal, diferente de (lb, c, d). A frase de (lb) é mais comum no inglês americano,
já (1c), no britânico. A (ld) soa mais infantil. Essas quatro frases, contudo, têm estrutura
sintática idêntica: sujeito, verbo e objetos, ao passo que (le) não, mas o conteúdo semântico
é igual para todas. Elas são exemplo do que se chama sinonímia. Elas têm palavras
diferentes que funcionam como substitutas uma para a outra (mother > mom > mum >
mommy, dog cub> puppy> bow wow), além disso têm o mesmo conteúdo
proposicional. Sinônimos são, portanto, palavras que apresentam entre si equivalência
semântica (CHIERCHIA; MCCONNELL-GINET, 1996).
Fique atento
Proposição e conteúdo proposicional
hipônimo: sentido específico
hiperônimo: sentido genérico
relação entre termos em que o significado de um (merônimo) remete para uma parte constituinte de outro
Highlight
Diz respeito ao significado de uma frase e a seu conteúdo semântico, mas não necessa
riamente às palavras que a compõem. Essa terminologia também é usada para a lógica.
Nesse caso, ela se refere ao conteúdo abstrato de uma asserção (afirmação) lógica.
Exemplo
Apesar de parecer algo simples, a sinonimia é algo complexo, seja do ponto de vista do
falante ou dos teóricos. No episódio The One Where Rachel's Sister Babysits, da série
Friends, Joey quer escrever uma bela carta de recomendação para o processo de adoção
de Chandler e Mônica e, seguindo conselho de Ross, usa uma ferramenta de sinônimos no
computador. Joey, contudo, aplica essa ferramenta em todas as palavras, desconsiderando
se elas são ou não adequadas ao texto e à situação, como você pode ler a seguir. Como
visto no caso de scalding e scorching, há palavras que, apesar de sinônimas, não podem
ser usadas da mesma forma.
Trecho da carta do Joey com uso do Thesaurus (ferramenta de sinônimos) "They are humid
prepossessing Homo Sapiens with full sized aortic pumps."
Trecho original
"They are warm, nice people with big hearts."
Link
Confira o trecho do episódio The One Where Rachel's Sister Babysits no link ou código a
seguir.
https://goo.gl/1ECVT3
A dificuldade do falante no uso de sinônimos pode resultar em frases que soam estranhas
ou, até mesmo, anomalas e sem sentido. Já do ponto de vista teórico, a dificuldade está em
definir a sinonimia de modo acurado. As frases a seguir são sinônimas, considerando-se
apenas o conteúdo informacional, mas podem não ser em todos contextos, conforme
Chierchia e McConnell -Ginet (1990, p. 35).
Exemplo
2. a) Those women at the corner table look ready to order.
b) Those ladies at the corner table look ready to order. c) Those dames at the comer table
look ready to order.
A princípio, "women" é o termo mais neutro dos três, mas pode ter atribuído um significado
mais positivo ou mais negativo (conotação, como você verá na seção três), por exemplo,
"ladies" e "dames", ou ocorrer em um lugar e não necessariamente em outro ("dame" é
informal no inglês americano e formal, no britânico). Nesse caso, essas frases não seriam
mais sinônimas.
De acordo com Cruse (2003), pares ou grupos de sinônimos podem ser categorizados
considerando quão próximas de significado são as palavras em sinônimo absoluto (absolute
synonymy), sinônimo proposicional (proposi cional synonymy), sinônimo aproximado (near
synonymy).
Sinônimos absolutos são aqueles com maior semelhança possível de identi dade, que serão
igualmente normaisem todos contextos. Sinônimos desse tipo são difíceis de encontrar,
Cruse indica que talvez sejam exemplos as formas que pertencem a variedades linguísticas
diferentes, especialmente dialetos, como em "autumm" e "fall", "mom" e "mum". Sinônimos
proposicionais são sinônimos de conteúdo, podendo ser definidos em termos de
acarretamento (entailment) mútuo: A é sinônimo (de conteúdo) de B, se, e somente se, A
acarretar B e B acarretar A (CHIERCHIA; McCONNELL-GINET, 1990; ALLAN, 2001;
CANÇADO, 2012; CRUSE, 2003). Assim, em (1) e (2), as frases são sinônimas de
conteúdo, porque significam a mesma coisa, sem passar de verdadeiras a falsas ou
vice-versa (ILARI; GERALDI, 1987). Sinônimos aproximados são aqueles que apresentam
traços semânticos diferentes e que, na presença de um, o outro pode ser negado sem que
haja contradição.
Exemplo
3. He wasn't murdered, he was executed.
4. They didn't chuckle, they tittered.
5. He was plucky, but not heroic.
Fonte: Cruse (2003, p. 250).
Embora os sinônimos aproximados compartilhem um núcleo comum sa liente de significado,
eles são relativamente diferentes em traços menores. "Murder" e "execute" diferem quanto à
existência de planejamento; "chuckle" e "titter", quanto ao último ser interrompido; e "Plucky"
e "heroic", quanto à intensidade.
Exemplo
6. kill, murder, execute, assassinate
7. laugh, chuckle, giggle, guffaw, snigger, titter
8. walk, stroll, saunter, stride, amble
9. anxious, nervous, worried, apprehensive, fearful 10. brave, courageous, plucky, bold,
heroic
11. calm, placid, tranquil, peaceful, serene
Fonte: Cruse (2003, p. 250).
Apesar da dificuldade em conceituar a sinonímia de modo acurado, não é possível negar
sua existência e nem sua importância. Cançado (2012, p. 50) afirma que "é o acarretamento
mútuo que garante a possibilidade de se fazerem traduções de uma lingua para outra, ou
para se recontarem histórias, entre outras atividades". Do ponto de vista da pesquisa, os
estudos semânticos permitem, para qualquer disciplina, o entendimento sobre como
humanos processam informações (CHIERCHIA; McCONNELL-GINET, 1990).
Significado denotativo e conotativo
Na seção anterior, você pode ter uma ideia mais clara sobre sinonimia, inclusive sobre
como o contexto pode ter efeito sobre o significado. Quando se fala em significado
informacional, comumente se fala em significado denotacional (denotative meaning); já
quando se fala em significado que muda de acordo com o contexto ou que tem um valor
positivo ou negativo, se fala em sentido conotacional (conotative meaning).
Denotação
No âmbito semântico, denotação (denotation) é a relação entre lexemas e pessoas, coisas,
eventos lugares, propriedades, processos e atividades externas ao sistema da linguagem
(LYONS, 1977). Em geral, denotação é chamada de significado literal, isto é, aquele que
não se altera por razões extralinguísticas. Nos exemplos (1) e (2), temos diferentes lexemas
que podem ser usados como sinônimos. Apesar de terem diferenças em relação à
formalidade e à infor malidade, lugar em que mais ocorrem e faixa etária associada, eles
mantêm um núcleo significativo em comum. Há diferentes análises possíveis para o
significado de um lexema, como uma análise por decomposição lexical ou por cálculo de
predicado intensional (intensional predicate calculus), que se propõem a clucidar relações
semânticas entre itens lexicais (CHIERCHIA; MCCONNELL-GINET, 1990).
Exemplo
Decomposição lexical
Notebook=[OBJECT] [WITH SHEETS] [FOR WRITING]
Man= [HUMAM] [MALE] [ADULT]
Kill = [CAUSE] [BECOME] [NOT] [ALIVE] Armchair = [OBJECT] [FURNITURE] [FOR
SITTING] [FOR ONE PERSON] [WITH BACK] [WITH
ARMS]
Cálculo de predicado intensional
Vxlopen(x)→ BECOME (open (x))]
Open-verbo intransitivo = The door opened. Open - verbo transitivo = John opened the door.
Vxvylopen(x,y)→ CAUSE (x, open(y))]
É importante para a denotação a referência, pois enquanto a denotação está ligada ao
lexema, a referência (reference) está ligada a algo ou alguém no mundo em um
determinado tempo. Considere o lexema "daisy", que, como substantivo comum, denota
uma família de plantas (mais de 24 mil espécies), cujo membro mais prototípico é aquele de
pétalas compridas e brancas e com o miolo amarelo. Esse mesmo lexema pode ter como
referente (referent) uma pata, namorada do Pato Donald, personagem da Disney, ou
alguém ou algo que o tenha como nome. Nesse último caso, a referência irá fazer parte do
denotatum, ou seja, aquilo que é denotado por um lexema.
Fique atento
Lexema: é um conjunto de significados próximos associados a um conjunto de formas de
palavras relacionadas, por exemplo, find e found são um mesmo lexema.
Forma da palavra: é o conjunto de formas que um mesmo lexema assume em virtude
de flexões nominais e verbais, por exemplo, finde found são formas diferentes, assim como
woman e women.
Denotação: é o vínculo de significação entre lexemas e referentes, independentemente de
situações particulares de enunciado.
Denotatum: o que é denotado, consiste na classe de objetos, propriedades, etc. Denotata:
consiste em um indivíduo, ou membro específico.
Referência: é a relação entre um lexema e um indivíduo, objeto, lugar no mundo (real
ou não), em uma situação particular do enunciado. Sentido: é o modo com o qual a
referência é apresentada.
Extensão: está relacionado à referência, diz respeito à classe.
Intensão: conceito abstrato, não algo em particular, diz respeito à propriedade.
Lexema e referente, apesar de relacionados, são diferentes. Um mesmo referente pode ser
apresentado de formas diferentes, que são chamadas de sentido (sense), metaforicamente
o caminho percorrido por lexemas para se chegar a um referente. Observe a Figura 1, se
você considerar The Flash (não a expressão) como o referente, cada uma das formas de se
falar sobre ele será o sentido.
Highlight
Highlight
senido é diferente, mas o referente pode ser o mesmo
Highlight
A denotação se divide em intensão e extensão (CARNAP, 1947). Esses conceitos se
relacionam às noções de Frege sobre referência e sentido, como veremos a seguir,
extensão (extension) e intensão (intension), respectivamente. Extensão trata o significado
em termos dos objetos aos quais os lexemas se referem (CANÇADO, 2012). Assim, ao
dizer "a autora deste capítulo se chama Daisy", temos sete lexemas, mas apenas três
referentes, o capítulo que você está estudando, o livro em que esse capítulo se encontra e a
autora. Esses referentes são, portanto, extensão do lexema. A intensão é a propriedade
característica ou conjunto de propriedades que um denotatum deve ter necessariamente
para qualquer expressão na linguagem ser usada de uma forma convencional com a
linguagem (objeto) (ALLAN, 2001). Desse modo, a extensão de "dog" seria a classe de
"dogs", ao passo que a intensão seria a propriedade de ser "dog", "canine". Ter a
propriedade é condição para a correta aplicação de uma expressão (LYONS, 1977).
Conotação
Diferentemente da denotação, a conotação, comumente chamada de sentido figurado, não
é inerente ao lexema, pois ela é resultado de fatores extralinguís ticos, como cultura e
intenção do falante. Conotação é um efeito semântico (alguns diriam pragmático) que surge
do conhecimento enciclopédico sobre a denotação de um lexema ou expressão linguistica,
assim como de experiências, crenças e preconceitos acerca do contexto no qual a
expressão é usada ge ralmente (ALLAN, 2001; CANÇADO, 2012; CHIERCHIA;
McCONNELL -GINET, 1990). Diferentes fatores podem interferir na interpretação de sig
nificado conotativo, como aspectos culturais, danos cerebrais, patologias, etc.
Exemplo
Sarcasm sign
Sarcasmo e ironia são exemplos de significado conotativo e difíceis de compreensão para
certas pessoas. O personagem Sheldon, da série The Big Bang Theory, é uma dessas
pessoas. Em um dos episódios da primeira temporada, Sheldon diz não entender o porqué
de Penny estar tão brava, afinal ele dormira muito bem. Confira um trecho do diálogo:
Leonard: "A well-known folk cure for insomnia is to breakinto your neighbor's apartment and
clean."
Sheldon: "Sarcasm?" Leonard: "You think?"
Sheldon: "Granted, my methods may have been somewhat unorthodox, but the end result
will be a measurement enhancement to Penny's quality of life."
Leonard: "You convinced me, maybe you should sneak in and shampoo her carpet."
Sheldon: "You don't think that crosses a line?" Leonard: "Yes. For God's sake, Sheldon, do I
have to hold up a sarcasm sign every time!
open my mouth?"
Há diferentes formas de se criar um significado conotativo, às vezes, a diferença é
proposicional, como no caso de sarcasmo e das metáforas; em outras, na forma como o
que é dito é recebido, podendo ser visto como positivo ou negativo. Nenhum desses
significados, entretanto, é puramente linguistico; seu valor surge na relação extralinguística.
Your/Her Majesty, Your/His Highness, Your Lordhisp, Mr President, Madam Chairman são
exemplos de formas de tratamento muito formais. Auntie, babe, daddy, darling, dear, fella(s),
gorgeous, grandad, gramma, guys, handsome, honey, love (luv), momma, sweetheart,
sweetie, por outro lado, são exemplos de formas de tratamento intimo. A escolha de uma ou
outra forma depende, em grande parte da relação entre falante e plateia, se são pessoas
próximas ou qual a relação de hierarquia entre elas. Allan (2001, p. 150) propõe a escala
(Figura 2) a seguir para a forma de se dirigir a outra pessoa.
A conotação tem a capacidade de motivar a escolha de sinônimos apro ximados e o
desenvolvimento de novas expressões linguísticas, de modo a indicar discurso
politicamente correto, solidariedade dentro de grupo, polidez, deferência, insulto ou
agressão ou a evitar uma injúria (ALLAN, 2001). Ex pressões conotativas podem ser
classificadas como eufemismo (euphemism) e disfemismo (dysphemism). Eufemismo
consiste na tentativa de minimizar o impacto possivelmente negativo de algo; já o
disfemismo consiste em usar lexemas ou expressões consideradas ofensivas, indecentes
ou chocantes em certos contextos. O valor positivo ou negativo de um lexema ou expressão
pode mudar com o passar do tempo, como "dame", nos Estados Unidos, e outros termos
que tenham marcação de gênero. Termos desse tipo passaram a ser percebidos como
linguagem discriminatória, veja alguns exemplos no Quadro 1. Apesar de serem
apropriados para se referir a pessoas do gênero feminino, pode ocorrer uma desvalorização
quando comparado à contraparte masculina.
Sinonímia e texto
A sinonímia não é tão simples como pode parecer, pois, além de características lexicais, do
significado denotativo e, também, conotativo, outros fatores devem ser considerados, como
adequação linguística e objetivo da comunicação, por exemplo. Você já viu que o uso
indiscriminado de dicionário de sinônimos é um risco para a clareza e adequação do
enunciado, pois a relação de signi ficado não se restringe apenas aos lexemas.
Considerando isso, a sinonímia entre sentenças ocorre na forma como uma implica a outra
mutuamente (o que chamamos de parafrase).
A parafrase é uma ferramenta útil para recontar algo com outras palavras e para não ter que
citar de modo direto. É muito usada na produção de textos acadêmicos (sempre lembrando
de indicar a referência da fonte). Você pode parafrasear usando recursos lexicais e/ou
sintáticos, respectivamente, pará frase nominal e parafrase sintática. A primeira consiste em
mudanças de lexemas por outros com significados equivalentes; já a segunda, em mudança
na estrutura frasal.
Exemplo
12. a) Mark loves his family. b) Mark's family is loved by him.
c) Mark's family is loved.
13. a) The class 1b read the book Frankenstein. b) Frankenstein, the book, was read by
class 1b.
c) It was Frankenstein the book that was read by class 1b. 14. a) Floods and landslides
leave dozens dead and 50 missing in Japan.
b) Dozens people have died and 50 others are missing in Japan, because of floods and
landslides. c) Dozens of people have died and at least 50 are missing after torrential rain
triggered
landslides and flash flooding in Japan.
15. a) Every in this room talks two languages. b) Two languages are talked by every in this
class.
Assim como ocorre com a sinonímia lexical, também a parafrase demanda atenção.
Algumas mudanças podem alterar o sentido, como ocorre, por exem plo, com a mudança
da voz ativa para a voz passiva. As sentenças em (15)
têm o mesmo significado. Em (15a) é possível perceber que as duas línguas faladas por
cada membro não são as mesmas, por exemplo, um fala português e espanhol e o outro
francês e alemão. Já em (15b), trata-se de duas linguas iguais, conforme Chierchia e
McConnell-Ginet (1990). Ademais, construções passivas nem sempre são apropriadas aos
textos acadêmicos.
Paronym, antonyms, gradable pairs, relational opposites, homonyms, polysemy
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Definir a paronímia, as relações de antonímia, os pares graduais, os opostos relacionais, a
homonímia e a polissemia.
Relacionar as propriedades semânticas entre si. Explicar as propriedades ao nível do texto.
Introdução
Neste capítulo, você estudará seis propriedades semânticas muito im portantes para a
Lingua Inglesa: antonímia, paronímia, pares graduais, opostos relacionais, homonímia e
polissemia, as quais devem auxiliá-lo a compreender as relações de significado que podem
ser construídas em um texto.
Você verá também alguns exemplos de relação entre palavras, frases e textos, bem como
sua contextualização. As palavras não existem ao vento, elas são pronunciadas ou escritas
em um determinado contexto, e você deve ter isso em mente para construir uma visão
menos focada em definições estanques das propriedades e mais voltada para sua inserção
em situações reais de comunicação. Por questões didáticas, este capítulo apresenta as
classificações de algumas dessas propriedades semânticas, porém, você não deve se ater
a elas exclusivamente, e sim visualizá-las em contextos concretos.
Propriedades semánticas
Semântica é o estudo do significado, e algumas de suas propriedades podem ser estudadas
em conjunto devido à proximidade de suas relações. Entre elas, existem antonímia,
paronímia, pares graduais, opostos relacionais, homonímia e polissemia. Neste capítulo,
você entenderá cada uma delas e as relacionará entre si.
Polissemia
Não há apenas uma definição de polissemia, pois existem diferentes abor dagens
linguísticas que tratam desse conceito, e cada uma procura focar em aspectos específicos
que podem ser observados na própria delimitação conceitual.
Um dos conceitos de polissemia é um fenômeno no qual se pode identificar mais de um
significado em uma palavra ou locução. Já outra definição foi proposta por John Taylor, que
afirma que nesse fenômeno "[...] dois ou mais significados relacionados estão associados a
uma mesma forma linguistica" (TAYLOR, 2004, p. 103). Do ponto de vista histórico, é
possível dizer também que itens polissêmicos advêm de uma mesma origem etimológica.
Já sob a perspectiva da semântica cognitiva, um significado gera outro a partir de uma
motivação, que teria origem em princípios cognitivos gerais, advindos da psicologia
cognitiva. De acordo com essa visão, os itens lexicais são entendidos individualmente e
seus significados pertencem a conjuntos de significados que possuem alguma relação entre
si. Entretanto, haveria entre eles um significado central a partir do qual irradiariam outros
por semelhança de família, combinando características relevantes (TAYLOR, 2004, p. 186).
Exemplo
Veja a seguir alguns exemplos de polissemia na Língua Inglesa.
a) Plain
English is a plain subject. (Simples)
■Rhonda's T-shirt is too plain. (Liso, sem detalhes)
b) Paper
■I need some paper. (Papel)
Melanie wrote an excellent paper. (Artigo) ■I already read today's paper. (Jornal)
c) Fall
The rise and fall of Saddam Hussein. (Queda política)
The fall from a tree. (Queda fisica)
d) Record
Olympic records are made to be broken. (Recorde)
The police has a record ofthe conversation. (Gravação)
e) Guard
This group seems to behave like Praetorian Guard. (Guarda, grupo de soldados)
■There is a security guard watching the house. (Guarda, uma pessoa)
Homonímia
Essa propriedade semântica é frequentemente confundida com a polissemia, pois há
algumas semelhanças entre ambas, mas entenda a seguir por que se trata de conceitos
distintos.
A homonímia é um conceito um pouco mais simples de entender, trata-se da existência de
palavras que não se relacionam, mas possuem a mesma grafia ou fonologia. Em português,
um exemplo que facilita seu entendimento é o da palavra manga, que pode se referir tanto à
parte de uma blusa ou camisa como à fruta amarela que muitos amam comer. Esse caso
evidente não deve ser confundido com polissemia, pois as duas palavras têm origens
diferentes, e seus significados não estão relacionados.
Você até poderia dizer que caiu um pedaço de manga na manga da sua camisa nova - justo
aquela que ganhou no dia dos namorados, mas, brin cadeiras à parte, ainda que isso
aconteça, você estará diante de duas coisas diferentes que apenas contextualmente se
relacionam, em que uma continuará pertencendo ao campo da vestimenta e a outra
permanecerá sendo uma fruta.
Para explicar melhor esse fenômeno, Silva (2004) afirma que a homonímia pode surgir
apenas a partir de três processos: convergência fonética, divergência semântica e influência
estrangeira (ou empréstimo). No primeiro caso, duas ou mais palavras sofreriam mudanças
fonéticas ao longo do tempo e, em um
determinado momento, passariam a coincidir na linguagem oral e, em geral, na escrita. A
autora diz ainda que:
[...] esta forma de homonimia é muito mais frequente nas linguas que têm uma grande
abundância de termos monossilábicos (como o inglês e o francês) do que naquelas onde a
substância fonética das palavras tem sido mais bem preservada (como o alemão e o
italiano) (SILVA, 2004, p. 151).
Já a divergência semântica ocorre quando há perda de motivação semân tica. Por exemplo,
às vezes, uma palavra possui mais de um significado, mas estes são "descolados" com o
tempo e passam a não possuir mais nenhuma relação entre si. Nesse caso, a polissemia
deixaria de existir e, em seu lugar, entraria a homonímia.
Por fim, tem-se as palavras que se estabelecem em uma língua por em préstimo. Quando
isso ocorre, geralmente elas sofrem adaptações fonéticas e se incorporam com maior
naturalidade a essa língua de chegada, assim, existem casos em que as palavras
recém-chegadas coincidem com outras da língua que as recebeu.
Pode-se, ainda, dividir os homônimos em três tipos: homógrafos (mesmo
som, grafias diferentes), homófonos (mesma grafia, sons diferentes) e homô
nimos perfeitos ou true homonyms (mesma grafia, mesmo som).
Exemplo
Veja a seguir alguns exemplos de homonimias na Língua Inglesa.
a) Flour/flower (homophones)
Pour some flour into the bowl. (Polvilhar)
Daisy is a type of flower. (Flor) b) Cereal/ferial (homophones)
I like to eat cereal in the morning. (Cereais) He's a serial killer. (Serial, em série)
c) Ant/aunt (homophones)
■My Aunt Gigi is coming tomorrow. (Tia) An ant colony is a unit in which ants live. (Formiga)
d) Record (homographs)-note que são diferentes as pronúncias de record (substan tivo) e to
record (verbo)
■That's the new world record. (Recorde)
Katy will record a new song. (Gravar)
e) Wind (homographs)
■Wind the line onto the reel! (Enrolar, verbo) The wind is pushing me. (Vento, substantivo)
f) Last (true homonyms)
Last night was great! (Última)
It's not gonna last forever. (Durar)
g) Mouse (true homonyms)
■This computer needs a mouse. (Dispositivo de computador) The mouse was faster than
me. (Rato)
h) Close (true homonyms)
Don't close the door, please! (Fechar)
■Temperature is close to 5 degrees. (Próximo)
Highlight
Paronímia
As palavras que possuem grafia ou som similar, mas cujos significados não coincidem, são
chamadas de parônimos. Em geral, trata-se de um alvo de confusões para os falantes de
uma língua, sobretudo quando o significado das palavras envolvidas é diferente, porém,
próximo. Em algum momento da sua vida, você certamente se deparou com uma situação
em que a pessoa confundiu flagrante com fragrante, mandado com mandato, emigrante
com imigrante, entre outras possibilidades.
Pensando na inserção dessas palavras no cotidiano e na importância da tecnologia nas
formas de escrita, pode-se, inclusive, dizer que os parônimos são uma questão
problemática do ponto de vista da criação de programas de computador e aplicativos que
visam à correção ortográfica. Por exemplo, trocar inculpation period por incubation period
significa uma mudança brutal de contexto, da área criminal para a epidemiologia. Já pensou
na confusão? Por isso, voltar a atenção para o estudo de palavras parônimas é importante
não apenas para a compreensão da própria língua, como também para o aprendizado de
uma língua estrangeira.
Exemplo
Veja a seguir alguns exemplos que foram selecionados para que você possa comparar
pares de palavras e entender melhor o que são parônimos dentro do contexto da
Lingua inglesa.
a) Affect/effect (afetar/produzir, efetuar).
b) Conjuncture/conjecture (conjuntura/conjetura).
c) Alternately/alternatively (alternadamente/alternativamente). d) Human/humane
(humano/humano ou humanitário).
e) Popular/populous (popular/populoso). f) Refuge/refuse (refúgio, abrigo/recusar-se).
A seguir você aprofundará um pouco mais seus conhecimentos. Falou-se até agora sobre
os parônimos de uma maneira geral, porém, em inglês, pode-se classificá-los em literais,
fonéticos e morfêmicos.
Os parônimos literais (literal paronyms) diferem em apenas algumas letras. Na escrita, ao
incorrer em erro com palavras parônimas (não que paronímia seja necessariamente um
erro), geralmente se trata de descuido, baixo nível de escolaridade ou, ainda, no caso de
aprendizagem de língua estrangeira, de uma pessoa com nível iniciante. Como exemplo,
em inglês, há sign, sigh, sin e sing, word e world.
Os parônimos sonoros (sound paronyms) apresentam pequenas diferenças sonoras, o que
os aproxima do nível do registro de fala. Um exemplo bastante representativo é o caso dos
seguintes itens: write, right, Wright.
Os parônimos morfêmicos (morphemic paronyms), por sua vez, possuem o mesmo radical,
mas têm prefixos ou sufixos diferentes. É o caso de sens-ational, sens-ible, in-sens-ible,
Highlight
sens-itive, sens-eless, ou re-volu-tion, e-volu-tion e in-volu-tion (BOLSHAKOV; GELBUKH,
2003, p. 199). Em geral, esse tipo confunde muito os aprendizes de língua estrangeira,
justamente por se tratar de palavras muito próximas dos pontos de vista morfológico e
semântico.
Se, por um lado, os parônimos podem representar armadilhas linguís ticas para o aprendiz
de língua estrangeira, por outro lado, são utilizados como recurso literário. Veja o seguinte
trecho do Soneto 129 de Shakespeare (1609 apud MABILLARD, 1999) e observe a relação
entre as palavras grifadas:
Had, having, and in quest to have, extreme. A bliss in proof and proved, a very woe...
Bem, agora que você já entendeu o que é paronímia, veja as outras proprie dades
semânticas que estão faltando para completar o estudo deste capítulo.
Antonímia
De modo geral, considera-se que antônimos são palavras com significados opostos. Você
certamente já deve ter reparado em alguns pares que apresentam essa relação, como
always/never, ancient/modern, answer/question, beautiful/ ugly, private/public, entre outros.
Embora a ideia de oposição seja central para o entendimento desse conceito, há uma
grande variedade de definições e tipologias nos estudos linguísticos, porém, parece
consensual que antonímia depende tanto do contexto como da situação do enunciado em
que ela se insere (FERNANDES, 2009).
Em seu estudo sobre relações semânticas de antonímia e sinonímia, Fer nandes (2009)
resgatou algumas definições possíveis dessa propriedade. Ela se refere a Trier, que afirmou
que "Jedes ausgesprochene Wort lässt seinen Gegensinn anklingen"(apud FERNANDES,
2009, p. 38)- toda palavra pronunciada faz ecoar seu significado oposto. Essa ideia remete
à carga as sociativa que as oposições, em geral, e a antonímia, em específico, trazem.
A pesquisadora também destaca as contribuições de Concepción Olano, que apontou para
o "sentido de contrariedade semântica, de negação, de opo sição binária, de 'graduação' e
de 'propriedade"" (OLANO, 2004, p. 321 apud FERNANDES, 2009, p. 38) presentes nas
relações de antonimia. Já Carmen Varo relatou os critérios destacados por Aristóteles
quanto à categorização da antonímia:
A reciprocidade, que implica a relatividade entre os opostos; a gradação, que sugere a
existência de um lexema intermédio entre os opostos; a presença ou ausência de uma
qualidade, que abrange apenas uma unidade lexical não a tornando oposta; a afirmação
versus a negação, que se relacionam com aquilo que o lexema poderá ter de verdadeiro ou
falso e, por último, a implicação, (...) que a existência de um oposto não implica
necessariamente a do outro (VARO, 2007, p. 57-58 apud FERNANDES, 2009, p. 39).
Já Cruse (2004, p. 162 apud FERNANDES, 2009, p. 39) fala sobre a relação entre
antonímia e a concepção de linguagem, entendendo que, no cotidiano, se realiza processos
mentais repletos de relações desse tipo. Quando se elenca e se categoriza diferentes
elementos ou, ainda, ao colocar o foco em uma coisa em vez da outra, em tudo isso estaria
presente a ideia de oposição e antonimia.
Na mesma linha de pensamento, Manuel Alvar Ezquerra é mencionado por Fernandes por
sua concepção de antonímia como algo que perpassa os "valores, sentimentos e estados
de alma, quantidades e dimensões, movimentos, processos reversivos, localização
espacial, o realizável e o hipotético, relações cronológicas e estados opostos entendidos
como tal" (EZQUERRA, 2003 apud FERNANDES, 2009, p. 39).
Como você notou, os antônimos revelam muito mais sobre a linguagem do que uma simples
definição pode apontar, por esse motivo, eles já foram alvo de muitas classificações e
tipificações. Para o estudo deste capítulo, foram selecionados dois tipos de antonímia: os
pares graduais (gradable antonyms) e os opostos relacionais (relational antonyms) - mas
existem outros.
Os pares graduais são pares de palavras com significados opostos, mas com uma
peculiaridade, porque essa oposição apresenta sinais de continuidade, sendo que para
alguns, trata-se dos verdadeiros antônimos por representarem os extremos de uma escala.
Pense, por exemplo, na oposição entre hot e cold, se quiser medir a variação de
temperatura de uma bebida ao fogo, pode-se montar uma tabela que mostre sua
temperatura inicial e, depois, marcar mi nuto a minuto as variações observadas até o
máximo. Tal exemplo torna mais claro o que se está tentando demonstrar aqui, que é a ideia
de polaridade e graduação entre um polo e outro, de algo que pode começar em um oposto
e terminar em outro. É isso que faz duas palavras opostas serem classificadas como pares
graduais.
Utilizar advérbios de intensidade como very ou quite antes de cada par se trata de uma
forma simples de testar se ele é gradual ou não, de modo que se possa mensurar a
gradação presente nas expressões. Se tiver sentido, sabe-se que se trata de uma relação
gradual.
Exemplo
Nos exemplos a seguir, você pode ver como os pares graduais funcionam, assim, é mais
fácil identificá-los.
1. The drinks were cold and the food was hot. The drinks were quite cold and the food was
extremely hot.
2. My sweater is still wet but my trousers are dry. My sweater is still very wet but my trousers
are quite dry.
3. The salad was bland. The steak, however, was delicious. The salad was pretty bland. The
steak, however, was incredibly delicious.
Por fim, há os antônimos formados por uma oposição relacional (relational opposites ou
antônimos conversos), são pares de palavras opostas de modo que uma não existe sem a
outra. Qual seria o oposto de professor, por exemplo? Não existe nenhum, em princípio.
Entretanto, se colocar essa palavra ao lado da palavra aluno, percebe-se uma diferença e,
acima de tudo, uma oposição relacional. Não há professor sem aluno, nem vice-versa.
Pode-se até relativizar esse conceito, pensando em cursos que utilizam plataformas on-line,
como é o caso deste que você está fazendo, porém, o fato de haver uma distância entre
você e seu professor ou sua professora, não implica que essa relação não exista, certo?
Observe mais um exemplo: qual o contrário de marido? Esposa? Em princípio não, porém,
se você contextualizar essa palavra em uma relação matrimonial tradicional entre uma
mulher e um homem, então sim-pode-se dizer que se trata de opostos relacionais.
Diferentemente das relações graduais, os opostos relacionais não podem ser colocados
dentro de uma escala, não se mede sua extensão ou gradação apenas a partir dessas
palavras. Por esse motivo, trata-se de um tipo específico de antonímia, a qual carrega
características relacionais próprias. Veja alguns exemplos em inglês: doctor/patient,
teach/learn, parent/child, policeman/ criminal, plug/socket, predator/prey, borrow/lend,
master/servant, etc.
Neste capítulo, você estudou importantes propriedades semânticas e, agora, se sente mais
preparado(a) para compreender melhor as relações de significado que poderá encontrar em
textos de Língua Inglesa. Um dos pontos mais relevantes que você deve ter destacado ao
longo de sua leitura e precisa permanecer em sua memória é o fato de que, para analisar os
efeitos de uma propriedade semântica em um texto, deve haver contextualização - palavra
puxa palavra e elas não andam sozinhas. Bons estudos!
UNIDADE
3
Spelling and semantics: homographs, homophones, conversion, hyponyms
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Definir homografia, homofonia, conversão e hiponímia.
Relacionar as propriedades semânticas entre si. ■Comparar a grafia e sua relação com a
semântica.
Introdução
A Língua Inglesa é conhecida por possuir palavras, ao mesmo tempo, muito semelhantes e
completamente diferentes - similares em ortografia e sons, mas que diferem em
significados.
Neste capítulo, você estudará como os conhecimentos ortográficos e semânticos são
importantes tanto para escrever textos como paral interpretá-los.
Você conhecerá, ainda, as relações semânticas de homografia, homo fonia, conversão e
hiponímia, como elas podem estar relacionadas umas às outras e ligadas à ortografia da
Língua Inglesa, bem como exemplos de sua aplicação para produzir efeitos de humor em
textos escritos.
Spelling and semantics
Sob a ótica da linguistica, pode-se compreender a ortografia de várias formas: como o
processo de escrita das palavras a partir das letras aceitas para sua formação, como seu
estudo, a forma como uma palavra é escrita e a habilidade
do falante de soletrar/escrever. Todas essas definições compartilham a noção
de que a ortografia se interessa pela escrita das palavras. Já a semântica, em geral, é a
área da linguística cujos estudos objetivam compreender o significado e a interpretação de
palavras, signos e estrutura da frase. Para ela, o conceito de significado "transborda as
próprias fronteiras do puramente linguístico, entre outros motivos porque ele está
fortemente ligado à questão do conhecimento" (MUSSALIM; BENTES, 2012, p. 24).
Você deve estar se questionando sobre a relação entre as duas áreas, pois, aparentemente,
os interesses são distintos e não se relacionam, porém, ao con trário, pode-se relacionar
ortografia e semântica. Observe o exemplo a seguir:
Mom said she had a moose chocolate for dinner last night.
Imagine que a frase anterior acabou de chegar em seu celular. Ela lhe causa algum
estranhamento? Se a resposta for não, leia novamente atentando-se à ortografia de cada
palavra, mas caso a resposta seja positiva, você certamente não compreendeu o porquê da
palavra moose nessa frase, porque um "alce de chocolate" deve ser uma iguaria. Esse
exemplo pode ser analisado de duas formas: bastaconsiderar que o emissor errou a
ortografia da palavra mousse e escreveu moose, nesse caso, há um problema de spelling
talvez por falta de atenção ou pela velocidade da digitação. Já do ponto de vista semântico,
compreende-se que o erro está no sentido da mensagem e foi causado pelo fato de que
moose é homófono de mousse e compartilham a mesma pronúncia, mas seus significados
são completamente diferentes.
Os estudos que descrevem as propriedades ortográficas e semânticas das palavras datam
do início da linguística moderna. Linguistas como D.W. Cummings defendem a ideia de que
a ortografia é moldada por três grandes forças: fonética, semântica e etimologia
(CUMMINGS, 1988). Quanto à força semântica, os estudos entre esta e a ortografia podem
ser organizados da seguinte forma:
homographs - relação entre as palavras com ortografia igual e pro
núncia diferente; homophones-palavras com a mesma pronúncia e ortografia diferente;
conversion - quando palavras polissêmicas mudam de classe gramatical; hyponyms -
quando o significado de uma palavra é incorporado ao de outra mais específica.
A seguir, você estudará cada uma das relações semânticas.
About spelling and semantics
Highlight
Highlight
Uma das características mais expressivas da Língua Inglesa é a grande diver gência entre a
ortografia e a pronúncia das palavras. Dessa natureza, deriva a homonímia - uma relação
semântica entre palavras que compartilham a mesma forma, mas são completamente
diferentes quanto aos significados. Você verá dois casos dela: a homografia (homographs) e
a homofonia (homophones).
Homographs
Homografia é a relação semântica entre palavras com a mesma ortografia, mas que diferem
em pronúncia e significados. Observe os exemplos a seguir:
I'm thinking about wearing my hair tied back in a bow.
I always cry listening to Rihanna's song "Take a bow".
Neste exemplo, você pode perceber que a ortografia das palavras bow' e bow² é a mesma.
Já em termos de pronúncia, elas apresentam divergência, em que bow' recebe a pronúncia
/boʊ/, e a palavra bow² tem a pronúncia /baʊ/.
Quanto ao significado, bow' e bow² são diferentes. Na primeira frase, o falante comenta sua
intenção de usar o cabelo penteado de uma forma e, nesse contexto, compreende-se que a
palavra bow' significa laço (cabelo amarrado com um laço). Já na segunda frase, bow²
aparece no título da mú sica na expressão take a bow, que faz referência a um tipo de
cumprimento típico de países da Ásia, por exemplo, China e Japão. É também conhecido
como o cumprimento feito pelos artistas para agradecer ao público após uma apresentação,
assim sendo, bow² significa curv curvar-se.
Homophones
Homofonia é a relação semântica que se estabelece entre palavras que possuem
significados diferentes e são escritas de maneira distinta, mas possuem a mesma
pronúncia. Veja o seguinte exemplo:
Rose and Jack standing at the bow is my favorite scene in Titanic. Balsam bough harvesting
from trees less than 5 feet in height is improper.
Na primeira frase, pode-se inferir que a palavra bow refere-se a uma parte do navio, se você
já tiver visto a famosa cena do filme Titanic, e tal inferência
também é possível pela presença do verbo to stand (estar em pé) - Rose e Jack estão de
pé em alguma parte do navio. Nesse contexto, a palavra bow admite o significado de proa,
pois nomeia a parte frontal.
Já na segunda frase, a palavra bough refere-se à parte de uma árvore que pode ser
cortada, por isso, compreende-se que o significado dessa palavra é galho de uma árvore.
Do ponto de vista semântico, as palavras bow e bough são consideradas
homofonas por possuírem a mesma pronúncia (bau/) e significados comple
tamente diferentes.
Homophones são, em geral, considerados como homônimos verdadeiros (true homonyms),
pelo fato de que derivam de fontes completamente diferentes - conforme mostra o exemplo
a seguir:
Sophisticated diners in Europe and North America know that skate is wonder
fully delicious.
Qual significado da palavra em destaque vem à tona primeiro? Certamente, está
relacionado a um par de patins ou ao próprio skate (esqueite), sendo ambos objetos
associados à pratica de esportes. Portanto, surge a pergunta: como os restaurantes da
Europa e da América do Norte podem achar o skate delicioso? O que acontece, neste
exemplo, é que essa palavra, na Língua Inglesa, pode não apenas nomear o objeto
esportivo, como também um tipo de peixe (arraia). Trata-se de uma palavra homófona
considerada true homonym, pois possui duas origens diferentes: uma ligada à zoologia e a
outra a um determinado esporte, ice-skate.
Conversion
A mudança na função de uma palavra é, geralmente, chamada de conversion e implica na
troca de classe gramatical, sem alterações na estrutura morfológica da palavra original.
Como ela adquire um significado diferente da original, a conversion (ou a mudança de
classe gramatical) se torna de interesse dos estudos semânticos. Quando são organizadas
em pares, denominados de con version pairs, pode-se determinar as relações semânticas
que se estabelecem entre as palavras relacionadas por conversão. Você estudará as duas
principais classes gramaticas afetadas pela conversão e que permanecem semanticamente
relacionadas: os substantivos e os verbos.
Quando essa relação de conversão acontece de um substantivo para um verbo, este recebe
o nome de denominal verb e geralmente denota:
a) Ação característica do objeto. Observe as seguintes frases.
The detective just started interviewing the witness. Today we have come together to witness
the joining of bride and groom in
marriage.
Note que as palavras destacadas em negrito mantêm uma relação semântica, pois, na
primeira frase, o substantivo witness está relacionado à testemunha (uma pessoa que
observou ou estava no local de um acontecimento). Já na segunda frase, o verbo to witness
refere-se ao ato de testemunhar, nesse contexto, é a ação realizada pelas pessoas
presentes no casamento, que estão para testemunhar (assistir) a união entre os noivos.
b) Uso instrumental do objeto. Veja os exemplos a seguir.
A loose screw is causing all that noise in the engine.
First, screw these two pieces of wood together.
Nota-se a relação semântica entre o substantivo e o verbo comparando os dois exemplos.
No contexto da primeira frase, a palavra screw refere-se ao objeto parafuso (substantivo), já
Highlight
Highlight
Highlight
seu uso na segunda frase está relacionado ao uso instrumental do parafuso - nesse
contexto, unir dois pedaços de madeira.
c) Aquisição ou adição do objeto. Observe os exemplos a seguir.
These chairs really need a new coat of varnish.
Try using royal icing to coat the cake, it's delicious.
Coat, na primeira frase, ocupa a função de substantivo e significa cobertura as cadeiras
precisam receber uma nova cobertura de verniz. Já o segundo uso de coat possui a função
de verbo e denota a ação de adicionar o objeto, nesse caso, uma cobertura de bolo, pois a
ação de decorá-lo/cobri-lo implica em adicionar algum tipo de cobertura.
d) Privação do objeto. Veja os seguintes exemplos.
Coconut oil is a natural option to moisturize the skin.
I skinned my leg when I fell down the stairs.
No contexto da primeira frase, a palavra skin refere-se ao substantivo pele (órgão que
recobre o corpo humano). Já na segunda frase, skin ocupa a função de verbo (conjugado
no passado simples) e denota a ação de privação do substantivo. To skin está relacionado à
ação de remoção da pele, na segunda frase, é possível compreender que, ao cair da
escada, o ferimento causado foi essa remoção.
Até aqui, você estudou as relações semânticas de conversão do substantivo em um verbo.
Agora, você verá a relação de conversão do verbo em um subs tantivo. Quando um verbo é
convertido em substantivo, este recebe o nome de deverbal substantive e denota:
a) Instância da ação.
I can't move the box by myself, it's too heavy.
How does it feel to make a brilliant move in chess?
Nos exemplos, a palavra move está ligada à noção de movimento. No primeiro,move ocupa
a função do verbo mover, mudar de posição ou lugar, por exemplo. Já no segundo, ele tem
a função de substantivo e está relacionado à ação do verbo mover.
b) Agente de uma determinada ação.
Our staff is prepared to help you with your next home improvement project.
Can I get some help here?
A palavra help é utilizada como verbo (ação de ajudar/auxiliar) no pri meiro exemplo; já no
segundo, ela ocupa a função de substantivo (ajuda) que compartilha características
semânticas com o verbo ajudar.
c) Lugar de uma determinada ação.
You shouldn't drive so fast. Why didn't you take 12 Maple Drive?
A relação semântica entre drive (verbo) e drive (substantivo) é estabelecida pelo fato de que
o primeiro designa a ação de dirigir um determinado veículo terrestre, e o segundo refere-se
a um caminho/percurso/estrada pelo qual é possível dirigir um veículo.
d) Objeto ou resultado de uma determinada ação.
It is easier to peel potatoes after they're cooked. The cake was decorated with strips of
lemon peel.
Neste exemplo, o verbo (to peel) e o substantivo (peel) estão semanti camente
relacionados, pois este é resultado daquele. Geralmente, se utiliza o verbo em contextos
culinários para designar a ação de remover a pele de frutas e vegetais. Nesse mesmo
contexto, o substantivo refere-se à pele dessa fruta ou vegetal, o peel (substantivo) é o
resultado da ação do verbo to peel.
Hyponyms
Hiponímia é a relação semântica entre duas (ou mais) palavras de forma que o significado
de uma palavra contém ou inclui o significado de outras - em linhas gerais, pode-se dizer
que a palavra cujo significado está inserido em outras se trata de um termo geral. Linguistas
como George Yule referem-se a esse termo como superordinate, pois ocupa um lugar mais
elevado. Já aquelas que incluem o significado de um superordinate são chamadas de
hyponyms (YULE, 2006).
A partir das palavras red e scarlet, pode-se estabelecer uma relação se mântica de
hiponímia entre elas. Veja os exemplos a seguir:
I'm looking for a red dress. I'm looking for a scarlet dress.
Ao comparar as duas palavras, observa-se em ambas as situações a busca por um vestido
vermelho. Há uma diferença entre esses dois contextos, pois, ao escolher red, cria-se uma
amplitude de possibilidades, pois designa uma cor com várias tonalidades. Já ao escolher
scarlet, as possibilidades se reduzem, porque ela designa um tom específico de vermelho.
A hiponímia acontece pelo fato de scarlet ser um hyponym de red, que, por sua vez, pode
ser considerado um superordinate. Veja o quadro a seguir.
Red ocupa o lugar mais alto por ser um termo geral, ou superordinate, porque significa
vermelho (cor). Já as palavras scarlet, blood, burgundy e magenta são hyponyms de red,
pois todas incluem o significado da palavra red. Nesse tipo de relação semântica, é possível
também estabelecer que scarlet é co-hyponym de blood, pois ambas compartilham do
mesmo superordinate (red).
Highlight
Fique atento
O verbo que compõe um conversion pair pode ser polissêmico. No par dust e to dust, o
verbo pode tanto significar a remoção da poeira de um objeto ou lugar (Dust the book
shelves), como significar polvilhar (Dust the cake with icing sugar).
Relacionando propriedades semânticas
Hyponyms versus synonyms
Por vezes, nos estudos semânticos, se faz necessário aproximar as propriedades da
hiponímia com as da sinonímia para que haja a melhor compreensão de cada uma delas.
Synonym é a relação semântica entre palavras que possuem significados semelhantes, por
exemplo, as palavras close e shut:
Close the door please!
Shut the door please!
Nos exemplos, os significados das duas palavras são muito próximos, independentemente
da escola lexical, e o resultado obtido será igual: um pedido para fechar a porta. De maneira
geral, pode-se dizer que há uma relação linear na sinonimia close = shut.
A hiponímia, por sua vez, representa uma relação de hierarquia entre termos mais e menos
específicos, por exemplo, as palavras flower e rose:
Have you bought the flowers?
Have you bought the roses?
Pode-se notar uma espécie de organização taxonômica entre as palavras flower e rose,
pelo fato de que a primeira é considerada um termo menos específico, ocupando o espaço
de superordinate. Já a segunda, por ser mais específica, trata-se de um hyponym de flower.
Por isso, rose não pode ser um sinônimo de flower.
Há uma espécie de fórmula para confirmar que ocorre uma relação de hiponímia entre duas
palavras:
An X is a type/kind of Y
Essa fórmula foi desenvolvida pelo linguista David Alan Cruse em estudos sobre a
semântica lexical. Para o autor, Xe Y representam espaços que podem ser preenchidos por
termos que se relacionam lógica ou gramaticalmente (CRUSE, 1989). Aplicando a fórmula
nas palavras flower e rose, tem-se o seguinte:
Rose is a type/kind of flower.
Assim, confirma-se a relação de hiponímia entre as palavras flower e rose,
porque o oposto (flower is a type/kind of rose) é incompatível. Ainda sobre essas relações,
linguistas como Yule (2006) defendem a ideia de que elas podem ocorrer entre palavras que
Highlight
Highlight
descrevem ações (verbos), de pendendo do superordinate escolhido. Por exemplo, os
verbos hit, punch, slap e kick são considerados co-hyponyms desde que tenham como
superordinate um termo como injuries.
Homonyms and polysemy
Você deve se lembrar de que homônimos podem ter a mesma pronúncia (pho nological
form), a mesma ortografia (spelling), ou ambas, mas são diferentes quanto ao significado.
Você também já estudou a separação dos homônimos em: homophones (phonological form)
e homographs (spelling).
Quanto à polissemia, entende-se que é a relação semântica entre palavras com mais de um
significado, como face, que pode tanto indicar uma parte do corpo como a parte frontal de
um relógio. Homonímia e polissemia são essenciais em diversos estudos semânticos e, a
seguir, você verá a ambiguidade lexical, causada por palavras que podem ser interpretadas
de várias maneiras e
que pode ser estudada de duas formas: pelo viés da homonímia e da polissemia. Seu
estudo atrai a atenção de linguistas e semanticistas, porque o processo de análise
semântica pode envolver as palavras historicamente relacionadas, as que se tornaram
semelhantes de maneira acidental e aquelas que apresentam uma conexão metafórica
entre si.
A ambiguidade lexical causada por homônimos ocorre em casos nos quais os significados
das palavras são independentes entre si. Veja o seguinte exemplo:
The princess is getting ready for the Knight. The princess is getting ready for the night.
Ao ler as frases, não há dúvida de que as palavras knight (cavaleiro) e night (noite) têm
significado e ortografia diferentes. Contudo, imagine que, ao assistir a um filme ou uma
novela, você escute essa frase. Provavelmente, ela lhe causará dúvida, pois existe a
possibilidade de tanto a princesa estar se preparando para o encontro com o cavaleiro
como ela estar se preparando para a noite (ou um evento noturno). Nesse exemplo, a
ambiguidade lexical é causada em termos de pronúncia, porque as palavras knight e night
são homófonas.
Ainda sob o viés da homonímia, é possível estudar casos de ambiguidade
lexical causados por palavras homógrafas, cuja semelhança ocorre apenas na
ortografia. Veja o exemplo a seguir:
How was your date?
O exemplo "How was your date?" pode variar de contexto, o que implica em diferentes
sentidos para a forma date. Imagine a seguinte situação: você volta de um encontro
(romântico) quando alguém lhe pergunta: "How was your date?", como você responde? A
que o interlocutor se refere? Aqui, se instala a ambiguidade, pois date pode tanto significar
o encontro (evento) do qual você retornou como a pessoa com quem você estava nesse
encontro.
Agora imagine outra situação: alguém lhe diz a seguinte frase I had a date last night.
Certamente você associará date ao significado "encontro", mas há a possibilidade de
ocorrer a ambiguidade lexical pelo fato de que essa palavra também significa tâmara (fruta).Logo, dependendo das circunstâncias de uso, a frase I had a date last night pode ser "Eu
tive um encontro noite passada" ou "Eu comi uma tâmara ontem à noite".
A semântica estuda não apenas o significado das palavras, mas também as relações de
significado que estabelecem entre si, bem como se interessa
pela relação entre as palavras e a realidade extralinguística. Ao relacionar as propriedades
semânticas, é possível compreender como essas relações são estabelecidas. Você estudou
nesta seção que, embora as relações de hiponímia se difiram das de sinonímia pela
questão de hierarquia, em que uma palavra não é sinônima da outra, mas, sim, incorpora
parte do seu significado (rose/ flower), as palavras não estabelecem apenas um tipo de
relação semântica entre si. Você estudou, também, que a ambiguidade lexical pode ser
causada tanto por palavras homônimas como polissêmicas.
Saiba mais
O estudo semântico não se restringe a apenas uma propriedade, pois a mesma palavra
pode estabelecer diversas relações semânticas. A palavra bank, por exemplo, pode ser
estudada na homonimia sendo bank (margem do rio) homônima de bank (instituição
financeira). Já mammal, quando estudada na hiponímia, é considerada superordinate de
palavras como dog, cat, cow, zebra, mas pode também ocupar o lugar de co-hyponym do
superordinate animals.
Spelling and semantics combined
A motivação que prevalece para a escolha de palavras em um texto é, por tanto, de ordem
sociocognitiva, e está ligada aos sentidos e propósitos que se partilham em cada situação
de interação. Escolhe-se palavras conforme elas pareçam adequadas para expressar o que
se deseja dizer e fazer com elas. Ninguém, ao falar ou escrever nas atividades sociais do
dia a dia, faz escolhas aleatórias ou seleciona as palavras pelo tamanho que elas têm, pela
classe gramatical a que pertencem ou pela letra ou fonema com que se iniciam (ANTUNES,
2005, p. 126).
As palavras não são neutras, elas carregam significados e, dependendo de como são
empregadas em um texto falado ou escrito, podem direcionar a interpretação de quem as
lê/escuta. Pode-se dizer que elas representam uma concretização do pensamento,
essenciais para as mais diversas interações sociais. Estudar a dimensão semântica das
palavras torna-se requisito quando o assunto é a produção de um texto escrito, pois
precisam ser escolhidas para que a mensagem pretendida consiga chegar ao leitor.
Diferentemente do que
acontece com as interações em contexto de fala, no texto escrito, não há lin guagem
corporal, diferentes entonações e gestos. Nesse caso, as palavras são a principal fonte de
significado, por isso, devem ser escolhidas com cautela e, principalmente, escritas da forma
correta.
Highlight
Você estudará como a semântica e a ortografia estão relacionadas aos processos de escrita
e como o conhecimento das relações semânticas auxilia na escolha do vocabulário correto,
a fim de que sejam adequadas à finalidade do texto e ao público ao qual ele se destina.
Exemplo
Dear Sir
I am very pleased that you have selected one of our garments. You have made a wise
choice, as suits, jackets and trousers eminating from our Company are amongst the finest
products Europe has to offer. Fonte: Baker (1992, p. 15).
Uma breve revisão ortográfica do exemplo anterior aponta para um pro blema com a
palavra eminate, que não existe na Língua Inglesa e, possivel mente, seja um erro de
tentativa de escrita de emanate. A questão que se coloca seria: atentar-se apenas à grafia
das palavras é suficiente para garantir que o texto cumpra sua função? A resposta é
negativa. Além da grafia, deve-se compreender o significado das palavras.
Imagine que esse período passou por uma correção: You have made a wise choice, as
suits, jackets and trousers emanating from our company are amongst the finest products
Europe has to offer. A questão se torna o significado da palavra emanate (emanar), que
significa expressar qualidade ou sentimento pela aparência ou comportamento, por
exemplo, your face emanates sadness. Retomando o exemplo anterior, percebe-se que a
escolha lexical causa estra nhamento ao leitor, pois dificilmente imagina-se que fábricas
possam emanar seus produtos para outros destinos.
As escolhas semânticas podem mudar a intenção do texto, provocar es tranhamento e não
comunicar. Em contrapartida, elas também acontecem de maneira intencional, pois o
objetivo do texto é causar humor ou ironia. Jornais
costumam utilizar palavras homófonas nas manchetes com o intuito de chamar a atenção
do leitor ou, simplesmente, causar humor. Veja o seguinte exemplo:
Sew what? Ask clothes manufactures.
Neste exemplo, a "brincadeira" entre palavras acontece entre a pergunta "Sew what?" e a
expressão "So what?". As palavras sew (costurar) e so (então) são homófonas,
compartilham a mesma pronúncia, mas seus significados são diferentes. "So what?" é uma
expressão costumeiramente utilizada para mos trar que o assunto não é interessante ou de
grande importância. Por exemplo, quando utilizada como resposta a um comentário, pode
significar I don't care (não me importo), conforme você pode ver a seguir:
A: Vivian doesn't like you. B: So what?
Retomando a manchete, é possível perceber que So what? (E dai?) foi propositalmente
substituída por Sew what? (Costurar o quê?) com o intuito de chamar a atenção do leitor
para alguma questão envolvendo empresas fabricantes de roupas. Infere-se que a notícia
tratará de alguma medida, im posto, procedimento em relação às fábricas de roupas, pois a
estrutura da manchete pode indicar que o setor está descontente ao usar essa expressão.
Compreende-se, assim, que a manchete pode significar: "E dai? Perguntam os fabricantes
de roupas".
Empresas e estabelecimentos comerciais também se valem das relações semânticas entre
palavras para chamar a atenção dos possíveis clientes, pois o mercado atual está repleto
de competitividade e, cada vez mais, novas formas de atrair o consumidor são necessárias.
Empresas de publicidade, por exemplo, usam o conhecimento semântico em slogans a
partir de wordplays baseadas em ambiguidade, polissemia e homônimos.
A escolha por uma wordplay não acontece de forma aleatória ou descontex tualizada do
assunto pretendido para o anúncio, pois, para que haja o efeito de humor no anúncio, a
relação semântica precisa ter sentido para o leitor. Imagine que, ao passar por um salão de
beleza, você se depare com o seguinte slogan:
We curl up and dye for you.
Aparentemente, não há nada de diferente no slogan, pois as expressões curl e dye
representam serviços oferecidos por um salão de beleza (enrolar e tingir o cabelo), as
palavras são relacionadas ao contexto do anúncio. Porém, analisando a expressão "dye for
you" é que se pode compreender a busca por um efeito humorístico no texto, pois ela
remete à expressão "die for you" (morrer por você), que costuma aparecer em músicas e
cenas de filmes. Utiliza-se die for you geralmente em contextos de romance, nas cenas em
que uma personagem promete à outra fazer o que for necessário para não a perder.
Pode-se inferir que há um uso intencional de "dye for you" remetendo a "die for you" pelo
fato de que anúncios de salão não utilizam a expressão "dye for you", mas apenas "dye",
por exemplo: curl up and dye ou curl up & dye. Outra inferência possível trata de a questão
de salões de beleza oferecerem quantidades significativas de serviços aos seus clientes,
pois, pela forma que o slogan está construído, o objetivo é chamar a atenção do cliente para
o catálogo de serviços com o intuito de dizer que fazem mais que enrolar e colorir o cabelo.
Do ponto de vista semântico, pode-se dizer que o uso de wordplays visa atrair a atenção do
leitor de maneira mais descontraída, pois trabalha com os significados das palavras de
forma que a leitura do texto cause efeito de humor. Palavras polissêmicas colocam o leitor
em dúvida fazendo-o ler o texto mais de uma vez e, consequentemente, associando o texto
à marca/empresa.
Neste capítulo, você estudou como as relações semânticasestabelecem uma relação com
a ortografia e podem ser empregadas em diferentes tipos de textos para obter diversos
efeitos de sentido. Conhecer a ortografia das palavras da Língua Inglesa é essencial para
essa construção dos sentidos. Os exemplos estudados, por sua vez, servem para ilustrar
que se deve ter cautela com a ortografia e considerar sua relação com a semântica para
que haja uma boa comunicação e a mensagem pretendida seja significativa ao leitor.
Link
Há diversas possibilidades de uso de wordplays em anúncios e títulos. Você pode conhecer
os recursos empregados nesses tipos de texto no link a seguir.
https://goo.gl/IP3jfp
Fique atento
Atenção duplicada? Não! Triplicada! Algumas palavras podem ter sons muito parecidos,
mas significar coisas diferentes. We need to buy more sugar.
After work I'll drop by your house. She said bye and waved.
Taxonyms, holonym, meronym, similarity, metaphor, simile and contiguity
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Definir taxonomia, holonímia, meronímia, similaridade, metáfora, símile e contiguidade.
Relacionar as propriedades semânticas.
■Descrever as funções das propriedades semânticas no texto.
Introdução
A compreensão que você tem do mundo depende da sua capacidade de identificar
conceitos e caracterizar as relações entre eles. As relações semânticas são associações
significativas entre conceitos e ideias, e seu papel na representação do conhecimento
humano é essencial, por isso seu estudo é muito relevante para o entendimento do
funcionamento. significante da linguagem. Em outras palavras, as relações de sentido que
fazemos na e pela língua, por meio das quais significamos pensamentos e sentimentos, em
última análise, estruturam semanticamente o mundo em que vivemos. Taxonomia,
holonímia, meronímia, similaridade, metáfora, símile e contiguidade são tipos de relações e
associações empregadas na estruturação do mundo como o conhecemos.
Neste capítulo, você estudará a definição desses conceitos e a relação de suas
propriedades para aprender a identificá-los no uso da língua.
Relações lexicais e figuras de linguagem
Em geral, a semântica é a parte da gramática capaz de explicar as relações de sentido em
nível lexical ou frástico. No caso do inglês, assim como se observa na gramática do
português, a disciplina de semântica estabelece relações entre as unidades lexicais da
língua para fins de padronização das associações de sentido que se pode fazer a partir
delas. Essas relações são chamadas de relações lexicais (lexical relations) e caracterizam o
significado de uma palavra, não em função de seus componentes semânticos, mas em
função de sua relação com outras palavras (YULE, 2016).
Cada unidade lexical é constituída por um número indefinido de relações contextuais, ao
mesmo tempo em que ela própria constitui por si só um todo de conceitos unificados
(CRUSE, 1986). Não é tão simples quanto assumir que o sentido de uma unidade lexical
seja adquirido pelas suas relações contextuais; há algo do significado expresso que está
Highlight
contido na unidade lexical em si, a partir da relação de oposição que ela estabelece com
unidades lexicais do mesmo tipo dentro do sistema linguístico em questão. Considere os
verbos ingleses to see (ver), to look at (olhar com atenção) e to watch (assistir a algo): see
significa aquilo que look at e watch não dão conta de significar. A relação entre esses
verbos é evidente, entretanto, se você considerar a relação existente entre os substantivos
ingleses dog e cat ou tea e coffee, observará outro nível de relação, mais abstrato. Esse
tipo de relação semântica entre unidades lexicais que será tratado neste capítulo, a saber,
hiponímia/hiperonímia (taxonyms) e holonímia/meronímia (holonym, meronym). O que está
proposto na noção de taxonomia é uma classificação em um sistema hierárquico, em que
um hipô nimo deve especificar uma propriedade destacada do hiperônimo, ao passo que o
merônimo deve especificar uma parte do holônimo cujas propriedades não lhe são
impostas.
Saiba mais
Em inglês, o termo taxonym refere-se apenas à noção de hipônimo, de modo que a noção
de hiperônimo estaria de alguma forma implicada. Nas ciências biológicas, a taxonomia é o
nome que se dá à disciplina responsável pela classificação dos organismos. Portanto, a
semelhança com a relação que a linguística estabelece entre palavras hipónimas e seus
respectivos hiperônimos, isto é, classes superiores.
Uma figura de linguagem (figure of speech ou rhetorical figure), como o nome já diz, é uma
forma de linguagem figurada, que pode ser representada por uma única palavra ou por uma
frase. São muito utilizadas para elucidar a mensagem a ser transmitida e na criação do
efeito retórico, sendo, também, chamadas de figuras retóricas. Nesse processo semântico,
o significado da palavra ou frase representa claramente uma extensão daquele comumente
atribuído a sua denotação (significado explícito de uma palavra; sentido literal). As figuras
de linguagem transmitem significados provocando a identificação ou a comparação de uma
coisa com outra, por meio de sua conotação (signi ficado que é associado a uma palavra;
implícito). Há dois tipos de associação semântica (semantic association): similaridade
(similarity) e contiguidade (contiguity).
Baseadas nas leis de associação formuladas por Aristóteles, a similaridade semântica é
observada quando uma palavra ou a ideia que ela exprime orientam nosso pensamento à
outra palavra ou à ideia que dela se faz por meio de um princípio de semelhança entre os
referentes. Já a contiguidade semântica é observada quando uma palavra ou a ideia que
ela exprime é interpretada pela associação que fazemos dela com algo ou uma ideia que
esteja intimamente relacionada a ela, por meio de um princípio de proximidade entre os
referentes. É o caso da metáfora (metaphor) e da metonímia (metonymy), respectivamente.
No primeiro caso, o significado é transferido, pela substituição lexical, com base no fato de
que os dois referentes se assemelham um ao outro; no segundo caso, o significado é
motivado a partir da proximidade que há entre os refe rentes. Essas figuras de linguagem,
assim como a comparação (simile), em que o significado também é substituído, são
compreendidas como mudanças semânticas (semantic change). Na próxima seção, você
verá de maneira exemplificada cada um desses conceitos.
Fique atento
Não confunda a similaridade como um tipo de associação semântica entre unida des
lexicais com os termos linguísticos similaridade semântica (semantic similarity) e
similaridade lexical (lexical similarity). As similaridades semântica e lexical geralmente
referem-se ao grau de semelhança ou de distância entre o conteúdo semántico de
conceitos, frases, sentenças ou vocabulários entre grupos de textos, sendo bastante
estudas na linguistica de corpus, ou entre linguas distintas, e na linguistica comparativa.
Classificação das relações semánticas
Quando você faz uma associação de sentido entre unidades lexicais ou figuras de
linguagem, verificando a proximidade entre os seus significados explícitos ou implícitos,
você está fazendo uma relação semântica (semantic relationship). As relações semânticas
desempenham um papel essencial na pesquisa em semântica lexical, além de intervirem
em muitos níveis na compreensão e na produção da linguagem, sendo objeto constante de
estudos em linguística e psicologia cognitiva. Alguns especialistas dessas áreas sugerem
categorias de relações semânticas para aperfeiçoar o estudo e a caracterização dos tipos
de relação que se pode estabelecer com base no significado das palavras e/ou das frases.
Por exemplo, Landis, Herrmann e Chaffin (1987) classificaram as relações semânticas em
antonímia, sinonímia, inclusão de classes, parte-todo e relações de caso; Chaffin e
Herrmann (1988) forneceram uma vasta lista de relações semânticas divididas em
categorias semelhantes; e Winston et al. (1987) apresentaram uma classificação das
relações entre objetose seus com ponentes e entre a parte e o todo (meronímia) (STOREY,
1993).
Se você considerar todas as categorias sugeridas pelos autores mencionados ao mesmo
tempo, perceberá que é possível classificá-las em dois grandes grupos: relações
hierárquicas (hierarchical relations) inclusão de classes, relações entre objetos e seus
componentes e parte-todo; e relações não hie rárquicas (non-hierarchical
relations)-sinonímia, antonímia e relações de caso. Basicamente, todo e qualquer tipo de
relação semântica entre unidades lexicais pode ser classificado devido ao caráter
hierárquico ou não hierárquico. As relações semânticas entre unidades lexicais da Lingua
Inglesa baseadas em um princípio de hierarquia correspondem a dois grandes grupos:
relações taxonômicas (taxonomies) e relações meronímicas (meronomies). Essas relações
pertencem à categoria de inclusão. Quanto à inclusão meronímica, ainda, pode-se pensar
nas seguintes categorias de subclassificação: componente -objeto, membro-grupo,
parte-todo, objeto-material, subatividade-atividade, lugar-área. Na Figura 1, estão
sistematizadas as relações semânticas lexicais que você estudará neste capítulo.
Como você viu na seção anterior, enquanto as relações lexicais podem ser classificadas em
hierárquicas e não hierárquicas, as relações semânticas entre figuras de linguagem
(também chamadas tropes, em inglês), podem ser classificadas de acordo com o tipo de
associação: similaridade, metáfora e comparação; ou contiguidade, metonímia. Na Figura 2,
você pode ver como elas estão sistematizadas dentro dessa classificação.
Highlight
Highlight
Relações taxonómicas
São as relações observadas entre um hipônimo (hyponymy) e um hiperônimo (hypernymy).
São hipônimas as palavras cujo significado é específico e está incluso no significado de
outra palavra, seu hiperônimo, cujo significado é genérico. O hipônimo deve,
necessariamente, destacar uma propriedade, ou uma característica, que esteja destacada
em seu hiperônimo, ou seja, o significado do hiperônimo deve estar contido no significado
do hipônimo. De fato, a principal propriedade de uma relação taxonômica é a transitividade
das propriedades do hiperônimo para o hipônimo. Essa propriedade também pode ser vista
como um critério de boa formação para relações desse tipo (good taxonyms). Assim,
"bezerro" não é um bom hipônimo de "vaca", porque o ser vaca não está incluso no ser
bezerro; entretanto, "vaca" é um bom hipônimo de "mamífero", pois o ser mamífero está
incluso no ser vaca.
Em inglês, diz-se que a relação taxonômica é uma relação "é-um" (is-a), bem conhecida
entre os gramáticos e semanticistas, que associa um hipônimo, uma palavra relacionada a
um tipo específico de referente, a um hiperônimo, uma palavra de um tipo mais geral, de
modo que se estabelece uma relação tipo/subtipo que pode ser caracterizada conforme
apresentado a seguir.
Xé um subtipo de Y (X is a subtype of Y) se as seguintes expressões forem corretas:
a) Xé um tipo de Y (X is a type (ou kind) of Y), no caso dos substantivos; b) X-ing é um tipo
de Y-ing (X-ing is a type (ou kind) of Y-ing), no caso dos verbos.
Utilizando o exemplo anterior, tem-se como correta a expressão:
a) Vaca é um tipo de mamífero (Cow is a type of mammal/Cow is a kind of mammal).
Porém, tem-se como incorreta a expressão:
b) Bezerro é um tipo de vaca (Steer is a type of cow/Steer is a kind of cow).
Logo, a expressão a) é um par hipônimo-hiperônimo, ao passo que a ex pressão b) não o é.
De todas as relações de sentido, as taxonômicas ocorrem nas mais diversas categorias
gramaticais e domínios de conteúdo. Pares linguísticos de natureza taxonômica (como
vaca-mamífero) podem ser observados nas principais categorias sintáticas. Além disso,
uma breve consulta a um dicionário é sufi ciente para lhe convencer de que parece mais
fácil "estabelecer" hipônimos do que outros tipos de relações lexicais (CRUSE, 2002).
Devido ao fato de hierarquias lexicais taxonômicas bem desenvolvidas serem, em grande
parte, nominais, você verá uma lista de exemplos de hipônimos ingleses estabelecidos
exclusivamente na classe dos substantivos.
Exemplo
Exemplos de pares hipônimos-hiperônimos na Língua Inglesa:
rose-flower;
dog-animal, poodle-dog.
broccoli-vegetable;
apple-fruit;
tree-plant.
Em que rose is a type of flower; dog is a type of animal; poodle is a type of dog; broccoli is a
type of vegetable; apple is a type of fruit; e tree is a type of plant.
Assim, pode-se dizer que a classe das rosas está inclusa na classe das flores, ou que o
significado de flor está incluso no significado de rosa, bem como que a classe dos cães está
inclusa na classe dos animais, ou que o significado de animal está incluso no significado de
cão. Por essa razão, dizemos que a relação taxonômica é uma relação de inclusão de
classes.
Saiba mais
As unidades tomadas como hipônimas são, geralmente, classes de palavras, porém, alguns
estudiosos pesquisam variedades de hipônimos, ou seja, outras formas que o par
hipônimo-hiperônimo pode assumir, defendendo que se pode estender o conceito de
relação taxonômica a unidades maiores, como as frases.
Como exemplo, Cruse (2002, p. 4) sugere que "o significado da frase John entered
the room and sat down 'inclui' o significado da frase John sat down, ou que a frase John
killed the wasp inclui o sentido expresso em The wasp died".
Relações meronímicas
Relações meronímicas são relações ontológicas tão fundamentais como as relações
taxonômicas. Porém, ao contrário dessa última, que é bem estabele cida e bastante
investigada, alguns teóricos consideram que ainda há muito por se esclarecer quanto às
relações meronímicas. O motivo disso é a relação meronímica constituir uma série de
fatores mais complexos do que as relações taxonômicas. Não há, portanto, uma distinção
clara e única entre a unidade, isto é, o holônimo, e suas partes, os merônimos; o que há é,
na verdade, uma numerosa família de relações mais ou menos semelhantes. Dessa
maneira, Winston et al. (1987) sugeriram que a inclusão taxonômica pode ser distinguida da
meronímica, à medida que é verificada por uma relação "tipo de" (type of) enquanto a última
é verificada por uma relação "parte de" (part of).
Cada unidade que reconhecemos no mundo em que vivemos pode ser separada por partes,
como partes de objetos, partes de eventos e partes de coisas mais abstratas, como ideias e
instituições, além de unidades temporais ou espaciais. Embora haja diferença nas
propriedades de cada uma dessas categorias, elas compartilham um núcleo comum, sendo
todas classificadas como uma relação entre a parte e o todo, ou, simplesmente, como uma
relação parte-todo. A relação meronímica é a relação que se estabelece entre algo e suas
partes, então chamadas merônimos (WINSTON et al., 1987).
Em inglês, há dois testes, similares ao que você viu para definir uma relação taxonômica,
que podem ser realizados para garantir o estabelecimento de relações meronímicas
verdadeiras. O primeiro teste propõe que:
a) "Um Y possui Xs" (a Y has Xs) ou "um Y possui um X" (a Y has an X).
Exemplo
Uma mão possui dedos (A hand has fingers).
Em que Y = mão (hand) e Xs = dedos (fingers). No entanto, essa estrutura torna
verdadeiras as proposições que tratam de atributos que não denotam partes de um todo. É
o caso de "Uma esposa possui um marido" (A wife has a husband), em que Y e X não
denotam uma relação parte-todo, portanto, a proposição não é verdadeira para uma relação
meronímica.
O segundo teste considera que:
b) "Um X é parte de um Y" (A X is a part of a Y).
Exemplo
Um dedo é parte da mão (A finger is a part of a hand).
Em que X e Y denotam uma relação meronímica, uma vez que a proposi ção apresentada é
verdadeira, e "Um marido é parte de uma esposa" não é verdadeiro. Assim, fica
estabelecido que apenas merônimos reais satisfazem ambos os testes. Com isso, Cruse
oferece a seguinte definição geral do conceito de merônimo: "X é um merônimo de Y se e
somente se as sentenças 'Um Y possui Xs' e 'Um X é parte de um Y' são verdadeirasHighlight
quando os sintagmas nominais 'um X' e 'um Y' são interpretados de maneira genérica"
(CRUSE, 1986, p. 160).
Veja a seguir os principais tipos de inclusão meronímica possíveis de reconhecer por meio
da linguagem, segundo Storey (1993):
componente-objeto (componente-object) - a relação componente -objeto ocorre entre um
componente e o objeto do qual ele faz parte e no qual desempenha uma função específica;
Exemplo
O motor é componente de um carro (engine component-of car).
membro-grupo (member-collection) essa relação é uma associação na qual um conjunto de
membros é considerado um objeto por si só. Ela difere da relação componente-objeto uma
vez que não assume que o membro desempenhe uma função específica no grupo;
Exemplo
O funcionário é membro do comité (employee member of committee).
porção-massa (portion-mass) - nessa relação, a parte é semelhante a todas as outras
partes e ao todo. Ela difere das relações entre com ponente-objeto e membro-grupo, uma
vez que, nesses casos, as partes podem ser distintas entre si e em relação ao todo que elas
constituem (KUCZORA; COSBY, 1989);
Exemplo
A fatia é uma porção da torta (slice part-of pie).
material-objeto (stuff-object) — essa relação apresenta um constituinte do objeto, mas difere
da relação componente-objeto, à medida que, nesse caso, o constituinte, como o nome já
diz, não pode ser fisicamente separado do objeto sem alterar sua identidade (WINSTON et
al., 1987);
Exemplo
A bicicleta é de alumínio (bicycle is-partly aluminum).
fase-atividade (phase-activity) — é a relação entre determina fase (ou estágio) e a atividade
(ou processo) da qual ela faz parte. Nesse caso, as fases não podem ser separadas da
atividade;
Exemplo
A adolescência faz parte do crescimento (adolescence part of growing up).
local-área (place-area) — essa relação ocorre entre uma área e seus locais específicos. É
semelhante à relação porção-massa, uma vez que a parte (o local) é semelhante ao todo (a
área); porém, nesse caso, as partes não podem ser separadas do todo.
Exemplo
Highlight
A recepção está localizada no escritório (reception-area place-in office).
Similaridade e contiguidade- metáfora, comparação e metonímia
Como você viu no início deste capítulo, as figuras de linguagem são mudanças semânticas
em que o sentido das palavras e das frases é apreendido por meio de uma associação com
um significado que está implícito. Essa associação pode ser de natureza similar ou de
natureza contígua. Quando a associação é baseada na semelhança entre os referentes,
dizemos que há uma associação de similaridade entre eles; quando a associação é
baseada na proximidade entre os referentes, dizemos que há uma associação de
contiguidade entre eles. A seguir, estão descritos os casos de mudança semântica mais
frequen temente investigados por pesquisadores, cujo objeto reside na significação da
Língua Inglesa: a metáfora e a comparação, baseadas em uma associação de
contiguidade de significado.
Metáfora (metaphor)
É a comparação de duas ideias, objetos, pensamentos ou sensações por meio de uma
substituição. A metáfora faz referência a x para implicar y. Nesse caso, não há nenhuma
relação de significado pré-estabelecida entre a ideia que se quer expressar e o signo
empregado para expressá-la, isto é, anterior ao enunciado metafórico. É uma relação criada
exclusivamente pelo enunciador para transmitir a mensagem desejada. O objetivo é criar
uma imagem que oriente o receptor em direção ao significado, que está implícito por meio
de uma associação.
Exemplo
I could eat a horse.
Time is money. The world is a stage. A sea of troubles.
Comparação (simile)
É a comparação de uma coisa com outra a fim de elucidar alguma caracterís tica específica
da coisa comparada por meio de um exemplo. Em inglês, essa figura de linguagem é
obrigatoriamente acompanhada das palavras as ou like.
Exemplo
To cry like a baby.
As busy as a bee. To eat like a pig. As brave as a lion. Like peas in a pod.
Metonímia (metonymy)
É a relação que se estabelece quando uma unidade lexical ou, mais preci samente, a ideia
que ela exprime é referida por algo que esteja intimamente associado à ela. É a metonímia
que nos permite compreender corretamente a expressão He drank the whole bottle, por
Highlight
Highlight
exemplo. Sabemos que o prota gonista do enunciado bebeu o líquido que continha dentro
da garrafa e não a garrafa (bottle).
Exemplo
Having a roof over your head. Answering the door. Giving someone a hand.
Relações de sentido no texto
Tudo o que você estudou sobre a semântica da Língua Inglesa até este mo mento pode ser
facilmente observado em qualquer manifestação linguística do idioma. Uma vez que as
palavras e as frases significam, é evidente que se pode estabelecer relações semânticas
entre sintagmas de uma mesma língua. Porém, em uma primeira análise, pode não parecer
tão óbvio que o sucesso da comunicação na linguagem depende da correta aplicação desse
conheci mento inato, principalmente, quando se trata de uma segunda língua. Para
compreender o papel das propriedades semânticas no texto, é necessário, primeiro, ancorar
nossa reflexão em uma noção de texto que satisfaça de forma abrangente o aspecto
semântico da língua. Pensando nisso, você deve entender o texto como uma manifestação
linguística qualquer, ou seja, como discurso, ou, simplesmente, como linguagem - isto é, a
língua em uso.
Assim sendo, a semântica é responsável pelo sentido do texto, daquilo o que manifestamos
por meio da lingua, mas não é capaz de compor uma mensagem que faça sentido por si só.
O sentido que você quer que seja apreendido pelo seu interlocutor deve estar estruturado
em uma tessitura linguística. Portanto, para que a semântica desempenhe seu papel na
linguagem com eficácia, ela precisa estar alinhada a outras "camadas" da língua, como a
sintaxe e a prag mática. Dessa maneira, quando se trata de compreender a função
semântica
na linguagem (no discurso, no texto), é preciso expandir para uma abordagem mais
completa, ou seja, a função sintático-semântica. Isso significa dizer que as propriedades
semânticas, se tomadas a nível textual, não podem ser consideradas isoladas da estrutura
sintática com a qual compõem um excerto de linguagem, se se quer compreender o sentido
de um texto.
Nesse cenário, a sintaxe contribui para a correta interpretação das relações de sentido no
texto por meio da noção de coesão. Um texto coeso é um texto bem articulado, cujas ideias
seguem um princípio de encadeamento bem formulado, com o auxílio de certos elementos
conectivos. É sobre a coesão que se estabelece a coerência textual, isto é, a propriedade
que permite que se construa sentido a partir do texto.
Se o significado de uma mensagem depende do sentido que o uso das palavras pode
estabelecer no texto, logo, é no texto que ocorrem as mudanças semânticas como a
metáfora e a metonímia. É no texto também que as rela ções semânticas lexicais, como os
pares merônimo-holônimo e os hipônimo -hiperônimo, são empregadas e verificadas.
UNIDADE
4
Presuppositions, reference, implication, implicature, ambiguity
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Definir pressuposições, referência, implicação, implicatura e ambiguidade.
Relacionar as propriedades semânticas entre si. Identificar o funcionamento das
propriedades semânticas no texto.
Introdução
Neste capítulo, você estudará cinco propriedades semânticas: pressu posição, referência,
implicação, implicatura e ambiguidade. A semântica pode ser definida como campo de
investigação do significado e, dentro dela, há diversas correntes teóricas e visões sobre
qual seria seu objeto de estudo. A pragmática, por sua vez, estuda a construção de
significados dentro de situações comunicativas concretas, considerando que diferentes
contextos tendem a gerar mudança de significado.
Ao estudar as propriedades semânticas, você verá que existem ele mentos pragmáticos que
podem ser úteis para compreendê-las. Segundo Cançado(2012),
[...] isso se deve ao fato de que a semântica não pode ser estudada somente como a
interpretação de um sistema abstrato, mas também tem que ser es tudada como um
sistema que interage com outros sistemas, no processo da comunicação e expressão dos
pensamentos humanos (CANÇADO, 2012,
A seguir, será apresentada uma definição para cada uma dessas pro priedades semânticas,
com análise de alguns exemplos pertinentes que contribuirão para que você entenda melhor
o seu funcionamento.
Presupposition
Uma das definições possíveis de pressuposição é a informação que o falante ou o
enunciador presume ser previamente conhecida. Trata-se de um assunto que tem sido
estudado tanto pela semântica como pela pragmática, servindo muitas vezes para desafiar
a distinção do limite entre elas.
Pensada como um fenômeno semântico, a pressuposição pode ser entendida como parte
do significado linguístico, sendo, portanto, uma propriedade que está no nível da frase ou da
sentença. Porém, ao entendê-la como um fenômeno pragmático, trata-se daquilo que o
enunciador acredita ser verdade dentro do ato de comunicação. Sob essa perspectiva, ela
seria uma propriedade do enunciador, e não da frase. Portanto, estaria relacionada ao uso
da língua e ao contexto em que se insere.
Uma forma de verificar uma pressuposição é negar a frase e analisar se ela continua
verdadeira - com esse "teste de negação", pode-se identificar ou mesmo contestar sua
presença. Se, diante da negação, a suposta pressuposição se tornar duvidosa, então, se
está perante outro tipo de relação semântica.
Highlight
Highlight
Outra forma de verificar se existe relação de pressuposição é identificar a
presença de itens lexicais e expressões desencadeadores de pressuposição, os quais
sinalizam sua existência no enunciado.
Highlight
Reference
A referência é definida como a relação entre um item lexical ou uma expressão linguística e
o mundo, a qual pode se tratar de um objeto concreto ou de uma abstração que ele
represente. Por exemplo, na frase My son is in his bedroom, destacam-se duas referências:
my son identifica uma pessoa; e his bedroom, um lugar ou um objeto.
Estabelece-se uma diferença entre referência e referente. A primeira é a expressão
linguística que se refere a essa entidade no mundo; já o segundo se trata de uma entidade
Highlight
(objeto, pessoa, lugar, etc.). A referência tem como ponto de partida uma ação do
falante/enunciador e, portanto, seu sentido depende do contexto em que está inserida,
baseando-se no conhecimento que o interlocutor presumidamente possui sobre ela.
Reutilizando o exemplo anterior, é possível afirmar que as referências apontadas não
necessariamente correspondem ao mesmo referente, pois, dependendo de quem for o
enunciador, my son pode se referir a um menino chamado Jared, a um homem chamado
Matthew, etc. Portanto, quem enuncia é quem indica de que entidade(s) se está falando.
Da mesma forma, pode haver diferentes maneiras de se referir a uma
mesma entidade. As três frases a seguir poderiam descrever a figura de Donald
Trump, de acordo com a Figura 1.
TOMEN
OR
Figura 1. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América.
Fonte: Evan El-Amin/Shutterstock.com.
1. The president of the United States of America.
2. The man in a black suit.
3. The man waving at the crowd.
Nos três casos, o referente se trata da mesma entidade: Donald Trump, mas essas
expressões significam coisas diferentes, seu conteúdo muda. Em outro contexto, as frases
poderiam se referir a outra entidade, o que mostra que a referência não é intrínseca às
expressões, porque seu significado depende, antes, do uso que se faz da língua.
Implicature
Uma possível definição de implicatura é qualquer coisa que seja inferida a partir de um
enunciado, desde que não seja sua condição de verdade. Trata-se de uma informação
implícita que pode ser deduzida indiretamente ou por meio de uma "dica" presente nele.
Dessa forma, quando se extrai uma implicatura, fala-se sobre o que o enunciado "insinua",
"sugere", "indica", etc.
As implicaturas não estão ligadas a determinadas palavras ou frases especí ficas, mas, sim,
aos fatores contextuais. A teoria das implicaturas conversacio nais é de Paul Herbert Grice,
pesquisador que entendeu que, na comunicação, o que se quer dizer pode transcender o
que de fato foi dito, sendo possível prever sentidos adicionais.
As implicaturas são destacáveis e dependem da interpretação que se atribui a uma dada
situação. Por exemplo, hipoteticamente, eis o que acontece: Ryan está na casa de sua
prima Angela e os dois assistem à televisão na sala, cujas janelas estão abertas. De
repente, Ryan diz: "It's a bit chilly" ("Está um pouco frio"). Pode-se, primeiramente,
pressupor que, para ele, a temperatura está baixa, porém, em seguida, é possível dizer que
o enunciado elaborado por Ryan sugere que ele deseja que as janelas sejam
fechadas-sendo, portanto, uma implicatura possível. Esse caráter de sugestão também
diferencia a implicatura da pressuposição, pois esta última possui caráter mais objetivo e
não está sujeita a uma multiplicidade de interpretações.
Contudo, é possível que a implicatura seja cancelada em casos em que são adicionadas
premissas que a contradigam. Revisitando o último exemplo, Ryan poderia complementar,
dizendo: "It's a bit chilly, but I really need some fresh air", nesse caso, a implicatura inicial
deixaria de ser possível.
As implicaturas são fortemente dependentes do contexto comunicacional, da relação entre
os interlocutores, por isso, elas, muitas vezes, lidam com elementos que desafiam aspectos
da lógica que se acredita que a comunicação possua. Como não aparecem objetivamente
no texto (ficam "escondidas"), é difícil pensar em uma abordagem quantitativa que possa
fornecer dados estatísticos para estudos da área.
De acordo com Grice, a eficácia da comunicação na conversação ocorre a partir da
cooperação mútua entre os interlocutores, de modo que o enten dimento que um tem sobre
o outro contribuiria para o seu direcionamento. Esse princípio seria resguardado por quatro
máximas: quantidade (deve haver quantidade suficiente de informação na comunicação,
sem excesso, falta); qualidade (o enunciador crê na veracidade da informação que forneceu
e possui alguma evidência disso); relação ou relevância (a comunicação deve ser
relevante); e modo (a comunicação deve ser clara, breve e organizada).
Caso uma dessas máximas seja violada, a comunicação poderá perder sua eficácia. Em
alguns casos, no entanto, como em situações de humor, elas podem ser violadas, e o efeito
produzido tende a ser positivo. É característica do humor essa quebra de expectativa e,
portanto, para que ele seja produzido, as máximas devem ser quebradas. Quando os
envolvidos estão de comum acordo quanto às violações, não se diz que a comunicação
está sendo ineficaz.
As implicaturas são conversacionais ou convencionais, conforme Grice. No primeiro caso,
elas seriam o que o enunciador sugere e o enunciatário infere. As premissas não estariam
nas palavras do enunciado, portanto, seriam geradas pela cooperação entre os
interlocutores. Já no segundo caso, elas podem ser particularizadas ou generalizadas. As
particularizadas dependem diretamente das características do contexto, como mostra o
seguinte exemplo:
A: What happened to the cheese?
B: Your dog is looking happy!
No exemplo anterior, a implicatura de que o cachorro comeu o queijo deriva diretamente do
contexto específico explicitado por A. Já as implicaturas con versacionais generalizadas são
marcadas pelo uso de palavras ou expressões que sugerem distanciamento ou indefinição,
como "a house", "a child", o que as fazem não depender de elementos muito específicos da
situação comunicativa para serem inferidas. Por exemplo: "I was sitting in a garden one
day", do qual é possível tirar mais de uma implicatura.
Por fim, há implicaturas convencionais que são inferências feitas a partir de uma referência
comum ou cultural. Por exemplo, partindo da frase "Doug is Englishtherefore brave",
afirmar que todos os ingleses são corajosos é uma implicatura convencional, porque faz
parte de uma crença comum e cultural.
Implication
No senso comum, implicação é algo subentendido ou subjacente. Entretanto, do ponto de
vista semântico, trata-se de uma relação na qual uma proposição considerada verdadeira
implica que a outra também seja. Isso significa que se A implica B, pode-se afirmar que em
todas as situações em que A for ver dadeiro, B também será; o mesmo ocorre no caso de A
ser falsa. Implicação, portanto, seria uma relação condicional verdadeira.
As implicações podem partir de um raciocínio lógico (dedutivo) ou empírico (indutivo). No
primeiro caso, parte-se de uma ideia geral para comprovar uma particular, em que uma
premissa (ou mais de uma) é considerada verdadeira a priori e, a partir dela, por meio de
procedimentos lógicos, chega-se a uma con clusão igualmente verdadeira. Um exemplo
clássico de dedução é o silogismo:
Premise 1: All men are mortal.
Premise 2: Socrate is a man.
Therefore: Socrate is mortal.
No caso do raciocínio indutivo ou empírico, o procedimento é diferente, pois parte-se de
algo particular ou concreto para se chegar a uma ideia mais geral. Os dados observáveis
servem, nesse caso, para fazer generalizações. O silogismo estatístico é um exemplo disso:
Premise 1: 10% of population P has AIDS.
Premise 2: Individual A is part of population P. Therefore: The probability that individual A
has AIDS corresponds to 10%.
Pode-se contrapor os dois métodos a partir da frase "Most students are dedicated". Do
ponto de vista lógico, se todos os alunos se dedicam, a maioria também se dedica. Já do
ponto de vista empírico, se digo que a maioria se dedicou, é porque nem todos se
dedicaram. Sendo assim, a proposta do método lógico está mais ligada aos aspectos
semânticos, já o empírico responderia melhor às questões pragmáticas.
O conceito de implicação é importante para a lógica, mas, na prática, o fato das premissas
implicarem uma conclusão não significa que esta seja razoável. Da mesma forma, quando
as premissas são duvidosas, isso não quer dizer necessariamente que o raciocínio esteja
errado. Observe o exemplo a seguir:
Premise 1: Tom has a dog called Molly. Premise 2: All dogs love their owners.
Therefore: Molly loves Tom.
No caso anterior, o raciocínio é validado, pois se as premissas forem verdadeiras, a
conclusão também deve ser aqui, refere-se a uma lógica verdadeira, não à verdade dos
fatos propriamente dita. Veja um exemplo de raciocínio inválido:
Premise 1: Kobe is a dog.
Premise 2: Everything that barks is a dog. Therefore: Kobe barks.
Aparentemente, a conclusão pode ser considerada verdadeira, mas se adicionar uma
terceira premissa que seja compatível com as anteriores, é possível notar que a conclusão
se tornará falsa:
Premise 1: Kobe is a dog.
Premise 2: Everything that barks is a dog.
Premise 3: Kobe is a basenji. Therefore: Kobe barks.
Tudo o que late é cachorro (premissa 2), mas nem todo cachorro late. Basenji, por exemplo,
é uma raça canina que não late, ele emite yodel, uivos e chiados. Se Kobe é um basenji
(premissa 3), ele não late, o que invalida a conclusão. Portanto, é possível haver uma
relação em que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão é falsa.
Ambiguity
Uma palavra ou expressão pode conter mais de um significado. Quando isso acontece, há
ambiguidade. Em geral, em muitas situações, podem-se identificar palavras e expressões
Highlight
ambiguas, mas, às vezes, nem se chega a percebê-las, porque o contexto comunicativo
esclarece o sentido proposto pelo enunciador.
A ambiguidade pode ser lexical (quando um item lexical apresenta dois ou mais
significados) ou estrutural (ocorre com uma ou mais estruturas sintáticas). File, por exemplo,
é um caso de ambiguidade lexical, pois há dois significados comuns para essa palavra,
como é apresentado na Figura 2.
a)
b)
Figura 2. Significados da palavra file: a) File: folder that contains information; b) File:metal
tool. Fonte: a) Nirat.pix/Shutterstock.com; b) Roblan/Shutterstock.com.
Exemplo
Bank (financial institution or river bank), ball (object commonly used in sports or formal
gathering for dancing), bat (animal or baseball equipment), can (cylindrical metal container
or modal verb).
Exemplo
Veja a seguir alguns exemplos de ambiguidade estrutural. 1. I saw the man with the
telescope.
Neste caso, quem estava com o telescópio: "I" ou "the man"?
2. We must discuss violence on TV.
Onde está a violência neste caso? Deve-se discutira violência presente nos programas de
televisão? Ou discutir nos programas televisivos os problemas relacionados a ela?
3. The cops killed the man with a knife.
Os policiais mataram o homem que possuía uma faca? Ou eles usaram uma faca para
matá-lo?
Para entender mais precisamente o sentido pretendido pelo enunciador nesses enunciados,
necessita-se de outras informações contextuais; caso contrário, a resposta de cada uma
das perguntas permanecerá incerta.
A presença de enunciados ambiguos pode influenciar diretamente os as pectos de coesão e
coerência textual. Quando um argumento está pautado em uma ambiguidade, pode resultar
em conclusões falsas ou absurdas, gerando também problemas do ponto de vista da
interação entre os interlocutores.
A ambiguidade não é necessariamente uma propriedade negativa. Por exemplo, em
charges e outras formas de humor, os enunciados ambiguos costumam ser fundamentais
para a geração do efeito cômico desejado, por meio da quebra das expectativas lógicas
mais comuns.
Highlight
Porém, como solucionar casos de ambiguidade quando esta não faz parte do escopo do
texto? Norman Stageberg (1975) selecionou oito estratégias possíveis para evitar
enunciados ambiguos.
1. Sinônimo: o uso de sinônimos que, no contexto em questão, não in
corram na mesma relação de ambiguidade.
2. Expansão: adição de palavra(s) ou expressões. 3. Rearranjo: mudança da ordem das
palavras em uma frase.
4. Maiúscula: o uso da letra maiúscula pode eliminar a ambiguidade em
alguns casos em inglês.
Por exemplo: You should call your uncle Leo. → You should call your
Uncle Leo.
No primeiro caso, não é possível saber quem se chama Leo - o tio ou o
sobrinho, o que é resolvido, em seguida, com o uso da maiúscula.
5. Pontuação: o uso de vírgulas e outros sinais de pontuação. 6. Soletrar: isso raramente
funciona na linguagem escrita, mas, na lin
guagem oral, pode eliminar o problema. 7. Mudança de contexto: restrição do contexto pode
ajudar a restringir
a quantidade de sentidos de um enunciado. 8. Sinais gramaticais: uso de sinais específicos
em vez de genéricos. Por
exemplo: marca de gênero (his/her), diferenciação pessoa-coisa (who,
which), marca numérica (was-singular, were-plural), entre outros.
Você pode ver neste capítulo como funcionam algumas propriedades semânticas na Lingua
Inglesa. Ao fim dessa leitura, espera-se que você seja capaz de identificá-las e
interpretá-las em diferentes situações de comunicação. As definições devem servir como
referência para sua compreensão dessas propriedades; e os exemplos, esclarecer e
enriquecer esse entendimento.