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UNIT - Medicina P5- Bianca Lima de Souza Cirrose hepática TUTORIA “A cirrose é caracterizada pela desorganização da arquitetura lobular do fígado, definida histologicamente por fibrose e formação de nódulos regenerativos.” ● É classificada de acordo com suas características morfológicas e suas manifestações clínicas. CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA: ● Macronodular: quando formada por nódulos com diâmetro maior ou igual a 3 mm; ● Micronodular: quando constituída por nódulos menores que 3 mm; ● Mista: caracterizada pela presença de nódulos de tamanhos variados. ● Essa classificação não tem qualquer valor prognóstico; ● A cirrose de padrão micronodular pode evoluir para padrão macronodular. ● O padrão micronodular é mais frequentemente visto na etiologia alcoólica, enquanto o macronodular é mais comum nas cirroses secundárias às hepatites virais e à doença de Wilson. ● Cirrose é um termo histopatológico. ● Tem sido recomendada sua substituição por hepatopatia crônica em fase avançada. ● Pode ser caracterizada tanto pela análise histopatológica do parênquima hepático, quanto por marcadores não invasivos clínicos, laboratoriais e radiológicos de fibrose hepática. CLASSIFICAÇÃO QUANTO ÀS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ● A depender da presença de complicações de insuficiência hepática ou de hipertensão portal, a cirrose é classificada como compensada ou descompensada. ● Cirrose compensada: é frequentemente assintomática ou oligossintomática. Quando presentes, os sintomas são inespecíficos, como fadiga, anorexia e perda de massa muscular. Podem também estar presentes: Icterícia e sinais periféricos de doença crônica parenquimatosa do fígado (DCPF), 1 Compreender a cirrose hepática (epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento) INTRODUÇÃO 2 como eritema palmar, telangiectasias, ginecomastia e atrofia testicular. ● Cirrose descompensada: ocorrência de qualquer complicação secundária à insuficiência hepática ou à hipertensão portal, tais como ascite, hemorragia digestiva varicosa, encefalopatia hepática (EH) e infecções, particularmente, peritonite bacteriana espontânea (PBE), infecção respiratória e urinária. ● A descompensação da cirrose pode levar à disfunção de órgãos e sistemas, incluindo fígado, rins, pulmões, sistema nervoso central, sistema circulatório e coagulação. ● Essa descompensação pode desencadear insuficiência hepática crônica agudizada (IHCA). ● As principais causas de cirrose são as hepatites pelos vírus B e C e a doença alcoólica do fígado; ● A esteatohepatite não alcoólica tem sido cada vez mais frequente nos últimos anos dentre as causas de cirrose. ● No Brasil, os dados referentes à morbidade e mortalidade da cirrose são escassos. ● De acordo com os dados do DataSUS5, entre 2001 e 2010 ocorreram 853.571 hospitalizações por doença hepática no Brasil, com taxa de mortalidade de 3,34%. ● Essa estimativa é largamente subestimada diante da frequência das hepatites virais no nosso meio. ● Até março de 2014, 1.411 pacientes aguardavam transplante de fígado em território nacional, tendo sido realizados, no ano de 2013, 1.723 transplantes de fígado, a maioria por cirrose. ● O fígado é o maior órgão do corpo (2% do peso corporal total ou 1,5 kg na pessoa adulta). ● Sua unidade funcional básica é o lóbulo hepático, que é uma estrutura cilíndrica. (50.000 a 100.000 lóbulos individuais.) ● O fígado está organizado em hexágonos que são linhas de hepatócitos. ● Os hepatócitos, que são a unidade funcional do fígado, formam as placas hexagonais e por fim os lóbulos hepáticos. ● Os hexágonos têm em comum em suas pontas a tríade portal (formada pelo ramo da veia porta, ramo da artéria hepática e ducto biliar). ● O lóbulo hepático é construído em torno de uma veia central que drena para as veias hepáticas e, daí, para a veia cava inferior. CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA: ● A veia porta drena para os hepatócitos,através dos ramos da veia porta, se transformam em sinusóides hepáticos, e depois em veias centrais; ● As veias centrais passam por dentro dos hexágonos. Por fim juntam-se, formando a veia hepática e desembocam na veia cava inferior. 2 EPIDEMIOLOGIA ETIOLOGIA/ FISIOPATOLOGIA 3 ● Nos septos existem pequenas vênulas portais que recebem seu sangue da veia porta. ● A partir dessas vênulas, o sangue flui para os sinusóides hepáticos, que existem entre as placas hepáticas, e daí para a veia central. ● As arteríolas hepáticas estão igualmente presentes no septo interlobular. Fornecem sangue arterial para os tecidos septais, entre os lóbulos adjacentes, e muitas drenam, diretamente, para os sinusóides hepáticos. ● Fenestrações: As aberturas são mais amplas no revestimento endotelial dos sinusóides, para permitir a passagem de moléculas grandes, como a albumina. ● Células de Kupffer: São macrófagos protetores, que recobrem os sinusóides hepáticos e atuam na linha de defesa física contra metabólitos e toxinas e ficam próximos aos sinusóides. ● Espaço de Disse: Entre as células endoteliais e as hepáticas. Abaixo do sinusóide, onde estão localizadas as células estreladas, responsável pela síntese de retinóides, colágeno e fatores de crescimento. Na exposição recorrente ao álcool ou ao vírus da hepatite as células da estrela são ativadas e ocorre produção excessiva de colágeno, levando ao aspecto fibrótico. Esse espaço também se conecta com os vasos linfáticos. Resumindo: Veia porta hepática → Hepatócitos → Sinusóides hepáticos → Veias centrais → Veia hepática → Veia cava inferior. CIRCULAÇÃO BILIAR ● Entre os hepatócitos adjacentes, situam-se os pequenos canalículos biliares, que drenam para os ductos biliares, nos septos fibrosos que separam os lóbulos hepáticos adjacentes. ● Canalículo biliar: Estruturas, localizadas entre os hepatócitos, onde nasce o sistema biliar, porque é aí que o fígado excreta as coisas que ele não quer. São canais onde a bile é secretada. Resumindo: Canalículos biliares → Dúctulos biliares → Ducto hepático direito e esquerdo → Ducto hepático 3 4 comum que se junta com o ducto cístico, formando o ducto colédoco, que desembocam na porção descendente do duodeno. ACINOS HEPÁTICOS ● O ácino é a estrutura funcional tridimensional na qual o sangue, com nutrientes provenientes do intestino, flui a partir das veias porta terminais para os sinusóides hepáticos. Zona 1: Hepatócitos mais próximos à tríade portal, tendo maior suprimento de oxigênio e sendo mais sensíveis à lesão oxidativa. Zona 2: Intermediária. Zona 3: Hepatócitos mais próximos à veia central, tendo menos suprimento de oxigênio e sendo mais sensíveis à isquemia. CIRROSE ● Na cirrose, ocorre colapso dos lóbulos hepáticos por agressão hepatocelular e reparo com formação de septos fibrosos e nódulos regenerativos. ● Vários agentes, incluindo células do sistema imune, vírus, álcool, endotoxinas, ferro, cobre e hipóxia, são capazes de induzir lesão hepatocelular e morte por apoptose ou necrose. ● Esses agentes podem provocar lesão hepática por ação direta ou mais frequentemente por ativação de uma série de mediadores intra e extracelulares e ativação e proliferação de células hepáticas, tais como células de Kupffer, células estrelares e endoteliais. ● A fibrose ocorre por deposição de matriz extracelular constituída por colágeno, proteoaminoglicanos e glicoproteínas. ● A principal célula responsável pela síntese de componentes da matriz extracelular no fígado é a célula de Ito (células estrelares ou estreladas), que se localizam-se no espaço perisinusoidal. ● Em condições normais, as célulasestreladas fazem o armazenamento de vitamina A. ● Na presença de lesão hepatocelular, são ativadas em resposta à produção de citocinas e quimiocinas como fator de crescimento de plaquetas e de endotélio, TGF-beta-1 e fator de necrose tumoral. ● A ativação de células estrelares induz a sua proliferação, o aumento na síntese de componentes da matriz extracelular, particularmente colágeno do tipo I. ● Lesão hepatocelular persistente ou intermitente, com colapso do arcabouço de fibras reticulínicas associada à fibrose leva à formação de septos porta- porta e porta-centro; ● A cirrose, independentemente dos aspectos peculiares relacionados à sua etiologia, manifesta-se como insuficiência hepática e/ou hipertensão portal associada ou não à disfunção circulatória. ● A disfunção circulatória se dá pela ascite, edema de MI, encefalopatia hepática (EH), infecções, hemorragia digestiva varicosa, síndrome hepatopulmonar (SHP) e hipertensão portopulmonar. 4 5 ● A cirrose é denominada compensada na ausência de complicações relacionadas à insuficiência hepática, à hipertensão portal e/ou à disfunção circulatória. → Insuficiência hepática: decorrente da diminuição da massa funcional de hepatócitos. Há redução da síntese de proteínas plasmáticas e distúrbios no metabolismo de carboidratos e lipídios. Além de redução do catabolismo e da biotransformação de aminoácidos, hormônios, agentes xenobióticos, e falha na neutralização e destruição de microrganismos vindos do intestino pelo sistema portal. → Hipertensão portal: é definida hemodinamicamente pelo achado de pressão venosa portal superior a 10 mmHg, sendo secundária ao aumento da resistência intra-hepática (fibrose, capilarização dos sinusóides e presença de nódulos regenerativos, vasoconstrição sinusoidal secundária à contração das células estreladas, pela diminuição do óxido nítrico) e ao aumento no fluxo sanguíneo portal, decorrente da vasodilatação da circulação esplâncnica (desequilíbrio local entre mediadores vasoconstritores e vasodilatadores, principalmente o óxido nítrico, um potente vasodilatador, que está aumentado no baço). → Vasodilatação esplâncnica: Com a progressão da disfunção circulatória, ocorre vasodilatação nas circulação esplâncnica e sistêmica, o que determina diminuição da resistência vascular sistêmica, levando à ativação do SRAA. Esses eventos são responsáveis pela circulação hiperdinâmica do cirrótico, caracterizada por aumento do índice cardíaco e redução da resistência vascular sistêmica e pelas complicações terminais da cirrose, secundárias à falência desses mecanismos compensatórios: hipotensão, uremia por vasoconstrição renal progressiva e hiponatremia dilucional. → Alterações nutricionais: fadiga, anorexia e perda de massa muscular podem ser manifestações da desnutrição protéico-calórica, associada à insuficiência hepatocelular, ou podem ser reflexo da ação de citocinas pró- inflamatórias, desencadeadas pelos mecanismos de agressão hepatocelular. → Icterícia e colúria: podem ser decorrentes da necrose de células hepáticas, dos defeitos na conjugação da bilirrubina e dos distúrbios na excreção biliar em virtude da desorganização da estrutura hepática. → Alterações endócrinas e cutâneas: os distúrbios no metabolismo de estrógenos são responsáveis pela presença de aranhas vasculares, ginecomastia, perda ou diminuição da libido e impotência. Ocorrem aumento da resistência periférica à insulina e déficit na produção de substratos energéticos por glicogenólise e gliconeogênese, predispondo ao desenvolvimento de diabetes e hipoglicemia. → Alterações na coagulação sanguínea: o fígado é o principal local de síntese de todos os fatores de coagulação, do plasminogênio e dos inibidores de protease antitrombina III e proteínas C e S. O fígado é também o principal local de degradação de fatores de coagulação ativados. Na cirrose, ocorre redução da síntese de fatores pró- coagulantes e anticoagulantes. Observa- se plaquetopenia e disfunção plaquetária de origem multifatorial. Há também alargamento do INR e do tempo de protrombina. No entanto, também podem ocorrer fenômenos tromboembólicos e coagulação intravascular disseminada. A colestase, que ocorre em algumas causas de cirrose. 5 6 ● As manifestações clínicas da cirrose são variáveis, a depender da causa subjacente da doença crônica parenquimatosa do fígado e da descompensação da doença. ● Pacientes com cirrose compensada podem apresentar quadro assintomático ou oligossintomático, sendo frequentes sintomas inespecíficos, tais como fadiga, astenia e perda de peso. ● Na cirrose descompensada, o quadro clínico é dominado por complicações da insuficiência hepática e/ou da hipertensão portal; ○ Aumento de volume abdominal, secundário à ascite ou peritonite bacteriana espontânea; ○ Hematêmese; ○ Melena ou enterorragia em decorrência da hemorragia por varizes gastroesofágicas; ○ Infecções do líquido ascítico, urinária e respiratória; ○ Dispnéia e ortopnéia secundárias à ascite volumosa; ○ Presença de hidrotórax ou síndrome hepatopulmonar e oligúria associada ou não a sinais de uremia. ● Pesquisa do histórico clínico: icterícia e colúria; febre; aumento de volume abdominal e edema de MI; dispneia, ortopneia e platipneia; enterorragia, melena, hematêmese e alterações do nível de consciência associadas à EH. ● Pesquisa da etiologia da cirrose: antecedentes de consumo abusivo de álcool; uso crônico de medicações; antecedentes familiares de cirrose, doenças autoimunes e consanguinidade. ● Pesquisa da exposição parenteral a vírus hepatotrópicos (vírus B e C): o que inclui transfusão de sangue, transplante de órgãos anterior a 1992; hemodiálise; uso de drogas intravenosas com compartilhamento de materiais; emprego de cocaína inalatória; tatuagem e piercing. ● Histórico clínico fatores de risco para transmissão sexual e vertical do vírus da hepatite B. ● Exame físico: presença de estigmas periféricos de cirrose, como ginecomastia, eritema palmar e aranhas vasculares (ou telangiectasias), particularmente em áreas expostas ao sol. 6 QUADRO CLÍNICO 7 ● Podem ainda ser observadas alterações, como perda de massa muscular; sinais de coagulopatia, como equimoses e petéquias; redução volumétrica do fígado à hepatimetria e/ou palpação e sinais de hipertensão portal (esplenomegalia e circulação colateral periumbilical). Certas manifestações clínicas são especificamente associadas a determinadas causas de cirrose: ● Doenças colestáticas do fígado: Prurido, xantomas e xantelasmas. ● Cirrose alcoólica: Sinais de feminilização, como ginecomastia e atrofia testicular, além de contratura palmar de Dupuytren. ● Vírus das hepatites B e C: manifestações extra-hepáticas de cirrose. ● A cirrose pode acometer outros órgãos, produzindo as síndromes hepatorrenal, hepatopulmonar e portopulmonar, osteoporose, insuficiência adrenal e cardiomiopatia cirrótica. ● 30 a 50% dos pacientes internados com cirrose, complicada por hemorragia digestiva, desenvolvem infecções, particularmente peritonite bacteriana espontânea. ● Encefalopatia hepática (EH): é uma complicação observada após episódio hemorrágico, pela maior absorção de substâncias nitrogenadas, secundária à presença de sangue no tubo digestivo, e pela ocorrência frequente de infecções nesses pacientes. ● Síndrome hepatorrenal: pode ser desencadeada por hemorragia digestiva com instabilidade hemodinâmica e frequentemente por infecções, particularmente, peritonite bacteriana espontânea, em decorrência da piora da vasodilatação esplênica. ● Alguns tiposde descompensação da cirrose, principalmente infecções que evoluem para sepse podem desencadear disfunção de múltiplos órgãos e sistemas (IHCA). Essa é uma síndrome complexa, habitualmente manejada em unidade de terapia intensiva. ANAMNESE E EXAME FÍSICO ● Os portadores de cirrose hepática podem se apresentar de variadas maneiras: ○ Hemorragia digestiva alta ou baixa; ○ Ascite; ○ Hepatomegalia e/ou esplenomegalia; ○ Detecção de estigmas periféricos de insuficiência hepatocelular crônica ○ Assintomático: diagnóstico por achado acidental de anormalidades laboratoriais ou radiológicas ○ Encefalopatia hepática; ○ Sinais e sintomas sugestivos de carcinoma hepatocelular (CHC). 7 DIAGNÓSTICO 8 ● Os achados clínicos da cirrose hepática não são específicos de nenhuma etiologia, exceção feita aos seguintes sinais, que são sugestivos de etiologia alcoólica: ○ Intumescimento de parótidas; ○ Contratura palmar de Dupuytren; ○ Neuropatia; ○ Pancreatite crônica associada. EXAMES LABORATORIAIS ● As alterações laboratoriais podem variar de acordo com a etiologia; AMINOTRANSFERASES (ALT) ● Na cirrose inativa (sem atividade inflamatória), as aminotransferases podem estar completamente normais. ● As aminotransferases não possuem acurácia suficiente para estimar a gravidade da doença hepática. ● Quando aumentadas, sugerem atividade inflamatória no parênquima. ● Numa hepatopatia sem cirrose, os níveis de ALT (TGP) costumam ser maiores que os de AST (TGO), dando uma relação ALT/AST > 1. ● A partir do momento em que a cirrose se instala, é típica uma inversão desse padrão, com o paciente apresentando ALT/AST < 1. ● Nos casos de doença hepática alcoólica a relação ALT/AST costuma ser < 1. FOSFATASE ALCALINA (FAL) E GAMAGLUTAMILTRANSPEPTIDASE (GAMA GT) ● Elevam-se de maneira mais significativa nas hepatopatias colestáticas, apresentando elevações menos pronunciadas nas lesões predominantemente hepatocelulares. ● Diante da suspeita de cirrose hepática, o encontro de elevados níveis de FAL e GGT sugere etiologias como cirrose biliar primária e colangite esclerosante. ● Numa hepatite crônica ativa sem cirrose, geralmente temos ALT (TGP) > AST (TGO), enquanto que na cirrose, temos o oposto: AST (TGO) > ALT (TGP). ● Já na doença hepática alcoólica, AST (TGO) > ALT (TGP) desde o início do quadro. BILIRRUBINAS ● A hiperbilirrubinemia é um fator de mau prognóstico na cirrose hepática, ocorrendo principalmente à custa da fração direta. ● Na cirrose biliar primária, a bilirrubina total superior a 10 mg/dl indica a necessidade de transplante de fígado. HIPOALBUMINEMIA ● Denota insuficiência crônica de síntese hepatocelular. O déficit de síntese costuma se associar à desnutrição proteicocalórica, frequente nos etilistas crônicos portadores de cirrose alcoólica. 8 9 ALARGAMENTO DO TEMPO DE PROTROMBINA E DIMINUIÇÃO DA ATIVIDADE DE PROTROMBINA ● O fígado é a principal sede da síntese de fatores de coagulação, incluindo a síntese dos fatores vitamina K-dependentes (II, VII, IX e X); ● Uma redução significativa da função hepática resulta em coagulopatia (tendência hemorrágica). HIPERGAMMAGLOBULINEMIA ● O cirrótico apresenta tendência aumentada à ocorrência do fenômeno de translocação intestinal bacteriana. ● O menor clearance hepático de bactérias presentes no sangue portal, bem como a "fuga" dessas bactérias pelos shunts portossistêmicos, explicam tal fato. ● Assim, o braço humoral do sistema imunológico (linfócitos B) sofre um certo grau de hiperestimulação constante na cirrose hepática, o que pode resultar em hipergamaglobulinemia policlonal. ● Na doença hepática alcoólica há típico aumento da fração IgA; ● Na cirrose biliar primária há aumento característico da fração IgM; ● Na hepatite autoimune há elevação de IgG. SÓDIO SÉRICO ● A hiponatremia é um marcador de péssimo prognóstico na cirrose avançada com ascite. ● Seu mecanismo é a incapacidade de excretar água livre, decorrente do excesso de hormônio antidiurético (ADH). Este excesso, é estimulado pela redução do volume circulante efetivo. PANCITOPENIA ● Na cirrose avançada complicada por hipertensão porta há esplenomegalia e hiperesplenismo, com consequente redução do número de plaquetas circulantes e também da hematimetria e da contagem de leucócitos. ● A anemia do paciente cirrótico, na verdade, costuma ser multifatorial (ex.: desnutrição, sangramento digestivo crônico, supressão medular pelo álcool ou por vírus). MARCADORES SÉRICOS DIRETOS E INDIRETOS DE FIBROSE AVANÇADA/CIRROSE ● Até o momento, nenhum desses exames suplantou a acurácia da biópsia, e não existe nenhuma recomendação oficial para o seu uso na prática clínica diária. ● A maioria vem sendo aplicada em centros de pesquisa. ● Marcadores séricos diretos de fibrose hepática, como laminina, colágeno tipo I e tipo IV, peptídeo pró-colágeno tipo I e tipo III, ácido hialurônico e a molécula que está sendo chamada de "chondrex" (YKL-40), podem ter papel na avaliação não invasiva da cirrose hepática no futuro. ● Alguns índices multivariados – que se propõem a avaliar indiretamente a existência de fibrose hepática – também vêm sendo estudados. ● Por exemplo: o FibroIndex, que gera um escore a partir dos valores de AST, plaquetas e gamaglobulinas; EXAMES DE IMAGEM ● O papel da radiologia na avaliação da cirrose hepática inclui: 1. Avaliar as alterações morfológicas da doença; 9 10 2. Avaliar a vascularização hepática e extra-hepática; 3. Detectar e estimar os efeitos da hipertensão porta; 4. Identificar tumores hepáticos, diferenciando o carcinoma hepatocelular (CHC) de outros tipos de tumor. ● Várias técnicas de imagem podem ser utilizadas: ○ Ultrassonografia convencional do abdome (USG); ○ Ultrassonografia do abdome com Doppler (USGD); ○ Tomografia computadorizada do abdome (TC); ○ Ressonância Magnética (RM); ○ Angiorressonância Magnética (ARM); ○ Arteriografia com ou sem lipiodol (AG). ○ Elastografia: feixe de luz sob o fígado, que mede a rigidez hepática; ● Nas fases iniciais da cirrose hepática, todos esses exames podem ser normais. ● Nas fases mais avançadas, a USG, TC e a RM costumam detectar alterações sugestivas da doença. ● Quando a suspeita é de cirrose em fases iniciais, mesmo os métodos radiológicos mais modernos não têm resolução suficiente para detectar graus menores de fibrose. ● Alterações mais encontradas na cirrose hepática bem estabelecida: ○ Nodularidade da superfície hepática; ○ Heterogeneidade do parênquima hepático; ○ Alargamento da porta hepatis e da fissura interlobar; ○ Redução volumétrica do lobo hepático direito e do segmento médio do lobo hepático esquerdo; ○ Aumento volumétrico do lobo caudado e do segmento lateral do lobo hepático esquerdo; ○ Identificação de nódulos regenerativos. ● Neste caso, a RM constitui método superior aos demais. ● O carcinoma hepatocelular pode ser identificado pelos exames de imagem, algumas vezes de maneira tão precoce que permita sua ressecção curativa ou transplante hepático. ● Nesse sentido, a USG (e com menor frequência, a TC) é utilizada no rastreamento semestral de CHC em pacientes sabidamente cirróticos. ● Em caso de dúvida diagnóstica, a AG com lipiodol pode ser empregada. ● A AG, a USG com Doppler e a ARM também podem ser usadas para o estudo do sistema porta. RM de abdomen BIÓPSIA HEPÁTICA ● O padrão-ouro para o diagnóstico de cirrose hepática é a histopatologia; ● É feito com base no achado de espessos e completos septos fibrosos porta-centro e portaporta, os quaisdelimitam nódulos, resultando em uma completa desorganização da arquitetura lobular e vascular. ● Quando os dados clínicos, laboratoriais e radiológicos são extremamente sugestivos de 10 11 cirrose avançada, a biópsia geralmente é desnecessária (e até arriscada). ● A biópsia hepática, além de confirmar o diagnóstico de cirrose, também pode fornecer pistas quanto a sua etiologia (métodos imuno-histoquímicos). ● A biópsia hepática percutânea não deve ser realizada em pacientes com atividade de protrombina < 50% OU INR > 1,30 OU plaquetas < 80.000/mm³. ● Caso a biópsia seja estritamente necessária nestes indivíduos, devemos corrigir previamente os distúrbios da coagulação. ● Vários autores têm proposto classificações funcionais e índices preditivos de sobrevida baseados em múltiplas variáveis clínicas e laboratoriais. ● A classificação funcional de Child-Turcotte, modificada por Pugh, é a mais largamente utilizada. ● A cirrose hepática é considerada uma condição irreversível. ● O tratamento é baseado no manejo de suas complicações – encefalopatia hepática, hipertensão portal, ascite, etc. ● Entretanto, a eficaz abordagem dos pacientes cirróticos, realizada com o intuito de aumentar a sobrevida e melhorar sua qualidade de vida, vai além do tratamento dessas complicações. ● O tratamento da cirrose hepática pode ser didaticamente dividido em cinco pontos: ○ Terapia anti fibrótica; ○ Terapia nutricional; ○ Tratamento específico da causa; ○ Tratamento das complicações da cirrose; ○ Transplante hepático. TERAPIA ANTI FIBRÓTICA: ● A fibrose constitui a base fisiopatogênica das complicações da cirrose hepática; ● Temos a colchicina, o propiltiouracil, o interferon, a lecitina poliinsaturada, o S- Adenosil-L-Metionina (Same), entre outros. ● Desses, a colchicina foi uma das mais usadas, notadamente na cirrose alcoólica e na cirrose biliar primária. ● A colchicina pode melhorar a bioquímica hepática desses 11 CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL TRATAMENTO 12 pacientes, mas não existem evidências de que ela seja capaz de reduzir a fibrose, aumentar a sobrevida ou reduzir a necessidade de transplante hepático. ● A colchicina é um fármaco derivado da planta Colchicum autumnale ou açafrão-do-prado, que há séculos é utilizada como terapia medicinal contra doenças articulares devido à sua ação anti-inflamatória. ● Reações adversas: Podem ocasionar distúrbios gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia e dores. ● Precauções: Cuidado com idosos e pacientes com insuficiência renal ou hepática. TERAPIA NUTRICIONAL ● Os cirróticos tendem a ser hipercatabólicos e desnutridos. ● A melhor abordagem nutricional e a seleção de pacientes para a terapia em longo prazo permanecem controversas. ● Suplementos nutricionais padrão podem ser tão efetivos quanto as formulações especiais, tais como aquelas que contêm aminoácidos de cadeia ramificada, sendo também de menor custo. ● Não existe indicação de restrição proteica e não há necessidade de reduzir a ingestão de gorduras, mesmo nos pacientes colestáticos. ● Nestes, pode ser útil o uso de triglicérides de cadeia média. ● Refeições frequentes devem ser encorajadas (lanche noturno), o que ajuda a manter um balanço nitrogenado adequado. ● Conteúdo proteico diário: 1,0 a 1,5 g/kg de peso. ● Conteúdo calórico diário: mínimo de 30 kcal/kg de peso, sendo: 50 a 55% como carboidratos; 30 a 35% como lipídios (preferir lipídios insaturados). ● A correção da deficiência de vitaminas (complexo B, A, D, E, K) é particularmente importante em pacientes com cirrose alcoólica e nas cirroses com significativo componente colestático. ● Pacientes portadores de cirrose hepática por hemocromatose não devem receber sais de ferro ou vitamina C, já que estas substâncias podem agravar o dano hepático. ● Pacientes usuários de diuréticos podem necessitar de reposição de oligoelementos. ● Outro dado importante é que pacientes cirróticos devem evitar a ingestão de frutos do mar em virtude do risco potencial de sepse grave e morte através da infecção com Vibrio vulnificus e Yersinia spp. ● Também é preciso tomar medidas específicas para evitar novos insultos hepáticos. ● Assim é mandatório avaliar o status sorológico do paciente em relação aos vírus da hepatite A e B, e caso o paciente seja suscetível (isto é, anti-HAV IgG negativo e/ou anti- HBs negativo) ele deve ser vacinado. INTRODUÇÃO ● Estudos epidemiológicos realizados em vários países, como Estados Unidos, Canadá, França e Suécia, demonstraram uma relação direta entre mortalidade por cirrose hepática e grau de consumo de álcool. ● Por outro lado, a relação é inversa com o preço das bebidas 12 2. Diferenciar as hepatopatias (alcoólicas e não alcoólicas) ALCOÓLICAS 13 alcoólicas, fazendo supor que, no Brasil, os números sejam alarmantes com o preço da cachaça, muito baixo. ● O etanol pode produzir efeitos adversos em diversos órgãos, entre eles fígado, esôfago, estômago, intestino, pâncreas, coração e cérebro. ● Desses, o fígado é o mais afetado no organismo, sendo a doença hepática alcoólica (DHA) uma das doenças hepáticas mais comuns do mundo ocidental. ● Usualmente, a DHA é dividida em três formas que podem sobrepor- se: ○ Esteatose; ○ Hepatite alcoólica; ○ Cirrose. ○ Outras lesões: fibrose perivenular, hepatite crônica ativa e hepatocarcinoma. ● O alcoolismo tem sido considerado grande problema de saúde pública no Brasil. ● Dados estatísticos nos Estados Unidos apontam o consumo de álcool de cerca de metade da população adulta americana; ● Desses, 10% dos homens e 3 a 5% das mulheres terão problemas persistentes relacionados ao álcool. ● Além disso, o alcoolismo é responsável pela morte de 100 mil pessoas anualmente neste país. ETIOLOGIA ● Vários fatores influenciam a gênese das doenças alcoólicas, em geral e, especialmente, nas doenças do fígado. ● A dose ingerida é o fator mais importante. ● Homens: doses de 40 a 80 g/dia podem levar à cirrose. ● Mulheres: têm um limiar menor de risco para o desenvolvimento de cirrose, de apenas 20 a 60 g/dia. ● Além disso, a DHA desenvolve-se e progride mais rapidamente na mulher. ● Entre diversos outros fatores para a maior suscetibilidade feminina à lesão hepática, estão aumento na permeabilidade do tubo digestivo para o álcool, menor atividade da álcool desidrogenase gástrica (ADH) e diminuição na taxa de eliminação do álcool. ● O tempo total de duração do alcoolismo também é diretamente proporcional ao risco de doença hepática. ● O desenvolvimento de doença hepática não está relacionado necessariamente à embriaguez. ● O tipo de bebida não parece ser importante, mas sim a quantidade equivalente de álcool puro ingerida. FATORES DE RISCO FISOPATOGÊNESE ● Após ingestão, o álcool é absorvido pelas mucosas gástrica (cerca de 75%) e intestinal (25%) por difusão passiva. ● Pequena quantidade pode ser absorvida pelas membranas das mucosas da boca e do esôfago. ● A taxa de absorção aumenta com o esvaziamento gástrico acelerado e, também, na ausência de proteínas, gorduras ou carboidratos. 13 14 ● Alguns estudos em ratos e no homem demonstram que a fração significativa do álcool ingerido em dose sociais (< 60 g no sexo masculino e < 40 g no sexo feminino) não entra na circulação sistêmica, sendo oxidada no estômago. ● De 2 a 10% é excretada diretamente por pulmões, urina ou suor, mas a maior parte é do etanol (90%), metabolizada a acetaldeído no fígado. ● No estômago, ocorre o primeiro passo da metabolização do etanol, existindo três isoenzimas de álcool desidrogenase(ADH) gástrica. ● O metabolismo do álcool no estômago pode sofrer influência: sexuais e raciais, variações na barreira de proteção a efeitos sistêmicos e alteração da motilidade dose-dependente. ● Mulheres com idade abaixo de 50 anos apresentam menor atividade da ADH gástrica do que homens na mesma idade. ● O uso concomitante de gorduras e álcool retarda o esvaziamento gástrico e a absorção do etanol. ● No fígado, existem três vias de metabolização do etanol que produzem acetaldeído: ○ ADH no citosol; ○ O sistema oxidativo do etanol no microssomo (MEOS); ○ Catalase nos peroxissomos. ● Na oxidação do etanol no fígado, o acetaldeído é produzido e o hidrogênio é transferido do etanol para o cofator dinucleotídeo nicotinamida (NAD), que é convertido para sua forma reduzida (NADH). ● O acetaldeído perde hidrogênio novamente e é metabolizado a acetato. ● Assim, a oxidação do etanol produz excesso de NADH e o desbalanço da relação NADH:NAD, alterando a homeostase de redução. ● Resumindo: Etanol → Acetaldeído → Acetato; ● Consequentemente, ocorrem distúrbios metabólicos, como hiperlactacidemia, acidose, redução da capacidade renal de excretar ácido, que levam à hiperuricemia secundária. ● Clinicamente, pode-se observar crises de gota relacionadas à ingestão de álcool. ● Além disso, o desbalanço NADH:NAD também pode bloquear a gliconeogênese nos indivíduos que já vinham com reservas de glicogênio comprometidas. ● A hipoglicemia decorrente pode ser grave, levando à morte súbita. Sob algumas condições, o etilismo pode induzir hiperglicemia. ● A esteatose hepática pelo álcool resulta de vários fatores 14 15 metabólicos: desvio de substratos normais do catabolismo para a síntese de lipídeos em razão da geração de excesso de NADH + H+; aumento da mobilização da gordura periférica, piora da secreção de lipoproteínas, aumento da captação de lípides circulantes e, principalmente, por redução da oxidação de ácidos gordurosos. ● O estresse oxidativo parece ter papel central na lesão. ● A ingestão alcoólica crônica determinada pelo álcool resulta em indução da CYP2E1 (da família dos citocromos P450) e, especialmente, na região centrolobular do fígado, o que aumenta a peroxidação lipídica e a produção de EROS. ● As EROS reagem com proteínas celulares lesando as membranas das organelas e alterando a função dos hepatócitos. ● A peroxidação lipídica aumenta a produção de outros radicais livres e, consequentemente, a lesão às membranas das células. ● A indução da CYP2E1 também aumenta a concentração de acetaldeído (o principal metabólito intermediário do álcool). ● A piora do metabolismo hepático da metionina determinada pelo álcool leva à diminuição da glutationa mitocondrial, prejudicando um importante mecanismo de defesa contra o estresse oxidativo das EROS e do efeito pró-oxidante das citocinas, como o TNF-alfa. ● Como efeito do estresse oxidativo, a mitocôndria acaba tendo função e estrutura alteradas, criando um ciclo vicioso com mais lesão hepatocitária. ● O aumento da permeabilidade do intestino delgado a endotoxinas (derivados polissacarídeos das paredes de bactérias Gram-negativas) está associado à ingestão alcoólica; ● Essas endotoxinas são capazes de desencadear eventos inflamatórios no fígado, incluindo ativação de células de Kupffer, produção de citocinas e ERO. ● O papel do sistema imune também não pode ser subestimado, inclusive na perpetuação da lesão hepática após a parada da ingestão alcoólica que ocorre em alguns casos. ● As alterações induzidas tanto pelo álcool quanto pelo acetaldeído nas proteínas hepatocitárias criam novos epítopos contra os quais há reação do sistema imune; ● Anticorpos que vêm sendo encontrados: anticorpos contra a membrana hepatocitária e as células citotóxicas para hepatócitos autólogos. ● A desnutrição em função de dieta pobre é bem conhecida no alcoólatra, mas desnutrição secundária ocorre em bebedores nos quais a dieta é adequada. ● Deve-se considerar, no mínimo, que o metabolismo do álcool aumenta as necessidades de nutrientes, como colina e ácido fólico, e que deficiências nutricionais em alcoólatras podem acentuar os efeitos do álcool. ● Tudo indica que, acima de determinado nível de ingestão alcoólica diária, não é possível qualquer proteção por fatores dietéticos. ● Por sua vez, desnutrição secundária à ingestão alcoólica pode ser decorrente de uma série de fatores, incluindo má- absorção por disfunção dos enterócitos, piora da secreção de proteínas pelos hepatócitos e piora do 15 16 metabolismo hepático das vitaminas. ● Experimentos com gêmeos e filhos de alcoólatras que saíram do ambiente familiar e foram adotados por outras famílias demonstram, além de qualquer dúvida, que o alcoolismo tem caráter genético. ● Também pode haver polimorfismo em diversos loci dos genes que codificam as enzimas do metabolismo do álcool o que explica a heterogeneidade das lesões hepáticas em pessoas que consomem álcool. ● Há controvérsias sobre a heterozigozidade do alelo c2 da CYP2E1 ser fator de risco de DHA. QUADRO CLÍNICO INTRODUÇÃO ● O termo doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é utilizado para definir o espectro de doenças associadas ao acúmulo de gordura no fígado. ● Esse espectro inclui: ○ Esteatose hepática (EH): quando ocorre apenas acúmulo de gordura; ○ Esteato-hepatite não alcoólica (EHNA): quando além da esteatose há inflamação, balonização e graus moderados de fibrose; ○ EHNA que evolui para cirrose e carcinoma hepatocelular (CHC). ● O quadro morfológico é semelhante àquele à lesão induzida por álcool; ● A DHGNA ocorre em indivíduos sem consumo etílico significativo, cujo consumo diário de álcool é inferior a 20 a 40 g. ● Atualmente, a DHGNA é considerada uma das causas mais frequentes de doença hepática. ● Estima-se que a prevalência da DHGNA seja de 20 a 30% em países industrializados. ● A incidência elevou-se significantemente nos últimos anos em decorrência do aumento da obesidade em países do mundo ocidental. ● Isso se deve principalmente ao estilo de vida sedentário e aos hábitos alimentares inapropriados. ● Nos Estados Unidos estima-se que ¼ da população apresente sobrepeso; e destes, cerca de 80% apresente DHGNA. ● Já nos indivíduos obesos de classe III (índice de massa corporal > 40 kg/m2), a incidência é de 90%. ● A prevalência da DHGNA no Brasil não é conhecida. ● Os estudos demonstraram que a DHGNA é em geral assintomática. ● O diagnóstico histológico de EHNA foi encontrado em 58% dos 437 casos em que foi realizada biópsia 16 NÃO ALCOÓLICAS 17 hepática, sendo que aproximadamente 15% já apresentavam cirrose à biópsia. ● A EHNA propriamente dita é caracterizada por esteatose macro ou microvesicular, infiltrado inflamatório lobular misto e balonização hepatocelular, podendo apresentar fibrose, corpúsculos de Mallory-Denk e cirrose. ● A EHNA pode evoluir para cirrose em 15 a 25% dos pacientes; e 30 a 40% desses apresentam falência hepática antes de completar 10 anos de diagnóstico. ● 3% dos pacientes com esteatose evoluem para doença crônica e cirrose. ETIOLOGIA ● Os fatores predisponentes relacionados à DHGNA dividem-se basicamente em duas formas principais: ○ Primários, associados à síndrome metabólica (obesidade, diabetes melito (DM) tipo 2 ou resistência insulínica (RI), adiposidade visceral, dislipidemia e hipertensão arterial); ○ Secundários; FISOPATOGÊNESE ● Atualmente, a teoria mais aceita é a dos múltiplos hits (efeitos desencadeadores). → First hit: Essainclui a Resistência insulínica como condição inicial para o depósito de ácidos graxos nos hepatócitos, uma vez que favorece a lipogênese no fígado e aumenta a lipólise na periferia (para obter energia), 17 18 aumentando de maneira excessiva o aporte de ácidos graxos. → Second hit: ocorre a ativação de vias do estresse oxidativo, ativação de citocinas, estresse do retículo endoplasmático e ativação das vias de sinalização da apoptose e da fibrogênese, levando à lesão hepatocelular, incluindo balonização, inflamação e fibrose. ● A RI é fator determinante para estimular o deslocamento de ácidos graxos livres para a betaoxidação, e é este influxo que esgota o mecanismo de fosforilação oxidativa, depleta a produção de ATP e inicia a liberação de espécies reativas de oxigênio (ERO), desencadeando a lesão celular e a ativação dos mecanismos de fibrose. ● A resistência insulínica também bloqueia a exportação de triglicérides dos hepatócitos por degradar e impedir a produção deVLDL. ● O aporte excessivo de ácidos graxos direcionados diretamente para a mitocôndria do hepatócito para serem oxidados esgotam a betaoxidação, gerando superprodução de ERO, aumentando o estresse oxidativo hepático. ● Na depleção da oxidação mitocondrial, ocorre a ativação das vias microssomal e peroxissomal, resultando na formação adicional de ERO. ● A via peroxissomal ocorre quando o equilíbrio entre a formação de ERO e as defesas intracelulares antioxidantes encontra-se rompido. ● Os produtos intermediários advindos tanto da peroxidação lipídica quanto da formação cíclica de ERO são importantes agentes pró-inflamatórios e ativam as células estreladas hepáticas, favorecendo a formação de fibrose. ● Dessa maneira, a progressão de esteatose para EHNA e fibrose poderia ocorrer por três mecanismos principais: ○ Peroxidação lipídica: A peroxidação de lipídeos deflagrada pelas ERO causa necrose celular ou induz apoptose que pode se ligar a proteínas hepatocitárias, iniciando uma resposta imune potencialmente danosa. ○ Indução de citocinas pró- inflamatórias; ○ Indução de ligantes Fas (e apoptose). QUADRO CLÍNICO ● A DHGNA ocorre em todas as idades. Embora, estudos iniciais sugeriam predomicamente tenha maior prevalência na quarta ou quinta décadas de vida. ● Atualmente, sugere-se que a distribuição deva ser igual entre os sexos, embora haja tendência maior nas mulheres de desenvolver doença avançada. ● Os pacientes portadores de DHGNA geralmente, são assintomáticos e descobrem a doença por elevação das aminotransferases (ALT e AST) ou por ultrassonografia (USG) de abdome. ● Os sintomas propriamente ditos são frustros e inespecíficos. ● Pode acontecer desconforto no quadrante superior direito, fadiga crônica e dispepsia. ● Raramente, sintomas como náuseas, anorexia e prurido são relatados pelos pacientes. ● No exame físico, em geral, pacientes com DHGNA estão acima do peso, com IMC maior que 25 kg/m2 , são 18 19 hipertensos e apresentam adiposidade visceral. ● Em alguns estudos foi demonstrado hepatomegalia em 50% dos pacientes com DHGNA como apresentação inicial. ● Estigmas de insuficiência hepática e hipertensão portal ocorrem menos frequentemente. ● Esplenomegalia pode ocorrer em até 25% dos pacientes. ● Acantose nigricans é reconhecida como marcador clínico de resistência insulínica e pode ser identificada principalmente na faixa pediátrica. 19
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