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Universidade Tiradentes - Medicina P3 Envelhecimento do Snc TUTORIA ● O processo do envelhecimento seja, em sua essência, de natureza multifatorial, dependente da programação genética e das alterações que vão ocorrendo em níveis celular e molecular, que resultarão em sua aceleração ou desaceleração, com redução de massa celular ativa, diminuição da capacidade funcional das áreas afetadas e sobrecarga em menor ou maior grau dos mecanismos de controle homeostático. ● Órgãos nobres como cérebro, coração ou rins procuram reequilibrar-se constantemente, visando à manutenção do seu melhor padrão funcional, por meio de mecanismos homeostáticos, enfrentando perdas de massa celular ativa, que podem chegar a mais de um terço do seu total. ● O SNC é o sistema biológico mais comprometido com o processo do envelhecimento, pois é o responsável pela vida de relação (sensações, movimentos, funções psíquicas, entre outros) e pela vida vegetativa (funções biológicas internas). ● Descobriu-se o cérebro humano adquiriu, singularmente, propriedades anatômicas e moleculares altamente especializadas, pré-requisitos para a aquisição de cognição. Infelizmente, esse novo atributo é lábil. É transitório no cérebro de cada indivíduo, e a sua perda é fundamental para o desequilíbrio da senescência. ● O comprometimento do SNC, quando ocorre, é preocupante, pelo fato de ser formado, em sua maioria, por unidades morfofuncionais pós-mitóticas sem possibilidade reprodutora. ● As células nervosas, os neurônios, e as células de apoio, as células gliais (astrócitos e oligodendrócitos), estão sujeitas a danos no decorrer do processo do envelhecimento por meio de fatores intrínsecos (genético, gênero, circulatório, metabólico, radicais livres etc.) e extrínsecos (ambiente, sedentarismo, tabagismo, uso de drogas ilícitas, radiações etc.). ● Sinais de deficiências funcionais vão aparecendo de maneira discreta no decorrer da vida de um indivíduo que envelhece, sem comprometer a sua vida de relação, suas atividades pessoais, gerenciais, executivas etc (senescência). ● Os decréscimos do processo intrínseco de envelhecimento podem ser menores do que anteriormente reconhecido, quando influenciados por hábitos pessoais como dieta, exercício, exposições ambientais e constituição física. ● Existe a possibilidade de subdividir essa população, com o envelhecimento dito normal, em dois subgrupos: ○ Bem-sucedido: os indivíduos têm uma perda mínima, em uma função específica, e mantêm um padrão fisiológico plenamente satisfatório, com o avançar dos anos 1 Elucidar as alterações do envelhecimento no SNC (síndrome do envelhecimento puro). ○ Usual: os indivíduos têm prejuízos significativos, mas apesar de não estarem doentes, carregam um grande potencial para manifestarem doenças ou incapacidades. Ao mesmo tempo, têm possibilidade de melhorar essas perdas funcionais. ● A senilidade ocorre quando esses mesmos danos se derem em uma intensidade muito maior, levando a deficiências funcionais marcantes e, seguramente, a alterações das funções nobres do SNC, atingindo a capacidade intelectual, por meio de alterações da atenção, memória, raciocínio e juízo crítico, as funções práxicas e gnósicas, na fala e outros tipos de comunicação. PRINCIPAIS REPERCUSSÕES DO ENVELHECIMENTO CEREBRAL: 1. ALTERAÇÕES MORFOFUNCIONAIS: ● No último século tem havido um aumento da altura média da população e, consequentemente, do peso médio do cérebro. ● Por outro lado, ao longo da vida dos indivíduos, a estimativa de volume cranioencefálico nos mostra uma diferença de volume com o envelhecimento. ● O peso do cérebro é constituído por células gliais (astrócitos, oligodendróglia e epêndima), mielina, vasos sanguíneos e um número astronômico de neurônios, estimado cautelosamente em 20 bilhões. ● O encéfalo pesa, no nascimento, 0,360 a 0,380 kg. De 1,040 a 1,120 kg aos 2 anos. E, dos 3 aos 21 anos, aumenta progressivamente de peso, até cerca de 1,350 kg. A partir dessa etapa, inicia-se um declínio ponderal discreto e lentamente progressivo, em torno de 1,4 a 1,7% por década. ● Nas mulheres, o declínio é mais precoce que nos homens. ● Existe uma correlação entre altura – peso do corpo – e peso do cérebro, principalmente nas duas primeiras décadas de vida. ● Acima dos 45 anos o peso do cérebro diminui em relação ao peso corporal. ● O volume cerebral, quando comparado com a caixa craniana, permanece constante até a meia- idade (60 anos), em torno de 93%. ● Na década dos 60 anos há um decréscimo discreto, que se acentua entre as décadas de 70 e 90 anos, quando pode chegar a 80%. ● A utilização do peso cerebral – obtido em necropsia pode ser influenciado pela congestão e edema cerebral na fase final da vida e, também, a fixação em formol, que pode aumentar o peso em torno de 10%. ● As melhores análises seriam aquelas feitas por meio dos métodos complementares de diagnóstico – tomografia e ressonância. ● Alterações morfológicas da substância branca e corpo caloso resultam em perda de grandes e pequenos neurônios e/ou retração dos grandes neurônios corticais que são observados a partir dos 65 anos. ● A preservação relativa de algumas partes da substância branca cerebral e do corpo caloso sugere que uma certa proporção de perda e/ou retração dos neurônios corticais está relacionada com os neurônios que 2 não possuem prolongamentos na substância branca (neurônios de associação intracorticais). ● O RNA citoplasmático se reduz regularmente com a idade nos neurônios do córtex frontal, giro hipocampal, células piramidais do hipocampo e células de Purkinje do cerebelo, entre outros; associado à redução da substância de Nissl, mais o acúmulo de lipofuscina, resulta em atrofia neuronal simples ou pigmentar, observada em maior grau no córtex cerebral, principalmente nas células piramidais. ● Alterações mais significativas que ocorrem no envelhecimento são: retração do corpo celular (pericário) dos grandes neurônios, aumento relativo da população dos pequenos neurônios e adelgaçamento da espessura cortical. ● Plasticidade: sugere que os neurônios maduros têm uma capacidade de desenvolver-se e formar novas sinapses. Daí a formação de novos circuitos sinápticos, significando a capacidade de aprender e adquirir novos conhecimentos. ● O cérebro tem certas propriedades que podem diminuir essas mudanças adversas. ○ Redundância: existem muito mais células nervosas do que o necessário, sendo assim, a extensão da redundância é difícil de ser estimada. ○ Mecanismos compensadores: podem aparecer quando o cérebro for lesado, e são mais eficientes quanto mais altos forem os centros atingidos. ○ Plasticidade: que ocorre quando já havia um reconhecimento prévio (rede de dendritos). ● Até os 80 anos, a capacidade intelectual pode ser mantida em pessoas sem dano cerebral; ● Até os 70 anos são mantidas as habilidades verbais, embora algumas alterações sutis possam ocorrer normalmente, incluindo dificuldade de aprendizagem e esquecimento banais. ● O número de células nervosas decresce com o envelhecimento normal. Em algumas áreas, a perda celular é mínima, enquanto em outras (p. ex., hipocampo), a perda é pronunciada. ● Em média, o peso do cérebro diminui gradualmente, em cerca de 10%, da segunda e terceira décadas até os 90 anos. ● A demência pode ocorrer em pacientes que apresentem espaços ventriculares normais para sua idade. ● Outras mudanças que ocorrem no cérebro incluem: depósito de lipofuscina nas células nervosas, depósito amiloide nos vasos sanguíneos e células,aparecimento de placas senis e, menos frequentemente, emaranhados neurofibrilares. ● Embora as placas e emaranhados sejam característicos da doença de Alzheimer (DA), eles podem aparecer em cérebros de idosos sem evidência de demência. ● Os neurônios encontram estabilidade de estrutura, um atributo que é pré-requisito para a cognição. Essa estabilidade anatômica permite o acúmulo de informação no presente, permite a lembrança do passado e facilita 3 a formulação de conceitos para o futuro. ● Paradoxalmente, essa mesma estabilidade estrutural do SNC é, simultaneamente, o atributo fundamental do envelhecimento. ● Após os 10 a 15 anos, o declínio do metabolismo da glicose é seguido por uma redução de cerca de 20% do tamanho médio das células nervosas do córtex cerebral. ● Esse declínio do metabolismo da glicose é, com certeza, o precursor das alterações morfológicas irreversíveis causadas pela perda de dendritos e sinapses. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS: ● A quebra do mecanismo neuronal integrado, associada à idade, deve ser a soma das inúmeras alterações que ocorrem em várias regiões do cérebro. ● A análise do líquor também permite a avaliação de uma série de marcadores neuroquímicos ● Na mesma célula pode coexistir o neurotransmissor e o peptídio que modulará a ação do neurotransmissor. ● O equilíbrio dessas ações é fundamental para a manutenção da função do sistema nervoso. ● O comprometimento das funções está ligado mais ao desequilíbrio desse processo do que à alteração de um neurotransmissor isoladamente. ● Além disso, cada neurotransmissor tem seu tempo de envelhecimento. Por isso, o desequilíbrio dessas substâncias ocorre anos antes da detecção clínica da doença. 4 ● Menor fluxo sanguíneo e de glicose no idoso. ● Menor quantidade do neurotransmissor acetilcolina, responsável pela memória. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS: ● O processo de envelhecimento tem demonstrado efeitos maiores na visão, a audição, uma variedade de medidas cognitivas e comportamentais, a atividade do sistema nervoso simpático e, também, a tolerância à glicose, a pressão sanguínea sistólica, a função pulmonar, a função renal, a função imunológica e a densidade óssea. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS E PATOLÓGICAS: ● Níveis de acetilcolina, receptores colinérgicos, ácido gama- aminobutírico, serotonina e catecolaminas são baixos (correlação com mudanças funcionais, por exemplo, baixa de colina acetiltransferase no Alzheimer e de dopamina na doença de Parkinson). ● Por outro lado, ocorre aumento de atividade de outras enzimas, como a monoaminoxidase · (MAO-A metaboliza dopamina, norepinefrina e serotonina, enquanto MAO-B metaboliza dopamina). ● As diminuições de produção de acetilcolina, de plasticidade de receptores colinérgicos muscarínicos e da função destes receptores são claramente verificadas no envelhecimento, ● A consequência de uma redução da glicose dependente da idade é a redução moderada do índice de síntese de acetilcolina (acetilcoenzima A no cérebro é sintetizada exclusivamente pela glicólise anaeróbica). ● No envelhecimento normal, essa redução moderada da atividade colinérgica resulta em redução discreta da atenção e da capacidade do aprendizado. ● Existem evidências de aumento de concentração de norepinefrina e do ácido 5-hidroxindolacético (5-HIAA, metabólito da serotonina) no líquido cefalorraquidiano de pessoas idosas. ● Encontra-se também aumento dos níveis séricos de metoxi-4- hidroxifenilglicol (MHPG, metabólito da norepinefrina). ● A capacidade de processar informações do hipocampo pode se deteriorar no decorrer do envelhecimento normal, sem que haja perda significativa de neurônios (provocada pelo estresse e depressão). ● Alterações específicas dos circuitos relacionados com os receptores NMDA (grupo de receptores glutamatérgicos) podem realçar danos na memória no idoso. ● O declínio relacionado com a idade do sistema catecolaminérgico, particularmente dopamina, em várias regiões estriatais e extraestriatais está relacionado com déficits cognitivos e sensorimotores. ALTERAÇÕES METABÓLICAS E CIRCULATÓRIAS: ● No cérebro há diminuição tanto da água extracelular quanto da intracelular. ● Lentidão da síntese proteica. ● Aumento na oxidação das proteínas e sua glicosilação, com aumento de emaranhados neurofibrilares. ● Diminuição da síntese lipídica. 5 ● Alteração na membrana lipídica e na condução nervosa. ● Alterações circulatórias relacionadas à aterosclerose. ● Diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e da utilização da glicose. ● Isquemia, hipóxia e hipoglicemia ativam os receptores glutamato induzindo toxicidade com consequente morte neuronal. ALTERAÇÕES COGNITIVAS E COMPORTAMENTAIS: ● A habilidade de reconhecer objetos e faces, assim como a percepção visual, permanecem estáveis ao longo da vida. ● As memórias episódica e laborativa e a função executiva são as mais afetadas no envelhecimento. ● A velocidade de processamento e a função executiva diminuem com a idade, especialmente após os 70 anos. ● As capacidades de atenção e concentração diminuem a habilidade para desempenhar múltiplas tarefas ao mesmo tempo. ● 30 anos: capacidade de solucionar problemas e aprender informações novas diminui. ● 70 anos: A fluência verbal fica comprometida. ● Apesar de todas as alterações, o sistema nervoso se mantém íntegro graças à sua plasticidade e à sua capacidade de compensar e reparar os danos ocorridos, sendo possível manter-se funcionalmente estável no meio social. ● Não há dúvidas de que neurotransmissores, como a acetilcolina (ACh) e o glutamato, transmissor excitatório que atua no cérebro e na medula espinal, estejam envolvidos nos processos de memória e aprendizado. Tem- se atribuído ao glutamato acúmulo de radicais livres nos neurônios com consequente degeneração neuronal. ● O ácido gama-aminobutírico (GABA) é o principal neurotransmissor inibitório no cérebro. O equilíbrio entre o glutamato, excitatório, e o GABA, inibitório, é essencial para o funcionamento normal do SNC. ● As memórias reflexas medulares, sensorial (imagem lembrada em menos de 1s) e implícita (responsável pelas habilidades motoras) pouco se alteram com o envelhecimento. Já a episódica (evento autobiográfico) começa a diminuir por volta dos 30 anos e declina, progressivamente, enquanto a semântica (fatos ocorridos pelo mundo) responsável pela recordação de nomes, palavras e memória espacial pode ser mantida por toda a vida. RESUMO: ● Menor peso e volume encefálico (perda celular), faz com que, principalmente, os giros pré- centrais (área motora), temporais e cerebelo fiquem mais evidentes. ● Acúmulo de pigmento celular (lipofuscina). ● Hipocampo: Acúmulo de placas neuríticas de amiloide (extracelular) e emaranhados neurofibrilares (intracelulares). Essas são alterações patológicas típicas da doença de Alzheimer. ● A perda neuronal é mais evidente nos neurônios maiores no cerebelo e no córtex cerebral. Também pode haver perdas como no locus ceruleus – neurônios catecolaminérgicos –, na substância nigra – neurônios dopaminérgicos – e no hipocampo – neurônios colinérgicos. 6 ● No hipotálamo, na ponte e na medula a perda é mínima. ● Com o envelhecimento também se observa diminuição das sinapses. Essas modificações estão mais ligadas à apoptose do que a processos inflamatórios ou isquêmicos. ● Menor atividade global do sistema de ACh e catecolaminas (Dopa, Nor e talvez 5-HT). ● Menor sensibilidade dos baro e quimiorreceptores (PA) e exteroreceptores (temperatura ambiente). ● Menor velocidade de condução das fibras nervosas(reflexo diminuído) e alteração de neurotransmissores simpáticos e parassimpáticos. ● A barreira hematoencefálica protege, por meio do endotélio, a entrada de substâncias tóxicas do sangue no cérebro. Com o envelhecimento essa barreira torna-se · permeável a muitas substâncias, podendo ser uma das causas de demência. ● As demências são mais prevalentes na população idosa e, apesar de causas reversíveis serem descritas, em sua maioria são processos neurodegenerativos progressivos e irreversíveis, de consequências desastrosas para indivíduo, familiares e sociedade. ● As diferentes etiologias terão início, evolução clínica e marcadores biológicos distintos, embora possam compartilhar entre si algumas características clínicas e, até mesmo, coexistir no mesmo indivíduo. ● Nos quadros demenciais a perda dendrítica é acentuada e progressiva, diminuindo a plasticidade e a dinâmica dos processos cerebrais ● Síndrome demencial: condição adquirida, caracterizada por DECLÍNIO COGNITIVO, e com comprometimento das funções sociais e funcionais. - Envolve um ou mais domínios cognitivos: aprendizado e memória, linguagem, função executiva, atenção, habilidades visuais, de percepção, de construção, cognição social. 1. VASCULAR: ● Um fator vascular pode ser a causa de até 1/3 das demências, mas o quadro demencial representa apenas parte da carga de disfunção cognitiva associada à doença cerebrovascular (DCV). ● A demência decorrente de doença cerebrovascular é designada de demência vascular, demência por múltiplos infartos ou demência arteriosclerótica. ● Após a doença de Alzheimer, a demência vascular é a segunda causa mais comum de demência associada ao envelhecimento. ● É causada tanto por episódios cerebrais isquêmicos quanto por hemorrágicos. ● Os quadros clínicos são classificados em cinco grupos, de acordo com mecanismos fisiopatológicos DEMÊNCIA POR MÚLTIPLOS INFARTOS Há infartos cerebrais múltiplos, envolvendo áreas corticais e subcorticais, geralmente causados pela oclusão de grandes vasos. Apresentam início abrupto, progressão rápida, sinais piramidais, hemiparesia, perda hemisensorial, déficits neuropsicológicos e prejuízo de memória. DEMÊNCIA POR INFARTO ÚNICO EM POSIÇÃO ESTRATÉGICA Deve-se a danos em áreas funcionalmente importantes, sendo a 7 2. Conhecer os tipos de demência mais prevalentes (vascular, mista, frontoparietal e Levy) sintomatologia definida de acordo com a área lesada. Infartos no giro angular apresentam-se com afasia aguda, alexia com agrafia, distúrbios de memória, desorientação espacial, agnosia e discalculia. Amnésia, agitação psicomotora, alucinações visuais, confusão, agnosia e déficits visuais são comuns nos infartos da artéria cerebral posterior. Já nos infartos da artéria cerebral anterior percebem-se abulia, afasia motora transcortical, prejuízo de memória, dispraxia, hemiparesia contra- lateral, perda hemi-sensorial em extremidades inferiores e incontinência de esfíncteres. Os infartos da artéria cerebral média levam a afasia grave, alexia, agrafia, discalculia, psicose, sinais piramidais contra-laterais, hemiparesia, perda sensorial e déficits do campo visual. Oclusões da artéria carótida podem levar a afasia (quando se dão no hemisfério esquerdo), déficits visõespaciais, hemiparesia contralateral e perda hemi-sensorial. Infartos nos ramos que perfundem a área talâmica podem levar a afasia (lado esquerdo), prejuízo de memória e atenção e perda motora e sensorial variáveis. DOENÇA DOS PEQUENOS VASOS Pode levar a lesões corticais e subcorticais. Os infartos subcorticais são muito observados na substância branca do cérebro do idoso. Essa leucoencefalopatia pode levar à síndrome de demência subcortical, caracterizada por prejuízo de memória, função executiva anormal, retardo psicomotor, euforia, psicose, hemiparesia simétrica, paralisia supranuclear atáxica, incontinência de esfíncteres e parkinsonismo (muitas vezes, sem tremor). Infartos lacunares nos gânglios da base, no tálamo e na cápsula interna caracterizam o estado lacunar, marcado por prejuízo da memória, retardo psicomotor, apatia, depressão, sintomas motores multifocais, parkinsonismo e paralisia pseudobulbar. Múltiplos infartos na substância branca frontal levam à doença de Binswanger, com sinais pseudobulbares, abulia, alterações do comportamento, sinais piramidais bilaterais, distúrbios de memória e de atenção, retardo psicomotor, distúrbios de marcha, incontinência urinária e parkinsonismo (rigidez, acinesia). HIPOPERFUSÃO Trata-se de síndrome de isquemia cerebral decorrente de insuficiência cardíaca e de hipotensão. É mais comum nas zonas de transição entre os territórios irrigados por duas grandes artérias. Apresenta-se com afasia transcortical, prejuízo de memória, apraxia e déficits visoconstrutivos. A área mais sensível à hipoperfusão encontra-se entre os territórios das artérias cerebrais média e posterior. DEMÊNCIA HEMORRÁGICA É causada por hematoma subdural crônico, por hematoma intracerebral ou por sequela de hemorragia subaracnóidea. 2. MISTA: ● O termo demência mista é mais comumente aplicado à coexistência de doença de Alzheimer e demência vascular. ● Outras patologias concomitantes também podem ocorrer. ● Aproximadamente 50% dos casos de demência com corpos de Lewy estão associados ao Alzheimer. ● As lesões vasculares nos pacientes com Alzheimer podem ser subestimadas e parecem estar associadas à deterioração clinica mais rápida. ● A apresentação mais comum de demência mista é a de um paciente com sintomas e características clínicas típicas de Alzheimer que sofre piora abrupta, acompanhada pela presença de sinais clínicos de AVE. 8 ● Atualmente, o termo demência mista refere-se a uma situação bastante comum na prática clínica: um paciente que apresenta história e exame físico compatíveis com DA, mas que, no entanto, apresenta lesões vasculares significativas em exame de neuroimagem estrutural, que podem estar contribuindo para o quadro cognitivo. 3. FRONTOTEMPORAL: ● Referindo-se à síndrome clínica caracterizada por alterações progressivas do comportamento associadas à atrofia dos lobos frontais e das porções anteriores dos lobos temporais. QUADRO CLÍNICO: ● A DFT constitui a segunda causa mais comum de demência antes dos 65 anos a seguir à Doença de Alzheimer. ● São descritas três condições principais no grupo da DFT: DFTvc (variante comportamental), APP variante semântica (APPvs) ou demência semântica, e APP não fluente (APPnf) ou agramática. ● A DFT pode ainda, em alguns casos, ocorrer em associação à doença do neurônio motor. ● As DFTV caracterizam-se por um amplo espectro de manifestações que podem incluir declínio progressivo nas relações interpessoais, disfunção executiva, indiferença afetiva (relaciona-se com a gravidade do acometimento do córtex pré- frontal medial), e uma ampla variedade de comportamentos anormais, como desinibição, adinamia, obsessões, rituais, estereotipias e alterações do padrão alimentar. ● A demência semântica (DS) é uma síndrome mais uniforme, caracterizada pela perda progressiva da memória semântica (memoria a longo prazo), geralmente afetando o significado de palavras, conceitos e conhecimento de objetos. ● Os pacientes comumente apresentam uma fala fluente, embora vazia de significado, com perda de vocabulário e disgrafia. ● Um comprometimento semântico mais generalizado, com prejuízo das informações visuais (agnosia visual) e de outros domínios não verbais, geralmente sobrevém tardiamente, no decorrer da doença. ● A DS é associadaà atrofia anteroinferior seletiva e assimétrica do lobo temporal, predominantemente do lado esquerdo. ● Na ANFP há envolvimento da região fronto insular posterior à esquerda. Caracteriza-se por uma perda progressiva da fluência, afetando incialmente a fala e, posteriormente, as habilidades de aprendizagem. ● Geralmente, o discurso não é fluente, contendo erros articulatórios (discurso apráxico) e agramatismo (não utilização de palavras de ligação). ● A compreensão oral encontra-se preservada, especialmente compreensão de palavras isoladas, mas pode ter dificuldade de compreensão de frases complexas. ● Com o avançar, o discurso fica mais empobrecido e, em estágios finais, ocorre mutismo. ● Já, a memória para fatos recentes é boa, geralmente, os pacientes conseguem manter independência por longo período e bom desempenho em atividades não verbais FISIOPATOLOGIA: 9 ● A classificação neuropatológica das doenças que compõem o grupo da DLFT baseia-se nas proteínas encontradas nos corpos de inclusões. ● As principais proteínas envolvidas são TDP-43, tau e FUS. ● Os casos de DFTvc apresentam patologia tau ou TDP-43; nos de APPnf, o predomínio é de proteína tau, enquanto nos casos de APPvs há predomínio de patologia TDP- 43. ● A primeira mutação descrita nos casos de DLFT foi a do gene codificador da proteína tau associada a microtúbulos. Essa proteína promove a mobilização e a estabilização dos microtúbulos e também participa do transporte axonal em neurônios e, provavelmente, também em células gliais. ● O acúmulo de proteína tau hiperfosforilada e insolúvel é associado ao início ou progressão de muitas doenças degenerativas, incluindo DA, DFT. 4. LEWY: ● A DCL é uma síndrome neuropsiquiátrica degenerativa primária, caracterizada clinicamente por sintomas cognitivos, motores, psiquiátricos e autônomos. ● A DCL está incluída no grupo das chamadas sinucleinopatias, do qual fazem parte a doença de Parkinson (DP) idiopática sem e com demência, a atrofia de múltiplos sistemas, a neurodegeneração associada à pantotenatoquinase e a distrofia neuroaxonal. ● Todas essas doenças têm em comum a agregação anormal de uma proteína sináptica denominada sinucleína. FISIOPATOLOGIA: ● Placas neuríticas são observadas em áreas neocorticais. ● Os emaranhados neurofibrilares, por sua vez, são de ocorrência menos frequente e menos intensa. ● O aspecto patológico mais marcante na DCL é a presença dos corpos de Lewy. ● Em núcleos subcorticais do tronco encefálico, essas lesões apresentam a morfologia clássica, caracterizada pela presença de inclusões neuronais intracitoplasmáticas únicas ou múltiplas, de formato esférico. ● Nos neurônios do córtex cerebral, por sua vez, os CL são menores e com diferentes formatos. ● Os principais componentes dos CL são proteínas neurofilamentares, ubiquitina e sinucleína ● Um importante avanço na compreensão da fisiopatologia da DCL foi proporcionado pela descoberta da sinucleína, proteína sináptica normal implicada na produção de vesículas sinápticas e que se agrega para formar os CLs. ● Estudos preliminares mostraram diminuição significativa de sinucleína no líquido cefalorraquidiano (LCR) em pacientes com diagnóstico de DDP e DCL quando comparados com controles saudáveis. ● Estudos patológicos na DCL evidenciaram que os locais iniciais envolvidos são o bulbo olfatório, o núcleo motor dorsal do nervo vago, o sistema nervoso autônomo, incluindo o sistema nervoso entérico. QUADRO CLÍNICO: ● As manifestações clínicas na DCL incluem, além do comprometimento cognitivo, sintomas psiquiátricos (alucinações, alterações de comportamento, depressão, apatia, ansiedade), neurológicos 10 (parkinsonismo, distúrbios do sono, falência autonômica) e clínicos (síncope, hipotensão postural, quedas, incontinência urinária, constipação intestinal). ● O padrão de déficits neuropsicológicos da DCL difere do encontrado na DA, com declínio de memória menos marcante e déficits mais graves de atenção e de funções visuoespaciais, frontais e executivas. ● A maioria dos casos ocorre em idades mais avançadas, com duração média da doença variando de 6 a 10 anos. ● A velocidade de progressão dos sintomas é geralmente mais rápida do que na DA. 1. ETIOLOGIA: ● A etiologia ainda não está totalmente esclarecida. ● Genética (70%) ● Fatores ambientais/ estilo de vida (30%): ○ Exposição a metais tóxicos (alumínio, cobre), pesticidas, químicos industriais e poluentes atmosféricos → Neuroinflamação ○ Infecções virais, bacterianas e fúngicas crônicas podem ser fatores causadores da via inflamatória. 2. FISIOPATOLOGIA: ● Apesar do imenso esforço, suas bases moleculares permanecem em grande parte desconhecidas. ● Os principais achados neuropatológicos encontrados na DA são: a perda neuronal e a degeneração sináptica intensas, com acúmulo e deposição no córtex cerebral de 2 lesões principais: placas senis ou neuríticas (PS) e emaranhados neurofibrilares (ENF). ● Placas senis (PS): são lesões extracelulares formadas de débris e restos celulares com um núcleo central proteico sólido constituído pelo peptídio beta-amiloide (Aβ). ● O peptídio Aβ é originado a partir da clivagem proteolítica de uma proteína precursora maior, a proteína precursora de amiloide (APP). ● A APP é, em geral, secretada a partir das células cerebrais no espaço extracelular supostamente responsável por importantes funções fisiológicas ainda pouco conhecidas. ● Em situações fisiológicas, a APP é clivada pela ação da enzima alfassecretase, entre os resíduos de lisina 681 e leucina 682, excluindo-se, dessa forma, a possibilidade de formação de Aβ intacto. ● A APP é então transformada em fragmentos menores sem ação tóxica para o sistema nervoso central. ● Na DA, ocorre uma liberação do peptídio Aβ da APP a partir de outras vias de processamento alternativas e anormais envolvendo a ação das enzimas β-secretase γ-secretase, por meio do processo de endoproteólise. ● A divisão decorre sem que ocorra a ação da enzima alfassecretase. 11 3. Discutir o Alzheimer (etiologia, fisiopatologia e quadro clínico) ● A sequência bioquímica do peptídio Aβ nos depósitos de amilóide da DA e em modelos celulares evidenciam várias formas diferentes de Aβ que variam essencialmente em comprimento. ● A maioria dos peptídios Aβ em sistemas celulares termina no aminoácido 40 e são denominados Aβ40. ● As formas diversas de Aβ que diferem em suas porções distais ou carboxiterminais são produtos da ação da gamassecretase. ● A divisão originada pela gamassecretase ocorre dentro das células no retículo endoplasmático. ● Além dos peptídios Aβ40 e Aβ42 e das fibrilas amiloides, evidencia- se na DA a presença de peptídios menores, que são fragmentos dos peptídios de 40/42 aminoácidos, chamados oligômeros, clivados mais próximo do terminal amino ou carboxila. ● Os oligômeros solúveis apresentam efeitos deletérios sobre os neurônios e as sinapses (afetam a potenciação a longo prazo) e estão presentes bem antes do desenvolvimento das placas em animais transgênicos, constituindo mais de 60% dos depósitos de amiloides presentes nas fases iniciais da DA. ● As concentrações de oligômeros correlacionam-se com o comprometimento cognitivo. ● Segundo essa hipótese, métodos que bloqueiem a produção dos oligômeros e os seus efeitos ou estimulem a sua eliminação poderiam ser mais eficazes do que a eliminação das placas amiloides que representariam a fase final de um processo. ● Os Emaranhados neurofibrilares (ENF) são inclusões intraneuraiscompostas de bandas de elementos citoesqueléticos anormais, denominados filamentos helicoidais pareados insolúveis (FHP). ● O componente principal dos ENF é a proteína tau em sua forma hiperfosforilada (p-tau181 P). ● Em condições fisiológicas, a proteína tau fornece estabilidade ao sistema de microtúbulos no interior dos neurônios, responsável pelo transporte de substâncias do corpo celular para a terminação sináptica. ● Os microtúbulos são formados por duas proteínas (α e β-tubulinas), que se mantêm estáveis por meio das pontes de proteína tau presentes nas células. ● Na DA, por motivos ainda desconhecidos, ocorre um processo de fosforilação anormal que, por consequência, leva à instabilidade das tubulinas, ocasionando edema e distrofia dos microtúbulos e, por fim, a morte neuronal. ● Embora as PS e os ENF possam ser encontrados no envelhecimento normal sem demência e a sua presença isolada não seja suficiente para o diagnóstico, a densidade de ambos é muito mais alta em pacientes com a DA do que seria esperado. ● Áreas típicas e proeminentes de distribuição da degeneração cerebral da DA, estão relacionadas com a perda de memória de curta duração e com o aprendizado. Entre elas, incluem-se: ○ As estruturas límbicas mediotemporais, particularmente o hipocampo e o córtex entorrinal; ○ As áreas temporais posteroinferiores adjacentes aos lobos parietoccipitais; 12 ○ Giro posterior do cíngulo. ● De acordo com a disseminação dessas alterações patológicas, critérios foram propostos para o diagnóstico neuropatológico da DA e esses estão relacionados aos estágios de progressão dos ENF do córtex transentorrinal e límbico para o neocórtex (estágios de Braak e Braak). ● Como critério diagnóstico também é possível, a gravidade das PS e, mais recentemente, ao número de PS encontradas e ajustadas por faixas etárias distintas, de forma semiquantitativa. ● Existe um consenso cumulativo de que a produção e o acúmulo do peptídio Aβ tenham papel central na patogênese da DA. Evidências: ○ (a) as mutações da APP causam a forma familial de início precoce da DA; ○ (b) todas as mutações atualmente conhecidas aumentam a produção de Aβ; ○ (c) os indivíduos portadores de síndrome de Down (trissomia do 21) com três cópias da APP apresentam características neuropatológicas da DA, a qual se desenvolve na meia-idade; ○ (d) a neurotoxicidade de Aβ in vitro leva à morte celular; ○ (e) a expressão aumentada de APP em modelos de camundongos transgênicos resulta em PS similares àquelas encontradas em humanos com a DA; ○ (f) os camundongos transgênicos com expressão aumentada de APP apresentam evidências de déficits de memória e aprendizado em consonância com o volume de acúmulo de Aβ; ○ (g) o genótipo ApoE ε4 relaciona-se com uma aceleração do depósito de amiloide; ○ (h) a geração de anticorpos antiamiloide em humanos com a DA abranda o processo de evolução da doença. ● De acordo com essa hipótese, conhecida como a cascata de amiloide, outros fenômenos secundários ocorrem como consequência da geração e deposição de Aβ, tais como: a formação de ENF; o processo oxidativo e de peroxidação lipídica; a excitotoxicidade glutamatérgica; a inflamação e a ativação da cascata de morte celular por apoptose; e o déficit colinérgico. ● É importante também salientar a ocorrência de disfunção e de morte celulares presentes em grupos nucleares de neurônios responsáveis pela manutenção de sistemas específicos de transmissão. ● Essa perda neuronal leva à depleção progressiva de norepinefrina, de serotonina e, sobretudo de acetilcolina. ● As perdas neuronais são particularmente expressivas nas vias colinérgicas que partem de grupos nucleares subcorticais, dos núcleos prosencefálicos basais (núcleo basal de Meynert [NBM], núcleo da banda diagonal de Broca e núcleo septal medial) em direção à formação hipocampal. ● Após atingirem progressivamente as regiões temporais mesiais, as perdas neuronais se disseminam para as áreas corticais associativas temporoparietais e frontais. 13 ● Nota-se, no entanto, uma relativa preservação dos neurônios colinérgicos pós-sinápticos e destaca-se a perda neuronal no NBM por ser a mais significativa e estimada entre 30 e 95%. 3. QUADRO CLÍNICO: ● Os idosos (ou seus familiares) constantemente se queixam, na avaliação médica, de piora do desempenho cognitivo com o envelhecimento. ● Deve-se identificar e avaliar a importância relativa das queixas ou dos sintomas detectados e, dessa forma, possibilitar a determinação do estado de acuidade mental atual do paciente, sempre considerando as variações individuais influenciadas, sobretudo, pela idade e pelo grau de escolaridade. ● Evidências de esquecimento aparente (p. ex., pacientes demasiadamente repetitivos, inobservantes quanto à marcação de consultas e frequentemente confusos quanto ao uso correto da medicação) e alterações psicológicas, de personalidade e no cuidado pessoal adequado podem ser as primeiras pistas para a detecção da deterioração cognitiva. ● A DA se inicia, frequentemente, após os 60 anos de idade, apesar de raros casos descritos em pessoas com até 30 anos de idade. ● A sintomatologia da demência da DA pode ser descrita utilizando-se um modelo de 3 estágios de Cummings e Benson. ● Deve-se ressaltar, no entanto, que a hierarquia da progressão dos sintomas na descrição do curso típico da DA pode sofrer grandes variações. ● Os vários domínios cognitivos e não cognitivos podem ser afetados em cada paciente de modo distinto. ● A dificuldade de precisar a data de início da doença é notória. A piora progressiva dos sintomas ocorre de forma gradual e contínua, em geral, em um período de 8 a 12 anos. ● Existe, todavia, grande variabilidade na velocidade de progressão da demência da DA, desde períodos muito curtos (2 anos) a períodos muito longos (25 anos). ● Os fatores que afetam a sobrevida são: idade, gênero e gravidade da demência. FASE INICIAL: ● A fase inicial da demência da DA dura, em média, de 2 a 3 anos e é caracterizada por sintomas vagos e difusos, que se desenvolvem insidiosamente. ● O comprometimento da memória é, em geral, o sintoma mais proeminente e precoce, principalmente de memória declarativa episódica. ● Os déficits de memória de evocação nas fases iniciais dizem respeito principalmente à dificuldade para recordar datas, compromissos, nomes familiares e fatos recentes, e podem vir acompanhadas de incapacidade para reconhecer o estado de doença ou de falta de consciência do déficit cognitivo (anosognosia). ● Alguns indivíduos apresentam alterações de linguagem precocemente, tais como dificuldade para encontrar palavras. ● Existem dificuldades frequentes no trabalho, para lidar com situações complexas e para o aprendizado de fatos novos. ● Em geral, perdem objetos pessoais, tais como chaves e carteiras, e se esquecem dos alimentos em preparo no fogão. 14 ● Há desorientação progressiva com respeito ao tempo e ao espaço. ● Os problemas espaciais e de percepção podem manifestar-se por dificuldades para reconhecer faces e de se deslocar em trajetos familiares. ● Em um número variável de casos, indivíduos com demência podem também se apresentar, no início, com perda de concentração, desatenção, perda de iniciativa, retraimento social, abandono dos passatempos, mudanças de humor (depressão), apatia, alterações de comportamento e, mais raramente, com ideias delirantes. FASE INTERMEDIÁRIA: ● A fase intermediária da demência da DA, temduração que varia entre 2 e 10 anos. ● Caracterizada por deterioração mais acentuada dos déficits de memória e pelo aparecimento de sintomas focais, que incluem afasia, apraxia, agnosia, alterações visuoespaciais e visuoconstrutivas. ● Os distúrbios de linguagem, progridem com dificuldades de acesso léxico, empobrecimento do vocabulário, parafasias semânticas e fonêmicas, perseverações, circunlóquios, perda de conteúdo e dificuldade de compreensão. ● Com o progredir do declínio cognitivo, a capacidade de aprendizado fica seriamente alterada, e a memória remota é também comprometida. ● O julgamento torna-se alterado, estando o paciente, com frequência, alheio aos seus déficits. ● A capacidade para realizar cálculos, fazer abstrações, resolver problemas, organizar, planejar e realizar tarefas em etapas torna-se seriamente afetada. ● Deve-se enfatizar, no entanto, que a perícia para o desempenho de funções específicas depende não somente dos déficits eventualmente presentes, como também das habilidades prévias, do estímulo e do ambiente social. ● Todos esses déficits contribuem para a perda das habilidades para realizar tarefas da vida diária. ● A perda funcional é hierárquica: a dificuldade para executar atividades instrumentais (lidar com finanças, cozinhar, usar transporte público) precede a dificuldade para executar tarefas básicas (vestir-se, alimentar-se, banhar-se). ● Nessa fase também podem ocorrer sintomas motores extrapiramidais, com a alteração da postura e da marcha, o aumento do tônus muscular e outros sinais de parkinsonismo que poderão agravar ainda mais o declínio funcional. ● Como sintomas psicológicos e do comportamento, a agitação, a perambulação, a agressividade, os questionamentos repetidos, as reações catastróficas, os distúrbios do sono e a “síndrome do entardecer” são alguns exemplos comuns. ● Os sintomas “psicológicos”, tais como apatia, ansiedade, depressão, ideias delirantes, alucinações – sobretudo as visuais, erros de identificação, ideias paranoides, principalmente persecutórias também são frequentes. ● Existem critérios provisórios propostos para o diagnóstico e escalas de avaliação para a caracterização individual de pelo menos 3 grupamentos de sintomas neuropsiquiátricos, a saber: ○ Depressão da DA; 15 ○ Psicose da DA; ○ Apatia da DA; ● Depressão da DA: redução da expressão afetiva positiva e do prazer frente a contato social e atividades usuais, isolamento social, recusa alimentar, irritabilidade, vocalização perturbadora, humor deprimido (choroso); perda ou ganho de peso significativo (5% do peso); insônia ou hipersonia; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva; capacidade diminuída de concentrar-se e pensar; pensamentos recorrentes de morte ou ideação suicida. ● Psicose da DA: a demência precede o início da psicose (alucinações visuais ou auditivas e/ou ideias delirantes devem estar presentes há pelo menos 1 mês). ● Apatia da DA: constata-se perda ou redução de motivação em relação a um nível prévio em pelo menos 2 domínios: ○ Comportamento intencional: iniciar conversas, engajar-se em atividades de vida diária, buscar atividades sociais, manifestar preferências e participar em conversações ou em atividades sociais. ○ Pensamento intencional: manter interesse e curiosidade sobre eventos de rotina ou novidades, tais como tarefas desafiadoras, e emocional manter afeto espontaneamente pleno e capacidade de resposta. FASE AVANÇADA: ● Na fase avançada da demência da DA, com duração média de 8 a 12 anos, e no estágio terminal, todas as funções cognitivas estão gravemente comprometidas, havendo, até mesmo, dificuldades para reconhecer faces e espaços familiares. ● Os pacientes tornam-se totalmente dependentes. ● As alterações de linguagem agravam-se progressivamente, ficando evidentes as dificuldades para falar sentenças completas e compreender comandos simples. ● Quando há redução drástica da fluência, os pacientes passam a comunicar-se somente por meio de ecolalias, vocalizações inarticuladas, sons incompreensíveis e jargões semânticos, até alcançarem o mutismo. ● Ficam acamados, com incontinência urinária e fecal. ● A morte sobrevém, em geral, como complicação da síndrome de imobilismo em decorrência de septicemia causada por pneumonia, infecção urinária e úlceras de pressão. 16 ● Vários instrumentos foram propostos para a identificação e para a avaliação dos diversos estágios de evolução da DA. ● FAST (Functional assessment stages in Alzheimer’s disease): modelo pormenorizado de avaliação funcional dos indivíduos acometidos pela DA. Contemplando 16 estágios e subestágios de progressão funcional. ● CDR (Cinical Dementia Rating). Essa escala incorpora 6 domínios a serem avaliados por entrevista semiestruturada: memória, orientação, julgamento e solução de problemas, relacionamento social e desempenho em atividades fora do domicílio, passatempos e atividades no domicílio, cuidados pessoais. 1. EPIDEMIOLOGIA: ● Os transtornos depressivos apresentam prevalência entre indivíduos idosos da comunidade, variando entre 4,8 e 14,6%. ● Entre idosos hospitalizados ou institucionalizados a prevalência é ainda maior, alcançando 22%. ● Nos estudos que avaliam os sintomas depressivos clinicamente significantes, sem levar em consideração os critérios diagnósticos, a variação na prevalência na comunidade aumenta para 6,4 a 59,3%. ● Os sintomas depressivos aumentam de prevalência a depender do estrato da população idosa, sendo de 17,1% para os maiores de 75 anos, 20 a 25% para os maiores de 85 anos e 30 a 50% para os maiores de 90 anos. ● As variações da prevalência ocorrem na dependência da definição da população idosa- 17 4. Caracterizar a depressão no idoso (epidemiologia, fatores de risco, quadro clínico e consequências) alvo, dos parâmetros diagnósticos e da origem dos indivíduos idosos: comunidade, atenção básica, ambulatórios especializados etc; ● Outros fatores, como os diferentes perfis da população- alvo em relação às possíveis comorbidades agudas e/ou crônicas, à capacidade funcional e à autonomia alteram esses índices. 2. FATORES DE RISCO: Os estudos de fatores de risco para sintomas depressivos ou transtornos depressivos estabelecem uma coocorrência de eventos, sugerindo assim um aumento da possibilidade, mas não uma determinação de causa e efeito. Doença cerebrovascular: ● A arteriopatia cerebral autossômica dominante com infartos subcorticais e leucoencefalopatia (CADASIL) é uma entidade nosológica cujos sintomas de depressão fazem parte integralmente do seu quadro clínico. Este é um dos poucos fatores de risco genéticos para depressão em idosos. ● Indivíduos com leucoencefalopatia na região pré- frontal medial orbital e na cápsula interna à esquerda desenvolvem depressão com maior frequência. ● A doença cerebrovascular, enfim, precipita, predispõe e perpetua a depressão no idoso (depressão vascular). Idade: A prevalência de transtornos depressivos é maior entre os mais jovens. Por outro lado, um maior número de idosos apresenta sintomas depressivos que não preenchem os critérios propostos. Gênero: As mulheres apresentam mais sintomas depressivos como maior possibilidade de se queixar dos sintomas, liberdade para chorar, disposição para procurar tratamento, exposição aos estressores da vida e aos efeitos hormonais. Enquanto a mulher tem maior probabilidade de se tornar incapacitada, o homem tem de morrer. Porém, após os 75 anos, nem sempre é evidenciada a diferença entregêneros. Estado civil: A convivência com companheiro, independentemente do estado civil, é fator protetor para os transtornos do humor, e o fato de não ser casado está associado à presença de sintomas depressivos, para ambos os sexos. Doença psiquiátrica: O episódio depressivo em curso é forte preditor de risco para novos episódios de depressão, assim como a presença de dano cognitivo subclínico e a história de transtornos psiquiátricos (pessoal ou familiar). Outros eventos de saúde: O uso de álcool; a privação sensorial visual ou auditiva; os transtornos do sono e a presença de dor em pacientes com doença crônica; a incapacidade. Uso de medicamentos: A prescrição de algumas classes de substâncias, apesar de necessária, deve ser cuidadosa, devido ao potencial efeito de desencadear sintomas depressivos. Dentre essas substâncias, encontram-se alguns anti-hipertensivos, diuréticos, digitálicos, analgésicos, corticosteroides, antipsicóticos benzodiazepínicos, antiparkinsonianos, tuberculostáticos e o álcool. Escolaridade: A pouca instrução está associada a sintomas depressivos e a maior escolaridade é fator protetor. Fatores socioeconômicos: Os indicadores de classes sociais são inversamente relacionados com sintomas depressivos. Tem relação com 18 a depressão, a pobreza e os baixos salários. No entanto, a riqueza não é fator protetor. Viuvez: A morte de um ente querido apresenta-se como uma relação consistente para o desenvolvimento de transtornos depressivos, na dependência das condições do óbito e das adaptações no pós-morte. A viuvez em 10 a 20% está associada a sintomas depressivos no primeiro ano e 14% no segundo ano, e esses sintomas persistem caso não tratados. A mortalidade aumenta no primeiro ano, especialmente por doenças cardiovasculares. Os idosos viúvos estão sob maior risco que as viúvas. O cônjuge que era cuidador com carga sobre si não está sob risco, de modo diferente de quem não era cuidador. Institucionalização: A presença de sintomas depressivos na admissão em instituição de longa permanência é fator preditor de depressão, assim como a falta de visitas. Traumas psicológicos: Os mais importantes como fatores de risco em idosos são guerras, campos de concentração e terrorismo. O baixo suporte emocional na infância também é fator de risco. Suporte social: Se a condição de saúde é precária e o suporte social é pobre, o idoso está particularmente sob risco para depressão. Assim, os indivíduos com um bom suporte social podem estar protegidos dos efeitos deletérios sociais da doença. Algumas características da personalidade podem predispor ao desenvolvimento da depressão, como o neuroticismo, transtornos de personalidade, apego e traços obsessivos. O comportamento do tipo desamparo aprendido também pode predispor. Outros fatores de risco social: Baixa aculturação, morar só, perda de contatos e falta de um confidente. Redução do risco e da prevalência de depressão: ● Melhor prevenção e tratamento das doenças crônicas; ● Suporte social adequado; ● Prevenção do isolamento social; ● Compensação do dano funcional. 3. QUADRO CLÍNICO: ● Os sintomas que podem compor um episódio de depressão, muitas vezes, entre idosos, necessitam de uma busca ativa para o correto estabelecimento diagnóstico. ● Todos os sintomas presentes na depressão em adultos jovens são encontrados em idosos. ● A depressão em idosos apresenta menos humor depressivo e mais anedonia, mais sintomas somáticos do que “psicológicos”, maior frequência de associação com doença física e/ou cerebral e presença maior de déficit cognitivo e disfunção executiva. ● Em relação à depressão de início precoce, a depressão geriátrica (de início tardio) apresenta menos correlação familiar, maior prevalência de demência, piora no desempenho dos testes neuropsicológicos e dano auditivo neurossensorial. ● Estudos de neuroimagem demonstraram alterações de estrutura e função cerebral na 19 depressão de início tardio, com padrões de alterações intermediárias entre indivíduos normais e demenciados. ● A depressão também afeta a funcionalidade do indivíduo idoso e algum comprometimento desta está presente em 80% dos idosos deprimidos. 3.1 Depressão vascular: ● Caracterizada por redução do interesse, retardo psicomotor, prejuízo na percepção e pouca agitação ou sentimento de culpa, além de uma possível piora na incapacidade. ● Dentre os sintomas cognitivos mais presentes estão o déficit de fluência verbal e a anomia. ● Deve ser suspeitada quando o primeiro episódio ocorre em idade mais avançada (mais de 85 anos) e não tem relação com história de depressão na família 3.2 Síndrome depressão – disfunção executiva: ● Causada por uma proeminente disfunção frontoestriatal e caracterizada por retardo psicomotor, redução de interesse, dano nas atividades instrumentais da vida diária (AIVD), insight limitado e sinais vegetativos. ● Essa síndrome apresenta resposta pobre, lenta e instável aos antidepressivos e requer um cuidadoso plano de acompanhamento. 3.3 Depressão psicótica: ● Mais frequentes em idosos que nos adultos jovens, associa-se a alucinações e/ou delírios (culpa, hipocondria, niilismo, persecutório e de ciúmes, apodrecimento ou ausência de órgãos internos), com maior risco de comportamento de autolesão. ● Alucinações auditivas e, menos frequentemente visuais podem estar presentes. 3.4 Depressão melancólica: ● Caracterizada por incapacidade de reagir a estímulos positivos, piora do humor pela manhã, sentimento de culpa excessivo, despertar precoce, marcante retardo ou agitação psicomotora, perda de apetite ou peso. ● Eventualmente pode haver dificuldade de diferenciar a depressão da demência, quando estiverem presentes sintomas como apatia, perda de peso, retardo psicomotor, redução da concentração, da memória a curto prazo, falta de iniciativa e de volição. ● Ideação suicida: suspeitar quando a afasia estiver presente, comportamentos como recusa de alimentação ou de tratamento médico. ● Os domínios cognitivos mais afetados com a gravidade da depressão são a função executiva e a velocidade de processamento, além da memória episódica. ● Especialmente entre portadores de demência, são comuns a apatia e a redução da iniciativa. ● No caso de demência do tipo Alzheimer, os indivíduos apresentam menos sintomas de humor e mais redução da energia, da concentração e lentidão motora, mantendo este padrão sintomatológico. ● Síndrome depressiva com demência reversível (antiga pseudodemência): é uma depressão associada a déficit cognitivo que melhora com o tratamento da depressão. Pode evoluir para demência em 3 anos, em 40% dos casos, podendo a depressão ser apenas uma 20 manifestação precoce da demência. ● Os sintomas de uma doença clínica (anemia, uremia, neoplasia, hipotireoidismo, entre outras) assim como o uso de alguns medicamentos podem mimetizar ou mascarar uma depressão. ● Porém, em idosos deprimidos, diferentemente dos que apresentam doenças crônicas, os escores de sintomas estão aumentados de uma maneira geral e não especificamente em algum item. ● Existem várias maneiras de a doença clínica estar associada à depressão: ○ Simples comorbidade; ○ Episódio de depressão em que prevalecem os sintomas somáticos; ○ Doenças clínicas causadas pelas alterações do eixo hipotálamo-hipófise- adrenal como consequência da depressão; ○ Depressão como reação a uma doença clínica ou como parte do quadro de sintomas de uma doença clínica; ○ Efeito colateral de medicamentos. ● Depressão subsindrômica: sintomas depressivos clinicamente significantes,que, no entanto, não preenchem os critérios diagnósticos para transtorno de humor pela CID-10 e pelo DSM-V. ● A depressão maior pode ser a exacerbação de problemas crônicos de humor cujas raízes estão em fatores de vulnerabilidade de longa data. ● Indivíduos com mais de 80 anos antes do estabelecimento da depressão, pode existir uma fase subsindrômica de até 3 anos. ● Torna-se necessária, muitas vezes, a diferenciação entre o luto habitual ou mesmo traumático e a depressão associada à perda de alguém próximo. ● Na depressão associada à perda de alguém existe uma tendência à cronificação de sintomas, como redução do autocuidado, perda de peso, insônia, queixas físicas, distanciamento de familiares e amigos, perda de interesse em atividades, sentimento de inutilidade ou indiferença e de monotonia. ● No cônjuge viúvo com o luto traumático estão presentes comportamentos como introspecção, enternecimento (saudade), preocupação com os pensamentos do falecido, choro, descrença a respeito da morte, sentimento de atordoamento devido à morte e não aceitação da morte 21 4. CONSEQUÊNCIAS: ● Baixa do sistema imunológico ● Dificuldade de adesão ao tratamento de outras doenças ● Domínio cognitivo afetado ● Vida social prejudicada 22
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