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direito e legislação ambiental

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DIREITO E LEGISLAÇÃO 
AMBIENTAL 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO - NOÇÕES BÁSICAS DO DIREITO ... .............................................. 1 
 
1. MEIO AMBIENTE - CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO ... ..................................... 4 
 
 
2. DIREITO DIFUSO E COLETIVO ... ......................................................................... 7 
 
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL ........................................................ ... 10 
3.1. PRINCÍPIO DO DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL ... ............ ... 10 
3.2. PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE 
OS INTERESSES PRIVADOS... ......................................................... .. 11 
3.3. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO 
NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE ... ....................................... .. 11 
3.4. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO ESTATAL OBRIGATÓRIA NA 
DEFESA DO MEIO AMBIENTE ... .................................................. ... 12 
3.5. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA PROTEÇÃO DO 
MEIO AMBIENTE 
. 13 
3.6. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO... ............ ... 13 
3.7. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO (PRUDÊNCIA OU CAUTELA) ... ..... . 14 
3.8. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO... .......................................................... 15 
3.9. PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR... .......................................... 15 
3.10. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL... ....................... 15 
 
 
4. HISTÓRICO DA POLÍTICA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 
17 
 
5. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE: OBJETIVOS, PRINCÍ- 
PIOS E INSTRUMENTOS... ................................................................................... 22 
5.1. OBJETIVOS... .......................................................................................... 23 
5.2. PRINCÍPIOS ... ......................................................................................... 25 
5.3. INSTRUMENTOS ... ............................................................................... 26 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
 
 
6. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - SISNAMA... ......................... 27 
 
 
7. DA RESPONSABILIZAÇÃO PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL ... ............ 31 
7.1. DA RESPONSABILIDADE CIVIL... ................................................... 31 
7.2. DA RESPONSABILIDADE PENAL... .................................................... 34 
7.3. DA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA ... ............................. 40 
 
 
8. LICENCIAMENTO AMBIENTAL ... ..................................................................... 41 
 
9. LEI DE CRIMES AMBIENTAIS - LEI Nº 9.605/98... ........................................... 50 
9.1. ESTRUTURAÇÃO DA LEI... .............................................................. 50 
9.2. COMENTÁRIOS SOBRE A LEI Nº 9.605/98... ...................................... 51 
 
 
10. PERÍCIA AMBIENTAL... .................................................................................... 60 
11. RELAÇÃO DE ALGUNS DISPOSITIVOS LEGAIS EM NÍVEL FEDERAL 
E ESTADUAL (PARANÁ) COM ÊNFASE EM QUÍMICA AMBIENTAL... ........ .. 72 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA... ........................................................................... 82 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
NOÇÕES BÁSICAS DO DIREITO 
 
1 - Princípio da Legalidade - artigo 5º, da Constituição Federal de 1988 (CF), 
inciso II. 
“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa em virtude de lei”. 
 
2 - Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 - Lei de Introdução ao Código 
Civil - LICC 
“Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. 
 
 
3 - Artigo nº 225, da CF/88: 
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum 
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à 
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. 
Todos - a CF/88 indica a titularidade do bem ambiental, demonstrando a sua posição 
democrática prevista no caput e parágrafo único do art. 1º1. 
Trata-se de um direito que não pode ser objeto de apropriação. Fica assim consagrado o 
princípio da universalidade que acolhe não só os brasileiros como também os 
estrangeiros aqui residentes e as futuras gerações. 
Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado - a Constituição prevê um 
ambiente qualificado. Ou seja, não é meramente um ambiente qualquer. Ele tem que ser 
ecologicamente equilibrado. Além disso, fica implícito que não basta tão somente um 
ambiente equilibrado, mas aquele que não o seja deve ser conduzido para que atinja 
este estado de equilíbrio. 
 
 
 
 
1
 CF/88 - Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e 
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento: [ ... ] § único. Todo 
o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
Constituição. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
2 
 
Bem de uso comum do povo - Aqui fica expressamente consolidado o caráter “difuso” do 
bem ambiental. Encerra-se o conflito existente entre a classificação deste bem como 
particular ou público. 
 
Essencial à sadia qualidade de vida - Conforme D‟lsep (2004), esta expressão deve ser 
entendida como vida saudável. Levando assim o entendimento que o ambiente 
ecologicamente equilibrado seria “... aquela hábil a proporcionar ao homem condições 
necessárias para a melhoria contínua da sua qualidade de vida” (D‟LSEP, 2004, p.66). 
Além disso, na vida saudável está embutida a dignidade humana traduzida na sua 
incolumidade2 físico-psíquico-social-econômico. 
 
Poder Público e a coletividade - O ônus criado por força deste artigo atinge o Poder 
Público e a coletividade. Isto corrobora3 a afirmativa de que o bem ambiental não é 
público e nem privado, e sim de interesse público (difuso), desta forma ambos 
podendo ser responsabilizados pela ausência de sua tutela. 
Alguns exemplos de instrumentos passíveis de uso: 
Pelo Poder Público - Estudo de Impacto Ambiental, vigilância, desapropriação, 
educação ambiental (Lei nº 9.795/99 - Institui a Política Nacional de Educação 
Ambiental), entre outros. 
Pela Coletividade - Ação Civil Pública, mandado de segurança coletivo, 
mandado de injunção, ação popular, entre outros. 
 
Dever de defender e preservar o meio ambiente - Conforme orientação dos tratados 
internacionais, o princípio da prevenção deve ser observado na proteção ambiental. 
Uma vez que a mensuração e a reparação do dano na esfera ambiental é muito difícil, a 
prevenção é o melhor “remédio” para se evitar estes malefícios. Contudo, uma vez 
ocorrendo a agressão, cabe ao infrator a rápida reparação do dano ao status quo ante 
ao dano. 
 
 
 
 
 
2
 Livre de perigo; são e salvo; intato; ileso. 
3
 Reforça 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
3 
 
Presentes e futuras gerações - Esta expressão enfatiza a responsabilidade em sede de 
preservação e amplia a noção da palavra todos. Traz o conceito de direito 
transgeracional. O direito atinge não somente os que estão vivos e o nascituros, mas 
aquele que ainda estão por vir. 
 
4 - Artigo 14, da Lei nº 8.078/1990 - Código de Defesa do Consumidor (CDC) 
“O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência da culpa, pela 
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos 
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e 
riscos.” 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
4 
 
 
1. MEIO AMBIENTE - CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO 
 
CONCEITO 
 
O art. 3º, inciso I, da Lei nº 6938/81, define meio ambiente como: “É o 
conjunto de condições, leis influências e interações de ordem física, químicae 
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. 
Já na esfera doutrinária, José Afonso da Silva citado por D‟lsep (2004, 
p.60), diz que o meio ambiente é: “ ... a interação do conjunto de elementos naturais, 
artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as 
suas formas”. Como pode-se depreender, tanto pela legislação como pela doutrina, o 
conceito de meio ambiente tem o sentido de conjunto. 
 
 
CLASSIFICAÇÃO 
 
No ambiente jurídico, apesar da característica una e complexa - do 
conceito de ambiente - que inevitavelmente fragmenta a sua normatização, a doutrina 
achou por bem classificar o meio ambiente para o seu melhor entendimento. Assim tem-
se que o meio ambiente pode ser natural, artificial, cultural e do trabalho. 
 
 
1. Meio Ambiente Natural ou Físico 
 
É constituído pelos recursos naturais tais como a água, o solo, o ar 
atmosférico, a fauna, a flora e suas interações existentes. A sua proteção legal está 
prevista no caput do art. 225, da CF e incisos I e VII do § 1º4. 
 
 
 
 
4
 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e 
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e 
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. [ ... ] § 1º para assegurar a efetividade deste direito incumbe ao 
Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e promover o manejo ecológico das 
espécies e ecossistemas. [ ... ] VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que 
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam animais a crueldade. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
5 
 
 
2. Meio Ambiente Artificial 
 
Não foi somente a natureza que teve a sua proteção prevista. A noção 
ampla de qualidade de vida faz com que o meio urbano e rural (habitável) tenha 
reconhecida a sua tutela. São abrangidas por este conceito as edificações (espaço 
urbano fechado) e os equipamentos públicos (ruas, praças, espaços livres em geral, 
áreas verdes; espaço urbano aberto). A previsão constitucional está implícita no art. 
225, e, explicitamente nos arts. 1825, 21, XX6, 5º XXIII7 e no atual Estatuto da Cidade 
- Lei nº 10.257/20018. 
 
 
 
3. Meio Ambiente Cultural 
 
D‟lsep (2004) citando José Afonso da Silva afirma que o patrimônio 
cultural é constituído pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, 
turístico, que embora artificial, normalmente tido como criação do homem, difere do 
meio ambiente artificial (este também considerado como cultural) pelo valor que 
adquiriu ou que se impregnou. Como se vê, são os traços característicos da identidade 
de um povo que vem se desenvolvendo durante o tempo, abrangendo valores materiais 
(edifícios, obras de arte) e imateriais (conhecimentos técnicos). Além da proteção 
implicitamente definida no art. 225 da CF/88, no que diz respeito à vida, 
explicitamente os arts. 2159 e 21610 não deixam dúvidas sobre a tutela do meio 
ambiente cultural. 
 
 
5
 Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes 
gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o 
bem-estar de seus habitantes. 
6
 Art. 21. Compete à União: [ ... ] XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, 
saneamento básico e transportes urbanos. 
7
 Art. 5 º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantido-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: [ ... ] XXIII - a propriedade atenderá a sua função social. 
8
 Art. 2º. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da 
propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes: I - garantia do direito às cidades sustentáveis, entendido 
como o direito à terra urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e 
futuras gerações; [ ... ]” 
9
 Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura 
nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
6 
 
 
4. Meio Ambiente do Trabalho 
 
Esta classificação é adotada por Fiorillo (2004) e D‟lsep (2004). 
Não obstante incluso no meio ambiente artificial, o meio ambiente do 
trabalho merece destaque porque é dentro desse universo que o trabalhador passa a maior 
parte do seu tempo exercendo as suas atividades. A referência não diz respeito à relação 
obrigacional regulada pelo direito do trabalho. E segundo José Afonso da Silva citado por 
D‟lsep, este ambiente é formado por: “... um complexo de bens imóveis e móveis de uma 
empresa e de uma sociedade, objeto de direitos subjetivos privados, e de direitos 
invioláveis da saúde e da integridade física dos trabalhadores, que o freqüentam” 
(D‟LSEP, 2004, p.63). 
Como pode-se notar, tanto a doutrina como a legislação conceitua o 
“meio ambiente” de forma abrange tentando abarcar todas as interações ligadas à vida e sua 
sadia qualidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
§ 1º. O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros 
grupos participantes do processo civilizatório nacional. 
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos 
étnicos nacionais. 
10
 Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados 
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos 
formadores da sociedade brasileira nas quais incluem: 
I - as formas de expressão; 
II - os modos de criar, fazer e viver; 
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às 
manifestações artístico-culturais; 
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, 
paleontológico, ecológico e científico. 
§ 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o 
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de 
outras formas de acautelamento e preservação. 
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação 
governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitarem. 
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores 
culturais. 
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. 
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências 
históricas dos antigos quilombos. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
7 
 
 
2. DIREITO DIFUSO E COLETIVO 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Historicamente, desde a época da Roma antiga (por volta de 450 anos 
a.C.), o direito positivo sempre foi observado pela ótica dos conflitos individuais. 
Passado os tempos, esta visão foi mais acentuada no século XIX, por conta da 
Revolução Francesa. Após a segunda grande guerra mundial, a visão dos embates 
passou a ultrapassar o limite dos interesses individuais para atingir o campo da 
coletividade. 
Com a evolução da sociedade, o binômio privado-público (dentro do 
mundo jurídico) não mais satisfazia as necessidades das relações humanas. A partir daí 
surgiu o que conhecemos hoje como direitos coletivos - lato sensu, onde se encontram 
o direito difuso, o direito coletivostrictu sensu e o direito individual homogêneo. 
 
 
 
DIREITO DIFUSO 
 
O conceito legal desse direito está previsto expressamente no 
parágrafo único, inciso I, art. 81, da Lei nº 8.078/90 - CDC, que define: 
“Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das 
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título 
coletivo. 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos para efeito deste 
Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam 
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”. 
Observe-se as características do direito difuso: transindividualidade, 
indivisibilidade, com titularidade indeterminada e interligada por circunstâncias de 
fato. 
A transidividualidade está relacionada à questão de que o direito em 
questão não se concentra no indivíduo e sim ultrapassa a limite da pessoa atingindo a 
coletividade. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
8 
 
O objeto do direito difuso não é passível de divisão. Ou seja, 
indivisível. Nas palavras de Fiorillo (2004, p. 6): “Trata-se de um objeto que, ao 
mesmo tempo, a todos pertence, mas ninguém em específico o possui”. Um exemplo bem 
elucidativo é o ar atmosférico. 
Tomando-se o exemplo acima, tem-se que as vítimas (titulares) do ar 
atmosférico poluído dificilmente poderiam ser individualizados. Talvez seria possível 
fazer uma delimitação do espaço físico onde se pudesse dizer que as pessoas 
abrangidas naquela área foram afetadas, mas isto não seria algo viável e preciso. Nota- 
se que um mesmo fato atinge um número indeterminado de pessoas simultaneamente. 
 
 
 
DIREITO COLETIVO STRICTU SENSU 
 
É no parágrafo único, inciso II, do art. 81, da Lei nº 8.078/90, que está 
definida o conceito do direito coletivo: 
“Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das 
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título 
coletivo. 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
[ ... ] 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos 
deste Código, os transidividuais de natureza indivisível de que seja 
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a 
parte contrária por uma relação jurídica base”. 
A transindividualidade e indivisibilidade do objeto são características em 
comum com o direito difuso. Contudo, a determinabilidade dos titulares é o traço 
característico diferenciador do direito coletivo. Neste caso, os titulares são aquelas 
pessoas fazem parte de um grupo categoria ou classe de pessoas. Além disso, existe uma 
relação jurídica entre as partes envolvidas. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
9 
 
 
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS 
A definição legal deste direito está prevista no inciso III, do parágrafo 
único, do art. 81, da Lei nº 8.078/90: 
“Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das 
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título 
coletivo. 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
[ ... ] 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os 
decorrentes de origem comum”. 
Como pode-se notar, o legislador não descreveu elementos definidores dos 
direitos individuais homogêneos. Somente coloca que são direitos individuais 
decorrentes de origem comum. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
10 
 
 
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL 
 
 
A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS 
Em termos jurídicos, os princípios são idéias centrais de um sistema que 
servem para dar um sentido lógico, harmônico, racional e coerente a um todo. Por 
conseqüência deste conceito é que se costuma dizer que “conhecer os princípios do 
Direito é condição essencial para aplicá-lo corretamente” (MIRRA, 1996, p. 51). Ou 
conforme Reale (1995), o princípio é o alicerce que dá validade às demais afirmações que 
formam um dado campo do saber. 
A finalidade prática do estudo dos princípios consiste na “visualização 
global do sistema para melhor aplicação concreta de suas normas” (MIRRA, 1996, p. 51), 
mais especificamente, formando e orientando a geração e a implementação do Direito 
ambiental (MACHADO, 2006). 
Assim, como é o caso do nosso sistema legal, em que as normas sobre 
os assuntos correlacionados ao meio ambiente encontram-se em leis esparsas, 
elaboradas sem um critério preciso e um método definido, o conhecimento dos 
princípios é de suma importância. Deste modo, conforme Carlos Ari Sundfeld11, citado 
por Mirra (1996, p.51), “... é exatamente por intermédio dos princípios que se 
consegue organizar mentalmente as regras existentes e, com isso, extrair soluções 
coerentes com o ordenamento globalmente considerado”. 
 
 
 
OS PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL 
 
3.1. Princípio do Direito Humano Fundamental 
É deste princípio basilar que decorrem todos os outros princípios que 
norteiam o Direito Ambiental. Conforme o princípio 1 da Conferência da Nações 
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio 92 , nele está entendido que os 
seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o 
 
 
11
 Carlos Ari SUNDFELD, Fundamentos de Direito público. São Paulo: Malheiros, 1992, p. 137-144. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
11 
 
desenvolvimento sustentável. Ou seja, o ser humano tem o direito de ter uma vida 
saudável e produtiva e em harmonia com o ambiente. 
 
 
 
3.2. Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre os Interesses Privados 
É um princípio geral do direito público, também citado como 
princípio da natureza pública da proteção ambiental por Milaré (2000), que preceitua 
que os “interesses da coletividade devem prevalecer sobre os interesses dos 
particulares, de índole privada” (MIRRA, 1996, p.54). Este princípio tem estreita 
relação com o da primazia do interesse público. Tal fato enseja que os direitos 
individuais, mesmo que legítimos, devem sempre sucumbir aos interesses da proteção 
do ambiente e, dessa forma, quando existir dúvida quanto à aplicação da norma in 
concreto o privilégio sempre será dos interesses da sociedade, a dizer: in dubio pro 
ambiente (MILARÉ, 2000). Ou seja, na dúvida decida a favor do ambiente. 
Além disso, atualmente, frisa-se que a própria conservação do meio 
ambiente é tida como condição sine qua non12 para a própria existência da vida social e 
mesmo “para a manutenção e o exercício pleno dos direitos individuais dos 
particulares” (MIRRA, 1996, p.54). 
 
 
 
3.3. Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público na Proteção do Meio 
 Ambiente 
 
A Carta Magna de 1988 prescreve que o meio ambiente 
ecologicamente equilibrado é bem de uso comum do povo; assim, ela deixa claro que 
o meio ambiente pertence à coletividade e não é passível de disponibilidade nem pelo 
Estado, tanto menos pelos particulares (MIRRA, 1996; MILARÉ, 2000). A 
indisponibilidade é reforçada pelo comando do art. 225 da CF que impõe que o meio 
ambiente deve ser preservado para as gerações futuras. Ou seja, segundo Gomes 
(1999) e Machado (2006), a atual geração deve transferir para as futuras gerações o 
 
12
 Sine qua non: Expressão que indica uma cláusula ou condição sem a qual não se fará certa coisa. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
12 
 
 
atual “patrimônio” ambiental. Ele não pertence somente a esta (nossa) geração, 
portanto, não devendo ser deixado à mercê dos interesses individuais tão-somente dos 
cidadãos agora presentes. Assim, se conclui que o ambiente é insusceptível de 
apropriação (MIRRA, 1996). 
 
 
 
3.4. Princípio da Intervenção Estatal Obrigatória na Defesa do Meio Ambiente 
 
Nas palavras de Gomes (1999, p.175), “trata-se de coroláriodo 
princípio da indisponibilidade do interesse público na proteção do meio ambiente”. 
Segundo Mirra (1996), a previsão legal para este princípio está no item 17 da 
Declaração de Estocolmo, de 1972, e no caput do art. 225 da CF. Podem-se também 
encontrar referências na lei infraconstitucional (Lei nº 7.347/86, art. 5º, § 6º). Estes 
dispositivos: 
[...] consignam expressamente o dever de o Poder Público atuar na 
defesa do meio ambiente, tanto no âmbito administrativo, quanto no 
âmbito legislativo e até no âmbito jurisdicional, cabendo ao Estado 
adotar as políticas públicas e os programas de ação necessários para 
cumprir esse dever (MIRRA, 1996, p.56). 
Este princípio é fruto das intervenções feitas pelo Poder Público, 
necessárias à manutenção, conservação e restauração dos recursos ambientais, tendo em 
vista o uso racional do meio ambiente. A ação do Poder Público não se limita 
somente ao alcance do seu poder de polícia. Tendo em vista a conservação do 
ambiente, o Poder Público pode exercitar procedimentos de características 
pedagógicas, como estabelecer ajustamentos de conduta, que venham a cessar as 
atividades nocivas ao ambiente (MILARÉ, 2000). 
Apesar da compulsoriedade da intervenção estatal, a responsabilidade 
da conservação do ambiente não é exclusiva do Estado e sim participativa deste com a 
sociedade. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
13 
 
 
3.5. Princípio da Participação Popular na Proteção do Meio Ambiente 
É no princípio nº 10 da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e 
Desenvolvimento de 1992 que este princípio está expressamente previsto. Na esfera 
constitucional, especificamente no caput do art. 225 também está prevista a 
participação da coletividade na preservação do ambiente. 
Conforme Mirra (1996), os meios para esta participação podem 
ocorrer de três formas: 
- pela participação no processo de criação do Direito ambiental; 
- na formulação e execução de políticas ambientais; 
- pela participação via poder judiciário. 
Como demonstra Machado (2006), é de suma importância a 
participação popular nos processos decisórios; contudo, o binômio 
„informação/participação‟ é indissociável. Desta forma, neste contexto destacam-se 
dois pressupostos fundamentais: educação e informação (MIRRA, 1996). Ou seja, 
deve-se sempre ter em vista processos que primem pela educação ambiental e o acesso às 
informações dos fatores que afetem o ambiente. 
 
 
3.6. Princípio do Desenvolvimento Sustentado 
Este princípio delineia a atual visão política no que tange à 
problemática ambiental e, na ECO 92, ele foi consagrado tendo a expressão 
“desenvolvimento sustentável” consolidada. Neste princípio estão materializados dois 
tipos de direito: o direito natural e o positivo. Ou seja, o direito do ser humano 
desenvolver-se e desempenhar todas as suas potencialidades, e, por outro lado, o de 
assegurar aos seus descendentes estas mesmas condições (MILARÉ, 2000). Neste 
contexto, fica clara a incumbência do ser humano atual de um direito e de um dever: o 
de usufruir os recursos e o dever de deixá-los em boas condições às futuras gerações 
(GOMES, 1999). 
Sob o ponto de vista de confronto de valores e interesses, a idéia 
básica é ter a proteção do ambiente, não somente como um aspecto isolado das 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
14 
 
políticas públicas, mas como “parte integrante do processo global de desenvolvimento dos 
países” (MIRRA, 1996, p. 58). A partir daí, a proteção do ambiente equiparar-se-ia ao 
mesmo nível de importância com os valores econômicos e sociais. Assim, é o fruto desse 
conceito que se busca na conciliação de diversos valores, como: 
[...] o exercício das atividades produtivas e do direito de propriedade; o 
crescimento econômico; a exploração dos recursos naturais; a 
garantia do pleno emprego; a preservação e a restauração dos 
ecossistemas e dos processos ecológicos essenciais; a utilização 
racional dos recursos ambientais; o controle das atividades poluidoras e a 
preservação da diversidade e da integridade do patrimônio genético 
dos países (MIRRA, 1996, p.58-59). 
Acrescente-se ainda que o desenvolvimento sustentável requer, nas 
palavras de Silva (1997, p. 8), 
[...] o crescimento econômico que envolva eqüitativa redistribuição dos 
resultados do processo produtivo e a erradicação da pobreza de forma a 
reduzir as disparidades nos padrões de vida e melhor atendimento 
da maioria da população. 
Deste modo, no confronto destes valores e interesses, a proteção do 
meio ambiente não pode ser colocada como uma questão secundária. Ou seja, mesmo 
sob a argumentação de se buscar satisfazer necessidades de mesma importância - no 
entanto, mais imediatas -, a proteção do ambiente não deve ser relegada a segundo 
plano. 
 
 
 
3.7. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO (Prudência ou Cautela) 
A idéia de precaução teve o seu auge na Rio-Eco 92, que adotou em 
sua declaração de princípios o denominado princípio da precaução. Esta declaração foi 
ratificada pelo Congresso Nacional via Decreto Legislativo nº 01, de 03 de fevereiro 
de 1994. 
Este princípio preceitua que diante de uma incerteza científica, a 
prudência é o melhor caminho para se evitar danos muitas vezes irreversíveis. Sendo 
assim, cabe deixar claro que este princípio não pode ser aplicado de forma simplista, 
pois existe uma complexa relação entre progresso científico, inovação tecnológica e 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
15 
 
risco. Isto demonstra a interdisciplinariedade do Direito Ambiental com outras 
ciências. 
 
 
 
3.8. Princípio da Prevenção 
O princípio da prevenção, embora muito próximo do princípio da 
precaução, aplica-se onde exista um conhecimento consolidado sobre o impacto 
ambiental passível de ocorrência. Mediante o conhecimento prévio do dano, é possível 
tomar medidas que minimizem ou anulem os riscos - caso eles existam - de sua 
ocorrência. Este princípio orienta tanto o Estudo de Impacto Ambiental como o 
licenciamento ambiental. 
 
 
 
3.9. Princípio do Poluidor Pagador 
Apesar de todos os instrumentos de prevenção dos danos ambientais, é 
preciso reconhecer que as medidas estritamente preventivas não têm se mostrado 
eficazes para manter o equilíbrio ecológico. Isso tem como fonte a tolerância 
administrativa, as falhas da própria legislação, a negligência e a imprudência do 
homem no exercício de suas atividades (MIRRA, 1996). 
Este princípio não vem para tentar tolerar a degradação mediante 
pagamento - paguei, posso poluir - e nem compensar os danos causados, e sim evitar o 
dano ao ambiente (MILARÉ, 2000). Este princípio tem por objetivo cobrar do 
poluidor o custo social da poluição abrangendo não somente bens e pessoas como 
também toda a natureza. 
 
 
 
3.10. Princípio da Cooperação Internacional 
Entende-se que as questões ambientais, principalmente aquelas 
relacionadas ao ambiente natural, nem sempre estão delimitadas pelas linhas divisórias 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
16 
 
criadas pelo homem entre os países. Sendo assim, a degradação de um ambiente num 
país pode causar conseqüências que extrapolam o seu limite territorial chegando ter 
dimensões transfronteiriças e global (Ex: acidente com material radioativo). 
É dessa característica específica do problema ambiental que surge o 
princípio da cooperação internacional. Entre os ideais deste princípio estão: 
- o dever de informação a outros Estados sobre conseqüências 
transfronteiriças de situação crítica de alguma atividade interna; 
- o dever de informação e consulta sobre projeto que possam causar 
conseqüências aos Estados vizinhos; 
- o dever de assistência e auxílio em caso de degradações importantes e 
catástrofes ecológicas; 
- o dever de impedir a transferência de empresasque exercem 
atividades altamente degradadoras do ambiente para outros países. 
Registre-se que a cooperação internacional não implica no abandono da 
soberania de cada Estado. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
17 
 
 
4. HISTÓRICO DA POLÍTICA E DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO 
 BRASIL 
 
ORIGEM DA PREOCUPAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE 
 
A degradação ambiental não é marca exclusiva de nossos dias. A 
existência humana13 por si já é um fato que gera degradação. 
 Mas para não se ter apenas uma visão pessimista da destruição 
causada pelo homem, a idéia de conservação também advém de tempos bem remotos. 
O Código de Hamurabi, na Média Mesopotâmia, entre 2067 e 2025 a.C. e o Código de 
Manu, na Índia, entre 1300 e 800 a.C. impunham o bom uso dos elementos da 
natureza. Na Bíblia Sagrada também têm-se referências no Gênisis e no 
Deuteronômio. 
Gênisis14: sobre a arca de Noé e a conservação das espécies. 
Deuteronômio15: sobre a proibição do corte de árvores frutíferas 
mesmo em caso de guerra. 
 
 
 
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 
 
Conforme Milaré (2000) citando An Helen Wainer, tem-se que a 
primeira formulação legislativa disciplinadora do meio ambiente são encontradas na 
legislação portuguesa que aqui vigorou até o advento do Código Civil de 1916. 
Por ocasião do descobrimento do Brasil a legislação aplicável à época 
foram as Ordenações Afonsinas de 1446 (D. Afonso IV). Neste código já se 
encontravam algumas referências que denotavam a preocupação com o ambiente. Por 
exemplo: tipificava o corte de árvores de frutos como crime de injúria ao rei. 
 Em 1521, em nova compilação denominada Ordenações do Senhor 
Rey Dom Manoel, mais conhecida como Ordenações Manuelinas, houve avanço nas 
questões ambientais acrescentando-se por exemplo que era proibida a caça de certos 
 
13
 Leitura complementar: “O poema imperfeito”, de Fernando Fernandez 
14
 Gênisis - capítulos VI e VII 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
18 
 
animais (perdizes, lebres e coelhos) com instrumentos capazes de causar-lhes a morte com 
dor e sofrimento; coibia-se a comercialização de colméias sem a preservação da vida das 
abelhas e ainda mantinha tipificando o crime de corte de árvores de frutos, agora punindo 
o infrator com o degrado para o Brasil quando a árvore abatida tivesse valor superior a 
“trinta cruzeiros”. 
Em 1580, com a Espanha invadindo Portugal, o Brasil passa para o 
domínio Espanhol sob o reinado de Felipe II. Governando Portugal sob o nome de 
Felipe I, ele ordena que fosse feito outra compilação das leis lusitanas. Com sua morte 
em 1603 seu filho, com o mesmo nome de seu pai (Felipe I), edita a lei denominada 
Ordenações Filipinas que gera efeitos no seu reino e nas colônias portuguesas. 
Neste instrumento legal, avançado para a época, já se podia encontrar 
o conceito de poluição. Além disso, vedava que qualquer pessoa jogasse material que 
pudesse matar os peixes e sua criação ou sujar as águas de rios e lagoas. A tipificação 
quanto ao corte de árvores de fruto é reiterada e acrescida de uma pena de degrado, 
agora em definitivo, para o Brasil. Ou seja, sem volta. Esta mesma pena também era 
aplicada às pessoas que “por malícia” matassem animais. Além disso, as Ordenações 
Filipinas proibiam a pesca com determinados instrumentos e em certos locais e épocas 
estipuladas. 
Esta legislação antiga, complexa e esparsa ressentia de uma aplicação 
prática necessitando de uma atualização que fora recomendada pela Constituição do 
Império de 1824, no seu artigo nº 179, inciso nº 18. Porém, somente em 1º de janeiro 
de 1916 foi promulgado o Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor em 1º de 
janeiro de 1917, e constituiu-se no primeiro diploma legal genuinamente brasileiro 
com preocupação ecológica mais destacada. No Código foram introduzidas várias 
normas de cunho ambiental destinadas à proteção de direitos privados na composição 
de conflitos de vizinhança. 
Nas décadas seguintes à promulgação do Código Civil começaram 
surgir a legislação tutelar do ambiente no Brasil. Em seus conteúdos já se começavam 
evidenciar regras específicas atinentes a fatores ambientais como: 
- Decreto 16.300, de 31.12.1923 (Regulamento de Saúde Pública); 
 
15
 Deuteronômio - capítulo XX : 19 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
19 
 
 
- Decreto 23.793, de 23.1.1934 (Código Florestal), depois 
substituído pela Lei 4.771/65; 
- Decreto 24.114, de 12.4.1934 (Regulamento de Defesa Sanitária 
Vegetal); 
- Decreto 24.643, de 10.7.1934 (Código de Águas); 
- Decreto-Lei 25, de 30.11.1937 (Patrimônio Cultural: organiza a 
proteção do patrimônio histórico e artístico nacional); 
- Decreto-Lei 794, de 19.10.1938 (Código de Pesca), depois 
substituído pelo Decreto 221/67; 
- Decreto-Lei 1.985, de 29.1.1940 (Código de Minas), depois 
substituído pelo Decreto-Lei 227/67; 
- Decreto-Lei 2.848, de 7.12.1940 (Código Penal). 
Em 1960, por influência dos movimentos ambientalistas em evidência, outros 
diplomas legais foram editados, agora, com conteúdos mais específicos e diretamente 
dirigidos à prevenção e controle da degradação ambiental. Entre os mais importantes, 
destacam-se: 
- Lei 4.504, de 30.11.1964 (Estatuto da Terra); 
- Lei 4.771, de 15.9.1965 (Código Florestal); 
- Lei 5.197, de 3.1.1967 (Proteção à Fauna); 
- Decreto-Lei 221, de 28.2.1967 (Código de Pesca); 
- Decreto-Lei 227, de 28.2.1967 (Código de Mineração); 
- Decreto-Lei 248, de 28.2.1967 (Política Nacional de Saneamento 
 Básico); 
- Decreto-Lei 303, de 28.2.1967 (Criação do Conselho Nacional de 
 Controle da Poluição Ambiental); 
- Lei 5.318, de 29.9.1967 (Política Nacional de Saneamento), que 
 revogou os Decretos-Leis 248/67 e 303/67; 
- Lei 5.357, de 17.11.1967 (Estabelece penalidades para 
embarcações e terminais marítimos ou fluviais que lançarem 
detritos ou óleo em águas brasileiras); 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
20 
 
- Decreto-Lei 1.413, de 14.8.1975 (Controle da poluição do meio 
 ambiente provocada por atividades industriais); 
- Lei 6.453, de 17.10.1977 (Responsabilidade civil por danos 
nucleares e responsabilidade criminal por atos relacionados com 
atividades nucleares); 
- Lei 6.513 de 20.12.1977 (Criação de áreas especiais e locais de 
 interesse turístico); 
- Lei 6.766, de 19.12.1978 (Parcelamento do solo urbano). 
Apesar do grande número de dispositivos legais sobre questões 
ambientais, conforme Milaré (2000, p.81): “podemos afirmar, sem medo de errar, que 
somente a partir da década de 1980 é que a legislação sobre a matéria passou a 
desenvolver-se com maior consistência e celeridade16”. Até então, a legislação não era 
específica e integrada a uma consciência ambiental maior. Ela possuía um caráter 
diluído e casual que dificultava sua aplicação. O Estado, omisso às suas 
responsabilidades, deixava para o cidadão comum o ônus de litigar e lutar contra os 
efeitos produzidos pelos degradadores do ambiente, que na maioria das vezes eram 
constituídos por poderosos grupos econômicos, quando não o próprio Estado. 
Por influência da onda conscientizadora emanada da Conferência de 
Estocolmo/72, passou-se proliferar, em todos os níveis de poder público e da 
hierarquia normativa, diplomas legais mais ambiciosos, voltados à proteção do 
patrimônio ambiental do país, segundo uma visão global mais sistêmica. 
Quatro marcos são destaques desta nova conjuntura ambiental que 
influenciaram e influenciam a tutela do ambiente nos dias de hoje. 
Lei nº 6.938, de 31/8/1981 - Política Nacional do Meio Ambiente 
 Trouxe o conceito de “meio” ambiente. 
Instituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) que veio 
propiciar o planejamento e a ação integrada dos diversos órgãos governamentais 
mediante uma política nacional parao setor. 
 
 
 
16
 Rapidez 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
21 
 
 
Previu que o poluidor tem obrigação de reparar os danos causados por 
sua pessoa. 
Institui a responsabilização objetiva (ou sem culpa) em ação movida 
pelo Ministério Público. 
 
Lei nº 7.347, de 24/7/1985 - Ação Civil Pública 
Instituiu a ação civil pública como instrumento processual específico para 
a defesa do ambiente e de outros direitos difusos e coletivos. 
 Foi por meio desta lei que a agressão ambiental pôde “virar caso” de 
justiça. As associações civis foram instrumentalizadas para, junto com o Ministério 
Público, freassem as agressões ambientais. 
Vale destacar que Alemanha, França, Bélgica, Portugal e Espanha 
ainda não dispõem de um sistema de acesso coletivo à justiça como o nosso. 
 
Constituição Federal de 1988 
Dedicou ao ambiente um capítulo próprio (Capítulo VI do título VIII), 
conforme Milaré (2000,p.82): “... um dos textos mais avançados em todo mundo”. 
 
Lei nº 9.605 de 12/2/1998 
Dispôs sobre as sanções penais e administrativas aplicáveis às 
condutas e atividades lesivas ao ambiente (Lei dos Crimes Ambientais). 
 Sistematizou as sanções administrativas. 
Tipificou organicamente os crimes ecológicos. 
Previu a possibilidade da pessoa jurídica ser sujeito ativo de crimes 
ecológicos, e logo sua penalização. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
22 
 
 
5. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE: PRINCÍPIOS, OBJETI- 
 VOS E INSTRUMENTOS 
Em 1972, na Convenção de Estocolmo, o Brasil posicionou-se contra as 
recomendações daquele encontro que pregava o desenvolvimento sustentado. Nosso país, 
de certa forma liderando o grupo opositor, insurgia contra estes preceitos sob a alegação 
de que os países ricos (hemisfério norte), uma vez já tendo explorado de forma 
predatória os recursos naturais para acumularem riquezas, desejavam condenar os países 
pobres (hemisfério sul) a permanecerem sob esta condição impondo-lhes restrições 
quanto ao uso dos referidos bens. O lema destes países “rebeldes” era que o 
desenvolvimento econômico deveria ser obtido a qualquer preço. 
No início da década de 80, mais precisamente em 31 de agosto de 
1981, a Lei nº 6.938, dispôs sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), 
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Essa lei incorporou e aperfeiçoou 
normas estaduais já vigentes, instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente 
(SISNAMA) e atribuiu ao Estado maior responsabilidade na execução das normas 
ambientais. 
Dessa forma, relata-se que por força da “pressão” legal, foi constatada uma 
evasão de indústrias nos estados onde a implementação desta lei vinha se 
consolidando. Ou seja, dentro do nosso país, alguns estados não cumpridores da lei 
acolhiam as empresas que viam nesta legislação um custo extra no desenvolvimento de 
suas atividades econômicas. 
Diante disso nota-se a dificuldade da formulação de uma política 
ambiental de caráter nacional. Naquele momento, o CONAMA - Conselho Nacional 
do Meio Ambiente, órgão superior do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio 
Ambiente) vinha editando inúmeras normas importantes de caráter estritamente 
técnico para a proteção ambiental. Era o esboço do início da política ambiental. 
Contudo, isto não se fez suficiente para o efetivo traçado de um plano de ação 
governamental que envolvesse União, Estado e Municípios. 
Como muito bem coloca Milaré (2000, p.267) “o planejamento 
ambiental, isolado do planejamento econômico e social, é irreal”. Dentro da 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
23 
 
consciência do desenvolvimento sustentável é importante a consideração dos aspectos 
econômicos, sociais e ambientais. Este mesmo autor ainda afirma que o 
“... planejamento integrado de políticas públicas ainda não existia no 
Brasil, mercê da excessiva setorização e verticalização dos diferentes 
ministérios. A isto acresce a inexistência de efetivas disposições 
políticas por parte dos partidos políticos e dos governos em geral”. 
 
 
5.2. OBJETIVOS 
 
Tendo em vista o panorama histórico (período de forte autoritarismo 
político-administrativo), a lei que instituiu o PNMA sofreu delimitações impostas por 
fatores políticos e geopolíticos predominantes da época. Nem por isto esta lei teve o seu 
valor reduzido para a história da política ambiental brasileira. 
Ela foi o marco inicial que balizou as intervenções do governo e da 
iniciativa privada sobre o ambiente. A partir da sua vigência e enriquecido por 
dispositivos legais editados posteriormente, os benefícios ambientais auferidos foram 
incontestáveis. Além disso, destaca-se ainda a sua influência sobre políticas públicas e na 
estruturação de sistemas de gestão ambiental. 
O objetivo geral da PNMA vem expresso no caput do art. 2º, da Lei nº 
6.938/81: 
“... a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental 
propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao 
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança 
nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os 
seguintes princípios ...” 
A preservação, melhoria e a recuperação são os fins almejados pelos 
procedimentos a serem tomados para a proteção do ambiente. 
 A palavra preservação tem o sentido de perenizar, de perpetuar, de 
salvaguardar, deixar intacto os recursos naturais. A melhoria quer que a qualidade 
ambiental seja progressivamente superior aos níveis atuais. E, a recuperação visa a busca 
do status quo17 ante das áreas degradadas. 
 
 
 
17
 Status quo: signfifica o estado em que se achava anteriormente certa questão. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
24 
 
Além desse escopo, o ambiente foi tomado meramente como um 
instrumento para se obter o desenvolvimento e não como um fim para assegurar a 
qualidade ambiental. 
Não retirando o seu mérito, a segurança nacional defluiu do panorama 
político do momento histórico do Brasil. 
Por fim a proteção da dignidade da vida humana não é um fator 
excludente do respeito ético à existência da vida sobre a Terra. 
 Além dos objetivos gerais traçados no caput do art. 2º, da Lei nº 
6.938/81, o art. 4º, da mesma lei, enumera objetivos específicos: 
I - a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a 
preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; 
 II - a definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à 
qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do 
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; 
III - o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e 
de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; 
 IV - o estabelecimento de pesquisas e de tecnologias nacionais 
orientadas para o uso racional dos recursos ambientais; 
 V - a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, a 
divulgação de dados e informações ambientais e a formação de uma consciência 
pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio 
ecológico; 
VI - a preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua 
utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do 
equilíbrio ecológico propício à vida; 
VII - a imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar 
e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização dos 
recursos ambientais com fins econômicos. 
5.3. PRINCÍPIOS 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
25 
 
O art. 2º da Lei nº 6.938/81, em seus incisos I e X, elencam os 
princípios legais que devem reger a Política Nacional do Meio Ambiente. Pode-se 
notar que nem todos os princípios ali enumerados coincidem com os norteadores do 
direito ambiental. Antunes (2004, p. 95) muito bem esclarece os casos de conflito de 
princípios dizendo: 
“Na eventual contradiçãoentre um princípio estabelecido para uma 
atividade ambiental setorizada e um princípio geral do direito 
ambiental, deverá prevalecer o princípio que seja dotado de um 
conteúdo mais favorável à proteção do meio ambiente”. 
Mesmo não sendo genuinamente princípios do Direito Ambiental, eles 
descrevem uma orientação prática para ação governamental 
 Os princípios elencados pela lei são os seguintes: 
- ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, 
considerando o meio ambiente como patrimônio público a ser necessariamente 
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; 
- racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; 
- planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; 
- proteção dos ecossistemas, com a preservação das áreas 
representativas; 
- controle e zoneamento das atividades potenciais ou efetivamente 
poluidoras; 
- incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso 
racional e a proteção dos recursos ambientais; 
- acompanhamento do estado da qualidade ambiental; 
- recuperação de áreas degradadas; 
- proteção de áreas ameaçadas de degradação; e 
- educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação 
da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio 
ambiente. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
26 
 
 
5.4. INSTRUMENTOS 
É no art. 9º da Lei nº 6.938/81 que estão elencados os instrumentos 
para a PNMA, sendo eles: 
- o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; 
- o zoneamento ambiental; 
- a avaliação de impactos ambientais; 
- o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente 
poluidoras; 
- os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou 
absorção de tecnologia voltados para a melhoria da qualidade 
ambiental; 
- criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder 
Público Federal, Estadual e Municipal, tais como áreas de proteção 
ambiental, de relevantes interesses ecológicos e extrativistas; 
- o Sistema Nacional de Informações sobre o meio ambiente; 
- o Cadastro Técnico Federal de atividades e instrumentos de defesa 
ambiental; 
- as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não-cumprimento 
das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação 
ambiental; 
- a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser 
divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e 
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; 
- a garantia de prestação de informações relativas ao meio ambiente, 
obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; 
- o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras 
e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
27 
 
 
6. SISTEMA18 NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - SISNAMA 
 
Conforme preceito do artigo 6º, da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 
1981, o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA - é formado pelos 
seguintes órgãos: 
1. Órgão superior: o Conselho de Governo; 
2. Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio 
 Ambiente - CONAMA; 
3. Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente; 
4. Órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e 
 Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; 
5. Órgãos seccionais: órgãos ou entidades estaduais responsáveis por 
 programas ambientais ou pela fiscalização de atividades 
 utilizadoras de recursos ambientais; e, 
6. Órgãos locais: as entidades municipais responsáveis por programas 
 ambientais ou responsáveis pela fiscalização de atividades 
 utilizadoras de recursos ambientais. 
 
 
 
ÓRGÃO SUPERIOR 
 
É materializado pelo Conselho de Governo e tem por objetivo 
assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e das 
diretrizes governamentais para o ambiente e seus recursos. 
 
 
 
ÓRGÃO CONSULTIVO E DELIBERATIVO 
 
É o órgão maior do Sistema representado pelo Conselho Nacional do 
Meio Ambiente - CONAMA. Tem por finalidade assessorar, estudar e propor ao 
 
18
 Sistema: Disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam com 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
28 
 
Conselho de Governo diretrizes e políticas governamentais para o ambiente e seus 
recursos e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões 
compatíveis com o ambiente ecologicamente equilibrado. O CONAMA é dotado de 
poder regulamentar em nível federal. Estas normas devem ser tidas como gerais e 
observadas pelos Estados e Municípios dentro das suas competências legislativas e 
administrativas. Conforme Antunes (2004, p. 100), “... os padrões locais e regionais não 
poderão ser mais permissivos que o padrão fixado em âmbito federal. Os 
patamares e padrões máximos de poluição tolerada são os federais”. 
O Ministro de Estado do Meio Ambiente que é também o Presidente do 
CONAMA. 
 
 
 
Competência do CONAMA 
 
Segundo o artigo 8º, da Lei nº 6.938/81, compete ao CONAMA: 
I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o 
licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos 
Estados e supervisionado pelo IBAMA; 
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das 
alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou 
privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a 
entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de 
impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de 
significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio 
nacional. 
III - decidir, como última instância administrativa em grau de recurso, 
mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pelo IBAMA; 
 
 
 
 
 
 
 
estrutura organizada. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
29 
 
IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades 
pecuniárias na obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental; 
(VETADO); 
V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou 
restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou 
condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em 
estabelecimentos oficiais de crédito; 
VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de 
controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante 
audiência dos Ministérios competentes; 
VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à 
manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos 
ambientais, principalmente os hídricos. 
 
 
 
ÓRGÃO CENTRAL 
 
É o Ministério do Meio Ambiente que constitui este órgão que é o 
responsável pelo planejamento, coordenação, supervisão e o controle da Política 
Nacional e suas diretrizes governamentais fixadas para o ambiente. 
 
 
 
ÓRGÃO EXECUTOR 
 
O IBAMA é a entidade autárquica federal vinculada ao Ministério do 
Meio Ambiente que tem por finalidade executar a política de preservação, conservação 
e uso sustentável dos recursos naturais. O IBAMA suporta a Secretaria Executiva do 
CONAMA e é o principal responsável pelo cumprimento das suas deliberações. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
30 
 
 
ÓRGÃOS SECCIONAIS 
 
São os órgãos ou entidades estaduais, constituídos na forma da lei e 
por ela incumbidos de preservar o meio ambiente, assegurar e melhorar a qualidade 
ambiental, controlar e fiscalizar ações potencial ou efetivamente lesivas aos recursos 
naturais e à qualidade do meio. 
 
 
 
ÓRGÃOS LOCAIS 
 
São os órgãos ou entidades municipais incumbidos legalmentede 
exercer a gestão ambiental no respectivo território da sua competência, na forma da lei. 
Conforme informa Milaré (2000, p.274): “Poucos são os municípios brasileiros 
equipados para tais funções e atribuições, mas é desejável que essa capacitação 
institucional aumente e se propague19”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19
 A ANAMA - Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente - vem atuando crescentemente neste 
sentido, principalmente após a edição da Resolução Conama 237/97 e da Lei 9.605/98, que abriram novos 
espaços para inserção do Município na gestão do ambiente. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
31 
7. DA RESPONSABILIZAÇÃO PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL 
INTRODUÇÃO 
Estas responsabilidades têm sua fundamentação legal no art. 225, § 3º, da 
CF/88, que preceitua: “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio 
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e 
administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano”. 
Sendo assim as atividades lesivas ao ambiente têm uma repercussão 
jurídica tripla, já que o agressor (pessoa física ou jurídica), por um mesmo ato, pode ser 
responsabilizado, alternativamente ou cumulativamente, nas esferas penal, 
administrativa e civil. 
 
 
 
7.1. DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
Definições 
 
 
Segundo Machado (2006): 
“A responsabilidade no campo civil é concretizada em cumprimento da 
obrigação de fazer ou de não fazer e no pagamento de condenação em 
dinheiro. Em geral, essa responsabilidade manifesta-se na 
aplicação desse dinheiro em atividade ou obra de prevenção ou de 
reparação do prejuízo.” (p.331). 
Dano ambiental, conforme Milaré (2000, p.334): “... é a lesão aos 
recursos ambientais20, com conseqüente degradação - alteração adversa ou in pejus - 
do equilíbrio ecológico”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20
 São recursos ambientais: “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar 
territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna, e a flora”. (Lei nº 6.938/81, art. 3º, V) 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
32 
 
 
Responsabilidade Objetiva 
 
Conforme previsto no art. 4º, VII, da Lei nº 6.938/81, mesmo antes da 
promulgação da CF/88, o poluidor já tinha a obrigação de recuperar ou indenizar os 
danos causados. Ademais, esta responsabilização será independentemente da 
existência de culpa (latu sensu)21 e não afastando a sua responsabilização 
administrativa e penal (art. 225, § 3º, da CF/88 e § 1º, do art. 14, da Lei nº 6.938/81). 
 Para a reparação dos danos ambientais, o Brasil adota a teoria da 
responsabilidade objetiva, na modalidade do risco integral22. Nesta modalidade de 
responsabilização não se aprecia a subjetividade da conduta do poluidor. Basta a 
existência do resultado prejudicial ao homem e seu ambiente mais a relação de 
causalidade para que se possa responsabilizá-lo. No ato poluidor está a noção de que 
este está se apropriando do direito de outrem. Ou seja, o dano ambiental representa um 
confisco do direito do terceiro em respirar ar puro, beber água saudável e viver com 
tranqüilidade. Assim, não basta somente indenizar ou fazer cessar a causa do mal, pois 
não há dinheiro que substitui o sono recuperador, a saúde dos brônquios ou a boa 
formação do feto. 
Na responsabilização objetiva quem causou o dano ao ambiente tem o 
dever jurídico de repará-lo. Fica bem caracterizado o binômio dano/reparação. Neste 
caso não se pergunta a razão da degradação para que haja a reparação. Caberá ao 
acusado provar que a degradação era necessária, natural ou impossível de ser evitado. 
 
 
 
Relação de Causalidade 
 
No direito ambiental, além da prova da existência do dano faz-se 
necessário estabelecer a ligação entre a ocorrência e a fonte poluidora. Assim, no caso 
de somente uma fonte é fácil enfrentar a questão. Contudo, quando um dano ecológico 
 
21
 A culpa consiste na reprovabilidade da conduta ilícita de quem tem capacidade genérica de entender e querer e 
podia, nas circunstâncias em que o fato ocorreu, conhecer a sua ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento que se 
ajuste ao direito (FRAGOSO, 1995, p.196). 
22
 Existem outras espécies de teorias que orientam a responsabilização civil na reparação do dano ambiental, 
quais sejam: a Teoria do Risco Proveito e a Teoria do Risco Criado. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
33 
 
envolve uma pluralidade de autores, o estabelecimento do vínculo causal se torna algo 
mais difícil, mas não impossível de ser resolvido. 
Segundo Machado (2006), num distrito industrial ou num 
conglomerado de indústrias é difícil de indicar qual é ou são os estabelecimentos que são 
responsáveis por um determinado dano. Porém, conforme ensinamentos deste autor, 
a vítima não precisará processar conjuntamente todos os poluidores. Ele poderá escolher a 
empresa que mais lhe convier. 
 
 
 
Dano Residual, Licença e Co-responsabilidade 
 
Diante de uma situação em que um empreendimento opera dentro dos 
limites estabelecidos pelo órgão ambiental mas acabe causando prejuízo à 
coletividade, é possível a indenização por estes danos? Quem deve reparar? 
É sabido que a intervenção estatal no domínio ambiental visa 
preservar a saúde pública e ordenar as atividades econômicas que possam causar 
algum dando ao ambiente. Frise-se que o Poder Público ao baixar normas e estabelecer 
padrões de qualidade também é sujeito destes dispositivos, pois as atividades estatais 
muitas vezes também operam em setores da iniciativa privada - não obstante a onda de 
privatizações. 
Ademais, os parâmetros ambientais são valores indicadores da 
fronteira o qual não deve ser ultrapassado. Contudo, isto não exonera o empreendedor de 
verificar por si mesmo se sua atividade está ou não sendo prejudicial ao homem e ao 
ambiente. Além disso, estes parâmetros estão sujeitos às variações do imperativo 
tecnológico e econômico. Ou seja, norteados pela melhor tecnologia existente e 
economicamente aceitável. Assim corre-se o risco destes valores serem insuficientes à 
proteção do ambiente de forma efetiva podendo causar lhe danos. 
Diante desta realidade resta concluir que, na hipótese acima levantada, 
o Poder Público deve responder solidariamente com o particular para reparar o dano 
causado. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
34 
 
Em outra hipótese levantada é o caso da ação - permitindo o exercício da 
atividade poluente, em desacordo com a legislação em vigor - ou a omissão 
(negligência do policiamento das atividades poluentes). Neste caso Machado (2006), 
citando outros autores, entende que é plenamente cabível a responsabilização Estatal nos 
danos causados pela sua ação ou omissão. 
 
 
 
7.2. DA RESPONSABILIDADE PENAL 
 
O ambiente ecologicamente equilibrado é um dos direitos 
fundamentais da pessoa humana, justificando-se assim o sancionamento penal das 
agressões contra ele perpetradas. Como já visto acima, tal orientação constitucional 
tem fundamento no art. 225, §3º. 
Na esfera civil, o sancionamento das condutas anti-ambientais era 
prevista na Lei nº 6.938/81. Contudo, na esfera penal e administrativa foi somente com a Lei 
nº 9.605/98 que se teve um tratamento adequado para da responsabilização penal e 
administrativa das condutas e atividades lesivas ao ambiente. Como diz Milaré (2000, 
p.346): “Fechou-se, então, o cerco contra o poluidor”. 
 
 
 
Bem Jurídico Protegido 
 
Como já visto acima, a Assembléia Nacional Constituinte já 
recomendou a proteção penal do ambiente na CF/88. Isto por si elimina qualquer 
discussão quanto à pertinência de sua seleção para a categoria de bem jurídico 
autônomo. Ademais, o Direito Penal é a última instância na proteção dos bens 
individuais. 
Nos crimes ambientaiso bem jurídico precipuamente protegido é o 
ambiente (natural, artificial, cultural e do trabalho) que garantirá a vida saudável do 
homem. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
35 
 
 
Tipicidade23 
 
Como já conceituado, o ambiente tem característica una e complexa. 
Desta forma inevitavelmente dificulta sobremaneira o delineamento dos tipos24 
penais25 destinados a tutelá-lo. 
Dentro desta estrutura a indeterminação da conduta incriminadora faz 
com que não se apareça por completo a norma que o agente transgride com o seu 
comportamento. 
Diante desta realidade nota-se que na maioria das infrações penais 
ambientais o fato é ilícito porque o agente atuou sem autorização legal, sem licença ou 
em desacordo com as determinações legais. O agente é punido porque não obteve a 
autorização ou licença para tal, ou ainda, mesmo quando devidamente habilitado com 
autorização ou licença, não observou as condicionantes e/ou determinações legais ou 
regulamentares. 
Como exemplo: caçar animais silvestres tanto pode ser ilícito penal 
como fato atípico. Isto porque a caça tanto pode ser proibida como permitida. Nesta 
última hipótese dependente de autorização. O agente será processado não por ter 
praticado o fato, mas sim porque não tinha em mãos a necessária autorização. 
Quanto à formulação legislativa destes dispositivos penais, o 
elaborador das normas não pode se esquecer da perspectiva eminentemente preventiva do 
direito ambiental. Isto decorre do fato que os prejuízos ambientais serem de difícil 
mensuração e reparação. 
Nesta linha o legislador de 1998 procurou delinear também as 
infrações penais chamadas de tipos de perigo, especialmente os de perigo abstrato26, 
para os quais é suficiente a mera probabilidade de dano. Cita-se como exemplo o caso 
 
 
 
 
23
 “Diz-se que há tipicidade quando o fato se ajusta ao tipo, ou seja, quando corresponde às características 
objetivas e subjetivas do modelo legal, abstratamente formulado pelo legislador”. (FRAGOSO, 1995, p. 155) 
24
 
Tipo: descrição da conduta humana feita pela lei e correspondente ao crime. 
25
 Tipo penal é a norma incriminadora. 
26
 Conforme Milaré (2000, p.352): “Os crimes de perigo podem ser: crimes de perigo concreto e crimes de 
perigo abstrato. “Nos crimes de perigo concreto, a existência do perigo deve ser averiguada caso a caso, 
enquanto nos crimes de perigo abstrato, prescinde-se dessa verificação, pois o mesmo é deduzido dos próprios 
termos em que a conduta é definida” (Ivette Senise Ferreira, Tutela penal do patrimônio cultural, cit., p.98) 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
36 
 
de crime de poluição previsto no art. 54: “Causar poluição de qualquer natureza em 
níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana ...”. 
 
 
 
Elemento Subjetivo 
 
Num crime a regra é a punibilidade a título de dolo e a exceção é a 
punibilidade a título de culpa (strictu sensu)27. 
O art. 18, do Código Penal, inciso I, define que o crime doloso ocorre 
quando o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. Já o crime culposo é 
conceituado pela doutrina moderna como: “a conduta voluntária (ação ou omissão) que 
produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, 
que poderia, com a devida atenção, ser evitado”. 
Até a chegada da Lei nº 9.605, basicamente puniam-se somente os 
crimes dolosos. Conforme informa Milaré (2000), apenas as Leis nº 7.802/89 
(Agrotóxicos) e a nº 8.974/95 (Biossegurança) previam algumas modalidade de crimes 
culposos. Desta forma, muitos casos graves, na forma culposa, deixavam de ser 
punidos pela atipicidade. Ex: embarcações mal conservadas onde ocorriam 
derramamentos de óleo no mar. Neste caso era difícil de provar a intenção do armador em 
deteriorar o ambiente marinho. 
Assim, os legisladores da Lei nº 9.605/98 fizeram bem em descrever 
vários tipos penais na modalidade culposa28, cassando em boa medida a impunidade que 
até então era regra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
27
 Modalidades da culpa: imprudência, imperícia e negligência. Imprudência: é o comportamento positivo, sendo a 
forma ativa de culpa. É o agir sem as cautelas necessárias onde faltam os poderes inibitórios. Ex: dirigir em 
excesso de velocidade e atravessar o sinal vermelho; Imperícia: consiste na incapacidade, na falta de 
conhecimento ou de habilitação para o exercício de determinado mister. Pode provir da falta de prática ou da 
ausência de conhecimentos técnicos de arte, ofício ou profissão. Ex: uma parteira que realiza parto e causa dano; 
Negligência: é o comportamento menos caracterizado pela inação, pela inércia, pela passividade. O agente não usa os 
poderes de atividade. Ex: dirigir veículo com freios danificados ou pneus carecas. 
28
 Exs: arts. 38, 40, 41, 49, 54 ,56, 62, 67 e 68. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
37 
 
 
Sujeito Ativo 
 
O sujeito ativo nos crimes ambientais pode ser qualquer pessoa física 
ou jurídica. 
 
 
 
Responsabilidade penal individual 
 
No sistema brasileiro, até pouco tempo, sustentava-se que somente o 
ser humano, pessoa física, era capaz de ser sujeito ativo de um crime. Pois a 
imputabilidade estava definida como o conjunto de condições pessoais que dão ao 
agente capacidade para lhe ser juridicamente atribuir a responsabilidade pela prática de 
um fato punível. Nisto se sustentava a resistência em admitir a responsabilidade da 
pessoa jurídica. 
 
 
 
Responsabilidade penal da pessoa jurídica 
 
Seguindo a tendência do Direito Penal moderno e a previsão 
constitucional do art. 225, § 3º, da CF/88, os legisladores colocaram a pessoa jurídica 
como sujeito ativo na relação processual penal, dispondo no art. 3º, da Lei nº 9.605/98, 
que: 
“as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e 
penalmente conforme o disposto nesta lei, nos casos em que a infração 
penal seja cometida por decisão do seu representante legal ou 
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua 
entidade”. 
Como está descrito no parágrafo único do artigo acima referido, esta 
imputação não exclui a responsabilidade das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou 
partícipes do mesmo fato, na medida em que a empresa, por si mesma não comete 
crimes. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
38 
 
Ao omisso (diretor, administrador, membro do conselho e de órgão 
técnico, auditor, regente, preposto ou mandatário de pessoa jurídica) também lhe é 
atribuída a responsabilidade penal, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de 
impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. 
 
 
 
Condicionantes para a responsabilização 
 
Conforme o art. 3º, da Lei nº 9.605/98, a responsabilidade penal da 
pessoa jurídica fica condicionada: (i) a que a infração tenha sido cometida em seu 
interesse ou benefício, (ii) por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de 
seu colegiado. 
Assim, na análise de um delito cometido por uma pessoa jurídica, 
dever-se-á levar em consideração se o crime foi cometido em benefício ou visando 
satisfazer os interesses da pessoa jurídica. Numa segunda fase, analisar o elemento 
subjetivo, dolo ou culpa, quando da execução ou da determinação do ato gerador do 
delito, transferindo num ato de ficção a vontade do dirigente à pessoa jurídica. 
 
 
 
Abrangência da responsabilidade 
 
A responsabilização quanto às pessoas jurídicas de direito privado é 
pacífica. 
Na doutrina pátria a abrangência da responsabilização das pessoas 
jurídicas de direito público é controversa. 
Contudo, ambas as partes convergem num entendimento quanto à 
responsabilização do agente público que tenha concorrido para o ato lesivo ao 
ambiente, impondo-se: 
- a identificação e a responsabilização dos agentes públicos e pessoas 
físicas que o cometeram.Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
39 
 
- Busque-se simultaneamente a reparação do dano na esfera cível, pela 
pessoa jurídica de direito público, com base no art. 37, § 6º, da CF/88, 
e a recomposição do patrimônio público com ajuizamento de ação 
regressiva em face dos agentes públicos responsáveis pelo ato lesivo 
ao ambiente. 
 
 
 
Desconsideração da personalidade jurídica 
 
O art. 4º, da Lei nº 9.605/98, prevê a desconsideração da pessoa 
jurídica sempre que sua personalidade seja empecilho ao ressarcimento de prejuízos 
causados ao ambiente. Assim o patrimônio das pessoas físicas com intenções 
fraudulentas que se escondem atrás das pessoas jurídicas poderão ser atingidas pela sua 
desconsideração. 
 
 
 
Sujeito Passivo 
 
Segundo Milaré (2000, p.359) citando Mirabete, sujeito passivo de um 
crime “é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado pela conduta criminosa”. Isto não 
impede que existam mais de um sujeito passivo em um crime. 
Nos delitos ambientais o sujeito passivo direto sempre será a 
coletividade. A própria Carta Magna previu que o ambiente equilibrado é bem de uso 
comum do povo. Contudo, indiretamente o delito pode atingir um objeto material 
público ou particular. Um exemplo é o caso de incêndio provocado intencionalmente 
por terceiro em mata ou floresta pertencente ao patrimônio público ou particular, 
dando causa a um dano ambiental. Neste caso existirá um crime previsto no art. 41, da 
Lei nº 9.605/98 e um crime de dano contra o patrimônio particular, previsto no art. 
163, IV, do Código Penal. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
40 
 
 
7.3. DA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA 
 
Foi com base na competência constitucional (art. 24, incisos VI , VII e § 
1º, da CF/88) que a Lei nº 9.605/98, em seu capítulo VI, prescreveu norma geral sobre 
as infrações administrativas. Conforme previsão do §2º do art. 24, da CF/88, ela pode ser 
suplementada pelos Estados e Municípios. O uso do poder suplementar somente 
pode ser realizado em modificações que não alterem a finalidade da norma geral 
federal. Destaque-se neste ponto que quanto ao Direito Penal não há 
possibilidade de suplementação por parte dos outros entes, pois a competência é 
privativa da União (art. 22, I, da CF/88). 
Conforme o art. 70, da Lei nº 9.605/98: “... infração administrativa 
ambiental é toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas do uso, gozo, 
promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”. As regras jurídicas devem estar 
expressas em algum texto, devidamente publicado. 
As infrações administrativas são apuradas em processo administrativo 
próprio, tendo em vista as disposições da Lei nº 9.605/98 e da Lei nº 9.784/99, e 
garantido o critério de ampla defesa e contraditório. Ou seja, o infrator terá o direito a sua 
defesa prévia, direito de interpor recurso administrativo, a defesa técnica 
(acompanhamento por advogado), direito de informação geral sobre o processo e 
direito de requerer a produção de provas. 
A Lei nº 9.605/98 estabeleceu prazos para apuração da infração 
ambiental: 
- 20 (vinte) dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra 
auto de infração; 
- 30 (trinta) dias para a autoridade julgar o auto de infração; 
- 20 (vinte) dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à 
instância superior; e, 
- 5 (cinco) dias para o pagamento da multa. 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
41 
 
 
8. LICENCIAMENTO AMBIENTAL 
A palavra licença e autorização são adotadas pelo direito brasileiro 
sem levar em consideração um rigor técnico. 
A CF/88, em seu artigo 170, § único, prevê que o exercício de 
qualquer atividade econômica é livre, independentemente de autorização, salvo os 
casos previstos em lei. Assim pode-se concluir que o sistema de licenciamento passa a ser 
feito pelo sistema de autorizações. 
Diante dessa consideração, a expressão “licenciamento ambiental” 
será adotada como equivalente a “autorização ambiental”. 
 Frise-se que o instituto do licenciamento tem a sua origem no direito 
administrativo, onde um dos seus traços marcantes é o seu caráter definitivo. 
Analisando-se o art. 9º da Lei nº 6.938/81, que prevê os instrumentos da Política 
Nacional do Meio Ambiente, observa-se que o inciso IV preceitua que: “o 
licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras”. Ou seja, 
o “licenciamento” é passível de revisão, caracterizando dessa forma o instituto da 
autorização. 
 
 
 
CONCEITUAÇÃO 
 
Conforme a definição legal do art. 1º, inciso I, da Resolução 
CONAMA nº 237/97: 
“Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o 
órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, 
ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras 
de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente 
poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar 
degradação ambiental, considerando as disposições legais e 
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.” 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
42 
 
 
CLASSIFICAÇÃO DO LICENCIAMENTO 
 
Conforme instrução do art. 8º, da Lei nº 6.938/81: “Incluir-se-ão entre 
as competências do CONAMA: I - estabelecer, mediante proposta ao IBAMA, normas 
e critérios para o licenciamento de atividades de efetiva ou potencialmente poluidoras, 
a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA”. Assim, ficou 
determinado que as normas e critérios gerais para o licenciamento seriam estabelecidas 
pelo CONAMA - órgão colegiado federal no qual estão representados os estados. 
Desta forma a lei pretende evitar que os Estados permitam a instalação de 
empreendimentos com padrões mais permissivos que um teto máximo fixado em nível 
federal. 
O entendimento da expressão “licenciamento ... supervisionado pelo 
IBAMA”, segundo Machado (2006, p.277) é que: 
“... merece ser entendida como um tipo de fiscalização, em que órgão 
federal ambiental poderá comunicar aos Estados ou ao Ministério 
Público a ocorrência de desvios no cumprimento das diretrizes e 
critérios sobre o licenciamento, mas o termo supervisão não deve ser 
entendido como grau de revisão por parte dele, pois a autonomia 
constitucional dos Estados não lhe permitiria essa atuação”. 
A classificação das licenças foi expressamente previstas no Decreto 
Federal nº 99.274/90, no seu artigo 19; e, na Resolução CONAMA 237/97, art. 8º. 
Sendo assim, estes dispositivos legais prevêem que serão expedidas as seguintes 
licenças: 
I - Licença prévia (LP), na fase preliminar do planejamento da 
atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de 
localização, instalação e operação, observados os planos municipais, 
estaduais ou federais de uso do solo; 
II - Licença de instalação (LI), autorizando o início da implantação, 
de acordo com as especificações constantes do projeto executivo 
aprovado; 
III - Licença de operação (LO), autorizando, após as verificações 
necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus 
Direito e Legislação Ambiental 
 
 
 
43 
 
equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas 
Licenças Prévias e de Instalação. 
Como em outras situações da competência ambiental, aqui também 
foram estabelecidas normas gerais que deverão ser seguidas pelos estados e 
municípios. Outrossim, estes entes poderão prever nas suas legislações outras 
modalidades e adicionar outras exigências para a concessão da licença. 
Destaque-se que na Resolução CONAMA 237/97, ao tratar dos três 
tipos de licença, estabeleceu que a “Licença Prévia (LP) concedida na fase preliminar 
do planejamento do empreendimento ou atividade, aprovando sua localização e 
concepção, atestando

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