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DIREITO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL SUMÁRIO INTRODUÇÃO - NOÇÕES BÁSICAS DO DIREITO ... .............................................. 1 1. MEIO AMBIENTE - CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO ... ..................................... 4 2. DIREITO DIFUSO E COLETIVO ... ......................................................................... 7 3. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL ........................................................ ... 10 3.1. PRINCÍPIO DO DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL ... ............ ... 10 3.2. PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE OS INTERESSES PRIVADOS... ......................................................... .. 11 3.3. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE ... ....................................... .. 11 3.4. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO ESTATAL OBRIGATÓRIA NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE ... .................................................. ... 12 3.5. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE . 13 3.6. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO... ............ ... 13 3.7. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO (PRUDÊNCIA OU CAUTELA) ... ..... . 14 3.8. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO... .......................................................... 15 3.9. PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR... .......................................... 15 3.10. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL... ....................... 15 4. HISTÓRICO DA POLÍTICA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 17 5. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE: OBJETIVOS, PRINCÍ- PIOS E INSTRUMENTOS... ................................................................................... 22 5.1. OBJETIVOS... .......................................................................................... 23 5.2. PRINCÍPIOS ... ......................................................................................... 25 5.3. INSTRUMENTOS ... ............................................................................... 26 Direito e Legislação Ambiental 6. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - SISNAMA... ......................... 27 7. DA RESPONSABILIZAÇÃO PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL ... ............ 31 7.1. DA RESPONSABILIDADE CIVIL... ................................................... 31 7.2. DA RESPONSABILIDADE PENAL... .................................................... 34 7.3. DA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA ... ............................. 40 8. LICENCIAMENTO AMBIENTAL ... ..................................................................... 41 9. LEI DE CRIMES AMBIENTAIS - LEI Nº 9.605/98... ........................................... 50 9.1. ESTRUTURAÇÃO DA LEI... .............................................................. 50 9.2. COMENTÁRIOS SOBRE A LEI Nº 9.605/98... ...................................... 51 10. PERÍCIA AMBIENTAL... .................................................................................... 60 11. RELAÇÃO DE ALGUNS DISPOSITIVOS LEGAIS EM NÍVEL FEDERAL E ESTADUAL (PARANÁ) COM ÊNFASE EM QUÍMICA AMBIENTAL... ........ .. 72 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA... ........................................................................... 82 Direito e Legislação Ambiental INTRODUÇÃO NOÇÕES BÁSICAS DO DIREITO 1 - Princípio da Legalidade - artigo 5º, da Constituição Federal de 1988 (CF), inciso II. “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa em virtude de lei”. 2 - Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 - Lei de Introdução ao Código Civil - LICC “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. 3 - Artigo nº 225, da CF/88: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Todos - a CF/88 indica a titularidade do bem ambiental, demonstrando a sua posição democrática prevista no caput e parágrafo único do art. 1º1. Trata-se de um direito que não pode ser objeto de apropriação. Fica assim consagrado o princípio da universalidade que acolhe não só os brasileiros como também os estrangeiros aqui residentes e as futuras gerações. Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado - a Constituição prevê um ambiente qualificado. Ou seja, não é meramente um ambiente qualquer. Ele tem que ser ecologicamente equilibrado. Além disso, fica implícito que não basta tão somente um ambiente equilibrado, mas aquele que não o seja deve ser conduzido para que atinja este estado de equilíbrio. 1 CF/88 - Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento: [ ... ] § único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Direito e Legislação Ambiental 2 Bem de uso comum do povo - Aqui fica expressamente consolidado o caráter “difuso” do bem ambiental. Encerra-se o conflito existente entre a classificação deste bem como particular ou público. Essencial à sadia qualidade de vida - Conforme D‟lsep (2004), esta expressão deve ser entendida como vida saudável. Levando assim o entendimento que o ambiente ecologicamente equilibrado seria “... aquela hábil a proporcionar ao homem condições necessárias para a melhoria contínua da sua qualidade de vida” (D‟LSEP, 2004, p.66). Além disso, na vida saudável está embutida a dignidade humana traduzida na sua incolumidade2 físico-psíquico-social-econômico. Poder Público e a coletividade - O ônus criado por força deste artigo atinge o Poder Público e a coletividade. Isto corrobora3 a afirmativa de que o bem ambiental não é público e nem privado, e sim de interesse público (difuso), desta forma ambos podendo ser responsabilizados pela ausência de sua tutela. Alguns exemplos de instrumentos passíveis de uso: Pelo Poder Público - Estudo de Impacto Ambiental, vigilância, desapropriação, educação ambiental (Lei nº 9.795/99 - Institui a Política Nacional de Educação Ambiental), entre outros. Pela Coletividade - Ação Civil Pública, mandado de segurança coletivo, mandado de injunção, ação popular, entre outros. Dever de defender e preservar o meio ambiente - Conforme orientação dos tratados internacionais, o princípio da prevenção deve ser observado na proteção ambiental. Uma vez que a mensuração e a reparação do dano na esfera ambiental é muito difícil, a prevenção é o melhor “remédio” para se evitar estes malefícios. Contudo, uma vez ocorrendo a agressão, cabe ao infrator a rápida reparação do dano ao status quo ante ao dano. 2 Livre de perigo; são e salvo; intato; ileso. 3 Reforça Direito e Legislação Ambiental 3 Presentes e futuras gerações - Esta expressão enfatiza a responsabilidade em sede de preservação e amplia a noção da palavra todos. Traz o conceito de direito transgeracional. O direito atinge não somente os que estão vivos e o nascituros, mas aquele que ainda estão por vir. 4 - Artigo 14, da Lei nº 8.078/1990 - Código de Defesa do Consumidor (CDC) “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência da culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.” Direito e Legislação Ambiental 4 1. MEIO AMBIENTE - CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO CONCEITO O art. 3º, inciso I, da Lei nº 6938/81, define meio ambiente como: “É o conjunto de condições, leis influências e interações de ordem física, químicae biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Já na esfera doutrinária, José Afonso da Silva citado por D‟lsep (2004, p.60), diz que o meio ambiente é: “ ... a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”. Como pode-se depreender, tanto pela legislação como pela doutrina, o conceito de meio ambiente tem o sentido de conjunto. CLASSIFICAÇÃO No ambiente jurídico, apesar da característica una e complexa - do conceito de ambiente - que inevitavelmente fragmenta a sua normatização, a doutrina achou por bem classificar o meio ambiente para o seu melhor entendimento. Assim tem- se que o meio ambiente pode ser natural, artificial, cultural e do trabalho. 1. Meio Ambiente Natural ou Físico É constituído pelos recursos naturais tais como a água, o solo, o ar atmosférico, a fauna, a flora e suas interações existentes. A sua proteção legal está prevista no caput do art. 225, da CF e incisos I e VII do § 1º4. 4 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. [ ... ] § 1º para assegurar a efetividade deste direito incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e promover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas. [ ... ] VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam animais a crueldade. Direito e Legislação Ambiental 5 2. Meio Ambiente Artificial Não foi somente a natureza que teve a sua proteção prevista. A noção ampla de qualidade de vida faz com que o meio urbano e rural (habitável) tenha reconhecida a sua tutela. São abrangidas por este conceito as edificações (espaço urbano fechado) e os equipamentos públicos (ruas, praças, espaços livres em geral, áreas verdes; espaço urbano aberto). A previsão constitucional está implícita no art. 225, e, explicitamente nos arts. 1825, 21, XX6, 5º XXIII7 e no atual Estatuto da Cidade - Lei nº 10.257/20018. 3. Meio Ambiente Cultural D‟lsep (2004) citando José Afonso da Silva afirma que o patrimônio cultural é constituído pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que embora artificial, normalmente tido como criação do homem, difere do meio ambiente artificial (este também considerado como cultural) pelo valor que adquiriu ou que se impregnou. Como se vê, são os traços característicos da identidade de um povo que vem se desenvolvendo durante o tempo, abrangendo valores materiais (edifícios, obras de arte) e imateriais (conhecimentos técnicos). Além da proteção implicitamente definida no art. 225 da CF/88, no que diz respeito à vida, explicitamente os arts. 2159 e 21610 não deixam dúvidas sobre a tutela do meio ambiente cultural. 5 Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. 6 Art. 21. Compete à União: [ ... ] XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos. 7 Art. 5 º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantido-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [ ... ] XXIII - a propriedade atenderá a sua função social. 8 Art. 2º. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes: I - garantia do direito às cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; [ ... ]” 9 Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. Direito e Legislação Ambiental 6 4. Meio Ambiente do Trabalho Esta classificação é adotada por Fiorillo (2004) e D‟lsep (2004). Não obstante incluso no meio ambiente artificial, o meio ambiente do trabalho merece destaque porque é dentro desse universo que o trabalhador passa a maior parte do seu tempo exercendo as suas atividades. A referência não diz respeito à relação obrigacional regulada pelo direito do trabalho. E segundo José Afonso da Silva citado por D‟lsep, este ambiente é formado por: “... um complexo de bens imóveis e móveis de uma empresa e de uma sociedade, objeto de direitos subjetivos privados, e de direitos invioláveis da saúde e da integridade física dos trabalhadores, que o freqüentam” (D‟LSEP, 2004, p.63). Como pode-se notar, tanto a doutrina como a legislação conceitua o “meio ambiente” de forma abrange tentando abarcar todas as interações ligadas à vida e sua sadia qualidade. § 1º. O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. 10 Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira nas quais incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitarem. § 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. § 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. Direito e Legislação Ambiental 7 2. DIREITO DIFUSO E COLETIVO INTRODUÇÃO Historicamente, desde a época da Roma antiga (por volta de 450 anos a.C.), o direito positivo sempre foi observado pela ótica dos conflitos individuais. Passado os tempos, esta visão foi mais acentuada no século XIX, por conta da Revolução Francesa. Após a segunda grande guerra mundial, a visão dos embates passou a ultrapassar o limite dos interesses individuais para atingir o campo da coletividade. Com a evolução da sociedade, o binômio privado-público (dentro do mundo jurídico) não mais satisfazia as necessidades das relações humanas. A partir daí surgiu o que conhecemos hoje como direitos coletivos - lato sensu, onde se encontram o direito difuso, o direito coletivostrictu sensu e o direito individual homogêneo. DIREITO DIFUSO O conceito legal desse direito está previsto expressamente no parágrafo único, inciso I, art. 81, da Lei nº 8.078/90 - CDC, que define: “Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos para efeito deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”. Observe-se as características do direito difuso: transindividualidade, indivisibilidade, com titularidade indeterminada e interligada por circunstâncias de fato. A transidividualidade está relacionada à questão de que o direito em questão não se concentra no indivíduo e sim ultrapassa a limite da pessoa atingindo a coletividade. Direito e Legislação Ambiental 8 O objeto do direito difuso não é passível de divisão. Ou seja, indivisível. Nas palavras de Fiorillo (2004, p. 6): “Trata-se de um objeto que, ao mesmo tempo, a todos pertence, mas ninguém em específico o possui”. Um exemplo bem elucidativo é o ar atmosférico. Tomando-se o exemplo acima, tem-se que as vítimas (titulares) do ar atmosférico poluído dificilmente poderiam ser individualizados. Talvez seria possível fazer uma delimitação do espaço físico onde se pudesse dizer que as pessoas abrangidas naquela área foram afetadas, mas isto não seria algo viável e preciso. Nota- se que um mesmo fato atinge um número indeterminado de pessoas simultaneamente. DIREITO COLETIVO STRICTU SENSU É no parágrafo único, inciso II, do art. 81, da Lei nº 8.078/90, que está definida o conceito do direito coletivo: “Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: [ ... ] II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transidividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base”. A transindividualidade e indivisibilidade do objeto são características em comum com o direito difuso. Contudo, a determinabilidade dos titulares é o traço característico diferenciador do direito coletivo. Neste caso, os titulares são aquelas pessoas fazem parte de um grupo categoria ou classe de pessoas. Além disso, existe uma relação jurídica entre as partes envolvidas. Direito e Legislação Ambiental 9 DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS A definição legal deste direito está prevista no inciso III, do parágrafo único, do art. 81, da Lei nº 8.078/90: “Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: [ ... ] III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum”. Como pode-se notar, o legislador não descreveu elementos definidores dos direitos individuais homogêneos. Somente coloca que são direitos individuais decorrentes de origem comum. Direito e Legislação Ambiental 10 3. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS Em termos jurídicos, os princípios são idéias centrais de um sistema que servem para dar um sentido lógico, harmônico, racional e coerente a um todo. Por conseqüência deste conceito é que se costuma dizer que “conhecer os princípios do Direito é condição essencial para aplicá-lo corretamente” (MIRRA, 1996, p. 51). Ou conforme Reale (1995), o princípio é o alicerce que dá validade às demais afirmações que formam um dado campo do saber. A finalidade prática do estudo dos princípios consiste na “visualização global do sistema para melhor aplicação concreta de suas normas” (MIRRA, 1996, p. 51), mais especificamente, formando e orientando a geração e a implementação do Direito ambiental (MACHADO, 2006). Assim, como é o caso do nosso sistema legal, em que as normas sobre os assuntos correlacionados ao meio ambiente encontram-se em leis esparsas, elaboradas sem um critério preciso e um método definido, o conhecimento dos princípios é de suma importância. Deste modo, conforme Carlos Ari Sundfeld11, citado por Mirra (1996, p.51), “... é exatamente por intermédio dos princípios que se consegue organizar mentalmente as regras existentes e, com isso, extrair soluções coerentes com o ordenamento globalmente considerado”. OS PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL 3.1. Princípio do Direito Humano Fundamental É deste princípio basilar que decorrem todos os outros princípios que norteiam o Direito Ambiental. Conforme o princípio 1 da Conferência da Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio 92 , nele está entendido que os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o 11 Carlos Ari SUNDFELD, Fundamentos de Direito público. São Paulo: Malheiros, 1992, p. 137-144. Direito e Legislação Ambiental 11 desenvolvimento sustentável. Ou seja, o ser humano tem o direito de ter uma vida saudável e produtiva e em harmonia com o ambiente. 3.2. Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre os Interesses Privados É um princípio geral do direito público, também citado como princípio da natureza pública da proteção ambiental por Milaré (2000), que preceitua que os “interesses da coletividade devem prevalecer sobre os interesses dos particulares, de índole privada” (MIRRA, 1996, p.54). Este princípio tem estreita relação com o da primazia do interesse público. Tal fato enseja que os direitos individuais, mesmo que legítimos, devem sempre sucumbir aos interesses da proteção do ambiente e, dessa forma, quando existir dúvida quanto à aplicação da norma in concreto o privilégio sempre será dos interesses da sociedade, a dizer: in dubio pro ambiente (MILARÉ, 2000). Ou seja, na dúvida decida a favor do ambiente. Além disso, atualmente, frisa-se que a própria conservação do meio ambiente é tida como condição sine qua non12 para a própria existência da vida social e mesmo “para a manutenção e o exercício pleno dos direitos individuais dos particulares” (MIRRA, 1996, p.54). 3.3. Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público na Proteção do Meio Ambiente A Carta Magna de 1988 prescreve que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é bem de uso comum do povo; assim, ela deixa claro que o meio ambiente pertence à coletividade e não é passível de disponibilidade nem pelo Estado, tanto menos pelos particulares (MIRRA, 1996; MILARÉ, 2000). A indisponibilidade é reforçada pelo comando do art. 225 da CF que impõe que o meio ambiente deve ser preservado para as gerações futuras. Ou seja, segundo Gomes (1999) e Machado (2006), a atual geração deve transferir para as futuras gerações o 12 Sine qua non: Expressão que indica uma cláusula ou condição sem a qual não se fará certa coisa. Direito e Legislação Ambiental 12 atual “patrimônio” ambiental. Ele não pertence somente a esta (nossa) geração, portanto, não devendo ser deixado à mercê dos interesses individuais tão-somente dos cidadãos agora presentes. Assim, se conclui que o ambiente é insusceptível de apropriação (MIRRA, 1996). 3.4. Princípio da Intervenção Estatal Obrigatória na Defesa do Meio Ambiente Nas palavras de Gomes (1999, p.175), “trata-se de coroláriodo princípio da indisponibilidade do interesse público na proteção do meio ambiente”. Segundo Mirra (1996), a previsão legal para este princípio está no item 17 da Declaração de Estocolmo, de 1972, e no caput do art. 225 da CF. Podem-se também encontrar referências na lei infraconstitucional (Lei nº 7.347/86, art. 5º, § 6º). Estes dispositivos: [...] consignam expressamente o dever de o Poder Público atuar na defesa do meio ambiente, tanto no âmbito administrativo, quanto no âmbito legislativo e até no âmbito jurisdicional, cabendo ao Estado adotar as políticas públicas e os programas de ação necessários para cumprir esse dever (MIRRA, 1996, p.56). Este princípio é fruto das intervenções feitas pelo Poder Público, necessárias à manutenção, conservação e restauração dos recursos ambientais, tendo em vista o uso racional do meio ambiente. A ação do Poder Público não se limita somente ao alcance do seu poder de polícia. Tendo em vista a conservação do ambiente, o Poder Público pode exercitar procedimentos de características pedagógicas, como estabelecer ajustamentos de conduta, que venham a cessar as atividades nocivas ao ambiente (MILARÉ, 2000). Apesar da compulsoriedade da intervenção estatal, a responsabilidade da conservação do ambiente não é exclusiva do Estado e sim participativa deste com a sociedade. Direito e Legislação Ambiental 13 3.5. Princípio da Participação Popular na Proteção do Meio Ambiente É no princípio nº 10 da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 que este princípio está expressamente previsto. Na esfera constitucional, especificamente no caput do art. 225 também está prevista a participação da coletividade na preservação do ambiente. Conforme Mirra (1996), os meios para esta participação podem ocorrer de três formas: - pela participação no processo de criação do Direito ambiental; - na formulação e execução de políticas ambientais; - pela participação via poder judiciário. Como demonstra Machado (2006), é de suma importância a participação popular nos processos decisórios; contudo, o binômio „informação/participação‟ é indissociável. Desta forma, neste contexto destacam-se dois pressupostos fundamentais: educação e informação (MIRRA, 1996). Ou seja, deve-se sempre ter em vista processos que primem pela educação ambiental e o acesso às informações dos fatores que afetem o ambiente. 3.6. Princípio do Desenvolvimento Sustentado Este princípio delineia a atual visão política no que tange à problemática ambiental e, na ECO 92, ele foi consagrado tendo a expressão “desenvolvimento sustentável” consolidada. Neste princípio estão materializados dois tipos de direito: o direito natural e o positivo. Ou seja, o direito do ser humano desenvolver-se e desempenhar todas as suas potencialidades, e, por outro lado, o de assegurar aos seus descendentes estas mesmas condições (MILARÉ, 2000). Neste contexto, fica clara a incumbência do ser humano atual de um direito e de um dever: o de usufruir os recursos e o dever de deixá-los em boas condições às futuras gerações (GOMES, 1999). Sob o ponto de vista de confronto de valores e interesses, a idéia básica é ter a proteção do ambiente, não somente como um aspecto isolado das Direito e Legislação Ambiental 14 políticas públicas, mas como “parte integrante do processo global de desenvolvimento dos países” (MIRRA, 1996, p. 58). A partir daí, a proteção do ambiente equiparar-se-ia ao mesmo nível de importância com os valores econômicos e sociais. Assim, é o fruto desse conceito que se busca na conciliação de diversos valores, como: [...] o exercício das atividades produtivas e do direito de propriedade; o crescimento econômico; a exploração dos recursos naturais; a garantia do pleno emprego; a preservação e a restauração dos ecossistemas e dos processos ecológicos essenciais; a utilização racional dos recursos ambientais; o controle das atividades poluidoras e a preservação da diversidade e da integridade do patrimônio genético dos países (MIRRA, 1996, p.58-59). Acrescente-se ainda que o desenvolvimento sustentável requer, nas palavras de Silva (1997, p. 8), [...] o crescimento econômico que envolva eqüitativa redistribuição dos resultados do processo produtivo e a erradicação da pobreza de forma a reduzir as disparidades nos padrões de vida e melhor atendimento da maioria da população. Deste modo, no confronto destes valores e interesses, a proteção do meio ambiente não pode ser colocada como uma questão secundária. Ou seja, mesmo sob a argumentação de se buscar satisfazer necessidades de mesma importância - no entanto, mais imediatas -, a proteção do ambiente não deve ser relegada a segundo plano. 3.7. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO (Prudência ou Cautela) A idéia de precaução teve o seu auge na Rio-Eco 92, que adotou em sua declaração de princípios o denominado princípio da precaução. Esta declaração foi ratificada pelo Congresso Nacional via Decreto Legislativo nº 01, de 03 de fevereiro de 1994. Este princípio preceitua que diante de uma incerteza científica, a prudência é o melhor caminho para se evitar danos muitas vezes irreversíveis. Sendo assim, cabe deixar claro que este princípio não pode ser aplicado de forma simplista, pois existe uma complexa relação entre progresso científico, inovação tecnológica e Direito e Legislação Ambiental 15 risco. Isto demonstra a interdisciplinariedade do Direito Ambiental com outras ciências. 3.8. Princípio da Prevenção O princípio da prevenção, embora muito próximo do princípio da precaução, aplica-se onde exista um conhecimento consolidado sobre o impacto ambiental passível de ocorrência. Mediante o conhecimento prévio do dano, é possível tomar medidas que minimizem ou anulem os riscos - caso eles existam - de sua ocorrência. Este princípio orienta tanto o Estudo de Impacto Ambiental como o licenciamento ambiental. 3.9. Princípio do Poluidor Pagador Apesar de todos os instrumentos de prevenção dos danos ambientais, é preciso reconhecer que as medidas estritamente preventivas não têm se mostrado eficazes para manter o equilíbrio ecológico. Isso tem como fonte a tolerância administrativa, as falhas da própria legislação, a negligência e a imprudência do homem no exercício de suas atividades (MIRRA, 1996). Este princípio não vem para tentar tolerar a degradação mediante pagamento - paguei, posso poluir - e nem compensar os danos causados, e sim evitar o dano ao ambiente (MILARÉ, 2000). Este princípio tem por objetivo cobrar do poluidor o custo social da poluição abrangendo não somente bens e pessoas como também toda a natureza. 3.10. Princípio da Cooperação Internacional Entende-se que as questões ambientais, principalmente aquelas relacionadas ao ambiente natural, nem sempre estão delimitadas pelas linhas divisórias Direito e Legislação Ambiental 16 criadas pelo homem entre os países. Sendo assim, a degradação de um ambiente num país pode causar conseqüências que extrapolam o seu limite territorial chegando ter dimensões transfronteiriças e global (Ex: acidente com material radioativo). É dessa característica específica do problema ambiental que surge o princípio da cooperação internacional. Entre os ideais deste princípio estão: - o dever de informação a outros Estados sobre conseqüências transfronteiriças de situação crítica de alguma atividade interna; - o dever de informação e consulta sobre projeto que possam causar conseqüências aos Estados vizinhos; - o dever de assistência e auxílio em caso de degradações importantes e catástrofes ecológicas; - o dever de impedir a transferência de empresasque exercem atividades altamente degradadoras do ambiente para outros países. Registre-se que a cooperação internacional não implica no abandono da soberania de cada Estado. Direito e Legislação Ambiental 17 4. HISTÓRICO DA POLÍTICA E DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ORIGEM DA PREOCUPAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE A degradação ambiental não é marca exclusiva de nossos dias. A existência humana13 por si já é um fato que gera degradação. Mas para não se ter apenas uma visão pessimista da destruição causada pelo homem, a idéia de conservação também advém de tempos bem remotos. O Código de Hamurabi, na Média Mesopotâmia, entre 2067 e 2025 a.C. e o Código de Manu, na Índia, entre 1300 e 800 a.C. impunham o bom uso dos elementos da natureza. Na Bíblia Sagrada também têm-se referências no Gênisis e no Deuteronômio. Gênisis14: sobre a arca de Noé e a conservação das espécies. Deuteronômio15: sobre a proibição do corte de árvores frutíferas mesmo em caso de guerra. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL Conforme Milaré (2000) citando An Helen Wainer, tem-se que a primeira formulação legislativa disciplinadora do meio ambiente são encontradas na legislação portuguesa que aqui vigorou até o advento do Código Civil de 1916. Por ocasião do descobrimento do Brasil a legislação aplicável à época foram as Ordenações Afonsinas de 1446 (D. Afonso IV). Neste código já se encontravam algumas referências que denotavam a preocupação com o ambiente. Por exemplo: tipificava o corte de árvores de frutos como crime de injúria ao rei. Em 1521, em nova compilação denominada Ordenações do Senhor Rey Dom Manoel, mais conhecida como Ordenações Manuelinas, houve avanço nas questões ambientais acrescentando-se por exemplo que era proibida a caça de certos 13 Leitura complementar: “O poema imperfeito”, de Fernando Fernandez 14 Gênisis - capítulos VI e VII Direito e Legislação Ambiental 18 animais (perdizes, lebres e coelhos) com instrumentos capazes de causar-lhes a morte com dor e sofrimento; coibia-se a comercialização de colméias sem a preservação da vida das abelhas e ainda mantinha tipificando o crime de corte de árvores de frutos, agora punindo o infrator com o degrado para o Brasil quando a árvore abatida tivesse valor superior a “trinta cruzeiros”. Em 1580, com a Espanha invadindo Portugal, o Brasil passa para o domínio Espanhol sob o reinado de Felipe II. Governando Portugal sob o nome de Felipe I, ele ordena que fosse feito outra compilação das leis lusitanas. Com sua morte em 1603 seu filho, com o mesmo nome de seu pai (Felipe I), edita a lei denominada Ordenações Filipinas que gera efeitos no seu reino e nas colônias portuguesas. Neste instrumento legal, avançado para a época, já se podia encontrar o conceito de poluição. Além disso, vedava que qualquer pessoa jogasse material que pudesse matar os peixes e sua criação ou sujar as águas de rios e lagoas. A tipificação quanto ao corte de árvores de fruto é reiterada e acrescida de uma pena de degrado, agora em definitivo, para o Brasil. Ou seja, sem volta. Esta mesma pena também era aplicada às pessoas que “por malícia” matassem animais. Além disso, as Ordenações Filipinas proibiam a pesca com determinados instrumentos e em certos locais e épocas estipuladas. Esta legislação antiga, complexa e esparsa ressentia de uma aplicação prática necessitando de uma atualização que fora recomendada pela Constituição do Império de 1824, no seu artigo nº 179, inciso nº 18. Porém, somente em 1º de janeiro de 1916 foi promulgado o Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1917, e constituiu-se no primeiro diploma legal genuinamente brasileiro com preocupação ecológica mais destacada. No Código foram introduzidas várias normas de cunho ambiental destinadas à proteção de direitos privados na composição de conflitos de vizinhança. Nas décadas seguintes à promulgação do Código Civil começaram surgir a legislação tutelar do ambiente no Brasil. Em seus conteúdos já se começavam evidenciar regras específicas atinentes a fatores ambientais como: - Decreto 16.300, de 31.12.1923 (Regulamento de Saúde Pública); 15 Deuteronômio - capítulo XX : 19 Direito e Legislação Ambiental 19 - Decreto 23.793, de 23.1.1934 (Código Florestal), depois substituído pela Lei 4.771/65; - Decreto 24.114, de 12.4.1934 (Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal); - Decreto 24.643, de 10.7.1934 (Código de Águas); - Decreto-Lei 25, de 30.11.1937 (Patrimônio Cultural: organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional); - Decreto-Lei 794, de 19.10.1938 (Código de Pesca), depois substituído pelo Decreto 221/67; - Decreto-Lei 1.985, de 29.1.1940 (Código de Minas), depois substituído pelo Decreto-Lei 227/67; - Decreto-Lei 2.848, de 7.12.1940 (Código Penal). Em 1960, por influência dos movimentos ambientalistas em evidência, outros diplomas legais foram editados, agora, com conteúdos mais específicos e diretamente dirigidos à prevenção e controle da degradação ambiental. Entre os mais importantes, destacam-se: - Lei 4.504, de 30.11.1964 (Estatuto da Terra); - Lei 4.771, de 15.9.1965 (Código Florestal); - Lei 5.197, de 3.1.1967 (Proteção à Fauna); - Decreto-Lei 221, de 28.2.1967 (Código de Pesca); - Decreto-Lei 227, de 28.2.1967 (Código de Mineração); - Decreto-Lei 248, de 28.2.1967 (Política Nacional de Saneamento Básico); - Decreto-Lei 303, de 28.2.1967 (Criação do Conselho Nacional de Controle da Poluição Ambiental); - Lei 5.318, de 29.9.1967 (Política Nacional de Saneamento), que revogou os Decretos-Leis 248/67 e 303/67; - Lei 5.357, de 17.11.1967 (Estabelece penalidades para embarcações e terminais marítimos ou fluviais que lançarem detritos ou óleo em águas brasileiras); Direito e Legislação Ambiental 20 - Decreto-Lei 1.413, de 14.8.1975 (Controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais); - Lei 6.453, de 17.10.1977 (Responsabilidade civil por danos nucleares e responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares); - Lei 6.513 de 20.12.1977 (Criação de áreas especiais e locais de interesse turístico); - Lei 6.766, de 19.12.1978 (Parcelamento do solo urbano). Apesar do grande número de dispositivos legais sobre questões ambientais, conforme Milaré (2000, p.81): “podemos afirmar, sem medo de errar, que somente a partir da década de 1980 é que a legislação sobre a matéria passou a desenvolver-se com maior consistência e celeridade16”. Até então, a legislação não era específica e integrada a uma consciência ambiental maior. Ela possuía um caráter diluído e casual que dificultava sua aplicação. O Estado, omisso às suas responsabilidades, deixava para o cidadão comum o ônus de litigar e lutar contra os efeitos produzidos pelos degradadores do ambiente, que na maioria das vezes eram constituídos por poderosos grupos econômicos, quando não o próprio Estado. Por influência da onda conscientizadora emanada da Conferência de Estocolmo/72, passou-se proliferar, em todos os níveis de poder público e da hierarquia normativa, diplomas legais mais ambiciosos, voltados à proteção do patrimônio ambiental do país, segundo uma visão global mais sistêmica. Quatro marcos são destaques desta nova conjuntura ambiental que influenciaram e influenciam a tutela do ambiente nos dias de hoje. Lei nº 6.938, de 31/8/1981 - Política Nacional do Meio Ambiente Trouxe o conceito de “meio” ambiente. Instituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) que veio propiciar o planejamento e a ação integrada dos diversos órgãos governamentais mediante uma política nacional parao setor. 16 Rapidez Direito e Legislação Ambiental 21 Previu que o poluidor tem obrigação de reparar os danos causados por sua pessoa. Institui a responsabilização objetiva (ou sem culpa) em ação movida pelo Ministério Público. Lei nº 7.347, de 24/7/1985 - Ação Civil Pública Instituiu a ação civil pública como instrumento processual específico para a defesa do ambiente e de outros direitos difusos e coletivos. Foi por meio desta lei que a agressão ambiental pôde “virar caso” de justiça. As associações civis foram instrumentalizadas para, junto com o Ministério Público, freassem as agressões ambientais. Vale destacar que Alemanha, França, Bélgica, Portugal e Espanha ainda não dispõem de um sistema de acesso coletivo à justiça como o nosso. Constituição Federal de 1988 Dedicou ao ambiente um capítulo próprio (Capítulo VI do título VIII), conforme Milaré (2000,p.82): “... um dos textos mais avançados em todo mundo”. Lei nº 9.605 de 12/2/1998 Dispôs sobre as sanções penais e administrativas aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao ambiente (Lei dos Crimes Ambientais). Sistematizou as sanções administrativas. Tipificou organicamente os crimes ecológicos. Previu a possibilidade da pessoa jurídica ser sujeito ativo de crimes ecológicos, e logo sua penalização. Direito e Legislação Ambiental 22 5. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE: PRINCÍPIOS, OBJETI- VOS E INSTRUMENTOS Em 1972, na Convenção de Estocolmo, o Brasil posicionou-se contra as recomendações daquele encontro que pregava o desenvolvimento sustentado. Nosso país, de certa forma liderando o grupo opositor, insurgia contra estes preceitos sob a alegação de que os países ricos (hemisfério norte), uma vez já tendo explorado de forma predatória os recursos naturais para acumularem riquezas, desejavam condenar os países pobres (hemisfério sul) a permanecerem sob esta condição impondo-lhes restrições quanto ao uso dos referidos bens. O lema destes países “rebeldes” era que o desenvolvimento econômico deveria ser obtido a qualquer preço. No início da década de 80, mais precisamente em 31 de agosto de 1981, a Lei nº 6.938, dispôs sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Essa lei incorporou e aperfeiçoou normas estaduais já vigentes, instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e atribuiu ao Estado maior responsabilidade na execução das normas ambientais. Dessa forma, relata-se que por força da “pressão” legal, foi constatada uma evasão de indústrias nos estados onde a implementação desta lei vinha se consolidando. Ou seja, dentro do nosso país, alguns estados não cumpridores da lei acolhiam as empresas que viam nesta legislação um custo extra no desenvolvimento de suas atividades econômicas. Diante disso nota-se a dificuldade da formulação de uma política ambiental de caráter nacional. Naquele momento, o CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, órgão superior do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente) vinha editando inúmeras normas importantes de caráter estritamente técnico para a proteção ambiental. Era o esboço do início da política ambiental. Contudo, isto não se fez suficiente para o efetivo traçado de um plano de ação governamental que envolvesse União, Estado e Municípios. Como muito bem coloca Milaré (2000, p.267) “o planejamento ambiental, isolado do planejamento econômico e social, é irreal”. Dentro da Direito e Legislação Ambiental 23 consciência do desenvolvimento sustentável é importante a consideração dos aspectos econômicos, sociais e ambientais. Este mesmo autor ainda afirma que o “... planejamento integrado de políticas públicas ainda não existia no Brasil, mercê da excessiva setorização e verticalização dos diferentes ministérios. A isto acresce a inexistência de efetivas disposições políticas por parte dos partidos políticos e dos governos em geral”. 5.2. OBJETIVOS Tendo em vista o panorama histórico (período de forte autoritarismo político-administrativo), a lei que instituiu o PNMA sofreu delimitações impostas por fatores políticos e geopolíticos predominantes da época. Nem por isto esta lei teve o seu valor reduzido para a história da política ambiental brasileira. Ela foi o marco inicial que balizou as intervenções do governo e da iniciativa privada sobre o ambiente. A partir da sua vigência e enriquecido por dispositivos legais editados posteriormente, os benefícios ambientais auferidos foram incontestáveis. Além disso, destaca-se ainda a sua influência sobre políticas públicas e na estruturação de sistemas de gestão ambiental. O objetivo geral da PNMA vem expresso no caput do art. 2º, da Lei nº 6.938/81: “... a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios ...” A preservação, melhoria e a recuperação são os fins almejados pelos procedimentos a serem tomados para a proteção do ambiente. A palavra preservação tem o sentido de perenizar, de perpetuar, de salvaguardar, deixar intacto os recursos naturais. A melhoria quer que a qualidade ambiental seja progressivamente superior aos níveis atuais. E, a recuperação visa a busca do status quo17 ante das áreas degradadas. 17 Status quo: signfifica o estado em que se achava anteriormente certa questão. Direito e Legislação Ambiental 24 Além desse escopo, o ambiente foi tomado meramente como um instrumento para se obter o desenvolvimento e não como um fim para assegurar a qualidade ambiental. Não retirando o seu mérito, a segurança nacional defluiu do panorama político do momento histórico do Brasil. Por fim a proteção da dignidade da vida humana não é um fator excludente do respeito ético à existência da vida sobre a Terra. Além dos objetivos gerais traçados no caput do art. 2º, da Lei nº 6.938/81, o art. 4º, da mesma lei, enumera objetivos específicos: I - a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - a definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III - o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV - o estabelecimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional dos recursos ambientais; V - a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, a divulgação de dados e informações ambientais e a formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; VI - a preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; VII - a imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização dos recursos ambientais com fins econômicos. 5.3. PRINCÍPIOS Direito e Legislação Ambiental 25 O art. 2º da Lei nº 6.938/81, em seus incisos I e X, elencam os princípios legais que devem reger a Política Nacional do Meio Ambiente. Pode-se notar que nem todos os princípios ali enumerados coincidem com os norteadores do direito ambiental. Antunes (2004, p. 95) muito bem esclarece os casos de conflito de princípios dizendo: “Na eventual contradiçãoentre um princípio estabelecido para uma atividade ambiental setorizada e um princípio geral do direito ambiental, deverá prevalecer o princípio que seja dotado de um conteúdo mais favorável à proteção do meio ambiente”. Mesmo não sendo genuinamente princípios do Direito Ambiental, eles descrevem uma orientação prática para ação governamental Os princípios elencados pela lei são os seguintes: - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; - proteção dos ecossistemas, com a preservação das áreas representativas; - controle e zoneamento das atividades potenciais ou efetivamente poluidoras; - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; - recuperação de áreas degradadas; - proteção de áreas ameaçadas de degradação; e - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente. Direito e Legislação Ambiental 26 5.4. INSTRUMENTOS É no art. 9º da Lei nº 6.938/81 que estão elencados os instrumentos para a PNMA, sendo eles: - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; - o zoneamento ambiental; - a avaliação de impactos ambientais; - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia voltados para a melhoria da qualidade ambiental; - criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevantes interesses ecológicos e extrativistas; - o Sistema Nacional de Informações sobre o meio ambiente; - o Cadastro Técnico Federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental; - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental; - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; - a garantia de prestação de informações relativas ao meio ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. Direito e Legislação Ambiental 27 6. SISTEMA18 NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - SISNAMA Conforme preceito do artigo 6º, da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA - é formado pelos seguintes órgãos: 1. Órgão superior: o Conselho de Governo; 2. Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA; 3. Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente; 4. Órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; 5. Órgãos seccionais: órgãos ou entidades estaduais responsáveis por programas ambientais ou pela fiscalização de atividades utilizadoras de recursos ambientais; e, 6. Órgãos locais: as entidades municipais responsáveis por programas ambientais ou responsáveis pela fiscalização de atividades utilizadoras de recursos ambientais. ÓRGÃO SUPERIOR É materializado pelo Conselho de Governo e tem por objetivo assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e das diretrizes governamentais para o ambiente e seus recursos. ÓRGÃO CONSULTIVO E DELIBERATIVO É o órgão maior do Sistema representado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Tem por finalidade assessorar, estudar e propor ao 18 Sistema: Disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam com Direito e Legislação Ambiental 28 Conselho de Governo diretrizes e políticas governamentais para o ambiente e seus recursos e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o ambiente ecologicamente equilibrado. O CONAMA é dotado de poder regulamentar em nível federal. Estas normas devem ser tidas como gerais e observadas pelos Estados e Municípios dentro das suas competências legislativas e administrativas. Conforme Antunes (2004, p. 100), “... os padrões locais e regionais não poderão ser mais permissivos que o padrão fixado em âmbito federal. Os patamares e padrões máximos de poluição tolerada são os federais”. O Ministro de Estado do Meio Ambiente que é também o Presidente do CONAMA. Competência do CONAMA Segundo o artigo 8º, da Lei nº 6.938/81, compete ao CONAMA: I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA; II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional. III - decidir, como última instância administrativa em grau de recurso, mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pelo IBAMA; estrutura organizada. Direito e Legislação Ambiental 29 IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental; (VETADO); V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes; VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos. ÓRGÃO CENTRAL É o Ministério do Meio Ambiente que constitui este órgão que é o responsável pelo planejamento, coordenação, supervisão e o controle da Política Nacional e suas diretrizes governamentais fixadas para o ambiente. ÓRGÃO EXECUTOR O IBAMA é a entidade autárquica federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente que tem por finalidade executar a política de preservação, conservação e uso sustentável dos recursos naturais. O IBAMA suporta a Secretaria Executiva do CONAMA e é o principal responsável pelo cumprimento das suas deliberações. Direito e Legislação Ambiental 30 ÓRGÃOS SECCIONAIS São os órgãos ou entidades estaduais, constituídos na forma da lei e por ela incumbidos de preservar o meio ambiente, assegurar e melhorar a qualidade ambiental, controlar e fiscalizar ações potencial ou efetivamente lesivas aos recursos naturais e à qualidade do meio. ÓRGÃOS LOCAIS São os órgãos ou entidades municipais incumbidos legalmentede exercer a gestão ambiental no respectivo território da sua competência, na forma da lei. Conforme informa Milaré (2000, p.274): “Poucos são os municípios brasileiros equipados para tais funções e atribuições, mas é desejável que essa capacitação institucional aumente e se propague19”. 19 A ANAMA - Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente - vem atuando crescentemente neste sentido, principalmente após a edição da Resolução Conama 237/97 e da Lei 9.605/98, que abriram novos espaços para inserção do Município na gestão do ambiente. Direito e Legislação Ambiental 31 7. DA RESPONSABILIZAÇÃO PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL INTRODUÇÃO Estas responsabilidades têm sua fundamentação legal no art. 225, § 3º, da CF/88, que preceitua: “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano”. Sendo assim as atividades lesivas ao ambiente têm uma repercussão jurídica tripla, já que o agressor (pessoa física ou jurídica), por um mesmo ato, pode ser responsabilizado, alternativamente ou cumulativamente, nas esferas penal, administrativa e civil. 7.1. DA RESPONSABILIDADE CIVIL Definições Segundo Machado (2006): “A responsabilidade no campo civil é concretizada em cumprimento da obrigação de fazer ou de não fazer e no pagamento de condenação em dinheiro. Em geral, essa responsabilidade manifesta-se na aplicação desse dinheiro em atividade ou obra de prevenção ou de reparação do prejuízo.” (p.331). Dano ambiental, conforme Milaré (2000, p.334): “... é a lesão aos recursos ambientais20, com conseqüente degradação - alteração adversa ou in pejus - do equilíbrio ecológico”. 20 São recursos ambientais: “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna, e a flora”. (Lei nº 6.938/81, art. 3º, V) Direito e Legislação Ambiental 32 Responsabilidade Objetiva Conforme previsto no art. 4º, VII, da Lei nº 6.938/81, mesmo antes da promulgação da CF/88, o poluidor já tinha a obrigação de recuperar ou indenizar os danos causados. Ademais, esta responsabilização será independentemente da existência de culpa (latu sensu)21 e não afastando a sua responsabilização administrativa e penal (art. 225, § 3º, da CF/88 e § 1º, do art. 14, da Lei nº 6.938/81). Para a reparação dos danos ambientais, o Brasil adota a teoria da responsabilidade objetiva, na modalidade do risco integral22. Nesta modalidade de responsabilização não se aprecia a subjetividade da conduta do poluidor. Basta a existência do resultado prejudicial ao homem e seu ambiente mais a relação de causalidade para que se possa responsabilizá-lo. No ato poluidor está a noção de que este está se apropriando do direito de outrem. Ou seja, o dano ambiental representa um confisco do direito do terceiro em respirar ar puro, beber água saudável e viver com tranqüilidade. Assim, não basta somente indenizar ou fazer cessar a causa do mal, pois não há dinheiro que substitui o sono recuperador, a saúde dos brônquios ou a boa formação do feto. Na responsabilização objetiva quem causou o dano ao ambiente tem o dever jurídico de repará-lo. Fica bem caracterizado o binômio dano/reparação. Neste caso não se pergunta a razão da degradação para que haja a reparação. Caberá ao acusado provar que a degradação era necessária, natural ou impossível de ser evitado. Relação de Causalidade No direito ambiental, além da prova da existência do dano faz-se necessário estabelecer a ligação entre a ocorrência e a fonte poluidora. Assim, no caso de somente uma fonte é fácil enfrentar a questão. Contudo, quando um dano ecológico 21 A culpa consiste na reprovabilidade da conduta ilícita de quem tem capacidade genérica de entender e querer e podia, nas circunstâncias em que o fato ocorreu, conhecer a sua ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento que se ajuste ao direito (FRAGOSO, 1995, p.196). 22 Existem outras espécies de teorias que orientam a responsabilização civil na reparação do dano ambiental, quais sejam: a Teoria do Risco Proveito e a Teoria do Risco Criado. Direito e Legislação Ambiental 33 envolve uma pluralidade de autores, o estabelecimento do vínculo causal se torna algo mais difícil, mas não impossível de ser resolvido. Segundo Machado (2006), num distrito industrial ou num conglomerado de indústrias é difícil de indicar qual é ou são os estabelecimentos que são responsáveis por um determinado dano. Porém, conforme ensinamentos deste autor, a vítima não precisará processar conjuntamente todos os poluidores. Ele poderá escolher a empresa que mais lhe convier. Dano Residual, Licença e Co-responsabilidade Diante de uma situação em que um empreendimento opera dentro dos limites estabelecidos pelo órgão ambiental mas acabe causando prejuízo à coletividade, é possível a indenização por estes danos? Quem deve reparar? É sabido que a intervenção estatal no domínio ambiental visa preservar a saúde pública e ordenar as atividades econômicas que possam causar algum dando ao ambiente. Frise-se que o Poder Público ao baixar normas e estabelecer padrões de qualidade também é sujeito destes dispositivos, pois as atividades estatais muitas vezes também operam em setores da iniciativa privada - não obstante a onda de privatizações. Ademais, os parâmetros ambientais são valores indicadores da fronteira o qual não deve ser ultrapassado. Contudo, isto não exonera o empreendedor de verificar por si mesmo se sua atividade está ou não sendo prejudicial ao homem e ao ambiente. Além disso, estes parâmetros estão sujeitos às variações do imperativo tecnológico e econômico. Ou seja, norteados pela melhor tecnologia existente e economicamente aceitável. Assim corre-se o risco destes valores serem insuficientes à proteção do ambiente de forma efetiva podendo causar lhe danos. Diante desta realidade resta concluir que, na hipótese acima levantada, o Poder Público deve responder solidariamente com o particular para reparar o dano causado. Direito e Legislação Ambiental 34 Em outra hipótese levantada é o caso da ação - permitindo o exercício da atividade poluente, em desacordo com a legislação em vigor - ou a omissão (negligência do policiamento das atividades poluentes). Neste caso Machado (2006), citando outros autores, entende que é plenamente cabível a responsabilização Estatal nos danos causados pela sua ação ou omissão. 7.2. DA RESPONSABILIDADE PENAL O ambiente ecologicamente equilibrado é um dos direitos fundamentais da pessoa humana, justificando-se assim o sancionamento penal das agressões contra ele perpetradas. Como já visto acima, tal orientação constitucional tem fundamento no art. 225, §3º. Na esfera civil, o sancionamento das condutas anti-ambientais era prevista na Lei nº 6.938/81. Contudo, na esfera penal e administrativa foi somente com a Lei nº 9.605/98 que se teve um tratamento adequado para da responsabilização penal e administrativa das condutas e atividades lesivas ao ambiente. Como diz Milaré (2000, p.346): “Fechou-se, então, o cerco contra o poluidor”. Bem Jurídico Protegido Como já visto acima, a Assembléia Nacional Constituinte já recomendou a proteção penal do ambiente na CF/88. Isto por si elimina qualquer discussão quanto à pertinência de sua seleção para a categoria de bem jurídico autônomo. Ademais, o Direito Penal é a última instância na proteção dos bens individuais. Nos crimes ambientaiso bem jurídico precipuamente protegido é o ambiente (natural, artificial, cultural e do trabalho) que garantirá a vida saudável do homem. Direito e Legislação Ambiental 35 Tipicidade23 Como já conceituado, o ambiente tem característica una e complexa. Desta forma inevitavelmente dificulta sobremaneira o delineamento dos tipos24 penais25 destinados a tutelá-lo. Dentro desta estrutura a indeterminação da conduta incriminadora faz com que não se apareça por completo a norma que o agente transgride com o seu comportamento. Diante desta realidade nota-se que na maioria das infrações penais ambientais o fato é ilícito porque o agente atuou sem autorização legal, sem licença ou em desacordo com as determinações legais. O agente é punido porque não obteve a autorização ou licença para tal, ou ainda, mesmo quando devidamente habilitado com autorização ou licença, não observou as condicionantes e/ou determinações legais ou regulamentares. Como exemplo: caçar animais silvestres tanto pode ser ilícito penal como fato atípico. Isto porque a caça tanto pode ser proibida como permitida. Nesta última hipótese dependente de autorização. O agente será processado não por ter praticado o fato, mas sim porque não tinha em mãos a necessária autorização. Quanto à formulação legislativa destes dispositivos penais, o elaborador das normas não pode se esquecer da perspectiva eminentemente preventiva do direito ambiental. Isto decorre do fato que os prejuízos ambientais serem de difícil mensuração e reparação. Nesta linha o legislador de 1998 procurou delinear também as infrações penais chamadas de tipos de perigo, especialmente os de perigo abstrato26, para os quais é suficiente a mera probabilidade de dano. Cita-se como exemplo o caso 23 “Diz-se que há tipicidade quando o fato se ajusta ao tipo, ou seja, quando corresponde às características objetivas e subjetivas do modelo legal, abstratamente formulado pelo legislador”. (FRAGOSO, 1995, p. 155) 24 Tipo: descrição da conduta humana feita pela lei e correspondente ao crime. 25 Tipo penal é a norma incriminadora. 26 Conforme Milaré (2000, p.352): “Os crimes de perigo podem ser: crimes de perigo concreto e crimes de perigo abstrato. “Nos crimes de perigo concreto, a existência do perigo deve ser averiguada caso a caso, enquanto nos crimes de perigo abstrato, prescinde-se dessa verificação, pois o mesmo é deduzido dos próprios termos em que a conduta é definida” (Ivette Senise Ferreira, Tutela penal do patrimônio cultural, cit., p.98) Direito e Legislação Ambiental 36 de crime de poluição previsto no art. 54: “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana ...”. Elemento Subjetivo Num crime a regra é a punibilidade a título de dolo e a exceção é a punibilidade a título de culpa (strictu sensu)27. O art. 18, do Código Penal, inciso I, define que o crime doloso ocorre quando o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. Já o crime culposo é conceituado pela doutrina moderna como: “a conduta voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que poderia, com a devida atenção, ser evitado”. Até a chegada da Lei nº 9.605, basicamente puniam-se somente os crimes dolosos. Conforme informa Milaré (2000), apenas as Leis nº 7.802/89 (Agrotóxicos) e a nº 8.974/95 (Biossegurança) previam algumas modalidade de crimes culposos. Desta forma, muitos casos graves, na forma culposa, deixavam de ser punidos pela atipicidade. Ex: embarcações mal conservadas onde ocorriam derramamentos de óleo no mar. Neste caso era difícil de provar a intenção do armador em deteriorar o ambiente marinho. Assim, os legisladores da Lei nº 9.605/98 fizeram bem em descrever vários tipos penais na modalidade culposa28, cassando em boa medida a impunidade que até então era regra. 27 Modalidades da culpa: imprudência, imperícia e negligência. Imprudência: é o comportamento positivo, sendo a forma ativa de culpa. É o agir sem as cautelas necessárias onde faltam os poderes inibitórios. Ex: dirigir em excesso de velocidade e atravessar o sinal vermelho; Imperícia: consiste na incapacidade, na falta de conhecimento ou de habilitação para o exercício de determinado mister. Pode provir da falta de prática ou da ausência de conhecimentos técnicos de arte, ofício ou profissão. Ex: uma parteira que realiza parto e causa dano; Negligência: é o comportamento menos caracterizado pela inação, pela inércia, pela passividade. O agente não usa os poderes de atividade. Ex: dirigir veículo com freios danificados ou pneus carecas. 28 Exs: arts. 38, 40, 41, 49, 54 ,56, 62, 67 e 68. Direito e Legislação Ambiental 37 Sujeito Ativo O sujeito ativo nos crimes ambientais pode ser qualquer pessoa física ou jurídica. Responsabilidade penal individual No sistema brasileiro, até pouco tempo, sustentava-se que somente o ser humano, pessoa física, era capaz de ser sujeito ativo de um crime. Pois a imputabilidade estava definida como o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para lhe ser juridicamente atribuir a responsabilidade pela prática de um fato punível. Nisto se sustentava a resistência em admitir a responsabilidade da pessoa jurídica. Responsabilidade penal da pessoa jurídica Seguindo a tendência do Direito Penal moderno e a previsão constitucional do art. 225, § 3º, da CF/88, os legisladores colocaram a pessoa jurídica como sujeito ativo na relação processual penal, dispondo no art. 3º, da Lei nº 9.605/98, que: “as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta lei, nos casos em que a infração penal seja cometida por decisão do seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”. Como está descrito no parágrafo único do artigo acima referido, esta imputação não exclui a responsabilidade das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato, na medida em que a empresa, por si mesma não comete crimes. Direito e Legislação Ambiental 38 Ao omisso (diretor, administrador, membro do conselho e de órgão técnico, auditor, regente, preposto ou mandatário de pessoa jurídica) também lhe é atribuída a responsabilidade penal, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. Condicionantes para a responsabilização Conforme o art. 3º, da Lei nº 9.605/98, a responsabilidade penal da pessoa jurídica fica condicionada: (i) a que a infração tenha sido cometida em seu interesse ou benefício, (ii) por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu colegiado. Assim, na análise de um delito cometido por uma pessoa jurídica, dever-se-á levar em consideração se o crime foi cometido em benefício ou visando satisfazer os interesses da pessoa jurídica. Numa segunda fase, analisar o elemento subjetivo, dolo ou culpa, quando da execução ou da determinação do ato gerador do delito, transferindo num ato de ficção a vontade do dirigente à pessoa jurídica. Abrangência da responsabilidade A responsabilização quanto às pessoas jurídicas de direito privado é pacífica. Na doutrina pátria a abrangência da responsabilização das pessoas jurídicas de direito público é controversa. Contudo, ambas as partes convergem num entendimento quanto à responsabilização do agente público que tenha concorrido para o ato lesivo ao ambiente, impondo-se: - a identificação e a responsabilização dos agentes públicos e pessoas físicas que o cometeram.Direito e Legislação Ambiental 39 - Busque-se simultaneamente a reparação do dano na esfera cível, pela pessoa jurídica de direito público, com base no art. 37, § 6º, da CF/88, e a recomposição do patrimônio público com ajuizamento de ação regressiva em face dos agentes públicos responsáveis pelo ato lesivo ao ambiente. Desconsideração da personalidade jurídica O art. 4º, da Lei nº 9.605/98, prevê a desconsideração da pessoa jurídica sempre que sua personalidade seja empecilho ao ressarcimento de prejuízos causados ao ambiente. Assim o patrimônio das pessoas físicas com intenções fraudulentas que se escondem atrás das pessoas jurídicas poderão ser atingidas pela sua desconsideração. Sujeito Passivo Segundo Milaré (2000, p.359) citando Mirabete, sujeito passivo de um crime “é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado pela conduta criminosa”. Isto não impede que existam mais de um sujeito passivo em um crime. Nos delitos ambientais o sujeito passivo direto sempre será a coletividade. A própria Carta Magna previu que o ambiente equilibrado é bem de uso comum do povo. Contudo, indiretamente o delito pode atingir um objeto material público ou particular. Um exemplo é o caso de incêndio provocado intencionalmente por terceiro em mata ou floresta pertencente ao patrimônio público ou particular, dando causa a um dano ambiental. Neste caso existirá um crime previsto no art. 41, da Lei nº 9.605/98 e um crime de dano contra o patrimônio particular, previsto no art. 163, IV, do Código Penal. Direito e Legislação Ambiental 40 7.3. DA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA Foi com base na competência constitucional (art. 24, incisos VI , VII e § 1º, da CF/88) que a Lei nº 9.605/98, em seu capítulo VI, prescreveu norma geral sobre as infrações administrativas. Conforme previsão do §2º do art. 24, da CF/88, ela pode ser suplementada pelos Estados e Municípios. O uso do poder suplementar somente pode ser realizado em modificações que não alterem a finalidade da norma geral federal. Destaque-se neste ponto que quanto ao Direito Penal não há possibilidade de suplementação por parte dos outros entes, pois a competência é privativa da União (art. 22, I, da CF/88). Conforme o art. 70, da Lei nº 9.605/98: “... infração administrativa ambiental é toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas do uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”. As regras jurídicas devem estar expressas em algum texto, devidamente publicado. As infrações administrativas são apuradas em processo administrativo próprio, tendo em vista as disposições da Lei nº 9.605/98 e da Lei nº 9.784/99, e garantido o critério de ampla defesa e contraditório. Ou seja, o infrator terá o direito a sua defesa prévia, direito de interpor recurso administrativo, a defesa técnica (acompanhamento por advogado), direito de informação geral sobre o processo e direito de requerer a produção de provas. A Lei nº 9.605/98 estabeleceu prazos para apuração da infração ambiental: - 20 (vinte) dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra auto de infração; - 30 (trinta) dias para a autoridade julgar o auto de infração; - 20 (vinte) dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior; e, - 5 (cinco) dias para o pagamento da multa. Direito e Legislação Ambiental 41 8. LICENCIAMENTO AMBIENTAL A palavra licença e autorização são adotadas pelo direito brasileiro sem levar em consideração um rigor técnico. A CF/88, em seu artigo 170, § único, prevê que o exercício de qualquer atividade econômica é livre, independentemente de autorização, salvo os casos previstos em lei. Assim pode-se concluir que o sistema de licenciamento passa a ser feito pelo sistema de autorizações. Diante dessa consideração, a expressão “licenciamento ambiental” será adotada como equivalente a “autorização ambiental”. Frise-se que o instituto do licenciamento tem a sua origem no direito administrativo, onde um dos seus traços marcantes é o seu caráter definitivo. Analisando-se o art. 9º da Lei nº 6.938/81, que prevê os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, observa-se que o inciso IV preceitua que: “o licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras”. Ou seja, o “licenciamento” é passível de revisão, caracterizando dessa forma o instituto da autorização. CONCEITUAÇÃO Conforme a definição legal do art. 1º, inciso I, da Resolução CONAMA nº 237/97: “Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.” Direito e Legislação Ambiental 42 CLASSIFICAÇÃO DO LICENCIAMENTO Conforme instrução do art. 8º, da Lei nº 6.938/81: “Incluir-se-ão entre as competências do CONAMA: I - estabelecer, mediante proposta ao IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades de efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA”. Assim, ficou determinado que as normas e critérios gerais para o licenciamento seriam estabelecidas pelo CONAMA - órgão colegiado federal no qual estão representados os estados. Desta forma a lei pretende evitar que os Estados permitam a instalação de empreendimentos com padrões mais permissivos que um teto máximo fixado em nível federal. O entendimento da expressão “licenciamento ... supervisionado pelo IBAMA”, segundo Machado (2006, p.277) é que: “... merece ser entendida como um tipo de fiscalização, em que órgão federal ambiental poderá comunicar aos Estados ou ao Ministério Público a ocorrência de desvios no cumprimento das diretrizes e critérios sobre o licenciamento, mas o termo supervisão não deve ser entendido como grau de revisão por parte dele, pois a autonomia constitucional dos Estados não lhe permitiria essa atuação”. A classificação das licenças foi expressamente previstas no Decreto Federal nº 99.274/90, no seu artigo 19; e, na Resolução CONAMA 237/97, art. 8º. Sendo assim, estes dispositivos legais prevêem que serão expedidas as seguintes licenças: I - Licença prévia (LP), na fase preliminar do planejamento da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo; II - Licença de instalação (LI), autorizando o início da implantação, de acordo com as especificações constantes do projeto executivo aprovado; III - Licença de operação (LO), autorizando, após as verificações necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus Direito e Legislação Ambiental 43 equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas Licenças Prévias e de Instalação. Como em outras situações da competência ambiental, aqui também foram estabelecidas normas gerais que deverão ser seguidas pelos estados e municípios. Outrossim, estes entes poderão prever nas suas legislações outras modalidades e adicionar outras exigências para a concessão da licença. Destaque-se que na Resolução CONAMA 237/97, ao tratar dos três tipos de licença, estabeleceu que a “Licença Prévia (LP) concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade, aprovando sua localização e concepção, atestando
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