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Novas Profissões e Ocupações em Saúde no Brasil

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1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA 
NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA 
OBSERVATÓRIO DE RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE 
 
 
 
 
NOVAS PROFISSÕES E OCUPAÇÕES EM SAÚDE 
FRENTE ÀS NECESSIDADES DOS SERVIÇOS DE 
SAÚDE NO BRASIL 
 
 
RELATÓRIO DE PESQUISA 
 
 
 
 
 
 
Natal, 2016 
 
 
2 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA 
NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA 
OBSERVATÓRIO DE RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE 
 
 
Equipe da pesquisa 
Coordenação 
Janete Lima de Castro (ObservatórioRH/UFRN) 
Valdemar Almeida Rodrigues (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) 
 
Pesquisadores 
Cláudia Maria da Silva Marques (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) 
Dyego Leandro Bezerra de Souza (ObservatórioRH/UFRN) 
Eliana Costa Guerra (ObservatórioRH/UFRN) 
Hugo Fernandes Junior (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) 
Josenildo Borges Ferreira (ObservatórioRH/UFRN) 
Maria Aparecida Dias (ObservatórioRH/UFRN) 
Regina Helena Rocha Cruz (ObservatórioRH/UFRN) 
Roberta Freitas (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) 
Rosana Lúcia Alves de Vilar (ObservatórioRH/UFRN) 
Tiago Oliveira (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) 
 
Alunos de pós-graduação 
Rafael Rodolfo Tomaz de Lima (ObservatórioRH/UFRN) 
Tatiana de Medeiros Carvalho Mendes (ObservatórioRH/UFRN) 
 
 
Alunas de graduação 
 
Ana Elisa Vilar de Araújo (ObservatórioRH/UFRN) 
Anna Beatriz Domingos de Souza (ObservatórioRH/UFRN) 
Cintya Larissa Leite Dantas (ObservatórioRH/UFRN) 
Dinorah de França Lima (ObservatórioRH/UFRN) 
Emanuelle Yasmin Silva do Nascimento (ObservatórioRH/UFRN) 
 
 
3 
 
 
 
1. APRESENTAÇÃO 
 
Este relatório apresenta os resultados da pesquisa “Novas Profissões e 
Ocupações em Saúde frente às Necessidades dos Serviços de Saúde no Brasil”. O 
propósito da pesquisa consistiu em problematizar os processos de regulamentação das 
profissões e ocupações do setor saúde, tendo como ponto de partida duas questões 
iniciais: (i) as novas profissões e ocupações em saúde, que vêm emergindo nos níveis 
médio e superior, constituem iniciativas para responder as novas demandas do atual 
contexto social do país e do perfil sanitário brasileiro que vem se desenhando nas 
últimas décadas? (ii) As novas profissões e ocupações em saúde que vêm emergindo no 
Brasil a partir do ano 2000 encontram paralelo no âmbito internacional? Acredita-se que 
tal problematização pode contribuir com o debate que fundamenta as mudanças que 
vêm ocorrendo na dinâmica das profissões e ocupações do citado setor, na 
particularidade da realidade brasileira contemporânea. 
O tema tem suscitado crescente interesse de pesquisadores e gestores do campo 
das ciências humanas e, de modo especial, da saúde coletiva, dadas as intensas 
mudanças que passam as sociedades, na contemporaneidade. Destacam-se, de modo 
particular, transformações que vêm ocorrendo no âmbito do trabalho, na composição 
demográfica das populações, no modo de viver, de produzir, de consumir, com nítidas 
repercussões sobre o meio ambiente. 
 A citada pesquisa foi coordenada pelo Observatório de Recursos Humanos da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ObservatórioRH/UFRN), em parceria 
com o Observatório de Recursos Humanos da Universidade de Brasília 
(ObservaRH/NESP/CEAM/UnB). Estes Observatórios compõem a Rede ObservaRH no 
Brasil, implantada em 1999 sob a coordenação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da 
Educação em Saúde, do Ministério da Saúde (SGTES/MS), com o incentivo do Acordo 
de Cooperação Técnica entre o Ministério e a Organização Pan-Americana da Saúde 
(Opas). Compõe também a Rede Intercontinental Observatório de Recursos Humanos 
em Saúde, iniciativa da Opas/OMS, que atualmente congrega diversos países da Região 
das Américas e vem se expandindo pela África e por regiões do Mediterrâneo, com o 
4 
 
objetivo de monitorar tendências que repercutem nas políticas de recursos humanos em 
saúde nesses países. 
Os observatórios, proponente e parceiro, se inseriram nessa Rede em diferentes 
momentos do processo e ambos assumem como missão reunir informações sobre a 
força de trabalho em saúde, prover análises e manter diálogos com a área acadêmica, 
profissionais, gestores e entidades do setor, constituindo uma contribuição ativa para 
refinar e melhorar políticas públicas e estratégias de gestão, regulação e formação para 
os recursos humanos em saúde. 
Os produtos esperados e estabelecidos na CARTA ACORDO 
BR/LOA/140081.001 foram: Relatório de pesquisa contendo análise do mapeamento 
das novas profissões e ocupações de saúde emergentes a ser disponibilizado em meio 
eletrônico e impresso como contribuição à gestão e regulação do trabalho em saúde; 
elaboração de catálogo contendo mapeamento das novas profissões e ocupações em 
tramitação para reconhecimento no Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde e 
Congresso Nacional, requerendo o reconhecimento de novas profissões e ocupações; 
elaboração de artigos para publicação em periódicos científicos e para apresentação de 
trabalhos científicos em congressos. 
Ressalta-se que o objetivo 6, citado a seguir, não pode ser cumprindo devido à 
inexistência das informações necessárias à pesquisa nos sistemas internacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
2. OBJETIVOS 
 
Objetivo Geral: 
Analisar as ocupações em saúde em processo de regulamentação no Congresso 
Nacional Brasileiro e suas inserções nos serviços de saúde do Brasil. 
Objetivos Específicos: 
 Mapear as ocupações em saúde em processo de regulamentação no Congresso 
Nacional Brasileiro; 
 Identificar as ocupações em saúde em processo de regulamentação no Congresso 
Nacional Brasileiro que possuem código na CBO; 
 Descrever o panorama da formação, oferta e distribuição dos cursos das ocupações 
em saúde em processo de regulamentação; 
 Identificar os cursos ofertados pelas Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde 
(SUS) para as ocupações em saúde em processo de regulamentação; 
 Correlacionar os perfis das ocupações em saúde em processo de regulamentação 
com as políticas e programas do SUS; 
 Verificar se as novas profissões e ocupações em saúde que vêm emergindo no 
Brasil a partir do ano 2000 encontram paralelo no âmbito internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
3. O PERCURSO METODOLÓGICO 
 
3.1 Caracterização do estudo 
 
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental com abordagem 
quantitativa e qualitativa. 
Para Gonçalves (2014) a pesquisa bibliográfica pode ser considerada como o 
primeiro passo em qualquer tipo de pesquisa, tendo como finalidade conhecer e analisar 
as diferentes contribuições científicas sobre o tema objeto do estudo. Busca verificar o 
estado da arte, a partir do conhecimento do que já se produziu e publicou até 
determinado momento histórico. 
Severino (2007) esclarece que a pesquisa documental tem como fonte 
documentos no seu sentido amplo, que podem ser impressos, gravados, fotografados, 
filmados ou virtualmente expostos. 
A abordagem quantitativa caracteriza-se pelo emprego da quantificação no 
tratamento dos dados através de técnicas estatísticas, desde as mais simples até as mais 
complexas. Aplica-se a vários tipos de estudo que procuram descobrir e classificar 
variáveis e suas relações (RICHARDSON et al., 2012). 
A abordagem qualitativa se aplica ao estudo da história, das relações, das 
representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações 
que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si 
mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2013). Por sua vez, Minayo (2013) ressalta que 
os dois métodos não são incompatíveis e podem ser integrados em um mesmo estudo. 
 
3.2 Coleta e análise dos dados 
 
A etapa de análise dos documentos propõe-se a produzir ou reelaborar 
conhecimentos e criar novas formas de compreender os fenômenos.É condição 
necessária que os fatos devem ser mencionados, pois constituem os objetos da pesquisa, 
mas, por si mesmos, não explicam nada. O investigador deve interpretá-los, sintetizar as 
7 
 
informações, determinar tendências e na medida do possível fazer a inferência. SÁ-
SILVA et al. (2009). 
 Nesta pesquisa foram utilizadas várias fontes de documentos visando o alcance 
dos objetivos previstos. 
Os aportes teóricos foram elaborados tendo como base a literatura especializada 
sobre a temática destacando os principais aspectos e tendências da realidade brasileira 
no que concerne a nova morfologia do trabalho, sua dinâmica e surgimento das novas 
ocupações. 
Para o mapeamento das novas ocupações e profissões emergentes no setor saúde 
foram utilizados como fontes os registros administrativos da Relação Anual de 
Informações Sociais do Ministério do Trabalho (RAIS) e da Classificação Brasileira de 
Ocupações – CBO; e a base de dados do Congresso Nacional — Câmara dos Deputados 
e Senado Federal. 
 O levantamento sobre as proposições que tratam de regulamentação profissional 
na área de saúde foi feita na base de dados de ambas as casas do Congresso Nacional — 
Câmara dos Deputados e Senado Federal —, no período compreendido entre 1º de 
janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2015. Para este levantamento foi inicialmente 
utilizado quatro palavras-chaves relativas ao tema: regulamentação, profissão, 
ocupação, saúde. 
Após consulta aos técnicos da Câmara dos Deputados, verificou-se que tal 
pesquisa poderia excluir algumas proposições, tendo em vista que o processo de 
classificação das matérias é feito pelo Centro de Documentação da casa e não é 
padronizado, podendo haver discrepâncias na classificação dos projetos de técnico para 
técnico. A pesquisa foi, então, refeita para o mesmo período referido, abarcando todas 
as matérias que tratavam de regulamentação de profissões e não apenas as consideradas 
“de saúde”. Desse total, a separação das que guardavam relação com o setor saúde foi 
feita pelo exame da ementa e conteúdo das proposições. 
Dando prosseguimento foi realizado um exame das proposições detectadas na 
Base de Dados da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, sendo que, por força das 
regras de tramitação, houve proposições que apareceram em duplicidade, pois após 
tramitarem na casa original, foram remetidas para a revisora e detectadas em dois 
momentos distintos ao longo do período considerado. 
Adicionalmente, como forma de testarmos, ao menos para parte do período 
considerado, se a detecção pelo método acima foi consistente, utilizamos a Base de 
8 
 
Dados gerada pelo “GRUPO DE PESQUISA E EXTENSÃO SOBRE O 
LEGISLATIVO E A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL”, (GOMES et al., 2014). O 
grupo, desde 2006, trabalha no aperfeiçoamento de um “sistema de classificação de 
proposições legislativas relacionadas à saúde, que tramitam no Congresso Nacional” e, 
como consequência de tal sistema, criou uma “base de proposições classificadas”. 
A RAIS foi instituída pelo Decreto nº 76.900, de 23/12/75, a tem por objetivos: 
o suprimento às necessidades de controle da atividade trabalhista no País; o provimento 
de dados para a elaboração de estatísticas do trabalho e a disponibilização de 
informações do mercado de trabalho às entidades governamentais. 
A CBO foi instituída por portaria ministerial nº. 397/MTE, de 9 de outubro de 
2002, tem por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho, para 
fins classificatórios junto aos registros administrativos e domiciliares. 
No caso da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), as informações 
apresentadas referem-se ao estoque de vínculos de emprego declarados por 
estabelecimentos em 31 de dezembro de cada ano. É uma variável de estoque. O 
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) apresenta informações da 
movimentação de mão de obra realizada pelos estabelecimentos, ou seja, o número de 
admitidos e desligados mensalmente. É uma variável de fluxo, portanto. Ademais, é 
importante chamar atenção para o fato de que na RAIS estão contemplados todos os 
vínculos de emprego legalmente estabelecidos, o que inclui os vínculos estatutários, por 
exemplo. Já o CAGED restringe-se à movimentação realizada pelo setor privado da 
economia, inclusive pelas empresas estatais. 
O tratamento da questão ocupacional dado pelas estatísticas de mercado de 
trabalho no Brasil é distinto, uma vez que os registros administrativos e as pesquisas 
domiciliares adotam classificações diferentes. 
De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, a CBO, em sua versão 
atual, estabelecida em 2002 e que tem como referência a CIUO de 1988, organiza-se em 
uma estrutura hierárquico-piramidal composta por 10 grandes grupos (1 dígito), 47 
subgrupos principais (2 dígitos), 192 subgrupos (3 dígitos) e 596 grupos de base ou 
famílias ocupacionais (4 dígitos), que, por sua vez, englobam mais de duas mil 
ocupações e sete mil títulos sinônimos. 
A identificação dos cursos para as ocupações emergentes do setor saúde, tanto 
de nível médio como de nível superior, bem como a identificação das instituições de 
ensino que ofertam os cursos para as referidas ocupações foi realizado em dois 
9 
 
momentos. O primeiro momento, compreendido entre o período de outubro a dezembro 
de 2015, foi composto por duas etapas. Na primeira etapa realizou-se a análise dos 
Projetos de Lei que solicitam a regulamentação de cada ocupação no Congresso 
Nacional com a finalidade de identificar o curso de formação para cada ocupação. 
Em seguida, na segunda etapa, realizou-se o levantamento das instituições de 
ensino que ofertam os citados cursos em todo o país, tendo como base as informações 
contidas nos sistemas de informação do Ministério da Educação. Para identificar as 
instituições de ensino que ofertam cursos de nível médio foi consultado o Sistema 
Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (SISTEC) e para 
identificar as instituições de ensino que ofertam cursos de nível superior foi consultado 
o Sistema de Regulação do Ensino Superior (e-MEC). 
Em seguida foi realizado outro levantamento com o objetivo de identificar as 
ocupações que possuem perfil na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Ao 
acessar site da CBO pôde-se ter conhecimento da nomeação e codificação dos títulos e 
conteúdos das ocupações. Realizou-se a busca pelos títulos e foram encontrados os seus 
respectivos códigos, a família ao qual a ocupação pertence e os sinônimos dados pelo 
portal eletrônico do Ministério do Trabalho e Emprego. Assim, com uma filtragem para 
reduzir ainda mais a busca, as ocupações correlatas foram agrupadas em uma mesma 
nomenclatura. 
Para a análise entre os perfis profissionais das novas ocupações e profissões 
emergentes com as políticas e programas do SUS, foram utilizados como fontes os sites: 
Portal da Saúde, Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde e no Portal do Departamento 
da Atenção Básica, ambos, sites oficiais do Ministério da Saúde. Como não existe uma 
página específica do Ministério da Saúde que concentre todas as informações 
pesquisadas, utilizou-se também a ferramenta de busca Google para localizar alguns 
documentos oficiais relacionados a cada política/programa. A pesquisa foi realizada de 
19 de fevereiro a 04 de abril de 2016. 
Considerando as variadas fontes, as análises foram feitas mediante os tipos de 
informações coletadas, incorporando teores analíticos quantitativos e qualitativos 
considerando as experiências acumuladas dos autores e o diálogo com a literatura 
publicada sobre os temas tratados. 
 
10 
 
 
 
4. APORTES TEÓRICOS 
 
4.1 Breve Aproximação Conceitual aos Termos Profissão, Ocupação, 
Regulamentação e Regulação 
 
4.1.1 Profissão e Ocupação 
 
No verbete “profissão”, do Dicionário Educação Profissional em 
Saúde Franzoi (2008, p. 328) alerta para a dificuldade em conceituarprecisamente o 
termo profissão, devido às diferentes conotações assumidas pelo mesmo, segundo a 
“área de conhecimento e a tradição nacional e idiomática em que é empregado”. Na 
sociologia anglo-americana, reserva-se o termo para as “profissões ditas sábias”, ou 
seja, aquelas que pressupõem formação universitária, enquanto “occupations” 
(ocupações) define o conjunto de empregos. Na língua francesa, bem como na 
portuguesa, ocupação, sem o qualificativo liberal (libérales), constitui termo atribuído 
às ditas profissões sábias, mas igualmente, ao conjunto dos empregos, em particular, na 
classificação e no recenseamento, realizados pelo Estado
1
. 
 
1 Nas sociedades medievais, “profissões sábias” e ofícios relacionavam-se a corporações, nas quais era 
comum o juramento ou profissão de fé. A hierarquia de então, separava aqueles pertencentes a 
corporações de ofícios juramentados e os “jornaleiros”, ou trabalhadores diaristas. Somente com a 
consolidação das universidades, é estabelecida a distinção entre “profissões”, que requeriam um 
aprendizado acadêmico e os “ofícios”, derivados de ”artes mecânicas”, construindo-se, progressivamente, 
sistemas de hierarquia entre trabalho intelectual e trabalho manual. Nos anos 1960, com base na 
sociologia das profissões, a distinção entre profissões e ocupações se estabelece, identificando os grupos 
profissionais como “comunidades homogêneas reunidas em torno dos mesmos valores e de um mesmo 
código de ética”; detentoras de competências e saberes assentados no conhecimento científico tido como 
absoluto (FRANZOI, 2011, p. 329). A partir de então, se busca entender o caráter histórico e social da 
hierarquização entre profissões e ocupações, ressaltando a disputa pelo monopólio de mercados, 
evidenciando que o caráter mais ou menos científico do conhecimento monopolizado não é dado a priori, 
mas socialmente construído. Assim, nas modernas sociedades, a ciência e o conhecimento formal 
assumem papel legitimador, definindo a relação de poder que se estabelece entre as esferas da criação, 
transmissão e aplicação do conhecimento formal. Desse modo, a distinção entre profissões e ocupações 
11 
 
De fato, esquemas diferenciados têm originado profissões de nível superior e 
técnico. Contudo, tem sido importante a força do Estado na constituição, mas, 
especialmente, na regulação, regulamentação e formação da força de trabalho em saúde. 
Não se pode negligenciar tampouco, em cada tempo histórico, o peso do perfil da 
demanda oriunda de necessidades sociais, no surgimento e na configuração de 
ocupações e profissões. Assim, a intervenção do Estado no reconhecimento, 
capacitação, formação e regulamentação tem se associado à ação de organizações e 
entidades de trabalhadores, que atuam no controle, acompanhamento, validação dos 
conhecimentos e saberes adquiridos, conferindo autoridade ao trabalhador para o 
exercício de função específica. Inegável, ainda, é o papel das instituições de formação, 
nos diversos níveis e por meio de diferentes mecanismos, na legitimação das profissões. 
Aqui, o Estado continua desempenhando papel central no reconhecimento destas 
instituições e no credenciamento das mesmas para operar na formação profissional. 
O termo “ocupação” tem sido utilizado para referir-se ao lugar de um indivíduo 
na divisão social e técnica do trabalho, a qual classifica e hierarquiza os indivíduos, 
envolvendo aspectos subjetivos e identitários. Estes são reconhecidos e se reconhecem 
enquanto grupos que desempenham atividades comuns e se organizam a partir deste 
pertencimento (FRANZOI, 2008, p. 328). A autora chama a atenção para a classificação 
dos indivíduos entre aqueles que têm ou não lugar na hierarquia fundada no trabalho 
condição, que, em geral, antecede a esta categorização. De acordo com a Classificação 
Brasileira de Ocupações (CBO), ocupação, consiste em uma “[...] agregação de 
empregos ou situações de trabalho quanto às atividades realizadas”. Em uma 
classificação, o título ocupacional “[...] surge da agregação de situações similares de 
emprego e/ou trabalho” (BRASIL/MTE, 2002, p. 1) 
Historicamente, as profissões surgiram de corporações, ou de savoir-faire 
tradicional, cuja transmissão, em geral, se fazia por via oral e por meio do exercício do 
ofício, sob a supervisão atenta de mestres. Como, destaca Franzoi (2008), nas modernas 
sociedades, o conhecimento formal e o papel legitimador da ciência, 
[...] definem a relação de poder que se estabelece entre as 
diferentes esferas da criação, transmissão e a aplicação do 
 
passa a basear-se na educação formal requerida para desempenhar determinada atividade ou emprego, em 
dada posição. 
12 
 
conhecimento formal. A educação formal requerida para o 
emprego em determinadas posições distingue as profissões das 
ocupações (p. 330) 
Poderiam ser identificados pelos menos dois modelos que orientam o surgimento 
de uma profissão: o modelo clássico - (encadeamento) – francês organizado da seguinte 
forma: 
 
Neste caso, a obtenção de um diploma habilitaria o individuo a se submeter a 
sistemas de regulamentação pré-existentes a fim de se tornar apto ao exercício de uma 
profissão. 
E o modelo contemporâneo, expresso no seguinte esquema: 
 
Neste caso, as necessidades oriundas das mudanças sociais, culturais, 
demográficas, ambientais, induziriam o surgimento de atividades e o desenvolvimento 
de habilidade e competências, que, organizadas de modo sistemático, dariam origem a 
uma ocupação que, por sua vez, demandaria reconhecimento do Estado e organização 
da oferta de formações, com vistas à regulamentação legal. Assim, fica claro também o 
papel do Estado na regulação e na formação como porta de entrada para dar a base e 
fundamentar socialmente a profissão. 
 
4.1.2 Regulamentação e Regulação 
A primeira premissa de importância para delimitarmos o âmbito da 
regulamentação de profissões em geral — na qual, evidentemente, está inserida a 
13 
 
regulamentação das profissões de saúde — refere-se à confusão sobre o uso dos termos 
regulamentação e regulação. Segundo Oliveira (2014, p. 1199), o termo regulação é 
polissêmico, sendo empregado no século XVIII em campos tão díspares quanto 
“relojoaria, economia, política e também da mecânica celeste”, a partir do final do 
século XIX o termo passa a ser apropriado, também, pela biologia e no século XX pelas 
ciências sociais. 
Lucas (2007. p.2) refere-se à origem anglo-saxônica do conceito de “regulation” 
e sua tradução para o português. Acrescenta que o termo regulamentação tem, na 
concepção jurídica portuguesa, o sentido de “uma função normativa” cujo objetivo é o 
de pormenorizar uma “norma jurídica com caráter geral e abstrato”. 
Já para o termo regulação, o mesmo autor identifica maior amplitude e diferença 
qualitativa relativamente à simples regulamentação. Nesse sentido, a regulação conteria 
não apenas funções regulamentadoras, mas também, e, sobretudo, implementação dos 
regulamentos, supervisão de sua observância e aplicação de sanções cabíveis. 
De forma similar, Santos e Merhy (2006) pontuam que o processo de 
regulamentação subordina-se ao processo de regulação tendo em vista identificarem 
nesse último a intencionalidade de intervenção em processos econômicos ou sociais 
com o intuito de arbitrá-los, enquanto aquele é entendido como a formulação de regras 
com vistas à criação de normas com o objetivo de tornar explícita essa mesma 
intencionalidade. 
Classicamente, a teoria econômica admite a intervenção estatal — a regulação 
— em situações em que, na ausência de “concorrência perfeita”, tal intervenção agiria 
como corretora de falhas de mercado por força de: monopólios/oligopólios,interesse 
público ou assimetria de informações. Haveria, assim, uma intervenção do Estado nos 
mercados, justificável de acordo com tais concepções, em nome de resguardar o 
interesse público, por intermédio de incentivos ou sanções financeiras, de comando ou 
controle (SANTOS & MEHRY, 2006, p.26). 
Exemplo claro de regulação no setor saúde seria, segundo os mesmos autores, a 
ação do Estado no setor de saúde suplementar, por intermédio da agência reguladora 
setorial — A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS — no sentido de 
“corrigir” as “falhas de mercado” existentes no setor: ocorrência de riscos e incertezas; 
“risco moral”; externalidades; distribuição desigual da informação; existência de 
barreiras ao acesso etc. 
14 
 
No campo social há, igualmente, concepções ligadas à teoria da regulação. 
Rosso (2003), analisando a regulação do trabalho, aponta que cabe à sociologia analisar 
“a influência de fatores sociais e suas consequências [...] no processo de regulação”. 
Acrescenta, ainda, que a regulação do trabalho compreende “as formalizações que 
regem o trabalho”, bem como os “conteúdos concretos de tais formalizações”. 
Girardi (2002a, p.69), por usa vez, destaca que a regulação tem como resultado a 
“redistribuição de riscos e privilégios, vantagens e prejuízos entre pessoas, grupos e 
setores da sociedade”. 
Desse modo, dada a insuficiência da regulamentação legal para a solução plena 
das questões no campo de recursos humanos em saúde, deve-se buscar no conceito de 
regulação um caminho que supere a pouca dinamicidade e o relativo descompasso entre 
a atualização dos textos legais e as imposições da realidade. 
Assim, podemos inferir que a regulação se caracteriza como um processo mais 
amplo, mais abrangente e mais profundo que a regulamentação. Esta seria uma das 
ações possíveis do processo regulatório, inserida nele, necessária, mas não suficiente. A 
regulação implicaria: intervenção do Poder Público, limitação do “livre mercado” e da 
“livre escolha”, representação dos atores envolvidos e um aparato regulamentar e de 
controle. 
Ainda Girardi (2002b, p. 11.), em estudo elaborado para a Organização Pan-
americana de Saúde (OPAS), propõe que no campo da regulação profissional se adote 
uma noção “pragmática” de regulação, semelhante à voltada ao campo de bens e 
serviços mais definidos. Segundo o referido autor, “a regulação corresponde a uma 
intervenção pública (ou da política) sobre a soberania dos mercados (ou da economia)”. 
Assim, prossegue o mesmo autor, haveria uma racionalidade baseada na 
“assimetria informacional” que justificaria a ação regulatória no campo profissional da 
saúde, baseada no: 
princípio da utilidade pública da regulação, que visa à 
proteção e à segurança do público contra a ação danosa de 
praticantes não autorizados e de pessoas inescrupulosas; e o 
princípio da garantia da qualidade e da excelência dos serviços 
profissionais, que visa proteger o público dos riscos da ação de 
profissionais incompetentes e despreparados. 
15 
 
Para o mesmo autor (GIRARDI, 2002a, p.70), a regulamentação profissional 
constituir-se-ia em “capítulo muito especial da regulação econômica e social”. Faz, 
também, uma analogia com as justificativas apresentadas para o processo de regulação 
sob a ótica econômica, ao afirmar que o exercício profissional, se não regulamentado e 
deixado ao sabor do mercado, seria alocado em “níveis sub ótimos”. 
4.1.3 Regulamentação Profissional. 
Sob a ótica jurídica, as normas que regem o exercício profissional estão 
definidas na Carta Magna, em seu art. 5º, inciso XIII, expressamente: “é livre o 
exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações 
profissionais que a lei estabelecer” (BRASIL, 1988, p.3). 
Segundo a classificação de Silva (2012, p. 81-82), esta é uma norma de eficácia 
contida, ou seja, apesar de ter aplicabilidade direta e imediata, seus efeitos podem ser 
restringidos por uma lei, no caso, por “exigência legal de habilitação ou de atendimento 
de condições para o exercício do ofício” (BASTOS, 2001, p.246). 
Para Ribeiro Bastos e Martins (1989, p.78) a regulamentação profissional é o 
exercício da “competência fixada na parte final do dispositivo” constitucional, 
primeiramente pela existência de lei federal. Ressaltam, entretanto, que duas condições 
são necessárias para que tais “qualificações profissionais” sejam observadas: 
conhecimentos técnicos e científicos avançados e possibilidade de que o exercício possa 
trazer dano social. 
Destaque-se que textos constitucionais anteriores já adotavam esse mesmo 
entendimento e, segundo Tateno (2012, p. 447), as decisões do Supremo Tribunal 
Federal, mesmo antes da vigência do texto de 1988, basearam-se na ponderação da 
ocorrência de “interesse público” e que tal ponderação não está simplesmente entregue 
ao entendimento do legislador infraconstitucional, Assim, não bastaria a existência de 
uma lei ordinária atribuindo a determinada ocupação restrições para seu exercício. Tais 
restrições seriam sempre suscetíveis de apreciação pelo Judiciário e devem levar em 
consideração a tutela da saúde e da vida e “outros direitos dos cidadãos”. 
Para além dos aspectos jurídicos da regulamentação profissional, Girardi, 
Fernandes Júnior. e Carvalho (2010, p.1) destacam que a regulamentação profissional 
age sobre o mercado de trabalho de forma a definir “campos de trabalho, procedimentos 
e atividades de exercício restrito”. Seria, em última análise, um privilégio, pois o 
16 
 
processo regulamentar possibilita a restrição de atuação, a definição de valores do 
trabalho, a definição de credenciais educacionais e a vinculação a entidades corporativas 
que autorizam e fiscalizam a atuação profissional. 
Sua origem remonta às guildas ou corporações medievais que “traduziam a 
necessidade de os indivíduos, profissionalmente habilitados, protegerem-se da 
concorrência de imigrantes e de servos recém-libertos” (NOGUEIRA, 2007). 
Contemporaneamente, a instituição de tal privilégio justificar-se-ia pelo 
reconhecimento por parte do Estado, em nome de toda a sociedade, da 
imprescindibilidade do exercício da profissão regulamentada. 
Os argumentos arrolados para que uma determinada ocupação ou especialidade 
laboral tenha seu campo delimitado por meio de regras restritivas, seja sob a ótica da 
formação, seja da restrição à atuação profissional, seriam: 
 
(i) a ideia de que a atividade envolve habilidades complexas, 
com elevado teor científico e técnico em geral não acessíveis 
sem o concurso de sistemas de formação profissional 
complexos como as universidades; 
(ii) a ideia de que seu exercício afeta profundamente a saúde 
pública, a segurança e o bem-estar do público; 
(iii) a ideia de que a qualidade e os resultados do trabalho dos 
profissionais não são passíveis de julgamento espontâneo do 
público leigo. (GIRARDI, FERNANDES JÚNIOR & 
CARVALHO, 2010, p.2). 
Os mesmos autores destacam, igualmente, que as regulamentações não são 
idênticas, havendo ocupações “fortemente regulamentadas”, que possuem instituições 
autorreguladoras, e outras “fracamente regulamentadas”, em geral ocupações de nível 
médio em que a regulamentação se restringe a requisitos de formação. 
Uma vez regulamentada, a ocupação “forte” vai se amparar, para a garantia dos 
direitos conquistados juridicamente, em associações (no caso do Brasil em órgãos 
autárquicos paraestatais), definições de competências e de áreas de atuação exclusivas, 
definição de formação acadêmica, códigos de condutas a serem observados entre os 
pares, etc. 
17 
 
No trabalho citado de Girardi, Fernandes Júnior e Carvalho (2010), encontram-
se ainda pontos que, na opinião dos autores, conformariam o maior ou menor grau de 
extensão da regulamentação de determinada ocupação. Seriam eles: 
(i) ...condições do exercício da atividade profissional: 
autonomia, complexidade técnico-científica,graus de 
assimetria informacional ou de assimetria de competência entre 
os membros do grupo profissional e os leigos, dificuldade de 
julgamento espontâneo do público sobre as atividades, 
procedimentos e os resultados do trabalho dos profissionais, 
utilidade pública da regulação; 
(ii) ...poder e recursos dos grupos de interesse articulados em 
torno da profissão ou ocupação: tamanho, coesão, 
concentração de recursos dos grupos de profissionais 
demandantes da regulação em questão, de grupos profissionais 
concorrentes, dos grupos de empregadores de profissionais, 
dos grupos de consumidores, dos grupos de terceiros 
pagadores, da opinião pública etc.; 
(iii) ...forma e modo de funcionamento do sistema político-
administrativo, particularmente do legislativo. A oferta de 
regulações depende do ambiente sob o qual o legislativo 
produz: competição interpartidária por votos, organicidade do 
sistema partidário, grau de dependência de parlamentares e 
partidos com relação a cada um dos grupos de interesse 
demandantes, rotatividade dos parlamentares, grau de 
especialização e condução sistêmica da matéria pelos corpos e 
comissões do legislativo, existência e utilização de mecanismos 
de agenciamento, relações de controle de agendas entre 
executivo e legislativo, graus de insulamento dos 
parlamentares, influência dos lobbies profissionaisetc. 
A regulamentação pela via legislativa, embora legítima do ponto de vista 
político — a todos é legítimo pleitear e reivindicar a proteção do Estado e cabe 
justamente ao Congresso Nacional avaliar a pertinência desses pleitos e reivindicações 
—, não poderia e não deveria ser a única forma para a definição e redefinição, no 
18 
 
âmbito da sociedade dos limites e abrangências de atuação das ocupações. Muitas 
dessas atividades, em virtude de seu alto conteúdo científico e tecnológico, e como 
decorrência da grande importância que têm nas vidas e no bem-estar das pessoas, estão 
em constante processo de mudança e de realocação de funções, de papéis e de 
responsabilidades. 
No setor saúde em especial, tal afirmação tem substrato histórico que a 
sustenta. Nos últimos cinquenta ou sessenta anos, várias das ocupações que hoje são 
denominadas de “profissões de saúde” sequer existiam. Eram apêndices do trabalho 
médico, da enfermagem ou eram ocupações técnicas e que, ao longo do tempo, foram 
incorporando conhecimentos específicos e formando um corpo teórico-prático que se 
autonomizou e se constituiu num ramo do conhecimento humano, com procedimentos e 
desenvolvimento próprios. 
No entanto, como pontua Coelho (1999, p. 32), o maior ou menor grau de 
sucesso de uma corporação em obter a regulamentação desejada advém de dois fatores 
fundamentais: à importância relativa da corporação (tamanho, coesão, influência, 
recursos) e à existência de um “padrinho” no Congresso Nacional (Parlamentar que se 
disponha a apresentar e acompanhar a tramitação da proposição regulamentadora). 
Esta distorção apontada por Coelho (1999) é agravada pela inexistência de um 
protagonismo por parte do Estado no sentido de formular ativamente uma política de 
regulamentação profissional em saúde levando em consideração dois aspectos 
fundamentais: o reconhecimento de uma realidade internacional e nacional de conflitos 
e tensões existentes entre, de um lado, o “mercado da saúde” — fornecedores de bens e 
serviços em saúde e que inclui o aparelho formador de profissionais e as corporações 
profissionais envolvidas na prestação de ações e serviços de saúde —, e, de outro, a 
população e pessoas, com suas necessidades e demandas. 
4.2 A Nova Morfologia do Trabalho em Tempos de Crise do Capital: 
particularidades e tendências no setor saúde 
Este item teve como objetivo discutir a nova morfologia do trabalho, em tempos 
de mundialização/globalização da economia, com dominância do setor das finanças, de 
crise do capital e de ciclos de ajuste, a imprimir mudanças na geopolítica e na divisão 
internacional do trabalho. 
19 
 
Para entender a dinâmica do trabalho no atual tempo histórico, a configuração do 
mundo profissional e das ocupações na área da saúde é necessário circunscrever este 
complexo na trama das relações sociais, destacando aspectos mais gerais relacionados 
com a dinâmica de reprodução do capital, em tempos de crise e, então, deter-se nas 
particularidades da realidade brasileira, com ênfase na relação Estado, sociedade e 
mercado. 
Ao longo dos anos 1950, no pós Guerra, especialmente, “[...] nos países 
‘desenvolvidos’cada vez mais prósperos, muita gente sabia que os tempos tinham, de 
fato, melhorado, especialmente se suas lembranças alcançavam os anos anteriores à 
Segunda Guerra Mundial” (HOBSBAWM, 1995, p. 253). Todavia, somente após o 
grande boom dos anos 1970, se pôde realmente observar o que estava a ocorrer. Então, 
os economistas começam a se dar contar que o mundo do capitalismo vivenciara 
“[...] fase excepcional de sua história; talvez uma fase única”, denominando-a e 
descrevendo-a de diferentes formas: trinta anos gloriosos, para dos franceses, “Era de 
ouro de um quarto de século dos anglo-americanos” (HOBSBAWM, p. 253). 
Na transição dos anos 1970/1980, o mundo capitalista vivencia o esgotamento 
do padrão de acumulação e de gestão da força de trabalho destes anos dourados, 
baseado no modelo fordista-taylorista de organização da produção e de gestão do 
trabalho
2
. Assim, no debate deste padrão de acumulação constituem-se bases para a 
crise do capital, que explode com maior intensidade e radicalidade no século XXI. De 
fato, os níveis de lucratividade não estavam satisfazendo os anseios do capital, no 
sentido de assegurar sua reprodução ampliada e o domínio do grande capital no jogo 
concorrencial capitalista. 
A rigor, no seu modo de funcionamento, o capitalismo vivencia ciclos 
expansivos intercalados por períodos de crise. Brussi (2011), a partir das formulações 
 
2 Ainda que os termos taylorismo e fordismos sejam eivados de imprecisões, como destaca Lihart (2007). 
O termo fordista é utilizado para designar a empresa organizada a partir da lógica imposta pela cadeia de 
produção, enquanto fordismo refere-se à filosofia econômica e social elaborada por Henry Ford ou ainda 
para fazer referência ao modelo proposto pelos economistas franceses da Escola da Regulação. Quanto 
ao termo taylorismo, Linhart (2007) questiona se e em que situações o mesmo é utilizado para referir-se 
ao pensamento e aos princípios elaborados por Taylor ou às diversas aplicações de tais princípios em 
contextos particulares. Finalmente, adverte a autora sobre a necessidade de se levar em conta a 
“defasagem” entre as prescrições dos inventores e as aplicações dos princípios enunciados, contestando a 
ideia de um “modelo puro”, de fácil definição e alcance. 
20 
 
de Arrighi (1996), refere-se a ciclos sistêmicos e sucessivos de acumulação, baseados na 
formação de blocos territoriais capitalistas, cada vez mais poderosos, no sentido de “[...] 
ampliar ou aprofundar o alcance espacial e funcional da economia mundial capitalista” 
(ARRIGHI 1996, p. 369, apud BRUSSI, 2011, p. 383). Neste sentido, é que se 
delimitam, ao longo da história, distintos agrupamentos, com a dominação de 
determinados países, em um jogo de recomposição permanente na geopolítica, em 
escala mundial. No século XX, constitui exemplo emblemático a “Guerra Fria”, que 
opunha um bloco de países liderados pelos Estados Unidos da América (USA), a outro, 
sob o comando da, então, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). No final 
do século XX, com a crise estrutural do capital, os EUA assumem a dominância do 
sistema do capital, nos marcos do imperialismo, com papel de destaque nos processos 
de financeirização. Com a atual crise, a posição unipolar de hegemonia dos EUA é 
fortemente questionada, emergindo novas forças,a exemplo do papel da China. 
De fato, no trânsito dos anos 1960 para os anos 1970, a acumulação flexível em 
curso nos países centrais do capitalismo, com base no sistema Toyota e nos processos 
de reestruturação produtiva, possibilitou alavancar novos ciclos de crescimento 
econômico, deixando antever o desenvolvimento de um período “fasto”. Para se efetivar 
este novo padrão de acumulação pressupunha o aprofundamento do processo de 
mundialização do capital, com aberturas das fronteiras
3
 e ajustes no aparato estatal, 
inclusive, nas legislações protetivas do trabalho
4
. Cassar (2010, p. 8) apresenta a 
“globalização” como “[...] um processo de aceleração da economia, prestigiando os 
países capitalistas [centrais]”, por meio do qual o produtor compra a matéria prima em 
qualquer parte do globo, onde houver melhores preços, qualidade e condições de 
pagamento, ou ainda, instala suas fábricas em países em que o custo da força de 
trabalho é mais baixo, passando a vender sua mercadoria em melhores condições de 
competitividade no mercado mundial. Há, ainda, a compra de componentes fabricados 
 
3 A quebra de barreiras entre os países para permitir o livre fluxo de mercadorias e capitais, as fusões de 
empresas, a expansão mundial das grandes corporações, com papel distinto das finanças no jogo 
geopolítico internacional são características da globalização/mundialização da economia. Tudo isto foi 
“azeitado” pela ideologia neoliberal, que questiona o papel dos Estados nacionais, mas não abre mão de 
sua intervenção como patrocinador e mesmo gerente do processo de acumulação rentista (CARVALHO 
et al., 2016) 
4 Regulação e legislação trabalhista são revistas à baixa e, nos últimos dias, está em pauta novas 
mudanças que descaracterizam a Consolidação das Leis Trabalhistas, em vigor no País. 
21 
 
por empresas autóctones, eximindo-se, da gestão de parte da força de trabalho, 
tendência crescente em determinados setores, a exemplo da microeletrônica. Todavia, 
estes processos de reestruturação e ajuste não foram capazes de conter a crise estrutural 
do capital. 
Um conjunto de transformações econômicas caracteriza a “mundialização 
capitalista”, nos termos empregados por Jules Falquet (2008), compreendendo 
hipertrofia da economia e crescimento vertiginoso da desigualdade entre pobres e ricos, 
via processos de espoliação, além de desmantelamento das bases constitutivas do antigo 
pacto socialdemocrata do Estado Social ou WelfareState e das formas clássicas de 
emprego, com a criação da “mão de obra livre” e a ampliação de um novo mercado de 
trabalho transnacional e informalizado. Deste modo, a mundialização tem levado, ao 
mesmo tempo, à internacionalização do mercado de trabalho e a uma crescente 
“ilegalização-informalização”. Segundo a autora, em termos concretos, 
 
[...] a maior parte das pessoas que enriquecem são homens, 
adultos ou idosos de classes superiores, em sua maioria, de cor 
branca e/ou ocidentais, mas não unicamente, enquanto aquelas 
que se encontram mais pauperizadas são principalmente 
mulheres, meninas e jovens, camponesas, operárias, em geral, 
dos países do Sul e mestiças, apesar de muitos homens do Sul 
serem também atingidos [por estes processos] (FALQUET, 
2008, p. 29, tradução livre) 
Uma dimensão específica do ajuste ao capital mundializado, nos chamados 
países periféricos, pode ser identificada em economias, como a brasileira, que passam a 
apostar na via da produção de commodities, especialmente no setor agrícola 
(fruticultura, agricultura irrigada, soja e laranja) e na exploração de 
commoditiesminerais, sobretudo, minério de ferro, alumínio e petróleo em processos de 
intensivos de extrativismo, com a reprimarização da pauta de exportação. Essa inserção 
subordinada ao processo de mundialização alia-se à estratégia de atração de capitais 
especulativos, numa integração dependente e subordinada aos processos de acumulação 
rentista. É o caso, especificamente, do Brasil do ajuste, ao investir na sua condição de 
“plataforma emergente de valorização financeira”, praticando as maiores taxas de juros 
do mercado, atraindo capitais especulativos e voláteis, deixando a economia ao sabor 
dos movimentos do mercado financeiro internacional (CARVALHO et al., 2016). 
22 
 
As crises
5
 se apresentaram cada vez mais graves e recorrentes. Estas são tidas 
como “crises cíclicas”, a compor a própria dinâmica de reprodução ampliada do capital. 
Ao longo da história, as saídas, ou tentativas de enfrentamento das crises, abriram 
períodos mais ou menos longos de crescimento econômico, e, ao mesmo tempo, 
evidenciaram, de modo ampliado, contradições que marcam o sistema do capital. Em 
geral, as saídas para tais crises têm resultado em ampliação dos níveis de extração de 
sobre-trabalho, ou de mais-valia, via intensificação da exploração do trabalho (BRAZ, 
2012). 
A crise desencadeada nos últimos decênios do século XX não se expressou 
como crise cíclica, levando importantes intelectuais a nominarem-na como crise 
estrutural (MESZAROS, 2010; BRAZ, 2012). Por que Mészaros a designa crise 
estrutural? Devido ao seu caráter universal, afetando todas as esferas da economia, da 
produção, à circulação de mercadorias, das finanças aos diferentes tipos de trabalho; por 
seu alcance, ou seja, por atingir o conjunto das econômicas do globo, diferindo das 
crises anteriores, restritas a determinados lugares ou conjuntos particulares de países; 
por apresentar escala de tempo extensa, contínua e, mesmo, permanente, contrapondo-se 
ao caráter cíclico das crises anteriores; finalmente, Meszaros (2010) destaca o caráter 
“rastejante” ao se referir a seu modo de se desenvolver, contrastando com colapsos 
espetaculares e dramáticos que marcaram as anteriores crises cíclicas. Observa o papel 
da “complexa maquinaria” a serviço da “administração da crise”, a promover o 
deslocamento mais ou mesmo temporário das contradições engendradas no processo de 
acumulação. Nos termos utilizados por David Harvey (2008), o modo de produção 
capitalista baseia-se em processos de acumulação por espoliação
6
, por meio dos quais 
 
5 No seu modo de se reproduzir de forma ampliada, o capital experimenta crises mais ou menos profundas 
e mais ou menos duradouras, intercalando períodos de crescimento econômico com períodos de 
turbulência e crise, levando Mandel a designar como “crises cíclicas” de acumulação, como característica 
inerente ao desenvolvimento capitalista, como se ele se alimentasse de suas próprias crises para alavancar 
novos ciclos de crescimento econômico, introduzindo mudanças, na produção, circulação e no consumo 
de mercadorias, engendrando novas necessidades, para aquecer e fazer girar a roda do processo de 
acumulação. 
6 Ao analisar os processos de acumulação por espoliação, Harvey (2010) refere-se a ajustes “ajustes 
espaço-temporais”, fundados na sobre acumulação, que ocorrem em um determinado sistema territorial, 
implicando em “[...] excedente de trabalho (crescente desemprego) e excedente de capital 
(superabundância de mercadorias no mercado que não pode se vender sem perdas)”; Ou seja, no segundo 
23 
 
“fagocita” territórios, empreendendo processos de exploração e expropriação de 
trabalhadores, de reservas naturais, na busca incessante de manter seu domínio, em 
escala global. 
Meszaros (2010) chama a atenção para o caráter destrutivo da produção 
capitalista, com suas “[...] tendências altamente destruidoras da natureza, que concorrem 
até mesmo para criar sérios obstáculos à própria reprodução da vida social”, consistindo 
esta em uma das características inerentes ao sistema sociometabólico do capital. Tal 
característica soma-se ao esgotamento de seus “mecanismos estruturais de 
autorregulação”, fazendo sobressair o “caráter permanente da crise emdetrimento da 
sua forma cíclica de se expressar, prevalente até os anos 1970”, como sintetiza Braz 
(2012, p. 470-71). 
Ao buscar apreender a dinâmica do desenvolvimento do capitalismo no atual 
tempo histórico, Braz (2012) aponta que, a partir de 2008, a essência da crise do capital, 
não difere das crises anteriores atravessadas pelo sistema capitalista, que se estruturava 
desde a grande crise de 1873, apresentando traços próprios do estágio imperialista. Na 
expressão do autor, a crise atual também “[...] é movida pela natureza contraditória do 
desenvolvimento capitalista que, ao potencializar seu processo de reprodução ampliada 
[...] reproduz os fatores que exponenciam suas contradições e acionam crises” (BRAZ, 
2012, p. 470). Ou seja, permanecem além da contradição central - produção social e a 
apropriação privada - o caráter anárquico da produção, gerando superprodução de 
mercadorias/subconsumo por parte das massas trabalhadoras; o crescimento da 
produtividade do trabalho; a intensificação dos ritmos de trabalho e o encurtamento do 
tempo de trabalho necessário, com o incremento de tecnologias, da automação, da 
informatização dos processos de trabalho e das modalidades de gestão, a potencializar a 
tendência à queda da taxa média de lucros; o crescimento da população sobrante e de 
 
fundamento, identifica-se capacidade produtiva inutilizada, e/ou excedentes de capital, dinheiro, em busca 
de oportunidades de investimento produtivo e rentável. Tais excedentes podem ser absorvidos por meio 
de: (a) deslocamento temporal através dos investimentos de capital em projetos de longo prazo ou gastos 
sociais (tais como educação e pesquisa), os quais jogam para o futuro a entrada em circulação dos 
excedentes de capital atual; (b) deslocamentos espaciais através da abertura de novos mercados, novas 
capacidades produtivas e novas possibilidades de recursos e trabalho em outros lugares; ou (c) alguma 
combinação de (a) e (b). Assim, determinado território ou espaço que não desperta interesse ao grande 
capital, pode passar a lhe interessar em dado momento, atraindo capitais de setores da economia, para 
atividades com investimentos em maiores ou menores prazos. 
24 
 
uma massa de capitais excedentes que enfrentam dificuldades para se valorizar. Alias, é 
parte destes capitais excedentes, na busca frenética por valorização, que alimenta e 
constitui o substrato do processo de financeirização da economia, que se aprofunda nas 
últimas décadas. 
Com efeito, a crise de 2008 é emblemática de um período, em que as 
transformações no próprio sistema sóciometabólico do capital se aprofundam, com “[...] 
o desenvolvimento sem limites e sem controle da ciência e da tecnologia, apartado das 
necessidades humanas e desconectado da ética da sustentabilidade”, configurando-se 
como um novo momento do desenvolvimento do capitalismo, marcado por importantes 
mudanças nos padrões de acumulação e de valorização do trabalho, consubstanciadas na 
chamada “financeirização da economia”. Ocorrem, então, processos de “[...] expansão 
sem limites da riqueza abstrata, a impor ciclos de ajuste aos diferentes países, a partir da 
sua posição na divisão internacional do sistema do capital” (CARVALHO & GUERRA, 
2016, p.?). A crise que eclode em 2008, ou melhor, suas expressões mais evidentes, 
constituem a ponta do iceberg de um amplo e complexo sistema em crise, apresentando 
caráter duradouro, exprimindo-se em “[...] períodos menos espaçados (e sem ondas 
longas expansivas), alternando períodos (espasmódicos) de crescimento, auge, 
recessão/depressão, retomada”, como analisa BRAZ (2012, p. 471). 
É neste cenário mundial de crise do capital que situamos o processo de inserção 
do Brasil no capitalismo globalizado, com nítidas repercussões sobre a sociedade em 
geral e sobre o trabalho, em particular. Na sua condição de economia periférica e, 
seguindo os ditames do consenso de Washington, na transição para a democracia, 
1980/1990, o Brasil vivencia a confluência contraditória, de processo de 
democratização, com processo de ajuste, nos termos de Carvalho (2012). A experiência 
brasileira do ajuste, em um cenário global de capitalismo em crise, aprofunda tendências 
históricas de dependência e subordinação à dinâmica de reprodução do capital, 
produzindo, repercussões sobre a precarização das relações e condições de trabalho, 
com particularidades inerentes à nossa formação sócio histórica
7
. Tais repercussões são 
 
7 De acordo com o IBGE (2015), no Brasil, nos últimos dez anos, o mercado de trabalho tem apresentado 
algumas mudanças estruturais, com aumento da taxa de formalização, redução da taxa de desocupação, 
expansão da renda do trabalho e da massa de rendimentos, evolução real do salário mínimo, redução das 
desigualdades entre estratos de renda, dentre outras, diferenciando este período do observado na década 
de 1990. Os efeitos da crise de 2008-2009 são considerados “transitórios” se comparados á realidade de 
25 
 
observadas em todos os setores da economia e afetam de forma singular os 
trabalhadores, nas mais diversas áreas de ocupação e atuação profissional. 
Como destacam Cherchiglia & Dallari (1999), este cenário de importantes “[...] 
transformações na relação Estado-sociedade-economia, engendradas pelo processo de 
“globalização econômica” tem levado à reestruturação política e econômica dos países, 
com reflexos sobre o papel do Estado e consequentemente sobre o setor saúde” (1999, 
p. 66). 
Para apreender as configurações atuais do trabalho em meio à crise vivenciada 
em escala global e suas particularidades no contexto brasileiro contemporâneo é 
indispensável fazer um recuo no tempo, revistar nossa história de desenvolvimento do 
capitalismo e das relações de trabalho no País, identificar dimensões e especificidade, 
que atuam como condicionantes da conformação do “precário mundo do trabalho” e de 
suas expressões do setor saúde. 
 
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 
Este item está estruturado seguindo a ordem dos objetivos da pesquisa 
apresentados no item 2 deste relatório. 
 
Objetivo 1: Mapear as Ocupações em Saúde em Processo de Regulamentação 
no Congresso Nacional Brasileiro. 
O exame das proposições que visavam à regulamentação de ocupações, no 
período considerado pela pesquisa, revelou realidade já conhecida: um grande número 
de ocupações, dos mais variados setores da atividade laboral, buscam, pela via 
legislativa, a regulamentação de suas respectivas atividades (ver Quadro 1 no final deste 
item Objetivo 1). 
 
outros países. Todavia, relatório da OIT (2015) ao analisar os últimos seis anos, já indica mudanças neste 
quadro, com o crescimento do desemprego e desaceleração da economia em países emergentes, da 
América Latina e do Caribe, a exemplo do Brasil. A OIT estima que o crescimento médio anual de 3,7%, 
entre 2003 e 2012, na América Latina, foi impulsionado principalmente pelo crescimento das exportações 
agrícolas e de minerais, associada ao aumento do preço das commodities, disponibilidade de fluxos de 
capitais e aumento da demanda doméstica (IBGE, 2015). 
26 
 
As evidências dessa busca ficam evidentes diante de variedade de ocupações que 
foram objeto de tentativas de regulamentação pela via legislativa. 
Procuraram “ascender ao nirvana da regulamentação”, nas palavras de Coelho 
(opcit, p.32), ocupações tão inusitadas quanto: narradores de rodeio, disc-jóqueis, 
despachantes, manobristas e tantas outras. 
Como destacado acima, no âmbito da democracia, é legítimo que sepleiteie a 
proteção do Estado para o exercício ocupacional. Verifica-se, contudo, que a via 
legislativa, como forma, ao que parece, exclusiva, e não como forma terminativa para a 
regulamentação profissional, não é eficaz. Isso porque a grande maioria das proposições 
sequer é apreciada de forma completa, dormitam nos escaninhos do Parlamento e boa 
parte é arquivada ao final das legislaturas. 
Servem, apenas e tão-somente, para atender demandas de corporações ou grupos 
por parte dos “padrinhos” parlamentares, citados anteriormente. Os primeiros, 
empenhados em obter ou confirmar a liderança ou legitimidade frente a seus pares. 
Estes, por sua vez, objetivam atender a demandas a eles apresentadas numa perspectiva 
de criar ou agradar a uma clientela e, adicionalmente, engordar o seu “currículo” de 
proposições apresentadas, já que alguns órgãos de imprensa avaliam os parlamentares 
pela quantidade de projetos apresentados. 
A demanda encontrada não é, tampouco, indicativa de qualquer resquício de 
planejamento ou de reconhecimento da essencialidade da proteção regulatória, pois não 
emana de ação de órgão ou colegiado do Poder Executivo, quer como diretriz da 
atuação permanente do Estado, quer como uma ação oriunda de concepção 
governamental. 
Na verdade, denota a superficialidade do processo legislativo no Brasil, pois um 
parlamentar pode apresentar a matéria que lhe aprouver, mesmo que já haja outras 
idênticas ou correlatas em tramitação, mesmo absolutamente injurídica, atrasando a 
própria tramitação, obstruindo o processo parlamentar e demandando esforços de toda a 
estrutura burocrática e legislativa do parlamento. 
Se essa é uma constatação possível a partir do conjunto de demandas 
regulatórias, também o é para o subgrupo das demandas de regulação de ocupações em 
saúde. 
Das 43 ocupações encontradas e listadas na Tabela 1, 20 (46,5%) foram relativas 
a ocupações de nível superior; 14 (32,6%) de nível técnico, oito (18,6%) de ocupações 
em que uma habilitação seria exigível e uma (2,3%) em que não há qualquer definição 
27 
 
de formação, sendo esta última, na verdade, uma proposição que pretende apenas a 
concessão de aposentadoria especial para a categoria de motoristas de ambulância. 
Observa-se, assim, uma coincidência relativamente a estudo anterior (GIRARDI, 
FERNANDES JÚNIOR & CARVALHO, 2010) em que a maior parte das demandas 
(48%, quase a metade, portanto) era de ocupações de nível médio ou “elementar”, 
conforme denominação que se utilizava à época. 
Ao longo dos dezesseis anos investigados, a quase totalidade das proposições foi 
de autoria de parlamentares. O Poder Executivo encaminhou um único projeto para 
apreciação do Legislativo: o relativo à regulamentação da profissão de agente 
comunitário de saúde, que deu origem à Lei nº 10507, de 2002, mais tarde revogada e 
substituída pela Lei nº 11.530, de 2006, fruto de conversão de Medida Provisória. 
Destaque-se que o envio do citado projeto pelo Executivo só se deu após várias 
proposições apresentadas por parlamentares terem avançado em sua tramitação e 
estarem a ponto de serem aprovadas, ou seja, uma ação apenas reativa diante da 
consumação de um fato. Havia, então, expressiva expansão dessa ocupação por todas as 
unidades federadas, em virtude da implantação progressiva do Programa de Saúde da 
Família, e paralelamente, uma indefinição sobre o vínculo empregatício desses 
trabalhadores, com multiplicidade de situações, precariedade, ilegalidades gerando um 
quadro que poderia ser definido como selvagem (Nogueira, Silva e Ramos, 2000). 
Além desse, o único projeto que logrou ser aprovado foi o relativo à 
regulamentação do exercício da profissão de Musicoterapeuta, que, no entanto, foi 
integralmente vetado pelo Executivo. Tal fato demonstra que a via parlamentar é de 
baixíssima eficácia para a consecução do objetivo de regulamentação profissional. 
Dentre as propostas de regulamentação para ocupações de nível fundamental ou 
médio com previsão de “habilitação”, ou seja, de formação em cursos, em geral de curta 
duração e não necessariamente concomitantes à formação escolar, encontram-se, na 
verdade, funções exercidas habitualmente por trabalhadores sem formação específica, 
como as de atendente de pessoa com deficiência, cuidador de idosos e atendente de 
farmácia e drogaria. Se os trabalhadores desses setores receberem uma formação 
específica, evidentemente serão mais adequados ao desempenho de suas funções, mas o 
mercado de trabalho, ao que tudo indica, absorve e deverá continuar absorvendo pessoas 
sem formação. Por outro lado, não se configuram, no exercício dessas funções, os 
imperativos de proteção da saúde ou de bem-estar públicos, destacados anteriormente 
como justificativa para a regulamentação profissional. 
28 
 
Já os agentes comunitários, os agentes de saúde e meio ambiente — expansão do 
alcance do trabalho dos agentes de saúde, incorporando funções relacionadas ao meio 
ambiente — e podólogos, desempenham funções que demandam conhecimentos 
específicos e que podem ter consequências sanitárias. Devem, assim, ter, como os 
agentes de saúde têm, sua formação prevista em regulamento, não necessariamente uma 
lei. 
A questão das parteiras tradicionais é diversa. Trata-se de atuação muitas vezes 
não ocupacional, mas comunitária. As proposições que visam a regulamentar essa 
função foram sempre apresentadas por parlamentares de unidades da federação onde o 
trabalho delas é relevante, mas permanecem sem apreciação. Parece, nesse caso, haver 
um evidente desconforto de negar às parteiras a regulamentação, mas, ao mesmo tempo, 
a convicção que não é cabível a profissionalização dessa função. Em 2009, (BRASIL, 
2009), houve manifestação expressa de oposição ao projeto por parte de representante 
do Ministério da Saúde. 
As ocupações de nível técnico ou médio contam com algumas situações 
inusitadas, como a previsão de sanitarista de nível técnico para atuação em unidades de 
saúde, sendo que é desconhecida a procura por esse técnico no âmbito das Secretarias 
de Saúde e até mesmo sua formação. 
Há, ainda, outra situação sem precedentes no que concerne a acupunturistas e 
terapeutas naturistas. As propostas de regulamentação para ambas as ocupações 
preveem formações de nível técnico e superior, tanto para acupunturistas, como para os 
terapeutas naturistas. Assim, teríamos profissionais regulados na mesma legislação e 
com as mesmas atribuições para formandos em nível técnico e superior. 
Para as demais ocupações de nível técnico, evidencia-se que há nitidamente dois 
grupos. O primeiro grupo em que deve prevalecer uma definição pelo Estado de 
formação — credencialismo educacional — e, ainda, contar com proteção ao mercado 
de trabalho, porquanto se situam no rol de funções cujo “exercício afeta profundamente 
a saúde pública, a segurança e o bem-estar do público”. 
Fazem parte desse grupo as ocupações técnicas, e destacamos as que foram 
objeto de iniciativas de regulamentação segundo a pesquisa realizada: esteticista e 
cosmetologista, instrumentador, massagista, protesista/ortesista, técnico em gasoterapia, 
em nutrição e dietética e radiologia. 
Releve-se que seria necessário esclarecer a efetiva pertinência da formação de 
nível técnico para o exercício de tais ocupações antes de sua regulamentação. 
29 
 
O outro grupo identificado, entretanto, não se encontra inserido no mesmo 
patamar. É bastante evidente que não se pode situar analistas de contas de saúde, 
conselheiros em dependência química, faturistas de contas de saúde em casos de 
relevantes interesses para a saúde ou bem públicos. 
No rol de ocupações de nível superior, observam-se as que já de há muito 
pleiteiam regulamentação legal. É o caso de optometristas, ortoptistas e 
osteopatas/quiropráticos que periodicamente têm sido contemplados com iniciativas 
para a regulamentação legislativa. Destaque-se que no caso dosortoptistas a primeira 
proposição data de 1968. 
No que concerne aos terapeutas ocupacionais, há o pleito, igualmente recorrente, 
não de regulamentação, mas de uma separação entre fisioterapeutas e aqueles 
profissionais, pois as duas profissões foram regulamentadas em norma conjunta, em 
1969. 
Evidencia-se, ainda, a situação dos bacharéis e tecnólogos em radiologia cuja 
atuação possui interseção com a tradicional ocupação de técnico em radiologia. A partir 
de sua ascensão à formação de nível superior, os graduados nessas áreas passaram a 
pleitear autonomia e autorregulação em conflito com os técnicos, por um lado, e 
médicos radiologistas, por outro. 
Outra circunstância é a representada por ocupações que se estabeleceram em 
larga escala como especialidades, exercidas por profissionais de saúde ou não, mas que 
guardam relação estreita com o setor. Nesse conjunto identificam-se psicanalistas, 
psicomotricistas, psicopedagogos, musicoterapeutas, arteterapeutas, acupunturistas, 
gerontólogos, naturólogos, terapeutas naturistas, terapeutas, gestores de serviços de 
saúde e sanitaristas. 
O denominador comum de tais ocupações é justamente a sua interface — e, a 
partir dessa interface, seu campo de conflito interprofissional — de saberes, práticas e 
atuações no mercado de trabalho. Nesse grupo, podemos identificar interseções entre 
profissões e ocupações estabelecidas, especialidades tradicionalmente obtidas em níveis 
de pós-graduação, práticas ditas alternativas, mas que em muitas situações são exercidas 
por médicos, psicólogos e fisioterapeutas, assim como por assistentes sociais e 
administradores. 
Na demanda de regulamentação profissional de ocupações de nível superior, 
portanto, constata-se a emergência de pleitos que, em parte, estão relacionados a novas 
propostas educacionais, em nível de graduação, oriundas das diretrizes e bases 
30 
 
educacionais que preveem formação de tecnólogos, e derivam de avanços tecnológicos 
do setor. 
Constata-se, igualmente, que outra parte relaciona-se à emergência de novas 
situações sociais e demográficas, com a conformação de áreas de conhecimento mais 
específicas, mercado de trabalho próprio e formação de recursos humanos em nível de 
graduação. 
Estas, verdadeiramente “novas ocupações” não se confundem com pleitos 
relacionados no mesmo grupo, mas que se situam entre as práticas alternativas e as de 
formação em nível de pós-graduação acessível aos graduados de vários cursos. 
O quadro 1, apresentado a seguir, mostra a relação das ocupações levantadas nas 
bases de dados do Congresso nacional. 
Nº OCUPAÇÃO FORMAÇÃO 
1 Acupunturista Superior 
2 Agente Social de Saúde e Meio Ambiente Fundamental + habilitação 
3 Analista de Contas da Saúde*1 Técnico 
4 Arteterapeuta Superior 
5 Atendente Pessoal de Pessoa com Deficiência Fundamental + habilitação 
6 Auditor de Contas da Saúde*1 Superior 
7 Auxiliar de Farmácias e Drogarias Médio + habilitação 
8 Bacharel em Ciências Radiológicas*2 Superior 
9 Conselheiro em Dependência Química Técnico 
10 Cuidador de pessoa idosa Fundamental + habilitação 
11 Esteticista e Cosmetologista Técnico 
12 Faturista de Contas da Saúde*1 Técnico 
13 Gerontólogo Superior 
14 Gestor de Serviços de Saúde Superior 
15 Instrumentador. Técnico 
16 Massagista Técnico 
17 Motorista de Ambulância Fundamental*
4
 
31 
 
18 Musicoterapeuta Superior 
19 Naturólogo Superior 
20 Optometrista Superior 
21 Ortoptista Superior 
22 Osteopata Superior 
23 Parteira tradicional. Fundamental + habilitação 
24 Perfusão Cardiocirculatória e Respiratória Superior + especialização 
25 Podólogo Médio + habilitação 
26 Protesista/Ortesista Técnico 
27 Psicanalista Superior + especialização 
28 Psicomotricista Superior 
29 Psicopedagoo Superior 
30 Quiropraxista. Superior 
31 Sanitarista*
3
 Superior 
32 Técnico em Gasoterapia Técnico 
33 Técnico em Nutrição e Dietética Técnico 
34 Técnico em Óptica Técnico 
35 Técnico em Radiologia*2 Técnico 
36 Técnico Esteticista e Cosmetologista*
3
 Técnico 
37 Técnico Sanitarista*
3
 Técnico 
38 Tecnólogo em Radiologia*2 Superior 
39 Tecnólogo Esteticista e Cosmetologista*
3
 Superior 
40 Terapeuta em Dependências Químicas Técnico 
41 Terapeuta Naturista Médio ou Superior*
5
 
42 Terapeuta ocupacional. Superior 
43 Terapeutas*
6
 Técnico*
7
 
 
*1 As três ocupações estão inseridas no mesmo Projeto que trata de "Operadores de Contas da Saúde." 
32 
 
*2 As três ocupações estão inseridas no mesmo Projeto. 
*3 As duas ocupações estão inseridas no mesmo Projeto. 
*4 A proposição não prevê grau de escolaridade ou habilitação. Presume-se que Ensino Fundamental seria 
exigível. 
*5 O Projeto admite o reconhecimento de pessoas com formação em cursos de "nível médio ou de 
graduação". 
*6 O Projeto engloba na qualificação de "Terapeutas" uma lista de práticas alternativas: Acupuntura 
(sistêmica, estética facial e corporal), Alexander, Auriculoterapia, Antroposofia, Ayurvédica (Terapia 
Ayurvédica), Apiteria, Aromaterapia, Bioenergética, Cinesoterapeuta, Crânio-sacral, Cromoterapia, Chi 
Kun ,Do-in, Fitoterapia, Fitoterapia chinesa, Eutonista, Estética (Estética facial e corporal), Florais 
(Terapia Floral), Geoterapia, Hemoterapia 
 
Objetivo 2: Identificar as Ocupações em Saúde em Processo de 
Regulamentação no Congresso Nacional Brasileiro que Possuem Código na CBO. 
Ao estudar o surgimento de novas ocupações no setor saúde a partir dos anos 
2000, é importante ter em mente que este é um período de inflexão generalizada dos 
principais indicadores de mercado de trabalho, comparativamente à tendência vigente 
na década anterior: as taxas de desemprego recuaram rapidamente, atingindo níveis 
muito baixos para os nossos padrões históricos; o emprego com carteira de trabalho 
assinada, assim como o emprego público, avançaram, contribuindo para uma redução 
significativa dos indicadores tradicionais de informalidade; por fim, o rendimento 
médio real do trabalho aumentou, ao passo que a desigualdade na distribuição da renda 
do trabalho diminuiu. Nesse sentido, pode-se afirmar que o mercado de trabalho 
brasileiro avançou em seu processo de estruturação entre meados dos anos 2000 e 2014, 
ainda que os seus problemas estruturais tenham persistidos. 
A reconfiguração do mercado de trabalho brasileiro foi fruto do maior 
crescimento econômico observado no período, reflexo, em um primeiro momento, de 
um cenário externo bastante favorável, com destaque para o crescimento da economia 
chinesa e o aumento da demanda e dos preços das commodities. Em um segundo 
momento, porém, houve um deslocamento do motor do crescimento econômico para o 
mercado interno, estimulado pelo aumento do mercado de consumo – com destaque 
para as políticas de valorização do salário mínimo e de transferência de renda – e dos 
investimentos, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 
A tabela 1 sintetiza a evolução dos principais indicadores de mercado de 
trabalho no Brasil entre 2003 e 2014. 
 
33 
 
 
Tabela 1: Indicadores de mercado de trabalho, Brasil – 2003/2009/2013/2014. 
 
Indicador 2003 2009 2013 2014 
Taxa de desemprego (%) 9,7 8,3 6,5 6,9 
Taxa de informalidade (%)
1
 54,4 48,2 43,3 44,4 
Rendimento médio do trabalho (R$) 1.247 1.494 1.772 1.785 
Índice de Gini
2
 0,553 0,516 0,494 0,489 
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. IBGE. 
1(Empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria + não-remunerados) / (trabalhadores 
protegidos + empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria + não-remunerados + 
empregadores). 
2O índice varia de 0 a 1 e indica maior desigualdade quanto mais próximo da unidade. 
Feita a contextualização geral do comportamento do mercado de trabalho 
brasileiro no período recente, convém ater-se à análise do emprego em atendimento à 
saúde e ao surgimento de novas ocupações no setor. Em uma concepção restrita, pode-se afirmar que o mercado de trabalho no setor saúde reunia, em 2015, aproximadamente 
3,2 milhões de vínculos empregatícios, o que representava 6,6% do mercado de trabalho 
formal brasileiro, estimado em 48,1 milhões de vínculos
8
. 
Do total de vínculos empregatícios reunidos no setor saúde, uma grande parte 
diz respeito às ocupações consideradas tradicionais do setor, como médicos, 
odontólogos e enfermeiros. Porém, é crescente a importância, em termos relativos e 
absolutos, das novas ocupações no mercado de trabalho do setor. 
A tabela 2 foi elaborada com base nas ocupações inseridas na CBO a partir de 
2002 e, de modo complementar, a partir das iniciativas de regulamentação de novas 
profissões em tramitação no Congresso Nacional. 
Nela, estão elencadas 30 ocupações, que, juntas, reuniam, em 2015, 
aproximadamente 241,1 mil de vínculos de emprego. Comparativamente ao ano de 
 
8 Consideraram-se como pertencentes ao setor saúde, os vínculos empregatícios classificados nos 
seguintes códigos CNAE: Atendimento hospitalar (8610-1); Atendimento a urgências e emergências 
(86216); Serviços de remoção de pacientes (86224); Atenção ambulatorial executada por médicos e 
odontólogos (86305); Serviços de complementação diagnóstica e terapêutica (86402); Outros 
profissionais da saúde (86607); Outras atividades relacionadas com atenção à saúde (75001). Ademais, 
considerou-se um conjunto de ocupações vinculadas ao setor saúde e que se abriga na seção O da CNAE, 
Administração Pública, Defesa e Seguridade Social. Nessa estimativa não foram contempladas, portanto, 
as atividades que comporiam o que se chama na literatura especializada de “macro setor saúde”, como as 
atividades industriais, de comercialização, de financiamento e de saneamento. 
34 
 
2003, observa-se que esse conjunto de ocupações mais do que triplicou de tamanho, ao 
tempo que assinalou uma taxa de crescimento muito superior à verificada no mercado 
de trabalho geral (239,0% contra 62,7%). 
Em termos absolutos, destacam-se as seguintes ocupações: técnico em radiologia 
e imagenologia (59,8 mil ocupações); visitador sanitário (39,1 mil) e cuidador de idosos 
(28,3 mil). Além disso, convém notar que entre 2003 e 2015 praticamente todas as 
ocupações assinalaram um crescimento significativo; muitas delas, por sinal, sequer 
eram classificadas de acordo com a CBO no ano de 2003. Por outro lado, registraram 
um decréscimo no período em análise os auxiliares de saúde (navegação marítima) (-
37,5%), os técnicos em métodos gráficos em cardiologia (-21,4%) e, em menor medida, 
os técnicos em ortopedia (-7,5%) (Tabela 02). 
 
Tabela 2: Total de Vínculos Empregatícios, Segundo Códigos CBO Selecionados, 
Brasil – 2003/2015 
 
Ocupações 2003 2015 Variação 
Estoque total 29.544.927 48.060.807 62,7% 
Total das ocupações 71.119 241.108 239,0% 
Técnico em radiologia e imagenologia 20.950 59.859 185,7% 
Visitador sanitário 17.991 39.119 117,4% 
Cuidador de idosos 2.802 28.349 911,7% 
Agente de defesa ambiental 9.292 19.176 106,4% 
Gerente de serviços de saúde 3.994 17.635 341,5% 
Esteticista 0 10.240 - 
Biomédico 0 8.689 - 
Socorrista (exceto médicos e enfermeiros) 0 8.393 - 
Diretor de serviços de saúde 5.476 7.419 35,5% 
Terapeuta ocupacional 0 7.066 - 
Técnico em óptica e optometria 1.694 5.724 237,9% 
Instrumentador cirúrgico 1.700 5.409 218,2% 
Cuidador em saúde 0 3.512 - 
Massoterapeuta 0 3.287 - 
Agente indígena de saúde 0 2.121 - 
Agente indígena de saneamento 0 1.876 - 
Podólogo 451 1.782 295,1% 
Psicopedagogo 272 1.771 551,1% 
Técnico de ortopedia 1.637 1.515 -7,5% 
Monitor de dependente químico 0 1.323 - 
Técnico em métodos eletrográficos em 
encefalografia 
877 1.227 39,9% 
Dietista 986 1.205 22,2% 
35 
 
Técnico em acupuntura 638 1.119 75,4% 
Tecnólogo em radiologia 0 932 - 
Técnico em métodos gráficos em cardiologia 1.040 817 -21,4% 
Auxiliar de saúde (navegação marítima) 1.264 790 -37,5% 
Tecnólogo em sistemas biomédicos 0 260 - 
Terapeuta holístico 0 233 - 
Ortoptista 0 146 - 
Técnico em quiropraxia 55 114 107,3% 
Fonte: RAIS/MTE. Elaboração própria. 
 
Uma característica importante do mercado de trabalho do setor saúde é a maior 
participação feminina comparativamente à situação observada no mercado de trabalho 
geral, conforme foi apontado na seção 3. Estima-se que, em 2015, cerca de ¾ dos postos 
de trabalho no setor saúde eram ocupados por mulheres. 
Na tabela 3, observa-se que 21 ocupações possuem uma representação feminina 
maior que a masculina. Além disso, metade dessas ocupações apresenta uma 
preponderância da mão de obra feminina superior à encontrada atualmente no setor 
saúde, o que sugere que, caso essas ocupações mantenham a sua tendência de 
crescimento de importância dentro do setor, reforçará a feminização desse segmento do 
mercado de trabalho brasileiro. 
Por outro lado, destacam-se como ocupações preponderantemente masculinas os 
agentes indígenas de saneamento, os monitores de dependentes químicos e os técnicos 
de ortopedia, conforme consta na Tabela 03. 
 
Tabela 03: Total de Vínculos Empregatícios, Segundo Códigos CBO Selecionados e 
Sexo, Brasil – 2015 
 
Ocupações 
% 
Masculino 
% 
Feminino 
% 
Total 
Setor Saúde 24,7 75,3 100,0 
Técnico em radiologia e imagenologia 58,6 41,4 100,0 
Visitador sanitário 59,4 40,6 100,0 
Cuidador de idosos 12,6 87,4 100,0 
Agente de defesa ambiental 57,3 42,7 100,0 
Gerente de serviços de saúde 27,2 72,8 100,0 
Esteticista 4,0 96,0 100,0 
Biomédico 27,0 73,0 100,0 
Socorrista (exceto médicos e enfermeiros) 68,9 31,1 100,0 
Diretor de serviços de saúde 40,3 59,7 100,0 
Terapeuta ocupacional 8,2 91,8 100,0 
36 
 
Técnico em óptica e optometria 37,1 62,9 100,0 
Instrumentador cirúrgico 26,2 73,8 100,0 
Cuidador em saúde 21,1 78,9 100,0 
Massoterapeuta 28,8 71,2 100,0 
Agente indígena de saúde 64,3 35,7 100,0 
Agente indígena de saneamento 96,5 3,5 100,0 
Podólogo 9,8 90,2 100,0 
Psicopedagogo 8,6 91,4 100,0 
Técnico de ortopedia 71,2 28,8 100,0 
Monitor de dependente químico 73,9 26,1 100,0 
Técnico em métodos eletrográficos em 
encefalografia 
25,5 74,5 100,0 
Dietista 8,0 92,0 100,0 
Técnico em acupuntura 19,4 80,6 100,0 
Tecnólogo em radiologia 51,7 48,3 100,0 
Técnico em métodos gráficos em cardiologia 15,1 84,9 100,0 
Auxiliar de saúde (navegação marítima) 31,0 69,0 100,0 
Tecnólogo em sistemas biomédicos 42,7 57,3 100,0 
Terapeuta holístico 32,2 67,8 100,0 
Ortoptista 17,8 82,2 100,0 
Técnico em quiropraxia 52,6 47,4 100,0 
Fonte: RAIS/MTE. Elaboração própria. 
 
A distribuição regional das novas ocupações em saúde apresenta um perfil 
parecido com o já existente no setor saúde, qual seja, uma forte concentração na região 
Sudeste. Das ocupações analisadas na Tabela 4, somente cinco não tem o Sudeste como 
a região do país com a maior concentração de empregos: gerente de serviços de saúde, 
técnico em óptica e optometria, agente indígena de saúde, podólogo e dietista. As 
demais são altamente concentradas na região Sudeste, com destaque para os ortoptistas, 
os técnicos em acupuntura e os cuidadores em saúde. 
 
Tabela 04: Total de Vínculos Empregatícios, Segundo Códigos CBO Selecionados e 
Região Natural, Brasil – 2015 
 
Ocupações 
% 
Norte 
% 
Nordeste 
% 
Sudeste 
% Sul 
% 
Centro-
Oeste 
Total 
Setor Saúde 6,2 20,7 50,1 14,8 8,1 100,0 
Técnico em radiologia e 
imagenologia 
5,0 20,8 53,5 13,5 7,2 100,0 
Visitador sanitário 9,5 21,4 57,3 6,2 5,6 100,0 
37 
 
Cuidador de idosos 2,2 8,8 66,6 16,3 6,0 100,0 
Agente de defesa ambiental 7,0 15,8 37,2 10,4 29,6 100,0 
Gerente de serviços de saúde 1,6 9,9 34,5 50,9 3,0 100,0 
Esteticista 3,9 18,4 62,5 9,3 6,0 100,0 
Biomédico 9,0 16,3 49,5 13,5 11,7 100,0 
Socorrista (exceto médicos e 
enfermeiros) 
20,0 13,7 44,5 19,9 1,9 100,0 
Diretor de serviços de saúde 5,6 22,9 57,3 8,8 5,5 100,0 
Terapeuta ocupacional

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