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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA OBSERVATÓRIO DE RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE NOVAS PROFISSÕES E OCUPAÇÕES EM SAÚDE FRENTE ÀS NECESSIDADES DOS SERVIÇOS DE SAÚDE NO BRASIL RELATÓRIO DE PESQUISA Natal, 2016 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA OBSERVATÓRIO DE RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE Equipe da pesquisa Coordenação Janete Lima de Castro (ObservatórioRH/UFRN) Valdemar Almeida Rodrigues (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) Pesquisadores Cláudia Maria da Silva Marques (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) Dyego Leandro Bezerra de Souza (ObservatórioRH/UFRN) Eliana Costa Guerra (ObservatórioRH/UFRN) Hugo Fernandes Junior (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) Josenildo Borges Ferreira (ObservatórioRH/UFRN) Maria Aparecida Dias (ObservatórioRH/UFRN) Regina Helena Rocha Cruz (ObservatórioRH/UFRN) Roberta Freitas (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) Rosana Lúcia Alves de Vilar (ObservatórioRH/UFRN) Tiago Oliveira (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB) Alunos de pós-graduação Rafael Rodolfo Tomaz de Lima (ObservatórioRH/UFRN) Tatiana de Medeiros Carvalho Mendes (ObservatórioRH/UFRN) Alunas de graduação Ana Elisa Vilar de Araújo (ObservatórioRH/UFRN) Anna Beatriz Domingos de Souza (ObservatórioRH/UFRN) Cintya Larissa Leite Dantas (ObservatórioRH/UFRN) Dinorah de França Lima (ObservatórioRH/UFRN) Emanuelle Yasmin Silva do Nascimento (ObservatórioRH/UFRN) 3 1. APRESENTAÇÃO Este relatório apresenta os resultados da pesquisa “Novas Profissões e Ocupações em Saúde frente às Necessidades dos Serviços de Saúde no Brasil”. O propósito da pesquisa consistiu em problematizar os processos de regulamentação das profissões e ocupações do setor saúde, tendo como ponto de partida duas questões iniciais: (i) as novas profissões e ocupações em saúde, que vêm emergindo nos níveis médio e superior, constituem iniciativas para responder as novas demandas do atual contexto social do país e do perfil sanitário brasileiro que vem se desenhando nas últimas décadas? (ii) As novas profissões e ocupações em saúde que vêm emergindo no Brasil a partir do ano 2000 encontram paralelo no âmbito internacional? Acredita-se que tal problematização pode contribuir com o debate que fundamenta as mudanças que vêm ocorrendo na dinâmica das profissões e ocupações do citado setor, na particularidade da realidade brasileira contemporânea. O tema tem suscitado crescente interesse de pesquisadores e gestores do campo das ciências humanas e, de modo especial, da saúde coletiva, dadas as intensas mudanças que passam as sociedades, na contemporaneidade. Destacam-se, de modo particular, transformações que vêm ocorrendo no âmbito do trabalho, na composição demográfica das populações, no modo de viver, de produzir, de consumir, com nítidas repercussões sobre o meio ambiente. A citada pesquisa foi coordenada pelo Observatório de Recursos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ObservatórioRH/UFRN), em parceria com o Observatório de Recursos Humanos da Universidade de Brasília (ObservaRH/NESP/CEAM/UnB). Estes Observatórios compõem a Rede ObservaRH no Brasil, implantada em 1999 sob a coordenação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, do Ministério da Saúde (SGTES/MS), com o incentivo do Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Compõe também a Rede Intercontinental Observatório de Recursos Humanos em Saúde, iniciativa da Opas/OMS, que atualmente congrega diversos países da Região das Américas e vem se expandindo pela África e por regiões do Mediterrâneo, com o 4 objetivo de monitorar tendências que repercutem nas políticas de recursos humanos em saúde nesses países. Os observatórios, proponente e parceiro, se inseriram nessa Rede em diferentes momentos do processo e ambos assumem como missão reunir informações sobre a força de trabalho em saúde, prover análises e manter diálogos com a área acadêmica, profissionais, gestores e entidades do setor, constituindo uma contribuição ativa para refinar e melhorar políticas públicas e estratégias de gestão, regulação e formação para os recursos humanos em saúde. Os produtos esperados e estabelecidos na CARTA ACORDO BR/LOA/140081.001 foram: Relatório de pesquisa contendo análise do mapeamento das novas profissões e ocupações de saúde emergentes a ser disponibilizado em meio eletrônico e impresso como contribuição à gestão e regulação do trabalho em saúde; elaboração de catálogo contendo mapeamento das novas profissões e ocupações em tramitação para reconhecimento no Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde e Congresso Nacional, requerendo o reconhecimento de novas profissões e ocupações; elaboração de artigos para publicação em periódicos científicos e para apresentação de trabalhos científicos em congressos. Ressalta-se que o objetivo 6, citado a seguir, não pode ser cumprindo devido à inexistência das informações necessárias à pesquisa nos sistemas internacionais. 5 2. OBJETIVOS Objetivo Geral: Analisar as ocupações em saúde em processo de regulamentação no Congresso Nacional Brasileiro e suas inserções nos serviços de saúde do Brasil. Objetivos Específicos: Mapear as ocupações em saúde em processo de regulamentação no Congresso Nacional Brasileiro; Identificar as ocupações em saúde em processo de regulamentação no Congresso Nacional Brasileiro que possuem código na CBO; Descrever o panorama da formação, oferta e distribuição dos cursos das ocupações em saúde em processo de regulamentação; Identificar os cursos ofertados pelas Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde (SUS) para as ocupações em saúde em processo de regulamentação; Correlacionar os perfis das ocupações em saúde em processo de regulamentação com as políticas e programas do SUS; Verificar se as novas profissões e ocupações em saúde que vêm emergindo no Brasil a partir do ano 2000 encontram paralelo no âmbito internacional. 6 3. O PERCURSO METODOLÓGICO 3.1 Caracterização do estudo Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental com abordagem quantitativa e qualitativa. Para Gonçalves (2014) a pesquisa bibliográfica pode ser considerada como o primeiro passo em qualquer tipo de pesquisa, tendo como finalidade conhecer e analisar as diferentes contribuições científicas sobre o tema objeto do estudo. Busca verificar o estado da arte, a partir do conhecimento do que já se produziu e publicou até determinado momento histórico. Severino (2007) esclarece que a pesquisa documental tem como fonte documentos no seu sentido amplo, que podem ser impressos, gravados, fotografados, filmados ou virtualmente expostos. A abordagem quantitativa caracteriza-se pelo emprego da quantificação no tratamento dos dados através de técnicas estatísticas, desde as mais simples até as mais complexas. Aplica-se a vários tipos de estudo que procuram descobrir e classificar variáveis e suas relações (RICHARDSON et al., 2012). A abordagem qualitativa se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2013). Por sua vez, Minayo (2013) ressalta que os dois métodos não são incompatíveis e podem ser integrados em um mesmo estudo. 3.2 Coleta e análise dos dados A etapa de análise dos documentos propõe-se a produzir ou reelaborar conhecimentos e criar novas formas de compreender os fenômenos.É condição necessária que os fatos devem ser mencionados, pois constituem os objetos da pesquisa, mas, por si mesmos, não explicam nada. O investigador deve interpretá-los, sintetizar as 7 informações, determinar tendências e na medida do possível fazer a inferência. SÁ- SILVA et al. (2009). Nesta pesquisa foram utilizadas várias fontes de documentos visando o alcance dos objetivos previstos. Os aportes teóricos foram elaborados tendo como base a literatura especializada sobre a temática destacando os principais aspectos e tendências da realidade brasileira no que concerne a nova morfologia do trabalho, sua dinâmica e surgimento das novas ocupações. Para o mapeamento das novas ocupações e profissões emergentes no setor saúde foram utilizados como fontes os registros administrativos da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho (RAIS) e da Classificação Brasileira de Ocupações – CBO; e a base de dados do Congresso Nacional — Câmara dos Deputados e Senado Federal. O levantamento sobre as proposições que tratam de regulamentação profissional na área de saúde foi feita na base de dados de ambas as casas do Congresso Nacional — Câmara dos Deputados e Senado Federal —, no período compreendido entre 1º de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2015. Para este levantamento foi inicialmente utilizado quatro palavras-chaves relativas ao tema: regulamentação, profissão, ocupação, saúde. Após consulta aos técnicos da Câmara dos Deputados, verificou-se que tal pesquisa poderia excluir algumas proposições, tendo em vista que o processo de classificação das matérias é feito pelo Centro de Documentação da casa e não é padronizado, podendo haver discrepâncias na classificação dos projetos de técnico para técnico. A pesquisa foi, então, refeita para o mesmo período referido, abarcando todas as matérias que tratavam de regulamentação de profissões e não apenas as consideradas “de saúde”. Desse total, a separação das que guardavam relação com o setor saúde foi feita pelo exame da ementa e conteúdo das proposições. Dando prosseguimento foi realizado um exame das proposições detectadas na Base de Dados da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, sendo que, por força das regras de tramitação, houve proposições que apareceram em duplicidade, pois após tramitarem na casa original, foram remetidas para a revisora e detectadas em dois momentos distintos ao longo do período considerado. Adicionalmente, como forma de testarmos, ao menos para parte do período considerado, se a detecção pelo método acima foi consistente, utilizamos a Base de 8 Dados gerada pelo “GRUPO DE PESQUISA E EXTENSÃO SOBRE O LEGISLATIVO E A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL”, (GOMES et al., 2014). O grupo, desde 2006, trabalha no aperfeiçoamento de um “sistema de classificação de proposições legislativas relacionadas à saúde, que tramitam no Congresso Nacional” e, como consequência de tal sistema, criou uma “base de proposições classificadas”. A RAIS foi instituída pelo Decreto nº 76.900, de 23/12/75, a tem por objetivos: o suprimento às necessidades de controle da atividade trabalhista no País; o provimento de dados para a elaboração de estatísticas do trabalho e a disponibilização de informações do mercado de trabalho às entidades governamentais. A CBO foi instituída por portaria ministerial nº. 397/MTE, de 9 de outubro de 2002, tem por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho, para fins classificatórios junto aos registros administrativos e domiciliares. No caso da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), as informações apresentadas referem-se ao estoque de vínculos de emprego declarados por estabelecimentos em 31 de dezembro de cada ano. É uma variável de estoque. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) apresenta informações da movimentação de mão de obra realizada pelos estabelecimentos, ou seja, o número de admitidos e desligados mensalmente. É uma variável de fluxo, portanto. Ademais, é importante chamar atenção para o fato de que na RAIS estão contemplados todos os vínculos de emprego legalmente estabelecidos, o que inclui os vínculos estatutários, por exemplo. Já o CAGED restringe-se à movimentação realizada pelo setor privado da economia, inclusive pelas empresas estatais. O tratamento da questão ocupacional dado pelas estatísticas de mercado de trabalho no Brasil é distinto, uma vez que os registros administrativos e as pesquisas domiciliares adotam classificações diferentes. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, a CBO, em sua versão atual, estabelecida em 2002 e que tem como referência a CIUO de 1988, organiza-se em uma estrutura hierárquico-piramidal composta por 10 grandes grupos (1 dígito), 47 subgrupos principais (2 dígitos), 192 subgrupos (3 dígitos) e 596 grupos de base ou famílias ocupacionais (4 dígitos), que, por sua vez, englobam mais de duas mil ocupações e sete mil títulos sinônimos. A identificação dos cursos para as ocupações emergentes do setor saúde, tanto de nível médio como de nível superior, bem como a identificação das instituições de ensino que ofertam os cursos para as referidas ocupações foi realizado em dois 9 momentos. O primeiro momento, compreendido entre o período de outubro a dezembro de 2015, foi composto por duas etapas. Na primeira etapa realizou-se a análise dos Projetos de Lei que solicitam a regulamentação de cada ocupação no Congresso Nacional com a finalidade de identificar o curso de formação para cada ocupação. Em seguida, na segunda etapa, realizou-se o levantamento das instituições de ensino que ofertam os citados cursos em todo o país, tendo como base as informações contidas nos sistemas de informação do Ministério da Educação. Para identificar as instituições de ensino que ofertam cursos de nível médio foi consultado o Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (SISTEC) e para identificar as instituições de ensino que ofertam cursos de nível superior foi consultado o Sistema de Regulação do Ensino Superior (e-MEC). Em seguida foi realizado outro levantamento com o objetivo de identificar as ocupações que possuem perfil na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Ao acessar site da CBO pôde-se ter conhecimento da nomeação e codificação dos títulos e conteúdos das ocupações. Realizou-se a busca pelos títulos e foram encontrados os seus respectivos códigos, a família ao qual a ocupação pertence e os sinônimos dados pelo portal eletrônico do Ministério do Trabalho e Emprego. Assim, com uma filtragem para reduzir ainda mais a busca, as ocupações correlatas foram agrupadas em uma mesma nomenclatura. Para a análise entre os perfis profissionais das novas ocupações e profissões emergentes com as políticas e programas do SUS, foram utilizados como fontes os sites: Portal da Saúde, Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde e no Portal do Departamento da Atenção Básica, ambos, sites oficiais do Ministério da Saúde. Como não existe uma página específica do Ministério da Saúde que concentre todas as informações pesquisadas, utilizou-se também a ferramenta de busca Google para localizar alguns documentos oficiais relacionados a cada política/programa. A pesquisa foi realizada de 19 de fevereiro a 04 de abril de 2016. Considerando as variadas fontes, as análises foram feitas mediante os tipos de informações coletadas, incorporando teores analíticos quantitativos e qualitativos considerando as experiências acumuladas dos autores e o diálogo com a literatura publicada sobre os temas tratados. 10 4. APORTES TEÓRICOS 4.1 Breve Aproximação Conceitual aos Termos Profissão, Ocupação, Regulamentação e Regulação 4.1.1 Profissão e Ocupação No verbete “profissão”, do Dicionário Educação Profissional em Saúde Franzoi (2008, p. 328) alerta para a dificuldade em conceituarprecisamente o termo profissão, devido às diferentes conotações assumidas pelo mesmo, segundo a “área de conhecimento e a tradição nacional e idiomática em que é empregado”. Na sociologia anglo-americana, reserva-se o termo para as “profissões ditas sábias”, ou seja, aquelas que pressupõem formação universitária, enquanto “occupations” (ocupações) define o conjunto de empregos. Na língua francesa, bem como na portuguesa, ocupação, sem o qualificativo liberal (libérales), constitui termo atribuído às ditas profissões sábias, mas igualmente, ao conjunto dos empregos, em particular, na classificação e no recenseamento, realizados pelo Estado 1 . 1 Nas sociedades medievais, “profissões sábias” e ofícios relacionavam-se a corporações, nas quais era comum o juramento ou profissão de fé. A hierarquia de então, separava aqueles pertencentes a corporações de ofícios juramentados e os “jornaleiros”, ou trabalhadores diaristas. Somente com a consolidação das universidades, é estabelecida a distinção entre “profissões”, que requeriam um aprendizado acadêmico e os “ofícios”, derivados de ”artes mecânicas”, construindo-se, progressivamente, sistemas de hierarquia entre trabalho intelectual e trabalho manual. Nos anos 1960, com base na sociologia das profissões, a distinção entre profissões e ocupações se estabelece, identificando os grupos profissionais como “comunidades homogêneas reunidas em torno dos mesmos valores e de um mesmo código de ética”; detentoras de competências e saberes assentados no conhecimento científico tido como absoluto (FRANZOI, 2011, p. 329). A partir de então, se busca entender o caráter histórico e social da hierarquização entre profissões e ocupações, ressaltando a disputa pelo monopólio de mercados, evidenciando que o caráter mais ou menos científico do conhecimento monopolizado não é dado a priori, mas socialmente construído. Assim, nas modernas sociedades, a ciência e o conhecimento formal assumem papel legitimador, definindo a relação de poder que se estabelece entre as esferas da criação, transmissão e aplicação do conhecimento formal. Desse modo, a distinção entre profissões e ocupações 11 De fato, esquemas diferenciados têm originado profissões de nível superior e técnico. Contudo, tem sido importante a força do Estado na constituição, mas, especialmente, na regulação, regulamentação e formação da força de trabalho em saúde. Não se pode negligenciar tampouco, em cada tempo histórico, o peso do perfil da demanda oriunda de necessidades sociais, no surgimento e na configuração de ocupações e profissões. Assim, a intervenção do Estado no reconhecimento, capacitação, formação e regulamentação tem se associado à ação de organizações e entidades de trabalhadores, que atuam no controle, acompanhamento, validação dos conhecimentos e saberes adquiridos, conferindo autoridade ao trabalhador para o exercício de função específica. Inegável, ainda, é o papel das instituições de formação, nos diversos níveis e por meio de diferentes mecanismos, na legitimação das profissões. Aqui, o Estado continua desempenhando papel central no reconhecimento destas instituições e no credenciamento das mesmas para operar na formação profissional. O termo “ocupação” tem sido utilizado para referir-se ao lugar de um indivíduo na divisão social e técnica do trabalho, a qual classifica e hierarquiza os indivíduos, envolvendo aspectos subjetivos e identitários. Estes são reconhecidos e se reconhecem enquanto grupos que desempenham atividades comuns e se organizam a partir deste pertencimento (FRANZOI, 2008, p. 328). A autora chama a atenção para a classificação dos indivíduos entre aqueles que têm ou não lugar na hierarquia fundada no trabalho condição, que, em geral, antecede a esta categorização. De acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), ocupação, consiste em uma “[...] agregação de empregos ou situações de trabalho quanto às atividades realizadas”. Em uma classificação, o título ocupacional “[...] surge da agregação de situações similares de emprego e/ou trabalho” (BRASIL/MTE, 2002, p. 1) Historicamente, as profissões surgiram de corporações, ou de savoir-faire tradicional, cuja transmissão, em geral, se fazia por via oral e por meio do exercício do ofício, sob a supervisão atenta de mestres. Como, destaca Franzoi (2008), nas modernas sociedades, o conhecimento formal e o papel legitimador da ciência, [...] definem a relação de poder que se estabelece entre as diferentes esferas da criação, transmissão e a aplicação do passa a basear-se na educação formal requerida para desempenhar determinada atividade ou emprego, em dada posição. 12 conhecimento formal. A educação formal requerida para o emprego em determinadas posições distingue as profissões das ocupações (p. 330) Poderiam ser identificados pelos menos dois modelos que orientam o surgimento de uma profissão: o modelo clássico - (encadeamento) – francês organizado da seguinte forma: Neste caso, a obtenção de um diploma habilitaria o individuo a se submeter a sistemas de regulamentação pré-existentes a fim de se tornar apto ao exercício de uma profissão. E o modelo contemporâneo, expresso no seguinte esquema: Neste caso, as necessidades oriundas das mudanças sociais, culturais, demográficas, ambientais, induziriam o surgimento de atividades e o desenvolvimento de habilidade e competências, que, organizadas de modo sistemático, dariam origem a uma ocupação que, por sua vez, demandaria reconhecimento do Estado e organização da oferta de formações, com vistas à regulamentação legal. Assim, fica claro também o papel do Estado na regulação e na formação como porta de entrada para dar a base e fundamentar socialmente a profissão. 4.1.2 Regulamentação e Regulação A primeira premissa de importância para delimitarmos o âmbito da regulamentação de profissões em geral — na qual, evidentemente, está inserida a 13 regulamentação das profissões de saúde — refere-se à confusão sobre o uso dos termos regulamentação e regulação. Segundo Oliveira (2014, p. 1199), o termo regulação é polissêmico, sendo empregado no século XVIII em campos tão díspares quanto “relojoaria, economia, política e também da mecânica celeste”, a partir do final do século XIX o termo passa a ser apropriado, também, pela biologia e no século XX pelas ciências sociais. Lucas (2007. p.2) refere-se à origem anglo-saxônica do conceito de “regulation” e sua tradução para o português. Acrescenta que o termo regulamentação tem, na concepção jurídica portuguesa, o sentido de “uma função normativa” cujo objetivo é o de pormenorizar uma “norma jurídica com caráter geral e abstrato”. Já para o termo regulação, o mesmo autor identifica maior amplitude e diferença qualitativa relativamente à simples regulamentação. Nesse sentido, a regulação conteria não apenas funções regulamentadoras, mas também, e, sobretudo, implementação dos regulamentos, supervisão de sua observância e aplicação de sanções cabíveis. De forma similar, Santos e Merhy (2006) pontuam que o processo de regulamentação subordina-se ao processo de regulação tendo em vista identificarem nesse último a intencionalidade de intervenção em processos econômicos ou sociais com o intuito de arbitrá-los, enquanto aquele é entendido como a formulação de regras com vistas à criação de normas com o objetivo de tornar explícita essa mesma intencionalidade. Classicamente, a teoria econômica admite a intervenção estatal — a regulação — em situações em que, na ausência de “concorrência perfeita”, tal intervenção agiria como corretora de falhas de mercado por força de: monopólios/oligopólios,interesse público ou assimetria de informações. Haveria, assim, uma intervenção do Estado nos mercados, justificável de acordo com tais concepções, em nome de resguardar o interesse público, por intermédio de incentivos ou sanções financeiras, de comando ou controle (SANTOS & MEHRY, 2006, p.26). Exemplo claro de regulação no setor saúde seria, segundo os mesmos autores, a ação do Estado no setor de saúde suplementar, por intermédio da agência reguladora setorial — A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS — no sentido de “corrigir” as “falhas de mercado” existentes no setor: ocorrência de riscos e incertezas; “risco moral”; externalidades; distribuição desigual da informação; existência de barreiras ao acesso etc. 14 No campo social há, igualmente, concepções ligadas à teoria da regulação. Rosso (2003), analisando a regulação do trabalho, aponta que cabe à sociologia analisar “a influência de fatores sociais e suas consequências [...] no processo de regulação”. Acrescenta, ainda, que a regulação do trabalho compreende “as formalizações que regem o trabalho”, bem como os “conteúdos concretos de tais formalizações”. Girardi (2002a, p.69), por usa vez, destaca que a regulação tem como resultado a “redistribuição de riscos e privilégios, vantagens e prejuízos entre pessoas, grupos e setores da sociedade”. Desse modo, dada a insuficiência da regulamentação legal para a solução plena das questões no campo de recursos humanos em saúde, deve-se buscar no conceito de regulação um caminho que supere a pouca dinamicidade e o relativo descompasso entre a atualização dos textos legais e as imposições da realidade. Assim, podemos inferir que a regulação se caracteriza como um processo mais amplo, mais abrangente e mais profundo que a regulamentação. Esta seria uma das ações possíveis do processo regulatório, inserida nele, necessária, mas não suficiente. A regulação implicaria: intervenção do Poder Público, limitação do “livre mercado” e da “livre escolha”, representação dos atores envolvidos e um aparato regulamentar e de controle. Ainda Girardi (2002b, p. 11.), em estudo elaborado para a Organização Pan- americana de Saúde (OPAS), propõe que no campo da regulação profissional se adote uma noção “pragmática” de regulação, semelhante à voltada ao campo de bens e serviços mais definidos. Segundo o referido autor, “a regulação corresponde a uma intervenção pública (ou da política) sobre a soberania dos mercados (ou da economia)”. Assim, prossegue o mesmo autor, haveria uma racionalidade baseada na “assimetria informacional” que justificaria a ação regulatória no campo profissional da saúde, baseada no: princípio da utilidade pública da regulação, que visa à proteção e à segurança do público contra a ação danosa de praticantes não autorizados e de pessoas inescrupulosas; e o princípio da garantia da qualidade e da excelência dos serviços profissionais, que visa proteger o público dos riscos da ação de profissionais incompetentes e despreparados. 15 Para o mesmo autor (GIRARDI, 2002a, p.70), a regulamentação profissional constituir-se-ia em “capítulo muito especial da regulação econômica e social”. Faz, também, uma analogia com as justificativas apresentadas para o processo de regulação sob a ótica econômica, ao afirmar que o exercício profissional, se não regulamentado e deixado ao sabor do mercado, seria alocado em “níveis sub ótimos”. 4.1.3 Regulamentação Profissional. Sob a ótica jurídica, as normas que regem o exercício profissional estão definidas na Carta Magna, em seu art. 5º, inciso XIII, expressamente: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (BRASIL, 1988, p.3). Segundo a classificação de Silva (2012, p. 81-82), esta é uma norma de eficácia contida, ou seja, apesar de ter aplicabilidade direta e imediata, seus efeitos podem ser restringidos por uma lei, no caso, por “exigência legal de habilitação ou de atendimento de condições para o exercício do ofício” (BASTOS, 2001, p.246). Para Ribeiro Bastos e Martins (1989, p.78) a regulamentação profissional é o exercício da “competência fixada na parte final do dispositivo” constitucional, primeiramente pela existência de lei federal. Ressaltam, entretanto, que duas condições são necessárias para que tais “qualificações profissionais” sejam observadas: conhecimentos técnicos e científicos avançados e possibilidade de que o exercício possa trazer dano social. Destaque-se que textos constitucionais anteriores já adotavam esse mesmo entendimento e, segundo Tateno (2012, p. 447), as decisões do Supremo Tribunal Federal, mesmo antes da vigência do texto de 1988, basearam-se na ponderação da ocorrência de “interesse público” e que tal ponderação não está simplesmente entregue ao entendimento do legislador infraconstitucional, Assim, não bastaria a existência de uma lei ordinária atribuindo a determinada ocupação restrições para seu exercício. Tais restrições seriam sempre suscetíveis de apreciação pelo Judiciário e devem levar em consideração a tutela da saúde e da vida e “outros direitos dos cidadãos”. Para além dos aspectos jurídicos da regulamentação profissional, Girardi, Fernandes Júnior. e Carvalho (2010, p.1) destacam que a regulamentação profissional age sobre o mercado de trabalho de forma a definir “campos de trabalho, procedimentos e atividades de exercício restrito”. Seria, em última análise, um privilégio, pois o 16 processo regulamentar possibilita a restrição de atuação, a definição de valores do trabalho, a definição de credenciais educacionais e a vinculação a entidades corporativas que autorizam e fiscalizam a atuação profissional. Sua origem remonta às guildas ou corporações medievais que “traduziam a necessidade de os indivíduos, profissionalmente habilitados, protegerem-se da concorrência de imigrantes e de servos recém-libertos” (NOGUEIRA, 2007). Contemporaneamente, a instituição de tal privilégio justificar-se-ia pelo reconhecimento por parte do Estado, em nome de toda a sociedade, da imprescindibilidade do exercício da profissão regulamentada. Os argumentos arrolados para que uma determinada ocupação ou especialidade laboral tenha seu campo delimitado por meio de regras restritivas, seja sob a ótica da formação, seja da restrição à atuação profissional, seriam: (i) a ideia de que a atividade envolve habilidades complexas, com elevado teor científico e técnico em geral não acessíveis sem o concurso de sistemas de formação profissional complexos como as universidades; (ii) a ideia de que seu exercício afeta profundamente a saúde pública, a segurança e o bem-estar do público; (iii) a ideia de que a qualidade e os resultados do trabalho dos profissionais não são passíveis de julgamento espontâneo do público leigo. (GIRARDI, FERNANDES JÚNIOR & CARVALHO, 2010, p.2). Os mesmos autores destacam, igualmente, que as regulamentações não são idênticas, havendo ocupações “fortemente regulamentadas”, que possuem instituições autorreguladoras, e outras “fracamente regulamentadas”, em geral ocupações de nível médio em que a regulamentação se restringe a requisitos de formação. Uma vez regulamentada, a ocupação “forte” vai se amparar, para a garantia dos direitos conquistados juridicamente, em associações (no caso do Brasil em órgãos autárquicos paraestatais), definições de competências e de áreas de atuação exclusivas, definição de formação acadêmica, códigos de condutas a serem observados entre os pares, etc. 17 No trabalho citado de Girardi, Fernandes Júnior e Carvalho (2010), encontram- se ainda pontos que, na opinião dos autores, conformariam o maior ou menor grau de extensão da regulamentação de determinada ocupação. Seriam eles: (i) ...condições do exercício da atividade profissional: autonomia, complexidade técnico-científica,graus de assimetria informacional ou de assimetria de competência entre os membros do grupo profissional e os leigos, dificuldade de julgamento espontâneo do público sobre as atividades, procedimentos e os resultados do trabalho dos profissionais, utilidade pública da regulação; (ii) ...poder e recursos dos grupos de interesse articulados em torno da profissão ou ocupação: tamanho, coesão, concentração de recursos dos grupos de profissionais demandantes da regulação em questão, de grupos profissionais concorrentes, dos grupos de empregadores de profissionais, dos grupos de consumidores, dos grupos de terceiros pagadores, da opinião pública etc.; (iii) ...forma e modo de funcionamento do sistema político- administrativo, particularmente do legislativo. A oferta de regulações depende do ambiente sob o qual o legislativo produz: competição interpartidária por votos, organicidade do sistema partidário, grau de dependência de parlamentares e partidos com relação a cada um dos grupos de interesse demandantes, rotatividade dos parlamentares, grau de especialização e condução sistêmica da matéria pelos corpos e comissões do legislativo, existência e utilização de mecanismos de agenciamento, relações de controle de agendas entre executivo e legislativo, graus de insulamento dos parlamentares, influência dos lobbies profissionaisetc. A regulamentação pela via legislativa, embora legítima do ponto de vista político — a todos é legítimo pleitear e reivindicar a proteção do Estado e cabe justamente ao Congresso Nacional avaliar a pertinência desses pleitos e reivindicações —, não poderia e não deveria ser a única forma para a definição e redefinição, no 18 âmbito da sociedade dos limites e abrangências de atuação das ocupações. Muitas dessas atividades, em virtude de seu alto conteúdo científico e tecnológico, e como decorrência da grande importância que têm nas vidas e no bem-estar das pessoas, estão em constante processo de mudança e de realocação de funções, de papéis e de responsabilidades. No setor saúde em especial, tal afirmação tem substrato histórico que a sustenta. Nos últimos cinquenta ou sessenta anos, várias das ocupações que hoje são denominadas de “profissões de saúde” sequer existiam. Eram apêndices do trabalho médico, da enfermagem ou eram ocupações técnicas e que, ao longo do tempo, foram incorporando conhecimentos específicos e formando um corpo teórico-prático que se autonomizou e se constituiu num ramo do conhecimento humano, com procedimentos e desenvolvimento próprios. No entanto, como pontua Coelho (1999, p. 32), o maior ou menor grau de sucesso de uma corporação em obter a regulamentação desejada advém de dois fatores fundamentais: à importância relativa da corporação (tamanho, coesão, influência, recursos) e à existência de um “padrinho” no Congresso Nacional (Parlamentar que se disponha a apresentar e acompanhar a tramitação da proposição regulamentadora). Esta distorção apontada por Coelho (1999) é agravada pela inexistência de um protagonismo por parte do Estado no sentido de formular ativamente uma política de regulamentação profissional em saúde levando em consideração dois aspectos fundamentais: o reconhecimento de uma realidade internacional e nacional de conflitos e tensões existentes entre, de um lado, o “mercado da saúde” — fornecedores de bens e serviços em saúde e que inclui o aparelho formador de profissionais e as corporações profissionais envolvidas na prestação de ações e serviços de saúde —, e, de outro, a população e pessoas, com suas necessidades e demandas. 4.2 A Nova Morfologia do Trabalho em Tempos de Crise do Capital: particularidades e tendências no setor saúde Este item teve como objetivo discutir a nova morfologia do trabalho, em tempos de mundialização/globalização da economia, com dominância do setor das finanças, de crise do capital e de ciclos de ajuste, a imprimir mudanças na geopolítica e na divisão internacional do trabalho. 19 Para entender a dinâmica do trabalho no atual tempo histórico, a configuração do mundo profissional e das ocupações na área da saúde é necessário circunscrever este complexo na trama das relações sociais, destacando aspectos mais gerais relacionados com a dinâmica de reprodução do capital, em tempos de crise e, então, deter-se nas particularidades da realidade brasileira, com ênfase na relação Estado, sociedade e mercado. Ao longo dos anos 1950, no pós Guerra, especialmente, “[...] nos países ‘desenvolvidos’cada vez mais prósperos, muita gente sabia que os tempos tinham, de fato, melhorado, especialmente se suas lembranças alcançavam os anos anteriores à Segunda Guerra Mundial” (HOBSBAWM, 1995, p. 253). Todavia, somente após o grande boom dos anos 1970, se pôde realmente observar o que estava a ocorrer. Então, os economistas começam a se dar contar que o mundo do capitalismo vivenciara “[...] fase excepcional de sua história; talvez uma fase única”, denominando-a e descrevendo-a de diferentes formas: trinta anos gloriosos, para dos franceses, “Era de ouro de um quarto de século dos anglo-americanos” (HOBSBAWM, p. 253). Na transição dos anos 1970/1980, o mundo capitalista vivencia o esgotamento do padrão de acumulação e de gestão da força de trabalho destes anos dourados, baseado no modelo fordista-taylorista de organização da produção e de gestão do trabalho 2 . Assim, no debate deste padrão de acumulação constituem-se bases para a crise do capital, que explode com maior intensidade e radicalidade no século XXI. De fato, os níveis de lucratividade não estavam satisfazendo os anseios do capital, no sentido de assegurar sua reprodução ampliada e o domínio do grande capital no jogo concorrencial capitalista. A rigor, no seu modo de funcionamento, o capitalismo vivencia ciclos expansivos intercalados por períodos de crise. Brussi (2011), a partir das formulações 2 Ainda que os termos taylorismo e fordismos sejam eivados de imprecisões, como destaca Lihart (2007). O termo fordista é utilizado para designar a empresa organizada a partir da lógica imposta pela cadeia de produção, enquanto fordismo refere-se à filosofia econômica e social elaborada por Henry Ford ou ainda para fazer referência ao modelo proposto pelos economistas franceses da Escola da Regulação. Quanto ao termo taylorismo, Linhart (2007) questiona se e em que situações o mesmo é utilizado para referir-se ao pensamento e aos princípios elaborados por Taylor ou às diversas aplicações de tais princípios em contextos particulares. Finalmente, adverte a autora sobre a necessidade de se levar em conta a “defasagem” entre as prescrições dos inventores e as aplicações dos princípios enunciados, contestando a ideia de um “modelo puro”, de fácil definição e alcance. 20 de Arrighi (1996), refere-se a ciclos sistêmicos e sucessivos de acumulação, baseados na formação de blocos territoriais capitalistas, cada vez mais poderosos, no sentido de “[...] ampliar ou aprofundar o alcance espacial e funcional da economia mundial capitalista” (ARRIGHI 1996, p. 369, apud BRUSSI, 2011, p. 383). Neste sentido, é que se delimitam, ao longo da história, distintos agrupamentos, com a dominação de determinados países, em um jogo de recomposição permanente na geopolítica, em escala mundial. No século XX, constitui exemplo emblemático a “Guerra Fria”, que opunha um bloco de países liderados pelos Estados Unidos da América (USA), a outro, sob o comando da, então, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). No final do século XX, com a crise estrutural do capital, os EUA assumem a dominância do sistema do capital, nos marcos do imperialismo, com papel de destaque nos processos de financeirização. Com a atual crise, a posição unipolar de hegemonia dos EUA é fortemente questionada, emergindo novas forças,a exemplo do papel da China. De fato, no trânsito dos anos 1960 para os anos 1970, a acumulação flexível em curso nos países centrais do capitalismo, com base no sistema Toyota e nos processos de reestruturação produtiva, possibilitou alavancar novos ciclos de crescimento econômico, deixando antever o desenvolvimento de um período “fasto”. Para se efetivar este novo padrão de acumulação pressupunha o aprofundamento do processo de mundialização do capital, com aberturas das fronteiras 3 e ajustes no aparato estatal, inclusive, nas legislações protetivas do trabalho 4 . Cassar (2010, p. 8) apresenta a “globalização” como “[...] um processo de aceleração da economia, prestigiando os países capitalistas [centrais]”, por meio do qual o produtor compra a matéria prima em qualquer parte do globo, onde houver melhores preços, qualidade e condições de pagamento, ou ainda, instala suas fábricas em países em que o custo da força de trabalho é mais baixo, passando a vender sua mercadoria em melhores condições de competitividade no mercado mundial. Há, ainda, a compra de componentes fabricados 3 A quebra de barreiras entre os países para permitir o livre fluxo de mercadorias e capitais, as fusões de empresas, a expansão mundial das grandes corporações, com papel distinto das finanças no jogo geopolítico internacional são características da globalização/mundialização da economia. Tudo isto foi “azeitado” pela ideologia neoliberal, que questiona o papel dos Estados nacionais, mas não abre mão de sua intervenção como patrocinador e mesmo gerente do processo de acumulação rentista (CARVALHO et al., 2016) 4 Regulação e legislação trabalhista são revistas à baixa e, nos últimos dias, está em pauta novas mudanças que descaracterizam a Consolidação das Leis Trabalhistas, em vigor no País. 21 por empresas autóctones, eximindo-se, da gestão de parte da força de trabalho, tendência crescente em determinados setores, a exemplo da microeletrônica. Todavia, estes processos de reestruturação e ajuste não foram capazes de conter a crise estrutural do capital. Um conjunto de transformações econômicas caracteriza a “mundialização capitalista”, nos termos empregados por Jules Falquet (2008), compreendendo hipertrofia da economia e crescimento vertiginoso da desigualdade entre pobres e ricos, via processos de espoliação, além de desmantelamento das bases constitutivas do antigo pacto socialdemocrata do Estado Social ou WelfareState e das formas clássicas de emprego, com a criação da “mão de obra livre” e a ampliação de um novo mercado de trabalho transnacional e informalizado. Deste modo, a mundialização tem levado, ao mesmo tempo, à internacionalização do mercado de trabalho e a uma crescente “ilegalização-informalização”. Segundo a autora, em termos concretos, [...] a maior parte das pessoas que enriquecem são homens, adultos ou idosos de classes superiores, em sua maioria, de cor branca e/ou ocidentais, mas não unicamente, enquanto aquelas que se encontram mais pauperizadas são principalmente mulheres, meninas e jovens, camponesas, operárias, em geral, dos países do Sul e mestiças, apesar de muitos homens do Sul serem também atingidos [por estes processos] (FALQUET, 2008, p. 29, tradução livre) Uma dimensão específica do ajuste ao capital mundializado, nos chamados países periféricos, pode ser identificada em economias, como a brasileira, que passam a apostar na via da produção de commodities, especialmente no setor agrícola (fruticultura, agricultura irrigada, soja e laranja) e na exploração de commoditiesminerais, sobretudo, minério de ferro, alumínio e petróleo em processos de intensivos de extrativismo, com a reprimarização da pauta de exportação. Essa inserção subordinada ao processo de mundialização alia-se à estratégia de atração de capitais especulativos, numa integração dependente e subordinada aos processos de acumulação rentista. É o caso, especificamente, do Brasil do ajuste, ao investir na sua condição de “plataforma emergente de valorização financeira”, praticando as maiores taxas de juros do mercado, atraindo capitais especulativos e voláteis, deixando a economia ao sabor dos movimentos do mercado financeiro internacional (CARVALHO et al., 2016). 22 As crises 5 se apresentaram cada vez mais graves e recorrentes. Estas são tidas como “crises cíclicas”, a compor a própria dinâmica de reprodução ampliada do capital. Ao longo da história, as saídas, ou tentativas de enfrentamento das crises, abriram períodos mais ou menos longos de crescimento econômico, e, ao mesmo tempo, evidenciaram, de modo ampliado, contradições que marcam o sistema do capital. Em geral, as saídas para tais crises têm resultado em ampliação dos níveis de extração de sobre-trabalho, ou de mais-valia, via intensificação da exploração do trabalho (BRAZ, 2012). A crise desencadeada nos últimos decênios do século XX não se expressou como crise cíclica, levando importantes intelectuais a nominarem-na como crise estrutural (MESZAROS, 2010; BRAZ, 2012). Por que Mészaros a designa crise estrutural? Devido ao seu caráter universal, afetando todas as esferas da economia, da produção, à circulação de mercadorias, das finanças aos diferentes tipos de trabalho; por seu alcance, ou seja, por atingir o conjunto das econômicas do globo, diferindo das crises anteriores, restritas a determinados lugares ou conjuntos particulares de países; por apresentar escala de tempo extensa, contínua e, mesmo, permanente, contrapondo-se ao caráter cíclico das crises anteriores; finalmente, Meszaros (2010) destaca o caráter “rastejante” ao se referir a seu modo de se desenvolver, contrastando com colapsos espetaculares e dramáticos que marcaram as anteriores crises cíclicas. Observa o papel da “complexa maquinaria” a serviço da “administração da crise”, a promover o deslocamento mais ou mesmo temporário das contradições engendradas no processo de acumulação. Nos termos utilizados por David Harvey (2008), o modo de produção capitalista baseia-se em processos de acumulação por espoliação 6 , por meio dos quais 5 No seu modo de se reproduzir de forma ampliada, o capital experimenta crises mais ou menos profundas e mais ou menos duradouras, intercalando períodos de crescimento econômico com períodos de turbulência e crise, levando Mandel a designar como “crises cíclicas” de acumulação, como característica inerente ao desenvolvimento capitalista, como se ele se alimentasse de suas próprias crises para alavancar novos ciclos de crescimento econômico, introduzindo mudanças, na produção, circulação e no consumo de mercadorias, engendrando novas necessidades, para aquecer e fazer girar a roda do processo de acumulação. 6 Ao analisar os processos de acumulação por espoliação, Harvey (2010) refere-se a ajustes “ajustes espaço-temporais”, fundados na sobre acumulação, que ocorrem em um determinado sistema territorial, implicando em “[...] excedente de trabalho (crescente desemprego) e excedente de capital (superabundância de mercadorias no mercado que não pode se vender sem perdas)”; Ou seja, no segundo 23 “fagocita” territórios, empreendendo processos de exploração e expropriação de trabalhadores, de reservas naturais, na busca incessante de manter seu domínio, em escala global. Meszaros (2010) chama a atenção para o caráter destrutivo da produção capitalista, com suas “[...] tendências altamente destruidoras da natureza, que concorrem até mesmo para criar sérios obstáculos à própria reprodução da vida social”, consistindo esta em uma das características inerentes ao sistema sociometabólico do capital. Tal característica soma-se ao esgotamento de seus “mecanismos estruturais de autorregulação”, fazendo sobressair o “caráter permanente da crise emdetrimento da sua forma cíclica de se expressar, prevalente até os anos 1970”, como sintetiza Braz (2012, p. 470-71). Ao buscar apreender a dinâmica do desenvolvimento do capitalismo no atual tempo histórico, Braz (2012) aponta que, a partir de 2008, a essência da crise do capital, não difere das crises anteriores atravessadas pelo sistema capitalista, que se estruturava desde a grande crise de 1873, apresentando traços próprios do estágio imperialista. Na expressão do autor, a crise atual também “[...] é movida pela natureza contraditória do desenvolvimento capitalista que, ao potencializar seu processo de reprodução ampliada [...] reproduz os fatores que exponenciam suas contradições e acionam crises” (BRAZ, 2012, p. 470). Ou seja, permanecem além da contradição central - produção social e a apropriação privada - o caráter anárquico da produção, gerando superprodução de mercadorias/subconsumo por parte das massas trabalhadoras; o crescimento da produtividade do trabalho; a intensificação dos ritmos de trabalho e o encurtamento do tempo de trabalho necessário, com o incremento de tecnologias, da automação, da informatização dos processos de trabalho e das modalidades de gestão, a potencializar a tendência à queda da taxa média de lucros; o crescimento da população sobrante e de fundamento, identifica-se capacidade produtiva inutilizada, e/ou excedentes de capital, dinheiro, em busca de oportunidades de investimento produtivo e rentável. Tais excedentes podem ser absorvidos por meio de: (a) deslocamento temporal através dos investimentos de capital em projetos de longo prazo ou gastos sociais (tais como educação e pesquisa), os quais jogam para o futuro a entrada em circulação dos excedentes de capital atual; (b) deslocamentos espaciais através da abertura de novos mercados, novas capacidades produtivas e novas possibilidades de recursos e trabalho em outros lugares; ou (c) alguma combinação de (a) e (b). Assim, determinado território ou espaço que não desperta interesse ao grande capital, pode passar a lhe interessar em dado momento, atraindo capitais de setores da economia, para atividades com investimentos em maiores ou menores prazos. 24 uma massa de capitais excedentes que enfrentam dificuldades para se valorizar. Alias, é parte destes capitais excedentes, na busca frenética por valorização, que alimenta e constitui o substrato do processo de financeirização da economia, que se aprofunda nas últimas décadas. Com efeito, a crise de 2008 é emblemática de um período, em que as transformações no próprio sistema sóciometabólico do capital se aprofundam, com “[...] o desenvolvimento sem limites e sem controle da ciência e da tecnologia, apartado das necessidades humanas e desconectado da ética da sustentabilidade”, configurando-se como um novo momento do desenvolvimento do capitalismo, marcado por importantes mudanças nos padrões de acumulação e de valorização do trabalho, consubstanciadas na chamada “financeirização da economia”. Ocorrem, então, processos de “[...] expansão sem limites da riqueza abstrata, a impor ciclos de ajuste aos diferentes países, a partir da sua posição na divisão internacional do sistema do capital” (CARVALHO & GUERRA, 2016, p.?). A crise que eclode em 2008, ou melhor, suas expressões mais evidentes, constituem a ponta do iceberg de um amplo e complexo sistema em crise, apresentando caráter duradouro, exprimindo-se em “[...] períodos menos espaçados (e sem ondas longas expansivas), alternando períodos (espasmódicos) de crescimento, auge, recessão/depressão, retomada”, como analisa BRAZ (2012, p. 471). É neste cenário mundial de crise do capital que situamos o processo de inserção do Brasil no capitalismo globalizado, com nítidas repercussões sobre a sociedade em geral e sobre o trabalho, em particular. Na sua condição de economia periférica e, seguindo os ditames do consenso de Washington, na transição para a democracia, 1980/1990, o Brasil vivencia a confluência contraditória, de processo de democratização, com processo de ajuste, nos termos de Carvalho (2012). A experiência brasileira do ajuste, em um cenário global de capitalismo em crise, aprofunda tendências históricas de dependência e subordinação à dinâmica de reprodução do capital, produzindo, repercussões sobre a precarização das relações e condições de trabalho, com particularidades inerentes à nossa formação sócio histórica 7 . Tais repercussões são 7 De acordo com o IBGE (2015), no Brasil, nos últimos dez anos, o mercado de trabalho tem apresentado algumas mudanças estruturais, com aumento da taxa de formalização, redução da taxa de desocupação, expansão da renda do trabalho e da massa de rendimentos, evolução real do salário mínimo, redução das desigualdades entre estratos de renda, dentre outras, diferenciando este período do observado na década de 1990. Os efeitos da crise de 2008-2009 são considerados “transitórios” se comparados á realidade de 25 observadas em todos os setores da economia e afetam de forma singular os trabalhadores, nas mais diversas áreas de ocupação e atuação profissional. Como destacam Cherchiglia & Dallari (1999), este cenário de importantes “[...] transformações na relação Estado-sociedade-economia, engendradas pelo processo de “globalização econômica” tem levado à reestruturação política e econômica dos países, com reflexos sobre o papel do Estado e consequentemente sobre o setor saúde” (1999, p. 66). Para apreender as configurações atuais do trabalho em meio à crise vivenciada em escala global e suas particularidades no contexto brasileiro contemporâneo é indispensável fazer um recuo no tempo, revistar nossa história de desenvolvimento do capitalismo e das relações de trabalho no País, identificar dimensões e especificidade, que atuam como condicionantes da conformação do “precário mundo do trabalho” e de suas expressões do setor saúde. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Este item está estruturado seguindo a ordem dos objetivos da pesquisa apresentados no item 2 deste relatório. Objetivo 1: Mapear as Ocupações em Saúde em Processo de Regulamentação no Congresso Nacional Brasileiro. O exame das proposições que visavam à regulamentação de ocupações, no período considerado pela pesquisa, revelou realidade já conhecida: um grande número de ocupações, dos mais variados setores da atividade laboral, buscam, pela via legislativa, a regulamentação de suas respectivas atividades (ver Quadro 1 no final deste item Objetivo 1). outros países. Todavia, relatório da OIT (2015) ao analisar os últimos seis anos, já indica mudanças neste quadro, com o crescimento do desemprego e desaceleração da economia em países emergentes, da América Latina e do Caribe, a exemplo do Brasil. A OIT estima que o crescimento médio anual de 3,7%, entre 2003 e 2012, na América Latina, foi impulsionado principalmente pelo crescimento das exportações agrícolas e de minerais, associada ao aumento do preço das commodities, disponibilidade de fluxos de capitais e aumento da demanda doméstica (IBGE, 2015). 26 As evidências dessa busca ficam evidentes diante de variedade de ocupações que foram objeto de tentativas de regulamentação pela via legislativa. Procuraram “ascender ao nirvana da regulamentação”, nas palavras de Coelho (opcit, p.32), ocupações tão inusitadas quanto: narradores de rodeio, disc-jóqueis, despachantes, manobristas e tantas outras. Como destacado acima, no âmbito da democracia, é legítimo que sepleiteie a proteção do Estado para o exercício ocupacional. Verifica-se, contudo, que a via legislativa, como forma, ao que parece, exclusiva, e não como forma terminativa para a regulamentação profissional, não é eficaz. Isso porque a grande maioria das proposições sequer é apreciada de forma completa, dormitam nos escaninhos do Parlamento e boa parte é arquivada ao final das legislaturas. Servem, apenas e tão-somente, para atender demandas de corporações ou grupos por parte dos “padrinhos” parlamentares, citados anteriormente. Os primeiros, empenhados em obter ou confirmar a liderança ou legitimidade frente a seus pares. Estes, por sua vez, objetivam atender a demandas a eles apresentadas numa perspectiva de criar ou agradar a uma clientela e, adicionalmente, engordar o seu “currículo” de proposições apresentadas, já que alguns órgãos de imprensa avaliam os parlamentares pela quantidade de projetos apresentados. A demanda encontrada não é, tampouco, indicativa de qualquer resquício de planejamento ou de reconhecimento da essencialidade da proteção regulatória, pois não emana de ação de órgão ou colegiado do Poder Executivo, quer como diretriz da atuação permanente do Estado, quer como uma ação oriunda de concepção governamental. Na verdade, denota a superficialidade do processo legislativo no Brasil, pois um parlamentar pode apresentar a matéria que lhe aprouver, mesmo que já haja outras idênticas ou correlatas em tramitação, mesmo absolutamente injurídica, atrasando a própria tramitação, obstruindo o processo parlamentar e demandando esforços de toda a estrutura burocrática e legislativa do parlamento. Se essa é uma constatação possível a partir do conjunto de demandas regulatórias, também o é para o subgrupo das demandas de regulação de ocupações em saúde. Das 43 ocupações encontradas e listadas na Tabela 1, 20 (46,5%) foram relativas a ocupações de nível superior; 14 (32,6%) de nível técnico, oito (18,6%) de ocupações em que uma habilitação seria exigível e uma (2,3%) em que não há qualquer definição 27 de formação, sendo esta última, na verdade, uma proposição que pretende apenas a concessão de aposentadoria especial para a categoria de motoristas de ambulância. Observa-se, assim, uma coincidência relativamente a estudo anterior (GIRARDI, FERNANDES JÚNIOR & CARVALHO, 2010) em que a maior parte das demandas (48%, quase a metade, portanto) era de ocupações de nível médio ou “elementar”, conforme denominação que se utilizava à época. Ao longo dos dezesseis anos investigados, a quase totalidade das proposições foi de autoria de parlamentares. O Poder Executivo encaminhou um único projeto para apreciação do Legislativo: o relativo à regulamentação da profissão de agente comunitário de saúde, que deu origem à Lei nº 10507, de 2002, mais tarde revogada e substituída pela Lei nº 11.530, de 2006, fruto de conversão de Medida Provisória. Destaque-se que o envio do citado projeto pelo Executivo só se deu após várias proposições apresentadas por parlamentares terem avançado em sua tramitação e estarem a ponto de serem aprovadas, ou seja, uma ação apenas reativa diante da consumação de um fato. Havia, então, expressiva expansão dessa ocupação por todas as unidades federadas, em virtude da implantação progressiva do Programa de Saúde da Família, e paralelamente, uma indefinição sobre o vínculo empregatício desses trabalhadores, com multiplicidade de situações, precariedade, ilegalidades gerando um quadro que poderia ser definido como selvagem (Nogueira, Silva e Ramos, 2000). Além desse, o único projeto que logrou ser aprovado foi o relativo à regulamentação do exercício da profissão de Musicoterapeuta, que, no entanto, foi integralmente vetado pelo Executivo. Tal fato demonstra que a via parlamentar é de baixíssima eficácia para a consecução do objetivo de regulamentação profissional. Dentre as propostas de regulamentação para ocupações de nível fundamental ou médio com previsão de “habilitação”, ou seja, de formação em cursos, em geral de curta duração e não necessariamente concomitantes à formação escolar, encontram-se, na verdade, funções exercidas habitualmente por trabalhadores sem formação específica, como as de atendente de pessoa com deficiência, cuidador de idosos e atendente de farmácia e drogaria. Se os trabalhadores desses setores receberem uma formação específica, evidentemente serão mais adequados ao desempenho de suas funções, mas o mercado de trabalho, ao que tudo indica, absorve e deverá continuar absorvendo pessoas sem formação. Por outro lado, não se configuram, no exercício dessas funções, os imperativos de proteção da saúde ou de bem-estar públicos, destacados anteriormente como justificativa para a regulamentação profissional. 28 Já os agentes comunitários, os agentes de saúde e meio ambiente — expansão do alcance do trabalho dos agentes de saúde, incorporando funções relacionadas ao meio ambiente — e podólogos, desempenham funções que demandam conhecimentos específicos e que podem ter consequências sanitárias. Devem, assim, ter, como os agentes de saúde têm, sua formação prevista em regulamento, não necessariamente uma lei. A questão das parteiras tradicionais é diversa. Trata-se de atuação muitas vezes não ocupacional, mas comunitária. As proposições que visam a regulamentar essa função foram sempre apresentadas por parlamentares de unidades da federação onde o trabalho delas é relevante, mas permanecem sem apreciação. Parece, nesse caso, haver um evidente desconforto de negar às parteiras a regulamentação, mas, ao mesmo tempo, a convicção que não é cabível a profissionalização dessa função. Em 2009, (BRASIL, 2009), houve manifestação expressa de oposição ao projeto por parte de representante do Ministério da Saúde. As ocupações de nível técnico ou médio contam com algumas situações inusitadas, como a previsão de sanitarista de nível técnico para atuação em unidades de saúde, sendo que é desconhecida a procura por esse técnico no âmbito das Secretarias de Saúde e até mesmo sua formação. Há, ainda, outra situação sem precedentes no que concerne a acupunturistas e terapeutas naturistas. As propostas de regulamentação para ambas as ocupações preveem formações de nível técnico e superior, tanto para acupunturistas, como para os terapeutas naturistas. Assim, teríamos profissionais regulados na mesma legislação e com as mesmas atribuições para formandos em nível técnico e superior. Para as demais ocupações de nível técnico, evidencia-se que há nitidamente dois grupos. O primeiro grupo em que deve prevalecer uma definição pelo Estado de formação — credencialismo educacional — e, ainda, contar com proteção ao mercado de trabalho, porquanto se situam no rol de funções cujo “exercício afeta profundamente a saúde pública, a segurança e o bem-estar do público”. Fazem parte desse grupo as ocupações técnicas, e destacamos as que foram objeto de iniciativas de regulamentação segundo a pesquisa realizada: esteticista e cosmetologista, instrumentador, massagista, protesista/ortesista, técnico em gasoterapia, em nutrição e dietética e radiologia. Releve-se que seria necessário esclarecer a efetiva pertinência da formação de nível técnico para o exercício de tais ocupações antes de sua regulamentação. 29 O outro grupo identificado, entretanto, não se encontra inserido no mesmo patamar. É bastante evidente que não se pode situar analistas de contas de saúde, conselheiros em dependência química, faturistas de contas de saúde em casos de relevantes interesses para a saúde ou bem públicos. No rol de ocupações de nível superior, observam-se as que já de há muito pleiteiam regulamentação legal. É o caso de optometristas, ortoptistas e osteopatas/quiropráticos que periodicamente têm sido contemplados com iniciativas para a regulamentação legislativa. Destaque-se que no caso dosortoptistas a primeira proposição data de 1968. No que concerne aos terapeutas ocupacionais, há o pleito, igualmente recorrente, não de regulamentação, mas de uma separação entre fisioterapeutas e aqueles profissionais, pois as duas profissões foram regulamentadas em norma conjunta, em 1969. Evidencia-se, ainda, a situação dos bacharéis e tecnólogos em radiologia cuja atuação possui interseção com a tradicional ocupação de técnico em radiologia. A partir de sua ascensão à formação de nível superior, os graduados nessas áreas passaram a pleitear autonomia e autorregulação em conflito com os técnicos, por um lado, e médicos radiologistas, por outro. Outra circunstância é a representada por ocupações que se estabeleceram em larga escala como especialidades, exercidas por profissionais de saúde ou não, mas que guardam relação estreita com o setor. Nesse conjunto identificam-se psicanalistas, psicomotricistas, psicopedagogos, musicoterapeutas, arteterapeutas, acupunturistas, gerontólogos, naturólogos, terapeutas naturistas, terapeutas, gestores de serviços de saúde e sanitaristas. O denominador comum de tais ocupações é justamente a sua interface — e, a partir dessa interface, seu campo de conflito interprofissional — de saberes, práticas e atuações no mercado de trabalho. Nesse grupo, podemos identificar interseções entre profissões e ocupações estabelecidas, especialidades tradicionalmente obtidas em níveis de pós-graduação, práticas ditas alternativas, mas que em muitas situações são exercidas por médicos, psicólogos e fisioterapeutas, assim como por assistentes sociais e administradores. Na demanda de regulamentação profissional de ocupações de nível superior, portanto, constata-se a emergência de pleitos que, em parte, estão relacionados a novas propostas educacionais, em nível de graduação, oriundas das diretrizes e bases 30 educacionais que preveem formação de tecnólogos, e derivam de avanços tecnológicos do setor. Constata-se, igualmente, que outra parte relaciona-se à emergência de novas situações sociais e demográficas, com a conformação de áreas de conhecimento mais específicas, mercado de trabalho próprio e formação de recursos humanos em nível de graduação. Estas, verdadeiramente “novas ocupações” não se confundem com pleitos relacionados no mesmo grupo, mas que se situam entre as práticas alternativas e as de formação em nível de pós-graduação acessível aos graduados de vários cursos. O quadro 1, apresentado a seguir, mostra a relação das ocupações levantadas nas bases de dados do Congresso nacional. Nº OCUPAÇÃO FORMAÇÃO 1 Acupunturista Superior 2 Agente Social de Saúde e Meio Ambiente Fundamental + habilitação 3 Analista de Contas da Saúde*1 Técnico 4 Arteterapeuta Superior 5 Atendente Pessoal de Pessoa com Deficiência Fundamental + habilitação 6 Auditor de Contas da Saúde*1 Superior 7 Auxiliar de Farmácias e Drogarias Médio + habilitação 8 Bacharel em Ciências Radiológicas*2 Superior 9 Conselheiro em Dependência Química Técnico 10 Cuidador de pessoa idosa Fundamental + habilitação 11 Esteticista e Cosmetologista Técnico 12 Faturista de Contas da Saúde*1 Técnico 13 Gerontólogo Superior 14 Gestor de Serviços de Saúde Superior 15 Instrumentador. Técnico 16 Massagista Técnico 17 Motorista de Ambulância Fundamental* 4 31 18 Musicoterapeuta Superior 19 Naturólogo Superior 20 Optometrista Superior 21 Ortoptista Superior 22 Osteopata Superior 23 Parteira tradicional. Fundamental + habilitação 24 Perfusão Cardiocirculatória e Respiratória Superior + especialização 25 Podólogo Médio + habilitação 26 Protesista/Ortesista Técnico 27 Psicanalista Superior + especialização 28 Psicomotricista Superior 29 Psicopedagoo Superior 30 Quiropraxista. Superior 31 Sanitarista* 3 Superior 32 Técnico em Gasoterapia Técnico 33 Técnico em Nutrição e Dietética Técnico 34 Técnico em Óptica Técnico 35 Técnico em Radiologia*2 Técnico 36 Técnico Esteticista e Cosmetologista* 3 Técnico 37 Técnico Sanitarista* 3 Técnico 38 Tecnólogo em Radiologia*2 Superior 39 Tecnólogo Esteticista e Cosmetologista* 3 Superior 40 Terapeuta em Dependências Químicas Técnico 41 Terapeuta Naturista Médio ou Superior* 5 42 Terapeuta ocupacional. Superior 43 Terapeutas* 6 Técnico* 7 *1 As três ocupações estão inseridas no mesmo Projeto que trata de "Operadores de Contas da Saúde." 32 *2 As três ocupações estão inseridas no mesmo Projeto. *3 As duas ocupações estão inseridas no mesmo Projeto. *4 A proposição não prevê grau de escolaridade ou habilitação. Presume-se que Ensino Fundamental seria exigível. *5 O Projeto admite o reconhecimento de pessoas com formação em cursos de "nível médio ou de graduação". *6 O Projeto engloba na qualificação de "Terapeutas" uma lista de práticas alternativas: Acupuntura (sistêmica, estética facial e corporal), Alexander, Auriculoterapia, Antroposofia, Ayurvédica (Terapia Ayurvédica), Apiteria, Aromaterapia, Bioenergética, Cinesoterapeuta, Crânio-sacral, Cromoterapia, Chi Kun ,Do-in, Fitoterapia, Fitoterapia chinesa, Eutonista, Estética (Estética facial e corporal), Florais (Terapia Floral), Geoterapia, Hemoterapia Objetivo 2: Identificar as Ocupações em Saúde em Processo de Regulamentação no Congresso Nacional Brasileiro que Possuem Código na CBO. Ao estudar o surgimento de novas ocupações no setor saúde a partir dos anos 2000, é importante ter em mente que este é um período de inflexão generalizada dos principais indicadores de mercado de trabalho, comparativamente à tendência vigente na década anterior: as taxas de desemprego recuaram rapidamente, atingindo níveis muito baixos para os nossos padrões históricos; o emprego com carteira de trabalho assinada, assim como o emprego público, avançaram, contribuindo para uma redução significativa dos indicadores tradicionais de informalidade; por fim, o rendimento médio real do trabalho aumentou, ao passo que a desigualdade na distribuição da renda do trabalho diminuiu. Nesse sentido, pode-se afirmar que o mercado de trabalho brasileiro avançou em seu processo de estruturação entre meados dos anos 2000 e 2014, ainda que os seus problemas estruturais tenham persistidos. A reconfiguração do mercado de trabalho brasileiro foi fruto do maior crescimento econômico observado no período, reflexo, em um primeiro momento, de um cenário externo bastante favorável, com destaque para o crescimento da economia chinesa e o aumento da demanda e dos preços das commodities. Em um segundo momento, porém, houve um deslocamento do motor do crescimento econômico para o mercado interno, estimulado pelo aumento do mercado de consumo – com destaque para as políticas de valorização do salário mínimo e de transferência de renda – e dos investimentos, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A tabela 1 sintetiza a evolução dos principais indicadores de mercado de trabalho no Brasil entre 2003 e 2014. 33 Tabela 1: Indicadores de mercado de trabalho, Brasil – 2003/2009/2013/2014. Indicador 2003 2009 2013 2014 Taxa de desemprego (%) 9,7 8,3 6,5 6,9 Taxa de informalidade (%) 1 54,4 48,2 43,3 44,4 Rendimento médio do trabalho (R$) 1.247 1.494 1.772 1.785 Índice de Gini 2 0,553 0,516 0,494 0,489 Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. IBGE. 1(Empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria + não-remunerados) / (trabalhadores protegidos + empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria + não-remunerados + empregadores). 2O índice varia de 0 a 1 e indica maior desigualdade quanto mais próximo da unidade. Feita a contextualização geral do comportamento do mercado de trabalho brasileiro no período recente, convém ater-se à análise do emprego em atendimento à saúde e ao surgimento de novas ocupações no setor. Em uma concepção restrita, pode-se afirmar que o mercado de trabalho no setor saúde reunia, em 2015, aproximadamente 3,2 milhões de vínculos empregatícios, o que representava 6,6% do mercado de trabalho formal brasileiro, estimado em 48,1 milhões de vínculos 8 . Do total de vínculos empregatícios reunidos no setor saúde, uma grande parte diz respeito às ocupações consideradas tradicionais do setor, como médicos, odontólogos e enfermeiros. Porém, é crescente a importância, em termos relativos e absolutos, das novas ocupações no mercado de trabalho do setor. A tabela 2 foi elaborada com base nas ocupações inseridas na CBO a partir de 2002 e, de modo complementar, a partir das iniciativas de regulamentação de novas profissões em tramitação no Congresso Nacional. Nela, estão elencadas 30 ocupações, que, juntas, reuniam, em 2015, aproximadamente 241,1 mil de vínculos de emprego. Comparativamente ao ano de 8 Consideraram-se como pertencentes ao setor saúde, os vínculos empregatícios classificados nos seguintes códigos CNAE: Atendimento hospitalar (8610-1); Atendimento a urgências e emergências (86216); Serviços de remoção de pacientes (86224); Atenção ambulatorial executada por médicos e odontólogos (86305); Serviços de complementação diagnóstica e terapêutica (86402); Outros profissionais da saúde (86607); Outras atividades relacionadas com atenção à saúde (75001). Ademais, considerou-se um conjunto de ocupações vinculadas ao setor saúde e que se abriga na seção O da CNAE, Administração Pública, Defesa e Seguridade Social. Nessa estimativa não foram contempladas, portanto, as atividades que comporiam o que se chama na literatura especializada de “macro setor saúde”, como as atividades industriais, de comercialização, de financiamento e de saneamento. 34 2003, observa-se que esse conjunto de ocupações mais do que triplicou de tamanho, ao tempo que assinalou uma taxa de crescimento muito superior à verificada no mercado de trabalho geral (239,0% contra 62,7%). Em termos absolutos, destacam-se as seguintes ocupações: técnico em radiologia e imagenologia (59,8 mil ocupações); visitador sanitário (39,1 mil) e cuidador de idosos (28,3 mil). Além disso, convém notar que entre 2003 e 2015 praticamente todas as ocupações assinalaram um crescimento significativo; muitas delas, por sinal, sequer eram classificadas de acordo com a CBO no ano de 2003. Por outro lado, registraram um decréscimo no período em análise os auxiliares de saúde (navegação marítima) (- 37,5%), os técnicos em métodos gráficos em cardiologia (-21,4%) e, em menor medida, os técnicos em ortopedia (-7,5%) (Tabela 02). Tabela 2: Total de Vínculos Empregatícios, Segundo Códigos CBO Selecionados, Brasil – 2003/2015 Ocupações 2003 2015 Variação Estoque total 29.544.927 48.060.807 62,7% Total das ocupações 71.119 241.108 239,0% Técnico em radiologia e imagenologia 20.950 59.859 185,7% Visitador sanitário 17.991 39.119 117,4% Cuidador de idosos 2.802 28.349 911,7% Agente de defesa ambiental 9.292 19.176 106,4% Gerente de serviços de saúde 3.994 17.635 341,5% Esteticista 0 10.240 - Biomédico 0 8.689 - Socorrista (exceto médicos e enfermeiros) 0 8.393 - Diretor de serviços de saúde 5.476 7.419 35,5% Terapeuta ocupacional 0 7.066 - Técnico em óptica e optometria 1.694 5.724 237,9% Instrumentador cirúrgico 1.700 5.409 218,2% Cuidador em saúde 0 3.512 - Massoterapeuta 0 3.287 - Agente indígena de saúde 0 2.121 - Agente indígena de saneamento 0 1.876 - Podólogo 451 1.782 295,1% Psicopedagogo 272 1.771 551,1% Técnico de ortopedia 1.637 1.515 -7,5% Monitor de dependente químico 0 1.323 - Técnico em métodos eletrográficos em encefalografia 877 1.227 39,9% Dietista 986 1.205 22,2% 35 Técnico em acupuntura 638 1.119 75,4% Tecnólogo em radiologia 0 932 - Técnico em métodos gráficos em cardiologia 1.040 817 -21,4% Auxiliar de saúde (navegação marítima) 1.264 790 -37,5% Tecnólogo em sistemas biomédicos 0 260 - Terapeuta holístico 0 233 - Ortoptista 0 146 - Técnico em quiropraxia 55 114 107,3% Fonte: RAIS/MTE. Elaboração própria. Uma característica importante do mercado de trabalho do setor saúde é a maior participação feminina comparativamente à situação observada no mercado de trabalho geral, conforme foi apontado na seção 3. Estima-se que, em 2015, cerca de ¾ dos postos de trabalho no setor saúde eram ocupados por mulheres. Na tabela 3, observa-se que 21 ocupações possuem uma representação feminina maior que a masculina. Além disso, metade dessas ocupações apresenta uma preponderância da mão de obra feminina superior à encontrada atualmente no setor saúde, o que sugere que, caso essas ocupações mantenham a sua tendência de crescimento de importância dentro do setor, reforçará a feminização desse segmento do mercado de trabalho brasileiro. Por outro lado, destacam-se como ocupações preponderantemente masculinas os agentes indígenas de saneamento, os monitores de dependentes químicos e os técnicos de ortopedia, conforme consta na Tabela 03. Tabela 03: Total de Vínculos Empregatícios, Segundo Códigos CBO Selecionados e Sexo, Brasil – 2015 Ocupações % Masculino % Feminino % Total Setor Saúde 24,7 75,3 100,0 Técnico em radiologia e imagenologia 58,6 41,4 100,0 Visitador sanitário 59,4 40,6 100,0 Cuidador de idosos 12,6 87,4 100,0 Agente de defesa ambiental 57,3 42,7 100,0 Gerente de serviços de saúde 27,2 72,8 100,0 Esteticista 4,0 96,0 100,0 Biomédico 27,0 73,0 100,0 Socorrista (exceto médicos e enfermeiros) 68,9 31,1 100,0 Diretor de serviços de saúde 40,3 59,7 100,0 Terapeuta ocupacional 8,2 91,8 100,0 36 Técnico em óptica e optometria 37,1 62,9 100,0 Instrumentador cirúrgico 26,2 73,8 100,0 Cuidador em saúde 21,1 78,9 100,0 Massoterapeuta 28,8 71,2 100,0 Agente indígena de saúde 64,3 35,7 100,0 Agente indígena de saneamento 96,5 3,5 100,0 Podólogo 9,8 90,2 100,0 Psicopedagogo 8,6 91,4 100,0 Técnico de ortopedia 71,2 28,8 100,0 Monitor de dependente químico 73,9 26,1 100,0 Técnico em métodos eletrográficos em encefalografia 25,5 74,5 100,0 Dietista 8,0 92,0 100,0 Técnico em acupuntura 19,4 80,6 100,0 Tecnólogo em radiologia 51,7 48,3 100,0 Técnico em métodos gráficos em cardiologia 15,1 84,9 100,0 Auxiliar de saúde (navegação marítima) 31,0 69,0 100,0 Tecnólogo em sistemas biomédicos 42,7 57,3 100,0 Terapeuta holístico 32,2 67,8 100,0 Ortoptista 17,8 82,2 100,0 Técnico em quiropraxia 52,6 47,4 100,0 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração própria. A distribuição regional das novas ocupações em saúde apresenta um perfil parecido com o já existente no setor saúde, qual seja, uma forte concentração na região Sudeste. Das ocupações analisadas na Tabela 4, somente cinco não tem o Sudeste como a região do país com a maior concentração de empregos: gerente de serviços de saúde, técnico em óptica e optometria, agente indígena de saúde, podólogo e dietista. As demais são altamente concentradas na região Sudeste, com destaque para os ortoptistas, os técnicos em acupuntura e os cuidadores em saúde. Tabela 04: Total de Vínculos Empregatícios, Segundo Códigos CBO Selecionados e Região Natural, Brasil – 2015 Ocupações % Norte % Nordeste % Sudeste % Sul % Centro- Oeste Total Setor Saúde 6,2 20,7 50,1 14,8 8,1 100,0 Técnico em radiologia e imagenologia 5,0 20,8 53,5 13,5 7,2 100,0 Visitador sanitário 9,5 21,4 57,3 6,2 5,6 100,0 37 Cuidador de idosos 2,2 8,8 66,6 16,3 6,0 100,0 Agente de defesa ambiental 7,0 15,8 37,2 10,4 29,6 100,0 Gerente de serviços de saúde 1,6 9,9 34,5 50,9 3,0 100,0 Esteticista 3,9 18,4 62,5 9,3 6,0 100,0 Biomédico 9,0 16,3 49,5 13,5 11,7 100,0 Socorrista (exceto médicos e enfermeiros) 20,0 13,7 44,5 19,9 1,9 100,0 Diretor de serviços de saúde 5,6 22,9 57,3 8,8 5,5 100,0 Terapeuta ocupacional
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